PDF Português - Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

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Intervenção Cognitivo-Comportamental
com grupos para o abandono do
cigarro
Aline Sardinha*
Angela Donato Oliva#
Juliana D´Augustin+
Flaviany RibeiroD
Eliane Mary de Oliveira Falcone\
Resumo
O tabagismo é considerado atualmente um problema de saúde pública. A abordagem cognitivo-comportamental tem sido
empregada no tratamento do tabagismo e as análises dos resultados obtidos ao longo do tempo apontam para um corpo de
evidências que enfatizam o papel eficaz dessas técnicas na cessação de fumar. Pretende-se aqui apresentar os resultados de dois
anos de trabalho realizado em um Hospital Universitário do Rio de Janeiro. As intervenções foram realizadas no Centro
Universitário de Controle do Câncer, vinculado ao Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj), com pacientes de ambos os
sexos que precisam e/ou querem romper com o vício da nicotina. A intervenção objetiva uma redução gradual da nicotina e
posterior parada e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento diante das situações de risco que levam ao fumar.
Diversos são os procedimentos empregados, destacando-se os esclarecimentos sobre a atuação da nicotina no organismo, as
orientações aos pacientes no sentido de lidarem com os sintomas de abstinência, entre outros. Os grupos estruturam-se em seis
sessões, semanais, são compostos por no máximo dez pacientes e apresentam duração média de duas horas. A primeira sessão
é uma sessão de preparação, que serve para motivar o paciente para a mudança. São ainda oferecidas sessões de manutenção,
a cada quinze dias, por um período de pelo menos três meses após o término do grupo de parada.
Palavras-chave: tabagismo; abordagem cognitivo-comportamental; grupo de parada.
Abstract
Tobacco use is currently considered a major public health problem. Cognitive-behavior therapy presents scientific evidence
that confirms its efficacy on smoking cessation. This article aims to present the results of two years of work in The Tobacco
Control Program of Pedro Ernesto University Hospital (HUPE). This program educates patients about smoking risks, the benefits
of smoking cessation, and the physiological mechanisms of nicotine in the human body, motivating, supporting and helping
patients dealing with abstinence symptoms and psychological dependence. The group therapy sessions take place in the University’s
Cancer Control Center, entailed to the Pedro Ernesto University Hospital, in Rio de Janeiro, with male and female patients that
present the need to break with nicotine addiction. This intervention aims a gradual reduction of nicotine use and ultimate cessation,
as well as the development of cognitive and behavioral strategies to prevent risk smoking situations. Cessation groups are structured
in six weekly sessions. Groups are formed by up to 10 patients and the sessions last about two hours. Before the beginning of the
cessation group, there is a preparation session, aimed to motivate patients towards change. Following, they should attend maintenance
sessions, twice a month, for at least three months after the end of the cessation group sessions.
Key words: tobacco; cognitive-behavioral therapy; smoking cessation.
*
Estudante de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Professora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade
Federal do Rio de Janeiro; Coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital Universitário Pedro Ernesto
+
Estudante de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
D
Estudante de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
\
Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Professora Pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Especialista em Terapia Cognitiva.
Apoio financeiro: Uerj
#
DOI: 10.5935/1808-5687.20050010
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Aline Sardinha, Angela Donato Oliva , Juliana D´Augustin , Flaviany Ribeiro e Eliane Mary de Oliveira Falcone
Introdução
O tabagismo vem sendo considerado atualmente
um problema de saúde pública. Hoje, temos 1,1 bilhão
de fumantes e 4 milhões de mortes anuais no mundo
devido ao tabagismo (World Bank, 1999). Diversos
estudos buscam quantificar os riscos que sofrem aqueles
que fumam. Por exemplo, podem ser citados alguns
percentuais e comparações: US Surgeon General (1990),
comparam pessoas que continuam a fumar com as que
abandonam o uso do cigarro antes dos 50 anos de idade. As que param de fumar apresentariam uma redução
de 50% no risco de morte por doenças relacionadas ao
tabagismo após 16 anos de abstinência. O risco de morte
por câncer de pulmão sofreria uma redução de 30 a 50%
em ambos os sexos após 10 anos sem fumar; e o risco
de doenças cardiovasculares cairia pela metade após
um ano sem fumar. Ainda, um estudo recente realizado
com estudantes de medicina concluiu que os estudantes
fumantes tinham 2,2 vezes maiores chances de apresentar depressão (Gulec et al., 2005).
