From the SelectedWorks of Sergio Da Silva January 2010 Demanda Contact Author Start Your Own SelectedWorks Available at: http://works.bepress.com/sergiodasilva/135 Notify Me of New Work Demanda Hal R. Varian Intermediate Microeconomics, 8th edition Capítulo 6 A maximização da utilidade, levando em conta a restrição orçamentária, leva à escolha ótima. Esta depende, portanto, da renda do consumidor e dos preços. Quando a renda e os preços dos bens se alteram, a escolha ótima também deverá se alterar. As funções demanda do consumidor expressam as quantidades ótimas de cada bem em função dessas possíveis alterações da renda e dos preços: x1 = x1 ( p1 , p2 , m) x2 = x2 ( p1 , p2 , m) . Podemos prosseguir com análises de “estática comparativa”, onde “comparativa” significa que comparamos as situações de antes e de depois das mudanças ocorridas na renda e nos preços. “Estática” significa que desconsideramos o que ocorre entre o equilíbrio inicial e o final. Bens normais e inferiores Quando a renda aumenta, a reta orçamentária desloca-se para cima. E desloca-se paralelamente, porque os preços não variam. Na Figura 1, vemos que isto provoca um aumento da quantidade demandada. Se o bem 1 se encaixar nesse caso, ele será um “bem * normal” e ∆∆xm1 > 0 . Porém, se o bem 1 for um produto de baixa qualidade ou um bem para o qual há * alternativas tecnologicamente melhores, pode ocorrer que ∆∆xm1 < 0 . Nesse caso, ele será um “bem inferior” (Figura 2). Curva renda-consumo e curva de Engel Unindo os pontos de escolha ótima da Figura 1 obtemos o caminho de expansão da renda ou curva renda-consumo. Se tanto o bem 1 como o bem 2 forem normais, a curva renda-consumo terá inclinação positiva (Figura 3). Para o bem 1, plotando as escolhas ótimas para diferentes níveis de renda, obtemos a curva de Engel (Figura 4). Como exemplo, para bens substitutos perfeitos, se p1 < p2 o consumidor consumirá apenas o bem 1, como vimos no Capítulo 5. No ótimo de fronteira, quando a renda aumenta, o consumo ótimo do bem 1 aumenta. Logo, a curva renda-consumo ficará sobre o eixo horizontal (Figura 5). Além disso, como na escolha ótima x1* = mp1 , temos que m = p1 x1* . A curva de Engel será então a linha reta que passa pela origem e possui inclinação p1 (Figura 6). Para o caso de bens complementares perfeitos, como na escolha ótima x1* = m p1 + p2 , então m = ( p1 + p2 ) x1* . A curva renda-consumo será a diagonal que passa pela origem, porque x1* = x2* (Figura 7). Já a curva de Engel será a reta que passa pela origem de inclinação p1 + p2 (Figura 8). Para o caso de preferências Cobb-Douglas: u ( x1 , x2 ) = x1c x2d , a escolha ótima do bem 1 será, como vimos, x1* = c m . c + d p1 Sendo c = a e d = 1 − a , u ( x1 , x2 ) = x1a x12− a e x1* = a m a + (1 − a) p1 x1* = am . p1 Dado p1 , a demanda pelo bem 1 será função linear de m . A demanda pelo bem 2 será: x2* = d m c + d p2 x2* = 1− a m a + (1 − a) p2 x2* = (1 − a)m , p2 ou que é também função linear da renda. Isso implica que a curva renda-consumo é a reta que passa pela origem (Figura 9). Como m= p2 * x2 , 1− a substituindo no m de x1* : x1* = a p2 * x2 . 