historia do rock

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HISTORIA DO ROCK
Por Simone Paula Marques Tinti
O texto a seguir é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso, portanto, possui
algumas referências a livros, revistas e outras teses consultadas, de onde foram
retiradas algumas citações. Algumas referências encontram-se entre parênteses,
outras são indicadas pelo uso de aspas.
“Rock’n’roll é tão fabuloso, as pessoas deviam começar a morrer por ele. (...) As
pessoas simplesmente devem morrer pela música. As pessoas estão morrendo por
tudo o mais, então por que não pela música? Morrer por ela. Não é bárbaro? Você não
morreria por algo bárbaro? Talvez eu deva morrer. Além do mais, todos os grandes
cantores de blues morreram. Mas a vida está ficando melhor agora. Não quero morrer.
Quero?” - Lou Reed (ex-Velvet Underground)
ROCK’N’ROLL – COMO TUDO COMEÇOU
Como não poderia deixar de ser, a história do rock começa com um grito: o grito do
negro, que veio para a América como escravo e influenciou a sociedade norteamericana com a sua musicalidade. Em fins de 1950, nos Estados Unidos, a chamada
“geração silenciosa”, marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial, viu-se frente a um
ritmo até então desconhecido, derivado da sonoridade de um povo marginalizado.
O primeiro grito negro cortou os céus americanos como uma espécie de sonar, talvez a
única maneira de fazer o reconhecimento do ambiente novo e hostil que o cercava. À
medida que o escravo afundava na cultura local - representada, no plano musical, pela
tradição européia – o grito ia se alterando, assumia novas formas.(MUGGIATI, 1973,
p. 8)
Antes de definir o rock, é preciso considerar o nascimento do blues - resultado da
fusão entre a música negra e a européia. Este ritmo se encontra nas raízes musicais
dos primeiros artistas de rock e sua denominação decorre da palavra “blue”, que em
língua inglesa também significa “triste”, “melancólico”. Assim, essa nova música “doceamarga” se transformou na principal base para a revolução sonora da década de 50.
No entanto, é preciso enfatizar que, além do grito negro e das notas melancólicas do
blues, a dança e, principalmente o som das guitarras elétricas, foram fatores
essenciais para a caracterização do rock. Neste ponto é que se encontra uma variação
do blues: o rhythm and blues.
O ‘rhythm and blues’ é a vertente negra do Rock. É ali que vamos buscar, quase que
exclusivamente (e só digo quase por espírito científico), as origens corpóreas do Rock.
Reprimidos pela sociedade ‘wasp (white, anglo-saxon and protestant)’, a mão-de-obra
negra, desde os tempos da escravidão, se refugiava na música (os blues) e na dança
para dar vazão, pelo corpo, ao protesto que as vias convencionais não permitiam.
(CHACON, 1985, p. 24)
Caracterizado como uma versão mais agressiva do blues, o rhythm and blues se
formou a partir da necessidade dos cantores em se fazer ouvir nos bares em que
tocavam, já que os sons dos instrumentos elétricos exigiam um canto mais gritado
(MUGGIATI, 1973). Ainda assim, para a consolidação da primeira forma do rock - o
rock’n’roll - houve também a fusão com a música branca, a chamada country and
western (música rural dos EUA). Chacon (1985) compara esse gênero ao blues, na
medida em que representava o sofrimento dos pequenos camponeses, o lamento.
Os principais atingidos pela revolução sonora do rock’n’roll foram os jovens,
inicialmente nos Estados Unidos e depois no mundo todo. Nos primeiros anos da
década de 1950, estes jovens se encontravam em meio a disputas entre o capitalismo
e o comunismo (a guerra da Coréia em 1950) e a uma valorização do consumismo, da
modernização, fruto do progresso científico gerado no pós-guerra.
Nessa época, a tradicional sociedade norte-americana passou a ser contestada pelos
jovens, os quais foram rotulados de rebeldes sem causa. Os filmes de Hollywood
representavam a alienação jovem; o personagem de James Dean, no filme Juventude
Transviada (1955), representava o comportamento adotado pela juventude: recusar o
mundo sem no entanto chegar a uma visão crítica da realidade, divididos entre
amor/pacifismo e violência/autodestruição. (MUGGIATI, 1973)
No entanto, mais do que o cinema, a música se firmou como o canalizador das idéias
contestatórias dos jovens, frente à insatisfação com o sistema cultural, educacional e
político. E o rock’n’roll era o ritmo que ditaria esse comportamento.
...a vibração negra, sua voz grave e rouca, sua sexualidade transparente e seu som
pesado agora alimentado pela guitarra elétrica, tudo isso parecia bem mais atrativo a
milhões de jovens, inicialmente americanos mas logo por todo o mundo, que pareciam
procurar seu próprio estilo de vida. (CHACON, 1985, p. 25)
O rock’n’roll, afinal, surgiu na América como um movimento da contracultura, visto
que suas primeiras manifestações eram contrárias aos valores até então veiculados:
“(...) figuravam convites à dança e ao amor (não necessariamente ao casamento),
descrições de carros e de garotas, histórias de colégio e dramas da
adolescência...”(MUGGIATI, 1985, p. 19-20)
Em 1954, Bill Haley and his Comets, com a música (We´re Gonna) Rock around the
clock, levou os jovens a ingressarem nesse novo ritmo – que no início era apenas um
modismo - a partir da expressão contida no título da música, ou seja, dançando sem
parar (around the clock). Esta música, que lançou Bill Haley para o sucesso mundial,
também fez parte do filme Blackboard Jungle (Sementes de Violência).
A denominação deste novo gênero, que revolucionou a maneira de fazer e ouvir
música a partir de 1950, veio de um disc-jockey norte-americano, Alan Freed, que se
inspirou em um velho blues: My daddy he rocks me with a steady roll (Meu homem me
embala com um balanço legal). Ele foi um personagem importante para os primeiros
momentos do rock, já que passou a divulgar ‘festinhas de rock’n’roll após o programa
de música clássica que mantinha em uma rádio em Ohio. Tudo começou quando foi
convidado por um amigo a visitar uma loja de discos em que viu vários jovens
dançando ao som de uma música que até então ele nunca havia parado para ouvir: o
rhythm and blues. (MUGGIATI, 1973, p. 36)
O rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser,
uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. O rock ´é´ e ´se define´ pelo
seu público. Que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do
rock a mesma polimorfia (...)Mais polimorfo ainda porque seu mercado básico, o
jovem, é dominado pelo sentimento da busca que dificulta o alcance ao porto da
definição ( e da estagnação...) (CHACON, 1985, p. 18-19)
Assim, o ritmo dançante da música de Bill Haley contagiou os jovens e também levou
muitos outros artistas a seguirem seus passos. Ele adaptou o ritmo do swing (ritmo
dançante) ao som das guitarras elétricas e transformou (We´re Gonna)Rock around
the clock no hino oficial do rock’n’roll. Depois de Haley, outros artistas da década de
50, como Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holly e Jerry Lee Lewis também
marcaram presença na história do rock’n’roll. A música do ex-trombadinha negro,
Chuck Berry, foi inclusive inspiração para outros artistas que apareceram no cenário do
rock anos mais tarde. Johnny B. Goode, de autoria de Berry, é até hoje ouvida e
tocada por muitos amantes do rock em geral.
Um dos artistas mais importantes dos primeiros anos do rock’n’roll foi Elvis
Presley. Como explica Chacon (1985), “só um símbolo sexual, devidamente
municiado pelos melhores autores e ‘cantando e suando como um negro’ poderia
transformar aquele modismo numa verdadeira revolução”. A sensualidade presente na
voz rouca e na sua maneira de dançar, que transformaram Elvis numa superestrela do
rock, tornou-o um exemplo clássico da influência negra sobre a sociedade branca
norte-americana – aspectos para os quais Chacon (1985) chama a atenção. Além
disso, sua história também tem pontos em comum com a de outros artistas: vidas
atribuladas, envolvimento com drogas, relacionamentos desfeitos e um triste fim.
Estes foram também alguns dos ingredientes das vidas de Jerry Lee Lewis, que teve
muitos problemas com bebida e se casou várias vezes ou de Buddy Holly, que morreu
ainda jovem em um desastre de avião.
O envolvimento com drogas e a vida atribulada dos artistas de rock ficaram marcados
como algumas das características do gênero; a vida dos artistas citados acima
demonstra que isso começou ainda nos primórdios do rock’n’roll.
“O Rei do Rock”
Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, Mississipi, em um
casebre de dois cômodos. Seu irmão gêmeo, Jesse Garon, morreu ao nascer. Talvez
levada pelo sentimento dessa perda, a mãe de Elvis, Gladys, idolatrava o filho.
Desde criança, Elvis interessava-se pela música; aos oito anos ganhou da mãe sua
primeira guitarra. Ele ia com seus pais à igreja freqüentemente e adorava música
gospel, o que o fez entrar para um coral. Além da música que ouvia na igreja, Elvis
tornou-se um ouvinte assíduo de rádios que tocavam blues e r&b(rhythm and blues).
Em 1948, Elvis mudou-se com a família para Memphis, onde seu pai arranjou um
emprego de caminhoneiro. Como não se preocupava muito com os estudos, Elvis
contentava-se em garantir o mesmo emprego de seu pai, mas continuava a interessarse por música.
No último ano escolar, o até então tímido Elvis Presley começou a chamar atenção. Ele
levava o violão para a escola (chegou a ganhar um concurso de talentos) e adotou um
estilo de cabelo diferente, mais comprido, além de usar roupas vistosas e
multicoloridas. Foi quando conseguiu um emprego como chofer que percebeu a chance
para uma reviravolta na sua vida:
Naquele verão, em seu novo emprego (...) para uma companhia de eletricidade, Elvis
estacionou durante a hora do almoço diante do número 706 da Union Avenue, em
Memphis. Pagou quatro dólares e saiu com o único exemplar do primeiro disco de Elvis
Presley, um acetato de dez polegadas com uma canção em cada lado.” (MUGGIATI,
1985, p.30)
Este primeiro disco que gravou pela Sun Records não impressionou o dono da
gravadora, Sam Phillips. Mas quando ele juntou-se ao guitarrista Scotty Moore e ao
baixista Bill Black, uma brincadeira de estúdio chamou a atenção de Phillips, que os
mandou continuar com a gravação. Essa brincadeira era a música That’s all Right
(Mama), do bluesman negro Arthur “Big Boy” Crudup e virou o primeiro sucesso
comercial de Elvis Presley. A partir daí iniciaram turnê pelos Estados Unidos.
A gravação de That’s all Righ (Mama) representou a “síntese da música blues e country
que deu origem ao chamado ‘rockabilly’ (...) uma criação de Elvis Presley, que
combinou o estilo vocal rouco e emocionado e a ênfase no ‘feeling’ rítmico do blues...”
(Friedlander, 2002, p. 70) O guitarrista Scotty Moore também contribuiu para esse
estilo, ao misturar o estilo country de tocar com a nota sustentada do blues.
O sucesso do rock’n’roll fez com que as grandes gravadoras procurassem novos
artistas. A RCA, percebendo o efeito de Elvis nas platéias, pagou à Sun 35 mil dólares
pelo último ano de seu contrato. Assim, Elvis Presley caiu nas mãos do “coronel” Tom
Parker.
Como aponta Friedlander (2002), Elvis não era o mais talentoso instrumentista ou
compositor, mas ele teve “o momento” e “a equipe”, o que fez toda a diferença. A
brilhante capacidade de Tom Parker para divulgação e gerenciamento da carreira de
Elvis foi essencial para sua transformação em “Rei do Rock”.
Assim, seguiram-se centenas de discos, dezenas de filmes e longas turnês, embalados
pela histeria das fãs que não resistiam à sensualidade de Elvis. Em 1956, ele gravou
Heartbreak Hotel e I Want You, I Need You, I Love You. As duas músicas conquistaram
o primeiro lugar das paradas de sucesso, sendo que no final deste ano, o domínio era
literalmente seu. Don’t Be Cruel e Hound Dog formavam um compacto duplo que
chegou ao primeiro lugar. Entretanto, gradativamente Elvis ia perdendo sua vida
própria, sendo cada vez mais manipulado para fins comerciais.
No final dos anos 50, Elvis alistou-se no exército, quando teve seu cabelo – “um dos
símbolos da masculinidade roqueira’ – cortado. “Impulsionado pela imagem de Elvis, ‘o
patriota’, sua fama (...) aumentou, inclusive entre os adultos”. (id. p. 73)
Durante o período em que se alistou, Elvis perdeu a mãe, fato que muitos consideram
nunca ter sido superado por ele. No início dos anos 60, enquanto o rock’n’roll seguia
seu curso, Elvis resolveu gravar “baladas água com açúcar”, como It’s Now ou Never e
Are You Lonesome Tonight?. Nesta época, ele não dominava mais as paradas,
deixando até mesmo de apresentar-se em público e perdendo a postura de “roqueiro
rebelde”.
Em 1968, Elvis volta aos palcos, mas estava exausto. A partir de 1970, seu
comportamento autodestrutivo começou a preocupar alguns de seus amigos. Elvis
havia engordado bastante (tinha que fazer dietas para apresentar-se em público) e
estava usando tantas drogas, que chegou ao ponto de não conseguir levantar da cama
em certos dias. O depoimento de um amigo constata que “seu corpo não funcionava
mais como o de um ser humano normal. (...) Ele era uma farmácia ambulante”. (id. p.
75)
Essa fase também representou o isolamento de Elvis, que vivia fechado em sua
mansão em Graceland. Em 16 de agosto de 1977, seu organismo esgotou-se, e ele
morreu no banheiro de sua mansão, com pelo menos dez tipos de drogas circulando
pelo seu corpo.
Até o final de sua carreira, Elvis Presley emplacou 107 canções de sucesso, o que
representa um recorde – os Beatles ocupam o segundo lugar com a marca de 48
canções. Até hoje considerado por muitos o “Rei do Rock”, a importância de Elvis
reside no fato de foi ele quem solidificou o rock como um estilo de música popular.
Para a juventude de sua época, foi o representante da rebeldia, sexualidade e
vitalidade.
A “Geração Beat”
Em fins de 1950, o rock’n’roll já se apresentava como um produto inserido no sistema
cultural. A postura de diversos setores da sociedade havia mudado em relação ao rock:
se antes ele era maldito, condenado pelos setores mais conservadores, agora já fazia
parte dos valores da sociedade em geral. Nessa época, o gênero sofreu um
“esvaziamento”, provocado pela intensa comercialização dos discos de rock’n’roll e a
divulgação de ritmos dançantes.
Essa ´comercialização´, esse abrandamento do fogo do rock, repercute entre os
próprios artistas negros quando à prosperidade da Era de Eisenhower promove o
aparecimento de uma classe média negra que se pretende ´respeitável´ e
psicologicamente embranquecida. (MUGGIATI, 1973, p. 41)
Ao mesmo tempo em que o rock’n’roll se expandia, alguns músicos negros passaram a
criar um tipo de música mais suave, até mesmo religiosa: “Era uma música sob
medida para servir de pano de fundo sonoro à TV...”(id.)