O estudo de Galduróz, Noto, Nappo e Carlini
(1999) registra que 24% da população em São Paulo é
dependente de nicotina. A partir desse resultado pode-se
estimar que, em âmbito nacional, o percentual não deve
ficar muito distante. A alta porcentagem de fumantes
deve-se a múltiplos fatores, destacando-se em particular
o fato de a nicotina ser uma substância que causa forte
dependência e haver pouca orientação aos jovens quanto
aos riscos do uso do tabaco. Segundo fontes do Ministério
da Saúde (2001), a desinformação é maior em classes
sociais desfavorecidas e em países do terceiro mundo.
A partir da década de 70, gradativa e
crescentemente, tornaram-se evidentes manifestações
organizadas para controle do tabagismo no Brasil.
Entretanto, muitas vezes, a divulgação de algumas
medidas de controle do tabagismo é precária e, por isso,
nem sempre utilizadas pelos profissionais de saúde.
Entendida a partir de uma perspectiva médica,
assim como outras dependências, a da nicotina é um
transtorno progressivo, crônico e recorrente, mediada
pela ação da substância em receptores centrais e periféricos (Marques et al., 2001).
Pesquisas divulgadas pelo Ministério da Saúde
(2001) mostram que cerca de 80% dos fumantes desejam parar de fumar. No entanto, apenas 3% a cada ano
conseguem sucesso e a maioria desse grupo pára sem
ajuda. A baixa porcentagem de fumantes que conseguem
parar de fumar indica que é necessária a atuação de profissionais especializados e técnicas eficazes para o tratamento do tabagismo.
Nessa tarefa de ajudar os pacientes a vencer a
dependência do cigarro, podem ser priorizados alguns
métodos de atuação. Há métodos que destacam o papel
dos fármacos no tratamento, principalmente os
considerados de primeira linha (que incluem a terapia
de reposição de nicotina e a utilização de bupropiona)
conjuntamente com a terapia comportamental breve em
grupo ou individual.(Marques et al. 2001).
De acordo com o Ministério da Saúde (2001) há
duas grandes abordagens que têm recebido apoio graças
às evidências obtidas pelos estudos e publicações sobre
o grau de eficácia na cessação de fumar: a abordagem
cognitivo-comportamental e o uso de alguns
medicamentos.
Vázquez e Becoña (1996) destacaram o papel das
terapias cognitivo-comportamentais e o papel das terapias farmacológicas em termos de eficácia e de
estabilidade. Em relação à eficácia, os resultados
indicaram que as terapias cognitivo-comportamentais
são eficazes mesmo sem o uso de medicamentos; já os
medicamentos, na ausência das terapias cognitivocomportamentais (TCC) não se mostraram eficazes. Em
termos de estabilidade, 48,9% dos que participaram do
tratamento com TCC permaneceram sem fumar após
seis anos, enquanto apenas 28,8% do grupo controle
continuavam abstêmios.
A abordagem cognitivo-comportamental
combina intervenções cognitivas com treinamento de
habilidades comportamentais e é muito utilizada para o
tratamento das dependências químicas. Os componentes
principais dessa abordagem envolvem: a detecção de
situações de risco de recaída e o desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento. Dentre as várias
estratégias empregadas nesse tipo de abordagem temos,
por exemplo, o auto-monitoramento, o controle de
estímulos, o emprego de técnicas de relaxamento, a
avaliação do papel das crenças e das emoções no hábito de fumar, entre outros. Em essência, esse tipo de abordagem se baseia no auto-controle ou no auto-manejo
para que o indivíduo possa aprender como escapar do
ciclo vicioso da dependência e tornar-se um agente de
mudança de seu próprio comportamento.
Compreender a natureza bioquímica da nicotina
é tarefa fundamental para os que pretendem lidar com
técnicas para parar de fumar.
