O SIGNIFICADO DA TUBERCULOSE NO COTIDIANO DO PACIENTE MULTIDROGARRESISTENTE E DO ENFERMEIRO OLIVEIRA, Aline Libório de1 SANTOS, Enock Barroso1 DA SILVA, Nicole Cristina Cruz1 LOPES NETO, David2 RESUMO: Objetivou-se compreender o significado da tuberculose no cotidiano hospitalar da pessoa em tratamento multidrogarresistente e do cuidado do enfermeiro. Estudo descritivo, qualitativo, realizado com cinco pessoas com tuberculose multidrogarresistentes e oito membros da equipe de enfermagem da Fundação Hospital Adriano Jorge por meio de entrevistas, utilizando questionários semiestruturado e posteriormente transcritos, destacando os pontos mais relevantes, fazendo associação com literatura pertinente. Os resultados mostraram a dificuldade para obtenção do diagnóstico da doença e, partir daí, as dificuldades e facilidades vivenciadas pelas pessoas em tratamento tuberculose multidrogarresistente. Houve destaque para a importância da equipe de enfermagem no processo de cuidado para o alcance do sucesso terapêutico. Descritores: Tuberculose; Tuberculose Resistente a Múltiplos Medicamentos; Enfermagem; Tratamento. MEANING OF TUBERCULOSIS IN TUBERCULOSIS PATIENT AND NURSE DAILY MULTIDRUG-RESISTANT The study aimed to understand the meaning of tuberculosis in hospital daily of the person multidrug-resistant tuberculosis (MDR-TB) and the nurse care. Descriptive and qualitative study, carried out with five patients MDR-TB and eight members of nursing team of the Fundação Hospital Adriano Jorge by interviews using semi-structured questionnaires and transcrition, highlighting the most important parts for association with literature. The results showed a difficulty trouble getting the medical dignostic of disease and difficulties and facilities experienced by people in treatment MDR-TB. There was emphasis on the importance of the nursing team in the care process to for the success therapeutic. Descriptors: Tuberculosis; Tuberculosis, Multidrug-Resistant; Nursing; Treatment. 1 Acadêmicos do Curso de Graduação, da Escola de Enfermagem de Manaus/Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, Amazonas. [email protected]. 2 Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor associado da Escola de Enfermagem de Manaus/ Universidade Federal do Amazonas (EEM/UFAM. 1 SIGNIFICADO DE LA TUBERCULOSIS EN TODOS LOS DIAS DE LOS PACIENTES TUBERCULOSIS RESISTENTE A MÚLTIPLES MEDICAMENTOS Y DE LAS ENFERMERAS Este estudio tuvo como objetivo comprender el significado de la tuberculosis en el todos los dias de hospital de la persona Tuberculosis Resistente a Múltiples Medicamentos (TBMDR) y la atención de enfermería. Investigación descriptiva y cualitativa entre cinco personas TBMDR y ocho miembros del equipo de enfermería del hospital Fundação Adriano Jorge a través de entrevistas con cuestionarios semi-estructurados con posterior transcripción, destacando los puntos más relevantes por asociación con la literatura. Los resultados mostraron la dificultad para obtener el diagnóstico de la enfermedad y las dificultades experimentadas por las personas en tratamiento TBMDR. Se puso de relieve la importancia da la equipo de enfermería en el proceso de atención para lograr el éxito terapéutico. Descriptores: Tuberculosis; Tuberculosis Resistente a Múltiples Medicamentos; Enfermería, Tratamiento. INTRODUÇÃO A tuberculose multidrograresistente (TBMDR) é definida como a resistência à isoniazida e rifampicina, os dois mais poderosos medicamentos antituberculose (antiTB), tem tratamento mais longo e exige medicamentos mais caros e tóxico. 1 A resistência às drogas anti-TB pode ser resultado do uso impróprio dos antibióticos empregados e está relacionado com diversos fatores, entre eles: a administração de regimes de tratamento inadequados (prescrições inadequadas, uso incorreto e irregularidade na composição das medicações), a falta de adesão do doente ao tratamento, absorção intestinal deficiente, falta de suspeita de resistência primária (por avaliação inadequada da história de contatos e falhas no seguimento dos casos sensíveis), falta ou falha na provisão e distribuição dos medicamentos padronizados. 2 Em nível mundial, estima-se que cerca de 450.000 pessoas desenvolveram TBMR em 2012, aferindo-se cerca de 170.000 mortes ao ano. A maioria dos casos e mortalidade por tuberculose ocorreram em homens, todavia, esta doença continua sendo uma das três principais causas de mortes de mulheres em todo o mundo. 