1 − a p1 Para qualquer m , dados os preços p1 e p2 , x1* será função linear de x2* ; se x2* = 0 , logo x1* = 0 e a reta passará pela origem. Para o bem 1, como m= p1 * x1 , a a curva de Engel será a reta de inclinação p1 a (Figura 10). Preferências homotéticas As preferências para substitutos perfeitos, complementares perfeitos e Cobb-Douglas são homotéticas. Neste caso, as curvas renda-consumo e de Engel serão linhas retas que passam pela origem. Além disso, se a renda aumentar ou diminuir no montante t > 0 , a cesta demandada aumentará ou diminuirá na mesma proporção. Preferências quase-lineares Preferências quase-lineares são representadas por curvas de indiferença que são versões deslocadas verticalmente de uma inicial (Figura 11). Sua função utilidade é dada por: u ( x1 , x2 ) = v( x1 ) + x2 . No equilíbrio ( x1* , x2* ) , se aumentarmos a renda em m = k chegaremos ao novo equilíbrio em que ( x1* , x2* + k ) . O aumento da renda não alterará o consumo de equilíbrio inicial do bem 1: apenas aumentará o consumo do bem 2. Para o bem 1, a curva de Engel fica vertical depois do equilíbrio inicial (Figura 12). Se m variar, x1* permanecerá constante. Como exemplo, se o bem 1 for lápis e o bem 2 for “dinheiro”, que pode ser usado para gastar com os outros bens, de início podemos gastar a renda apenas em lápis; mas isto deixará de acontecer em seguida. Bens de Giffen Se p1 diminuir e p2 e m ficarem constantes, x1 aumentará, no caso de bens comuns. Na Figura 13, p1 se reduzirá e a reta orçamentária rotará para a direita, ficando menos inclinada. Porém, para os bens de Giffen, mesmo que as preferências sejam bem comportadas, se p1 diminuir e p2 e m ficarem constantes, x1 diminuirá (Figura 14). Sendo mingau o bem 1, digamos que seu consumo ótimo seja x1* = 7 tigelas. Sendo leite o bem 2, o seu consumo ótimo é x2* = 7 copos. Caso p1 se reduza, o consumidor poderá consumir as mesmas 7 tigelas e ainda ficar com dinheiro sobrando. Com o dinheiro que sobrou, ele poderá aumentar o consumo de leite e até mesmo reduzir o de mingau. Embora improvável, isto será possível. Curva preço-consumo e curva de demanda Com p2 e m fixos, se p1 cair, a reta orçamentária girará para a direita: unindo os pontos de escolha ótima encontraremos a curva preço-consumo, que mostra as cestas demandadas a diversos preços do bem 1 (Figura 15). A curva de demanda apresenta esta mesma informação. Ela é o gráfico da função demanda x1 ( p1 , p2 , m) , onde p2 e m estão fixos. No exemplo da Figura 15, inicialmente x1* = 2 e p1 = 40 . Se p1 ↓= 20 , x1* = 4 . Se p1 ↓= 10 , x1* = 6 . Para a maioria dos bens (bens comuns), quando p1 se reduz, x1 aumenta e, portanto, a curva de demanda apresenta inclinação negativa. Em termos de taxas de variação: ∆x1 < 0. ∆p1 Porém, para os bens de Giffen, como p1 ↓→ x1 ↓ , a curva de demanda apresenta inclinação positiva. Exemplos de curvas de demanda Para bens substitutos perfeitos, como vimos no Capítulo 5: 0, se p1 > p2 x1 = qualquer número sobre a reta orçamentária, se p1 = p2 m , se p < p 1 2 p1 Na Figura 16, dado p2 = 5 , se p1 > p2 = 5 (por exemplo, p1 = 10 ), na cesta ótima, x = 0 . Se p1 = p2 = 5 , todos os pontos sobre a reta orçamentária contêm cestas ótimas. Se m p1 < p2 = 5 (por exemplo, p1 = 2 ), então x1* = . p1 * 1 Para bens complementares perfeitos, como