MACROECONOMIA I LEC201 Licenciatura em Economia 2007/2008 TÓPICOS DE RESOLUÇÃO Exame Época Especial - 9 Setembro 2008 Normas e Indicações: A prova tem a duração de 2 horas e 45 minutos (165 minutos). Não é permitida a consulta de elementos de estudo nem de colegas. Os professores apenas resolvem dúvidas formais sobre o enunciado durante os 15 minutos iniciais. A prova é constituída por 4 grupos de questões com as seguintes cotações e tempos indicativos de resposta: o Grupo (I): 2,5 valores; 21 minutos. o Grupo (II): 4,5 valores; 37 minutos. o Grupo (III): 7 valores; 58 minutos. o Grupo (IV): 6 valores 50 minutos. Responda a cada Grupo numa folha separada. Não é permitida a saída da sala durante a prova. Nos 5 minutos finais da prova certifique-se que colocou a sua identificação nas folhas de resposta. No final do tempo da prova pare de escrever e mantenha-se sentado no seu lugar, até as folhas de resposta estarem recolhidas e os docentes darem autorização de saída. Bom trabalho! 1 GRUPO I (2,5 valores; 21 minutos) 1. Diz-se que existe uma situação de “armadilha da liquidez” quando a sensibilidade da procura de moeda face à taxa de juro é infinita e, então, a função LM é horizontal. Esta situação ocorre quando a taxa de juro está tão baixa (e a cotação dos títulos está tão elevada) que os agentes económicos estão convencidos de que a taxa de juro apenas poderá, no futuro, subir (as cotações dos títulos apenas poderão descer). Por isso, se é injectada mais moeda na economia, os agentes estão dispostos a deter essa liquidez adicional na sua totalidade mesmo sem que ocorra qualquer redução da taxa de juro, porque entendem que o custo de oportunidade de deter liquidez é mínimo e que usar essa liquidez para comprar títulos é ilógico porque estariam a comprar activos cujo preço de mercado só poderá descer. Assim sendo, em “armadilha da liquidez” o Banco Central perde a capacidade de afectar a taxa de juro e, portanto, de afectar o produto real da economia, já que o canal taxa de juro–procura agregada é o único meio de transmissão da política monetária neste modelo. Em “armadilha da liquidez” a política orçamental tem, pelo contrário, eficácia máxima, já que um aumento do défice público não gera qualquer impacto sobre a taxa de juro e, portanto, o crowding-out é nulo. 2. O trilema significa que é impossível para qualquer nação manter em simultâneo i) independência da política monetária doméstica, ii) um regime de câmbios fixos e iii) mobilidade internacional de capitais. Qualquer par formado com as proposições i), ii) e iii) exige que a terceira seja falsa. Por exemplo, verificando-se ii) e iii), a política monetária independente não terá qualquer eficácia. De facto, neste contexto, uma medida de política monetária expansionista (contraccionista) levará a uma descida (subida) da taxa de juro doméstica, tornando os activos denominados em moeda nacional relativamente menos (mais) atractivos. Dada a liberdade de circulação internacional de capitais, haverá uma diminuição (aumento) das entradas líquidas de capitais, um aumento da oferta (procura) de moeda nacional no mercado cambial e, consequentemente, uma pressão para a sua depreciação (apreciação). Uma vez que num