CENTRO DE ESTUDOS FETUS AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNITAS MYLLENA DO VALE MACIEL Orientador KYVIA BEZERRA MOTA SÃO PAULO-SP 2010 MYLLENA DO VALE MACIEL AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNITAS Monografia apresentada ao Centro de Estudo Fetus para aprovação no Curso de Pós-graduação em Medicina Fetal sob a orientação da Prof Kyvia Bezerra Mota. SÃO PAULO-SP 2010 AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNITAS MYLLENA DO VALE MACIEL Aprovada em ____/____/_____. ORIENTADORA Dra. Kyvia Bezerra Mota BANCA EXAMINADORA Dr. Airton Roberto Pastore Professor Livre Docente do Departamento de Radiologia da USP Especialista em Medicina Fetal (FEBRASGO) Dra. Viviane Lopes Mestre em Obstetrícia pela UNIFESP Título em Ultra-sonografia em Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) Especialista em Medicina Fetal (FEBRASGO) AGRADECIMENTOS A Jesus Cristo, aquele tornou tudo em minha vida possível. Ao meu amor, Bruno, pelo incentivo diário e o carinho que torna a minha vida cada dia mais feliz. Aos meus pais, Antônio e Suely, pela dedicação que possibilitou a minha formação e pelo amor de vocês que me acompanha nesta vida. Aos meus sogros, Odilon e Mônica, pelo apoio constante e orações que me abençoam. Aos meus irmãos, Michelline, Michel e João e a minha sobrinha, Larissa, pelo sentimento de união que há entre nós. Aos meus tios Paulo e Pe. Alfredo pelo incentivo sem o qual muitos dos meus sonhos não seriam possíveis. Às minhas avós, Maria (in memorian) e Julieta (in memorian) por me mostrarem a beleza do amor ao próximo em suas ações em vida. À Kyvia que me ensinou o amor pela ultra-sonografia e a lição mais preciosa de amizade. À Charlene que dividiu comigo um sonho pelo qual lutamos ainda hoje. A todos aqueles que estiveram envolvidos em minha vida e formação, o meu sincero agradecimento. RESUMO As infecções congênitas são um grande desafio para o acompanhamento prénatal, considerando os inúmeros fatores implicados no prognóstico fetal e conseqüentemente na conduta pré-natal. Diante dos mais recentes avanços na propedêutica diagnóstica fetal, a presente revisão tem como principal objetivo sugerir diretrizes no acompanhamento da vitalidade fetal na presença das infecções congênitas que estão mais comumente associadas ao comprometimento fetal, mais especificamente a toxoplasmose, citomegalovirose, infecção pelo parvovírus B19, rubéola e sífilis. A composição dos fluxogramas visa o melhor entendimento da sequência na conduta indicada, facilitando e tornando mais rápido o acesso às informações contidas no texto de modo a simplificar a leitura. ABSTRACT Congenital infections are a major challenge for the prenatal care, considering the many factors involved in fetal prognosis and therefore the conduct prenatal care. Before the most recent advances in fetal diagnostic procedures, this review is mainly intended to suggest the guidelines for fetal monitoring in the presence of congenital infections that are most commonly associated with fetal compromise, in particular toxoplasmosis, cytomegalovirus, parvovirus B19, rubella and syphilis. The composition of the flow is aimed at better understanding the behavior of the sequence indicated, making it easier and faster access to information in the text to simplify reading. SUMÁRIO 1 TOXOPLASMOSE...................................................................................pág.9 Introdução...................................................................................................pág.9 Diagnóstico.................................................................................................pág.10 Conduta pré-natal.......................................................................................pág.15 Considerações............................................................................................pág.19 2 CITOMEGALOVÍRUS.............................................................................pág.20 Introdução...................................................................................................pág.20 Diagnóstico................................................................................................pág.21 Conduta pré-natal......................................................................................pág.27 Considerações..........................................................................................pág.29 3 PARVOVÍRUS B19................................................................................pág.29 Introdução..................................................................................................pág.29 Diagnóstico.................................................................................................pág.31 Conduta pré-natal.......................................................................................pág.33 Considerações............................................................................................pág.35 4 RUBÉOLA...............................................................................................pág.36 Introdução...................................................................................................pág.36 Diagnóstico................................................................................................pág.36 Conduta pré-natal......................................................................................pág.39 Considerações...........................................................................................pág.40 5 SÍFILIS...................................................................................................pág.41 Introdução.................................................................................................pág.41 Diagnóstico...............................................................................................pág.42 Conduta pré-natal.....................................................................................pág.44 Considerações finais...............................................................................pág.46 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................pág.46 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................pág.47 1 TOXOPLASMOSE 1.1 INTRODUÇÃO A infecção pelo Toxoplasma gondii adquirida durante a gestação e sua transmissão ao feto continua sendo a causa de uma trágica e evitável doença nos recém-nascidos (Remington, 2006). Estima-se que 500-5000 crianças nascem a cada ano com toxoplasmose congênita nos Estados Unidos (Roberts, 1990). No Brasil, entre 25 e 40% das gestantes são soronegativas para a toxoplamose (Spalding, 2000; Vaz, 1990). O risco de infecção aguda durante a gestação é de aproximadamente 1% e a transmissão fetal ocorre em 30% dos casos, levando