UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HAB. RELAÇÕES PÚBLICAS SABRINA RAUPP SOUZA ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM EM ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS Santa Maria 2008 SABRINA RAUPP SOUZA ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM EM ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS Monografia apresentada à Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social Habilitação Relações Públicas. Orientador: Prof ª. Ms. Elisângela Carlosso Machado Mortari Santa Maria 2008 SABRINA RAUPP SOUZA ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA ADMINISTRAR CRISES DE IMAGEM EM ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS Monografia apresentada à Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas. Aprovado pela Banca Examinadora em dezembro de 2008. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Elisângela Carlosso Machado Mortari - UFSM Orientadora ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Ivete Trevisan Fossá – UFSM ___________________________________________________________________ Profª. Mônica Pieniz - UFSM AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para que este trabalho de conclusão de curso fosse realizado. Sendo assim, não posso deixar de citar algumas pessoas especiais que contribuíram pra que eu o realizasse: Aos meus pais e ao meu irmão – Jael, Lonir e Renan – por sempre me dar amor e compreensão. Por sempre apoiar e incentivar o meu desenvolvimento. Agradeço os abraços e os beijos, as palavras de incentivo, os gestos carinhosos, os auxílios na pesquisa e, acima de tudo, por sempre estarem presentes na minha vida. Amo vocês. Aos meus tios e primos, por sempre dizerem que “estudo é fundamental”, por acreditarem em mim e por se unirem. Somos uma família, a “família dos bonitos”, e como tal, superamos nossas diferenças e nos unimos não só nos momentos de alegria, como também nos de tristeza e preocupação. Adoro vocês. À minha amiga-tia Verônica, sem ela a pesquisa estaria pela metade, o acesso aos livros seria mais difícil. Obrigada por ir e vir comigo, pegando e devolvendo livros. Tens um lugar só teu no meu coração. À minha grande amiga Carla, exemplo de profissional e uma pessoa admirável. Ela soube empregar as palavras certas para me acalmar nos momentos de desespero. Espero um dia poder retribuir o que fizeste por mim. Muito obrigada por tudo. Às minhas amigas-irmãs – Dani, Mari, Tais, Manu e Adri – por proporcionar-me momentos de extrema alegria, por contribuírem com a realização deste trabalho e por não deixarem que eu desanimasse. Saibam que podem sempre contar comigo. Finalmente, não poderia deixar de prestar um agradecimento especial à Professora Elisângela Machado Cardoso Mortari, pela disponibilidade de orientar este estudo mesmo tendo diversas outras atividades sob sua responsabilidade. Muito obrigada por aceitar o meu convite, pois sem sua guia este trabalho não se concretizaria. "Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata..." Carlos Drummond de Andrade RESUMO O presente estudo visa à análise de como organizações desportivas podem utilizar estratégias de comunicação para administrar crises de imagem. Como exemplo, é utilizado o caso do rebaixamento de Série no Campeonato Brasileiro do clube Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, fato ocorrido entre dezembro de 2004 e novembro de 2005. Buscou-se conciliar as teorias de Relações Públicas, Comunicação e Marketing com a finalidade de realizar uma análise sobre o consumidor desportivo, a configuração de crise de imagem para a organização desportiva e a administração dessa crise. A pesquisa foi realizada com base nos conceitos metodológicos de Antonio Carlos Gil sobre pesquisas ex-post-facto, documental e bibliográfica; aplicando ainda técnica de coleta de dados através de entrevista pautada focalizada em uma amostragem intencional. Após coletar os dados da organização exemplo, foi realizado o levantamento teórico e a análise dos dados coletados com base na teoria pesquisada. Conclui-se, ao fim do trabalho, que esta pesquisa pode auxiliar organizações desportivas na elaboração de estratégias de comunicação que possam vir a utilizar no relacionamento com consumidores desportivos em momentos de crise. Palavras-chave: Crise, Relacionamento e Comunicação. ABSTRACT This study is the analysis of how sports organizations can use for communication strategies to manage crises of image. How an example, it is used in case the series relegation of Grêmio FootBall Porto Alegrense on the Brazilian Championship, actually occurred between December 2004 and November 2005. Trying to conciliate the Public Relations theories, Communication and Marketing with the porpoise of performing an analysis on the consumers sports, the configuration of image crisis to the athletic organization and the administration of this crisis. The research was realized based on Antonio Carlos Gil methodological concepts about researches ex-post-facto, related to documents and bibliographies; applying still data collection technique by a registered interview focus on an intentional sampling. After collecting the example organization data, it was realized a theorist gathering and the collected data analyze based on the researched theory. It follows that, in the end of the work, this research can help athletic organizations on elaborating communication strategies they will be able use on the athletic consumers relationship in crisis moments. Key-words: Crisis, Relationship and Communication SUMÁRIO 1 1.1 1.1.1 1.2 A 1.2.1 1.3 1.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 9 AS ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS .................................................................... 13 O que são Organizações .................................................................................................. 14 Conceituando Organizações Desportivas ........................................................................ 15 A Comunicação Organizacional ...................................................................................... 17 Comunicação em Organizações Desportivas ................................................................... 20 Crises Organizacionais ..................................................................................................... 23 Crises em Organizações Desportivas ............................................................................... 24 2 2.1 2.1.1 2.2 2.2.1 2.3 2.3.1 2.3.2 PÚBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS ............................. 26 Públicos ............................................................................................................................ 26 Os Públicos da Organização Desportiva .......................................................................... 28 Comportamento do Consumidor ...................................................................................... 30 O Consumidor Desportivo ............................................................................................... 34 Relacionamentos .............................................................................................................. 37 As Relações Públicas ....................................................................................................... 39 O Marketing de Relacionamentos ................................................................................... 42 3 3.1 3.1.1 3.2 3.2.1 3.3 ADMINISTRANDO CRISES ....................................................................................... 45 Identidade e Imagem Organizacional .............................................................................. 45 Fatores que Sustentam Imagens ....................................................................................... 48 Marketing de Emoções ..................................................................................................... 50 Os Arquétipos Emocionais ............................................................................................... 51 Organizações Administrando Crises de Imagem ............................................................. 52 4 COMO A ORGANIZAÇÃO DESPORTIVA SUPERA CRISES UTILIZANDO ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO: O CASO GRÊMIO ....... 57 A Crise ............................................................................................................................. 57 Enfrentando a Crise .......................................................................................................... 61 4.1 4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 72 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 76 ANEXOS ......................................................................................................................... 