Intervenção Cognitivo-Comportamental com grupos para o abandono do cigarro
A dependência à nicotina conta com dois
componentes básicos: por um lado, a dependência física, de natureza biológica, responsável por sintomas da
síndrome de abstinência quando se deixa de fumar
(craving); por outro lado há a complexa dependência
psicossocial, responsável pela sensação de ter no cigarro
um apoio ou um mecanismo de adaptação para lidar
com sentimentos de solidão, frustração, com as pressões sociais, condicionamentos oriundos de associações
habituais de comportamentos com o fumar (fumar e
tomar café, fumar e trabalhar, fumar e dirigir, fumar e
consumir bebidas alcoólicas, fumar após as refeições e
outras). Todos esses comportamentos de fumar
envolvem as mais variadas emoções reforçando ou fortalecendo associações do tipo: fumar quando se está
ansioso, estressado, deprimido, alegre ou entediado.
O Programa de Controle do Tabagismo do
Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) desenvolvido pela equipe de Psicologia, baseia-se na abordagem cognitivo-comportamental. As sessões foram
estruturadas, com algumas modificações e adaptações,
tendo como base o modelo proposto por Elisardo
Becoña (1998). A meta da intervenção é levar a uma
redução gradual do uso da nicotina e posterior parada e
o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento diante das situações de risco que levam ao fumar. De
maneira geral, o trabalho visa identificar nas sessões as
situações críticas para cada paciente e definir um plano
de ação para enfrentá-las, mantendo o sujeito abstêmio
e prevenindo recaídas. Cabe ainda ressaltar que esses
pacientes não fazem uso de terapia farmacológica
específica.
Entrevista de Triagem
A escolha do tratamento mais adequado ao paciente depende de uma boa avaliação inicial, pela qual os
fatores extrínsecos (do modelo disponível, das
condições socioeconômicas) e os intrínsecos (da
motivação do paciente e do diagnóstico) devem ser levados em consideração (Haxby, 1995).
No Programa de Controle do Tabagismo, há uma
primeira etapa, onde são realizadas entrevistas de triagem para identificar quais sujeitos podem ser
encaminhados para o grupo de parada. Os pacientes que
chegam para a triagem da equipe de psicologia são
encaminhados pelo médico pneumologista .
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Na entrevista de triagem, realizada por um
membro da equipe de psicologia, é feita uma explanação
sucinta do Programa para o paciente. Em seguida ocorre
a coleta de informações relevantes sobre a história do
paciente, além de alguns dados sócio-demográficos.
A entrevista é estruturada e visa conhecer o
cotidiano dos pacientes, seu relacionamento com pessoas significativas, a existência de outros problemas físicos ou psicológicos além do tabagismo, a utilização de
medicamentos e principalmente, aspectos específicos do
tabagismo, como a quantidade de cigarros fumados por
dia e o impacto do tabagismo no dia-a-dia do paciente.
São aplicadas algumas escalas para verificar
questões específicas como a presença de depressão
(Beck et al 1979). A utilização dessas escalas é
importante para poder formar grupos homogêneos e
identificar que fatores podem interferir no processo de
parada de fumar e, quando for o caso, encaminhar o
paciente para um tratamento mais adequado.
Sessão de Preparação
Antes do grupo de parada propriamente dito,
ocorre uma sessão de preparação. Esta tem como metas,
motivar o paciente para a mudança e fazer com que
este conheça um pouco mais sobre os problemas
advindos do fumar. Nessa sessão, além do paciente se
familiarizar com as técnicas, ele é informado sobre a
importância do seu comprometimento e aderência ao
tratamento. O pressuposto dessa intervenção é que parar de fumar não se trata de uma simples decisão súbita
em transformar-se de um fumante regular em um não
fumante. De acordo com Miller e Rollnick (1991), a
motivação deve ser pensada como um estado de prontidão para a mudança, que pode oscilar e ser influenciada,
inclusive, por fatores externos ao paciente. Até que um
indivíduo realmente resolva parar de fumar, ele percorre um caminho sutil e cíclico em direção à mudança.
São os chamados “estágios de mudança”, que foram
assim descritos por Prochaska e Di Clemente (1982):
1. Estágio pré-contemplativo: nesse, o indivíduo
não pretende parar de fumar nos próximos seis
meses. São aqueles pacientes que vêem mais
prós do que contras em fumar, que negam os
malefícios do tabaco à saúde.