a infecção fetal de gravidade variável (Wierden, 1999; Friedman, 1999). O Toxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório, existindo em três formas: o oocysto, encontrado em fezes de gatos, o taquizoítos (uma forma de divisão rápida encontrada na fase ativa da infecção), e o bradizoíto (uma forma de crescimento lento observada nos cistos presentes nos tecidos). (Montoya, 2004). A infecção materna normalmente resulta da ingesta de oocistos, ou ainda de bradizoítos ou taquizoítos contidos em carne ou derivados (Hill, 2002). O parasita alcança o feto através da placenta, causando vários níveis de prejuízo, dependendo de sua virulência, da resposta imune da mãe, ou do período da gestação quando ocorreu a infecção, resultando em morte fetal ou sintomas clínicos graves (Spalding, 2003). Apesar de a gravidade do comprometimento fetal ser inversamente proporcional à idade gestacional, a taxa de transmissão vertical é diretamente proporcional ao estágio da gestação em que a mãe adquiriu a infecção (Sáfadi, 2003). Embora haja uma alta prevalência de infecções inaparentes, a toxoplasmose pode evoluir para uma doença sistêmica grave quando em sua forma congênita, na qual a mãe, quando infectada pela primeira vez durante a gravidez, pode apresentar uma parasitemia temporária com lesões focais na placenta, infectando assim o feto (Dubey, 1977). A morbidade e a mortalidade associadas à toxoplasmose estão bem documentadas (Petrof & McLeod 2002, Remington et al. 2006, Boyer et al. 2008, Roberts et al. 2008). 1.2 DIAGNÓSTICO INFECÇÃO NA GESTANTE A maior parte das gestantes com infecção aguda não apresentam sinais ou sintomas óbvios (Remington, 2006; Boyer, 2005). Uma minoria pode experimentar mal-estar, febrícula e linfadenopatia. Raramente, as gestantes apresentarão distúrbios visuais devido à coriorretinite toxoplásmica (Garweg, 2005) resultante de uma infecção adquirida recentemente ou da reativação de uma infecção crônica. Um estudo recente revelou que 52% das mães que deram a luz a fetos congenitamente infectados não relataram ter experimentado sintomas de infecção durante a gestação ou identificado um contato com um fator de risco epidemiológico (Boyer, 2005). Deste modo, o rastreamento sorológico sistemático para IgG e IgM contra o Toxoplasma gondii em todas as gestantes deverá ser realizado o mais precocemente possível (idealmente durante o primeiro trimestre) e o acompanhamento sorológico mensal ou trimestral das pacientes soronegativas seria o mais adequado. Na maioria dos casos, o teste realizado precocemente na gestação pode estabelecer se a infecção não ocorreu, pela ausência de ambos os anticorpos IgM e IgG, ou se a infecção foi adquirida em um passado distante, com o resultado de IgG positiva e IgM negativa (Montoya, 2008). É necessário enfatizar que um anticorpo anti-IgM positivo a qualquer tempo antes ou durante a gestação não necessariamente significa infecção adquirida recentemente (Liesenfield, 1997; Wilson, 1997). Os anticorpos IgM podem persistir por mais de 1 ano após a infecção aguda, e a maior parte dos resultados positivos para IgM são obtidos em gestantes que adquiriram a infecção em um passado mais distante, além do período de risco fetal. Estas pacientes estão cronicamente infectadas (Montoya, 2008). O teste para avidez de IgG é um exame auxiliar para determinar se a infecção é aguda ou previamente adquirida quando a IgM é reagente em pacientes assintomáticas. O teste é baseado na maior força das ligações iônicas entre antígeno e anticorpos produzidas pelas infecções antigas quando comparadas com as recentes (Fricker-Hidalgo, 2007). Dependendo do método usado, a gestante com anticorpos de alta avidez são aquelas que estão infectadas há mais de 3-5 meses. Quando a avidez é limítrofe pode ser um fator de confusão e uma interpretação cuidadosa se faz necessária. A baixa avidez pode persistir por até um ano (Berrebi, 2007). As figuras 1 e 2 demonstram como poderá ser realizado o acompanhamento sorológico da gestante. IgG / IgM IgG (+) e IgM (-) IgG (-) e IgM (-) Nenhuma evidência de infecção < 18 semanas Acompanha mento sorológico > 18 semanas Infecção prévia à gestação IgG (+) e IgM (+) Repetir IgM e IgG (em 1 a 3 semanas) Realizar teste de avidez Infecção antes ou durante gestação Acompanha mento de rotina Figura 1. Avaliação sorológica da gestante. IgG (-) e IgM (+) IgG (-) e IgM (+) Acompanha mento sorológico Repetir IgG em 3 semanas Teste de Avidez IgG Alta (> 70%) Baixa (< 30 %) Infecção passada ou reativação Primoinfecção materna Figura 2: Teste de avidez da IgG. INFECÇÃO FETAL O espectro clínico da infecção congênita pelo T. gondii varia de alterações aparentes ao nascimento com morbimortalidade perinatal elevada (microcefalia, crescimento intrauterino retardado, hidrocefalia) a uma infecção subclínica com possibilidade de risco para o desenvolvimento de coriorretinite e/ou complicações tardias na vida futura (hidrocefalia). O diagnóstico precoce assim como o tratamento antiparasitário adequado da mãe tem demonstrado ser capaz de reduzir a taxa de transmissão para o feto e por conseqüência o número de seqüelas nos casos em que a infecção intrauterina já ocorreu (Castro, 2001). AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA As alterações ultrassonográficas observadas nesses fetos têm recebido grande atenção da literatura especializada (Friedman, 1999; Berrebi, 1993; Cirino, 1999; Hohlfield, 1991). A incidência de anomalias ultra-sonográficas varia de 18,1% (Berrebi, 1993, Abboud, 1995) a 36,4% (Crino, 1999), estando associada à idade gestacional da infecção fetal (Berrebi, 1993). As alterações observadas com maior freqüência são dilatação ventricular e calcificações intracranianas. Já as anomalias extracerebrais, compatíveis com infecção fetal sistêmica, são encontradas em 65% dos casos quando a infecção fetal ocorre no primeiro trimestre e em 25% dos casos quando ocorre no segundo trimestre da gestação (Hohlfield, 1991). Estudo realizado por Couto e cols em 2004 mostrou as principais alterações ultrassonográficas encontradas nos fetos sintomáticos: dilatação ventricular, calcificações cranianas, espessamento placentário, calcificações hepáticas, hesplenomegalia, polidrâmnio, derrame pericárdico, esplenomegalia e restrição de crescimento intra-uterino. (Couto, 2004). LÍQUIDO AMNIÓTICO A utilização da biologia molecular revolucionou o acompanhamento prénatal da toxoplasmose, pois, além de permitir a identificação dos fetos infectados, possibilitou que a terapia antiparasitária fosse iniciada precocemente, ainda na gestação (Berrebi, 1993; Abboud, 1995; Crino, 1999; Hohlfield, 1991). A amplificação do DNA do Toxoplasma gondii no líquido amniótico às 18 semanas de gestação (período ótimo) ou posteriormente, tem sido usada com sucesso para o diagnóstico