Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL SWINGANDO: ESCOLA, PAGODE E JUVENTUDE Ivanilde Guedes de Mattos1 A emergência de novos atores sociais coletivos, ocupando o espaço público de representação e de reivindicação de direitos tem forçado uma reconsideração dos pressupostos voltados para o entendimento das sociedades contemporâneas. Na educação, em particular, a proximidade com outras áreas do conhecimento no campo das ciências sociais, sob o influxo dos Estudos Culturais e uma de suas variáveis mais profícuas, os chamados Estudos Pós-Coloniais nos impõem questionar a legitimidade e eficácia educacional de currículos pretensamente universais e indistintos perante as flagrantes diferenças que caracterizam o conjunto dos estudantes. Diante desta constatação, avaliar os currículos hoje e dimensionar as possibilidades de sucesso educacional a partir da forma como eles são construídos implica em ir além da dimensão pedagógica por ela mesma. Dar significado e importância a conteúdos históricos concretos subalternizados e silenciados pelas memórias dominantes, a positivação de práticas não codificáveis pelas linguagens convencionais, a sociabilidades não-hegemônicas e as múltiplas temporalidades do viver cotidiano, pode aproximar os currículos da realidade dos grupos populacionais historicamente subalternizados, público majoritário nas escolas públicas. Para tratar de um tema cuja complexidade está posta a partir da necessidade de implantação de uma Lei específica que possa assegurar que a escola transmita conteúdos de uma cultura anteriormente tida como inferior e, portanto desnecessária enquanto conhecimento formativo é que recorremos a vários fatos históricos onde as presenças da cultura negra africana e afro-brasileira se fizeram destaques e que fez emergir alguns dos principais conceitos a serem analisados, contribuindo para uma reflexão mais próxima do presente social e cultural em que vivemos e que se constitui via educação. 1 Mestre em Educação e Contemporaneidade; Doutoranda em Educação e Contemporaneidade pelo Programa de pós Graduação em Educação e Contemporaneidade na UNEB; Licenciada em Educação Física; Docente do Curso de Licenciatura de Educação Física da UEFS e da UNIRB; Vice-líder do Grupo de Pesquisa FIRMINA: Pós Colonialidade, Educação, Cultura e Ações Afirmativas e Pesquisadora Associada do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio Americanos-CEPAIA/UNEB. Bolsista Capes. Contato: [email protected] Anais Eletrônicos | 429 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL O currículo como forma de poder é o lócus determinante para as práticas de exclusão dos conteúdos que falem das populações minoritárias de forma valorativa. Durante décadas não se questionou os conteúdos transmitidos na escola, sua forma e seus métodos, foram gerações incontáveis atores que participantes de uma política de dominação e silenciamento. Os currículos adotados na sociedade brasileira por excelência de matriz européia buscou idealizar um modelo de sociedade que cultivasse os padrões de normas e comportamentos europeus. Foram períodos em que as crianças, mulheres e os negros tiveram sua liberdade castradas em nome de um projeto civilizatório. Ao se referir aos negros esse espaço denominado “escola’ reconhecido pela sociedade como espaço privilegiado de “formação” dos indivíduos discriminou e excluiu a população negra, ora através do trato sub- julgando como animais, ora através dos conteúdos destacados pela superioridade da cultura branca. Assim no que concerne o processo civilizatório tivemos dois pólos distintos separando e hierarquizando os brancos dos negros: o branco enquanto colonizador e o negro como o colonizado. E desse modo se construiu um pensamento hegemônico que norteou as concepções curriculares de educação em nosso país. Um currículo excludente que desvaloriza as contribuições oriundas da cultura africana discrimina os modos, os falares e a gestualidade própria dos negros descendentes de africanos no Brasil. Ter essa noção implica reconhecer que é partir de uma construção ou a depender do contexto de uma reconstrução desse molde curricular, cristalizado e hegemônico que se aplica a necessidade de reconfiguração a partir das novas diretrizes curriculares. Dessa forma buscamos analisar como um novo discurso cultural instituído pela musicalidade negra contemporânea configura-se como um componente de destaque para se refletir sobre as possibilidades de reeducação das relações étnico-raciais no ambiente de formação escolar. A escolha por esse discurso cultural musical está na implicação do pensamento que permeia a “elite intelectual” e as “massas”. Uma que se diz autorizada a julgar o que