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Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
576
Protocolo de tratamento ortodôntico em
pacientes com ausência de incisivos laterais
superiores
Orthodontic treatment protocol in pacients with missing upper
lateral incisor
João Fábio Costa de Souza1
Vania Cristina Santana2
Resumo
A importância estética, funcional, o avanço tecnológico das técnicas e materiais odontológicos e a dificuldade ao planejar casos de ausências dentárias levam profissionais
a divergirem na maneira de tratar essas anomalias. Os incisivos laterais superiores são
os dentes anteriores mais frequentemente acometidos por ausências congênitas, sendo responsáveis por até 23% de todas as agenesias. Esta revisão de literatura buscou
mostrar as vantagens, desvantagens, opções de mecânica e particularidades das alternativas de tratamento mais utilizadas para este fim: abertura ou manutenção do espaço
para posterior reabilitação protética e o fechamento do espaço pelo canino e subsequente reanatomização da coroa. O estudo procurou ainda salientar a importância do
conhecimento de outras especialidades na elaboração do plano de tratamento e propôs
um protocolo baseado na literatura vigente e organizado na classificação dentária de
Angle, agenesias uni ou bilateral e no perfil facial do paciente, a fim de melhor orientar
o profissional frente a um problema dessa natureza.
Descritores: Anodontia, implante dentário, incisivo.
Abstract
The importance of aesthetic, functional, technological advancement in dental materials
and the difficulty in planning cases of missing teeth lead professionals to differ in the
way of dealing with such anomalies. The upper lateral incisors are the front teeth more
frequently affected by congenital absence, accounting for up to 23% of all agenesis. This
literature review aimed to show the advantages, disadvantages, choices and mechanical peculiarities of treatment alternatives most commonly used for this purpose: opening
or maintaining the space for subsequent prosthetic rehabilitation and space closure of
canines and the posterior reanatomization of the crown. The study sought to emphasize
the importance of other specialties knowledge in developing a treatment identification
plan and made a protocol based on current literature and organized in its dental Class,
unilateral or bilateral agenesis and patient’s facial profile, in order to better focus the
professional front a problem of this nature.
Descriptors: Anodontia, dental implantation, incisor.
1
2
Pós-graduando do III Curso de Especialização em Ortodontia-Ortopedia Facial da UNIABO-SE.
Especialista em Ortodontia-Ortopedia Facial e Professora do Curso de Especialização em Ortodontia-Ortopedia Facial da
UNIABO-SE
Correspondência com o autor: [email protected]
Recebido para publicação: 09/05/11
Aceito para publicação: 25/05/11
Artigo de revisão / Review article
577
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
Introdução
Para conduzir um tratamento ortodôntico de
maneira coerente, necessita-se primeiramente
de um planejamento adequado do caso, porém,
rotineiramente o ortodontista depara-se com situações imprevistas e condições que dificultam ou
limitam essas ações de maneira ideal.
Quando a ausência de um ou mais dentes é
diagnosticada, instaura-se uma dessas condições
que além de prejudicar as funções de mastigação,
fala e estética do próprio paciente também proporciona um desafio para o profissional, uma vez que
a atipia do caso deve ser minuciosamente analisada1.
Ao concluir que a falta do elemento dentário
localiza-se na região anterior, o problema torna-se
ainda mais relevante, pois envolve aspectos não
apenas funcionais, mas que podem influenciar a
aparência, dificultar o relacionamento e acarretar
danos à formação psicossocial do indivíduo2.
Com o avanço tecnológico atual das diversas
disciplinas odontológicas, encontra-se uma gama
variável de soluções para essa situação, dentre as
quais: as reabilitações protéticas, implantes, reanatomização de coroas e movimentações dentária
com aparelhos ortodônticos. Por este motivo, idealizar um tratamento dessa natureza e concluí-lo
com êxito exige do ortodontista aptidão suficiente
para conhecer o problema por meio de uma visão
multidisciplinar e elaborar o planejamento mais
conciso e viável para o caso em questão.