pré-natal da toxoplasmose congênita. (Romand, 2001; Grover, 1990; Hohlfeld, 1994). Suas sensibilidade e especificidade para o líquido amniótico obtido antes das 18 semanas de gestação não foram estudadas; além disso, o procedimento realizado precocemente na gestação está associado a um risco mais alto para o feto e é menos útil. Um estudo sobre a rotina do uso da PCR no líquido amniótico obtido às 18 semanas de gestação ou mais foi relatado na França apresentando sensibilidade de 64% para o diagnóstico da infecção congênita no feto, um valor preditivo negativo de 88%, e uma especificidade e valor preditivo positivo de 100% (ou seja, um resultado positivo significa a infecção do feto) (Romand, 2001). CORDOCENTESE Através da cordocentese, pode-se ter acesso ao sangue fetal, no qual podemos diagnosticar a infecção através da pesquisa direta do parasita no sangue fetal, bem como verificar a presença de IgM específica para o mesmo, ou ainda verificar achados inespecíficos como IgM total elevada ou presença de eosinofilia. Figura 3. Achados específicos e inespecíficos na toxoplasmose congênita. 1.3 CONDUTA PRÉ-NATAL A prevenção da toxoplasmose humana é baseada no cuidado de evitar a ingestão de cistos e oocistos encontrados no ambiente (Lappalainen, 2004) Não há vacina para proteger os seres humanos contra esta doença. A prevenção primária, quando aplicada durante os cuidados pré-natais, pode reduzir as infecções durante o primeiro trimestre em mais de 63%. Consiste basicamente em programas educacionais e de saúde pública, recomendando à gestante evitar contato com material potencialmente contaminado com fezes de gatos e evitar a ingestão de carne crua ou mal cozida ou subprodutos. O uso de luvas quando manusear a terra também está fortemente recomendado (Foulon, 1992). A prevenção secundária consiste no diagnóstico precoce da mãe, do feto, e do recém-nascido e em evitar ações que possam causar a transmissão do parasita, através da intervenção terapêutica em gestantes e crianças que apresentam a infecção aguda. A prevenção terciária está concentrada no diagnóstico precoce através da dosagem de anticorpos específicos IgA e IgM no sangue do recém-nascido, permitindo a terapêutica a fim de prevenir ou diminuir os riscos de seqüelas (Hall, 1992) Uma vez estabelecido que os resultados dos testes sorológicos são consistentes com infecção adquirida recentemente e que a aquisição da infecção durante as primeiras 18 semanas de gestação ou pouco antes do período concepcional não pode ser excluída, uma tentativa de evitar a transmissão vertical do parasita através do tratamento com espiramicina é recomendada por muitos pesquisadores nos Estados Unidos e na Europa. Se a infecção fetal for confirmada, através de um resultado positivo para PCR no líquido amniótico às 18 semanas de gestação ou posteriormente, é recomendado o tratamento com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico (se a paciente já estiver tomando a espiramicina, a recomendação é alternar com esta combinação)(Gilbert, 2003). A cordocentese pode ser realizada entre 20-24ª semanas de gestação (preferencialmente na 23ª semana) naquelas pacientes que adquiriram a infecção até 16 semanas. Para as infecções adquiridas entre 17- 25 semanas, a coleta de sangue deve ser realizada em média, quatro semanas após a soroconversão materna. Após 25 semanas, recomenda-se a terapia materna com espiramicina até o termo, controle ultrassonográfico quinzenal e avaliação neonatal (Daffos, 1989, Blanc, 1988). Apesar dos efeitos colaterais do tratamento combinado, devido às altas taxas de transmissão observadas após 18 semanas de gestação, Montoya e cols sugerem que o tratamento com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico seja também usado em pacientes que adquiriram a infecção após 18 semanas de gestação, em uma tentativa de evitar a infecção fetal e, se a transmissão ocorreu (PCR positiva), de promover o tratamento do feto. A pirimetamina não é utilizada mais cedo por ser potencialmente teratogênica (Montoya, 2004). Recentemente foi relatado o resultado clínico das crianças com infecção congênita, cujas mães adquiriram a infecção no primeiro trimestre da gestação, que apresentaram exames ultrassonográficos normais e que receberam espiramicina durante a gestação. Apesar de ser esperado que essas crianças apresentassem danos graves, o seguimento após 2 anos não diferia significantemente daquelas que nasceram de mães que adquiriram a infecção durante o segundo e o terceiro trimestres. Os autores concluíram que, nestas circunstâncias a resolução da gestação não era indicada. Entretanto o tratamento apropriado é essencial, e os achados ultrassonográficos devem estar livres de qualquer anomalia. Além da US, a ressonância magnética tem sido utilizada na procura por calcificações intracranianas e outras anormalidades no feto (Berrebi, 2007). A figura 4 demonstra como poderá ser realizado o tratamento da toxoplasmose de acordo com a idade gestacional em que ocorreu a soroconversão, conforme proposta de Montoya em estudo publicado em 2004. Gestante com diagnóstico de toxoplasmose < 18 semanas ≥ 18 semanas Espiramicina USG PCR após 18 semanas Pirimetamina + Sulfadiazina + Àcido Folínico Figura 4. Tratamento da toxoplasmose de acordo com a idade gestacional em que ocorreu a soroconversão (Montoya, 2004) PCR Negativa Positiva Continuar espiramicina até o parto Intercalar espiramicina + sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico Figura 5. Tratamento da toxoplasmose de acordo com o resultado da PCR. 1.4 CONSIDERAÇÕES Atualmente a avaliação da vitalidade nos fetos cujas mães são sabidamente portadoras de toxoplasmose aguda adquirida na gestação está baseada na confirmação da infecção fetal através dos achados ultrassonográficos e da propedêutica invasiva (PCR no líquido amniótico e cordocentese). Observando que o tratamento para esta patologia tem mostrado boa eficácia, torna-se imprescindível o rastreamento sorológico de rotina no pré-natal com objetivo de identificar as mães portadoras e dar sequência à investigação sobre o possível comprometimento fetal e posteriormente ao tratamento adequado conforme descrito. 