é bom e o que não é bom para a escola e a outra que caracterizada pelas “massas” que são o maior contingente das escolas públicas de Salvador “os negros” que não estão preocupados necessariamente se é bom ou não mas que expresse a sua cultura. Tomamos a musicalidade negra como representação cultural de uma categoria expressiva no âmbito escolar para compreender o elo existente entre essa relação Anais Eletrônicos | 430 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL pulsante com os gêneros musicais, desqualificados pela elite mas que falam e tocam em seus corpos. Oras se estamos tratando de currículo escolar, estamos pensando pedagogicamente e em se tratando de orientação a partir das diretrizes curriculares vamos ter que efetivamente adentrar no campo das relações étnico-raciais o qual tem merecido destaque por todos aqueles comprometidos com a qualidade da educação básica. Assim é oportuno a contribuição de Giroux(2003) que entende o currículo numa perspectiva crítica que desconstrói as narrativas modernistas tradicionais que postularam por décadas as teorias do conhecimento. O autor nos remete a considerar novos espaços de reflexão prática/pedagógica desse modo entre outros espaços o corpo é especialmente o território de conjugação de “gênero, raça e educação”. Nessa mesma perspectiva crítica Bhabha(1994) assegura que a pedagogia é mais que uma simples transmissão do conhecimento recebido[...] ela pressupõem que os estudantes sejam movidos por suas paixões e motivados, em parte, pelos investimentos afetivos que trazem para o processo de aprendizagem(apud Giroux, p.114). Trilhando sob a luz desses autores é que identificamos no discurso cultural musical uma pedagogia performática representativa dessa categoria juvenil que não encontra no ambiente escolar reciprocidade. É histórico que a cultura musical negra durante décadas passou por várias sanções e restrições no campo artístico e da música. Napolitano (2002) ilustra que: Os estudos a partir do tema da sub-cultura têm sido um dos mais fecundos para a abordagem da musica popular, ligando a escolha e o gosto musical a complexos socioculturais e sociopolíticos mais amplos (2002,p.29) O desafio segundo Bhabha se coloca em problematizar o próprio ato de enunciação e do discurso ao trazer para o debate curricular os anseios e os desejos dos estudantes em terem a sua cultura valorizada na escola. Diz Napolitano que a música urbana no Brasil teve sua gênese em fins do século XVIII e início do século XIX por suas formas musicais básicas: a modinha e o lundu (ou lundum). A modinha trazia a marca da melancolia [...] o lundu uma dança “licenciosa e indecente” trazida pelos escravos bantos [...] (2002, p. 40-42). Anais Eletrônicos | 431 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL Mas essa citação não faz parte do repertório conteudista das escolas, o conhecimento sobre uma das expressões culturais mais influentes em nosso cotidiano de sons e ritmos não é tratado como conhecimento na educação. O que desejamos com esse recorte histórico sobre os gêneros musicais é contextualizar de que modo foram sendo elaboradas as formas de expressão corporal e cultural dos negros a partir da musicalidade. O autor acima fala das convergências entre diferentes espaços criadores que inspirou o surgimento das musicas transgressoras, anticonvencionais resultantes da coesão “ruas, senzalas, mundo da casa” que constituíam espaços de sociabilização. Destacamos esse aspecto sociabilizador como conceito interessante que liga passado e presente das manifestações culturais negras cuja presença da música invariavelmente resulta em encontros de desejos e afetos. Ainda sobre o passado Sodré (1998) fala dos espaços de sociabilização fazendo referencia as instituições religiosas negras, mais precisamente na Bahia no final do século XIX, o autor fala da relação entre os cultos religiosos e as experiências musicais nesse caso o samba e como as populações negras na época lidavam com a perseguição da polícia. Sodré diz que “o samba já não era, portanto, mera expressão musical de um grupo social marginalizado, mas um instrumento efetivo de luta para afirmação da etnia negra no quadro da vida urbana brasileira”( 1998,p.16). A história da cultura africana e afro-brasileira tem que necessariamente ser reconfigurada pelos quadros da memória seja por teorias não ocidentais ou pela oralidade daqueles descendentes que viveram o período final da escravidão no Brasil para que possamos ter um manancial interessante de contos e fatos ressignificados por estratégias descolonizadas. A importância da oralidade por ser um dos instrumentos mais preciosos para a história dos povos africanos será tratada mais a frente