81 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Brasil tem presenciado a transformação do esporte, que era considerado uma atividade de lazer, em um negócio lucrativo para organizações desportivas e instituições que desejam ter seu nome aliado aos valores transmitidos pelo esporte. Neste contexto, o futebol é a principal força da indústria esportiva. Segundo especialistas1, só no ano de 2005 este esporte movimentou cerca de US$ 330 milhões no Brasil, sendo que este valor é o somatório dos totais referentes à venda de jogadores, bilheterias, investimento de patrocinadores e transmissão dos jogos. A mudança no cenário do clube de futebol brasileiro para o clube empresa começou em 1992, com a co-gestão entre um clube de futebol tradicional de São Paulo e uma empresa de laticínios que desejava ganhar visibilidade no mercado brasileiro. Neste caso, a administração do clube foi dividida, mas, atualmente, o modelo que vem sendo adotado em grande número é o investimento para exploração da imagem. A marca do clube é administrada pelo investidor enquanto o departamento de futebol pelos dirigentes do clube (ASSEF, 2000). A transformação do futebol em empresa e a comercialização da marca dos clubes iniciaram porque este esporte apresenta um fator atrativo, os torcedores que se tornam, fora do campo, consumidores em potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor. Porém, a empresarização das organizações desportivas e a visibilidade midiática dada ao esporte tornaram os acontecimentos negativos ocorridos nessas organizações mais um espetáculo para a mídia (Proni, 1998). Sendo assim, a imagem de clubes de futebol e instituições esportivas tornou-se tão importante para estes quanto a de uma fábrica de produtos químicos é para esta. A imagem organizacional que vai render ao clube o interesse de grandes investidores e o interesse dos próprios torcedores em consumir produtos e serviços relacionados com o clube. Considerando que a imagem passou a ser de grande valia para as organizações desportivas, estas devem investir em profissionais que possam administrar a imagem da organização, bem como elaborar estratégias para solucionar possíveis crises que afetem este bem. E, com o intuito de validar esta idéia, surgiu a proposta deste estudo. Este estudo procura identificar estratégias de comunicação que auxiliam organizações desportivas a administrar crises de imagem. A monografia, que ora se desenvolve, tem como 1 FONTE: Site G1 (http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL5405-9356,00.html) matéria publicada em 12 de fevereiro de 2007. objetivos situar as organizações desportivas como empresas com fins lucrativos, identificar quem são os consumidores dos produtos e serviços produzidos por ela e o que os leva a consumir, identificar as bases da imagem dessas organizações, indicar meios para administrar crises de imagem e relatar a crise de imagem que atingiu o clube de futebol gaúcho Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e como este a solucionou com estratégias de comunicação. O tema proposto traz a administração de crises de imagem em organizações desportivas como uma área a ser melhor explorada pela comunicação, principalmente pelas Relações Públicas. Mas não a questão do marketing esportivo e do jornalismo esportivo, e sim, a comunicação e as relações entre organização e públicos e como isso se reflete na imagem da organização e auxilia a prevenir e gerenciar crises de imagem. A escolha do tema foi baseada em uma mistura dos interesses que a investigadora possui pelos assuntos: relacionamento com públicos, crises de imagem e esporte. E a escolha do Clube referido anteriormente foi baseada na localização geográfica de fácil acesso para a pesquisadora e pelo histórico do Clube que apresenta um acontecimento negativo que gerou uma crise de imagem junto aos torcedores. Neste estudo não se tem a pretensão de elaborar um manual sobre como as organizações desportivas devem utilizar estratégias de comunicação para administrar crises de imagem, mas sim, analisar um fato deste tipo ocorrido e o contrapor com as falas de teóricos. O estudo terá importância para a comunicação social, pois dará mais atenção a um mercado pouco explorado, possibilitando o surgimento de novas questões a serem futuramente pesquisadas. Para que o conhecimento gerado por este trabalho seja científico é necessário identificar os métodos que possibilitaram sua verificação. Conforme Gil (1999, p.27), “o que torna o conhecimento científico distinto dos demais é que tem como característica fundamental a sua verificabilidade”. Assim sendo, pode-se dizer que este estudo é de natureza exploratória, pois envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos. Dessa forma, visa-se proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas posteriormente (GIL, 1999). Para desenvolver esta pesquisa foi necessário realizar o planejamento da mesma, ou seja, realizou-se um delineamento. O delineamento de uma pesquisa é o “planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a diagramação quando a previsão de análise e interpretação dos dados” (GIL, 1999, p. 64). Para este estudo foi utilizado o delineamento ex- post-facto, visto que foi realizado o resgate de um fato que a pesquisadora não vivenciou. Segundo Gil (1999, p. 69), “pode-se definir pesquisa ex-post-facto como uma investigação sistemática e empírica na qual o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes, porque já ocorreram suas manifestações”. é uma pesquisa de caráter exploratório, de cunho qualitativo e na qual o pesquisador não tem como manipular as variáveis porque elas chegam a ele já tendo realizados seus efeitos, ou seja, trata-se da recuperação de um fato passado para análise. Também, foram utilizadas metodologias como a pesquisa bibliográfica, a documental e a entrevista pautada em amostragem intencional. A pesquisa bibliográfica é a realização de um levantamento teórico sobre assuntos abordados pelo tema de pesquisa e adequados à área esportiva. A pesquisadora buscou a contribuição conceitual de autores como Argenti, Fortes, França, Rosa, dentre outros. Para a realização da pesquisa documental, foi consultado o acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, o centro de Documentação e Informação do jornal Zero Hora e o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, todos localizado em Porto Alegre. Outro método de pesquisa utilizado foi a entrevista. A realização deste método em pesquisas sociais "é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes" (Selltiz apud Gil, 1999, p.117). Com esse intuito foi empregada a entrevista por pautas, a qual se trata de um tipo de entrevista “com certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso” (GIL, 1999, p. 120). A amostragem para realizar as entrevistas é classificada como não probabilística e intencional, pois consiste em identificar e selecionar pessoas que possibilitem a obtenção de informações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa (GIL, 1999). Deste modo, foram selecionados: o Coordenador Executivo de Comunicação do Grêmio, Haroldo Santos, o qual participou da administração da crise vivida pelo Clube; a Gerente de Marketing do Grêmio, Michelle Billo; a Relações Públicas do Grêmio, Melissa Motta, a qual trabalhava no Clube no período de interesse da pesquisa e a Gerente de Conta da agência SLM Ogilvy, Grace Barth, a qual prestou serviços publicitários para o Clube durante o período de interesse da pesquisa. Destes selecionados, somente a Relações Públicas do Clube recusou-se a colaborar com a pesquisa alegando que necessitaria de uma autorização do Clube para conceder a entrevista. Tal autorização não foi possível devido ao fato do Clube autorizar somente duas pesquisas por semestre, sendo que o pedido deve ser realizado com um semestre, ou mais, de antecedência, segundo as informações transmitidas pela própria Melissa Motta. Assim, o estudo foi estruturado em quatro capítulos. O capítulo de número um trata das definições de organização, comunicação organizacional e crises em organizações. Com base nestas definições, foi dissertado sobre: organizações desportivas, comunicação organizacional desportiva e crises em organizações desportivas, a fim de melhor compreender o tipo de organização referente no estudo e proporcionar maior precisão na abordagem do tema proposto. A elaboração deste capítulo tem como base principal os conceitos dos autores Richard Hall (1984), Mário Rosa (2001), Margarida Maria K. Kunsch (2003) e João José Forni (2003). No capítulo de número dois encontram-se definições de públicos – tratando-se, principalmente, do público de organizações desportivas – de comportamento de consumidores e do consumidor desportivo, de relacionamentos organização-públicos e dos panoramas de Relações Públicas e Marketing de Relacionamentos sobre esse tema. Desta forma, será possível visualizar como a comunicação influencia na perspectiva dos públicos sobre a organização. Para este capítulo, a pesquisadora utilizou as opiniões de Fábio França (2004), Roberto Porto Simões (1995), Jagdish Sheth, Banwari Mittal e Bruce Newman (2001). O capítulo seguinte, de número três, apresenta conceitos de identidade organizacional, imagem organizacional e marketing de emoções – neste último item dá-se destaque para os arquétipos emocionais. Também, é demonstrado como cada uma dessas áreas interfere na outra e como a comunicação as trabalha. A elaboração deste capítulo tem como principais autores Mário Rosa (2001), João José Forni (2003) e José Souza Martins (1999). A partir do conteúdo destes capítulos, é realizada a análise da pesquisa ex-post-facto no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Logo, no capítulo de número quatro, é relatada a situação de crise vivida pelo Clube e como esta afetou a sua imagem. Também, são descritas as estratégias de comunicação que o Clube utilizou para administrar a crise. As estratégias ao serem descritas são, também, contrapostas com teorias de estudiosos da comunicação como Paul A. Argenti (2006), José Souza Martins (1999) e Cláudia Lemos e Rozália Del Gaudio (2003). 1 AS ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS Este capítulo pretende tornar um pouco mais claro a complexidade das organizações, do fenômeno da comunicação nela existente e das situações de crise que podem ocorrer em seu desenvolvimento. Desta forma, busca-se iniciar com a apresentação de conceitos sobre organização, que, segundo Oliveira (2001, p. 68), “desde o passado mais remoto, nossos ancestrais aprenderam a juntar esforços para atingir objetivos”. A união desses esforços pode ter como objetivo o lazer, o entretenimento por meio do esporte, e, assim, o homem criou as organizações desportivas. E, dentre essas organizações, pode-se dizer que a de maior sucesso é o clube de futebol. Esporte que ganhou grande repercussão nacional e virou símbolo do Brasil. O destaque nacional dado ao esporte e a profissionalização de clubes e jogadores fez o futebol deixar de ser um simples esporte para se tornar um negócio lucrativo para os clubes esportivos e investidores nacionais e internacionais que desejam entrar no mercado brasileiro. A transformação do futebol brasileiro em empresa começou no ano de 1992, com a co-gestão entre Parmalat e Palmeiras, caso no qual a administração do clube é dividida (ASSEF, 2000). Mas este não é o único modelo de parceria que os clubes brasileiros estão realizando com os investidores interessados. Atualmente, conforme Assef, o modelo que vem sendo adotado é o investimento para exploração da imagem. A marca do clube é administrada pelo investidor enquanto o departamento de futebol pelos dirigentes. Os clubes de futebol e as demais organizações desportivas – assim como diversas outras empresas – apresentam deficiências no que se refere à comunicação organizacional, que, conforme Baldissera (2000, p. 26) “compreende todo o fluxo de mensagens que compõe a rede de relações sob o âmbito da organização”. Ocorrem falhas no gerenciamento da comunicação porque “poucos gerentes reconhecem a importância da comunicação, relutam em contratar os profissionais qualificados necessários para vencer no atual ambiente de negócios” (ARGENTI, 2006, p. 15). Esse fato leva muitas ações negativas que ocorrem dentro da organização a tornarem-se crises de imagem, além de, também, prejudicar o relacionamento da organização com seus públicos, principalmente com os clientes. Por isso, neste trabalho, busca-se dissertar como as estratégias de comunicação podem auxiliar as organizações a administrarem crises. Assim, o Capítulo 1 dá-se inicio com a explanação sobre os conceitos de organização. 