Tendo em vista que o dente anterior mais freqüentemente acometido pela ausência congênita
é o incisivo lateral superior 3, 4, 5, 6, ciente da diversificação de tratamento e das constantes divergências a respeito da maneira de conduzi-lo, este trabalho busca, através de uma revisão de literatura,
avaliar o estado atual das opções utilizadas para
restabelecimento estético e/ou funcional destes
pacientes, sua viabilidade e suas particularidades,
com o intuito de melhor subsidiar o diagnóstico e
planejamento de casos relacionados a este tema
na prática ortodôntica.
Revisão de literatura
Etiologia e epidemiologia
A ausência de um ou mais dentes pode ser
diagnosticada mediante radiografia, sendo a panorâmica a mais indicada4, 7(Figuras 02 e 04), podendo ocorrer por diversos fatores, como a perda
precoce por cárie, trauma, doença periodontal e
pela ausência congênita.
A agenesia é denominada de anodontia parcial,
hipodontia ou oligodontia que consiste na ausência congênita de dentes podendo estar presente
na dentição decídua ou permanente8, porém não
existe consenso na literatura científica em relação
à terminologia empregada ao se referir à falta congênita de dentes9.
A agenesia pode estar relacionada a fatores
ainda não conclusivos na literatura, sendo que
muitos autores citam causa hereditária2, evolutiva3, deformidades congênitas10, radiação, distúrbios nutricionais11, tumores, patologias sistêmicas
e distúrbios intrauterinos8. Entretanto, histologicamente, a falta do dente está associada à obstrução
da lâmina dentária, limitação do espaço, anomalia
funcional do epitélio dentário e falha na iniciação
do mesênquima7. Do ponto de vista genético, a hipodontia é determinada como uma displasia ectodérmica autossômica dominante12.
A agenesia dentária é uma das alterações
mais frequentes na dentição humana, podendo
variar de 5 a 10% em populações asiáticas e européias, excluindo os terceiros molares13. Consensualmente, o terceiro molar consiste no dente mais
frequentemente ausente3, porém são excluídos da
maioria dos estudos, muitas vezes devido à idade
da amostra, pois só podem ser considerados com
agenesia destes dentes, indivíduos com idade acima de 12 ou 14 anos4.
Existe divergência entre os estudos ao apontar
o segundo dente mais ausente, porém as amostras desses trabalhos diferem em vários aspectos
como: etnia, número da amostra e gênero. Grande parte desses estudos aponta o segundo prémolar inferior como sendo o segundo dente mais
ausente3,6, porém parece não haver diferença estatística entre o segundo pré-molar inferior e o incisivo lateral superior4,5. Outros estudos apontam
o incisivo lateral5,14 e o segundo pré-molar superior15 com predominância de agenesias. O gênero
feminino responde pela maioria das incidências
de agenesia6, apesar disso, não há diferença
estatística de ausência congênita entre os dois
gêneros3,4,15. Existe uma variação de acordo com
a população étnica estudada6,14 e para a maioria
dos autores não há diferenciação em relação aos
quadrantes dentários3,4,5, embora apontem o lado
esquerdo como o mais frequentemente acometido
pelas ausências11.
De maneira geral, os incisivos laterais são os
dentes esteticamente mais importantes envolvidos
em agenesias, sendo responsáveis por 20 a 23 %
de todas as ausências dentárias6,16. Verificam-se
Souza JFC, Santana VC.
578
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
também agenesias bilaterais (Figuras 01 e 02) e
quando há agenesia unilateral de incisivo lateral superior, seu homólogo geralmente apresenta anomalia de forma (conóide) ou de tamanho
(microdontia)11 (Figuras 03 e 04).
Em função da grande importância atribuída
às agenesias pela literatura científica, os princípios técnicos aqui discutidos servirão de base para
o tratamento em todos os tipos de ausência, seja
ela congênita ou não.
Figura 4 - Confirmação da ausência através de exame radiográfico.
Alternativas de tratamento
Os tratamentos em casos com ausência de incisivos laterais devem ser realizados basicamente com fechamento dos espaços pelos caninos e
subsequente reanatomização dos mesmos16, 17, 18
ou recuperação do espaço para posterior reabilitação implanto/protética19, 20, 21, 22.
Figura 1 - Agenesia bilateral de incisivos laterais.