afinal reconhecemos o seu significado valorativo nesse contexto privilegiado pela escrita. O que pretendemos é localizar o espaço de enunciação da nossa problemática referente ao envolvimento e identificação da população negra estudantil em Salvador com as nuances presentes nos repertórios da musicalidade negra e como refletir o significado dessas novas narrativas dentro de um contexto educacional em tempos de mudança. Anais Eletrônicos | 432 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL Sendo a musicalidade negra um universo de representações sociais e culturais preferenciais de determinado grupo etnicorracial observa-se a discriminação e vários outros processos aniquilamento semelhantes aos que sofreram seus antepassados com a invisibilidade e a opressão. Destacamos que nunca esse sofrimento se deu de forma permissiva e omissa, mas contestando e buscando estratégias de subversão e que observamos no presente que nos espaços educacionais os seus descendentes não agem diferente. A música de origem africana trazida para o Brasil pelos negros escravizados a tem a dança como elemento da expressão corporal indissociável segundo Sodré são elas: o sorongo, o alujá, o queimbetê, o cateretê, o jongo, o chiba, o lundu, o maracatu, o coco de zambé, o cachambu, o samba, bambelô, batuque e outras (p.29). Derivadas da Angola e do Congo na sua maioria as danças são marcadas de acordo com os ritmos ora “selvagem” ora “branda” cujas leituras perpassam pela malícia, subversão, transgressão. Daí provocar o entendimento sobre o corpo que carrega essas marcas do passado que encontra na música popular negra referência que no passado fluiu através do lundu, do maxixe e do samba que hoje estão incorporados nesse novo gênero musical denominado “pagode”. Aliás, precisa se considerar que em outras cidades brasileiras o gênero musical pagode tem outras variações rítmicas e criticas que se diferenciam de lugar para lugar. Em São Paulo o pagode que também é criticado por uma elite considerada “pensante” pois no sudeste é considerada uma música de periferia e portanto de preto, no Rio de Janeiro é apresentada por músicos com outros arranjos e melodias mais românticas o que de certa forma lhes garantem um crítica menos severa, mas não ausente. Ainda que o ritmo seja quase o mesmo independente das regiões em que são produzidas as letras se distinguem basicamente. É o caso do pagode baiano que se diferencia de qualquer outro gênero pelas letras cujo apelo pelo baixo corporal2 prenuncia um enfretamento que usa desse ritmo sua forma mais evidente de expressão e protesto. Sodré diz: “a crioulização ou mestiçamento dos costumes tornou menos ostensivos os batuques, obrigando os negros a novas táticas de preservação e de continuidade de suas manifestações culturais”(p.12-13). Reflexo disso são as várias caracterizações que o “pagode” tem na contemporaneidade. Desde cultura popular, a 2 Em capítulo especifico o conceito de baixo corporal será discutido com maior profundidade a luz de Bakhtin no desenvolvimento da pesquisa. Anais Eletrônicos | 433 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL obscenidade, libidinagem, bizarra, escandaloso, meloso, romântico e marginal, todas manifestações expressas pelo corpo. Diante do contexto em que vivemos o referido gênero musical “pagode” não se enquadra nos moldes estruturantes de uma cultura elitizada ao contrário o pagode é a representação da subalternidade [negros e pobres] além de se enquadrar para alguns críticos musicais como lixo cultural. São por esses adjetivos que os Estudos Culturais nos orientam a compreender como elaborar uma critica que exponha a escola e os currículos de formação como estruturas de poder, reprodutoras de um conhecimento que não contemplam as diferentes culturas omitindo o papel importante que tiveram os negros vindos para o Brasil como escravos e foram portadores influentes de uma cultura altamente rica do ponto de vista da linguagem musical como forma de expressar no mundo dos usos e costumes da natureza e do próprio corpo. Nesse percurso onde temos o pagode como mais uma ramificação de matriz africana tido como um ritmo musical marginalizado, produzido e consumido pelas classes populares está para o universo escolar como uma das manifestações culturais mais explosivas e vivenciadas pelos seus atores, implicando em novos contextos educativos nos convocando enquanto educadores ao conhecimento e exploração desse tema como novo campo de reflexão da educação das relações etnicorraciais. 