1.1 O que são Organizações Para introduzir um breve conceito de organização, busca-se respaldo na Teoria Clássica da Administração a qual se preocupou em analisar a estrutura organizacional, pois seu fundador, Herry Fayol, acreditava que “partia-se do todo organizacional e da sua estrutura para garantir eficiência a todas as partes envolvidas” (FAYOL apud CHIAVENATO, 1983, p.70). A ênfase na hierarquia organizacional denota a valorização da organização formal e a relação de dependência entre o desempenho dos líderes de setores e a eficiência da organização. Segundo Chiavenato, a Teoria Clássica concebe organização como se fora uma estrutura. E a maneira de conceber a estrutura organizacional é bastante influenciada pelas concepções antigas de organização (como a organização militar e a eclesiástica) tradicionais, rígidas e hierarquizadas. [...] A Teoria Clássica concebe a organização em termos de estrutura, forma e disposição das partes que a constituem, além do inter-relacionamento entre essas partes. Restringe-se apenas aos aspectos da organização formal. (CHIAVENATO, 1983, p. 77). Outro autor da Teoria Clássica concebe organização como sendo “a forma de toda associação humana para a realização de um fim comum. A técnica de organização pode ser descrita como a técnica de correlacionar atividades específicas ou funções num todo coordenado” (MOONEY apud CHIAVENATO, 1983, p.77). Assim, tem-se para o conceito de organização uma “combinação de esforços individuais com a finalidade de concretizar propósitos coletivos” (MAXIMILIANO, 1992, p. 43), ou seja, a organização é um conjunto de pessoas que têm em comum um objetivo e combinam seus esforços visando atingi-lo. Esse conceito simplificado pode ser aplicado para definir qualquer tipo de organização e é também o ponto comum entre os diversos conceitos existentes para definir a organização que simboliza um grupo empresarial. Maximiliano ainda acrescenta que através da organização podem-se alcançar objetivos que um único indivíduo não seria capaz de atingir, e o funcionamento de uma empresa é um bom exemplo. Nesse sentido o autor Richard Hall entende a organização como sendo uma coletividade com uma fronteira relativamente identificável, uma ordem normativa, escalas de autoridade, sistemas de comunicações e sistemas de coordenação de afiliação; essa coletividade existe numa base relativamente contínua em um ambiente e se engaja em atividades que estão relacionadas usualmente, com um conjunto de objetivos. (HALL, 1984, p. 23) Os indivíduos, ao idealizarem a organização, participam de atividades que influenciarão o microambiente organizacional. Este ambiente tanto recebe as ações da organização como também age sobre ela, mantendo uma relação retro-ativa; por isso, deve ser estudado em detalhes para que assim a organização e seus representantes estejam preparados para a ação deste ambiente sobre a organização. Visto que as questões microambientais “resumem características internas parcial ou totalmente controláveis” (FORTES, 2003, p. 54), portanto, seu estudo significa tornar conhecidos os pontos fortes e fracos da empresa, os possíveis fornecedores, os concorrentes, o perfil dos consumidores, o tipo de produto ou serviço oferecido pela organização. Além dos consumidores e fornecedores, a análise do microambiente permite também o conhecimento sobre os demais públicos envoltos na existência da organização, como a própria diretoria, a qual tem sua estrutura hierárquica diferenciada conforme cada tipo de organização. 1.1.1 Conceituando Organizações Desportivas As organizações diferenciam-se pelo ramo de atividade no qual atuam. Para o presente estudo, será utilizada na pesquisa uma organização desportiva, ou seja, uma organização que atua no cenário esportivo. Essas organizações podem ser chamadas de organizações desportivas ou esportivas. Por desporto, encontra-se a seguinte definição: Segundo o dicionário Mini Aurélio (2006, p. 311): ”Desporto (ô) sm. V. esporte (1). [pl.: -portos (ó)]”. Apesar de significarem o mesmo, desporto e esporte são usualmente utilizados em ocasiões diferentes. Quando se refere à atividade, é mais comum utilizar a denominação esporte; já, o termo desporto é mais utilizado para se referir às organizações que trabalham com as atividades esportivas, como os clubes. Os clubes que atuam no ramo esportivo estão segmentados em clubes sociais e esportivos e clubes esportivos. O primeiro é aquele que atua tanto com eventos sociais – bailes e jantares – como com atividades esportivas – ao disponibilizar para seus sócios quadras para a prática esportiva, aulas de tênis, futebol, vôlei ou algum outro esporte. A maioria dos clubes sociais e esportivos não possui equipes para competição, mas os grandes clubes do ramo normalmente patrocinam os atletas cedendo-os o espaço físico do clube para treinamento e em troca o atleta compete em nome do clube. Em Santa Maria, temos como exemplos dessa categoria o Clube Recreativo Dores e o Avenida Tênis Clube; e em Porto Alegre, os exemplos são o Grêmio Náutico União e a Sociedade Ginástica de Porto Alegre (SOGIPA). Sobre os de Porto Alegre, ambos possuem seus próprios atletas os quais competem em ginástica olímpica, vôlei, natação, judô, entre outros. Já o segundo tipo de clube, o clube esportivo, lida somente com a prática de esportes, geralmente competitivos, como é o caso do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e do Sport Club Internacional. Estes serão considerados clubes esportivos por se tratar de organizações que têm como principal função equipes de futebol profissional visando à conquista de competições. Apesar destes clubes também possuir equipes de outras modalidades esportivas, bem como espaços e atividades sociais para seus sócios, a atividade essencial é o futebol profissional. Os clubes esportivos, atualmente, não são somente fontes de entretenimento, eles se transformaram em empresas. A transformação do esporte e do clube esportivo deu-se ao passo que a prática esportiva deixou de ser somente uma atividade de lazer e passou a ser visto como uma fonte de riquezas, visto que se trata de uma atividade que movimenta grandes quantias financeiras através da comercialização de jogadores e de produtos ligados a marcas de clubes. Essa transformação clube-empresa deu-se inicialmente com o futebol. Aidar e Leoncini (2000, p.82), afirmam que a atuação de clubes de futebol como empresas é um processo evolutivo que a muito tempo vem acontecendo no futebol brasileiro e mundial. De um lado, temos a evolução da prática, representada pelos agentes e instituições ligados direta ou indiretamente à “produção” de espetáculos futebolísticos – agrupamentos esportivos (clubes, federações e confederações) e produtores e vendedores de serviços diretos (médicos, treinadores, psicólogos etc). No outro córner, está o consumo, simbolizando os compradores de bens ou serviços ligados ao futebol, e que não participam da produção do espetáculo em si. (AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 82) A evolução dos clubes de futebol em empresas faz surgir neles a necessidade de implantar na administração do clube características da mentalidade empresarial e, tal característica, deve estar presente tanto na direção do clube como também em todos os setores administrativos. Fernandes (2000, p. 33) ainda acrescenta que “o mercado do esporte-business e o negócio do futebol profissional são o mercado de atuação e a visão do negócio no qual estão investindo os clubes como empresas”. Sendo assim, dirigentes movidos pela paixão ao esporte e sem visão empresarial não se enquadram mais no novo modelo de gestão de clubes esportivos, principalmente tratando-se do futebol. Melo Neto (1998, p.66), afirma que “o clube em seu processo de transformação em empresa necessita de dois ingredientes: mais de realização do que de paixão e mais de construção do futuro do que de emoções do presente. Há uma necessidade da introdução e da prática do conceito de visão estratégica”. Este olhar sob o clube de futebol é encontrado em alguns clubes que se reestruturaram e montaram seu quadro de colaboradores com pessoas capacitadas, profissionais habilitados para atuar dentro do clube e desenvolver um trabalho buscando o crescimento do mesmo. Esse é o caso do Grêmio Foot–Ball Porto Alegrense. Para o clube sair de um período turbulento, a direção optou por modificar a estrutura administrativa, dando uma visão empresarial mais moderna, antes de pensar nas mudanças dentro de campo. Nesta mudança, o setor de comunicação foi um dos primeiros a sofrer alterações. 