2. Estágio contemplativo: o paciente pretende
seriamente parar de fumar nos próximos seis
REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS, 2005
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meses, mas, na verdade, está ambivalente.
Encontra um pouco mais contras do que prós
em fumar e, em dúvida, não pára.
3. Preparação para ação: O indivíduo pretende
seriamente parar no curso do próximo mês.
Já começa intuitivamente a usar técnicas
comportamentais para livrar-se do fumo. Adia
o primeiro cigarro do dia, diminui o número
de cigarros fumados, entre outros. Fez pelo
menos uma tentativa de parar de fumar no último ano.
4. Ação: O indivíduo parou de fumar.
5. Manutenção: Até seis meses após o indivíduo
ter abandonado o tabaco. Esse período não
ocorre passivamente, apenas deixando as
coisas como estão. O indivíduo utiliza
mecanismos comportamentais de adaptação
ao meio sem cigarro, podendo até mesmo alterar seus hábitos rotineiros (como passar a
não tomar mais café, por exemplo).
A conceituação dessas fases é importante tendo
em vista o tratamento, uma vez que, de acordo com os
autores, a intensidade, a duração e o tipo de intervenção
devem se adequar ao estágio de mudança do paciente.
Indivíduos num processo inicial de mudança (précontemplativos, por exemplo) precisam ser ajudados a
se moverem até o estado de ação para que possam iniciar
programa de parada de fumar com maiores possibilidades de êxito.
Grupo de Parada
Os grupos estruturam-se em seis sessões
semanais, são compostos por no máximo 10 pacientes
e apresentam duração média de duas horas. O desenvolvimento de recursos cognitivos e comportamentais
para o manejo da abstinência tem sido uma preocupação central do programa de controle do tabagismo.
As intervenções vêm sendo realizadas no Centro
Universitário de Controle do Câncer, vinculado ao
Hospital Universitário Pedro Ernesto no Rio de Janeiro,
com pacientes de ambos os sexos que apresentam em
comum a necessidade de romper com o vício da
nicotina. Os pacientes são encaminhados pelo Setor de
Pneumologia e possuem, em sua maioria, urgência em
parar de fumar em função de condições clínicas que
tiveram sua etiologia em função do tabagismo ou que
podem ser atenuadas com a suspensão do hábito de
fumar, como enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, bronquite aguda, problemas de visão, entre
outras.
Os procedimentos adotados nas sessões
consistem em: estabelecer uma adequada relação terapêutica, realização de auto-registros, avaliação dos pensamentos automáticos, análise das vantagens e desvantagens de parar de fumar, técnica de solução de problemas, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento
para situações de risco e relaxamento.
Dentre as estratégias utilizadas, podemos destacar a orientação de cortar os cigarros ao longo das
semanas, de forma que o paciente passe a fumar metade
ou um terço do cigarro, reduzindo a quantidade ingerida
de nicotina. É utilizada ainda a técnica de atrasar os
cigarros, fumando-os somente após transcorrido um
tempo determinado desde o momento da vontade de
fumar. Essa técnica é utilizada tanto em situações préestabelecidas, como, por exemplo, postergar em 30
minutos ou 1 hora o primeiro cigarro da manhã ou o
cigarro após as refeições, quanto em todos os outros
momentos de fissura.
São também estabelecidas com os pacientes
situações em que, a partir daquele dia, eles não poderão
mais fumar. Dessa forma, consegue-se uma restrição
das ocasiões em que o paciente pode fumar, diminuindo a ingestão de nicotina no dia e desfazendo a
associação entre determinadas situações (por exemplo,
ler o jornal) e o hábito de fumar.
São fornecidas aos pacientes folhas de autoregistro semanalmente para que possam monitorar tanto a quantidade de cigarros quanto as situações em que
tiveram necessidade de fumar e os sentimentos e
emoções vivenciados nessas situações.
