ALIANÇA NACIONAL PELO PLENO EMPREGO Manifesto O objetivo da presente Aliança é organizar um movimento nacional de massa, sob a liderança conjunta de centrais sindicais, de outros movimentos sociais e de partidos políticos progressistas, no sentido de estabelecer um pacto social e político para a implementação de uma política de promoção do pleno emprego no Brasil, entendida esta como a construção de condições monetárias, fiscais e cambiais que favoreçam o crescimento econômico a fim de reverter as altíssimas taxas de desemprego e subemprego que estão na raiz da crise social brasileira, a mais aguda de nossa história. As altas taxas de desemprego e de subemprego que prevalecem no Brasil há cerca de uma década exigem uma ampla mobilização da sociedade, junto com o Governo, para que possam ser revertidas em prazo razoável. Trata-se de uma crise social sem precedentes, que se encontra na origem de outras mazelas como os elevados índices de violência e criminalidade, a insegurança coletiva e individual, a desestruturação de políticas públicas em face de sucessivos ajustes fiscais, a precarização do mercado de trabalho e da proteção trabalhista, a falta de perspectiva futura da juventude, a desestruturação da Defesa, o retardamento da reforma agrária e a fragilização financeira da Previdência Social em razão da deterioração de sua principal base de financiamento, que é o emprego formal. As conseqüências sociais do alto desemprego e subemprego freqüentam diariamente os espaços dos meios de comunicação, mas sua matriz, o alto desemprego, em si, só é tratado episodicamente, como fato isolado, por ocasião da divulgação dos índices oficiais de desemprego. Para grande parte das classes dominantes a crise do desemprego na verdade não faz parte da agenda da economia política brasileira, embora quase 30% dos jovens com idade entre 15 e 24 anos não têm trabalho remunerado nem estudam. A pressão de demandas sobre o Estado por parte dos ricos e dos afluentes se concentra em pedir cortes dos gastos públicos e em propor medidas recorrentes para favorecer investidores externos e internos, aí incluído o capital financeiro especulativo, socialmente parasitário. A Aliança entre movimentos sociais e forças partidárias que agora se forma visa a criar condições para implementação no Brasil do princípio constitucional da 1 busca do pleno emprego como política fundamental do Estado. Propomos um projeto de lei complementar de iniciativa popular que se destina, na prática, a estabelecer as bases institucionais para uma política de pleno emprego sintetizada na queda drástica da taxa de juros, na administração do câmbio favorável às exportações, e num programa de investimentos públicos não inflacionários em infra-estrutura, em políticas públicas, em Defesa e na aceleração da reforma agrária. A mobilização nacional pelo pleno emprego – entendido, este, sem ambigüidades, como uma situação no mercado de trabalho onde o número de desempregados equivale aproximadamente ao da oferta de novos empregos -, pretende dar suporte ao Governo Lula a fim de romper definitivamente, a partir da força das massas, com o modelo capitalista liberal parasitário que nos foi imposto pelas finanças ortodoxas, indiferentes à crise social. Entendemos que é possível, sim, conciliar capitalismo com mercado de trabalho próximo do pleno emprego, desde que se trate, porém, de capitalismo regulado pelo Estado democrático, e não de capitalismo liberal ou neoliberal orientado exclusivamente pelo mercado. A proposta de uma política de pleno emprego tem adversários na sociedade e nas próprias instituições governamentais, pelo que nos dispomos a identificá-los e combatê-los. São nossos adversários: 1. Os que atribuem o alto desemprego a razões microeconômicas relacionadas com tecnologia e desqualificação de mão de obra, ou com os supostos onerosos direitos sociais trabalhistas, de forma a eximir a política macroeconômica da culpa pela redução e precarização do mercado de trabalho; 2. Os que, diante do fracasso evidente do modelo neoliberal, tentam transferir a culpa pelo baixo crescimento econômico ao próprio Estado, por um suposto descontrole dos gastos públicos não financeiros, quando a verdadeira crise fiscal decorre da política monetária de juros extravagantes que cria um imenso passivo fiscal sem contrapartida de ativo; 3. Os que propõem ainda maior precarização do mercado de trabalho a pretexto de garantir competitividade aos produtos brasileiros no mundo, como se o fim da economia política fosse exclusivamente o maior retorno do capital e não o bem estar do trabalhador e o reconhecimento de seus direitos de cidadania; 2 4. Os que querem dar autonomia formal ao Banco Central na condução da política monetária sem mudar suas atribuições, hoje limitadas ao controle da inflação; 5. Os que querem reduzir a Nação a um simples mercado. São nossos aliados: 1. Os que lutam por menores taxas de juros e por um nível mais realista da taxa de câmbio, de forma a favorecer as exportações e o superávit em conta corrente, pelo efeito superposto dessas medidas no sentido de estimular o crescimento econômico e o emprego, e reduzir a vulnerabilidade externa do país; 2. Os que propõem um programa abrangente de investimentos públicos em infra-estrutura, em especial nos campos energético, logístico e de saneamento básico, pelo seu efeito direto e cumulativo sobre a demanda, o investimento privado e a geração de emprego, além do efeito de eliminar gargalos no sistema produtivo; 3. Os que propõem um choque de políticas públicas, no sentido de regenerar e ampliar serviços básicos do Estado nos campos da saúde, da educação, da segurança e da habitação, além de segurança e o da aceleração da reforma agrária, o que exigirá o concurso dos poderes públicos estaduais e municipais, cujas finanças devem ser adequadamente saneadas a fim de que recuperem capacidade de financiamento de acordo com plano sugerido em anexo; 4. Os que querem redefinir as atribuições do Banco Central dadas ilegitimamente por decreto presidencial, de forma a assegurar que, além do controle da inflação ali estabelecido, ele vise à busca do pleno emprego, segundo mandato constitucional (Art. 170 da CF, item VIII). Convocamos a todos os movimentos sociais e a todos os partidos progressistas do Brasil a cerrar fileiras em torno do projeto de lei complementar do Pleno Emprego, como passo fundamental e decisivo para a implementação de uma política que reverta as altas taxas de desemprego e de subemprego no Brasil, de forma a assegurar a estabilidade social e a reforçar os laços de solidariedade na sociedade brasileira. Sabemos que teremos oposição. Virá das correntes neoliberais dos conservadores sociais e políticos, e dos “financistas ortodoxos”, que têm sufocado as demandas nacionais de desenvolvimento com justiça social em nome do mercado 3 livre “globalizado”, socialmente irresponsável e socialmente excludente, que insistem em subjugar os interesses de todos os povos aos interesses de uma camada privilegiada de ricos. Contudo, a influência dessas forças regressivas não será maior que nossa determinação de levantar as massas em torno de um objetivo nacional contra o qual só se poderá estar com desonra - assim como aconteceu, poucas décadas atrás, com o projeto de construção da democracia política na campanha das Diretas-Já. Hoje, temos na democracia política conquistada a inspiração para usar todos os seus recursos de mobilização da cidadania para construir a democracia social, sem ruptura institucional, mostrando às massas que o Brasil tem saída, e que pode construir um destino promissor para todos, sem discriminação e sem privilégios abusivos. Brasília, ... 4