1.2 A Comunicação Organizacional A comunicação é a origem de qualquer tipo de relacionamento, seja interpessoal ou interorganizacional, logo, o sucesso desse relacionamento vai depender da eficácia do processo de comunicação nele existente. Nessa perspectiva, “é possível afirmar que a organização é um processo de construção que tem, na base, o processo de comunicação” (BALDISSERA, 2000, p. 18). Quando é referido o processo de comunicação das organizações, subtende-se, conforme Kunsch (2003, p. 70), “os elementos básicos que o constituem: fonte, codificador, canal, mensagem, decodificador e receptor”. Para Baldissera (2000, p. 26), “usualmente, a relevância da comunicação, sob o âmbito das organizações, é a de informar e/ou receber informações dos públicos” em detrimento do “processo de construção de sentidos” ocasionado pela comunicação; porém, para o autor “o que parece ser mais grave, é a ausência total de planejamento de comunicação ou o seu planejamento parcial”. As organizações, quando iniciam um processo de comunicação, devem ter cuidado com os elementos constituintes do processo para que não tenha “como consequência imediata, o agravamento das anomalias nesse tipo de comunicação” (Ibid, p. 26). A preocupação com o processo de comunicação organizacional não é tão antiga quanto a existência da própria comunicação. “O processo de comunicação dentro das empresas brasileiras é relativamente recente, evoluindo nas últimas três décadas, em busca de um modelo que integre, sinergicamente, todos os setores da empresa envolvidos com a comunicação e o marketing” (LEAL; TARGINO, 2005, p. 619). Sobre a evolução do processo, Bueno (apud LEAL; TARGINO, 2005, p. 619) acredita que “a concepção de comunicação empresarial se aprimora, ao longo do tempo, deixando de ser tão-somente um conjunto de atividades fragmentadas, para se configurar como processo integrado que orienta o relacionamento das empresas com seus públicos”. O processo de comunicação organizacional além de existente passa a ser reconhecido pela organização e integrado aos outros processos organizacionais a fim de encaminhar as relações de uma organização com seus colaboradores, consumidores e demais públicos. A evolução do processo de comunicação organizacional denota que as organizações começam a reconhecer a importância que a comunicação tem para sua vida e desenvolvimento. O não reconhecimento dessa importância e, portanto, o descuido com os processos de comunicação podem levar uma organização à ruína. Nesse sentido, Kunsch explica que, o sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação nele existente, que permitirá sua contínua realimentação e sua sobrevivência. Caso contrário, entrará num processo de entropia e morte. Daí a imprescindibilidade da comunicação para uma organização social. (2003, p. 69). Barnard (apud HALL, 1984, p. 132), também comenta sobre a importância da comunicação para a organização ao dizer que “numa teoria exaustiva da organização, a comunicação ocuparia lugar central, pois a estrutura, extensão e âmbito da organização são quase inteiramente determinados pelas técnicas de comunicação”. Tanto Hall ao citar Barnard quanto Kunsch explicam a imprescindibilidade do processo e do sistema de comunicação para a organização funcionar com eficácia. A ocorrência eficaz da comunicação organizacional vai depender do direcionamento do discurso ao nível do receptor, assim explica Rego: Entendendo-se a comunicação como um processo simbólico, pelo qual os sentimentos dos empregados dos níveis inferiores para com a organização são reforçados ou modificados, sugerimos direcionar o discurso simbólico da empresa, a um patamar intermediário, a um certo ponto hipotético central, a uma escala média. [...] O objetivo deve ser o de aproximar a comunicação ao nível da expressividade maior dos empregados. (REGO, 1986, p. 31) Quando se trata de comunicação organizacional, o destaque é para a comunicação que ocorre dentro da organização, pois como já citado, são os processos comunicacionais internos que irão gerar condições para os elementos formadores da organização (colaboradores e setores) relacionem-se entre si, e para a própria relacionar-se com outras organizações. Ou seja, “um processo comunicacional interno, que esteja em sintonia com o sistema social mais amplo, proporcionará não apenas um equilíbrio como o surgimento de mecanismos de crescimento organizacional” (KUNSCH, 2003, p. 70). A comunicação interna procede por fluxos comunicativos os quais existem três que se movem em duas direções, são eles os fluxos descendente, ascendente e lateral, sendo que os dois primeiros na direção vertical e o último na horizontal, conforme Rego (1986, p. 32). Kunsch (2003, p. 85) explica que o fluxo descendente liga a direção da organização com os colaboradores e por ele são transmitidas a filosofia, as normas e as diretrizes, caracterizando-o como a “comunicação administrativa oficial”. Já, no fluxo ascendente ocorre o contrário, pois neste são os colaboradores que enviam à direção suas informações através de “instrumentos planejados, como caixa de sugestão, reuniões com trabalhadores”, dentre outros meios. E, por fim, no fluxo lateral a comunicação ocorre entre pessoas do mesmo nível hierárquico, ou seja, entre departamentos, seções, unidades. A comunicação de fluxo lateral, “quando bem conduzida, pode criar condições bastante favoráveis e uma otimização de recursos e do desempenho organizacional” (KUNSCH, 2003, p. 85). Nos fluxos, a comunicação transita através de meios ou veículos que viabilizam a transmissão de informações da organização pra os públicos e deste para ela. Os veículos/meios (KUNSCH, 2003) podem ser: escritos (material impresso), orais (conversas, reuniões, telefonemas, rádios), audiovisuais (vídeos institucionais, telejornais, tv corporativa), pictográficos (mapas, pinturas, diagramas), simbólicos (bandeiras, sinais, insígnias, flâmulas) e telemáticos; ou, ainda, a combinação de dois ou mais desses. Segundo Kunsch (2003), os meios telemáticos são aqueles nos quais as informações são trabalhadas e transmitidas com o uso combinado da informática e dos meios de telecomunicação. “São os meios interativos e virtuais” (KUNSCH, 2003, p.87). Como exemplo, tem-se a internet, o correio eletrônico, a intranet e os celulares. A apropriada aplicação das inovações tecnológicas e do conhecimento, via de regra, permite a produção de bens ou a prestação de serviços com maior qualidade e redução nos custos. Isso se deve, fundamentalmente, a fatores tais como a facilidade e/ou o baixo custo operacional, a possibilidade da interatividade e a redução dos custos com a mãode-obra, desperdício de tempo e matéria prima, entre outros. (BALDISSERA, 2000, p. 15). O avanço tecnológico e a popularização das novas tecnologias fizeram com que as organizações introduzissem esses novos meios à sua cultura – “por cultura organizacional entende-se o conjunto de crenças e valores específicos de uma determinada organização” (BALDISSERA, 2000, p. 15). No entanto, é necessário que a decisão de utilização de tecnologias de comunicação esteja de acordo com a utilização das mesmas pelo público que a organização pretende se relacionar. A organização deve, antes de adotar uma nova tecnologia, saber quais tecnologias são utilizadas pelos públicos. Como disse Baldissera, as vantagens do uso de tecnologias só ocorrerão se a organização tiver o cuidado de aplicar tecnologias adequadas ao público que pretende atingir; pois, assim como as organizações são diferentes, seus públicos também se diferenciam. 1.2.1 Comunicação em Organizações Desportivas A partir do momento que as organizações desportivas passam a atuar como grupos empresariais, a comunicação organizacional ganhou mais importância para o dirigente de clube que considera o sistema comunicacional “fundamental para o processo das funções administrativas internas e o relacionamento das organizações com o meio externo” (KUNSCH, 2003, p. 69). Porém, mesmo em Clubes que já se transformaram em empresas, a comunicação demorou para ser vista como ponto estratégico e diferencial na gestão do clube ou sua relevância ainda não foi reconhecida por completo, como foi o caso do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Até abril de 2005, o clube portava-se em relação a comunicação como a maioria dos clubes brasileiros, ou seja, o setor de comunicação dava mais importância à assessoria de imprensa do que às relações com os outros públicos. E mesmo assim, segundo o Coordenador Executivo de Comunicação do Clube, Haroldo Santos, a assessoria de imprensa não cobria todas as atividades do Clube, somente o futebol profissional. Santos relata em entrevista (Anexo A)2: Na minha chegada nós tínhamos aqui um jornalista que só acompanhava o futebol profissional e não se preocupava com o Clube (...). Tinha um jornalista que cuidava do site e um estagiário que dava a retaguarda pros dois. [...] Qual era a ferramenta que você tinha aqui dentro, o site e uma assessoria que conversava por telefone no contato com a imprensa. A atenção voltada para o futebol profissional acabou deixando de lado todo o trabalho que o Grêmio realiza com as categorias de base, o qual visa a formação de jogadores desde o infantil, 2 Entrevista cedida à Sabrina Raupp Souza em 03 de setembro de 2008 na sala da Assessoria de Imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegense. passando pelo juvenil e atingindo o nível júnior, para enfim chegar ao profissional – além destas categorias, o Clube ainda oferece pré-infantil, sub 12, sub 13 e a escolinha. Segundo Denis Vieira Abrahão, ex-Diretor Executivo de Futebol e atual conselheiro do Clube, o Grêmio está sempre buscando o melhor para o seu grupo de jogadores, o Grêmio investe nas categorias inferiores, o Grêmio tem uma escola de futebol com mil e duzentos alunos, o Grêmio tem todos os departamentos dirigidos por pessoas competentes, trabalhadoras, dedicadas, identificadas com o clube, escolhidas a dedo. (ABRAHÂO apud FERNANDES, 2000, p. 104) Uma visão unifocal sobre o clube de futebol, ou seja, ver a organização desportiva clube de futebol como sendo somente a equipe principal, não permite que o profissional de comunicação encontre um diferencial na organização. O profissional que dá atenção somente para os resultados da equipe de futebol profissional e não conhece todos os feitos da organização pode perder a oportunidade de explorar midiaticamente fatos