2 CITOMEGALOVÍRUS 2.1 INTRODUÇÃO O citomegalovírus humano (CMV) é a principal causa de infecção congênita nos países desenvolvidos, com incidência variando entre 0,2 e 2,2% de todos os nascidos vivos (Guerra, 2000; Revello, 2000). No Brasil, estudos mostram prevalência de 2,1% a 6,2% dos recém-nascidos (Yamamoto, 2001; Santos, 2000). A taxa de transmissão após infecção primária da mãe é de aproximadamente 40%. Somente 10-15% das crianças infectadas com CMV são sintomáticas ao nascimento, e os sintomas variam desde leves a doença que ameaça a vida. O restante (85-90%) das crianças é assintomático ao nascimento, mas 10% desenvolverão complicações posteriormente, principalmente defeitos do neurodesenvolvimento e perda auditiva neurossensorial. Entre as gestantes com infecção recorrente, a taxa de transmissão para o recém-nascido está em torno de 1%. Apesar de uma imunidade preexistente na mãe, os dados epidemiológicos sugerem que a frequência e a severidade dos sintomas, podem variar de forma semelhante ao que ocorre na infecção primária por CMV (Gayant, 2002; Gayant, 2003). A história natural da infecção intrauterina por CMV não é bem conhecida, mas está claro que os fetos são prejudicados pelo vírus irreversivelmente antes do nascimento. Estas crianças não serão muito beneficiadas com a terapia pós-natal, mas se os fetos infectados puderem ser detectados antes deste estágio irreversível, o tratamento intra-útero (quando possível) poderá ter um efeito significativo no curso da doença (Whitley, 1997). 2.2 DIAGNÓSTICO INFECÇÃO NA GESTANTE No momento, não há um protocolo mundialmente aceito para o rastreamento da infecção intrauterina por CMV durante a gestação e o período neonatal. Avaliar o sangue materno para a presença de IgM CMV detectaria aquelas mulheres sob risco de transmitir o vírus para o feto. Entretanto a presença de IgM pode variar entre as diferentes situações clínicas, assim como durante as fases aguda e de convalescença da infecção primária por CMV, ou na persistência do anticorpo IgM (Revello, 2002). Diante de uma IgM positiva, na ausência de anticorpos IgG, estes devem ser repetidos nas próximas 2 a 3 semanas posteriores para demonstrar a soroconversão. Se a IgG persiste como negativa, será considerado um falso positivo da IgM, que pode se apresentar como uma reatividade heteróloga com outros herpes-vírus, especialmente com o vírus do Epstein-Baar (Stagno, 1986) Se a gestante apresenta IgM e IgG positivas na primeira determinação, não se pode assegurar que a infecção seja muito recente, já que os anticorpos IgM se tornarão negativos após 3 a 4 meses, podendo persistir até 9 meses após a primoinfecção (Stagno, 1986). Além disso, a IgM pode positivar-se em gestantes previamente imunes por reativação da infecção viral (Pérez, 2005). Portanto é indispensável realizar o exame de avidez dos anticorpos IgG. A presença de anticorpos IgM e anticorpos IgG de alta avidez no primeiro trimestre pode dever-se a uma infecção pré-gestacional, ou com menor freqüência, a uma reativação ou reinfecção viral. Uma baixa avidez nos três meses anteriores a determinação, indica uma primoinfecção recente (Lazzarotto, 2004; Lazarroto, 2008). IgM (+) IgG ALTA INFECÇÃO PASSADA OU REATIVAÇÃO POSITIVA NEGATIVA AVIDEZ IgG REPETIR EM 03 SEMANAS BAIXA PRIMOINFECÇÃO MATERNA Figura 6. Acompanhamento sorológico da gestante com IgM positiva. INFECÇÃO FETAL Durante a gestação a transmissão para o feto ocorre em 40% dos casos de infecção materna primária (Demler, 1991). Entre as mulheres nas quais os o vírus reativou durante a gestação, taxa de transmissão ao feto é menor que 2% (Yow, 1988). O diagnóstico é complicado, pois a evidência de infecção ativa na mãe não fornece informações sobre se o feto foi infectado, se a criança desenvolverá doença grave ou problemas de saúde na vida posteriormente (Jones, 2000). Duas questões devem ser consideradas em relação ao diagnóstico antenatal da infecção por CMV. A primeira questão é se o feto está infectado, e a segunda é se o feto está sintomático, e se está, o quão extensa é a infecção. O objetivo do acompanhamento pré-natal dos fetos com infecção congênita por CMV é detectar aqueles que desenvolverão deficiência neurológica grave. Estes fetos poderiam ser selecionados para interrupção da gestação, a depender da legislação corrente no país (Picone, 2004). Em todos os casos, recomenda-se uma investigação pré-natal minuciosa. EXAMES DE IMAGEM As características ultrassonográficas dos fetos acometidos pela infecção por CMV são numerosas e não específicas. Apesar de faltar estudos longitudinais e de a imagem pós-natal ser baseada principalmente na tomografia computadorizada, (Boppana, 1997; Noyola, 2001) uma imagem anormal do cérebro à ultrassonografia (US) e à ressonância magnética (RM) costuma ser encontrada em neonatos sintomáticos. (Steilin, 1996; Malinger, 2003) O desenvolvimento técnico no campo da RM, especialmente a possibilidade de realizar sequências ultrarrápidas, tem possibilitado o estudo do cérebro fetal e estudos sobre a anatomia e condições patológicas têm sido publicados (Malinger, 2004). O espectro de lesões cerebrais sugestivas de infecção pelo CMV é heterogêneo, e são principalmente múltiplas e de ocorrência tardia (Steilin, 1996). A anormalidade na mielinização e na formação dos giros cerebrais do feto são armadilhas para o exame ultrassonográfico do cérebro fetal, e o desenvolvimento da RM fetal é um recente e seguro elemento valioso para a completa avaliação dos fetos de alto risco, apesar de a RM ser menos sensível que a US na detecção de calcificações cerebrais. (Barkovich and Lindan, 1994; Soussotte, 2000; Malinger, 2003). Entretanto, Malinger e cols demonstraram que uma neurosonografia é equivalente a uma RM e melhor do que US de referência para o diagnóstico das anormalidades do cérebro fetal (Malinger, 2004). A RM parece ser uma importante ferramenta na avaliação pré-natal da infecção congênita pelo CMV, principalmente em duas situações. Nos casos com anormalidades graves a US, a RM sempre confirma os achados diagnósticos, e as vezes revela outras anomalias, permitindo uma informação mais completa aos pais e um prognóstico mais acurado. Entretanto, não modifica o prognóstico. Nos casos com características extracerebrais isoladas, a RM revelou anomalias cerebrais em 07 dos 14 casos. Esta situação é mais interessante porque a informação dada pela RM modifica o prognóstico (Piccone, 2008). LIQUIDO AMNIÓTICO A detecção do CMV no líquido amniótico através de cultura viral ou PCR é considerada efetiva na diferenciação entre os fetos infectados dos não infectados (Lazzarotto, 1998; Lipitz, 1997; Revello, 2002). Devido ao atraso na passagem transplacentária do vírus e porque a imaturidade renal do feto antes das 21 semanas impede a eliminação do vírus no LA, é recomendável que a amniocentese seja realizada após 21 semanas de gestação e seguindo um intervalo de pelo menos 06 semanas após a infecção materna ter sido diagnosticada com a finalidade de se obter resultados mais confiáveis (Goegebuer, 2009). A cultura do vírus no LA é 100% específica, porém apresenta muitos falsos negativos. O melhor método diagnóstico é a PCR (reação da polimerase em cadeia), que apresenta uma excelente sensibilidade (90-98%) e especificidade (92-98%)(Barquero-Artigao, 2009). O valor dos resultados da PCR quantitativa para CMV no LA como um indicador prognóstico de infecção congênita já é mais controverso. Alguns autores acreditam que uma alta carga viral no líquido amniótico está associada com um alto risco de infecção sintomática para o feto. Entretanto, estudo publicado por Goegebuer e colaboradores em março de 2009, demonstrou que não há correlação entre a carga viral do CMV no LA e o prognóstico fetal. A quantificação da carga viral do CMV no LA, portanto, não deve ser considerado um marcador confiável em relação à gravidade da doença no feto (Goegebuer, 2009). As figuras 6 e 7 mostram como pode ser feita a avaliação da vitalidade fetal através da PCR e dos exames de imagem, respectivamente. Figura 6. Diagnóstico da infecção fetal através da PCR. Figura 7. Avaliação por imagem e conduta adequada ao feto infectado. 