regime de câmbios 2 fixos o Banco Central está comprometido com um objectivo para a taxa de câmbio, aquele intervirá no mercado cambial para defender a paridade, comprando (vendendo) moeda nacional em troca de divisas. Tal levará a uma redução (expansão) da massa monetária, que só terminará quando o efeito inicial da política monetária tiver sido anulado. GRUPO II (4,5 valores; 37 minutos) 1. PIBpm = VAB + Impostos ind. liq. subs. (s/ produtos e importação) = 40413,5 m.e. Por outro lado, PIBpm = Remunerações + EBE + Impostos ind. liq. subs. (s/ produção, produtos e importação) Ù Ù 40413,5 = 19281,5 + EBE + 5051Ù Ù EBE = 16081m.e. O EBE inclui todos os rendimentos gerados pela actividade económica interna (i.e., desenvolvida no território económico nacional) à excepção das remunerações do trabalho, ou seja, as rendas, os juros e os lucros, durante um determinado período (neste caso, um ano). 2. Bal. Financeira = - (Bal. Corrente + Bal. Capital) = -(BBS + Bal. Rend. + Bal. Transf. Corr. + Bal. Transf. Capital - Aquisição liq. Cedências Activos Não Fin. Não Prod.) = = -(-1165,5 + 1143,5) = 22 m.e. O saldo da Balança Financeira de 22 milhões de euros representa a entrada de financiamento sob a forma de IDE, Investimento de Carteira, etc, necessário para satisfazer as necessidades de financiamento da nação, representadas pelo saldo conjunto negativo da Balança Corrente e Balança de Capital. Logo, a afirmação está errada. 3. Partindo da noção de Rendimento Disponível Bruto da Nação (RDBN), temos: RDBN = PIBpm + RLE + Transf. Corr. Líq. Ù 3 Ù RDBN = CFN + FBC + (X - Q) + RLE + Transf. Corr. Líq. Ù Ù RDBN - (CFN + FBC) = (X - Q) + RLE + Transf. Corr. Líq. Ù Ù RDBN - (CFN + FBC) = Bal. Corrente Vemos assim que uma despesa agregada (Consumo Final Nacional + Formação Bruta de Capital) superior ao Rendimento Disponível Bruto da Nação implicará necessariamente um défice da Balança Corrente. GRUPO III (7 valores; 58 minutos) 1. a) A variação de stocks não planeada calcula-se subtraindo ao produto oferecido a procura planeada que existiria para esse nível de rendimento: Var. Stocks = Y – C – G – Ip = 300 – [100 + 0,8 (1-0,25) 300] – 30 – 20 = -30. b) O produto de equilíbrio ocorre quando a despesa planeada coincide com o produto: C + Ip + G = Y 100 + 0,8 (1-0,25) Y + 20 + 30 = Y Y* = 375. c) c1) A despesa planeada passa a ser superior em 10 unidades, ie o Investimento planeado passa a ser 20+10 = 30: C + Ip + G = Y 100 + 0,8 (1-0,25) Y + (20 + 10) + 30 = Y Y* = 400. c2) Inserindo na equação da procura planeada de bens e serviços uma parcela relativa a importações correspondendo a metade do consumo 4 privado (com sinal negativo porque constitui oferta externa de bens e serviços) vem: C + Ip + G – Q = Y 100 + 0,8 (1-0,25) Y + (20 + 10) + 30 – 0,5*[100 + 0,8 (1-0,25) Y] = Y 50 + 0,3 Y + 20 + 30 = Y Y* = 142,9. 