Figura 2 - Confirmação da ausência através de exame radiográfico.
Figura 3 - Agenesia Unilateral de Incisivo Lateral (Foto Oclusal, ausência 22
e microdontia do 12).
Artigo de revisão / Review article
Fechamento de espaço
O tratamento com fechamento de espaço pelos
caninos consiste na sua mesialização até o ponto
em que este elemento mantenha contatos proximais com os incisivos centrais. Após esta etapa
o canino deverá ser remodelado e sua anatomia
passará a assemelhar-se a de um incisivo lateral23,
26
. Nesta mecânica devem-se observar alguns
pontos importantes, entre eles o tamanho das coroas, a cor dos caninos, o espaço a ser fechado,
desvio da linha média, o grau de colaboração do
paciente, a relação oclusal pretendida, a estética
gengival e a estética do sorriso 1, 7, 17, 18, 23, 24, 25, 26, 27.
O fechamento de espaço representa uma alternativa estável e mais bem aceita pelos pacientes16.
A grande vantagem deste método está na ausência
de elementos protéticos e procedimentos cirúrgicos
como a colocação de implantes 1,17, 18, 26. As desvantagens consistem basicamente no desgaste por
vezes excessivo do dente a ser reanatomizado, a
impossibilidade de obter uma desoclusão funcional
pelo canino, a frequente incompatibilidade de cor,
dificuldade na correção da linha mediana e a possibilidade de resultado estético não harmonioso em
caso de ausências unilaterais18, 26.
Em casos de ausências de incisivos laterais
onde há anomalias de forma ou tamanho no dente
homólogo11 e o tratamento indicado é o fechamento de espaço, recomenda-se a extração do dente anômalo e o fechamento bilateral pelos dentes
caninos1,21,27.
579
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
Em pacientes Classe I com padrões dentários
e esqueléticos equilibrados ou em pacientes convexos, biprotrusos ou com apinhamento dentário
inferior21,23, o fechamento bilateral de espaço pelo
canino pode ser corrigido associado a extrações
dos primeiros pré-molares inferiores ou a extrações dos incisivos centrais inferiores, nestes casos
o objetivo é a relação final de oclusão de molares
em Classe I1,21,23. (Quadro 01).
Nos casos com relação molar de Classe II ao
início do tratamento, o planejamento proposto com
fechamento de espaço pelos caninos não envolve
extrações inferiores e a finalização se dá com os
pré-molares superiores ocupando a posição dos
caninos23 e molares em chave de Classe II7, 18, 23
(Quadro 02).
Pacientes Classe I ou Classe II, com ausência
unilateral, o desvio da linha média e a presença
de espaço entre os dentes são fatores importantes
para auxiliar na decisão de tratamento21. A posição
dos caninos no momento do diagnóstico também
deve ser levada em consideração7, 27, pois se irromperam adjacentes aos incisivos centrais, esta
posição favorece o fechamento de espaço. Outros
fatores importantes são: a desproporcionalidade
morfológica e de cor entre o canino e o incisivo lateral do lado oposto, pois o canino deve sofrer um
processo de reanatomização, ganhando contornos
de incisivos laterais, portanto caninos muito volumosos e pontiagudos deverão ser criteriosamente
avaliados18. Dentes com alterações de cor muito
evidentes deverão, após o tratamento ortodôntico,
ser tratados com clareamento para obtenção de
estética favorável27, 28, sendo importante salientar
que há possibilidade de se fazer ajustes nos prémolares, principalmente nas cúspides palatinas,
para permitir liberdade nos movimentos excursivos da mandíbula7.
Em pacientes Classe III, bi-retrusos ou com
perfil côncavo, existe uma contra-indicação para
o tratamento com fechamento de espaços, pois há
possibilidade de achatamento de perfil, cruzamento da mordida anterior, dificuldade na obtenção de
sobressaliência e finalização com pequenos diastemas para manter a relação dentária anterior1, 27,
28
(Quadro 03).
Quadro 1 - Protocolo de tratamento para pacientes com má oclusão de Classe I.