Um dos presidentes dos Estados Unidos no final da década de 1950, Eisenhower foi um
herói da Segunda Guerra; sob seu governo, o país era considerado o guardião da paz
no mundo, apesar da entrada na Guerra do Vietnã. Esse acontecimento desencadeou
muitas manifestações por parte dos jovens, que condenavam a guerra.
Por volta de 1960, um novo personagem surge no cenário do rock, movido pelo ideal
de revolução e por forte sentimento político: Bob Dylan, o “apanhador nos campos de
centeio”. Como compara Muggiati (1973), Dylan é a personificação de Holden
Caulfield, o garoto desajustado do livro de J. D. Salinger – personagem considerado o
ponto de ruptura no modelo juvenil americano da década de 50.
Paralelamente à música de Dylan, o movimento beatnik também movimentava a
América, inclusive influenciando na composição das músicas e na postura dos jovens
da época. A expressão beat, segundo Mugiatti (1985, p. 61), poderia representar
“batida”, “ritmo” ou também “derrotado”, “cansado”, enquanto que nik relacionava-se
a “esquerdismo”, “rebelião”. Jack Kerouac e Allen Ginsberg foram importantes
representantes da estética beat.
A música de Dylan se encaixa em um novo “modelo” de rock que surgia no começo da
década de 60: a canção de protesto. Junto com Joan Baez, uma cantora de
ascendência mexicana, Dylan se tornou o porta-voz da juventude pela liberdade,
contra a guerra do Vietnã e o preconceito racial. Em 1963, os dois estavam na Marcha
dos Direitos Civis sobre Washington, ao lado do líder negro Martin Luther King.
A música de Dylan e Baez era a chamada folk song. Ao som de violão, voz e gaita, eles
se preocupavam com a poesia das letras; o importante, nesse caso, era a mensagem a
ser transmitida. Uma das canções de Dylan de maior sucesso foi Blowin’ in the Wind;
ele também publicou um livro de poemas, intitulado Tarantula, em 1966. Joan Baez
teve uma de suas canções, Diamonds and Rust, regravada anos mais tarde por uma
banda de heavy metal, Judas Priest.
No entanto, a influência de Bob Dylan (vaiado no Festival de Newport por se
apresentar ao som de guitarra elétrica) e Joan Baez foi se dissolvendo a partir de
1965, como explica Chacon (1985):
...parece ter sido o ano da virada. O burburinho que vinha se formando no início da
década, seja no sentido Rock, seja num sentido mais amplo, tomou contornos rápidos
a partir daquele ano e tornou São Francisco a nova capital do mundo juvenil.
“DÁ LICENÇA, ME DEIXA BEIJAR O CÉU?”
Na década de 60, as roupas coloridas, cabelos compridos e o “flower power” tomaram
conta da América, mais especificamente da Califórnia, com o movimento hippie.
Movidos pelo slogan “paz e amor”, esses jovens que se entregaram à ideologia do
pacifismo, do amor livre e das “viagens” de LSD representaram um movimento
importante para a contracultura: “o movimento hippie vai construir suas comunidades
em meio a um clima astrológico que previa (...)o advento de um novo
mundo”(CHACON, 1985. p. 63). Eles esperavam pela “Era de Aquário” em meio à
busca pelo prazer: “...não havia lugar para a injustiça social, a degradação da natureza
e a opressão humana.”(MUGGIATI, 1985, p. 41)
Neste contexto, acontece o Festival de Monterey, em 1967, quando surge uma nova
estrela que teria seu nome gravado na história do rock: Janis Joplin. Essa branca do
Texas, que passou a adolescência ouvindo cantoras negras de blues como Bessie
Smith e Billie Holliday, “aos 17 anos abandona a família para cantar em troca de
bebida nos bares de beira de estrada, seguindo a trilha errante dos cantores de blues”
(MUGGIATI, 1973, p. 45). A voz rouca de Janis e sua interpretação nos palcos a
tornaram uma das cantoras mais sensuais de todos os tempos; uma de suas frases
confirma essa característica, mas também demonstra a sua dor ao lidar com as
pressões da carreira: “Faço amor no palco com 25 mil pessoas e depois vou para casa
sozinha” (id., 1985, p. 13).
Outro importante artista que deixou seu nome marcado como um dos maiores
guitarristas de rock foi Jimi Hendrix. Influência para muitos outros que vieram nas
décadas seguintes, Hendrix inaugurou o virtuosismo nas canções de rock; o uso de
tecnologia para a distorção de sons, apresentações de contorcionismos com a guitarra
e o visual extravagante foram marcas registradas deste astro do rock.
Seu relacionamento quase sexual com a guitarra se assemelha à dança de
acasalamento de uma espécie estranha, de uma raça interplanetária. Além das
contorções corporais, Jimi joga com as distorções sonoras, arrancando notas incríveis
da guitarra, envenenada por uma quantidade de novos recursos eletrônicos. (id., p.
17)
No início, Hendrix formou o The Jimi Hendrix Experience, mas sua carreira se
consolidou realmente como artista solo, acompanhado, muitas vezes, por outros
músicos. Uma de suas canções mais conhecidas, Hey Joe, conta a história de um
marido que mata sua esposa; essa música, inclusive, foi regravada nos anos 90 por
uma banda brasileira, O Rappa.
The Doors foi outro grupo que surgiu em 1967 e teve uma curta, porém marcante
carreira. Jim Morrison, vocalista e líder da banda, mostrava grande sensualidade no
palco. Um dos interesses de Morrison, que também havia estudado técnicas
cinematográficas em Los Angeles, era o xamanismo, antiga religião asiática. No
dicionário, xamã significa “sacerdote mágico, que entra em transe”, e essa descrição é
adequada à postura de Jim Morrison. A música The end, do mesmo disco da clássica
Light my Fire, foi incluída no filme Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla.
Uma possível explicação para o nome The Doors a inspiração da banda no livro de
Aldous Huxley, de 1954, The doors of perception, o qual se relacionava às sensações
provocadas pelo uso de drogas. Como explica Muggiati (1973), artistas como Jim
Morrison buscavam o efeito da sinestesia em suas canções – “o estímulo que atua
sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal tão prontamente como
se fossem sensações do mesmo ‘modo’”. Para isso, as drogas exerciam papel
fundamental: “naqueles dias a vida ou corria muito rápida (como quando se
rebobinava um filme) ou então tudo parava, no torpor das drogas (como em câmara
lenta).” (id., 1985)
Ainda houve muitos outros grupos que caracterizaram o rock de São Francisco,
influenciado pela cultura dos hippies e, conseqüentemente, pelo psicodelismo. Entre
eles, The Grateful Dead, Buffalo Springfield, The Byrds, The Mamas and Papas (autores
da clássica California Dreamin’), Creedence Clearwater; mas um que merece destaque
é o Jefferson Airplane.
Como explica Muggiati (1973), o grito de guerra do Jefferson Airplane, liderado pela
vocalista e compositora Grace Slick, era Feed your head! (Alimente sua cabeça). Isso
demonstra uma das características do rock desta época, que, além de ser chamado de
acid rock (rock-ácido), também ficou conhecido como head-music (música de “cuca”,
ou de “curtição”).
Entretanto, em 1970, as mortes de importantes representantes do acid rock abalaram
a ligação entre a música e as drogas: Jimi Hendrix é sufocado com seu próprio vômito,
depois de uma intoxicação de barbitúricos e Janis Joplin é encontrada em seu quarto,
vítima de overdose de heroína. No ano seguinte, Jim Morrison morre devido a uma
parada cardíaca. Os três formaram a chamada “Santíssima Trindade Trágica do Rock”,
como compara Muggiati, e marcam uma época de transição - a partir de 1970, o rock
sofre uma nova mutação.
A Invasão Inglesa
Antes da história continuar na América, é preciso se deslocar para a Inglaterra. Desde
o início da década de 1960 o país apresentava uma movimentação no cenário do rock,
bandas se apresentando nos pubs (bares) londrinos. Neste contexto, os jovens
protestavam contra a corrida nuclear e o passado histórico do país justificava as
manifestações desta geração: “...os ingleses tinham a II Guerra, o colonialismo, o
espírito vitoriano e outras imagens e culpas da História que pareciam alimentar muito
mais a produtividade musical...” (CHACON, 1985, p. 30) Musicalmente, era comum
entre os artistas britânicos a referência ao skiffle, um ritmo de percussão baseado nos
sons de instrumentos improvisados.
Assim como na América o consumo foi supervalorizado no início da história do
rock’n’roll, este também o foi na Inglaterra a partir de 1960 e mais uma vez o cinema
procurou retratar esses valores. Nesta época foram produzidos os filmes da série
James Bond, em que o personagem é um espião perseguindo seus objetivos a
qualquer custo.
A classe que ascendeu na Inglaterra foi a operária, que finalmente, sob a influência do
blues, deu os primeiros passos para o surgimento de importantes grupos de rock.
Inclusive, uma cidade operária – Liverpool - foi o berço de uma das principais bandas
da história do rock – e talvez a principal: The Beatles.
O Submarino Amarelo
No início de 1956, John Lennon formou o conjunto The Quarrymen, que nada mais era
do que uma reunião informa de amigos. O grupo se estabilizaria em 1960, com Paul
McCartney e George Harrison como guitarristas, Stu Sutcliffe no baixo e o baterista
Pete Best.
Neste mesmo ano, The Quarrymen deixa de existir; em seu lugar, surge uma “banda
profissional de rock’n’roll’, os Beatles. O nome foi uma combinação da palavra beetle
(besouro) com uma expressão comum à época para o rock: música beat. A referência
aos insetos foi uma homenagem ao grupo de Buddy Holly, chamado Crickets (grilos).
Em 1962, os Beatles foram tocar em Hamburgo, Alemanha, quando encontraram o
baterista Ringo Starr, que tocava com os Hurricanes. Pouco tempo depois, ele
substituiria Pete Best.
Finalmente em agosto deste mesmo ano, o grupo entraria nos estúdios de Abbey Road
para a gravação do primeiro compacto da banda, com as músicas P.S. I Love You e
Love me Do. Nesta época, Stu Sutcliffe havia deixado os Beatles e Paul tomou a
posição de baixista do grupo.
Com o segundo single, Please Please Me, os Beatles alcançaram o topo das paradas
britânicas. A esta altura, Brian Epstein já era o empresário da banda; sua disposição e
talento em vender a imagem do grupo o transformaram no “quinto beatle”.
Em 1963, apenas um ano depois do primeiro lançamento dos Beattles, a Beatlemania
eclodiu na Inglaterra. Brian Epstein e o produtor George Martin, da EMI, decidem partir
com a banda para os Estados Unidos, cientes da popularidade do grupo. Em 1964, os
Beatles conquistam a América com I Want to Hold Your Hand. A apresentação da
banda no programa de televisão de Ed Sullivan – o mesmo que tinha lançado Elvis
Presley – foi a alavanca para que a mídia norte-americana passasse a publicar
matérias sobre os “Fab Four” (como eram conhecidos).
Ainda neste mesmo ano, os Beatles lançam seu primeiro filme, A Hard Day’s Night, em
que representam a banda sendo perseguida por uma legião de fãs fanáticas. A trilha
sonora do filme trouxe canções como Can’t Buy me Love e a romântica And I Love Her
– a primeira de uma série de baladas de Paul McCartney.
Durante os shows dos Beatles, quase não se ouvia suas músicas, devido à quantidade
de garotas que gritavam histericamente pelos músicos. A partir de 1965, o grupo
passou a se preocupar mais com as composições, deixando o amor romântico de lado
e empenhando-se em explorar outros temas. O disco Rubber Soul, lançado neste
mesmo ano, marca o amadurecimento da banda, visível na crítica social de Nowhere
Man ou nas referências abstratas de Norwegian Wood, entre outras composições deste
disco.
O ano de 1966 marca a primeira experiência dos Beatles com o LSD (até então, a
maconha era a droga mais consumida). Revolver, lançado neste ano, confirmou a
mudança de direção que apenas havia sido esboçada no álbum anterior. George
Harrison aparece como um compositor importante, colocando suas referências à
música indiana, como o som de cítara em Love to You. Neste disco, a dupla de
compositores Lennon-McCartney praticamente se desfez, na medida em que o
vocalista geralmente era o autor da canção que interpretava.
Junto com a mudança de rumo da banda, também veio a decisão de parar com as
turnês. Com mais tempo livre, cada beatle resolveu se isolar por um tempo. Nesse
meio tempo, John Lennon conheceu a artista plástica Yoko Ono, George Harrison
viajou Índia, Paul McCartney voltou a estudar artes e Ringo Starr saiu de férias.
Em 1967, eles se reuniram novamente para a produção do álbum que mudaria
definitivamente os padrões do rock’n’roll: o experimental Sgt. Pepper’s Lonely Hearts
Club Band.
Apropriadamente chamado de cabaré alucinatório (...) o álbum dá a idéia de um
concerto o vivo – o barulho de público e a faixa título introdutória são seguidas pelo
resto das canções, por um refrão final de Sgt. Peppers, e o bis, ou epílogo, A Day in
the Life. (FRIEDLANDER, 2002, p. 135)
Na verdade, este álbum foi concebido como a materialização de uma fantasia dos
quatro integrantes da banda, que introduziram elementos artísticos inovadores em
cada uma das canções. Ele foi composto como uma colagem, em que o trabalho do
produtor George Martin foi fundamental para tornar possível as experimentações
sonoras pretendidas pelos Beatles. Na música A Day in the Life, por exemplo,a banda
quis introduzir no final uma nota audível somente pelos cachorros; realmente, fica a
impressão de um espaço “vazio” quando se escuta esta música. A capa de Sgt Pepper’s
também demonstra o experimentalismo pretendido pelo grupo; personagens
admirados pelos Beatles, como Karl Marx, Jung, o Gordo e o Magro, William S.
Burroughs, Aldous Huxley, amigos como Dylan, Sutcliffe e os Rolling Stones, povoam a
colagem de um retrato acima de um jardim de maconha (imperceptível aos executivos
da gravadora).
Em agosto de 1967, os Beatles são atraídos pela meditação transcedental do guru
indiano Maharishi Mahesh Yogi. Enquanto eles buscavam por uma regeneração
espiritual, recebem a notícia de que Brian Epstein havia morrido, por excesso de
remédios para dormir –esse fato foi como um presságio para a dissolução da banda
poucos anos depois.
Com a perda de Brian Epstein – e influenciados pelos conselhos do Maharishi - os
Beatles passaram a se preocupar com os negócios da banda pessoalmente. Com uma
idéia de Paul, decidem lançar o filme The Magical Mistery Tour, sobre uma viagem
psicodélica em um ônibus. No entanto, nem o filme, nem a trilha sonora tiveram
sucesso; muitos críticos consideraram a empreitada uma “bomba promocional”. Alguns
dos poucos números bem recebidos pela crítica foram I am the Walrus, Fool on the Hill
e a canção título.