2.3 CONDUTA PRÉ-NATAL VACINA A Infecção congênita por citomegalovírus (CMV) causa comprometimento auditivo, cognitivo e neurológico. Com base na análise custo-efetividade, o desenvolvimento de uma vacina para a prevenção a infecção por CMV foi listada no topo das prioridades para os Estados Unidos por um comitê do Instituto de Medicina em 2001(Stratton, 2001). Apesar de os primeiros estudos clínicos para criação de uma vacina contra o CMV terem se iniciado há 30 anos, uma vacina efetiva para a prevenção da infecção pelo CMV permanece um sonho. (Plotkin, 1984). Pass e colaboradores publicaram em 2009, estudo placebo-controlado, randomizado, duplo cego, no qual foi avaliada vacina que consistia em CMV recombinante. A eficácia da vacina foi de 50% (95% de intervalo de confiança 7-73%). A conclusão dos autores foi de que a vacina tem o potencial de diminuir a incidência dos casos de infecção materna e congênita pelo CMV (Pass, 2009). O pessimismo geral em relação à criação de uma vacina é, ao menos em parte, resultante dos estudos que mostraram que infecções repetidas com novas cepas do CMV ocorrendo em pessoas que haviam sido infectadas anteriormente. Além disso, a infecção congênita pode ser devida tanto a infecção materna primária durante a gestação, como por infecções em mulheres com imunidade ao CMV antes da gestação (Pass, 2009). GLOBULINA HIPERIMUNE Estudo realizado por Nigro e colaboradores demonstrou que o tratamento com globulina hiperimune na dose de 100 U/Kg pode diminuir os efeitos patogênicos do CMV tanto pela neutralização ou efeitos imunomodulatórios. A imunoglobulina parece ser menos efetiva para a prevenção da infecção do que para o tratamento dos fetos. Apesar de o feto estar infectado, entretanto, globulina hiperimune presumivelmente reduz a reação inflamatória na placenta ou no feto, ou em ambos, resultando em aumento do fluxo sanguíneo fetal com melhora da nutrição e oxigenação fetal. Este mecanismo pode também influenciar na resolução das anormalidades ultrassonográficas aparentemente associadas com a terapia com globulina hiperimune, tendo em vista que a maioria dos sinais e sintomas da infecção congênita geralmente se resolve durante as primeiras semanas de vida, presumivelmente devido à melhora da nutrição e oxigenação (Nigro, 2005) TRATAMENTO ANTIVIRAL DURANTE A GESTAÇÃO Os antivirais com maior atividade frente ao CMV (ganciclovir, cidofovir e foscarnet) têm efeitos teratogênicos em animais e não são recomendados durante a gestação, entretanto, nos casos em que foi administrado ganciclovir a mulheres gestantes, foram alcançadas concentrações adequadas no líquido amniótico e no sangue fetal e não se observou efeitos teratogênicos no feto. Um estudo recente avaliou o tratamento com valaciclovir em 20 gestantes com infecção fetal demonstrada por PCR em líquido amniótico. A dose administrada foi de 8 g/ dia desde a 28 semana até a finalização ou interrupção da gestação (média de 07 semanas). O valaciclovir conseguiu diminuir a carga viral do feto, e 10 dos 13 recém-nascidos não apresentaram seqüelas da infecção após um ano se seguimento (Barquero-Artigao, 2009). 2.4 CONSIDERAÇÕES Apesar de a infecção pelo citomegalovírus não apresentar alterações específicas ao ultrassom, os constantes avanços das técnicas de imagem e da biologia molecular, possibilitaram a avaliação da vitalidade dos fetos acometidos pela infecção e, conseqüentemente permitiram que a conduta em cada caso pudesse ser definida com maior precisão. Além disso, estudos recentes sobre a possibilidade de tratamento da infecção fetal através da globulina hiperimune e do uso de antivirais fortalecem a expectativa de que no futuro possamos fazer uso de um tratamento efetivo para esta infecção congênita tão freqüente e comprometedora para o feto. 3 PARVOVÍRUS B19 3.1 INTRODUÇÃO O parvovirus B19 é um pequeno DNA vírus, não envelopado, que infecta exclusivamente os seres humanos. Após a infecção, a replicação ocorre primeiramente nos eritrócitos e eritroblastos, o que pode desencadear anemia em indivíduos predispostos. Os adultos saudáveis geralmente apresentam apenas sintomas leves. Em contraste, indivíduos imunocomprometidos, incluindo fetos, podem desenvolver anemia crônica grave, necessitando de tratamento imediato (Levi, 1997). Apesar de a infecção em adultos ser geralmente leve, a infecção por parvovírus no feto pode causar abortamento espontâneo no período inicial da gestação e anemia aplástica, hidropsia fetal não imune e óbito fetal intra-útero (Forestier, 1999). Estas complicações são mais frequentemente descritas quando a infecção materna ocorre até a 20ª semana gestacional (Da Silva, 2006). Estudos de prevalência de anticorpos IgG em gestantes indicam uma variação muito grande, de 35-81%, dependendo da população estudada, sendo que o número de casos de hidropsia fetal atribuídos ao parvovírus B19 pode aumentar em anos epidêmicos de eritema infeccioso, atingindo até 13,5% das gestantes susceptíveis não imunes. Gestantes cuja atividade ocupacional exige contato freqüente com crianças e que possuem filhos menores de 10 anos de idade são mais propensas à infecção aguda por parvovírus B19 (Da Silva, 2006). O parvovírus tem um tropismo pelos precursores de eritrócitos de divisão rápida, particularmente pronormoblastos e normoblastos, nos quais ele se replica até altos títulos, destruindo as células infectadas (Guerrero 2006; Cunninghan, 2006). Os fetos podem ser especialmente vulneráveis à anemia por infecção pelo parvovírus B19 devido à curta meia-vida das células vermelhas e a uma possível resposta imunológica ineficaz que pode conduzir a uma infecção crônica. Casos raros na literatura já foram relatados em que o parvovírus B19 pôde infectar outros tipos de células, causando encefalite e miocardite (Guerrero 2006; Cunninghan, 2006; Von Kaisenberg, 2001). A transmissão transplacentária pode ocorrer em qualquer tempo da gestação. O risco de transmissão da mãe para o feto varia de 10 a 35%, sendo mais freqüente no primeiro e segundo trimestres. A média de tempo entre o diagnóstico e a resolução está em torno de 06 semanas (Guerrero, 2006; Tolfvenstan, 2001). Apesar de o vírus poder ser encontrado em qualquer trimestre, o segundo trimestre parece estar associado ao um maior risco de perda fetal. Também se notou, sem que a relação causa-efeito fosse provada, que havia uma incidência deste vírus de 2-3% em todos os abortos espontâneos (Van Elsacker, 1989). 