3 Apesar dos avanços científicos que tornaram disponíveis tratamentos eficazes, ainda hoje as crenças populares sobre a tuberculose parecem conservar muitas das imagens que fizeram dela uma das doenças mais temidas, em todos os tempos. O estigma da doença leva pessoas que adquirem tuberculose a sofrerem não só pelas manifestações clínicas, mas, também, pela possibilidade de vivenciar preconceitos, sendo rejeitadas em seus relacionamentos sociais. 4 2 A hospitalização é uma condição bastante atemorizante para algumas pessoas e a doença se configura como uma ameaça. O sentir-se doente ou estar doente caracterizase por uma ruptura na relação do ser humano com o mundo5 Frente a essas mudanças, o paciente e vivenciam algumas etapas até a aceitação da doença e adesão ao tratamento, que fazem parte do processo de enfrentamento. 6 O controle da doença na comunidade depende do diagnóstico e do tratamento precoces. Apesar de os programas de controle de tuberculose preconizarem que o diagnóstico seja feito em nível de atenção básica de saúde, grande parte dos pacientes ainda é diagnosticada em hospitais.7,8 Destarte, os profissionais de saúde podem influenciar diretamente no tratamento e na qualidade de vida de pacientes, tanto positiva como negativamente, pelas suas intervenções no processo saúde-doença e uma melhor compreensão das vivências dos doentes com TBMDR pode ajudar a aprimorar os esquemas terapêuticos, a adesão ao tratamento e o bem-estar destas pessoas, promovendo o sucesso terapêutico. 9 Neste sentido, entende-se que a enfermagem tem um papel primordial no processo de cuidar da pessoa diagnosticada com TBMDR. Dessa maneira, torna-se imprescindível a compreensão do universo do paciente diagnosticado e em tratamento, bem como o processo do cuidado aplicado pelos membros da equipe de enfermagem, com enfoque na forma em que o paciente se sente, numa interpretação do ser doente para além da sintomatologia manifestada pela doença, mas como a enfermagem percebe este paciente no seu cotidiano. Este estudo tem por objetivo compreender o significado da tuberculose no cotidiano hospitalar da pessoa em tratamento multidrogarresistente e do cuidado do enfermeiro. METODOLOGIA Estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado na Clínica de Tisiologia, da Fundação Hospital Adriano Jorge (FHAJ), com diagnóstico de TBMDR, cidade de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Os participantes da pesquisa foram 05 pacientes, em regime de internação hospitalar, com diagnóstico de TBMDR, com idade igual ou superior a 18 anos, do sexo masculino e da equipe de enfermagem, 03 enfermeiros e 05 técnicos de enfermagem, lotados na clínica de tisiologia. Para a preservação do anonimato dos participantes, os discursos foram identificados, ao longo do texto, com a sigla PACTBMDR para o paciente, seguidas de algarismos arábicos que representam a ordem das entrevistas. Já para o profissional de 3 enfermagem foi utilizada a siga PROFENF também seguida de números arábicos representando a ordem crescente de participação. A coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2014 a janeiro de 2015, por meio da técnica de entrevista semiestruturada, realizada setor de tisiologia da FHAJ, com o uso de um instrumento do tipo roteiro, contendo perguntas abertas e uso de gravador. As gravações tiveram duração média de trinta minutos e foram transcritas para um editor de texto. O roteiro destinado ao paciente participante foi composto por quatro perguntaschave: 1 - Fale sobre o que é estar com tuberculose com resistência aos medicamentos do tratamento e internado numa unidade hospitalar; 2 -Como você percebe as pessoas que sabem que você está com TBMDR. 