Em 1968, os Beatles se encontram novamente com o Maharishi; eles partem com uma
comitiva para a Índia, mas não ficam por muito tempo. O interesse do guru indiano
por autopromoção logo veio à tona, e os Beatles compuseram a canção Sexy Sadie,
em alusão a essa decepção: “’Sexie Sadie, what have you done/You made a fool of
everyone’ (Sexie Sadie, o que você fez/você fez todo mundo de idiota)”. (id., p. 138)
De volta para a Inglaterra, a banda resolveu se dedicar à expansão dos negócios da
Apple, a empresa que haviam fundado em 1967 para cuidar do marketing dos Beatles.
O primeiro projeto desta companhia foi um desenho animado baseado em uma
composição de 1966, Yellow Submarine; o resultado se mostrou uma “festa colorida
para olhos e ouvidos”.
Em novembro deste ano, o primeiro disco da Apple foi lançado; as trinta canções do
White Album, como ficou conhecido, foram acomodadas em um álbum duplo. Depois
do desastre de Magical Mistery Tour, este lançamento representou o melhor momento
dos Beatles após a morte de Epstein. Helter Skelter, While my Guitar Gently Weeps,
Ob-La-Di,Ob-La-Da, Blackbird e Piggies, entre outras, são algumas das canções deste
disco, marcado por diversidades estilísticas. No entanto, apesar deste bom momento
musical, internamente as coisas não andavam muito bem.
Cada vez mais os integrantes dos Beatles se afastavam um dos outros, dedicando-se
mais aos seus projetos individuais. Assim, após o lançamento de White Album, a
tentativa de realizar um projeto grandioso para o ano de 1969 – batizado de Get Back
- não deu certo. O projeto começou em janeiro, mas as gravações foram abandonadas
no dia 30, quando os Beatles promoveram um show no telhado prédio da Apple. - a
última apresentação dos Beatles. O compacto Get Back/Don’t Let Me Down, com os
resquícios da gravação, foi lançado em abril deste ano, para agradar aos fãs.
O casamento de Lennon com Yoko Ono e MacCartney com a fotógrafa Linda Eastma,
em março de 1969, foi sintomático do individualismo que se instaurou entre os
membros da banda, já que refletia o desejo de cada um por interesses pessoais.
Mesmo em meio a esse “clima de separação”, Abbey Road é lançado pela EMI,
constituindo um fenômeno de vendas.
Quando Abbey Road chegou às lojas, os Beatles já não eram uma banda; cada
integrante estava mais envolvido com seus projetos solo e haviam rejeitado a proposta
de uma turnê norte-americana. Como a banda ainda precisava cumprir seu contrato
com a EMI, algumas canções do antigo projeto Get Back foram transformadas no disco
Let it Be, que nem sequer foi produzido por George Martin. Este disco continha apenas
dez músicas e representou o “amargo” fim dos Beatles, que foi anunciado oficialmente
em 1970.
Pedras que Rolam
Entretanto, não só do sucesso dos Beatles vivia a Inglaterra. Rolling Stones e The Who
são exemplos de grupos que surgiram na década de 60 e que marcaram o rock em
muitos sentidos.
O verso de uma canção de blues de Muddy Waters – rolling stones gather no moss
(pedras que rolam não criam musgo) - dá o nome ao conjunto fundado pelo guitarrista
Brian Jones. O vocalista, Mick Jagger, torna-se o líder da banda após a saída de Jones.
A influência negra é uma das marcas do grupo, além da sensualidade e uma certa
androginia, características da performance de Jagger.
O repertório dos Rolling Stones é um verdadeiro ‘erotikon’ e, se o grande tema de suas
canções é a alienação, o assunto certamente é sexo. Não foi por acaso que um de seus
maiores sucessos, a música que marcou seu estilo, se chamou ‘(I can´t get no)
Satisfaction’, comentário cáustico sobre a impotência do homem moderno. Nos
concertos, Mick Jagger costuma rebolar com a malícia de um travesti e manipula o
microfone fálico com mil insinuações. (MUGGIATI, 1973, p. 94)
Em 1968, os Stones exploram o engajamento político na música Street Fighting Man,
influenciados pelas manifestações políticas de massa que emergiam. A música,
composta por Mick Jagger e Keith Richards, torna-se hino dos revolucionários e é
censurada pela polícia de Chicago.
Diz a canção...: ‘Everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy/Comes
summer here and the time is right for fighting in the streets, boy’. – ‘Por toda parte
ouço o som de pés marchando, atacando, boy/O verão chegou e a hora é de lutar nas
ruas, boy’. (...) E, no final, a canção dos Stones também tende para a solução
individual em detrimento da política: ‘But what can a poor boy do/Except sing in a rock
´n´roll band/Guess in sleepy London town there´s just no place for a street fighting
man’. – ‘Mas que pode um garoto pobre fazer/Exceto cantar num grupo de
rock’n’roll?/Pois na sonolenta cidade de Londres, não há lugar para um homem de
briga-de-rua.’ (id., p. 25)
A música dos Stones é da mesma época de Revolution, dos Beatles. Esta última
também foi composta a partir do contexto político-social de 1968, marcado
principalmente pelas manifestações de maio deste mesmo ano. Os críticos passam a
analisar Revolution e Street Fighting Man e a compará-las, sendo que consideram a
primeira como uma “contra-revolução” e a segunda como a “verdadeira revolução”.
Mas, tanto as últimas estrofes da música dos Stones quanto uma declaração de Jagger
– “Eles devem pensar que ‘Street Fighting Man’ é capaz de promover uma
revolução...Eu bem que gostaria que isso fosse verdade” (id.) – demonstram que a
idéia dos críticos se baseia em suposições.
Outro grupo inglês desta época que merece destaque é o The Who. A banda torna-se
um exemplo claro da busca pela sinestesia e a sensualidade nas músicas. Esses dois
aspectos são visíveis na ópera-rock Tommy, composta pelo guitarrista Peter
Towshend. A música conta a história de um menino que nasceu cego, surdo e mudo –
imagem alusiva à repressão social dos indivíduos. Os pais do garoto o levam a médicos
e até a milagreiros, até que um dia ele passa por uma experiência psicodélica e tem
seus sentidos liberados. Já foram realizadas várias encenações para a apresentação da
história de Tommy.
O refrão cantado por Roger Daltry em tom de súplica, ‘See me, feel me, touch me,
heal me’ é um apelo em favor da abertura das percepções, do descondicionamento, da
libertação dos sentidos. Nota-se na frase uma superposição dos diversos ‘modos’
sensoriais.” (MUGGIATI, 1973, p. 95)
A performance do The Who foi o ponto que mais caracterizou o grupo inglês, um dos
primeiros a destruir instrumentos no palco (não se esquecendo dos rituais de Hendrix
com a guitarra). Este costume, que se tornou comum em muitas bandas de rock que
despontariam anos depois, tem explicações antropológicas. Segundo estudiosos das
manifestações culturais de antigas tribos, a raiz desta atitude dos artistas de rock está
no potlatch.
O potlatch é uma prática das sociedades primitivas que consiste na troca ou destruição
de bens pelos chefes do clã ou da tribo. O líder afirma com esse gesto sua
independência, mostrando maior capacidade de retribuir do que de receber. (...)
desafia assim os chefes de outras tribos a negarem, como ele, a riqueza, recolhendo
desse ato de aparente autodestruição um prestígio político imenso, e reforçando sua
imagem junto aos seus. (MUGGIATI, 1985, p. 100)
A destruição nos palcos era aceita pelo público, o que caracteriza uma nova forma de
comunicação entre a banda e a platéia de seus shows. O grupo inglês passou a infundir
uma nova atitude para o rock, que o tornou mais pesado e sofisticado – o que se
convencionou chamar hard rock.
Sob esse novo contexto, registra-se o surgimento de guitarristas herdeiros do
virtuosismo de Hendrix, como por exemplo Eric Clapton e Jimmy Page, ambos
fortemente influenciado pelo blues.
Em fins de 1960, Clapton ingressou no Cream. Como o próprio nome indica (“creme”),
a preocupação era com a elaboração instrumental, ou seja, muitas melodias e solos de
guitarra bem trabalhados; o grupo alcançava os níveis sonoros de uma orquestra
apenas com o som de estúdio. O Cream teve grande repercussão, sendo que em 1968,
o LP Disraeli Gears era o mais vendido nos Estados Unidos.
Jimmy Page tocou incialmente com The Kinks e Joe Cocker. A convite de seu amigo, o
também guitarrista Jeff Beck, integra o Yeardbirds (que posteriormente se
transformaria no Led Zeppelin, nos anos 70). Essa banda caracterizou-se pela
presença de grandes guitarristas (Eric Clapton também havia tocado neste grupo).
Page influenciou muitos guitarristas que surgiram nas décadas seguintes e também se
utilizava das escalas de blues para compor músicas de rock.
Ainda antes da virada 1960/1970 se firmar como a época de novas revoluções
musicais, acontece a sagração da contracultura: o festival de Woodstock, entre os dias
15 e 17 de agosto de 1969. Após os acontecimentos políticos de 1968, o festival
representou a convergência cultural do movimento hippie. Em um grande campo
aberto em White Lake, New York, cerca de 500 mil pessoas viveram três dias de “paz e
música”, embaladas pelo som dos maiores artistas de rock da época.
O ingresso para um dia de Woodstock custava 7 dólares, mas a maioria do público
quebrou as cercas e entrou sem pagar nada. Joan Baez, Janis Joplin, Jimi Hendrix, The
Who, Grateful Dead, Joe Cocker, Jefferson Airplane, Iron Butterfly, Creedence
Clearwater, entre outros, se apresentaram a uma multidão que aguardava o sonho
hippie ser concretizado. Na realidade, os que vivenciaram os três dias de festival,
“saíram de lá sentindo-se ungidos de santidade, como seres privilegiados de outro
planeta, superior”(MUGGIATI, 1985, p.45). O evento foi documentado em um filme de
mais de três horas de duração, dirigido por Michael Wadleigh
“O SONHO ACABOU”
Apesar de Woodstock representar a confirmação da ideologia hippie, quando a
imprensa finalmente passou a se interessar pela contracultura, o ano de 1969 marca o
fim da era em que se anunciava essa “sociedade utópica”. Os assassinatos da atriz
Sharon Tate (mulher do diretor de cinema Roman Polanski) e do casal Labianca,
cometidos por hippies fanáticos, seguidores da seita liderada por Charles Manson,
abalaram o mundo e ajudaram a exterminar o movimento hippie nos Estados Unidos.
”Misturando Bíblia e Beatles em sua imaginação distorcida, Manson lhe dava uma
interpretação altamente pessoal, em que se via como o agente de um novo
Apocalipse.” (MUGGIATI, 1985, p. 49)
Tanto na casa de Sharon Tate quanto na casa dos Labianca, foram encontradas
inscrições a sangue nas paredes. No último caso, as palavras PIGS e HELTER SKELTER
foram escritas com o sangue das vítimas na porta da geladeira. As palavras são
alusões a duas canções dos Beatles: Piggies e Helter Skelter.
Além do caso Tate-Labianca, o ex-guitarrista do Rolling Stones, Brian Jones, morre em
1968; o acontecimento antecipou a perda da tríade Janis-Hendrix-Morrison, já citada.
Esses fatos resultaram em um grande desfalque para a música, tornando o fim da
década de 1960 uma sucessão de acontecimentos tristes para o rock.
O Festival de Altamont, que aconteceu em uma pista de corridas desativada a uns 60
quilômetros de São Francisco, vem engrossar a lista de tragédias da época. Trezentas
mil pessoas, que esperavam para ver, entre outros, Rolling Stones e Jefferson
Airplane, depararam-se com a falta de organização do festival, programado de última
hora. Muita sujeira, drogas, doenças e quatro mortes foram os resultados de Altamont.
O documentário da turnê americana dos Stones, Gimme Shelter, mostra a cena de um
jovem negro que puxou um revólver e foi esfaqueado por membros do “Hell Angels” –
os seguranças improvisados do evento.
Manson e Altamont atingiam em cheio as duas maiores entidades do rock, os Beatles e
os Rolling Stones, e mostravam como a música podia ser perigosa e desencadear
forças negativas e violentas entre um público imaturo e dominado por impulsos de
destruição. Assim, o mundo e a contracultura ingressaram na feia realidade de 1970.
(MUGGIATI, 1985, p. 50-52)
A década que se iniciava mostrava-se caracterizada por um forte individualismo,
contrastando com o engajamento político e o sonho da comunidade alternativa,
pregado pelos hippies. Como se não bastassem todas as mortes que ocorreram nesta
época, também registrou-se o fim dos Beatles, em 1970.
Em fins de 1960, houve a confluência de várias novas tendências do rock,
normalmente caracterizadas pela preocupação com a elaboração sonora das canções.
"O ano de 1967 é marcado no 'rock' por uma verdadeira revolução conceitual, onde o
vulgar é soterrado por um 'status' equivalente a qualquer revolução de outrora (...)o
fato foi que o rock intelectualizou-se" (MONTANARI, 1988, p. 66).
O Rock como Forma de Arte
Um dos rótulos que surgiu ainda antes da virada da década de 70 foi o rock
progressivo, fortemente influenciado pela música clássica e pelas inovações
tecnológicas. O grupo de maior destaque nesta categoria é o inglês Pink Floyd, mas
antes deles, o Alan Parsons Project apresentava uma nova proposta de rock, em que
veiculavam pelo rádio os Contos de Mistério e Imaginação, de Edgar Allan Poe. O King
Crimson também inovou neste sentido, ao lançar álbuns conceituais como In the Court
of King Crimson e In the Wake of Poseidon.
Outro grupo que também contribuiu para o desenvolvimento do progressivo e deu o
primeiro passo para a mistura entre o rock e a música erudita foi o Moody Blues. Em
1968, esta banda gravou com a Orquestra Sinfônica de Londres, inaugurando a
composição de “poemas orquestrais”, em que se destacava o “forte clima descritivo
das canções”.
A música erudita, nesta época, teve importância fundamental para as composições de
rock. Muitos músicos se utilizavam da influência de compositores como Bach ou Mozart
para a elaboração de canções, expandindo as fronteiras musicais. Rick Wakeman, do
Yes, possuía formação em música clássica e a utilizou nas suas canções de rock.
Da junção do nome de dois bluesmen americanos, Pink Anderson e Floyd Council,
surgiu na Inglaterra o grupo que se transformou em um ícone para o rock como forma
de arte; o Pink Floyd se caracterizava pela preocupação com os efeitos especiais das
apresentações ao vivo como complementação para sua música. Vários clássicos foram
lançados pela banda, como The Dark Side of the Moon (1973) e The Wall (1979); este
último rendeu também um filme homônimo, de 1984.