Grupo de Manutenção
O ideal é que todos os fumantes que estão em
processo de cessação de fumar sejam acompanhados
com consultas de retorno para garantir um apoio na fase
inicial da abstinência onde os riscos de recaída são
maiores. O Consenso do Ministério da Saúde sugeriu
que o paciente que está em processo de cessação de
fumar retorne para acompanhamento em pelo menos 3
momentos durante os seis meses subseqüentes à parada de fumar (Ministério da Saúde, 2001).
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No Programa desenvolvido pela equipe de Psicologia no HUPE, os pacientes devem participar das
sessões de manutenção, a cada 15 dias, por um período
de pelo menos três meses após o término do grupo de
parada. As sessões de manutenção são abertas para todos os pacientes que já passaram pelo programa de
controle do tabagismo, sendo obrigatórias durante os
primeiros três meses de abstinência. De acordo com a
necessidade de cada paciente, é indicada, se for o caso,
a sua permanência na manutenção por períodos de tempo mais longos.
Ainda, é estimulada a presença esporádica nas
sessões mesmo dos pacientes que não estão mais
sofrendo com a fissura ou com os sintomas de abstinência a fim de que possam, com seu depoimento,
encorajar e reforçar os outros membros do grupo que
enfrentam maiores dificuldades no processo de parada.
As sessões de manutenção são estruturadas de
acordo com os temas que os pacientes e as
coordenadoras designam em função das necessidades
específicas de cada grupo. Durante as sessões é feito
um acompanhamento do tempo de abstinência, da
fissura e dos sintomas de abstinência vivenciados pelos pacientes e alguns temas relacionados aos processos de parada. Dentre os temas mais discutidos podem
ser citados o ganho de peso que ocorre nos primeiros
meses após a parada de fumar, o impacto social da
cessação do hábito de fumar e o aparecimento ou
aumento da ansiedade e de outras emoções negativas.
São analisadas também as vantagens e desvantagens do abandono do cigarro, as diferenças notadas pelo
paciente no seu corpo, em sua condição física, em sua
respiração, em seu hálito, em sua percepção de odores
e de sabores e outras mudanças percebidas. Ainda, são
discutidos e ensinados recursos para que os pacientes
possam lidar com os sintomas de abstinência e para que
possam manejar as situações de crise e de fissura.
Os sintomas de abstinência, geralmente, surgem
algumas horas após o último cigarro, atingem o pico
em torno de dois a três dias e desaparecem depois de
duas a quatro semanas.
No início de cada sessão, cada membro do grupo
relata brevemente como transcorreu sua última quinzena
sem fumar, ressaltando os momentos críticos pelos quais
passou, as estratégias de enfrentamento utilizadas e qual
a avaliação que os pacientes fazem da eficácia das
estratégias empregadas. Esses relatos são aproveitados
pelos coordenadores para analisar funcionalmente cada
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situação a fim de evidenciar para o grupo quais os fatores desencadeadores, os fatores mantenedores e as
estratégias (eficazes) utilizadas para manejar as
situações de fumar ou de fissura. Tais depoimentos também são úteis na medida em que freqüentemente fornecem, tanto para o grupo, quanto para os coordenadores,
novas e criativas estratégias, além de soluções para o
manejo da abstinência que passam a ser utilizadas pelos membros do grupo e a ser ensinadas para os novos
grupos. Quando um membro não pode mais freqüentar
as reuniões de manutenção é feito acompanhamento via
telefone, também quinzenalmente, onde são discutidos
os principais problemas enfrentados e as estratégias utilizadas. Após os seis meses obrigatórios, o paciente tem
autonomia para freqüentar ou não as sessões de
manutenção, porém um acompanhamento trimestral é
feito por telefone, para saber se a pessoa continua sem
fumar, se surgiram sintomas de abstinência ou se houve recaída ou lapso.
Resultados
Ao longo de 2003 foram formados e atendidos
três grupos de parada, com duração de aproximadamente
duas horas e meia por sessão, em um período de cinco
ou seis semanas. Um total de 30 pessoas foram atendidas nos três grupos formados. Destas, dez desistiram
no início do tratamento, sete não pararam e treze pararam de fumar. Considerando apenas os pacientes que
permaneceram do início ao fim do tratamento, o
percentual de pessoas que parou de fumar foi de 65%.