1.1- OUSANDO UM NOVO CAMPO DO SABER A maioria de nós tem a compreensão da importância que a música tem na vida. Podemos inclusive afirmar que a música tem a sua primeira influência na vida uterina quando ainda nem podíamos sugerir aos nossos pais qual gênero musical mais nos agradava. Posterior ao nascimento culturalmente somos ninados com cantigas de dormir transmitidas de geração para geração, em algumas culturas as cantigas são parte de rituais de nascimento e de fortalecimento da alma dessa criança. Depois a música passa influenciar de tal modo a nossa formação que ela acaba por se tornar a referência identitária de muitos grupos juvenis. Essa é uma realidade já constatada em várias pesquisas sobre juventude e música Segundo o catálogo produzido pelo Núcleo de Extensão e Pesquisa em Educação Musical da UFU. Os estudos apresentados no catálogo foram fontes essências para a Anais Eletrônicos | 434 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL etapa exploratória desse estudo que buscou inicialmente saber quais pesquisas no campo da educação teriam utilizado a musicalidade negra como proposta integrada do currículo para uma formação centrada da igualdade racial e na educação das relações raciais. Desse modo, podemos identificar a partir do referido catálogo que no período de 1996 a 2006 a área que mais produziu conhecimento sobre esse tema “juventude e música” foi a Educação, seguido da área de Educação Musical. O que nos chamou atenção nessa análise foi a proporção recorrente de temas ligados a expressões musicais negra no campo da educação de 28 trabalhos, 10 são relacionados aos gêneros do Rap, Sampa, Hip, Hop e Funk. Em pesquisas mais recentes não encontramos pesquisas que tratem a musicalidade negra na especificidade proposta para essa investigação que faça uma relação do pagode com os currículos de educação. Nossa busca localizou a dissertação de mestrado de Araújo(2000) que apresenta como objeto de investigação o pagode e axé músic. O que o referido trabalho se assemelha ao que nos propomos refletir consiste apenas na relação do prazer que a dança desses ritmos provocam, funcionando como agregadores imaginais. Talvez não tenhamos ainda condições de apresentar ao leitor uma definição precisa sobre o ritmo pagode, mas reconhecemos que existe grupos e grupos de pagodes com diferentes versões que convém destacar suas diferenciações, aliás são nas suas diferenças que agem as ações de contato, a agregação, a identificação e também as críticas, os rótulos, a aceitação social, a negação cultural, a inserção, a exclusão em diferentes espaços da mídia, a aprovação ou reprovação pela elite dominante. Isso porque Araújo(2000) com o seu estudo apresentando o pagode e a axé music como ritmos distintos para a sua análise no entanto nas definições do autor os grupos musicais que representam o pagode são na sua concepção de fato os grupos de pagode reconhecidos popularmente como o Katingulê, Art Popular, Exaltasamba, Fundo de Quintal ainda que o estilo desses grupos sejam na sua base musical muito diferentes do que se nomina “pagode baiano”. E os grupos aos quais ele referencia o axé music ao menos aqui entre baianos não são todos exatamente de axé como: É o tchan, Campanhia do Pagode e Timbalada. Na Bahia não há o gênero musical “pagode” é distinto de todos os demais ritmos desde o axé ao arrocha quem gosta e quem não gosta sabe diferenciar com clareza o que Anais Eletrônicos | 435 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL é pagode baiano. Primeiramente pelas letras sempre carregadas de refrões de fácil aprendizado que usa o corpo ou partes do corpo na composição das letras celebrando ou erotizando a figura feminina. Apenas por essas características citadas já se reconhece o pagode baiano de outros pagodes, no entanto é importante destacar que outros grupos baianos de pagode produzem músicas com o mesmo ritmo e harmonia sem o uso recorrente e apelativo do baixo corporal. Retomando a questão sobre os estudos realizados sobre juventude e música e as pesquisas já realizadas no campo da educação há que dizer da escolha por esse gênero musical “pagode baiano” e tudo que compõe esse ritmo contagiante e dançante. Ao tempo em que reconhecemos tratar-se de um gênero musical polemico dada a peculiaridade das suas letras e coreografias o pagode baiano representa um movimento de socialização entre os grupos sociais desfavorecidos na cidade de Salvador. Visto que esse movimento envolve uma parcela muito grande de jovens homens e mulheres em fase de escolarização é evidente que há uma relação entre essa juventude e o pagode que a escola precisa discutir. O nosso interesse é caracterizar esse campo e, a partir dele, investigar as formas através das quais essas expressões culturais podem servir como referências na elaboração de estratégias curriculares para uma educação efetivamente inclusiva. Destacando