3.2 DIAGNÓSTICO INFECÇÃO NA GESTANTE Os achados clínicos coletados conduzem ao eritema infeccioso. As diferentes fases da doença descrita apresentarão diferentes achados ao exame físico. A primeira fase da doença provoca sintomas inespecíficos, incluindo febre, mal-estar e outros sintomas virais. A paciente pode também apresentar “rash” eritematoso fotossensível na face que se sobressai na zona nasal e periorbital. A segunda fase, que é puramente clínica, sem qualquer mudança nas imunoglobulinas, pode mostrar exantema maculopapular no tronco e nas extremidades (Al-Khan, 2003). O diagnóstico específico pode ser realizado pelos seguintes métodos: Se uma mulher gestante foi exposta ao parvovírus B19, deve-se solicitar uma avaliação sorológica para IgG e IgM específica para parvovírus assim que possível. Resultado positivo para IgG e IgM indica que a infecção ocorreu há 7- 120 dias (possível risco para o feto). IgG negativa e IgM positiva indica infecção aguda (alto risco para o feto).(Cunninghan, 2006) INFECÇÃO FETAL ULTRASSONOGRAFIA Durante o primeiro trimestre, os fetos infectados com o parvovírus B19 podem apresentar translucência nucal aumentada. No segundo e no terceiro trimestres, pode-se suspeitar da infecção fetal utilizando a ultrassonografia, com a presença de hidropsia fetal, ascite, derrame pleural e pericárdico, adelgaçamento da pele, cardiomiopatia hipertrófica, hepatoesplenomegalia, hidrocefalia, microcefalia, calcificações intracranianas, placentomegalia, e alterações no volume de líquido amniótico (Guerrero, 2006) Anemia fetal está associada com circulação hiperdinâmica; deste modo, através da mensuração pelo Doppler da velocidade do pico sistólico da artéria cerebral média em gestações complicadas pela infecção por parvovírus B19, através do aumento dos valores das velocidades previamente ao surgimento de sinais ultrassonográficos de hidropsia (Delle Chiaie, 2001). LÍQUIDO AMNIÓTICO A PCR é a ferramenta clínica mais útil para diagnosticar a infecção e detecta se o DNA viral está presente no sangue, líquido amniótico ou outros líquidos corporais tanto em tecidos frescos como naqueles embebidos em parafina. Um resultado positivo é indicativo de viremia/infecção. Microscopia eletrônica também pode identificar o parvovírus B19 nos tecidos (Al-Khan, 2003). CORDOCENTESE A cordocentese pode ser realizada para fazer o teste para IgM específica para o parvovírus B19 no sangue fetal. Além disso, pode ser utilizada ainda para avaliar o grau de anemia do feto, a qual geralmente é grave e acompanhada de neutropenia e plaquetopenia (pancitopenia) (Naides, 1989). 3.3 CONDUTA PRÉ-NATAL Observou-se que 3-19% das mulheres gestantes sofrerão soroconversão para IgM positiva após a exposição ao parvovírus B19, com uma taxa de transmissão vertical de 33%. (Van-Elsacker, 1989). A prevenção da infecção é difícil, pois ocorrem infecções inaparentes em 30% dos indivíduos e nos casos de eritema infeccioso, o paciente já não é mais transmissor quando há o surgimento do exantema típico. Não existe ainda uma vacina disponível licenciada para a prevenção da infecção entre as gestantes suscetíveis (Markeson, 1998; Young, 2004). O tratamento da infecção pelo parvovírus B19 é dependente da idade gestacional do feto. Se a mãe tem IgM positiva e IgG negativa (sugerindo infecção recente), pelo menos até 20 semanas de gestação, nenhum tratamento é necessário. Isto porque a infecção B19 está relacionada a um risco muito pequeno de anomalias congênitas. Estas pacientes deveriam ser submetidas a exames seriados de ultrassonografia para monitorar o desenvolvimento de hidropisia fetal (Fairley, 1995). A avaliação da artéria cerebral média é o mais sensível teste não invasivo para anemia intrauterina (Fairley, 1995). Este teste pode ser usado como uma ferramenta de diagnóstico e rastreamento para monitorar dano intrauterino (hemólise / anemia)(Cosmi, 2002). Observando que a maior manifestação da infecção pelo parvovírus é a anemia, a transfusão intraútero deverá ser considerada se a cordocentese identificar, em uma amostra de sangue fetal, o nível de hemoglobina < 10g/dL (Lynch, 1989). Se o diagnóstico for feito a uma IG menor que 28 semanas, a transfusão poderá ser realizada tanto intra-abdominal como por punção do cordão umbilical (Makenson,1998; Brown, 1994). Se anemia / hidropsia severa intrauterina for diagnosticada a uma idade gestacional (IG) superior a 28 semanas, deve-se considerar realizar o parto e proceder ao tratamento extra-útero (Al-Khan, 2003) A transfusão fetal raramente é indicada após 33 a 34 semanas de gestação, quando o parto traz chance de 95% de sobrevivência para a criança (Hsu, 2007). A terapia com imunoglobulina intravenosa tem sido utilizada com sucesso no período pós-natal. Ela tem se mostrado efetiva na resolução da viremia e na melhora dos índices de células vermelhas (Cunninghan, 2006). Figura 8. Acompanhamento da vitalidade fetal e tratamento adequado na infecção pelo parvovírus B19. 3.4 CONSIDERAÇÕES A infecção pelo parvovírus B19 na gestação pode provocar abortamento precoce e óbito fetal. Entretanto, atualmente com os meios de vigilância do bem estar fetal, como ultrassonografia com Doppler, PCR no líquido amniótico e a cordocentese, é possível não só comprovar a infecção fetal, como acompanhar as repercussões da infecção e tratar a anemia fetal, a principal conseqüência da infecção, através da transfusão intra-útero. 