relevantes, como a formação própria de jogadores, tendo em vista que grande parte dos clubes brasileiros não possui este tipo de trabalho. Fernandes afirma que este foco no futebol e na formação de jogadores com a cultura do Grêmio, a organização administrativa, que garante excelência na gestão do clube, se tornam habilidades diferenciadas no mercado, caracterizando-se como requisito essencial na criação e na manutenção do diferencial em relação aos outros clubes. Nos últimos anos, as equipes do Grêmio sempre foram compostas por atletas formados dentro do próprio Grêmio. (FERNANDES, 2000, p. 105 e 106). Para falar sobre esta falha de comunicação, começamos com uma citação de Hall, a qual comenta sobre a importância da comunicação. Segundo Hall, a comunicação é extremamente importante nas organizações e segmentos organizacionais que precisam lidar com a incerteza, que são complexos e que tem uma tecnologia que não permite uma rotinização fácil. Tanto as características externas quanto as internas afetam a centralidade de comunicação. Quanto mais uma organização se orienta para pessoas e idéias, mais importante se torna a comunicação. (HALL, 1984, p. 133) As palavras de Hall, embora não dirigidas a uma organização desportiva, poderiam perfeitamente servir a qualquer clube de futebol que pretende atuar como um grupo empresarial. O clube de futebol é uma organização que lida constantemente com incertezas, pois suas estratégias de comunicação estão ligadas diretamente ao resultado dos jogos, ao desempenho de jogadores, ao comportamento de torcedores, ou seja, a fatores que não dependem exclusivamente do clube e que podem ocorrer de forma positiva ou negativa em um curto espaço de tempo. Para a Gerente de Marketing do Grêmio, Michelle Billo3. Na entrevista (Anexo B) ela comenta que o Grêmio, embora seja classificado como uma organização, não é que nem uma empresa, um varejo, por exemplo. Eu sei que uma xícara custa R$ 1,99 e daqui a 15 dias ela vai continuar custando R$ 1,99. Eu sei que o Grêmio hoje tá na liderança e vai continuar, tem que pensar assim. Mas, e se por uma eventualidade acontece alguma coisa, eu não posso usar esse mesmo planejamento para daqui 15 dias porque muitas coisas podem rolar. Ou seja, tudo o que está planejado, eu gostaria de executar porque tudo é em prol e bom para o Clube mas muitas vezes eu não consigo por causa do resultado do campo. Conforme Billo, a incerteza dos resultados interferem diretamente no planejamento publicitário do clube, pois a publicação de amanhã depende do resultado do jogo de hoje; o clube não pode divulgar algo que reforce sua imagem de campeão se no dia anterior perdeu um jogo, assim como, não pode elogiar o torcedor, agradecer o comparecimento no estádio e o apoio, se houve briga nas arquibancadas ou se os torcedores depredaram as instalações do estádio. Billo4 ainda acrescenta que o resultado não interfere nas pessoas, nem na Michelle como profissional. O meu trabalho continua a mesma coisa, mesmo na vitória, mesmo na derrota o meu objetivo, o meu posicionamento, o meu foco é o mesmo sempre. Eu não posso me deixar levar pela emoção. A emoção eu deixo pro sócio, eu deixo para o torcedor que vem aqui, que grita, que solta toda a energia dele. A minha energia eu resguardo para continuar o meu trabalho. O que Billo diz é que, antes de serem torcedores, as pessoas que trabalham no Clube são profissionais, sendo assim, devem colocar a mentalidade empresarial acima do amor pelo futebol e principalmente da paixão pelo Clube. Esse é o profissionalismo que a gestão do clube empresa necessita para inserir a mentalidade empresarial no esporte. O atual momento da gestão dos clubes de futebol como clubes empresas fez surgir a necessidade dos clubes preencherem seus quadros de colaboradores com profissionais de visão empresarial. E, esses profissionais não devem estar presentes somente na diretoria do Clube, mas em todos os setores, inclusive no de comunicação. 3 Michelle Billo concedeu entrevista à Sabrina Raupp Souza, no Departamento de Comunicação e Marketing do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, no dia 03 de outubro de 2008. A transcrição da entrevista encontra-se no Anexo B deste trabalho. 4 Conforme entrevista cedida no dia 03 de outubro de 2008. 1.3 Crises Organizacionais Antes de iniciar o assunto, é necessário realizar um breve comentário sobre o que é imagem organizacional. A imagem de uma organização é formada através do conjunto de valores atribuídos a ela. É o modo como as pessoas vêem a organização. Segundo Leal e Targino (2005, p.621), “a imagem pressupõe a apreensão de valores subjetivos externados pela instituição em diversos momentos de sua existência e de sua atuação”, ou seja, através das ações tomadas pela organização e da percepção do público é formada a imagem organizacional. Portanto, crise é uma ruptura no processo organizacional que traz danos a imagem da organização. Crises são acontecimentos negativos que fogem da rotina e ao controle da organização e necessitam de cuidados especiais para solucioná-los. Para Lopes (apud FORNI, 2003, p. 363), crise é “qualquer coisa negativa que escape ao controle da empresa e ganhe visibilidade”. Conforme Mitroff (apud ROSA, 2001, p. 23), a crise pode advir de um fenômeno natural ou humano - as causadas pela natureza, como uma enchente que destrói todos os grãos armazenados de uma indústria alimentícia ou um abalo sísmico que faz uma fábrica desmoronar, não prejudicam a imagem da organização; porém, quando o estopim da crise é uma falha humana, a primeira parte da organização a ser prejudicada é a sua mais valiosa, a imagem. Existem diversas definições para crise de imagem, mas Rosa (2001, p.23) afirma que “a melhor definição é de que a crise de imagem constitui um conjunto de eventos que pode atingir o patrimônio mais importante de qualquer entidade ou personalidade que mantenha laços estreitos com o público: a credibilidade, a confiabilidade, a reputação”. Para um fato ruim atingir este patrimônio é necessário chegar ao conhecimento público, e o caminho mais rápido é através da mídia. Conforme Forni (2003, p. 372), “crise de comunicação é qualquer evento negativo que escape ao controle da empresa e se torne público, a partir do interesse da mídia”. O autor ainda acrescenta que há uma tendência, sobretudo nos meios audiovisuais, para que a informação dê lugar à mídia espetáculo. A crise – qualquer que seja sua dimensão – cai como uma luva nessa pauta. Se tiver imagens, melhor ainda. A TV é o veículo predileto da imprensa, não há como as empresas evitarem a contingência de mais cedo ou mais tarde serem “premiadas” por qualquer tipo de mídia. Tudo pode ser uma questão de tempo. (FORNI, 2006, p. 367/368). Assim como Forni, Rosa também alerta para a não discriminação de organizações para a ocorrência de crises. Não importa o tipo ou o tamanho da organização, desde uma padaria de esquina até uma multinacional podem sofrer uma crise. Conforme Rosa, gigantes empresariais cultuadas como a Johnson & Johnson ou a General Motors, ícones consagrados como a corretora Merrill Lynch, mitos vivos como Pelé, organizações insuspeitas como a Anistia Internacional e, até mesmo, símbolos venerados como a Igreja Católica são apenas alguns nomes mais vistosos nessa galeria de notáveis que vivenciaram crises de imagem. (ROSA, 2001, p. 21/22). As crises de imagem são geradas por falhas humanas e por isso são inevitáveis, porém, “previstas, e exatamente por esse motivo, o público se sente escandalizado quando elas ocorrem” (MITROFF apud ROSA, 2001, p. 23). Os dirigentes de organizações não devem esperar que seus colaboradores cometam falhas, mas devem estar preparados para quando as falhas sejam cometidas, pois, com relação à crise “sua característica mais perigosa é a surpresa”. (FORNI, 2003, p. 366). 1.3.1 Crises em Organizações Desportivas O futebol pode ser considerado um esporte-espetáculo, pois essa terminologia quer dizer que “estamos nos referindo a uma forma particular de práticas altamente competitivas e a uma esfera específica de consumos esportivos” (PRONI, 1998, p. 84). No Brasil, o futebol é o esporte mais praticado e comentado. Há pessoas discutindo em bares sobre os resultados dos jogos, as táticas de defesa e ataque, o posicionamento de jogadores e até a administração dos clubes. As conversas em bares podem apontar uma possível crise de imagem; pois, para uma organização desportiva, como o clube de futebol, uma crise pode ser provocada pela má administração, gerando atrasos de pagamentos e dívidas, pelo descontentamento dos torcedores com relação ao desempenho de algum jogador, do técnico ou, mesmo, da equipe inteira. Mas, o fato que mais pode causar rachaduras na imagem é o rebaixamento de série. Assim como aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2007 com o Corinthians, clube de futebol do estado de São Paulo, aconteceu com o gaúcho Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2004. O rebaixamento desses Clubes da Série A para a Série B do Campeonato Brasileiro virou notícia nacional. Os motivos que levam um Clube de Futebol a ser rebaixado podem ser tanto administrativos quanto de qualidade em campo e é essa a discussão que toma conta de bares, jornais, e da internet quando um Clube tradicional cai para a segunda divisão. É por isso que em um momento de crise o setor de comunicação de um clube deve agir rápido para evitar grandes estragos, como sustenta Forni (2003, p. 378), “quando a empresa entra em crise, o setor de comunicação precisa ser ágil para evitar o máximo de estragos na imagem da organização”. Principalmente, na internet, encontram-se diversos comentários sobre os motivos que levam um clube a ser rebaixado. Essa é uma questão que todas as organizações devem ter que cuidar diariamente, pois o mundo virtual fornece a qualquer pessoa um espaço para transmitir uma mensagem não interessando o conteúdo da mesma, se é verdade ou mentira. E, pelo poder de alcance do meio, esses indivíduos podem se tornar mais influentes que a organização. Um exemplo de que a rede virtual dá voz a qualquer indivíduo são os blogs. “Com o poder