Outra conquista do Pink Floyd foi superar a barreira entre os sons perfeitos fabricados
em condições ideais no estúdio e a música forçosamente problemática das
apresentações ao vivo. Eles conseguiram isso completando seus espetáculos com
efeitos visuais que realçassem o clima de sua música e, evidentemente, ampliando
também a formação costumeira do grupo, um quarteto. (MUGGIATI, 1985, p. 62-63)
Uma das contribuições do progressivo foi a composição de “poemas tonais” para o
rock, em climas sombrios, de pesadelo. Essa caracterização mais intimista para as
canções contrastava com o clima de celebração do rock dos anos 60 (psicodelia).
Outras bandas, como Genesis e Jethro Tull surgiram nesta época, inserindo-se no
contexto das experimentações sonoras.
...o Rock parecia dominado pelo seu lado intelectual, pelo progressivo, pelo
acadêmico, pelo auditivo. Não se deixara de dançar, mas sentar diante do aparelho de
som e ESCUTAR tornara-se algo tão comum que o percentual de rockeiros dançantes
diminuíra se comparado com o da época do rock’n’roll. (CHACON, 1985, p. 44)
Nos Estados Unidos, 1967 foi o ano de um compositor que ampliou o cenário do rock :
"um músico anarquista resolve desvencilhar suas farpas contra a mediocridade da vida
consumista norte-americana. O nome dele é Frank Zappa...(MONTANARI, 1988, p.
66). As influências de Zappa iam desde a música eletrônica à erudita, o que era
verificável nas fusões que realizava em suas músicas: "Zappa sacode o 'stablishment',
ganhando rapidamente o rótulo de 'maldito'" (id.). As experimentações de Frank Zappa
eram baseadas no uso de ruídos, técnicas de colagem, percussão; ao contrário dos
músicos de rock que se iniciavam pelos blues, ele freqüentava aulas de música
contemporânea.
Mas ainda havia muito mais para acontecer nos anos 70, que muitos, erroneamente,
caracterizam como a “década em que nada aconteceu”. Outra vertente que modificou
a sonoridade do rock foi o heavy-rock. Como argumenta Chacon (id., p. 39-40):
Na primeira vez que alguém distorceu uma guitarra inaugurou uma outra variante do
Rock que representaria sua imagem esteriotipada aos frágeis ouvidos do não-iniciado:
o heavy-rock (Rock pesado), ou rock-pauleira, como é mais conhecido, quebrava com
as seqüências do Rock-tipo-Beatles e atendia a um mercado mais feroz e ansioso por
um batida mais violenta...
O som das bandas de heavy metal existe para ser consumido, preferencialmente, nas
apresentações ao vivo. As bandas se preocupam em tocar muito alto, o que já
contribuiu para especulações de que o metal faria mal aos ouvidos; no entanto, isso
não foi comprovado. O caso da surdez de Brian Wilson, dos Beach Boys, é um exemplo
claro desta controvérsia, visto que o som da banda é relativamente calmo perto da
sonoridade do metal. Vocais estridentes (ou guturais), preocupação com o visual da
banda e performances ousadas nas apresentações ao vivo são outros aspectos do
heavy metal.
Jimi Hendrix e o Cream foram grandes inspiradores para este sub-gênero do rock.
Muggiati (1985, p. 89) explica que o heavy-rock foi um subproduto do acid rock, na
medida que provocava no ouvinte uma “intoxicação sonora”. Por sua vez, o Iron
Butterfly (“borboleta de ferro”) foi um grupo que influenciou a denominação das
bandas de heavy metal, devido à referência “metálica” em seu nome.
Um importante crítico de rock, Lester Bangs (ex-editor da revista Cream) retirou o
termo “heavy metal” de um romance de William Burroughs e o associou ao rock depois
desta expressão ser incluída em uma música do Steppenwolf. Esta música, Born to be
wild, remete ao som de um “trovão de metal pesado” e faz parte da trilha sonora do
filme Easy Rider (Sem Destino), de 1969, que contribuiu para a disseminação do rock
pesado.
Além desta versão, existe uma outra, em que o termo “heavy metal” surgiu quando
uma grande fábrica explodiu no mesmo dia de uma apresentação do Led Zeppelin.
Bandas inglesas como Black Sabbath e Deep Purple se firmaram como importantes
representantes do heavy metal no início dos anos setenta. A primeira recebeu esta
denominação derivada da influência “satanista” para os nomes das bandas de heavy
metal. Outras que despontariam anos depois também se incluiriam nesta vertente, em
que composições e visual sombrios são comuns.
A influência do Black Sabbath e do Deep Purple foi marcante para as décadas
posteriores; muitas compilações e tributos às duas bandas foram lançados, mas o
Purple continua em atividade, mesmo depois de muitas mudanças em sua formação
original. O guitarrista Richie Blackmore, um dos fundadores do Deep Purple, (e
atualmente em carreira-solo) foi um dos pioneiros na influência da música erudita nas
canções de rock pesado - tradição que ser firmaria anos depois com grupos de heavy
metal dos anos oitenta e noventa.
O Black Sabbath trouxe as primeiras imagens de “morte, demônios e ocultismo” às
canções de rock, além de lançar vocalistas importantes, como Ozzy Osborne e Ronnie
James Dio. Este último, que havia sido anteriormente vocalista do Elf (banda com
inspiração no blues), depois ingressou no Rainbow, grupo de Richie Blackmore após a
saída do Deep Purple. Inicialmente conhecido como Richie Blackmore’s Rainbow, este
grupo com tendências ao hard rock lançou em 1976 um disco que se tornou clássico:
Rainbow Rising. Considerado um dos maiores vocalista de metal, atualmente Dio se
dedica à própria banda, firmando uma carreira pós-Sabbath bem sucedida.
Ozzy cantou com o Black Sabbath na primeira fase da banda; é da sua época clássicos
como Iron Man e a homônima e sombria Black Sabbath. Após sair do Sabbath, em
1978, também se lançou com sua própria banda, continuando em atividade até hoje. A
vida de Ozzy freqüentemente foi associada a histórias surpreendentes:
Célebre pelas imagens de mutilação de animais durante seus shows, Osbourne, como
reza a lenda, teria tomado dolorosas injeções anti-rábicas depois de ter arrancado,
com os dentes, a cabeça de um morcego jogado pela platéia. (FRIEDLANDER, 2002, p.
381)
Um grupo do final dos anos sessenta e que se destacou durante a década de 70 foi o
Grun Funk Railroad. A inspiração para o nome da banda surgiu de um trocadilho com o
nome de uma estrada de ferro chamada Grand Trunk and Western Railroad.
Essa banda de Detroit não recebeu muito prestígio entre os críticos, mas agradou ao
público. O Grun Funk abriu vários shows para o Led Zeppelin, em muitos casos,
roubando a atenção da platéia. Entre os temas de suas músicas, sexo, política, religião
e ecologia estavam entre os mais comuns. A inovação de suas músicas ficava por
conta da utilização de instrumentos pouco comuns em grupos de rock, como violão,
piano, alguns tipos de percussão e orquestra.
O grupo que realmente comandou as transformações na sonoridade do rock para
essa época foi o Led Zeppelin. Em uma fusão do blues com o hard rock,
construíram sua carreira como os maiores representantes do trinômio “sexo, drogas e
rock’n’roll” nos anos 70.
Uma “Escada para o Céu”
O Led Zeppelin começa quando os Yeardbirds se desintegram. Em 1967, o guitarrista
Jimmy Page foi deixado por seus companheiros com uma agenda de shows para
cumprir e dívidas para pagar. Com a finalidade de resolver esse problema, Page sai à
procura de integrantes para uma nova banda, os New Yeardbirds.
O primeiro a integrar o novo grupo é o baixista John Paul Jones, que mostra a Page
uma matéria de jornal sobre Robert Plant – vocalista de uma banda chamada
Hobbstweedle. A mesma dica foi dada pelo cantor Terry Reid, que anteriormente havia
sido cogitado para a vaga. Page e Jones foram assistir a uma apresentação do
Hobbstweedle e ficaram tomados pela presença de palco e pela voz de Robert Plant.
Ele passou a integrar o New Yeardbirds em agosto de 1968. O baterista John Bonham
foi o último a entrar para o grupo, a convite de Plant.
Após concluir a formação da banda, o New Yeardbirds saiu em turnê para cumprir a
agenda do antigo grupo. Com o fim das apresentações, ainda neste mesmo ano
gravaram um disco que recebeu o novo nome da banda: Led Zeppelin. Segundo o
jornalista Sérgio Martins (Bizz, 1999), a denominação veio de Jimmy Page, que se
lembrou de uma citação de Keith Moon (baterista do The Who) sobre a viagem em um
“zeppelim de chumbo”.
Sob contrato com a Atlantic Records, o Led Zeppelin iniciou uma turnê pelos Estados
Unidos, um dia depois do Natal de 1968. Essa idéia partiu do empresário Peter Grant,
também chamado de “o quinto zeppelin”.
Nos Estados Unidos, o Led Zeppelin conseguiu a popularidade que o seu primeiro disco
não alcançou no Reino Unido. A onda de psicodelia ainda tomava conta do cenário do
rock, e a sonoridade pesada da banda chamou a atenção do público rockeiro – que
aprovaram a influência blueseira e os uivos do vocalista da banda. Canções como Good
Times Bad Times e Communication Breakdown são composições deste primeiro disco.
Led Zeppelin II é lançado em 1969, alcançando o primeiro lugar nas paradas
americanas. Thank You, canção de Plant para sua mulher na época, Maureen, o
clássico do rock pauleira, Whola Lotta Love e Moby Dick, são destaques desse álbum.
Após o lançamento do segundo disco, o Led Zeppelin decide sair em turnê pelo Reino
Unido, agora com sua carreira consolidada pelo sucesso nos Estados Unidos. Esse disco
rendeu ao grupo o título de “melhor banda da Inglaterra” pela Melody Maker. O
sucesso do Led Zeppelin provocou sua ascensão como legítimos de “rock stars”; as
groupies (fãs fanáticas) disputavam a atenção dos músicos da banda e os negócios
iam bem. O interesse de Jimmy Page pelo ocultismo, assim como seu vício em heroína,
já eram conhecidos.
No entanto, antes da produção de Led Zeppelin III, os integrantes da banda
encontraram-se cansados e resolveram se isolar para compor. Canções como
Tangerine e Since I’ve benn Loving You são algumas das que estão neste disco.
Em 1973, o Led Zeppelin lança um álbum sem título e que passaria a ficar conhecido
como “Quatro Símbolos’, entre outras denominações. Essa referência deve-se aos
símbolos impressos na contracapa do álbum, relacionados a cada integrante da banda.
Esse disco foi o de maior vendagem para o Led Zeppelin, rendendo mais de 16 milhões
de cópias nos últimos 25 anos. A canção mais popular do grupo, Stairway to Heaven,
faz parte deste álbum. Sobre essa música, Friedlander (2002, p. 339) comenta:
Page e Plant dividiram a música em dois níveis dinâmicos(...). El começava
suavemente com a introdução do violão de Page e um longa citação de versos,
aumentando gradualmente até explodirem em um rock completo (...) A letra obscura,
cantada com a voz de um trovador piedoso, refletia o interesse de Page pelo folclore
britânico e celta e seguia a busca de uma mítica dama por sua “escada para o céu ou
nirvana espiritual’.
Em 1973, o grupo lança Houses of the Holy, marcado por canções funk e reggae (como
em D’yer M’aker). Este álbum recebeu o primeiro lugar nas paradas do Estados Unidos
e Inglaterra ao mesmo tempo. Entretanto, as apresentações do grupo são
comprometidas depois do acidente de carro sofrido por Robert Plant. Assim, eles
lançam o documentário The Song Remains the Same (1976), que mistura cenas do
dia-a-dia dos integrantes com um show no Madison Square Garden.
Durante a turnê deste álbum, após a recuperação do acidente de Plant, seu filho,
Karac, morre de um vírus desconhecido. Assim, a banda faz outra pausa e volta em
1979, com In Through the Outdoor, com a canção All my Love dedicada ao filho do
vocalista. Um ano após esse lançamento, acontece a última turnê européia do Led
Zeppelin; enquanto os integrantes da banda se preparavam para viajar aos Estados
Unidos, John Bonham bebe além da conta e não consegue ensaiar.
No dia seguinte à embriaguez de Bonham, o baterista é encontrado morto, sufocado
em seu próprio vômito (assim como aconteceu com Hendrix). Em dezembro desse
mesmo ano, os integrantes remanescentes anunciam que sem Bonham, é impossível
continuar com o Led Zeppelin.
O trovão setentista do Led Zeppelin quebrou as fronteiras do rock em sua época,
estendendo sua influência para grupos que surgiram posteriormente: Aerosmith,
Guns’n’Roses e Rage Against the Machine são alguns exemplos.
O Rock de “Plumas e Paetês”
Em meados de 1970, o heavy metal continuou a se expandir, inaugurando os anos 80
com uma profusão de bandas importantes para este sub-gênero do rock. Mas antes de
se apresentar o cenário metal dos anos oitenta, é preciso destacar outras vertentes do
rock que se desenvolveram ainda na década de 70.
Um movimento paralelo ao metal, muitas vezes mesclando-se a ele, e que marcou o
início desta década foi o glitter rock, também conhecido como glam rock. Som pesado,
muito brilho nas roupas e visual andrógino eram as características principais de grupos
como T-Rex, Kiss e artistas como David Bowie e Alice Cooper. Este último, comumente
chamado de “tia Alice”, foi o desencadeador da androginia no rock, antes esboçada por
Mick Jagger e também seguida por Marc Bolan, do T-Rex.
Em outras palavras, algo como um rock de plumas e paetês em que os músicos
apareciam fortemente maquilados ou até mesmo travestidos. Em Alice Cooper, o lado
sexual era mais um recurso para agredir o público, pois Alice (nascido Vincent Furnier,
filho de pastor) era ‘cria’ de Frank Zappa, o pai espiritual dos freaks de todo o
mundo ... (MUGGIATI, 1985, p. 67-68)
Apesar de não se encaixarem especificamente neste gênero, os grupos ingleses Queen
e Judas Priest, formados em 1970, eram adeptos do visual extravagante, aliando-o a
uma pesada sonoridade.
Liderado por Fred Mercury, o Queen utilizava experimentações vocais e instrumentais
em suas composições. A clássica Bohemian Raphsody é mais um exemplo da influência
da música erudita no heavy metal, verificado na introdução e nas vocalizações desta
música.
Bohemian Rhapsody foi lançada em 1975. Uma verdadeira ópera rock, no sentido mais
literal das palavras. Taxada de experimentalista pela gravadora uma música como
aquela dificilmente chegaria a ser um hit. Mais do que isso, porém, Bohemian
Rhapsody se tornou no maior clássico da banda e seu primeiro single a chegar ao
número 1. (WHIPLASH, dez/2002)
Esta era a época dos grandes concertos de rock e o Queen não fugia à regra; Fred
Mercury desempenhava seu papel de frontman de maneira eficiente, devido ao seu
carisma com o público. A partir de 1980, a banda acrescenta instrumentos eletrônicos
e começa a se influenciar pela dance music, que se tornaria uma febre nesta década.
