A história dos mapas e sua função social

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Cartografia
A história dos mapas e sua
função social
Reportagem mostra como as atividades de leitura e
comparação de mapas antigos e atuais ajudam os alunos a
analisar a importância dos símbolos
Anderson Moço
Colaborou Fernanda Kalena
Os mapas são a mais antiga representação do
pensamento geográfico. Registros que mostram
que eles existiam na Grécia antiga e no Império
Romano, entre outras civilizações da Antiguidade.
Os primeiros eram feitos de madeira, esculpidos
ou pintados, ou desenhados sobre a pele de
animais. Suas funções incluíam conhecer as áreas
dominadas e as possibilidades de ampliação das
fronteiras, demarcar territórios de caça e representar a visão de mundo que
esses povos tinham. "Desde sempre, o homem registra o espaço onde vive.
Trata-se de uma necessidade social", explica Marcello Martinelli, professor de
Cartografia Estratégica no Departamento de Geografia da Universidade de São
Paulo (USP).
Mais do que uma ferramenta de orientação e localização, os mapas se
transformaram num recurso importante para a expansão das civilizações, e o
seu desenvolvimento foi colocado a serviço do poder. Eles foram fundamentais
para a definição de estratégias militares e para a conquista de outros povos. Na
época das grandes navegações e dos descobrimentos marítimos (entre os
séculos 15 e 16), por exemplo, os cartógrafos estavam presentes em cada
expedição realizada. Sua função não era exatamente ajudar na localização, mas
registrar e tornar pública a descoberta de novos territórios.
A cartografia nunca foi uma ciência neutra, que representa exatamente o espaço
ou a realidade. Por trás de todo mapa, há um interesse (político, econômico,
pessoal), um objetivo (ampliar o território, melhorar a área agrícola etc.) e um
conceito (o direito sobre determinada região, o uso do solo etc.). "O mapa é uma
representação adaptada da realidade. Por isso, nunca é isento", diz Carla
Gimenes de Sena, doutora em Pesquisa em Geografia e Cartografia da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de
Ourinhos.
Estudar a história e os aspectos relacionados à produção e à função social dos
mapas é uma poderosa ferramenta didática (leia a sequência didática). "Mapas
antigos ajudam a trabalhar os conceitos estruturantes da área", conta Jorn
Seemann, docente do Departamento de Geociências da Universidade Regional
do Cariri (Urca) (leia um exemplo de atividade na última página).
Dica da especialista
"Para mostrar que a simbologia dos mapas atuais é mais complexa que a
dos antigos, peça que observem o relevo. Nos antigos, as elevações do solo
eram representadas sem atenção à proporção, lembrando desenhos
infantis. Hoje, usamos as cores hipsométricas: cada faixa de altitude é
representada por um tom diferente, o que facilita a visualização do relevo e
suas variações"
Elizete Buranello Perez, formadora da rede de Penápolis, a 438
quilômetros de São Paulo.
Analisar as produções antigas e ver além do que foi desenhado
Mudanças nos mapas Na
Fundação Bradesco, em
Caucaia, o professor
Francisco Eudes Farias da
Silva faz a comparação entre
mapas antigos e atuais da
mesma região com as turmas
de 6º ano. Dessa forma, os
alunos observam as
mudanças que ocorreram na
produção cartográfica e na
própria área analisada.
Os mapas do passado eram repletos de
imperfeições, afinal, ainda não havia
conhecimento que permitisse representar o
espaço geográfico com exatidão. A linguagem era
muito mais artística e menos técnica ou precisa - e
essa é uma das possibilidades de discussão com
os alunos. Por que eles traziam tantos
ornamentos? O que se queria mostrar com isso? É
por meio desse tipo de reflexão que a turma
passa a entender as funções sociais dos mapas.
Os antigos, que retratavam a América e o Brasil,
eram produzidos na Europa. Por isso, outra
possibilidade de abordagem é analisar o olhar
estrangeiro presente nessas representações. É
comum encontrar em mapas do Brasil da época
do Descobrimento desenhos que reproduziam as
espécies de plantas mais valorizadas. Explorar a
simbologia de mapas antigos e atuais também é
um recurso interessante. "Hoje pintamos uma
área de verde para representar uma mata. Antes
se desenhavam árvores. Comparando e analisando exemplos como esses, o
aluno entende a noção de legenda", diz Carla. Esse foi um dos objetivos do
trabalho do professor Francisco Eudes Farias da Silva com seus alunos do 6º ano,
na Fundação Bradesco, em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza (veja a
imagem).
Há três conceitos que sustentam a cartografia atual: a proporção, que permite o
cálculo de distâncias entre diferentes pontos; a localização, que mostra a região
exata que está sendo representada e em relação aos pontos cardeais; e a
simbologia, presente nas legendas, que ajuda a identificar o tema e as
informações dadas. A ausência desses recursos nos mapas mais antigos
também pode ser fonte de discussão sobre sua importância atual.
O ideal é levar a turma a pensar por que essas informações estão presentes
hoje, entendendo sua função. Por exemplo: como calcular as distâncias entre
duas cidades em um mapa antigo e em um contemporâneo? O objetivo é levar
todos a perceber que é a escala que permite esse cálculo. Com atividades como
essa, eles vão entender os conceitos da área (como a proporção e a simbologia),
nomeá-los e utilizá-los em suas próprias produções.
Exercício de comparação entre um mapa antigo e um atual
As imagens abaixo são de mapas da mesma área - o estado de Pernambuco.
Entenda como mostrar as semelhanças e diferenças entre eles seguindo os três
passos a seguir
Visualização
Peça que a turma observe a atentamente os dois mapas. Questione: o que há
em comum entre os dois? O que há de diferente? Anote os principais aspectos
observados no quadro.
Comparação
Sugira uma comparação entre a escala e a proporção dos elementos dos dois
mapas. Solicite que observem o emprego de legendas: o primeiro não usa esse
recurso. O segundo, sim.
Aprofundamento
Por meio das semelhanças e dferenças apontadas, leve os alunos a constatar
que os mapas têm uma função social, por isso refletem as inovações técnicas da
sociedade.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Mapas da Geografia e Cartografia Temática, Marcello Martinelli, 112 págs., Ed.
Contexto, tel. (11) 3832-5838, 23 reais
O Ponto Onde Estamos, Paulo Miceli, 232 págs., Ed. da Unicamp, tel. (19) 35217728, 27,50 reais
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/347/a-historia-dos-mapas-e-sua-funcao-social
Links da página
http://novaescola.org.br/geografia/pratica-pedagogica/historia-cartografia-629392.shtml
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 243, 01 de Junho de 2011
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