da blogosfera e o crescimento exponencial da internet, as empresas não têm outra opção a não ser aderir ao mundo on-line para gerenciar suas reputações e afastar as crises potenciais” (ARGENTI, 2006, p. 273). Um relato sem provas sobre a administração do Grêmio pode ser encontrado no blog intitulado de Dossiê Grêmio no qual consta que o rebaixamento começou em 2003. [...] Numa reunião na sala da presidência do Olímpico ainda em dezembro de 2003, três dias depois de o time derrotar o Corinthians e escapar do rebaixamento, os homens do futebol (Krebs e o vice Saul Berdichevski), o presidente Flávio Obino, o vice de finanças, Jaime de Marco, e o vice de planejamento, Adalberto Preis, acertaram as estratégias para a temporada 2004. A idéia era evitar que os atrasos de salário, que tanto tumultuaram o time na temporada, se repetissem. Por isso, os gastos com o futebol seriam reduzidos em quase 50% [...] A idéia era não gastar nada. Os contratos eram de três meses. Como no Jokey Club, a época era de apostas (URBANO, 2008). Mesmo com uma descrição detalhada do acontecimento, sem um contato mais aprofundado com o setor administrativo do Clube não será possível validar a opinião de Urbano, já que no blog ele não apresenta nenhuma prova, tem-se apenas a palavra do blogueiro. Porém, somente pelo fato deste boato estar na rede, ele já está legitimado como algo que realmente aconteceu. Contra isto, é necessário que as organizações estejam cientes de que “boatos nascem e se desenvolvem no vácuo das informações ou no conflito entre elas. Momentos de incerteza, hesitação, vacilação, contradição são excelentes caldos de cultura para os boatos se criarem”, como afirma Neves (2002, p. 220). São justamente esses boatos que podem gerar uma crise ou torna-la ainda maior e mais interessante para a mídia. 2. PÚBLICOS: COMPORTAMENTO E RELACIONAMENTOS Toda a organização tem um público para o qual é destinado seu produto ou serviço. Porém, algumas organizações não conseguem definir as características desse público, como seus valores, suas crenças e seu modo de vida. Esse conhecimento permitiria a comunicadores, administradores e profissionais de marketing a criação de estratégias moldadas para se relacionar com um público específico, ajudando a organização a realizar seus objetivos. 2.1 Públicos Os públicos compreendem grupos de pessoas que recebem e transmitem informação e que são capazes de formular suas próprias opiniões e de decidirem por si. O que esses sujeitos têm em comum e que os colocam em um mesmo grupo é o fato de possuírem características de consumo semelhante que os aproximam às ofertas das organizações. Em outras palavras, o público é a razão de ser da organização, é por ele que ela foi fundada e é ele o maior responsável pela manutenção organizacional. Diante de mercados competitivos, quanto mais uma organização souber da vida de cada um de seus públicos, mais ela estará preparada para desenvolver o relacionamento adequado para o público. Assim, explica França: o público é um grupo de pessoas com interesses comuns que se vê diante de uma controvérsia e procura resolvê-la pelo debate. Mas essa definição continua sendo válida para os relacionamentos das organizações reestruturadas e globalizadas na realização de seus negócios? Parece que não se aplica mais à realidade mercadológica e competitiva de hoje. (FRANÇA, 2004, p. 18). Durante algum tempo os públicos foram divididos sob o critério geográfico, em interno, externo e misto, o qual “serve para enquadrar os distanciamentos dos públicos quanto ao centro de poder da organização” (SIMÕES, 1995, p. 131). Embora esta seja a classificação mais utilizada, ela pouco nos diz sobre as especificidades de cada um dos públicos; por exemplo, dividem a classificação de internos os funcionários e seus familiares; porém, cada um deles possui um nível de contato com a Organização. Os funcionários mantêm contato direto com seu local de trabalho, já seus familiares, recebem informações por meio dos funcionários e da mídia. A opinião formada sobre a organização é construída com base em diferentes fontes. Logo, agrupar esses dois tipos de públicos na mesma classificação ocasionará em erro da organização. O critério geográfico de classificação de públicos já está ultrapassado. Simões (1995, p. 131) observa que “os públicos precisam ser compreendidos sob uma outra ótica. É imprescindível identificá-los, analisá-los, e referenciá-los quanto ao poder que possuem de influenciar os objetivos organizacionais, obstaculizando-os ou facilitando-os”. Sobre a classificação geográfica de públicos, França menciona que as transformações sociais e organizacionais demonstram que essas categorias não mais correspondem à realidade enfrentada pelas empresas na relação com os públicos, nem à segmentação desses mesmos públicos, focalizados hoje como nichos específicos aos quais deve ser dirigida a ação das empresas. (FRANÇA, 2004, p. 33). Mais adiante o autor comenta que a verificação de que a tradicional divisão de públicos em interno, externo e misto não atende mais às necessidades de equacionar as relações da organização com os diferentes grupos com os quais interage tem levado à busca de novos conceitos para substituí-los”. (ibid, p. 54/55) Como mencionado por Simões, o critério adequado para classificar os públicos é aquele capaz de segmentá-lo por nível de influência diante da organização. Deste modo, tem-se a classificação de Lucien Matrat, pesquisador francês que na década de 1970 “apresentava esquema classificatório de públicos quanto ao tipo de poder” (SIMÕES, 1995, p. 131/132). Matrat classificou os públicos em: decisão, consulta, comportamento e opinião. Os públicos de decisão conforme Matrat (apud França, 2004, p. 55) são “aqueles dos quais a empresa depende no exercício de suas atividades”. E, para Simões (1995, p. 132), são “públicos cuja autorização ou concordância permite o exercício das atividades organizacionais”. Ambos autores apresentam como exemplo “universal” o governo por possuir “poder concedente e suspensivo sobre o funcionamento e a permanência da organização no seu ramo de negócio” (SIMÕES, 1995, p. 132). A segunda classificação refere-se ao público de consulta o qual é responsável por auxiliar a organização na tomada de decisões. Segundo França (2004, p. 55), “esse público é sondado pela organização antes de agir, antes de tomar decisões estratégicas”. Simões (1995, p. 132) exemplifica esta categoria com os acionistas e os sindicatos patronais. Os de comportamento são “os públicos cuja atuação pode estimular ou prejudicar a organização” (FRANÇA, 2004, p. 55). À esta categoria, são incluídos, os funcionários e os clientes. Sobre os funcionários, França (2004, p. 55) explica que “deles dependem as atividadesmeio e fim da empresa” e, sobre os clientes, Simões (1995, p. 132) esclarece que “por sua conduta individual condiciona a permanência da organização no mercado, na medida em que aceitam, ou não, consumir os produtos oferecidos”. A quarta categoria, os públicos de opinião, é representada “por aqueles que influenciam a organização pela simples manifestação de seu julgamento e de seu ponto de vista” (FRANÇA, 2004, p. 55). São exemplos: formadores de opinião, jornalistas, comentaristas de rádio e TV, “mas a grande maioria é composta por pessoas indistinguíveis no conjunto dos vários públicos” (SIMÕES, 1995, p. 132). Vale ressaltar que a existência de uma organização só é possível graças aos seus públicos, assim afirma Grunig (2003, p. 74) ao dizer que os teóricos das organizações postulam “que as organizações existem no contexto de um meio que é formado por diversos grupos ou públicos estratégicos”. 2.1.1 Os Públicos da Organização Desportiva As Organizações Desportivas estão inseridas no mercado esportivo, logo, seus públicos são as entidades – organizações, instituições, empresas, indivíduos – que estão de algum modo ligadas ao esporte. Deste modo, tratando do termo generalizado Organizações Desportivas, sem especificar o esporte, o mapeamento de públicos torna-se superficial. Porém, para inicio da explanação, é conveniente ser mencionado. Também, torna-se necessário citar que devido a falta de conteúdo literário descrevendo os públicos deste segmento organizacional o mapeamento aqui apresentado está baseado na literatura sobre os mercados constituintes do esporte e os relacionamentos de clubes esportivos. Como mencionado no capítulo anterior, as Organizações Desportivas possuem a estrutura administrativa semelhante a de qualquer organização comercial ou industrial e, também, são consideradas como pertencentes a um mercado em expansão altamente lucrativo, como mostrado por Leoncini e Silva: De acordo com o relatório final do Plano de Modernização do Futebol Brasileiro (2000) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que inclui os agentes diretos, como clubes e federações, e indiretos, como indústrias de equipamentos esportivos e a mídia, o futebol mundial movimenta, em média, cerca de 250 bilhões de dólares anuais. No Brasil, dados desse mesmo relatório mostram que o futebol é uma atividade econômica com grande capacidade de gerar empregos, e tem efeito multiplicador maior que vários setores tradicionais, contabilizando: trezentos (300) mil empregos diretos; trinta (30) milhões de praticantes (formais e não formais); quinhentos e oitenta (580) mil participantes em treze (13) mil times que participam de jogos organizados (esporte formal); quinhentos e oitenta (580) estádios com capacidade para abrigar mais de cinco e meio (5,5) milhões de torcedores; cerca de quinhentos (500) clubes profissionais disputando uma média de noventa (90) partidas por ano; e em termos de fornecimento anual de materiais e equipamentos esportivos, são cerca de nove (9) milhões de chuteiras para futebol e futsal, seis (6) milhões de bolas e trinta e dois (32) milhões de camisas. (LEONCINI; SILVA, 2005, p.11). As organizações que lidam com o esporte – com vistas ao lazer ou ao profissionalismo – têm mais diversidade de públicos conforme a relevância que representam no mercado esportivo. Grandes clubes podem possuir em seu leque de públicos: os