Relação
molar
C
L
A
S
S
E
I
Perfil
C
O
N
V
E
X
O
ou
R
E
T
O
C
Ô
N
C
A
V
O
Agenesia
Bilateral ou
com extração
do homólogo
anômalo
Opção de
tratamento
Objetivo final
Fechamento
de espaço
Relação molar
Classe I ou Classe
II, dentes caninos
reanatomizados
e desoclusão em
grupo.
Contra Indicações
Para relação molar
Classe I, será necessário extrações no
arco inferior.
Tamanho desproporcional
de caninos, grande retração gengival dos caninos,
espaço muito grande a ser
fechado, relação ânteroposterior em topo, incisivos
muito verticalizados.
Fechamento
de espaço
Relação molar
Classe II no lado do
fechamento, dentes
caninos reanatomizados e desoclusão
em grupo no lado do
fechamento
Observar relação
oclusal posterior,
tamanho e cor das
coroas, topografia do
canino, linha média,
presença de diastemas
ou apinhamento
Tamanho desproporcional
de caninos, grande retração gengival dos caninos,
espaço muito grande a ser
fechado, relação Anteroposterior em topo, incisivos
muito verticalizados.
Abertura
de espaço
Desoclusão pelo
canino, relação
molar em Classe I e
reabilitação protética
Observar espessura
do rebordo, distância
entre as coroas e
raízes no caso da colocação de implantes
Em reabilitações com implantes, idade inferior a 16
anos para gênero feminino
e 18 gênero masculino.
Abertura
de Espaço
Desoclusão pelo
canino, relação
molar em Classe I e
reabilitação protética
Observar espessura
do rebordo, distância
entre as coroas e
raízes no caso da colocação de implantes
Em reabilitações com implantes, idade inferior a 16
anos para gênero feminino
e 18 gênero masculino.
Unilateral
Bilateral
Unilateral
Considerações
Souza JFC, Santana VC.
580
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
Quadro 2 - Protocolo de tratamento para pacientes com má oclusão de Classe II.
Relação
molar
C
L
A
S
S
E
II
Perfil
R
E
T
O
e/ou
E
Q
U
I
L
I
B
A
D
O
C
Ô
N
C
A
V
O
Agenesia
Bilateral ou
com extração
do homólogo
anômalo
Opção de
tratamento
Objetivo final
Considerações
Contra Indicações
Fechamento
de espaço
Relação molar Classe II, dentes caninos
reanatomizados
e desoclusão em
grupo.
Observar relação
oclusal posterior,
tamanho e cor das
coroas, topografia do
canino, linha média,
presença de diastemas
ou apinhamento.
Tamanho desproporcional
de caninos, grande retração gengival dos caninos,
espaço muito grande a ser
fechado, relação ânteroposterior em topo, incisivos
muito verticalizados.
Fechamento
de espaço
Relação molar
Classe II, dentes
caninos reanatomizados e desoclusão
em grupo no lado do
fechamento.
Observar relação
oclusal posterior,
tamanho e cor das
coroas, topografia do
canino, linha média,
presença de diastemas
ou apinhamento
Tamanho desproporcional
de caninos, grande retração gengival dos caninos,
espaço muito grande a ser
fechado, relação ânteroposterior em topo, incisivos
muito verticalizados.
Abertura
de espaço
Desoclusão pelo
canino, relação
molar em Classe I e
reabilitação protética
Observar espessura
do rebordo, distância
entre as coroas e
raízes no caso da colocação de implantes
Em reabilitações com implantes, idade inferior a 16
anos para gênero feminino
e 18 gênero masculino.
Abertura
de Espaço
Desoclusão pelo
canino e reabilitação
protética
Observar espessura
do rebordo, distância
entre as coroas e
raízes no caso de colocação de implantes
Em reabilitações com implantes, idade inferior a 16
anos para gênero feminino
e 18 gênero masculino.
Unilateral
Bilateral
Unilateral
Quadro 3 - Protocolo de tratamento para pacientes com má oclusão de Classe III.
Relação
molar
C
L
A
S
S
E
Opção de
tratamento
Agenesia
Objetivo final
Considerações
Contra Indicações
Desoclusão pelo
canino e reabilitação
protética
Observar espessura do rebordo, distância entre as coroas
e raízes no caso da colocação
de implantes
Em reabilitações com implantes, idade inferior a 16
anos para gênero feminino
e 18 gênero masculino.