Em 2004, foi atendido um grupo de parada composto
por cinco pessoas, todas do sexo feminino, por um período de seis semanas. Foram realizadas uma sessão de
preparação e cinco sessões de parada. Todas as pacientes participaram da totalidade do tratamento. Ao final
do processo, três pacientes pararam de fumar o que
correspondeu a 60% de eficácia . As duas outras pacientes reduziram significativamente o consumo de tabaco, fumando 1,5 cigarro e 2 cigarros por dia. Um mês
após o término do processo de parada, Ambas as pacientes que haviam reduzido o consumo de cigarros decidiram parar definitivamente de fumar e estão em
manutenção, juntamente com o restante do grupo. Dessa forma, o grupo de parada de 2004 alcançou os 100%
de abstinência entre os participantes, ao menos durante
o período de manutenção.
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Figura 1: Resultados 2003.
RESULTADOS 2003
número de
participantes
30
10
20
13
7
20
total de pacientes atendidos
desistências antes do final do tratamento
número de pacientes que completaram o tratamento
pacientes parados ao final do tratamento
pacientes que reduziram ao final do tratamento
pacientes parados no seguimento
porcentagem
100%
33%
67%
65%
35%
100%
Figura 2: Resultados 2004.
RESULTADOS 2004
total de pacientes atendidos
desistências antes do final do tratamento
número de pacientes que completaram o tratamento
pacientes parados ao final do tratamento
pacientes que reduziram ao final do tratamento
pacientes que pararam 30 dias após o final do tratamento
pacientes parados no seguimento
Discussão
As técnicas cognitivo-comportamentais demonstram ter um papel importante no processo de parada de
fumar.
Ao longo do período de dois anos (2003-2004)
pôde-se observar que todos os pacientes atendidos que
pararam de fumar continuam abstêmios. Embora
animadores, os resultados apresentam algumas limitações, devendo ser considerados preliminares e provisórios. O número de pessoas atendidas não foi muito grande
e o tempo de abstinência dos pacientes que pararam em
2004 ainda não completou a marca de um ano.
Cabe salientar ainda que os resultados aqui apresentados não foram obtidos através de uma pesquisa
experimental, com controle rigoroso de muitas variáveis (tais como o uso de medicações antidepressivas e
ansiolíticas utilizadas antes do início do programa de
tratamento; a seleção dos pacientes não é realizada de
forma aleatória e sofre um viés importante: os pacien-
número de
participantes
5
0
5
3
2
2
5
porcentagem
100%
0%
100%
60%
40%
40%
100%
tes encaminhados para a psicologia são escolhidos pela
equipe de pneumologistas que utiliza critérios variados, como a opinião do médico de que o paciente não
terá condições de parar de fumar somente com o apoio
e a orientação médica, a suspeita de algum transtorno
psicológico, etc.). dessa forma, a população atendida
pelo programa pode ser considerada uma população
especial e diferente da média da população em geral,
uma vez que quem é atendido pela equipe de psicologia são as pessoas que não conseguiram abandonar o
cigarro com a orientação médica.
Ainda, a natureza do programa é atender a uma
demanda na área de saúde (extensão) e contribuir na
formação de novos profissionais (ensino), sendo os
grupos coordenados pelas estagiárias do Programa, alunas de graduação da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, com supervisão das professoras coordenadoras
do Programa.
Vale ressaltar que os dados deste estudo são baseados em observações e relatos baseados no auto-
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informe dos pacientes, não controlados diretamente
pelos membros da equipe. Isso é principalmente observado nos dados do seguimento, que são obtidos através
de ligações telefônicas trimestrais onde é perguntado
ao paciente se continua sem fumar e sobre a ocorrência
de lapsos ou a permanência de algum sintoma de abstinência. Não há como, em função da natureza assistencial
do Programa, realizar algum tipo de medida mais
objetiva do consumo de cigarros, ou a veracidade dos
dados apresentados nos relatos dos pacientes.
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Recebido em: 07/04/2005
Aceito em: 26/05/2005
Endereço do autor principal: Aline Sardinha, Instituto de Psicologia (Uerj) - Rua São Francisco Xavier 524, 10º andar, sala
10.019 Bloco B Maracanã, Rio de Janeiro – RJ.
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