No entanto, após quase duas décadas de existência, em 1991 a banda sofre a perda
de Fred Mercury, que morre de complicações decorrentes da AIDS. O álbum Innuendo,
lançado neste mesmo ano, marca a despedida do vocalista e líder da banda: "com
menções depressivas e letras subjetivas, um Fred Mercury fraco insinua um difícil
adeus, com músicas como The Show Must Go On (O Show Deve Continuar) e These
are the Days of Our Lives (Esses São os Dias de Nossas Vidas)" (id.). A partir de 1992,
várias coletâneas de tributo à banda foram lançadas, sendo que a última é de 1999.
Ainda hoje uma banda bem conceituada entre os apreciadores do gênero, o Judas
Priest foi uma bandas precursoras do heavy metal moderno. As características que lhe
conferiram esse título foram a adoção de roupas de couro e adereços de metal e "a
união do peso e temática violenta criados pelo Black Sabbath à velocidade dos grupos
como o Led Zeppelin” (id.). Além disso, a presença de dois guitarristas na banda - KK
Downing e Glenn Tipton - se tornou uma das marcas das bandas de heavy metal que
surgiriam posteriormente.
O auge da carreira internacional do Judas Priest se deu entre 1982 e 1984, com o
lançamento dos álbums Screaming for Vengeance e Defender of the Faith, mas logo
após essa fase, um fato marcou a imagem da banda. Um caso de suicídio de dois fãs
foi amplamente explorado pela imprensa, que culpou o grupo pela morte dos dois
garotos. Mesmo após ficar confirmado que as causas nada tinham a ver com a música
do Judas Priest, esse caso se tornou corriqueiro com outras bandas e artistas de rock.
Após a boa fase, em 1986 a banda lançou o álbum Turbo, que não foi bem aceito pela
crítica e pelo público, que não esperava pela fusão com instrumentos eletrônicos,
marcante neste disco. O produto final se mostrou muito "comercial e forçado,
marcando o ponto mais baixo na carreira da banda".
Em 1992, o vocalista Rob Halford (hoje em carreira solo) abandou o Judas Priest para
montar o Fight; em seu lugar entrou Ripper Owens. O vocal de Ripper sempre foi
associado ao de Halford, o que ajudou a não descaracterizar as músicas antigas da
banda.
“POR QUE A GENTE NÃO CHAMA DE PUNK?”
Como explica o jornalista José Augusto Lemos (Bizz, ago1999), em fins de 1960 houve
uma “reformulação visual”, seguida pelos jovens: “quem andava de jeans, camiseta e
cabelos compridos, imediatamente passou a ser identificado como ‘hippie velho’”.
Nesta época, a movimentação política e (junto com ela) a violência faziam parte do
cotidiano dos jovens, tanto na América quanto na Inglaterra. Como já foram citados, o
movimento contra a guerra do Vietnã e a campanha contra a corrida nuclear, além do
desemprego, denotavam o descontentamento da sociedade, em particular dos jovens.
A "violência gratuita" de cenas do filme A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de
Stanley Kubrick, era repetida pela juventude nas ruas. Lemos (id.) relata que, banido
das ilhas britânicas, o clássico de Kubrick também ditava a moda, sendo considerado
um possível inspirador para a nova vertente que despontaria no cenário do rock: o
punk. “(...)se havia uma coisa de que os ‘punks’ faziam questão de ser era contra a
cultura. Nos dicionários, ‘punk’ quer dizer ‘droga’, ‘coisa sem valor’, ‘podre’, ‘doente’.
(MUGGIATI, 1985, p. 69)
Bob Dylan e Joan Baez ainda tinham forte presença no cenário musical e político da
América quando o primeiro embrião do punk apareceu em Nova Iorque. Artistas de
renome, como Andy Warhol, faziam parte da vanguarda artística da cidade; logo
surgiriam grupos de rock que movimentariam a cena musical.
Outro personagem dessa época, que circulou tanto no meio glitter quanto entre os que
fundariam o punk, foi David Bowie. Tanto por isso quanto por seu visual extravagante,
andrógino, o adjetivo mais associado a ele sempre foi "camaleônico". Sua incursão
pelo meio musical também contou com a influência da eletrônica; mas a importância
de Bowie ainda se estendeu para a fase pós-punk: ele foi o responsável pelo resgate
de artistas importantes como Lou Reed (ex-Velvet Underground) e Iggy Pop (exStooges).
O Velvet Undergroud (subterrâneo de veludo), foi uma das bandas que impulsionou
outros grupos e artistas solo que passariam a caracterizar o punk. Esta banda surgiu
em 1965, depois que Lou Reed mostrou ao guitarrista John Cale duas canções que
havia composto: Heroin e Waiting for the man. Ele tocou as duas músicas ao violão e,
como contou Cale (McNeil, McCain, 1997, p. 20), era diferente de tudo o que Dylan e
Baez faziam:
Na primeira vez que Lou Reed tocou 'Heroin' pra mim, fiquei totalmente pasmo. A letra
e a música eram tão obscenas e devastadoras. Mais que isso; as canções de Lou
tinham tudo a ver com meu conceito de música. Nessas canções de Lou rolava um
lance de assassinato do personagem. Ele tinha profunda identificação com os
personagens que relatava. Era o 'Método' atuando na canção.
O primeiro empresário do Velvet Underground foi o escritor e colunista de rock Al
Aronowitz, que o considerava um grupo de "marginais" e sua música, "inacessível".
Apesar disso, levou-o a tocar no Café Bizarre, quando Andy Warhol conheceu a banda
e se tornou o novo empresário. A partir daí, o Velvet passou a ficar conhecido pela
vanguarda artística de Nova Iorque, composta por poetas, músicos, artistas plásticos e
cineastas. Estes criticavam o movimento hippie não só em termos musicais, mas
também visuais e em sua ideologia. As drogas e o sexo também faziam parte da
cultura dos "pré-punks", mas a cannabis e o LSD foram substituídos pela heroína e
anfetamina, enquanto que o sexo foi visto com uma liberdade ainda maior; muitos dos
artistas da época se assumiam bissexuais.
A cantora Nico (que também atuou em filmes de Fellini) fez parte do Velvet no
primeiro disco da banda, mas havia muitos desentendimentos entre Reed e ela.
Considerado o líder do Velvet, Reed sempre desejou seguir em carreira solo; após o
lançamento desse primeiro disco, desmanchou a banda. Mas a transgressão de valores
e a "crueza" de suas canções transformaram Lou Reed no "padrinho do punk", como
comparam McNeil e McCan (id., ibid., p. 437). Nas palavras de Lou Reed: "O velho
som era alcoólico. A tradição foi finalmente quebrada. A música é sexo, drogas e
alegria. E a alegria é a piada que a música entende melhor. (id., p. 30)
Por volta de 1967, outra banda surgiu para complementar a cena "pré-punk" da
América: os Stooges. Liderada por Iggy Pop, esta banda começou quando o mesmo
decidiu fazer "seu próprio blues simples" e compôs a música I wanna be your dog.
Além disso, outra influência definitiva para Iggy decidir fundar sua banda foi Jim
Morrison; apesar de não gostar do som e da poesia dos Doors, ele admirava a postura
sensual e misteriosa de Morrison. Assim, juntando a vontade de criar uma nova
sonoridade para o rock à preocupação com o visual das banda nas apresentações ao
vivo, os Stooges, marcaram o início de um movimento que culminaria com o punk
rock. O primeiro guitarrista da banda, Ron Asheton, caracteriza a sonoridade da banda
em sua primeira apresentação (id., p. 57):
A gente inventou alguns instrumentos que usou no primeiro show. A gente pegou um
liquidificador com um pouco de água e colocou um microfone bem embaixo dele e
ligou. Tocamos isto por uns quinze minutos antes de entrar no palco. Era um som
incrível, especialmente saindo das caixas de som, todo desconjuntado. A gente tinha
uma tábua de lavar roupa com microfones. Então Iggy calçava sapatos de golfe e
subia na tábua de lavar e ficava meio que arrastando os pés por ali. A gente pôs
microfones nos galões de sessenta litros de óleo (...) usou dois martelos como
baquetas. Peguei emprestado até o aspirador de pó da minha mãe porque o som
parecia o de um motor a jato. Sempre adorei aviões a jato.
A influência do glitter rock era visível nas caracterizações dos artistas da época. Para
essa primeira apresentação, Iggy se vestiu com um "grande camisolão" que ia até os
tornozelos, pintou a cara de branco, raspou as sobrancelhas e colocou uma peruca de
folha de alumínio torcida. Scott Asheton, o baterista da banda, conta que veio daí o
apelido Iggy Pop (id.):
Nós tínhamos um amigo chamado Jim Pop (...) que havia perdido quase todo o cabelo,
incluindo as sobrancelhas. Por isso, (...) a gente começou a chamá-lo de Pop. (...)
Iggy começou a suar e aí descobriu pra que servem as sobrancelhas. Perto do fim do
show, os olhos dele estavam totalmente inchados por causa de todo aquele creme e
purpurina.
Contemporâneos dos Stooges o MC5 era uma banda marcada pelo radicalismo político.
Musicalmente, este grupo não apresentava muita inovação (o que ficava por conta dos
Stooges), mas seu surgimento foi importante para firmar o que viria a ser a
característica de muitas bandas de punk rock: a crítica de oposição ao governo.
O MC5 tocou na convenção do Partido Democrata em Chicago, em 1968, mas foram
expulsos do local por policiais. Na época, ele viviam em repúblicas estudantis que
pareciam "comunas vikings", onde todos liam o Livro Vermelho de Mao Tse-Tung. Eles
faziam parte do movimento dos Panteras Brancas, que, apesar da política de
revolução, também cultivavam uma postura sexista, de submissão das mulheres.
Outros artistas que também contribuíram para a formação da identidade punk foram
Patti Smith e os New York Dolls.
Inicialmente envolvida apenas com a poesia, Patti Smith foi uma das primeiras a
circular por Nova Iorque com roupas e cortes de cabelo diferentes. Uma grande
admiradora de Rimbaud, ela também poderia ser uma das precursoras da ideologia
punk do it yourself (faça você mesmo), já que, em muitos casos, improvisava seus
versos durante as apresentações de poesia.
O New York Dolls adaptou o exagero do visual e da androginia glitter até mesmo na
sua denominação - dolls=bonecas, enquanto sua música minimalista ganhava cada vez
mais admiradores. Eles passaram a fazer shows na Inglaterra, onde imprimiram um
som contrário ao progressivo que dominava o cenário do rock na época.
Em 1975, Legs McNeill junta-se a dois amigos que tinham o projeto de fundar uma
revista, a qual ele chamou Punk. Nas palavras do próprio autor, “‘punk’ pareceu ser o
fio que conectava tudo que a gente gostava – bebedeira, antipatia, esperteza sem
pretensão, absurdo, diversão, ironia e coisas com um apelo mais sombrio”.(id. p.222)
Assim, aquele estilo musical que se definia no cenário norte-americano desde 1971,
recebeu um nome. E a partir do ano do surgimento da Punk, a banda que sintetizaria o
movimento também despontou no cenário norte-americano: os Ramones.
Rock em Três Minutos
O Ramones formou-se em 1974, em Nova York, quando as “canções de dois minutos e
meio” de Joey (vocal), Johnny (guitarra) e Dee Dee (baixo) começaram a chamar
atenção na emergente cena punk.
A denominação “Ramones” veio do baixista DeeDee, a partir de uma referência a
Paul McCartney, que nos primeiros anos da carreira dos Beatles, usava o
codinome “Ramon”. O mesmo costume foi adotado para os integrantes da banda, que
recebiam o sobrenome Ramone.
Em 1976, com o baterista Tommy Ramone já incluído na banda, os Ramones
ocupavam lugar de destaque no cenário musical, com canções como Beat on the Brat,
Blitzkrieg Bop e Now I Wanna Sniff Some Glue. Assim, neste mesmo ano o grupo
viajou à Inglaterra, injetando ao nascente movimento punk deste país o mesmo
estímulo do cenário norte-americano. Ainda em 1976, Ramones Leave Home, o
segundo álbum da banda, foi lançado.
A partir desta época, a banda fazia turnês incessantemente. Para os próximos
lançamentos, o Ramones “suavizou” sua sonoridade. Músicas como Sheena is a Punk
Rocker e Rockaway Beach foram incluídas em Rocket to Rússia, o terceiro álbum, de
1977 – em que também está presente a balada Here Today, Gone Tomorrow. Nesta
época, Tommy deixou o grupo, preferindo a atividade de produtor dos Ramones.
Tommy foi substituído por Marc Ramone; seu primeiro disco com a banda, Road to
Ruin, foi o primeiro a conter somente doze canções e durar mais de uma hora e meia.
Este álbum não teve muita aceitação por parte do público, apesar dos esforços de
divulgação – nem mesmo o lançamento simultâneo do filme Rock’n’Roll High School
trouxe prestígio a esse disco.
Nos anos 80, os Ramones tentaram maior apelo comercial com o lançamento de End of
the Century e Pleasant Dreams, mas essa tentativa mostrou-se ilusória. A energia dos
anos 70 voltou no disco lançado em 1984, Too Tough to Die, O baterista Marky
Ramone havia deixado o grupo nesta época, sendo substituído por Richie Ramone,
mas em 1987, Marky retornou ao grupo.
Em 1989, os Ramones ganham grande exposição com a música Pet Sematary, trilha
sonora de um filme de Stephen King. No entanto, essa mesma época marca uma das
substituições mais significativas da banda: Dee Dee Ramone, o “punk mais verdadeiro”
do grupo, sai para tocar com o Chinese Dragons. Em seu lugar, entrou C.J. Ramone;
essa substituição trouxe uma “energia juvenil” ao som da banda, mas a saída de Dee
Dee foi muito sentida pelos fãs e pelos próprios integrantes do Ramones.
Nos anos 90, a presença do Ramones no cenário do rock, assim como do punk rock em
geral, foi sendo subjugada pela exposição de grupos representante de outros estilos. O
derradeiro álbum, Adios Amigos, é de 1995.
O Ramones foi fundamental para definir os contornos do punk rock e seus
descendentes, constituindo referência para vários grupos que despontaram no cenário
do rock nas últimas décadas. Em 15 de abril de 2001, Joey Ramone morre em um
quarto de hospital, depois de seis anos com um câncer linfático. Sua morte
representou uma perda irreparável para o rock em geral.
Anarquia para o Rock’n’roll
A expansão do punk rock para a Inglaterra (vide o sucesso dos Dolls naquele país)
provocou o surgimento de grupos como Sex Pistols e The Clash. Os primeiros surgiram
em 1975, mas seu primeiro single, Anarchy em the U.K. foi lançado um ano depois,
quando fecharam contrato com o maior selo da Inglaterra, a EMI.
