MODELAGEM MOLECULAR DO PROCESSO DE ADSORÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS SOBRE CARVÃO ATIVADO Antônio Edilson Sousa do NASCIMENTO([email protected])¹, Carlyle Ribeiro LIMA ([email protected])²,Marlice Cruz MARTELLI ([email protected])¹, Samira Maria Leão de CARVALHO([email protected])¹, Cláudio Nahum ALVES ([email protected])¹, Davi do Socorro Barros BRASIL ([email protected])¹ ¹Universidade Federal do Pará ²Université Paris Diderot RESUMO: Compostos fenólicos são considerados poluentes aquáticos altamente prejudiciais até mesmo em baixas concentrações e o aumento da geração de efluentes ricos em tais tem sido motivo de preocupação nos últimos anos. Isto tem proporcionado um aumento significativo de trabalhos com intuito de desenvolver tecnologias alternativas para remoção destas substâncias. Nesse contexto, destaca-se o processo de adsorção sobre carvão ativado, que tem se mostrado o mais eficiente neste processo. Contudo, apesar da grande quantidade de trabalhos envolvendo adsorção de fenol sobre carvão ativado, o processo ocorrido ainda não é completamente compreendido. Nesse sentido, este trabalho visa estudar as interações potenciais existentes entre compostos fenólicos e carvão ativado granular, utilizando cálculos de dinâmica molecular, a fim de avaliar as regiões de interação das estruturas de carvão ativado com fenol e derivados. Usou-se um modelo de carvão proposto na literatura e submeteu-se o mesmo a cálculos de dinâmica molecular, com método B3LYP/6-31G e campo de força AMBER FF99SB. As cargas do carvão e dos poluentes foram calculadas com o programa Gaussian 09, cujo arquivos de saída foram convertidos para o formato necessário para cálculos com AMBER 12. O modelo usado para simular a célula unitária foi representado em monocamada com diâmetro de poro de 20 Angstrons (mesoporo). Para a solução a ser adsorvida, foi modelada com concentração de 8 g/L em uma caixa periódica e água como solvente. Estes modelos foram submetidos a cálculos de aquecimento até 298 K e dinâmica molecular durante 4 ns. Dos resultados, verificou-se que o os poluentes apresentaram maior tendência à interação com os grupos nas extremidades e em algumas cavidades da estrutura modelada. Além disso, observouse que a distância média entre o carvão e o adsorbato após 4 ns de dinâmica molecular foi de, em média, 3 Angstrons nas estruturas adsorvidas. Também verificou-se que a orientação da maioria dos adsorbatos foi paralela à estrutura do carvão. 1. Introdução As questões ambientais têm sido motivo de grande preocupação nos últimos anos. Isto tem proporcionado um aumento significativo de trabalhos com intuito de desenvolver tecnologias alternativas para remoção de substâncias provenientes de efluentes industriais potencialmente nocivas ao meio ambiente (BORBA, 2006). Dentre as questões que causam preocupação, destaca-se a poluição de mananciais por compostos fenólicos, contaminantes comuns contidos em águas residuais. Estes poluentes são gerados principalmente pela indústria petroquímica, de processamento de carvão de coque, de pesticidas, tintas, papel, entre outras (FANG, 1997). 605 Nesse contexto, estudos apontam que a tecnologia mais eficiente na remoção de compostos fenólicos de efluentes industriais é a adsorção sobre carvão ativado. Por esse motivo, é importante compreender este mecanismo de adsorção e fatores que influenciam nesse processo (NAGANO et al., 2000; JUANG et al., 2002; DABROWSKI, et al., 2005). Sabe-se que a capacidade de adsorção do carvão é determinada pela sua estrutura de poro e pela química de sua superfície. O carvão é um adsorvente microporoso obtido de uma variedade de materiais carbonáceos, cujo poder adsorvente é proveniente da sua alta área superficial e da presença de grupos funcionais nessa superfície. (TARKOVSKAYA, 1981; BAÇAOUI, et al., 2001; SNOEYINK, et al., 1967). No entanto, a grande quantidade de estudos sobre os fatores que influenciam o processo de adsorção de fenol ainda não explica completamente seu mecanismo. Por essa razão, a modelagem molecular é uma ferramenta útil para tais estudos, visto que pode auxiliar na compreensão desse mecanismo no que se refere à sua interpretação a nível molecular (DABROWSKI, et al., 2005). Os métodos de modelagem molecular visam submeter cálculos de mecânica clássica e quântica e fornecer uma representação tridimensional das estruturas resultantes. Nesse sentido, esse trabalho visa realizar um estudo, a nível molecular, do mecanismo de adsorção de compostos fenólicos. Busca-se entender, portanto, os grupos funcionais e diâmetros de poro que favorecem a adsorção dessa classe de compostos (SANT’ ANNA, 2002). 