3 - Quais as dificuldades e facilidades que você encontra em relação ao tratamento para TBMDR? e, 4 - Como você percebe a assistência do enfermeiro neste hospital? Para os participantes da equipe de enfermagem, o roteiro também apresentou quatro questões: 1- Fale como você percebe o sentimento de pacientes com TBMDR internados sob seu cuidado nessa unidade hospitalar; 2 - Fale sobre a percepção do paciente quanto às pessoas que sabem que ele está em tratamento para TBMDR; 3 - Fale sobre as dificuldades e facilidades encontradas pelos pacientes com TBMDR em relação ao tratamento; e, 4 - Fale como você desenvolve o trabalho de enfermagem na assistência ao paciente com TBMDR internado nessa unidade hospitalar. A análise de dados ocorreu por meio da técnica de análise de conteúdo, consistindo, primeiramente, numa pré-análise para seleção do material (corpus) abstraído das entrevistas, com agrupamento das unidades de registros por palavras e frases para codificação e ordenação em três categorias temáticas: “Demora no diagnóstico; dificuldade do tratamento e facilidades do tratamento” para os pacientes e duas categorias temáticas para a equipe de enfermagem: “Enfermagem ativa no processo de cuidar e dificuldades enfrentadas pela equipe.” A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa, da Fundação Hospital Adriano Jorge (FHAJ), sob número de CAAE: 33341814.3.0000.0007. RESULTADOS E DISCUSSÃO Demora do diagnóstico O diagnóstico da TBMDR já não é um mistério para os profissionais de unidades de saúde. Os testes de suscetibilidade de droga antimicrobiana são necessários para confirmar a presença de cepas resistentes e identificar potencialmente medicamentos eficazes para compor uma combinação apropriada para o regime de tratamento.10 Mas, o caminho que os pacientes entrevistados percorrerem para receber um diagnóstico preciso e em tempo hábil, mostra que ainda existe demora no diagnóstico precoce. 4 “Eu comecei a botar sangue, aí fui em um dos hospitais da cidade mas disseram que não era nada, depois de duas semanas continuei mal, aí em outro hospital e novamente me mandaram pra casa e só no terceiro que descobriram mas tive que fazer dois exames de escarro, porque o primeiro não deu nada” PACTBMDR- 02. “Eu passei por quatro hospitais para poder chegar aqui e falarem que eu estava com tuberculose.” PACTBMDR- 03. “Demorou muito pra eu descobrir a doença! Eu passei por três hospitais.” PACTBMDR- 04. “Eu fui em vários hospitais, mas no final passou três meses pra me falarem que eu tava com tuberculose” PACTBMDR- 01. Muitas das 190.000 pessoas que se estima terem sucumbido à TB-MDR em 2014 morreram mesmo antes de um diagnóstico pode ser feito. Esses dados evidenciam que há muito trabalho a ser realizado para aumentar a detecção de TB-MDR, para melhorar a ligação do diagnóstico do início do tratamento adequado, e para melhorar a eficácia e tolerabilidade da terapia TB-MDR. 11 Dificuldades no tratamento O diagnóstico de TBMDR em qualquer indivíduo é o começo de uma prolongada e difícil jornada terapêutica.12 A primeira limitação que o paciente encontra é a sua intolerância aos fármacos essenciais do tratamento, em seguida, como concretizado pelas narrativas a seguir, tem-se a compreensão de ser um processo de exclusão, perdas sociais e pessoais do doente TB, podendo, ainda ser esta situação, oriunda do medo e receio que terceiros têm do contágio da doença. “Muitas pessoas se afastaram com medo, até meus próprios amigos se afastaram com medo. Até agora nem falam, nem mandam mensagem. Eu falei que o tratamento impede de passar pra eles, mas eles não acreditaram.” PACTBMDR- 01. “Eu quero voltar a trabalhar, porque ter tuberculose mudou toda a minha rotina, toda a minha vida. Eu perdi muita coisa, até os amigos sumiram por medo de pegar!” PACTBMDR- 02. A doença é transmitida no ar quando pessoas que estão doentes com TB pulmonar expulsa bactérias, principalmente, pela tosse. Em geral, uma proporção relativamente pequena das pessoas infectadas com Mycobacterium tuberculosis desenvolve a doença. 1 No entanto, quando diagnosticada e inicia o tratamento correto, não tem história de tratamento anterior e a negativa da baciloscopia é confirmada, podese considerar que, após 15 dias de tratamento e havendo melhora clínica, a pessoa pode 5 ser considerada não infectante13, fato este, mesmo no século XXI, ainda é desconhecido por muitas pessoas. Em alguns casos de tuberculose, a discriminação sofrida pelo doente de TB não é algo que o leve a lutar pela inclusão, como se observa com outras categorias de doenças estereotipadas. A dimensão social do doente TB o deixa lacônico, não reativo e inerte para a vida social. 