aspectos de natureza formativa tais como a valorização do passado histórico, a crítica ao racismo e à discriminação, a elevação da auto-estima e da autoimagem, essas formas expressivas da cultura, uma vez consideradas nas construções curriculares, podem contribuir para uma inclusão mais substantiva dos(as) jovens negros(as) e pobres nas escolas, sobretudo nas escolas públicas. Em outras palavras, partimos do pressuposto de que a análise das presenças e ausências de determinados elementos na estrutura curricular das escolas - entendendo currículo como a multiplicidade de aspectos, valores, normas, procedimentos e práticas que envolvem o processo formativo-, contribuem em grande medida para a identificação e análise das perspectivas inclusivas ou exclusivas nela presentes, com implicações significativas não só na própria formação dos estudantes, como também na sua maior ou menor integração à própria escola. Para tanto tomamos como referencia inicial as representações de corpo permeadas pelas variáveis de raça e gênero presentes nos novos estilos musicais baianos Anais Eletrônicos | 436 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL surgidos a partir da década de 1990, sob os auspícios de jovens negros residentes nas periferias de Salvador. Através de um complexo performático que envolve o oral, o escrito e as formas de expressão do corpo, essa linguagem que emerge do pagode, aqui nomeada de musicalidade negra contemporânea, se singulariza na medida em que prefigura um campo cultural distintivo, manancial de referenciais identitários, no interior do qual se movimenta a juventude negra soteropolitana, em especial, a juventude negra em idade escolar Justificado pela especificidade do nosso objeto, a escolha da cidade de Salvador como cenário geográfico dessa investigação explica-se pela histórica relação entre Brasil e África-, iniciada desde o século XVI, com a chegada à Bahia de milhares de africanos escravizados, provenientes da região de Luanda, Cabinda e Benguela. Elaborada durante séculos de resistências, negociações e interpenetrações, a presença de marcados aspectos da cultura negra africana em Salvador, como atestam os especialistas no tema, pode ser observada através da influência decisiva na formação da língua, na culinária, na religiosidade, na arte e, particularmente, no que interessa a essa proposta de pesquisa, na musicalidade. Todas essas influências têm aproximado cada vez mais, diferentes grupos populacionais numa interação intercultural3 com formatações contemporâneas inéditas. Esses traços da cultura africana presentes na sociedade baiana e brasileira podem ser aqui entendidos como “valores civilizatórios afro-brasileiros”. Segundo Mattos(2003), tais valores constituem-se como “...recriações que nos unem ao continente africano de forma inexorável [...] e que podem ser aqui enumerados: as concepções diferenciais de morte e ancestralidade; o significado cosmológico da vida humana e da relação com a natureza; a oralidade como forma privilegiada da comunicação e transmissão dos saberes, bem como o valor da palavra e o caráter sagrado de todas as dimensões da existência humana”(2003,p.230). Há algum tempo já se observa no campo das reflexões sobre educação, a necessidade de inserção de questões difíceis que envolvem raça, gênero, sexualidades, dentre outros marcadores de identidade. Nesse sentido é que propomos pensar questões 3 A definição sobre o conceito interculturalidade se encontra em FLEURI, Reinaldo Matias. Educação intercultural: mediações necessárias. DP&A, 2003. A interculturalidade dá ênfase e interfere na relação entre as diferentes culturas. Anais Eletrônicos | 437 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL que estão diretamente ligadas a uma nova ordem educacional e emergência recente de instrumentos legais e normativos relacionados à questão da diversidade étnico-racial. A Lei Federal 10.639/03”4, que altera a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, ambas relacionadas à obrigatoriedade de inclusão nos currículos da Educação Básica de conteúdos que envolvam as populações negras tanto na África como no Brasil, têm exigido dos educadores e pesquisadores da educação esforços inéditos de produção de conhecimento que subsidiem o cumprimento satisfatório dessas obrigatoriedades, seja no que diz respeito à formação de professores, à produção de material didático, à escolha de conteúdos e temas necessários e, o que talvez seja mais importante, à revisão crítica e o fortalecimento de alternativas conceituais e metodológicas capazes de operarem transformações substantivas em concepções hegemônicas e calcificadas de currículo. Nessa perspectiva acreditamos que nas produções