Bilateral ou
com extração
do homólogo
anômalo
Abertura de
Espaço
Unilateral
III
Artigo de revisão / Review article
581
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
Mecânica de fechamento de espaço
A mecânica adotada para o fechamento de
espaços consiste na mesialização dos caninos e
na perda de ancoragem dos dentes posteriores
também com sua consequente mesialização. Esta
mecânica na prática clínica produz alguns efeitos
indesejáveis, como o desvio da linha média e a
retração anterior27.
Para amenizar este efeito, o profissional deve
estar atento à mecânica e aos recursos de ancoragem adotados. Uma alternativa é mesializar os
dentes um-a-um com molas abertas nas distais
das coroas a serem movimentadas e utilizar como
ancoragem barra-palatina nos molares e elástico
de Classe III17. Nesta mecânica, à medida que os
dentes se mesializam, são conjugados com amarrilhos em forma de “8”17.
Outras possibilidades estão no uso de elásticos
corrente para mesializar os dentes posteriores18,21,
máscara facial29,30, aparelhos funcionais31 e aparelhos removíveis32, porém com o advento da ancoragem esquelética, a mecânica pode ser simplificada com a inserção de microparafusos ortodônticos
para a movimentação dos caninos e principalmente para mesialização dos dentes posteriores27.
Outra possibilidade consiste em primeiramente
mesializar o canino com o uso de mola aberta na
distal17, após esta etapa, instala-se o microparafuso na distal da raiz do canino, mesializa-se então
toda a bateria posterior através de elásticos ou
molas fechadas33.
Independentemente da escolha de ancoragem
adotada, outras particularidades da mecânica devem ser observadas, uma delas remete ao torque
dos caninos, pois há necessidade de lingualizar as
raízes dos caninos no intuito de evitar o contato
com o osso cortical da região34, diminuir a eminência da raiz28 e evitar contatos prematuros com o
dente inferior, pode-se utilizar para esse fim um
braquete pré-ajustado de caninos girado 180º, obtendo um torque positivo 34,35, porém este controle
pode não ser resolvido totalmente pela seleção de
braquetes e a incorporação de torque nos arcos
quase sempre se faz necessária28. O detalhamento da mecânica envolve outros aspectos que também devem ser considerados como ajustes de off
set para caninos e pré-molares e necessidade de
intrusão e extrusão dos mesmos a fim de corrigir o
nível gengival 23, 24.
Abertura/manutenção do espaço
A abertura ou manutenção do espaço consiste em criar espaço suficiente para reabilitação do
dente ausente por um elemento protético, restabelecendo a função e a estética do paciente19, 20,
21, 22
.
A vantagem dessa alternativa de tratamento é
a redução do achatamento de perfil18, a redução
do tempo de tratamento ortodôntico27, preservação das estruturas dentárias e do osso alveolar
quando a reabilitação é realizada por meio de
coroas protéticas adaptadas em implantes ósseointegrados19 e a possibilidade de preservação da
desoclusão funcional pelos dentes caninos26. A
desvantagem principal está no uso de elementos
protéticos, na fase cirúrgica e no uso prolongado
de provisório para pacientes jovens antes do tratamento definitivo com implantes27, 28.
Com o advento dos implantes ósseo-integrados esta opção de tratamento teve maior aceitação18, por isso a reabilitação com implantes tem-se
tornado o tratamento de primeira escolha para a
substituição de dentes ausentes22.
O tratamento ortodôntico prévio, justifica-se
principalmente quando os caninos não irrompem
no local adequado e nas reabilitações implantoprotéticas, pois é necessário conhecimento multidisciplinar para correto posicionamento das raízes
e coroas22.
Primeiramente o profissional deve planejar a
quantidade de espaço a ser aberto, se a agenesia
for bilateral ou com extração do dente homólogo
anômalo, utiliza-se a proporção áurea22, diagnóstico prévio em modelo de gesso (set up) e/ou análise de Bolton25. No caso de ausências unilaterais, o
tamanho do dente homólogo serve como referência, porém algumas medidas devem ser rigorosamente seguidas caso se planeje o uso de implantes, são elas: o espaço mínimo entre as raízes e o
espaço mínimo entre as coroas22.