Anarchy in the U.K. caracterizou-se pelo ataque à tradição a à autoridade, comuns na
estética punk. Os integrantes da banda freqüentemente incitavam a platéia de seus
shows, como pode ser exemplificado com a frase do vocalista Johnny Rotten a uma
platéia em abril de 1976 : “‘Eu aposto que vocês não nos odeiam com a mesma
intensidade com que nós odiamos vocês!’” (Friedlander, 2002, p. 356)
The Clash começou em julho de 1976, depois que Joe Strummer viu uma apresentação
dos Pistols e decidiu formar uma banda, que “transcendeu” a simplicidade e
agressividade do punk. O Clash envolveu-se com o ativismo político, criticando o
imperialismo e o racismo e influenciou-se por outros ritmos, como o reggae.
A Diluição do Punk
O caráter de adaptação do punk rock ao mainstream, no qual o Clash foi um dos
representantes, formou uma nova tendência que tomou conta do cenário musical da
década de 80: a new wave. Esta definição foi inventada pela imprensa, para designar a
fusão do punk e a música pop, em que elementos de um e outro encontraram-se na
sonoridade de um mesmo grupo (ou artista solo).
As letras destes grupos adotavam a atitude punk de crítica à sociedade, mas sem o
elemento de choque. O visual e a performance de palco também foram resgatados do
punk.
As bandas inglesas da primeira síntese da new wave foram o Police, o Jam, Billy Idol,
Joe Jackson e o Pretenders (que contava com a cantora norte-americana Crissie
Hynde). Um dos principais artistas desta onda, que influenciou outros posteriormente,
foi Elvis Costello. Ele foi um dos que passaram a utilizar os sintetizadores em suas
composições.
Programador de computadores, vivendo com mulher e filho no subúrbio, ele nutria
aspirações artísticas e compunha com a ajuda de um Fender Jazzmaster. Descoberto
por um caçador de talentos, se tornou da noite para o dia a nova atração do rock
inglês (com o grupo The Attractions). (MUGGIATI, 1985, p. 87)
Nos Estados Unidos, a new wave também se desenvolveu, com os grupos Talking
Heads, Cars, Devo, B-52 e o Blondie – o grupo da vocalista Debbie Harry e um dos
mais representativos deste estilo. O Blondie, junto com o Pretenders, representou a
ascensão feminina no rock.
Em 1980, a fusão punk-pop “estava apenas florescendo nas rádios; em poucos anos,
entretanto, ela teria proliferado e invadido a mídia. O ingrediente-chave do sucesso da
new wave era a ligação da música com o vídeo...” (FRIEDLANDER, 2002, p. 369) A
institucionalização dessa dinâmica se deu com o nascimento da MTV, em 1981. Esse
canal de televisão passou a divulgar videoclipes da mesma forma que as rádios
executavam as músicas, sendo que o papel de apresentador, desempenhado pelos
VJ’s, tomou o lugar dos DJ’s. Assim, com a MTV, a new wave encontrou um
instrumento eficaz para sua divulgação, mas a música comercial logo tomou conta da
programação do canal.
Antes de continuar descrevendo o cenário dos anos 80, é preciso voltar um pouco no
tempo, quando a dance music surgiu (em meados de 1970) entre os menos radicais,
que não se encaixavam na estética punk. Entre os ícones da época, estão grupos como
os Bee Gees e o Abba, a primeira banda sueca a fazer sucesso fora do país. Outros
artistas também passaram a fazer parte do cenário, como Diana Ross e Olívia NewtonJohn.
Entretanto, os mega astros Michael Jackson e Maddona foram os que realmente
trouxeram ao pop uma verdadeira “força impulsionadora” para os anos 80, realizando
a fusão da dance music com outros elementos que se relacionassem à dança, ao
movimento.
Conhecido anteriormente, quando ainda era um astro infantil (integrante do Jackson
5), Michael gravou seu nome através da dança, os vídeos de suas apresentações ao
vivo e também os rumores em torno de sua vida pessoal. O álbum Thriller, de 1982,
foi o disco mais vendido da história da música, com mais de 40 milhões de cópias.
Thriller era um prato cheio para o mainstream do pop/rock: um talentoso compositor e
contador de histórias; um dançarino perfeito e inovador, que criou um estilo de dança
combinando imagens de hip hop, Broadway e discoteca (incluindo o moonwalk),
músicas com batidas bem marcadas; uma composição de músicas rápidas e baladas;
participações dos astros contemporâneos Paul McCartney (...) e Eddie Van Halen...
(FRIEDLANDER, 2002, p. 378)
Enquanto Jackson refletia sua importância através da síntese entre “discoteca, funk e
hip hop”, Maddona ascendeu nesta mesma época provocando polêmica com temas
como “raça, sexismo, atividade sexual, orientação sexual e poder”. Ela também
percebeu a força dos videoclipes como instrumento promocional para seus discos e
passou a explorar imagens que provocavam discussões morais.
Maddona aparece em Like a Virgin em uma camisola branca nupcial, mas seus
movimentos são eróticos. Quem é ela, virgem ou prostituta? É Marilyn Monroe? As
roupas que ela veste nos shows são um mero modelito prostituta ou ela está
redefinindo a moda e o poder sexual? (id. p. 379)
QUANTO MAIS ALTO MELHOR
Enquanto astros do pop tomavam conta do cenário musical, o heavy metal também se
expandiu, até chegar à virada 1980/90 com uma profusão de subgêneros. A junção do
hard rock e o metal tradicional tornaram esse gênero o mais popular da década. No
fim da década de 70, surgiram grandes grupos de metal inglês, que se firmariam pós1980, como Iron Maiden, Samson, Def Leppard, Motorhead e Saxon - produtos da New
Wave of British Heavy Metal, liderada pelo Judas Priest.
As bandas de heavy metal consistem geralmente em bateria, baixo e uma ou duas
guitarras, mas a partir de 80, bandas como Van Halen ampliaram seu som com o uso
de teclados e sintetizadores. Outra característica comum a essas bandas era a energia
dos integrantes no palco, como pode ser verificado com os shows do Iron Maiden
(donzela de ferro), que recebeu esse nome em alusão a um instrumento de tortura
medieval. Depressão e juízo final, entre outros, são assuntos comuns nas canções da
banda - o último disco, Brave New World, leva o nome da clássica obra de Aldous
Huxley, Admirável Mundo Novo, que constitui uma fantasia sobre a humanidade no
futuro. O vocalista, Bruce Dickinson (que havia se separado do grupo em 1992 e
voltou quase dez anos depois) também conta com uma bem-sucedida carreira solo. A
alquimia figura entre seus temas favoritos, sendo que um de seus discos chama-se
Chemical Wedding.
O Iron Maiden constitui uma das bandas mais queridas dos críticos de heavy metal em
geral. Na época em que Dickinson deixou a banda, porém, o vocalista que o substituiu,
Blaze Bailey, foi alvo de muitas críticas negativas, tanto por parte dos fãs quanto
desses mesmos críticos. Atualmente, o Iron Maiden conta com três guitarristas em sua
formação, já que o antigo guitarrista, Adrian Smith, voltou ao grupo junto com Bruce
Dickinson.
O Def Leppard surgiu como um grupo de heavy metal, mas passou a utilizar efeitos
especiais que o desligaram deste gênero, mudando seu estilo. Em meados da década
de 80, o sucesso do Guns’n’Roses demonstrou a forte presença do metal; no início, o
metal era um estilo “cult”, como compara Friedlander (2002), mas acabou por ampliar
seu apelo, inserindo-se no mainstream.
A presença de palco de Axl Rose, vocalista do Guns’n’Roses, era marcante por seu
estilo de cantar e se movimentar durante as apresentações ao vivo. Appetite for
Destruction, de 1987, representou a mistura do hard rock com a emocionalidade do
blues. Após a separação da banda, só restou Axl Rose da formação original. A
apresentação do Guns no último Rock in Rio, em 2001, mostrou que ainda existem
muitos fãs da antiga fase. Apesar de músicas como Sweet Child O’ Mine e Welcome to
the Jungle agitarem a platéia, atualmente a presença do Guns’n’Roses é bem menor.
Outro estilo do metal que despontou na década de 80 foi o speed metal. Segundo
Friedlander, o exemplo mais bem sucedido dessa tendência foi o Metallica – banda que
combinou um destacado trabalho de guitarra com execuções rápidas e sincronizadas.
Com a profusão de estilos do heavy metal, entretanto, categorizar uma banda tornouse tarefa difícil; muitos críticos e até mesmo fãs do Metallica poderiam classificar a
banda como uma representante do thrash metal.
O speed metal também contou com a representatividade do guitarrista sueco Yngwie
Malmsteen. Seus solos, marcados por velocidade e precisão, refletem a influência do
guitarrista na música clássica; na juventude, Malmsteen estudou violão clássico e
piano.
Um dos maiores expoentes para o thrash são os integrantes do Sepultura – banda
brasileira de grande repercussão no exterior. Os vocais rosnados e o peso da guitarra e
bateria caracterizam o som dessa banda, formada no início dos anos 80, influenciada
por Black Sabbath e Venom. Quando Max Cavalera saiu da banda, em 1997 (para
formar o Soulfly), um novo vocalista foi adicionado ao grupo – o norte-americano
Derrick Green. Embora muitos ainda sintam a falta de Max, Derrick provou ser um
bom substituto.
O heavy melódico foi outra vertente deste gênero que cresceu nos anos 80,
expandindo-se na década seguinte, inclusive com a presença de bandas brasileiras –
que se aproveitaram da aceitação do Sepultura no exterior para ampliar seu mercado.
Bandas como Helloween e Gamma Ray (Alemanha), Raphsody (Itália), Viper e Angra
(Brasil) são algumas das representantes do metal melódico, caracterizado por músicas
de melodias fortes, vocais de tons “operísticos” e virtuosismo com as guitarras. A
influência erudita também é detectada em alguns desses grupos, como os brasileiros
citados.
O Viper retrata o início da profusão do metal melódico no Brasil. O último disco com
participação do vocalista André Matos, Theatre of Fate, é de 1986. Após esse álbum,
Matos sai com a desculpa de estudar para ser maestro e forma o Angra – banda de
grande repercussão no Brasil e no exterior. O Japão, principalmente, mostrou-se um
bom mercado para os grupos de heavy metal melódico, especialmente para o Angra.
Apesar de encontrar-se alheio à música eletrônica, o heavy metal também sofreu a
influência desta “febre” dos anos 90. Assim surgiu o chamado alternative metal de
bandas como Korn, Soulfly e Limp Bizkit, que além das batidas eletrônicas, utilizam
linhas vocais “sincopadas”, como o hip hop e guitarras heavy metal.
O Estilo Certo na Hora Certa
Como explica o jornalista André Barcinski, “no início dos anos 80, Nova York criou um
monstro: o hardcore”. As bandas que despontaram nesse cenário eram ligadas a
gravadoras independentes, fanzines e shows em clubes locais, quando passaram a
ganhar atenção do público. As músicas caracterizavam-se por serem “simples”,
contrárias ao virtuosismo do heavy metal – gênero de forte presença naquela década.
Bandas como Murphy’s Law, Sheer Terror e Agnostic Front são algumas que surgiram
neste cenário. Esta última destacou-se como a pioneira do hardcore em Nova York,
quando passou a lotar os clubes da cidade.
O Agnostic Front formou-se em 82, quando algumas bandas de Los Angeles e San
Francisco (Black Flag e Dead Kennedys, respectivamente) já configuravam o cenário,
influenciadas pelo punk. O som da banda caracterizava-se pela velocidade dos riffs. Em
1986, com o disco Cause For Alarm, o grupo inaugura o gênero crossover, que
misturava thrash metal com hardcore.
Experiências pessoais e o retrato da vida de pessoas comuns são temas recorrentes ao
Agnostic Front. Em 1992, o baixista Craig Setari afirmou que “acredita na música como
instrumento de politização e de conscientização”, assim como os outros integrantes da
banda.
O movimento hardcore, entretanto, não resistiu ao tempo; como destaca André
Barcinski: “o tempo passou, o público se subdividiu em facções de gostos e tendências
variadas”. A violência dos shows foi um dos fatores para que estes deixassem de ser
agendados e muitas bandas acabarem. No entanto, em fins da década de 80, nasceu
um novo gênero, derivado da cena hardcore, que viria a representar um fenômeno
para os anos 90: o grunge.
Bandas como Mudhoney, Melvins, Tad, Soudgarden, L7 e a principal delas, Nirvana,
representavam o chamado “som de Seattle”, já que esta cidade caracterizou-se como
o “local de nascimento” de muitas bandas de rock nos anos 90. O Pearl Jam, ainda
hoje em atividade, também derivou-se deste som.
A gravadora Sub Pop foi a catalizadora da cena grunge, apesar de ter perdido grande
parte das bandas para gravadoras maiores já em 1992. Um dos fundadores, Bruce
Pavitt, credita o surgimento das bandas de Seattle “ao bom nível sócio-econômico dos
garotos da cidade, sem muitos problemas para comprar instrumentos ou discos”. Além
disso, Pavitt aponta a existência de vários clubes de hardcore, que tornaram possível a
um público jovem tomar contato com grandes bandas.
Nas palavras de Barcinski, o Mudhoney tornou-se a banda mais tradicional de Seattle,
“musicalmente falando”.
A banda entra no palco, toca uma música, pára, decide qual a próxima música e
detona. Nada armado, nenhum resquício de showbizz. São quatro caras, se divertindo
tanto quanto os outros cem, duzentos ou cinco mil à sua frente. (BARCINSKI, 1992, p.
114)
Uma das bandas que excursionou com o Nirvana, o Tad caracteriza-se pelo som “bem
barulhento”. Os riffs são meio lentos, “meio Black Sabbath” e as músicas são repletas
de microfonia. Em 1992, o Tad era a terceira banda que mais vendia discos pela Sub
Pop – atrás do Nirvana e do Mudhoney .
Mesmo que as bandas citadas sejam importantes para o grunge, o Nirvana tornou-se o
representante mais importante para esse estilo e, na opinião de muitos críticos,
músicos e fãs, uma das maiores bandas que já existiram.
“ Fede a Espírito Adolescente”
Kurt Cobain e Krist Novoselic encontram-se em sua cidade natal – Aberdeen,
Washington – em 1985, quando resolveram formar uma banda. Kurt tocava bateria e
Krist tocava baixo; as guitarras ficavam por conta de algum amigo que aparecesse
para tocar.
Considerado o líder do Nirvana, desde criança Kurt falava que seria um astro de
rock. Seu interesse por música veio desde cedo; sua tia Mary havia lhe dado um
disco dos Beatles e seu tio Chuch, sua primeira guitarra. Ele começou a ter aulas na
adolescência, quando se interessava por heavy metal e aprendeu a tocar Stairway to
Heaven (Led Zeppelin) e Black in Back (AC/DC). Embora não afirmasse nas
entrevistas, o primeiro show de rock da vida de Kurt foi o de Sammy Hagar (ex- Van
Halen).