2. a) Equilibrio no mercado de bens e serviços (IS): Y = C + Ip + G + X – Q Y = 100 + 0,8 (1-0,25) Y + 40 – 100 i + 30 + 80 – 0,2*(C+G+I) Y = 170 + 0,6 Y – 100 i – 0,2*(C+G+I) + 80 Y = 170 + 0,6 Y – 100 i – 0,2*(C+G+I) + 80 Y = 136 + 0,48 Y – 80 i + 80 0,52 Y = 216 – 80 i Equilibrio no mercado monetário (LM): L = M/P 50 + 0,5 Y – 500 i = 200 Y = 300 + 1000 i Equilíbrio global (IS+LM): 156 + 520 i = 216 – 80 i 600 i = 60 i = 0,1 Y = 400 b) Utilizando os dois instrumentos à sua disposição, taxa de imposto (t) e despesa pública (G), o Governo pode levar a cabo uma política que induz um aumento do consumo privado para 356 unidades, mantendo o produto igual a 400 unidades. C = 100 + 0,8 Yd 5 356 = 100 + 0,8 (1-t) 400 0,8 (1-t) = 0,64 t = 0,2 L = M/P 50 + 200 – 500 i = 200 i = 0,1 Y = C + Ip + G + X – Q 400 = 356 + 40 – 10 + G + 80 – 0,2*(C+G+I) 400 = 356 + 40 – 10 + G + 80 – 0,2*(356 + G + 40 - 10) 400 = 466 - 0,2*386 + 0,8*G G = 14 O Governo deve diminuir a taxa de imposto (para t = 0,2), para incentivar o consumo privado, e também a despesa pública (para G = 14), de forma que o produto se mantenha constante. GRUPO IV (6 valores; 50 minutos) 1.a) Utilizando a equação DG, xˆt = Yˆt − Yˆt −1 + π t ⇔ (8 − 2) = 0 − Yˆ + 4 ⇔ . t −1 Yˆt −1 = −2 Recorrendo à formulação de expectativas adaptativas, t −1 π te = λπ t −1 + (1 − λ ) t −2 π te−1 ⇔ 4 = 0.5π t −1 + 0.5 * 5 ⇔ π t −1 = 3 1. b1) Situação de equilíbrio de longo prazo: taxa de crescimento real do produto ( y ) = taxa de crescimento do produto natural (g ) = 2 Ù Yˆt = 0 ; 6 taxa de inflação igual ao objectivo de política e alinhada com as expectativas Ù π t* = π t = π te = 4 ; taxa de crescimento nominal compatível com o objectivo de política Ù π t = xˆ t = 4 ⇒ xt = 6 . Como observámos em 1.a), a economia apresentava valores para a taxa de inflação e para o output gap inferiores aos respectivos valores de equilíbrio de longo prazo. Por outro lado, as expectativas de inflação eram superiores às observadas no período t. Podemos concluir que existiu um choque desfavorável do lado da oferta combinado com um choque desfavorável do lado da procura. Ambos provocam um impacto negativo no output gap e, quanto à inflação, os efeitos do choque do lado da procura dominaram. 1. b2) As autoridades de política deverão desacelerar o crescimento nominal da procura. Assim conseguirão atingir o seu objectivo para a inflação, sem penalizar o output gap. xt deverá cair para 6 em t+1: π t +1 = π te+1 + Yˆt +1 xˆ t +1 = Yˆt +1 − Yˆt + π t +1 π t +1 = 0.5 * 4 + 0.5 * 4 + Yˆt +1 xˆ t +1 = Yˆt +1 − 0 + π t +1 π t +1 = 0.5 * 4 + 0.5 * 4 + Yˆt +1 4 = Yˆt +1 − 0 + π t +1 π t +1 = 4 ˆ Yt +1 = 0 2. Ajustamento 1º período: π t +1 = π te+1 + Yˆt +1 xˆ t +1 = Yˆt +1 − Yˆt + π t +1 π t +1 = 0.5 * 4 + 0.5 * 4 + Yˆt +1 (6 − 4) = Yˆt +1 − 0 + π t +1 π t +1 = 3 ˆ Yt +1 = −1 Equilíbrio de longo prazo: taxa de crescimento real do produto ( y ) = taxa de crescimento do produto natural (g ) = 4 Ù Yˆt = 0 ; π t = xˆ t = 6 − 4 = 2 ; taxa de inflação alinhada com as expectativas Ù π t = π te = 2 . Mecanismo de ajustamento: 7 Choque permanente de aumento da produtividade => reduz os custos de produção => pressão em baixa sobre os preços; a inflação ajusta lentamente para um valor inferior porque as expectativas são formuladas com indexação ao passado. O impacto imediato sobre o output gap é de redução devido ao aumento do ritmo de crescimento do produto natural. A redução dos preços, incentivando o crescimento real dos salários, incentiva a procura real a convergir para um ritmo superior de oferta de bens e serviços. FIM 8