DIRETRIZES PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA RESISTÊNCIA MICROBIANA Comitê Técnico Assessor para Uso Racional de Antimicrobiano e Resistência Microbiana - CURAREM I – ANTECEDENTES No ano de 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA reuniu um grupo de especialistas para discutir diretrizes para a prevenção e o controle da resistência microbiana e o uso racional de antimicrobianos – Grupo de Trabalho sobre Uso Racional de Antimicrobianos – GT/URA. Estas diretrizes focalizaram alvos específicos, a saber: pacientes e comunidade em geral, profissionais de saúde, serviços de saúde, laboratórios de microbiologia, uso de antimicrobianos em veterinária, uso de antimicrobianos na agricultura e órgãos reguladores. O resultado deste trabalho norteou várias das ações desenvolvidas pela Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos Adversos – GIPEA a partir deste período e foi fundamental para apontar a necessidade de implantação de uma rede de monitoramento da resistência microbiana. A ANVISA, no ano de 2004, firmou um termo de cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, em parceria com a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública – CGLAB/SVS/MS para o desenvolvimento do Projeto “Monitoramento e Prevenção da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde”. O objetivo geral do projeto é aumentar a efetividade da assistência à saúde, por meio do uso racional de antimicrobianos e da detecção tempestiva, prevenção e controle da emergência e disseminação da resistência microbiana em serviços de saúde no país. Dentre os objetivos específicos, destaca-se a implantação da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde – Rede RM. A Rede RM é iniciativa pioneira por reunir profissionais de múltiplas áreas (serviços de saúde - laboratórios de microbiologia e Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, Laboratórios de Saúde Pública, Vigilâncias Sanitárias e diversos colaboradores). Além disso, é capaz de gerar dados epidemiológicos relacionados às infecções por microrganismos resistentes, o que é inovador em termos de monitoramento. A transmissão de dados pelos hospitais participantes foi iniciada em agosto de 2006, e a Rede RM já apresenta à sociedade os primeiros dados sobre o perfil de sensibilidade dos principais patógenos causadores das infecções hospitalares. Em 6 de julho de 2005, o Ministério da Saúde instituiu o Comitê Técnico Assessor para Uso Racional de Antimicrobianos e Resistência Microbiana - CURAREM. Trata-se de um comitê com caráter consultivo para auxiliar na definição de diretrizes nacionais para vigilância, prevenção e controle da disseminação da resistência microbiana, comunitária e hospitalar, bem como para acompanhar e avaliar as ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde. De acordo com suas atribuições e considerando o resultado do trabalho desenvolvido pelo grupo de especialistas em 2001, o CURAREM elaborou o presente documento. II – DIRETRIZES A – USO RACIONAL DE COMUNIDADE EM GERAL B – USO RACIONAL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE ANTIMICROBIANOS ANTIMICROBIANOS POR PACIENTES REALIZADO E POR C – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE D – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS COMO RESULTADO DE AÇÕES DESENVOLVIDAS NOS LABORATÓRIOS DE MICROBIOLOGIA E – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS EM VETERINÁRIA E AGRICULTURA F – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS COMO RESULTADO DE AÇÕES DOS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS G – MONITORAMENTO E CONTROLE DA RESISTÊNCIA MICROBIANA A – USO RACIONAL DE COMUNIDADE EM GERAL ANTIMICROBIANOS POR PACIENTES E METAS: 1 - População conscientizada e educada sobre a utilização correta de antimicrobianos e sobre prevenção de doenças transmissíveis. 2 - Redução da auto-medicação. 3 - População estimulada a buscar assistência à saúde para diagnóstico e tratamento corretos. Ações propostas: - Incluir conteúdo sobre uso racional de antimicrobianos em disciplinas do ensino médio; - Incluir na estrutura do Programa de Saúde da Família e de outros programas de promoção à saúde estratégias de uso racional de antimicrobianos; - Identificar e desenvolver ações conjuntas com instituições especializadas que trabalham com educação e comunicação para saúde; - Desenvolver campanhas sobre uso racional de antimicrobianos através dos meios de comunicação; - Articular ações para melhorar o acesso da população aos serviços de saúde. B – USO RACIONAL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE ANTIMICROBIANOS REALIZADO POR METAS: 1 - Profissionais conscientizados quanto à importância do uso adequado dos fármacos e sua participação em programas de contenção da resistência microbiana. 