14 Os desconfortos sintomatológicos e os efeitos colaterais que a medicação antituberculose causa no organismo da pessoa em esquema terapêutico, também, foram destacados como fator de dificuldade de adesão ao tratamento. “A gente muito enjoo, muito mesmo! E com o passar do tempo você sente uma vontade de comer muito! Além de tudo isso, ainda me dava umas coceiras” PACTBMDR- 01. “A gente até tenta se tratar direitinho, mas os remédios dão muito enjoo na gente, muito efeito” PACTBMDR- 02. “É muito difícil se tratar porque a doença dá um monte de coisa na gente, mas os remédios também dão. Eu senti muito enjoo, principalmente.” PACTBMDR- 03. “Quando eu tomava o medicamento, eu sentia muita reação! Me sentia muito mal, principalmente de enjoo” PACTBMDR- 04 Vale ressaltar que apesar dos sintomas desconfortáveis da TB e dos medicamentos poderem causar reações adversas durante o tratamento, os avanços terapêuticos têm promovido a melhoria da qualidade de vida, estando esta qualidade relacionada ao prolongamento da vida15 e a redução do impacto da doença na saúde física e psicológica das pessoas.5 Facilidades para realizar o tratamento A identificação das facilidades para realização de tratamento TBMDR apontadas pelas pessoas entrevistadas, desvelou a unidade hospitalar como um espaço seguro, adequado e de relacionamento terapêutico eficaz, principalmente, na relação profissional de enfermagem-paciente. “Aqui eu tenho mais atenção, não é como no outro hospital que você fica largado... as técnicas me ajudam bastante. Aqui está bem aprovado” PACTBMDR-01. “Aqui eu sendo bem tratado e isso me ajuda bastante porque é ruim estar em um lugar que você não é bem recebido e aqui não, aqui as pessoas tratam bem e me ajudam.” PACTBMDR- 02 6 “Elas da enfermagem me acompanham bem, conversam comigo, nunca faltou meus medicamentos, elas me atendem bem e são até atenciosas.” PACTBMDR- 03. “Aqui a equipe me trata bem sim, fazem um serviço legal. Quando eu tive problema de enjoo elas trouxeram o remédio e isso ajuda muito a gente a vencer né? Porque tem lugar que ninguém está nem aí. Aqui a maioria está de parabéns.” PACTBMDR- 04. Assim, a principal facilidade que esses pacientes destacaram, é o cuidado que recebem desses profissionais, alegando que ao receberem um tratamento digno e atencioso, eles conseguem realizar o tratamento de forma mais facilitada, além de não ter sido relatado problemas com falta de medicamentos do tratamento para esses pacientes. Enfermagem ativa no processo de cuidar As falas evidenciaram que a equipe de enfermagem tem um papel fundamental no tratamento da pessoa em tratamento TBMDR. O estudo mostrou que o enfermeiro ocupa o lugar de gestor do cuidado, por sua capacidade de liderança, humanização, ações relacionais terapêuticas e de educação em saúde relacionadas às vulnerabilidades do doente.12 “Eu faço as medicações, temos mais contato por ser poucos pacientes. Tem paciente que passam muito tempo e o paciente se torna até intimo, a gente cria uma amizade. É bem eficaz essa parte do atendimento, porque eles conseguem passar o que estão precisando e a gente consegue transmitir essa eficácia do tratamento. A gente supre também a carência da falta da família, porque como a maioria é baixa renda, eles tem um pouco de dificuldade de entender que essa doença é controlável.” PROENF-01 “Eu desenvolvo o serviço de enfermagem conversando com o paciente, explicando tudo sobre a doença, tirando as dúvidas tanto dele como dos familiares, e claro, executando os processos de enfermagem”. PROENF-03 “A gente sempre procura dar o melhor de si, acima de tudo acredito que temos que ter amor ao próximo nessa profissão. (...)Além de você fazer o que está prescrito também tem que ter esse momento, não entrar na intimidade que isso aí também é privacidade de cada um né? Mas aí você procurar passas tranquilidade, paz e conversar com ele é muito importante”PROENF-07. Dificuldades enfrentadas pela equipe de enfermagem Mas, notadamente, há restrições para desenvolver o processo de cuidado em decorrência de haver estigmas e limitações por parte desses profissionais, como o medo de ser acometido pela doença no momento em que o paciente ainda está em fase de 7 transmissibilidade ou por desconhecimento da doença, não ser parte da rotina desses profissionais cuidarem de pacientes em TBMDR. “Olha, eu vou contar uma parte de um plantão que eu peguei com um deles. Teve um paciente que ele até observou isso em mim, a minha resistência em lhe dar com ele porque eu estava com medo do que ele teria aí às vezes ele dizia que eu estava assustada, aí eu fui conversando com ele e tentei transmitir outra coisa pra ele. A situação eu conheço, mas