de conhecimento que tomam esse novo universo educacional como fundamento e mesmo horizonte, os conteúdos e concepções presentes na Lei Federal 10639/03 e nas Diretrizes mencionadas podem transformar-se em importantes instrumentos a favor da formação educacional da grande maioria dos estudantes das escolas públicas. As estatísticas5 mostram que em Salvador e na Bahia, de um modo geral, a imensa maioria desses estudantes são negros. Novas concepções curriculares e novas práticas educacionais que levem em consideração as expressões culturais contemporâneas produzidas por sujeitos específicos com suas características expressivas próprias, seguramente, encaminharão a uma educação com maiores chances de elevação de qualidade e alcance dos objetivos formativos gerais. No caso desse projeto de pesquisa nos referimos, especialmente, às expressões culturais da musicalidade negra baiana que envolve não só letras de música, mas ritmos, vozes, sons, imagens, performances corporais, nos remetendo a histórias, resistências, críticas, memórias e dinâmicas relacionais próprias. 1.2- REPERTÓRIO MUSICAL E PERFORMATICO 4 Ver a Lei na íntegra: Brasília. Conselho Nacional de Educação, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Brasília, DF, CNE, 10 de março de 2004. 5 Consultar: Síntese de Indicadores Sociais-IBGE/2008. Em http://www.ibge.gov.br/home/estatística/população/censo2000. Anais Eletrônicos | 438 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL Ainda que não tenha localizado outros estudos que façam a discussão a partir desse discurso cultural que o pagode emerge como raiz da musicalidade negra e sua relação com os currículos educacionais, podemos evidenciar que no percurso acadêmico científico já foram propostos vários debates em torno de diferentes gêneros musicais como temas centrais ou secundários e todo referencial identidário que os compõem. Isso promove a não particularidade do tema ora aqui proposto, mas necessariamente surge com outro viés que possa conduzir para uma construção epistemológica, derivada de um novo lócus que desloque a ciência de lugar ressaltando a natureza do estudo para a reeducação das relações etnicorraciais no ambiente escolar. Ao definir por esse campo de pesquisa considerem que há uma preferência pelos novos estilos musicais baianos surgidos a partir da década de 1990. No decorrer dessa trajetória de pesquisa iremos destacando os grupos e artistas que se destacam no cenário fonográfico e que definem sintonia com a juventude negra em fase de escolarização de Salvador. Como é o caso do Grupo Gera Samba: Esse pagode gostoso que trouxe pra nós Como é o nome dele? É assim como nós Esse samba gostoso que só tem gente bamba O nome dele é o Gera Samba Bota a mão na cabeça e começa a descer A mão na cintura e começa a mexer A mão na cabecinha e começa a descer A mão na cinturinha e começa a mexer Oh, meu Deus! Que delícia! Oh, meu deus! É só você e eu É o novo de Salvador, é o novo som de Salvador Paquerei, paquerou Faremos nossa investigação considerando o Grupo Gera Samba como ponto de partida com as suas músicas e conjunto de aspectos que anunciaram uma nova incorporação da música negra em nossa sociedade com a denominação de “pagode”. Esse grupo que tem como origem a periferia é um grupo de pagode baiano, com uma música próxima ao samba de roda surgido em Salvador. Formou-se em 1992 com dez músicos. O grupo e aliás destaca-se é comum dentre os grupos de pagode passou por algumas transformações ao longo do tempo. No início o Gera Samba mantinha um Anais Eletrônicos | 439 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL estilo frouxo de pagode tendo como uma de suas músicas mais famosas da época "A Cordinha". Com outra formação o grupo se tranformfou no É o Tchan! Atuando com um novo conceito estético com a inserção de duas bailarinas e um dançarino. De acordo com o wikipédia música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que constitui-se basicamente em combinar sons e silêncio seguindo ou não uma pré-organização ao longo do tempo A música é considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte dependendo o contexto ela pode ser também um meio de sublimação, se considerarmos o seu uso pelas populações negras escravizadas no Brasil. Quando definimos que dentre os vários aspectos a serem elencados a partir do discurso cultural intituido pela musicalidade negra a perfomance é certamente uma categoria de análise presente nesse discurso de forma emblemática. Recorrendo a uma definição conceitual a partir da sua relação com a música temos a seguinte definição: A criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação na performance), música improvisada até formas