4 RUBÉOLA 4.1 INTRODUÇÃO A rubéola é uma doença leve que se apresenta com febre e erupção cutânea. Entretanto, sua importância para a saúde publica está relacionada aos efeitos teratogênicos quando a rubéola é adquirida nos primeiros meses da gestação. A infecção do feto pela rubéola pode resultar em óbito fetal ou no nascimento de uma criança com sérios defeitos congênitos. A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) é uma importante causa de cegueira, surdez, cardiopatia congênita e retardo mental (OMS, 2003). Estima-se que a SRC ocorra em mais de 85% em crianças nascidas de mães que foram infectadas nas primeiras 12 semanas de gestação, enquanto os defeitos congênitos são raros após as 20 semanas (Plotkin, 1994). Em geral, quando mais precocemente ocorre a infecção na gestação, maior o risco para a SRC. O risco de SRC em crianças nascidas de mães previamente imunizadas que se reinfectaram durante a gestação é mínimo (Watson, 1998; MMWR, 1997). DIAGNÓSTICO INFECÇÃO MATERNA O vírus é transmitido de pessoa para pessoa através de partículas em aerossol. Os sintomas clínicos da rubéola adquirida são geralmente leves, e muitas infecções são assintomáticas. A primeira manifestação clínica é usualmente erupção cutânea maculopapular após 16 a 20 dias da exposição e geralmente se apresenta primeiramente na face e depois se espalha pelo tronco e em seguida pelas extremidades. Outros sintomas típicos incluem febre baixa, linfadenopatia, irritação na orofaringe e mal estar geral. A linfadenopatia também pode ser característica, envolvendo os linfonodos cervicais posteriores e os occipitais, os quais podem persistir após a erupção cutânea ter se resolvido (Lee, 2000.) INFECÇÃO FETAL Quando há diagnóstico de soroconversão materna, torna-se imprescindível avaliar o feto quanto à possibilidade de ter ocorrido transmissão vertical da patologia. É importante considerar que os achados ultrassonográficos são inespecíficos e que a confirmação da infecção do concepto deverá ser realizada através da análise do líquido amniótico, vilosidade coriônica ou sangue fetal, especialmente quando a soroconversão materna ocorreu até a 16ª semana (Daffos, 1984). LÍQUIDO AMNIÓTICO Assim como ocorre em outras infecções congênitas, a pesquisa do material genético do vírus poderá ser realizada no líquido amniótico com o objetivo de comprovar ou não a infecção do feto. Estudo publicado em 2005 por McIver e cols demonstrou a importância do desenvolvimento da técnica de PCR multiplex na qual com volume menor de amostra é possível avaliar a presença do material genético de vários agentes patogênicos como o T. gondii e vírus como o CMV, herpes vírus e outros, incluindo o vírus da rubéola. Desse modo, para qualquer síndrome clínica em que podem estar envolvidos vários agentes patogênicos, especialmente nos casos de infecção congênita, a nova técnica parece bastante promissora (McIver, 2005). CORDOCENTESE O diagnóstico da infecção congênita poderá ser realizado através da cordocentese a partir da 22ª semana de gestação pela pesquisa da IgM específica para rubéola. O diagnóstico pode ser igualmente evocado pela presença da síndrome biológica da rubéola congênita, a qual associa: eritroblastose, anemia, trombocitopenia, aumento de gamaglutamiltransferase (GGT) e desidrogenase lática (LDH), e presença de interferon. A pesquisa direta do vírus também pode ser realizada através de cultura (Daffos, 1984). Figura 9. Avaliação da vitalidade fetal através do líquido amniótico e sangue fetal. Figura 10. Sinais inespecíficos da Síndrome da Rubéola Congênita. 4.3 CONDUTA PRÉ-NATAL A conduta deve ser definida considerando especialmente o período da gestação em que ocorreu a soroconversão materna. A propedêutica fetal invasiva está indicada quando o evento ocorreu antes das 16 semanas de gestação, quando o risco para o concepto é maior. Quando a soroconversão materna ocorreu após a 16ª semana, orientase o acompanhamento ultrassonográfico da gestação em períodos mais curtos do que o habitual e o acompanhamento pré-natal por um especialista em medicina fetal. A avaliação através de ecocardiografia fetal também está indicada, assim como em todas as infecções congênitas. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA < 20 SEMANAS > 20 SEMANAS Propedêutica invasiva Acompanhamento US Propedêutica invasiva? Figura 11. Avaliação da vitalidade fetal na infecção fetal pelo vírus da rubéola Assim, o prognóstico fetal e a conduta do pré-natalista estão vinculadas ao período em que ocorreu a soroconversão materna. Após a confirmação do diagnóstico de infecção do concepto, a periodicidade das consultas e os métodos de avaliação se modificam. Quando comprovada a infecção fetal até 12 semanas, considera-se o prognóstico fetal grave, indicando-se o controle ultrassonográfico quinzenal, ecocardiografia seriada e acompanhamento com especialista. Se a infecção ocorreu entre 13 e 16 semanas o feto tem prognóstico considerado comprometido, sendo orientada a avaliação ultrassonográfica quinzenal e pesquisa da acuidade auditiva às 28 semanas. Se o feto não foi infectado, considerar acompanhamento ultrassonográfico quinzenal e ecocardiografia de controle (Hohlfeld, 1990). Acompanhamento fetal < 12 semanas 13 a 16 semanas > 16 semanas ou não infectado Prognóstico fetal grave USG quinzenal Eco fetal Prognóstico comprometido USG quinzenal Controle acuidade auditiva 28 sem Eco fetal Melhor prognóstico USG quinzenal Eco fetal Figura 12. Acompanhamento fetal relacionado à infecção pela rubéola 4.4 CONSIDERAÇÕES Apesar de não haver tratamento específico para a rubéola, é possível, através dos atuais métodos disponíveis de avaliação laboratorial, compreender os possíveis danos ao concepto provocados pelo vírus da rubéola. Além disso, nossa maior arma contra a rubéola congênita continua sendo a prevenção através da vacina contra o vírus que deverá ser administrada especialmente nas mulheres em idade fértil. 5 SÍFILIS 5.1 INTRODUÇÃO A sífilis é causada pelo espiroqueta Treponema pallidum e se manifesta como um processo infeccioso sistêmico. A sífilis pode ser transmitida verticalmente, em geral através da placenta: o risco de infecção fetal aumenta com a idade gestacional. A transmissão vertical pode ocorrer ocasionalmente durante o parto se houver lesões genitais maternas (Manjeroni, 2007). As conseqüências da sífilis congênita incluem prematuridade, baixo peso ao nascer, hidropsia não imune, e óbito intrauterino (Chakraborty, 2008). Avanços importantes no diagnóstico e tratamento da sífilis têm sido obtidos desde que o organismo causador, Treponema pallidum, foi descoberto em 1905 por Schaudinn e Hoffmann. Apesar destes feitos, a sífilis permanece como um grande problema de saúde pública em muitos países em desenvolvimento, e tem ressurgido nos países desenvolvidos (OMS, 1997; Tichonova, 1998). No Brasil, no ano de 2005 foram notificados e investigados 5.792 casos de sífilis congênita em menores de um ano de idade. A incidência passou de 1,3 casos por mil nascidos vivos em 2000 para 1,9 casos por mil nascidos vivos em 2005 (Norma Técnica CDC, 2008). A sífilis congênita é decorrente da disseminação hematogênica do Treponema Pallidum da gestante não tratada ou inadequadamente tratada para o seu concepto, por via transplacentária. A transmissão pode ocorrer em qualquer fase da gestação e em qualquer estágio da doença, com probabilidades de 50% a 100% na sífilis primária e secundária, 40% na sífilis latente precoce e 10% na sífilis latente tardia. É possível transmissão direta no canal do parto. Ocorrendo a transmissão da sífilis congênita, cerca de 40 % dos casos podem evoluir para aborto espontâneo, natimorto e óbito perinatal. A sífilis congênita pode ser evitada se a infecção materna for detectada e tratada por ocasião do segundo trimestre. O rastreamento pré-natal para prevenção da sífilis congênita tem sido o principal foco dos programas de controle da sífilis (OMS, 1999). 