O espaço mínimo recomendado entre as raízes do canino e do incisivo central deve ser de 5
a 8 mm22, 25, pois o implante para esse local geralmente tem 3,75 mm de diâmetro e é necessário
um espaço de 1 a 2 mm entre o implante e a raiz;
e as raízes devem ficar ligeiramente divergentes
(objetivo naturalmente atingido no alinhamento
através das angulações dos braquetes). O espaço
mínimo recomendado entre as coroas é de 6 mm,
pois a plataforma do implante para esta região tem
4mm de diâmetro e exige-se 1 mm de espaço mésio-distal entre as coroas e o implante22.
Outro ponto importante na abertura de espaço para colocação de implante está na espessura
do rebordo, caso não seja suficiente, um enxerto
ósseo deverá ser utilizado19, 22,25, porém se o diagSouza JFC, Santana VC.
582
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
nóstico de agenesia for realizado com antecedência, é possível monitorar e realizar as extrações
seletivas de dentes decíduos a fim de auxiliar a
manutenção da espessura do rebordo. Para isso
há a necessidade de detectar a localização dos
dentes através de uma radiografia, se o canino
estiver apical ao incisivo lateral decíduo, este deverá ser extraído, a fim de que o canino erupcione
adjacente ao incisivo central superior permanente,
no espaço edêntulo, dessa forma, como o canino
é movido distalmente, a espessura do rebordo é
suficiente25.
Outra preocupação constante é a idade correta para a colocação dos implantes, se forem colocados antes do crescimento estar completo, o
osso alveolar ao redor e os dentes adjacentes podem continuar a desenvolver-se verticalmente19,
criando um problema estético/funcional. A erupção
dentária pode continuar até os 30 anos de idade
ou mais28, assim, o ideal é que a colocação dos
implantes seja feita em uma idade mínima de 15
anos para as mulheres e de 21 anos para os homens22.
Ao final do tratamento ortodôntico, pode-se
colocar dentes acrílicos (dentes de estoque) nos
espaços edêntulos a fim de conservar os espaços,
melhorar a estética e prever o resultado reabilitador. A contenção também deverá conter os dentes
provisórios para preservar corretamente os espaços até a finalização da reabilitação protética definitiva pretendida22.
Mecânica de abertura/manutenção de espaço
A mecânica adotada para esse fim é bem
mais simples27, pois utiliza-se de conhecimentos
ortodônticos tradicionais, para alinhar os dentes,
nivelar as arcadas, abrir o espaços necessários
com auxílio de uma mola aberta, ajustar as guias:
anterior e de lateralidade, e colocação de dentes
provisórios de acrílico durante a fase de aparelho
fixo e de contenção22.
Discussão
A reabilitação com implantes tem se tornado
o tratamento de primeira escolha para substituição de dentes ausentes22, porém outros autores
defendem que a melhor alternativa de tratamento
baseia-se na mesialização dos dentes caninos e
transformação dos mesmos em incisivos laterais16,
17, 28
.
Muitos autores citam que as duas alternatiArtigo de revisão / Review article
vas são viáveis e cada qual com sua indicação1,
18, 21, 27
, para Rosa; Zachrisson28 (2002), somente
estão indicados para o tratamento com abertura
ou manutenção do espaço e reabilitação protética,
os casos onde o fechamento de espaço pelos caninos estão contra-indicados, tais como: quando
não há má oclusão e a intercuspidação dos dentes
posteriores está normal, presença de diastemas
generalizados no arco superior, na má oclusão de
Classe III ou perfil retrognático e se houver uma
grande diferença de tamanho entre os caninos e
os primeiros pré-molares.
Existe uma grande predileção do uso da terapia de abertura/manutenção do espaço em pacientes com retrognatismo, pacientes Classe III e
para reabilitações unitárias para alguns autores1, 21,
27, 28
, porém Furquim et al30 (1997) relata um caso
de paciente Classe III, perfil côncavo e deficiência
maxilar que foi tratado com sucesso pela terapia
de fechamento dos espaços. Para Zimmer; SeifiShirvandeh17 (2009), o fechamento de espaços bilaterais pelo canino é o tratamento de escolha para
pacientes nos diferentes padrões faciais. Segundo
Santos-Pinto et al21 (2002), as duas alternativas
constituem–se em condutas adequadas de tratamento, desde que seja realizado um diagnóstico
cuidadoso e plano de tratamento detalhado.