aleatórias. A música pode ser dividida em gêneros e subgêneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre géneros musicais são muitas vezes sutis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação uma arte sublime, uma arte de espectáculo (Wikipédia). Outro grupo bastante performático é o Harmonia do Samba, outro de grupo de origem pobre nascido na Capelinha de São Caetano um bairro bem distante do centro de Salvador. A história de formação dessa banda foi bastante veiculada pela mídia porque trata-se de um fenômeno musical lançado pelo boca a boca atráves de um show em que a banda ainda não era conhecida do grande público e tocou até de manhã para uma multidão entusiasmada com o novo som. Muitos ainda se lembram da música que fez a banda emplacar no mercado: Anais Eletrônicos | 440 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL Mandei meu cavaco chorar Se você aceitar o desafio Eu vou cantar um samba pra você dança Teu suingue provoca arrepio Pegue teu cavaco show vai começar (2x) Vou pedir pra você vibrar,vibra Vou pedir pra você mandar Mandar meu cavaco choraar! Mandei meu cavaco chorar E a galera não vacilou Fez a poeira subir Não saiu do compasso Mais uma vez eu quero ouvir Mandei meu cavaco chorar Se vc aprender o desafiu Eu vou cantar um samba pra você dança Teu suingue provoca arrepio Pegue o cavaco show vai começar (2x) Vou pedir para você vibrar, vibrar Vou pedir pra você mandar, mandar meu Cavaco chorar! Mandei meu cavaco chorar Conta-se através de vários blogs e sites que a história do surgimento da banda se dá em dezembro de 1993, um dos componentes da banda Roque Cézar, um jovem negro morador do bairro da Capelinha de São Caetano, apaixonado por música, pediu à mãe, Dona Graça, alguns instrumentos de percussão como presente de Natal. Ao receber o presente, Roque Cézar dividiu os instrumentos entre vizinhos e primos e começaram a tocar músicas de grupos famosos, como Fundo de Quintal. Ensaiando todos os dias na varanda da casa de Dona Graça, o grupo não parava de evoluir e incorporar novos instrumentos como baixo e cavaquinho. Foi só depois que grupo já com forma de banda dirigidos por pelo baixista Bimba que o cantor ex-Gente da Gente Xanddy assumiu os vocais em abril de 1998, consolidando a formação oficial. Daí então o Brasil passa a conhecer mais o pagode baiano dada a singularidade dessa banda que não apresenta na sua composição nenhuma dançarina mas um excelente dançarino o próprio vocalista da banda, contrariando o jargão que “homem que é homem não rebola”. O cantor Xandy da Harmonia do Samba quebra um dos tabus machistas mais conservadores seduzindo as mulheres com o seu Anais Eletrônicos | 441 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL rebolado e atraindo os homens a rebolar sem que para isso a masculinidade ficasse em jogo. Cabe destacar que esses grupos são representações de arranjos coletivos construídos em solos de periferia, com trajetórias semelhantes de exclusão e discriminação por serem pretos e pobres, procuramos dentre os grupos de pagode selecionar para esse estudo apenas os grupos de formação cuja origem seja nas periferias e que sejam bandas cujo apelo junto à população jovem tenha sua maior expressão. Assim não estaremos trabalhando com a grande maioria e sim com as representações do pagode cuja visibilidade tenha maior amplitude nos meios musicais, com características especificas desde as letras dos pagodes, a irreverência, a politização e a expressão performática. De fato fazemos a opção por grupos de pagode que reiteram nossas expectativas de pesquisa apontando para uma das características já mencionadas. Outra banda importante é o Parangolé, hoje consagrada à banda introduziu o pagode em diferentes setores da sociedade. Com o sucesso chamado rebolation, além de explodir no carnaval da Bahia de 2010 como a melhor música, também foi a melhor banda de pagode. O pagode intitulado rebolation entrou em cena nas novelas, dos programas de talk show, nos telejornais, foi cantado e tocado em vários eventos (esportivos, musicais, escolares, etc). Talvez tenha sido nos últimos tempos a banda que mais teve espaço na mídia. Buscando informações pelos sites encontramos no Samba.com um breve histórico da banda: O Parangolé surgiu em 1997, no bairro da Federação também em Salvador no bar da dona Maria. Todas as tardes Adriano, Nenel e Nailton se reuniam para jogar baralho e sempre ao fim das partidas faziam um pagode. O som foi agradando se espalhando e com o tempo só se ouvia o comentário: Que parangolé é esse que ta rolando na Federação. E foi isso o nome é esse Parangolé comandado a menos de dois anos pelo então cantor Léo Santana. Mas a banda teve na sua formação