2 - Profissionais estimulados a orientar os pacientes sobre uso apropriado dos medicamentos (tratamento completo, posologia, etc.). Ações propostas: - Incentivar capacitações sobre uso racional de medicamentos; - Incentivar cursos de capacitação sobre identificação microbiana e determinação do perfil susceptibilidade para profissionais de microbiologia; - Estimular participação dos profissionais de saúde em eventos científicos relacionados ao uso racional de antimicrobianos; - Estimular a discussão, em eventos científicas, de temas que abordem a problemática do marketing realizado pela indústria farmacêutica; - Implementar conteúdo programático sobre uso racional de antimicrobianos em disciplinas dos cursos de graduação e pós-graduação da área de saúde; - Conscientizar prescritores a prescrever número de cápsulas ou comprimidos limitado à quantidade necessária para o tratamento. 3 – Participação dos profissionais de saúde na elaboração e aplicação de diretrizes locais de terapêutica antimicrobiana em serviços de saúde, visando o uso racional de antimicrobianos. Ação proposta: - Estimular parcerias entre gestores públicos ou privados, sociedades científicas, conselhos de classe e/ou especialistas para elaboração e aplicação de diretrizes locais. 4 - Profissionais com acesso às recomendações referendadas pelo Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde. Ações propostas: - Desenvolver e publicar recomendações pelo Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde em parceria com as sociedades científicas, os conselhos de classe e/ou especialistas, considerando os dados brasileiros de monitoramento da resistência microbiana; - Elaborar manual sobre uso racional de antimicrobianos, considerando os dados brasileiros de monitoramento da resistência microbiana; - Elaborar manual de interpretação dos resultados do testes de susceptibilidade aos antimicrobianos. C – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE METAS: 1 - Profissionais de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) habilitados no controle do uso de antimicrobianos para aconselhamento das prescrições. Ações propostas: - Capacitar os profissionais de CCIH para uso racional de antimicrobianos; - Capacitar os profissionais de CCIH para antibioticoprofilaxia. 2 - Profissionais vinculados a Programas de Controle de Infecções e Eventos Adversos na Atenção à Saúde habilitados no controle do uso de antimicrobianos. Ações propostas: - Capacitar os profissionais de saúde para uso racional de antimicrobianos; - Capacitar os profissionais de saúde para antibioticoprofilaxia. 3 - Existência de programa de uso racional de antimicrobianos nos serviços de saúde. Ações propostas: - Estimular a estruturação e atuação da CCIH nos hospitais; - Estimular a estruturação de programas de uso racional de antimicrobianos nos serviços de saúde; - Desenvolver e implementar sistema de informação com módulo de avaliação do consumo e controle de antimicrobianos; - Estimular utilização do Sistema Nacional de Informação para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde – SINAIS; - Implementar a interface entre o SINAIS e outros sistemas de monitoramento de controle de infecção em serviços de saúde. 4 - Serviços de saúde com diretrizes de uso racional de antimicrobianos ajustadas para a situação local. Ação proposta: - Estimular a implementação da vigilância e divulgação do perfil de sensibilidade dos microrganismos prevalentes e do uso de antimicrobianos; - Avaliar, adaptar e implantar diretrizes referendadas pelo Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde. D – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS: AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA LABORATÓRIOS DE MICROBIOLOGIA METAS: 1 – Setor de microbiologia dos laboratórios com profissional responsável técnico habilitado na área. Ações propostas: - Estabelecer obrigatoriedade da responsabilidade técnica do laboratório de microbiologia ser exercida por profissional com título de especialista em microbiologia; - Estimular e apoiar programas de pós graduação em microbiologia; - Promover capacitação na área de microbiologia para os profissionais não habilitados. 