2. Metodologia O modelo assumido para a representação molecular do carvão ativado foi proposto em Bourke et al. (2007). Esse modelo foi desenhado utilizando o programa Marvin Scketch e otimizado por cálculo DFT, a nível de teoria B3LYP e base 6-31G pelo programa Gaussian versão 9. Os arquivos obtidos da otimização contém dados de coordenadas tridimensionais e carga. Com estes dados, usou-se o programa AMBER para gerar os dados de topologia, ângulos e diedros de ligação. Estes arquivos serão necessários para a execução de cálculos de dinâmica molecular utilizando o pacote AMBER 12. 606 Todas essas etapas foram repetidas com a estrutura de cada um poluentes: fenol, orto-cresol, meta-cresol e para-cresol. O campo de força ff99SB foi utilizado na execução dos cálculos pelo programa AMBER. Este é um método semi-empírico aplicado em cálculos de dinâmica molecular. Além de apresentar boa acuracidade química e velocidade de cálculo, este campo de força tem apresentado resultados mais próximos aos obtidos experimentalmente e por cálculo ab initio em relação aos demais métodos semi-empíricos (BARREIRO, 1997). 3. Resultados A figura 1 apresenta o estado inicial da dinâmica molecular omitindo as moléculas de água. Nesse estado, 10 moléculas de fenol foram usadas na simulação, representando uma concentração de aproximadamente 8 g/L. A figura 2 mostra o resultado da dinâmica molecular após 4 ns de cálculos. Figura 1: Estado inicial do sistema antes da dinâmica molecular. Em verde: Fenol. Em cinza: carvão. Figura 2: Estado final da dinâmica molecular após 4 ns. 607 É possível observar que há interação entre as moléculas dos poluentes e a superfície do carvão. Cavidades na estrutura do carvão, formada pela ausência de alguns anéis em alguns trechos da estrutura, apresentaram potencial de atração sobre os poluentes (figura 3). Além disso, a camada grafítica da estrutura também apresentou capacidade de retenção dos poluentes (figura 4). Grupos oxigenados, por sua vez, não apresentaram nenhuma interação com as moléculas de fenol. Verifica-se também pela figura 5 que não foram todas as moléculas de poluentes retidas pela superfície do adsorvente. Ou seja, há uma quantidade máxima de adsorção de fenol por estrutura de carvão. Nesse caso, é necessário o estudo da interferência do processo de oxidação na ativação do carvão com fim de adsorção de fenol, pois de acordo com a literatura tal processo inibe a adsorção de fenol sobre carvões ativados. Figura 3: Interação entre as moléculas de fenol e as cavidades na superfície da estrutura de carvão. 608 ___________________________________________________ Figura 4: Interação entre as moléculas de fenol e a região grafítica da superfície do carvão. Figura 5: Estado final da dinâmica molecular com ênfase nas moléculas não retidas pela superfície do carvão. 4. Conclusão Verificou-se que a estrutura de carvão utilizada apresentou boa capacidade de retenção de fenol em soluções aquosas. Contudo, um estudo de uma estrutura contendo menores quantidades de grupos oxigenados na superfície é necessário para identificar o grau de interferência destes no processo. Desse modo, evidencia-se também a capacidade de adsorção nas regiões de cavidade formadas, características de algumas superfícies de grafeno. 609 Referências BANAT, F. A.; AL-BASHIR, B.; AL-ASHEH, S.; HAYAJNEH, O., Adsorption of phenol by bentonite. Environ. Pollut. 107 (2000) 391–398. BARREIRO, E. J.; RODRIGUES, C. R.; ALBUQUERQUE, M. G.; SANT’ANNA, M. R.; ALENCASTRO, R. B.; Modelagem molecular: uma ferramenta para o planejamento racional de fármacos em química medicinal. Química Nova, 20(1)(1997). BAÇAOUI, A.; YAAVOUBI, A.; DAHBI, A.; BENNOUNA, C.; TAN LUU, R. P.; MALDONADO-HODAR, F. J.; UTRILLA, J. R.; CASTILLA, C. M.; Carbon, v. 39, p. 425, 2001. BORBA, Carlos Eduardo. Modelagem da Remoção de Metais Pesados em Coluna de Adsorção de Leito Fixo. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas. 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