Mas foram as raízes punks e hardcore que definiram o som do Nirvana. Em meados da
década de 80, bandas como os Melvins e Sonic Youth, atraíam muitos fãs, sendo que
Kurt Cobain tornou-se um deles.
Em 1987, Cobain e Novoselic juntaram-se a Chad Channing, que ficou com o
posto de baterista; Kurt tornou-se vocalista e guitarrista da banda. Logo, eles
passaram a apresentar-se em festas e clubes fora de Aberdeen. A gravadora Sub Pop
interessou-se pelo som do Nirvana e os contratou; o primeiro disco, Bleach, saiu em
1989.
O nome original de Bleach era Too many humans; a mudança definitiva foi inspirada
em um cartaz de prevenção à AIDS em San Francisco: “Bleach your works”, algo como
“desinfete suas agulhas”. Este álbum foi produzido por apenas seiscentos dólares; os
integrantes do Nirvana tinham muitos problemas para conseguir dinheiro, viviam
arrumando empregos temporários ou vendendo objetos pessoais. Kurt, mais de uma
vez, chegou a morar dentro do carro.
Ainda antes do lançamento do segundo disco, em 1991, Kurt já apresentava problema
com as drogas, o que percorreria toda a trajetória do Nirvana. Segundo Kurt, a heroína
(que havia experimentado um ano antes) o ajudava a fugir de suas dores de
estômago, que o atormentavam.
Quando Nervermind foi lançado, Chad Channing já havia sido substituído por Dave
Grohl, ex-baterista da Scream. Finalmente, Kurt e Krist haviam encontrado na fúria da
bateria de Grohl, o elemento fundamental para fazer a “magia do Nirvana funcionar”.
Este ano, Nevermind tirou o disco Dangerous, de Michael Jackson, do topo das paradas
americanas, enquanto seguia-se a deterioração física e metal de Cobain,
Transformado em hino grunge, Smells like teen spirit, (na época veiculado
incessantemente pela MTV), é uma das canções de Nevermind. Esta expressão
significa “fede a espírito adolescente” e constava de uma pichação nas paredes do
quarto de Cobain. Para essa composição, ele se inspirou em Tobi Vail, uma antiga
namorada que usava um perfume chamado “Teen Spirit”.
Nesta época, o Nirvana já havia alcançado grande popularidade; eles eram chamados
para muitas entrevistas e acabaram por realizar uma apresentação no programa
“Saturday Night Live”. No entanto, quanto mais fãs do Nirvana surgiam (e quanto mais
shows ele faziam), mais Kurt Cobain isolava-se em seu próprio mundo, induzido pelas
drogas.
A gravação do terceiro álbum do Nirvana foi adiada, devido a problemas de saúde de
Kurt; ele foi hospitalizado várias vezes com problemas crônicos de estômago. Em
1991, a banda havia assinado contrato com a Geffen Records, que lançou no ano
seguinte Incesticide, uma compilação de lados B do grupo. Esse álbum serviu para
aplacar a ansiedade dos fãs, que aguardavam por material novo do Nirvana.
Em 1993, finalmente é lançado In Utero, terceiro disco do Nirvana. Para as letras das
canções desse álbum, Kurt inspirou-se em sua família, da qual já faziam parte
Courtney (eles se casaram em 1992) e sua filha Frances. A música Heart-Shaped Box
originou-se de uma caixa de papel de seda que Courtney havia lhe dado logo que se
conheceram. Em setembro deste mesmo ano, o Nirvana seguiu por uma turnê de três
meses pela América do Norte, além de gravar o MTV Acústico.
In Utero constitui o trabalho preferido de Novoselic, assim como o de muitos críticos.
Imagens de nascimento, morte, sexualidade e vício são retratadas nas músicas desse
disco. A letra de Milk It reflete alguns desses elementos: “Her milk is my shit/My shit is
her milk” (“O leite dela é minha droga/ Minha droga é o leite dela”). Em outro verso
desta canção, vem a alusão a um tema que passava pela cabeça de Kurt desde o
colegial: “Look, on the bright side is suicide” (“Olhe, no lado bom está o suicídio”)
(CROSS, 2002, p. 323)
Depois do lançamento do terceiro disco, o Nirvana embarcou para uma turnê pela
Europa no início de 1994, apesar de Cobain encontrar-se cansado das viagens - em
Roma, ele tem uma overdose e as apresentações da banda são canceladas em
fevereiro.
Ao voltar para os Estados Unidos, Kurt Cobain foi internado em um clínica de
reabilitação em Los Angeles. Tentativas posteriores já haviam sido frustradas (como na
época em que sua filha nasceu) e essa não foi diferente. No dia 1º de abril ele foge da
clínica e se esconde na estufa de sua casa, em Seattle. Depois de uma semana sem
que ninguém de sua família ou da banda soubesse do seu paradeiro, ele é encontrado
morto, com a marca de um tiro de espingarda auto infligido contra o céu de sua boca.
A autópsia encontrou altos níveis de tranqüilizantes e heroína no sangue de Kurt, que
dificilmente o manteriam vivo mesmo que ele não tivesse atirado em si mesmo. “Kurt
conseguira se matar duas vezes, usando dois métodos igualmente fatais.” (id. p. 411)
Neste dia, Courtney encontrava-se em tratamento para sua dependência química em
uma clínica; mais tarde, ela leria partes do bilhete de suicídio para os fãs do Nirvana,
que como ela, estavam inconsoláveis:
Faz muitos anos agora que não sinto entusiasmo ao ouvir ou fazer música, bem como
ao ler e escrever. (...) Por exemplo, quando estamos nos bastidores e as luzes se
apagam e o rugido maníaco da multidão começa, isso não me afeta do modo que
afetava a Fred Mercury, que parecia amar, saborear o amor e a adoração da multidão.
(...) Obrigado a todos do fundo do poço do meu nauseado e ardente estômago por
suas cartas e preocupações nos últimos anos. (...) Não tenho mais a paixão e,
portanto, lembrem-se, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. (id. p. 403)
Krist também divulgaria uma mensagem para os fãs, em que pedia a todos que se
lembrassem de Cobain pelo que ele sempre foi, “afetuoso, generoso e terno” e que
guardassem a música do Nirvana: “nós a teremos para sempre conosco”.
Com o fim do Nirvana, após a morte de Kurt Cobain, Novoselic e Grohl partiram em
carreiras separadas, sendo que Grohl tornou-se o mais bem sucedido, formando o Foo
Fighters em 1995. O álbum de estréia do grupo foi um revigorante ponto de partida
após os “torturados caminhos do Nirvana”.
A Inglaterra em Evidência
No início da década de 90 desponta mais um novo gênero musical vindo do Reino
Unido. O chamado britpop tem as bandas Blur e Oasis como representantes
significativos, sendo que este último foi o desencadeador do movimento.
Em 1991, em Manchester, Inglaterra, surgia a banda Rain, formada por Liam Gallagher
(vocal), Paul “Bonehead” Arthurs (guitarra), Paul “Guigs” McGuigan (baixo) e Tony
McCarrol (bateria). Logo, o irmão mais velho de Liam, Noel Gallagher, entra na banda
como vocalista e compositor, renomeando o grupo como Oasis.
Em 1994, eles lançam o primeiro disco, Definitely Maybe, pela Creation Records. A
gravadora os contratou após um dos empresários assistir a uma apresentação do Oasis
e impressionar-se com o grupo. Este primeiro disco logo ultrapassou um milhão de
cópias fora do Reino Unido, entrando para a história como o disco de lançamento de
um banda que mais rapidamente alcançou uma vendagem tão alta.
Assim, logo o Oasis tornou-se a banda inglesa mais popular dos anos 90, ganhando
uma legião de fãs que lotavam seus shows. Nos Estados Unidos, conquistaram espaço
com a veiculação pela MTV dos vídeos Live Forever e Supersonic.
A euforia inicial em torno do Oasis, entretanto, não deixou que tensões quase
acabassem com a banda: os irmãos Gallagher passaram a brigar constantemente,
o grupo começou a atacar o Blur pela imprensa e o baterista Tony McCarrol deixa a
banda em 1995.
Mesmo após esse abalo, o ego dos Gallagher não pareceu abalar-se; o grupo ficou
marcado por declarações arrogantes, em que se consideravam como “os melhores” (foi
assim desde a primeira vez em que tocaram juntos).
O segundo álbum, (What’s the Story) Morning Glory? de 1995, foi lançado quando
passou a fase de turbulência, trazendo boas novas para o grupo. Neste disco, McCarrol
já havia sido substituído por Alan White. ...Morning Glory? rapidamente alcançou o
primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e tornou-se o segundo álbum mais vendido
da história da música britânica. É deste disco a música Wonderwall, repetidamente
veiculada pela MTV e pelas rádios. Ainda para reforçar a boa fase, o sucesso do
segundo álbum rendeu disco de ouro em vários países.
Os próximos anos foram de grande produção para a banda: em 1997, é lançado Be
Here Now e no ano seguinte, The Masterplan. O ano de 2000 trouxe dois álbuns:
Standing on the Shoulder of Giants e o duplo Familiar to Millions.
O sucesso do Oasis foi único na Inglaterra, na medida em que foi a primeira banda a
caracterizar o britpop. Impulsionados por essa onda, vários grupos ingleses
despontaram no cenário, representando a força de um novo movimento.
Chega-se ao Fim da História?
Meados da década de 90 ainda iria trazer o rock alternativo- um desenvolvimento do
brit pop. Nesta época, a Inglaterra firma-se como um terreno fértil para o nascimento
de bandas deste estilo, que caracterizou-se por uma sonoridade intimista: músicas
mais lentas (sem solos de guitarra ou bateria), letras depressivas e vocais monótonos.
Elementos da música eletrônica também são encontrados em alguns grupos como
Fatboy Slim, Prodigy e Moby.
O Radiohead lançou o aclamado disco Kid A, passando a figurar no cenário alternativo
da Inglaterra como uma das bandas mais aclamadas pelos críticos.
Mas os Estados Unidos logo se juntaram à Inglaterra no desenvolvimento do rock
alternativo. Uma banda de grande influência para o movimento foram os norteamericanos do Pavement, que surgiu no início da década de 90. O disco Slanted and
Enchanted, de 1992, foi bem recebido tanto pelos fãs quanto pela imprensa.
Um procedimento comum no que diz respeito ao lançamento de bandas de rock
alternativo, foi a alternância entre os Estados Unidos e a Inglaterra – o que continuou
em fins de 1990. No início do novo século, despontou um novo movimento
denominado por muitos de “novo rock”.
Como destaca o jornalista e crítico musical Lúcio Ribeiro, algumas bandas são
importantes personagens deste movimento: os suecos do The Hives, os norteamericanos Strokes e os australianos The Vines. Os primeiros influenciaram-se pelas
guitarras “toscas’ do punk rock, até que em 1993 começam a se apresentar em bares
europeus e chamam a atenção da imprensa inglesa.
Os Strokes foi aclamada por muitos como “a salvação do rock”; exageros à parte, a
banda possui uma sonoridade básica e cru (com influência de Velvet Underground),
além do visual e atitude típicos de Nova York. O carisma do grupo também é outro
ponto a favor dos Strokes.
E assim, marcado principalmente pelo som das bandas de rock alternativo – e pela
influência da música eletrônica - o rock inaugurou o século XXI.
História do Rock (2)
Surgimento
Resumidamente é uma combinação de elementos blues, boogie-woogie, jazz e rhythm
and blues. Até os anos 50 era feito predominantemente por negros norte-americanos.
Foi necessário criar um novo termo - rock'n'roll - e acrescentar o estilo
country'n'western para despistar a sociedade branca e racista. O rock surge em
meados de 1954 no sul dos Estados Unidos, quando um cantor branco com possante
voz de negro entra num estúdio em Memphis chamado Sun Records para gravar
acompanhado de um baixo, bateria e guitarra, que até hoje é a formação básica de
uma banda de rock. O cantor era Elvis Presley e "That´s Alright, Mama" foi uma das
músicas gravadas. Reza a lenda que alguém do estúdio perguntou com quem que Elvis
se parecia e ele respondeu que não se parecia com ninguém. Outros elegem Chuck
Berry ou até Bill Haley & His Comets como os inventores do rock. Mas isso não é
provado, nunca saberemos quem foi a primeira banda de rock. A única certeza é que
Elvis popularizou o rock e o tornou mais sexy, Bill Haley & His Comets foram uma das
primeiras bandas de rock e Chuck Berry foi a base para todos os grandes guitarristas.
Outros nomes importantes: B.B. King, Jerry Lee Lewis e Little Richard.
Invasão Britânica
No início dos anos 60 o rock estava integrado ao sistema e seus ídolos mortos, como
Buddy Holly, domesticados, como Elvis depois de servir o exército ou mesmo presos
como Chuck Berry, mas no outro lado do Atlântico, na Inglaterra, apareceram os
Beatles, que se formaram no final dos anos 50, mas só lançaram seu primeiro
compacto - Love me do- em 1962, e depois os Rolling Stones formado em 1962
(primeiro álbum lançado em 1964). Esses grupos deram nova vida ao rock e mesmo o
salvaram do imobilismo.
Bob Dylan e o Folk Rock
Bob Dylan era o mais talentoso compositor de folk music, e não usava guitarra
elétrica, até que em 1965 aderiu ao rock´n´roll e nos seus discos Highway 61
Revisited de 1965 e Blonde on Blonde de 1966 influenciou o estilo com letras poéticas
e uma mistura de folk, rock e de blues. Com Dylan as letras passaram a ser
consideradas literatura e os beatnicks e a vanguarda artística começaram a se
interessar pelo rock. O grupo Byrds então começou a tocar música de Dylan com a
levada dos Beatles e foi a banda de maior sucesso do folk rock. Posteriormente
apareceu a banda Crosby, Stills, Nash and Young, da qual saiu Neil Young, que
começou com o folk rock e nunca o abandonou totalmente, mas seu uso da guitarra o
tornou o precursor do grunge. Brian Wilson, o gênio por trás do grupo Beach Boys,
estava decidido a fazer um disco inteiro conceitual, e não apenas uma colagem de
singles, como era costume na época. Então, fizeram Pet Sounds, um dos mais lindos
álbuns da história do rock
Os hippies e o Rock Psicodélico
Na Califórnia e depois em Londres começaram a surgir os hippies, que pregavam a paz
e o amor e a livre experimentação das drogas para uma maior abertura da mente. Os
jovens se vestiam com roupas coloridas, pregavam o amor livre e se interessavam
pela filosofia indiana. Vários grupos compuseram canções sobre o uso de drogas, como
os Beatles em Lucy in the sky with diamonds e os Byrds em Eight miles high. Na
verdade, Lucy in the sky with diamonds gerou polêmica pois supostamente aludia o
uso de drogas, mas John Lennon afirmou que a música foi escrita com base num
desenho de mesmo nome feito pelo seu primeiro filho (Julian Lennon) e no livro Alice
no País das Maravilhas. Nos Estados Unidos surgem o Grateful Dead, Janis Joplin e na
Inglaterra o Pink Floyd, que em seus dois primeiros discos fez um rock psicodélico.