2 – Laboratórios de microbiologia com sistema de qualidade implantado. Ações propostas: - Disponibilizar normas técnicas referenciadas; - Promover capacitação dos profissionais em sistema de qualidade; - Estimular a implantação de sistema de qualidade nos laboratórios; - Estimular a implantação das Boas Práticas em Laboratório; - Monitorar continuamente o sistema de qualidade dos laboratórios de microbiologia; - Estimular a elaboração de programas de acreditação de laboratórios de microbiologia; - Estimular a participação dos laboratórios de microbiologia nos programas de acreditação. 3 – Laboratórios realizando vigilância epidemiológica dos agentes identificados e do padrão de susceptibilidade aos antimicrobianos. Ação proposta: - Estimular a divulgação dos dados para prescritores e órgãos de vigilância em saúde; - Estimular interação do laboratório com a CCIH. 4 - Elaboração de normas técnicas com padrões nacionais. Ações propostas: - Elaborar manuais de normas técnicas nacionais; - Criar Comitê de Normas Técnicas em Microbiologia. E – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS EM VETERINÁRIA E AGRICULTURA METAS: 1 – Conhecimento do impacto do uso de antimicrobianos na veterinária e agricultura na saúde humana. Ações propostas: - Estimular programas de monitoramento de consumo de antimicrobianos e da resistência microbiana; - Estimular programas de vigilância e epidemiologia do uso de antimicrobianos na área veterinária e agricultura. 2 – Uso de antimicrobianos em veterinária e agricultura regulamentado. Ação proposta: - Revisar a Portaria nº 193, de 12 de maio de 1998; - Estimular criação de regulamentação em uso racional de antimicrobianos. 3 – Médicos veterinários capacitados para o uso racional de antimicrobianos. Ação proposta: - Estimular cursos de capacitação para médicos veterinários sobre uso racional de antimicrobianos; - Identificar e desenvolver ações conjuntas com instituições especializadas que trabalham com educação e comunicação para saúde; - Elaborar manuais de boas práticas e diretrizes em agropecuária. 4 - Profissionais estimulados a aderir às Boas Práticas de Produção na Agropecuária. Ação proposta: - Estimular cursos em Boas Práticas de Produção na Agropecuária. 5 - Pesquisas científicas sobre resistência microbiana e resíduos de antimicrobianos em alimentos e ambiente. Ações propostas: - Estimular as agências de fomento para elaboração de editais de pesquisa que incluam temas sobre uso racional de antimicrobianos em agropecuária F – USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS: AÇÕES DOS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS METAS: 1 – Antimicrobianos de uso terapêutico ou profilático dispensados obrigatoriamente com prescrição por profissionais habilitados. Ação proposta: - Efetivar implementação da legislação vigente quanto à dispensação de antimicrobianos; - Estimular as Vigilâncias Sanitárias Estadual, Distrital e Municipal no cumprimento das normas; - Incentivar projetos piloto objetivando a implantação de um programa de retenção de receitas específicas para antimicrobianos. 2 - Legislação atualizada sobre controle de infecção e uso racional de antimicrobianos em serviços de saúde. Ação proposta: - Revisar Portaria MS nº 2616, de 12 de maio de 1998. 3 - Programas de Controle de Infecções e Eventos Adversos na Atenção à Saúde e de uso racional de antimicrobianos implantados nos serviços de saúde. Ações propostas: - Intensificar a atuação das Vigilâncias em Saúde Estaduais, Distrital e Municipais para o cumprimento da legislação vigente; - Estimular a notificação da ocorrência de infecções e surtos relacionados a microrganismos multirresistentes. 4 - Proibição da comercialização de produtos com associações de antimicrobianos com outras classes de fármacos, sem base científica. Ações propostas: - Intensificar a atuação das Vigilâncias em Saúde Estaduais, Distrital e Municipais para o cumprimento da legislação vigente; - Intensificar ações de farmacovigilância sobre associações de antimicrobianos. 