inicial o cantor Eddy que depois lançou a banda Fantasmão e agora está em carreira solo como Eddycity. Apesar do sucesso se configurar com a música rebolation o grupo é porta voz de pagodes que falam da realidade das populações negras em Salvador. Vejam essa letra: Anais Eletrônicos | 442 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Respeite o povo que vem dela Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Ô já ta quase na hora do meu bonde passar Levando a galera que faz as loucuras Pega no batente dessa vida dura Que acorda bem cedo para ir trabalhar Ô mas que nunca perde sua fé Que samba na ponta do pé O alimento da alma é sonhar ÊÊ Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Respeite o povo que vem dela Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Não tem aleotria idéia de preto Que sobe as escadas e passa por becos Conhece a noite ele mora do Gueto Não tem aleotria idéia de preto Que sobe as escadas e passa nos becos Conhece a rua ele mora do Gueto Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Respeite o povo que vem dela Favela Ê Favela Favela eu sou Favela Favela Ê Favela Faremos aqui um destaque ao cantor Eddy que durante um tempo esteve selecionado para essa investigação com o Grupo Fantasmão do qual o mesmo foi vocalista. Já havíamos feito os contatos iniciais por se tratar de uma banda de pagode critico cujas letras apresentam teor político e apelo ao contra as desigualdades sociais. Mas como já alertamos é comum os grupos passarem por transformações e o com Fantasmão não foi diferente. Independente das novas formações o Grupo Fantasmão foi por um período um grupo badalado pelos meios musicais e de forte apelo junto à juventude negra de Salvador principalmente no carnaval. Uma das características marcantes dessa banda de pagode foi o rosto pintado de branco e uso de batas longas Anais Eletrônicos | 443 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL com cordões de rap no pescoço. É necessário dizer que a referida banda foi inicialmente o motor propulsor gerador dessa investigação. Foi em um dos carnavais da Bahia que a banda me chamou atenção pela multidão de jovens pretos e pobres que seguiam atrás desse fenômeno musical chamado Fantasmão. Com um conceito renovado, andará nossa nação, sou filho de preto, quero respeito, quem mora no guetto não é ladrão! Com um conceito renovado andará nossa nação sou filho de preto quero respeito quem mora no guetto não é ladrão! Não, não, não! Na favela, lá no morro. No Lobato, na Fazenda Coutos No Retiro, quem atirou? Eu quero saber quem pintou o Castelo de Branco. Na senzala do Barro Preto todo mundo é irmão. Tá na cara, tá no coração no cabelo, na pele, no compasso. Sou eu Fantasmão! É na pegada do pé é na pegada da mão "Simbora negão" "Simbora negão" Dono de uma performance hibrida o cantor Eddy, trouxe para o palco da música baiana o groover arrastado. Trata-se de novos arranjos para a o pagode com a inclusão de guitarra, ritmo esse cunhado pelo próprio cantor. Com letras carregadas de protesto o cantor acenou no universo do pagode baiano com respeitosa consciência de raça. Dentre outros atributos para a análise desse estudo as letras e músicas do Grupo Fantasmão trazem elementos da cultura e do cotidiano da juventude negra de Salvador como podemos conferir. Assim convido aqueles menos radicais e mais plurais a quebrar comigo até o chão. Anais Eletrônicos | 444 Fórum Nacional de Crítica Cultural 2 Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos 18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL REFERÊNCIAS: ARAÚJO, Carlos A. Ávila. Balançando o Brasil: A emergência do axé músic e do pagode nos anos 90. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais.UFMG, 2000. BHABHA, Homi, K. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998. FLEURI, Reinaldo Matias. Educação intercultural: mediações necessárias. DP&A, 2003. GIROUX, Henry. Atos Impuros: a prática política dos estudos culturais. Trad. Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2003. MATTOS, Ivanilde Guedes de. A negação do corpo negro: representações sobre o corpo no ensino da Educação Física. 2007. 147 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade, Universidade do Estado da Bahia. Salvador, 2007. MATTOS, Wilson Roberto de. Valores civilizatórios afro-brasileiros, políticas educacionais e currículos escolares, Revista FAEEBA- Educação e Contemporaneidade, Salvador, v.12, n.19, jan/jun.,2003. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal n° 10.963/03, Brasília, 2005. NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. SODRÉ, Muniz. Samba o dono do corpo. 2ª edição, Rio de Janeiro: Mauad, 1998. Anais Eletrônicos | 445