tem outros fatores que relacionam e tem uma parte já meio psicológica, mas eu tô tentando lhe dar com isso.” PROENF -01. “Chama alguém dos outros setores pra trabalhar aqui? Ninguém quer descer. Todo mundo ainda tem medo. As outras meninas que trabalham aqui, já sabem de toda a rotina de tudo da tisiologia porque já são muito antigas, mas quem é dos outros ou quem entra agora, ainda tem muito medo dessa parte.”PROENF-04. A enfermagem caracteriza-se como a equipe de saúde mais presente durante o tempo de internação de um paciente, o que permite que os membros dessa equipe percebam de maneira mais satisfatória, o comportamento desses pacientes. “A maioria são bem deprimidos por conta de ter a doença, eles não aceitam muito o tratamento por medo de não saber muito sobre a doença. E também eu acho que assim, por ser a primeira vez deles, eles não conseguem lhe dar com a doença e com a internação. É traumático para eles passar por um tratamento que é longo e que dá muito efeito”.PROENF-01 “Alguns ficam tristes, outros nem acreditam que estão com a doença. Aí quando o tempo passa, eles começam a aceitar um pouco mais, mas no começo é bem difícil” PROENF - 02. “Esses pacientes são normalmente no começo pacientes deprimidos, tem uns que nem conversam comigo, às vezes não querem nem comer. Aí a gente tenta conversar com eles pra eles comerem nem que seja um pouquinho. (...) A tristeza assim, é porque eles estão doentes né... Tem casos dos mais novos que são usuários de droga, aí alguns são sozinhos, ainda tem paciente que é abandonado pela família... Aí tudo isso aí vão deixando eles tristes.” PROENF-04. O trabalho da enfermagem, ao longo dos anos, tem se destacado na prevenção e controle da TB, com destaque para o papel do enfermeiro na função educativa e nas relações interpessoais 11 como fio condutores de facilidades de adesão ao tratamento pelas pessoas com TBMDR, especialmente, quando em internação hospitalar. 8 CONCLUSÃO No decorrer dessa pesquisa, compreendeu-se o universo circundante da pessoa em tratamento TBMDR desde o momento do descobrimento da doença até o estar em tratamento para obtenção da cura. O estudo mostrou que para as pessoas em tratamento TBMDR é difícil e demorado, e o vivenciar da sintomatologia e a consequência deletéria da ingestão dos medicamentos causam efeitos não só ao organismo, mas psicoemocionais dolorosos ao corpo e à mente. Aos pacientes TBMDR, orienta-se que para evitar a propagação da TBMDR, a adesão consciente e correta ao tratamento como prescrito e sem interrupções, principalmente, quando dos estado de melhora aparente e invisibilidade dos sintomas. A enfermagem de ter a percepção de que para as pessoas em tratamento TBMDR, o profissional de enfermagem é um ser continuamente presente em todos os momentos da internação e é tido como uma persona humana e importante no sucesso terapêutico por reconhecer suas ansiedades, fraquezas e dificuldades no enfrentamento da doença. O estudo traz como implicações para a enfermagem a permanência da comunicação terapêutica efetiva entre o enfermeiro e o paciente, com o desenvolvimento da capacidade de ouvir mais aguçada por parte do enfermeiro, com o fito deste compreender os reais problemas que afligem as pessoas TBMDR em regime de internação e, assim, estabelecer rotina de educação em saúde no cotidiano do ambiente hospitalar. Agradecimento: Fundação de Apoio à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) pelo financiamento da bolsa de Iniciação Científica - período 2014-2015, Edital nº 01/FHAJ/PAIC (2014/2015). 9 REFERÊNCIA 1. World Health Organization – WHO. Global Tuberculosis Report 2012. Geneva (SUI): World Health Organization; 2012. 2. World Health Organization - WHO. Multidrug-resistant Tuberculosis (MDRTB) 2013. Geneva (SUI): World Health Organization; 2013. 3. World Health Organization – WHO. Global tuberculosis control- 2013. Geneva (SUI): World Health Organization; 2013. 4. Souza SS; Silva DMGV; Meirelles BHS. Representações sociais sobre a Tuberculose. Acta Paul Enferm. 2010; 23(1):23-8. 5. Waldow VR. Cuidar: expressão humanizadora da enfermagem. 3. ed. PetrópolisRJ: Vozes, 2010. 6. Rodrigues FSS; Polidori MM. Enfrentamento e Resiliência de Pacientes em Tratamento Quimioterápico e seus Familiares. Revista Brasileira de Cancerologia 2012; 58(4): 619-627 7. 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