5 - Medicamentos e produtos contendo fármacos com ação antimicrobiana identificados de forma específica nas embalagens, rótulos e bulas. Ações propostas: - Regulamentar exigência de identificação específica nas embalagens, rótulos e bulas de medicamentos e produtos contendo fármacos com ação antimicrobiana; - Desenvolver projeto de identificação visual desses produtos (cor, alerta, símbolo). 6 - Consumo de antimicrobianos monitorado no país. Ações propostas: - Implantar módulo de informação de consumo de antimicrobianos no SINAIS e criar indicador para monitoramento; - Incentivar projetos piloto objetivando a implantação de um programa de retenção de receitas específicas para antimicrobianos; - Incentivar a implantação da rede de Farmácias Sentinela. 7 -Legislação vigente sobre publicidade de medicamentos e produtos com ação antimicrobiana. Ação proposta: - Regulamentar publicidade de medicamentos para todos os medicamentos e produtos com ação antimicrobiana 8 - Publicidade e promoção de medicamentos e produtos com ação antimicrobiana dirigidos ao público de acordo com a legislação vigente. Ações propostas: - Intensificar a atuação das Vigilâncias em Saúde Estaduais, Distrital e Municipais para o cumprimento da legislação vigente; - Estimular a sociedade organizada a participar de consultas e audiências públicas para elaboração e revisão das normas relacionadas ao tema. 9 - Distribuição com fins promocionais de medicamentos com ação antimicrobiana proibida no país. Ação proposta: - Regulamentar proibição da distribuição com fins promocionais de medicamentos com ação antimicrobiana; - Intensificar a atuação das Vigilâncias em Saúde Estaduais, Distrital e Municipais para o cumprimento da legislação vigente. 10 – Gestores de saúde conscientizados quanto ao uso racional de antimicrobianos. Ações propostas: - Elaborar informativos técnicos sobre resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para gestores; - Incluir conteúdo sobre resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos nos cursos de formação de gestores. 11 – Dose de antimicrobianos ajustada às características do paciente. Ações propostas: - Estimular a venda de antimicrobianos realizada por número de unidades, de acordo com a prescrição; - Incentivar o desenvolvimento de estudos de farmacodinâmica e farmacocinética para antimicrobianos. 12 - Políticas adotadas para o uso racional de antimicrobianos avaliadas. Ações propostas: - Monitorar o consumo de antimicrobianos e o perfil de susceptibilidade dos microrganismos; - Implantar módulo de informação de consumo de antimicrobianos no SINAIS; - Formular indicadores de monitoramento das políticas adotadas. 13 - Qualidade dos antimicrobianos comercializados no país Ação proposta: - Formular legislação que garanta a qualidade dos antimicrobianos comercializados no país; - Estimular farmacovigilância. 14 - Qualidade dos insumos usados em laboratórios para detecção de resistência. Ação proposta: - Formular legislação que garanta a qualidade dos antimicrobianos comercializados no país; - Estimular notificação de queixa técnica. G – MONITORAMENTO E CONTROLE DA RESISTÊNCIA MICROBIANA 1 - Normas Técnicas em Microbiologia. Ações propostas: - Criar o Comitê Nacional de Normas Técnicas em Microbiologia; - Elaborar manuais de normas técnicas nacionais. 2 - Políticas adequadas de remuneração para exames microbiológicos adotadas pelo Sistema Único de Saúde e demais fontes pagadoras. Ações propostas: - Estimular estudos em análise de custo na área de microbiologia; - Rever as tabelas de exames microbiológicos quanto à necessidade de inclusão de procedimentos e readequar remuneração. 3 – Monitoramento nacional de resistência microbiana. Ações propostas: - Ampliar a Rede Nacional de Monitoramento de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Rede RM); - Implantar módulo de informação de consumo de antimicrobianos no SINAIS; - Implementar a interface entre o SINAIS e outros sistemas de monitoramento de controle de infecção em serviços de saúde; - Instituir obrigatoriedade de notificação de microrganismos de importância em resistência microbiana. 4 – Incentivo a pesquisas científicas sobre resistência microbiana. Ação proposta: - Estimular as agências de fomento para elaboração de editais de pesquisa que incluam temas sobre uso racional de antimicrobianos e resistência microbiana.