vimos no Capítulo 5, x1 = m p1 + p2 e a curva preço-consumo será uma diagonal (Figura 17), porque, a qualquer preço, o consumidor demandará a mesma quantidade dos dois bens. Para bens discretos, sendo o bem 1 discreto, r1 seu preço de reserva e o consumidor for indiferente entre consumir ou não o bem, se p1 for alto de modo que p1 > r1 , o consumidor não irá querer consumir o bem; e se p1 for baixo de modo que p1 < r1 , o consumidor irá querer apenas uma unidade do bem. Na Figura 18, inicialmente a reta orçamentária passa por dois pontos com consumo ótimo x1* = 0 ou x1* = 1 , onde p1 = r1 . Se p1 ↓= r2 , a reta orçamentária girará e agora passará pelos outros dois pontos com consumo ótimo x1* = 1 ou x1* = 2 . A “curva” de demanda será descrita pela sequência de quedas desses preços de reserva, quando x1 aumenta em mais outra unidade. Observe que agora r1 satisfaz a equação u ( x1 , x2 ) = u (0, m) = u (1, m − r1 ) (1) e que r2 satisfaz a u (1, m − r2 ) = u (2, m − 2r2 ) , (2) onde u (1, m − r2 ) é a utilidade de se consumir uma unidade do bem discreto ao preço r2 , e u (2, m − 2r2 ) é a utilidade de se consumir duas unidades do bem discreto, cada uma ao preço r2 . Para calibrar, podemos supor que a utilidade é quase-linear: u ( x1 , x2 ) = v( x1 ) + x2 , sendo v(0) = 0 . Nesta forma funcional, os preços de reserva não dependerão da quantidade do bem 2 possuída pelo consumidor (no caso, dada por m ). Assim, (1) fica sendo v(0) + m = v(1) + m − r1 m = v(1) + m − r1 r1 = v(1) . (3) Analogamente, (2) fica sendo v(1) + m − r2 = v(2) + m − 2r2 2r2 − r2 = v(2) − v(1) r2 = v(2) − v(1) . (4) Podemos, então, inferir que o preço de reserva da terceira unidade será: r3 = v(3) − v(2) , (5) e assim por diante. O preço de reserva irá medir o aumento de utilidade necessário para induzir o consumidor a escolher mais outra unidade do bem discreto. Os preços de reserva medem então as utilidades marginais do consumo adicional do bem discreto. Como a utilidade marginal é decrescente: r1 > r2 > r3 ... Dado um preço qualquer p , a questão é saber onde ele se situará na lista dos preços de reserva. Se, por exemplo, p estiver entre r6 e r7 , sendo r6 > r7 , isto significa que o consumidor estará disposto a abrir mão de p unidades monetárias para obter 6 unidades do bem discreto (bem 1), pois p < r6 . Isto também significa que ele não estará disposto a abrir mão de p unidades monetárias para obter a sétima unidade do bem 1, pois p > r7 . Se o consumidor demandar 6 unidades do bem 1, isto gerará mais (ou a mesma) utilidade que 5 unidades. Então (veja (2)): u ( x1 , x2 ) = u (6, m − 6 p) ≥ u (5, m − 5 p) . Na forma quase-linear u ( x1 , x2 ) = v( x1 ) + x2 , temos: v(6) + m − 6 p ≥ v(5) + m − 5 p v(6) − v(5) ≥ 6 p − 5 p v(6) − v(5) ≥ p . Por (5): r6 = v(6) − v(5) . Substituindo, temos: r6 ≥ p . Por outro lado, se o consumidor demandar 6 unidades do bem 1, isto gerará mais (ou a mesma) utilidade que 7 unidades: u (6, m − 6 p) ≥ u (7, m − 7 p) . Para a utilidade quase-linear: v(6) + m − 6 p ≥ v(7) + m − 7 p v(7) − v(6) ≤ 7 p − 6 p v(7) − v(6) ≤ p r7 ≤ p . Portanto, r7 ≤ p ≤ r6 . Bens substitutos e complementares imperfeitos Lápis vermelhos e lápis azul são substitutos perfeitos para o