Estilos do Rock
Década de 50: Rebeldes bem vestidos
Como dito anteriormente, uma mistura de jazz, woogie boogie, R&B e country, o rock
and roll sempre causou problemas, porque misturava os pobres, os ricos e a classe
média mais do que nenhum estilo anterior e representava a mente rebelde daqueles
que eram jovens demais para ir à 2ª Guerra Mundial e viram famílias serem destruídas
•
Rockabilly: Conhecido como country-soul, foi o estilo de rock de Carl Perkins,
Gene Vincent, Eddie Cochran, Johnny Burnette e Dorsey Burnette.
•
Country rock: é conhecido também como o lado “caipira” do rock. É bem
parecido com o Rockabilly, e suas maiores estrelas foram Bill Halley, Jerry Lee
Lewis, Johnny Cash e Bob Luman.
•
High-School rock: Um estilo de rock racista. Ele veio para substituir a música
negra, aproveitando suas batidas animadas e as melodias contagiantes. As
grandes gravadoras lançaram cantores e cantoras brancas, todos eles
bonitinhos e bem educados, quase sempre regravando sucessos dos negros.
•
Classic rock: Esse tipo de rock é uma mistura de vários outros tipos de músicas
sejam elas rock’n roll ou não. Seus maiores representantes foram Elvis Presley,
Chuck Berry, Bo Diddley.
[
Década de 60: Drogas, genialidade e atitude.
Momento mais popular e prolífero do rock, trazia as idéias de quem tinha visto o rock
surgir e de quem não havia conseguido sucesso na década anterior, o movimento antiguerra e as drogas, combinados deram origem ao pensamento dessa década.
•
Psicodelismo/Acid rock: O acid rock, buscava reproduzir os efeitos da maconha
e do LSD usando distorções, pedais de efeito, teclados, escalas hindus ou muito
volume. Os seus principais nomes do acid rock foram os grupos The Doors,
Jefferson Airplane, Grateful Dead, Love e Jimi Hendrix. No psicodelismo,
pressupõe se que não seja necessário tomar ácido para fazer acid rock,
bastando usar distorção e efeitos "viajantes".
•
Rock experimental: Um rock que misturava elementos de vários estilos
musicais, associáveis ao rock ou não. Costuma ser confundido com o
progressivo e/ou psicodélico, embora rock experimental seja a melhor
denominação. Caracteriza-se pela complexidade musical, menor que a do rock
progressivo, mas ainda assim elevada. Beatles(fase final), Iron Butterfly, Jimi
Hendrix, Frank Zappa e vários outros encaixam-se nessa categoria.
•
Rock progressivo: Músicas de longa duração, desde os quatro minutos até os
discos de uma única faixa; utilização e apropriação de elementos de vários
estilos não comumente associados ao rock: a música folclórica (do país da
banda em questão), o jazz, a música erudita, o blues, etc. Exemplos mais
ilustres: Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer, Pink Floyd, Marillion, King
Crimson, Rush. Marcantes na evolução do rock nos anos 60 foram os festivais
de música, como o de Woodstock em que se apresentaram nomes como Jimi
Hendrix e Santana e o de Monterey, que teve a presença de Janis Joplin. No
Brasil, essa evolução do rock surgiu com A Bolha em 1965.
•
Surf music: Com pegadas fortes e distorcidas, e com traço principal o reverb
(eco). Muitas das bandas são apenas instrumentais, podendo haver apenas o
contrabaixo, bateria e guitarra. Dois dos principais representantes do estilo são
Dick Dale e Surfaris. Na atualidade, podemos considerar a banda Los
Straitjackets, e no Brasil Retrofoguetes. É importante não confundir Surf music
com Surf rock, onde temos os Beach Boys.
•
Ópera rock: Estilo de rock que conta histórias com muitos minutos. As óperas
mais famosas incluem Tommy e Quadrophenia, do The Who, Arthur, do The
Kinks, S.F. Sorrow, do The Pretty Things e The Wall, do Pink Floyd.
•
Garage rock: Para estes roqueiros, celebridade e muita grana importavam ainda
menos que sofisticação musical, qualquer um pode fazer rock de garagem,
basta ter instrumentos, saber três acordes ou marcar um 4/4 e uma garagem
ou quarto. É também conhecido como proto-punk, já que o punk foi inspirado
nesse estilo. O estilo é conhecido, basicamente, pelas composições "Wild
Thing", da banda inglesa The Troggs, e "Leader of the Pack", das americanas
The Shangri-Las.
•
Blues rock: Esse estilo de rock contém extrema influência de blues, Rolling
Stones, Janis Joplin, Doors, Cream e The Who são os precursores. Deu origem
ao hard rock. Considerado por muitos um estilo purista.
[editar]
Década de 70: Rebeldia, peso e salto alto
No final da década de 60 houve um retorno a um rock mais direto e primitivo, como
uma resposta daqueles que não gostavam da psicodelia, sendo que como resultado a
psicodelia sumiu, deixando somente o seu "filho": o rock progressivo.
•
Hard rock: O estilo que marcou esta década combinava perfeitamente a
modernidade do alcançada com o rock e o clássico, além de estilos como blues
e jazz. As bandas conhecidas como a tríade que deram início ao movimento
foram: Led Zeppelin (praticamente, o criador do hard rock) Black Sabbath e
Deep Purple (para cujo estilo foi cunhado o termo heavy metal, para fins de
definição), mas nomes como AC/DC, KISS, Queen, Rainbow, Whitesnake, Grand
Funk Railroad, Blue Cheer, Aerosmith, Guns 'n Roses e Van Halen também
acompanharam o estilo.
•
Glam rock: Rock com purpurina e salto alto, os nomes mais conhecidos
internacionalmente são: New York Dolls, Gary Glitter, T-Rex, David Bowie, Roxy
Music, Slade, Heart etc. No Brasil o grande representante do Glam Rock foi o
grupo Secos & Molhados, que surgiu nos anos 70.
•
Punk rock: O punk rock foi o estilo que surgiu no final dos anos 70, quando o
rock estava sofrendo um momento de impopularidade e as apresentações ao
vivo não estavam fazendo muito sucesso. Pregava o jeito "eu não sei tocar mas
vou aprender ao vivo mesmo" de fazer música, em direta oposição ao som
extremamente esmerado do progressivo. Defendia a rebeldia e de certa forma
herdou do rock a crítica social. Como principais nomes podem ser citados: Iggy
Pop & The Stooges (os primeiros a delinear a sonoridade punk, ainda no final da
década de 60),The Troggs, Sex Pistols, The Clash, Television, Ramones, Bad
Religion, entre outros.
Década de 80: Peso, atitude e comercialização
•
Hair Metal: Nos anos 80 o hard rock "setentista" sofreu algumas evoluções e
mudanças, bandas novas acrescentaram influências punk e glam na aparência e
no visual, em alguns países esse estilo musical é chamado de hair metal.
Bandas antigas também passaram a seguir o estilo, como Kiss e Van Halen.
Exemplo de bandas novas: Poison, Bon Jovi, Mötley Crüe, Guns n' Roses, Mr.
Big, Skid Row, Quiet Riot, Twisted Sister.
•
New wave: É um intermediário entre o pop e o punk. Recebeu também
influências da disco music e dos ritmos jamaicanos reggae e ska. Seus
principais nomes foram: B-52´s, Talking Heads, The Police, Duran Duran dentre
outros
•
Heavy metal: Também conhecido como New Wave of British Heavy Metal,
baseado no hard rock, já existiam músicas e bandas de heavy metal na década
anterior, como Judas Priest e Motörhead, mas foi nos anos 80 que surgiram
mais bandas tornando possível o heavy metal ser considerado mais que um
pequeno ramo do hard rock; um estilo de rock à parte. Nessa década veio a se
tornar um movimento contra o punk rock, primando pela qualidade musical e
destreza de seus músicos. Entre os exemplos citam-se Iron Maiden, Judas
Priest, Helloween, Motörhead, Saxon, King Diamond, Accept, Def Leppard, entre
vários outros em suas subdivisões.
•
Thrash metal: O thrash metal é um estilo musical caracterizado por um ritmo
acentuadamente mais rápido do que o heavy metal, porém usualmente com
uma bateria mais estática, com menos repiques. As letras são usualmente
gritadas pelos vocalistas, numa espécie de tentativa de se adequar aos temas
violentos por elas retratadas. Entre os exemplos citam-se Metallica (primeiros
trabalhos), Megadeth, Slayer, Sodom, Anthrax, Pantera e Sepultura.
•
Black metal:Influenciado pelo thrash metal (vide acima). O black metal é um
sub-gênero do heavy metal com vocais guturais e os instrumentos muito mais
pesados, suas músicas falam contra religiões monoteístas e falam sobre
satanismo e paganismo. Entre os exemplos citam-se Venom (precursores do
estilo), Mayhem, Burzum, Dimmu Borgir e Cradle of Filth.
•
Death metal: O death metal possui algumas semelhanças com o black metal
mas é mais técnico e não critica com tanta intensidade as religiões, a maior
parte de suas letras fala sobre morte, violência e niilismo. Entre os exemplos
citam-se Death, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Carcass e Napalm Death.
•
Gothic: Em música, chama-se de gótico, em geral, o rock lento, de
predominancia de tons menores, que gera um clima de tensão nos ouvintes.
Freqüentemente trata de passagens tristes e melancólicas em suas letras.
Outra característica do gótico é o uso de aparatos de música eletrônica.
Exemplos: Joy Division (considerados os precursores do estilo), The Cure,
Bauhaus, Echo & The Bunnymen, Sisters of Mercy, Siouxsie & The Banshees.
•
Hardcore: Dead Kennedys, Discharge e Exploited são apenas alguns dos mais
mundialmente queridos desta variante do punk, muito mais barulhenta e
politicamente orientada (por isso denominada por alguns de "anarco-punk"). No
Brasil Replicantes e Ratos de Porão são as mais conhecidas pelo grande público.
•
Rock brasileiro: Em outras décadas, artistas e bandas como Raul Seixas,
Mutantes, Made In Brazil, Patrulha do Espaço, Secos e Molhados, Casa das
Máquinas, O Terço e outros deixaram sua marca na história, porém foi na
década de 80 que a cena brasileira do rock veio a experimentar seu maior
período de popularidade e exposição na mídia. Neste período, surgiram
centenas de bandas e artistas novos, como Legião Urbana, Ultraje à Rigor,
Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ira!, Lobão, Engenheiros do
Hawaii, Camisa de Vênus, Capital Inicial, Blitz, Lulu Santos e Kid Abelha.
[editar]
Década de 90: A rebeldia volta, mas morre
•
Britpop: algumas bandas inglesas, que por possuírem uma estética similar,
embora sem representar um movimento unitário, costumam ser denominadas
britpop. Entram nesta denominação grupos pop como Blur e Oasis assim como
grupos menos comerciais como Pulp, Suede, The Stone Roses e Supergrass.
•
Grunge: este estilo se assemelha ao punk, mas o grunge tem um cuidado
menor na polidez do som (daí o nome do estilo: grunge é um adjetivo em inglês
que tem um significado próximo a "sujo") e letras relacionadas com depressão
e angustia. Grandes nomes desse estilo foram: Nirvana, Pearl Jam, Alice in
Chains, Soundgarden, Mudhoney.
•
Neo-Psicodelismo: os ideais de paz e amor são retomados, mas sem a
ingenuidade dos anos 60. Exemplo de bandas: Smashing Pumpkins, Cake,
Black Crowes e R.E.M., entre outros.
•
Funk metal: Inspirado no balanço “funky” misturado a outras vertentes como o
"Heavy Metal", o funk metal tomou forma nos anos 90, principalmente por
causa de: Red Hot Chili Peppers, Living Colour, Faith No More e Rage Against
the Machine.
•
Metal melódico/Prog Metal: Um estilo de heavy metal mais leve e cadenciado,
bandas como Angra, Stratovarius, Nightwish, Dream Theater, Blind Guardian,
Rhapsody e Evanescence são algumas das mais populares.
•
Indie-Rock: Bandas de garagem que participam do circuito "independente", fora
do mainstream, como Radiohead, Pixies, The Strokes, White Stripes, Coldplay,
Travis e Belle & Sebastian, além de algumas bandas britpop.
•
New metal: Também conhecido como nu-metal, é caracterizado por bandas que
misturam passagens em estilo de rap ou de música eletrônica à sonoridade do
rock pesado (analogamente ao Run DMC, nos anos 80). Por conta disso, é
ignorado pelos entusiastas puristas de heavy metal. Bandas deste estilo
incluem Korn, Static-x, Limp Bizkit, Adema e Slipknot. Alguns atribuem a
origem do estilo ao funk metal.
•
Poppy punk: Estilo vindo da mistura entre o punk rock original, straight edge e
grunge, cujas composições retratam, antes de tudo, a descompromissada vida
adolescente, embora isto não seja uma constante. Grupos que se consagraram
neste estilo incluem Green Day, Blink-182, NOFX e Offspring (estas duas
bandas, as mais enraizadas no hardcore).
Década de 2000: A Predominância Indie
Com o Pop dominando as paradas, o rock parecia ter perdido a força, até que de Nova
Iorque 5 garotos jovens, junkies e sujos aparecem com um EP com 3 musicas
chamado The Modern Age. Com o surgimento desta banda, denominada The Strokes, o
pop insosso e vago que predominou as paradas no final da década anterior dá lugar a
algo mais consistente, que não depende de um único sucesso para vender um álbum,
mas valoriza todas as músicas nele contidos. Mas não foram só os Strokes que viraram
queridinhos da mídia: The Vines, Yeah Yeah Yeahs, Interpol e Libertines tambem
foram chamados de "the next big thing" pelo fato de terem algo diferente em relação
ao pop atual e terem um público que gosta deles mesmo sem nenhuma emissora os
"empurrar goela abaixo". Franz Ferdinand (banda)Franz Ferdinand, Kaizer Chiefs, The
Rakes, Bloc Party, Test Icicles, Arctic Monkeys e The Rapture também fazem parte
deste movimento.
Paralelamente, o movimento emo explodiu entre 2003 e 2004. Gerado a partir do
poppy-punk (estilo punk característico da década de 90 caracterizado, entre outros,
por Green Day]] e Blink-182 e do straight edge (variação do punk criada pela banda
Minor Threat), esse estilo se caracteriza pelas musicas emotivas, vocalista com voz
desproporcional para a idade e um publico pré-adolescente pseudo-rebelde, o que
reflete na imagem das bandas e artistas representativos do estilo, como CPM22 e
ForFun no Brasil. Assim como o new metal em relação ao heavymetal tradicional, o
estilo emo é consistentemente renegado por punks puristas, devido à noção de
"atitude" pregada pelo emo, em alguns pontos oposta à original, por ser considerada
"politicamente correta" demais.
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