Segundo alguns autores, o melhor planejamento para decisão de tratamento se dá com o
uso de uma montagem prévia de diagnóstico em
modelo de gesso conhecido como set up 22, 28, 30,
sendo que para Kokich; Kinzer23 (2005), a realização de um set up é fundamental e possibilita ao
ortodontista avaliar a oclusão final, medir a quantidade de redução necessária no canino e determinar se o resultado estético final é atingível.
Para Kokich25 (2005), extrações seletivas de
dentes incisivos laterais decíduos devem ser realizadas a fim de guiar a erupção dos caninos
permanentes a uma posição adjacente ao incisivo
central, pois futuramente, este dente poderá ser
distalizado e o rebordo alveolar será propício para
instalação de implantes. Este fato, porém, para
outros autores22, 27, 28, consiste numa indicação de
fechamento de espaço, pois se houver compatibilidade morfológica e condições faciais favoráveis, esta posição topográfica do canino facilitaria
o tratamento com fechamento de espaços. Para
Richardsson; Russel22 (2001) os dentes decíduos
devem permanecer no arco o maior tempo possível, preservando osso alveolar a fim de receber o
implante, para este autor ainda, os incisivos laterais decíduos devem ser reanatomizados para que
583
Orthodontic Science and Practice. 2011; 4(14).
tenham função e estética parecidos com o permanente.
Em relação à mecânica, Macedo et al28 (2008)
afirma que o fechamento de espaço exige uma
habilidade maior do profissional, e Richardsson;
Russel22 (2001) cita que quando há uma estética
aceitável do canino, o fechamento de espaço pode
ser uma opção mais simples.
Para Lima-Filho et al18 (2004) a questão fundamental é atingir o melhor resultado estético e para
Tanaka et al1 (2003) a colaboração interdisciplinar
para o bem comum visando a estética e função
do paciente deve ser empregada na odontologia
contemporânea.
Para tratar o paciente com fechamento de espaço pelos caninos ou pela substituição da ausência por implantes ou elemento protético o plano
de tratamento deve ser levado ao conhecimento do paciente, para que a decisão seja tomada
em conjunto22. Portanto, o tratamento de escolha
para o profissional nem sempre é possível, pois
alguns pacientes rejeitam a primeira opção de
planejamento e o profissional deve ser capaz de
criar alternativas viáveis que satisfaça o cliente em
questão12.
Conclusões
•
•
•
•
•
•
A agenesia dos incisivos laterais superiores é muito comum e a que mais preocupa
esteticamente o paciente;
É imprescindível o conhecimento mais profundo de outras especialidades para tomar
as decisões necessárias de maneira mais
adequada;
Existem duas alternativas viáveis de tratamento, que são empregadas largamente
com sucesso: o fechamento do espaço
pelos caninos e a abertura ou manutenção
do espaço para reabilitação protética;
O fechamento de espaço pelos caninos
tem grande aceitação por parte dos pacientes, é estável, biologicamente aceitável, porém, exige grande habilidade do
profissional, desgastes de estrutura dentária sadia para reanatomização e risco de
achatamento de perfil;
A utilização de ancoragem esquelética
com microparafusos na mecânica de fechamento de espaço melhorou consideravelmente a qualidade e o tempo do tratamento com essa finalidade;
A abertura de espaço possibilita uma re-
•
lação oclusal mais apropriada e passou
a ser uma alternativa muito aceita após o
advento dos implantes ósseo-integrados;
O tratamento ortodôntico nestas situações
atípicas não é uma equação matemática
precisa, envolve muitas variáveis e o bom
senso do profissional, além de que na
maioria das vezes o tratamento deve ser
individualizado adequando-se às necessidades e expectativas do paciente. No entanto, é possível através desse protocolo
nortear o tratamento para um planejamento mais próximo do ideal.
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