consumidor que não se importa com cor. Lápis e caneta são substitutos – pode-se escrever com eles – mas somente até certo ponto. Não se pode, por exemplo, assinar documentos com lápis. Sapato e meia são bens complementares imperfeitos: são consumidos em conjunto, embora não necessariamente. Já que a função demanda x1 ( p1 , p2 , m) depende dos dois preços, além da renda, se x1 ↑ quando p2 ↑ , o bem 1 será substituto do bem 2. Se o bem 2 ficar mais caro, o consumidor o substituirá pelo bem 1. Em termos de taxas de variação, para bens substitutos brutos, ∆x1 >0. ∆p2 Se x1 ↓ quando p2 ↑ , o bem 1 será complementar ao bem 2. Se café ficar mais caro, isto pode reduzir o consumo de açúcar. Então, para bens complementares brutos, ∆x1 < 0. ∆p2 Função demanda inversa Para a curva de demanda de inclinação negativa podemos obter a função demanda inversa, onde agora é preço que é função da quantidade. O gráfico é similar ao da função demanda direta (Figura 19). Mudamos apenas o ponto de vista: para cada nível de demanda do bem 1, a função demanda inversa informa qual deverá ser o preço para que o consumidor escolha esse nível de consumo. Considerando a função demanda (direta) Cobb-Douglas x1 = am , p1 a função demanda inversa será, apenas, p1 = am . x1 Vimos que, na escolha ótima interior, TMS = p1 p2 ou p1 = p2 ⋅ TMS . Portanto, no ótimo, o preço do bem 1 será proporcional à TMS entre o bem 1 e o bem 2. Para p2 = 1 , p1 = TMS . Neste caso, o preço do bem 1 medirá em quanto o consumidor está disposto a abrir mão de quantidades do bem 2 para obter mais do bem 1 (custo de oportunidade). Se o bem 2 for a quantidade de dinheiro a ser gasta em todos os outros bens, a TMS passa a ser a quantidade de dinheiro que o consumidor quer oferecer para consumir mais do bem 1: a TMS torna-se a propensão marginal a pagar. Como p1 = TMS , então p1 passa a medir a propensão marginal a pagar. No caso de preferências quase-lineares, estas apresentam curvas de indiferenças exatamente similares que podem ser representadas pela função utilidade u ( x1 , x2 ) = v( x1 ) + x2 . A restrição orçamentária p1 x1 + p2 x2 = m pode ser escrita como p2 x2 = m − p1 x1 x2 = m − p1 x1 p2 e substituída na função utilidade para maximizá-la: max v( x1 ) + x2 x1 , x2 m p1 x1 − p2 p2 max v( x1 ) + x1 p ∂u = v′( x1 ) − 1 = 0 ∂x1 p2 v′( x1* ) = p1 . p2 Logo, a demanda quase-linear pelo bem 1 independe da renda ( m ), desde que m ≠ 0 . A demanda inversa pode ser escrita como: p1 = p2 v′( x1* ) . Para a forma funcional específica de v( x1 ) dada por u ( x1 , x2 ) = ln x1 + x2 podemos encontrar a função demanda direta pelo bem 1 como: max ln x1 + x1 1 p1 − =0 x1 p2 1 p1 = x1 p2 x1* = p2 . p1 m p1 x1 − p2 p2 Logo, a função demanda inversa será: p1 = p2 . x1* A função demanda direta do bem 2 pode agora ser encontrada substituindo x1 de volta na restrição orçamentária: x2 = m p1 x1 − p2 p2 x2 = m p1 p2 − p2 p2 p1 x2* = m −1 . p2 Assim, a demanda pelo bem 2 passa a depender da renda m . Se m < p2 → m p2 < 1 → x2* < 0 , o que é impossível. Logo, a solução acima não se define para m < p2 . Na prática, x2* = 0 , já que não pode ser negativo. Em suma, se m ≤ p2 0, x =m p − 1, se m > p2 2 * 2 © Sergio Da Silva 2010 sergiodasilva.com