5.2 DIAGNÓSTICO INFECÇÃO MATERNA Os testes sorológicos permanecem como o método de escolha para o diagnóstico de sífilis (Peeling, 2004). O VDRL (Veneral Diseases Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasma Reagin) são testes simples, rápidos, baratos e apresentam excelente sensibilidade, especialmente na infecção precoce (OMS, 1999). Em gestantes, a RPR pode apresentar falso positivo de 28% (Watson-Jones, 2002). Falso negativo pode ocorrer quando há excesso de anticorpo (conhecido como fenômeno prozona). A reação cruzada pode ocorrer com outras infecções treponêmicas (Peeling, 2004). Testes treponêmicos, como o ensaio de hemaglutinação para o T. pallidum e o teste de imunoflorescência do anticorpo anti-treponêmico (FTAABS) são usados para confirmar os testes de rastreamento. Os testes treponêmicos não são utilizados geralmente para rastreamento por não serem tão sensíveis como os testes não-treponêmicos nas primeiras 2-3 semanas no estágio de sífilis primária. Os anticorpos anti-treponêmicos podem persistir durante a vida, fazendo com que estes sejam menos úteis como exames confirmatórios em áreas onde a prevalência é alta; eles também não são úteis para avaliar a efetividade do tratamento (Peeling, 2004) Figura 11. Diagnóstico da infecção por sífilis INFECÇÃO FETAL A infecção transplacentária pode ocorrer em qualquer estágio da gestação (Wicher, 2001). O estágio da sífilis materna, o período da gestação, o tratamento adequado da paciente e a resposta imunológica do feto causam a variedade de manifestações que podem ocorrer na sífilis congênita (Genc, 2000). ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS O principal achado ultrassonográfico relacionado à sífilis congênita é o espessamento placentário que ocorre como provável conseqüência de uma vilosite sifilítica. Outros achados comuns estão relacionados à presença de hidropsia fetal, como derrames intracavitários (derrame predicárdico, ascite e derrame pleural). Entretanto, estes achados são tardios, não devendo ser aguardados para a resolução da conduta pré-natal. PROPEDÊUTICA INVASIVA As técnicas sorológicas disponíveis não são ideais para o diagnóstico fetal da sífilis congênita. Sabe-se também que a IgG atravessa passivamente a placenta. Assim, a detecção de anticorpos na circulação fetal não representa necessariamente infecção congênita. Por outro lado, os anticorpos do tipo IgM (fetais) dificilmente são detectados no sangue do concepto até a 22ª semana, de modo habitual. No entanto, na sífilis congênita, pode-se observar a ausência desses anticorpos até o 3º mês após o nascimento. Logo, os testes que identificam esses anticorpos (IgM fetal) não são suficientemente fidedignos, podendo apresentar falsos-negativos (Isfer, 1989). 5.3 CONDUTA PRÉ-NATAL Após a confirmação da infecção materna, o tratamento já está indicado, o que por conseqüência promoverá o tratamento também do concepto. A droga de escolha para o tratamento da gestante considerada infectada é a penicilina, que atravessa a barreira transplacentária. O tratamento da sífilis na gestação é o mesmo realizado para a sífilis adquirida, em conformidade com a fase da doença: • sífilis primária (com cancro duro): penicilina benzatina 2.400.000 UI via intramuscular (1,2 milhões em cada glúteo na mesma aplicação); • sífilis secundária (com lesões cutâneas não ulceradas) ou latente precoce (com menos de um ano de evolução): penicilina benzatina 4.800.000 UI via intramuscular dose total, aplicar duas doses com intervalo de sete dias (2,4 milhões por dose: 1,2 milhões em cada glúteo na mesma aplicação); • sífilis terciária ou latente tardia (com mais de um ano de evolução ou duração ignorada): penicilina benzatina 7.200.000 UI via intramuscular dose total (três séries, com intervalo de sete dias: 2,4 milhões por dose - 1,2 milhões em cada glúteo na mesma aplicação). Além do tratamento medicamentoso, é necessário reforçar a orientação sobre os riscos relacionados à infecção pelo T. pallidum por meio da transmissão sexual, para que as mulheres com sífilis e seu(s) parceiro(s) evitem relações sexuais ou mantenham práticas para o sexo seguro, com o uso de preservativo, durante o tratamento. Recomendar o uso regular do preservativo (masculino ou feminino) também no período pós-tratamento (Norma Técnica CDC, 2008). Mesmo após o tratamento ser efetivado, é importante manter o acompanhamento ultrassonográfico semanas desses fetos, e um ecocardiograma de controle deve ser indicado, assim como ocorre nas demais infecções congênitas. 5.4 CONSIDERAÇÕES A sífilis é uma das infecções congênitas que poderiam ser facilmente evitadas, pois se conhece seu modo de transmissão, há métodos satisfatórios e de baixo custo para o diagnóstico, bem como tratamento efetivo. Entretanto, muitos casos permanecem sem acompanhamento adequado e por conseqüência comprometendo a saúde da mãe e do feto. Torna-se mandatório manter a vigilância em todas as gestantes durante o pré-natal e o acompanhamento com especialista daquelas que receberam o diagnóstico de sífilis durante a gestação. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS As infecções congênitas são ainda hoje motivo de grande preocupação para todos aqueles envolvidos nos cuidados das gestantes e seus conceptos. Algumas apresentam diagnóstico relativamente complicado ou não têm tratamento efetivo, porém, todas podem ser acompanhadas com cuidado através não só da ultrassonografia, mas especialmente das técnicas atualmente disponíveis, como PCR no líquido amniótico, análise do sangue fetal através da cordocentese, ressonância nuclear magnética, entre outras. Importante é ressaltar que o melhor acompanhamento será sempre feito através do especialista que não só compreende a diferença entre tratar e cuidar, como se mantém atualizado para cuidar da melhor forma possível, considerando a boa vitalidade fetal como seu objetivo final. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abboud ,P., Harika, G., Saniez, D. Signes échographiques de la fetopathie toxoplasmique. J Gynecol Obstet Biol Reprod, Paris, v. 24, no 7, p 733-8, 1995. Adler, SP. Risk of human parvovirus B19 infections among school and hospital employees during endemic periods. J Infect Dis, Richmond, v. 168, no2 , p 3628, 1993. Adler, SP., Nigro, G., Pereira, L. Recent advances in the prevention and treatment of congenital cytomegalovirus infections. Semin Perinatol, Richmond, v. 31, no 1, p 10 – 18, 2007. Al-Khan, A., Caliguri, A., Apuzzio, J. Parvovirus B19 infection during pregnancy. Infect Dis Obstet Gynecol, Newark, v. 11, no 3, p 175-179, 2003. Barquero- Artigao, F. 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