funcionários, os conselheiros, os diretores, os associados, os clientes/consumidores, os fornecedores, os patrocinadores, os investidores, os concorrentes, o governo, os sindicatos, as entidades regentes da categoria e as mídias. Todos esses públicos participam dos processos que resultam na atividade esportiva e nos que dela são resultados. A afirmativa ganha respaldo com Luiz Fernando Pozzi (1998), autor que apresenta os componentes da atividade esportiva como sendo: os eventos com atletas, ingresso, organização, arena, equipamentos, uniformes e imagem; os serviços relacionados com sentimentos de entusiasmo, coletividade, rivalidade, identificação e sucesso; os processos que compreendem interação entre família e organização; os mercados participantes como as produtoras do esporte (Clubes, Associações, Confederações, Federações); o mercado espectador constituído por espectadores e torcedores; o mercado anunciante através da mídia publicitária; o mercado patrocinador que quer acesso aos espectadores e diferenciar-se da concorrência; e o mercado de afinidade com a utilização de símbolos, logos e marcas registradas que retratam o simbólico relacionado ao esporte. O clube Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense será utilizado para especificar a organização desportiva e exemplificar a descrição de públicos apresentada no parágrafo anterior. Sendo assim, com base no site oficial do clube, cujo endereço é www.gremio.net, os públicos do Clube são: colaboradores responsáveis pela limpeza, manutenção e segurança das dependências do Clube e de suas sedes; médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e demais profissionais que cuidam da saúde dos atletas; atletas das modalidades esportivas profissionais e recreativas (futebol profissional, futebol master, futebol de mesa, atletismo, judô, karatê, taekwondo, remo, vôlei, patinação, hóquei, bandeirantes, escotismo e ginástica); secretárias e assessores que viabilizam o fluxo dos processos administrativos; cônsules; conselheiros; diretores; torcidas organizadas; torcedores; sócios-torcedores, fornecedores (material esportivo, material de escritório, alimentos); patrocinadores e investidores (Banrisul, Puma, Tramontina, Panvel, Via RS, W3Haus); empresas licenciadas para comercializar a marca Grêmio; concorrentes (todos os clubes de futebol, principalmente o Sport Club Internacional devido a rivalidade regional); entidades organizadoras do esporte (Fédération Internationale de Football Association, Confederação Brasileira de Futebol, Confederação Sulamericana de Futebol, Federação Gaúcha de Futebol, Clube dos 13); sindicatos (Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, dos trabalhadores); governo (Federal, Estadual, Municipal), empresas e profissionais que representam as mídias (jornais, revistas, rádios, tv, internet). A listagem dos públicos do Clube de Futebol tende a aumentar conforme o Clube adquire características empresariais mercadológicas. Sobre essas características a mais importante para a empresa é a busca pelo lucro. Fernandes (2008, p. 27) ao abordar a transformação do clube em empresa afirma que “a lucratividade máxima é o objetivo de toda e qualquer empresa”. Para atingir esse objetivo, o clube deve maximizar sua renda; e a maior fonte de renda do clube de futebol é o torcedor. A importância do torcedor para o clube é representada pelo fato de que os demais públicos surgiram a partir dele, conforme Aidar e Leoncini (2000). 2.2 Comportamento do Consumidor Antes de começar a discussão sobre o comportamento do consumidor é necessário conceituar o termo consumidor e, para isto, será utilizado o Código de Defesa do Consumidor5 o qual o define, no Artigo 2º, como “toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto 5 Disponível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. O acesso ao site ocorreu em 21 de outubro de 2008. ou serviço como destinatário final” e, tem como parágrafo único que “equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. Também, é necessário esclarecer que será utilizado como sinônimos os termos consumidor e cliente com base em Sheth, Mittal e Newman, autores que apresentam a seguinte idéia: convencionalmente, o termo consumidor tem sido usado para se referir apenas aos mercados de bens de consumo. O termo correspondente para o mercado industrial tem sido cliente. [...] Na realidade, mesmo a utilização do termo consumidor para referir-se ao mercado de bens de consumo tem sido vista mais em livros didáticos que na prática. Por exemplo, as lojas de vendas a varejo geralmente se referem àqueles a quem atendem como “clientes” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29). Os mesmos autores afirmam que “em geral, um cliente é uma pessoa ou uma unidade organizacional que desempenha um papel na consumação de uma transação com o profissional de marketing ou com uma entidade” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29). Comparando esta definição de cliente com o conceito de consumidor apresentado pelo Código tem-se o demonstrativo de que os termos podem ser utilizados como sinônimos, pois ambos devem participar do processo de troca (ou compra de um bem ou serviço) não importando o papel representado, sendo ele o de quem decide, compra ou utiliza o bem ou serviço. Todos os papeis são interpretados por consumidores e, até, um único consumidor pode representar dois ou três papeis ao mesmo tempo. Sheth, Mittal e Newman explicam que uma transação de mercado requer pelo menos 3 papéis desempenhados pelos clientes: (1) comprar (ou seja, selecionar) um produto; (2) pagar por ele; e (3) usá-lo ou consumilo. Assim, um cliente pode ser: (1) um comprador, (2) um pagante ou (3) um usuário/consumidor. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 30). Sobre cada um dos papéis, os autores (ibid, p. 30) esclarecem que o “comprador é aquele que participa da obtenção do produto no mercado”, é ele quem vai até a empresa e entrega o dinheiro em troca do produto. O pagante é o responsável por fornecer o dinheiro que será utilizado, ou seja, ele “é a pessoa que financia a compra”. Já o usuário ou consumidor é quem realmente faz uso do produto, “é a pessoa que efetivamente consome ou utiliza o produto ou recebe os benefícios do serviço”. Os autores ainda ressaltam que “cada um desses papéis pode ser desempenhado pela mesma pessoas ou unidade organizacional ou por diferentes pessoas ou departamentos”. Verifica-se que quando tratado de comportamento do consumidor há mais envolvido do que as características de comportamento de uma única pessoa. É por isso que as organizações devem empenhar-se para realmente conhecer seus consumidores, saber exatamente quem utiliza seus produtos, se esta pessoa decide sozinho sobre como empregar seu dinheiro ou depende da aprovação de outros ou se esta pessoa utiliza o dinheiro de outros para adquirir seus bens. A importância de a organização conhecer seu público consumidor revela-se ao passo que “o estudo do comportamento do cliente oferece os conhecimentos básicos necessários para decisões empresariais de sucesso” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 32). O cliente de uma organização irá se comportar de acordo com várias atividades físicas e mentais que incluem os papéis já descritos de comprador, pagante e usuário. Assim definem Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 29): “o comportamento do cliente é definido como as atividades físicas e mentais realizadas por clientes de bens de consumo e industriais que resultam em decisões e ações, como pagar por eles”. Por atividades físicas, entendem-se os atos de ir até a loja ou empresa prestadora de serviço, conversar com o vendedor e realizar um pedido de compra. Já, nas atividades mentais constam os atos de julgar as qualidades de uma marca de produto ou serviço atribuindo valores positivos ou negativos, formar opinião sobre a qualidade de um produto ou serviço com base em informações veiculadas pela mídia e avaliar as experiências vivenciadas com o uso do produto ou serviço. Entender como se processam as atividades físicas e mentais dos clientes vai proporcionar à organização, como Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 33) afirmam, “entender por que os clientes compram ou, em termos mais genéricos, por que eles respondem aos estímulos do mercado da maneira que o fazem”. O consumidor que desempenha cada um dos papéis – ou o mesmo consumidor ao desempenhar cada um dos papéis – é tomado por necessidades e desejos diferentes, ou seja, “usuários, pagantes e compradores buscam valores diferentes nos produtos e serviços, e fazem isso porque têm necessidades e desejos diferenciados” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 59). É o surgimento de uma necessidade que leva a pessoa a agir. As necessidades do ser humano provêm de uma condição básica insatisfeita, é quando a pessoa sente sede, fome, frio ou insegurança. Para Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59), “a necessidade nasce de um desconforto nas condições físicas ou psicológicas da pessoa” e o desejo é o próximo estágio, pois eles “ocorrem quando e porque os seres humanos querem levar suas condições físicas e psicológicas a um nível além do estado de conforto mínimo”. Adiante os autores explicam que as necessidades e desejos distinguem-se pelo fato de que a satisfação mínima das necessidades é necessária para sustentar as pessoas como organismos saudáveis. Por outro lado, os desejos têm um elemento de diferenciação por parte do cliente: ou seja, sua satisfação é desejada, mas não essencial. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 59). Para explicar o que causa necessidades e desejos, continuará sendo utilizado os conceitos apresentados por Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 59 - 64). Conforme, tem-se que “as necessidades dos clientes são determinadas pelas características do indivíduo e pelas características do ambiente”. Entre indivíduos e ambiente, são seis características que determinam as necessidades. Destas, três são pessoais do indivíduo, são elas: genética, biogenia e psicogenia. Por genética, entende-se “características hereditárias e químicas/biológicas dos organismos” e ela é um determinante de necessidade porque influencia nas práticas alimentares das pessoas. Já a biogenia “consiste nas características biológicas que as pessoas possuem as nascer, como gênero, raça e ano de nascimento (o que se traduz na idade)”. São características biogenicas que diferenciam as necessidades de jovens e idosos, homens e mulheres ou crianças e adultos. E a psicogenia se refere a estados e traços individuais induzidos pelo funcionamento do cérebro. Esses estados são disposições, emoções, percepções, cognições e experiências armazenadas na memória. Assim, alterações de humor e estados emocionais exigem o consumo de certos produtos. Por exemplo, a necessidade de conversas e interações sociais, a necessidade de afeto, a necessidade de sucesso, a necessidade de sentir-se sob controle, a necessidade de recreação e a necessidade de expressar-se são todas necessidades psicogênicas. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 62) As características ambientais que determinam necessidades são: clima, topografia e ecologia. “As condições climáticas afetam as necessidades de comida, roupa e abrigo”. Enquanto a topografia (características geográficas do território) “gera necessidades do cliente referentes à administração da vida no local específico”. E a ecologia refere-se “a qualidade do ar, a camada de ozônio e a cadeia alimentar‟. Como visto, as necessidades são determinadas por características físicas, o que as difere dos desejos os quais são determinados pelos contextos individual e ambiental da pessoa. Enquanto, “o contexto individual consiste em três dimensões: o valor pessoal financeiro de um indivíduo, as instituições e a cultura”, o contexto ambiental consiste nas dimensões da economia, da tecnologia e da política pública. A primeira dimensão do contexto individual, o valor pessoal financeiro de um indivíduo, “refere-se aos recursos financeiros disponíveis a um cliente. [...] Tais recursos influenciam os desejos, conferido ao cliente o poder de compra para adquirir produtos que tratariam uma satisfação maior que a das necessidades básicas e físicas”. A dimensão das instituições simboliza “grupos e organizações aos quais o indivíduo pertence”. E a terceira dimensão do contexto individual, a cultural, simboliza os desejos surgidos da influencia cultural. “A cultura e os valores culturais dos clientes influenciam seus objetivos e, consequentemente, o que eles desejam em termos de produtos”. Outro determinante dos desejos é o contexto ambiental o qual tem como primeira dimensão a economia. Esta “refere-se ao desenvolvimento e aos ciclos econômicos de uma nação”. A segunda dimensão consiste nas invenções e instrumentos criados pelo homem para sustentar, facilitar e incrementar a vida e as atividades humanas”, por isso, é chamada de tecnológica. E a terceira é a dimensão da política pública, “consistindo em leis e regulamentações que controlam o comportamento humano e, consequentemente, as atividades de negócios‟. Tanto os determinantes de necessidades quanto os de desejos das pessoas são fundamentais para as mesmas agirem e tornarem-se clientes/consumidores de uma organização. A partir do momento que esses fatores forem compreendidos pela organização, esta estará mais apta a desenvolver estratégias para atingir a pessoa, torná-la cliente e satisfazer suas necessidades e seus desejos. 2.2.1 O Consumidor Desportivo A transformação do futebol em empresa e a comercialização da marca dos clubes iniciaram porque este esporte apresenta um fator atrativo: os torcedores. Estes adoradores do esporte e aficionados por um clube de futebol se tornam, fora do campo, consumidores em potencial das empresas que patrocinam os times pelos quais torcem com tanto fervor. Essa afirmação é validada por Silvio Stagni, que no ano de 2000 era diretor de operações da Motorola do Brasil e, neste mesmo ano, ao anunciar o patrocínio oficial da equipe do São Paulo Futebol Clube, declarou: "Essa parceria vai garantir uma grande projeção à nossa marca" (ASSEF, 2000). As empresas utilizam o patrocínio esportivo como um meio de agregar a sua marca os valores ligados ao esporte e a equipe ou clube patrocinado e para transmitir através do esporte uma imagem positiva. Quando as empresas investem em esporte, há uma “união de interesses, pois, atuando sobre o lado emocional dos consumidores, ao mesmo tempo em que viabiliza entretenimento, as empresas passam a gozar de uma boa imagem junto ao público” (TEITELBAUM, 1997, p. 153). Elas esperam conseguir inserir-se em um mercado e conseguir a simpatia dos torcedores os quais configuram como consumidores no mercado esportivo. Sobre o investimento de empresas no esporte, Moura e Rodrigues afirmam que “as empresas utilizam-se do esporte para transmitir imagens positivas de seus produtos, gerando retorno institucional, sucesso de retorno financeiro e de venda das marcas ao investimento empregado.” Para Aidar e Leoncini (2000), o público consumidor do clube de futebol é aquele que consome bens ou serviços ligados ao futebol, então, ele pode ser dividido em dois segmentos: consumidores finais e consumidores intermediários. Os consumidores finais são os torcedores os quais “compram bens e serviços para consumo pessoal”. Os torcedores podem consumir tanto do produtor esportivo – representado pelos clubes de futebol – como do intermediador – emissoras de tv, transmissoras de jogos via pay-per-view, empresas licenciadas. Sob a ótica do torcedor, tanto produtores quanto intermediadores formam o mercado esportivo; porém, para o clube de futebol, os intermediadores são também consumidores, são consumidores intermediários. A classificação é dada porque eles compram dos clubes e federações o direito de exploração de imagem com o intuito de revender aos torcedores. Com base na segmentação dos consumidores em finais e intermediários, Leoncini e Silva (2005, p. 16) acreditam que apesar de o torcedor representar o consumidor final de espetáculos futebolísticos, existem outros agentes consumidores importantes para os clubes de futebol: os consumidores intermediários. Esses consumidores intermediários utilizam os campeonatos, clubes e jogadores como recursos, a mídia como instrumento de divulgação, a propaganda como negócio, o comércio de mercadorias esportivas, a construção da logomarca de um produto, tendo como “cliente final” de toda essa estrutura o torcedor. Ou seja, o mercado de intermediários, agora como produtores (a TV, a mídia e seus parceiros de negócio), operam para atender ao mercado “consumidor” alvo, no caso do futebol, os torcedores. Embora, para o clube de futebol haja outros consumidores tão importantes quanto os torcedores, são esses que justificam a ação de produtores e intermediários. Afinal, foi a partir do torcedor que os outros clientes de futebol surgiram. No item 2.1 deste capítulo foi tratado sobre a conceituação de públicos, e, para isso, foi utilizado o conceito de Matrat o qual classifica os públicos nas categorias de decisão, consulta, comportamento e opinião. Nesta classificação, os torcedores situam-se como públicos de comportamento, pois os de comportamento são “os públicos cuja atuação pode estimular ou prejudicar a organização” (FRANÇA, 2004, p. 55). E, os torcedores (consumidores/clientes do clube de futebol), “por sua atuação individual, podem interferir na sobrevivência da organização ou prejudicá-la gravemente” (FRANÇA, 2004, p. 55-56). No contexto do clube desportivo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense o público responsável por parte significativa de sua renda financeira são os torcedores. São eles quem consome os bens produzidos pelo Clube – de ingressos para jogos a artigos esportivos oficiais. O que os configura como públicos de comportamento, visto que a decisão de não consumir deste público afeta a renda do Clube, interferindo na existência do Clube no mercado esportivo. Portanto, o clube depende do torcedor tanto na questão financeira (já que é o torcedor quem consome os bens ofertados) quanto em uma questão simbólica, visto que a torcida de um Clube determina a grandeza do próprio. Logo, os torcedores do clube são o maior patrimônio deste, pois ele se “valoriza conforme as seguintes variáveis: quantos torcedores um clube tem, qual é o retorno de um jogo, quantas pessoas adoram um clube e qual é a intensidade dessa devoção, qual é a expansão demográfica desses torcedores” (AIDAR; LEONCINI, 2000, p. 92). No ano de 2003, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE – realizou uma pesquisa de opinião pública sobre torcidas com o objetivo de levantar junto a população da área de estudo opiniões relacionadas a torcidas de futebol. A pesquisa de natureza quantitativa foi empregada em 2000 pessoas de todo o Brasil. Na Região Sul, foram 306 pessoas entrevistadas, e destas 23% responderam torcer pelo Grêmio. Fora desta Região, foi contabilizado 1% de torcedores na Região Norte/Centro Oeste. Apesar do número de torcedores na Região Sul parecer pequeno, ele torna-se grande quando comparado ao percentual que seu maior rival recebeu, 13%. A pesquisa realizada foi em âmbito nacional e, dos existentes no Estado, somente os dois times foram citados. Do total de entrevistados, o Grêmio ficou com a parcela de 4%, o que representa 80 citações nacionalmente. Os dados podem ser conferidos no Anexo D. Assim como o Grêmio, os outros clubes de futebol, para garantir a lucratividade do clube, tenta manter bons relacionamentos com os consumidores do esporte. Essa tentativa “exige um entendimento do que motiva os clientes a se engajarem em uma compra com base no relacionamento” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 711). E, como visto, a relação clubetorcedor é o inicio das outras relações geradoras de lucro do clube. 2.3 Relacionamentos Tendo como ponto de partida a frase de Grunig (2003, p. 74): “as organizações existem no contexto de um meio que é formado por diversos grupos ou públicos estratégicos”, chega-se a conclusão de que não basta a organização identificar seus públicos se ela não desenvolver com eles um relacionamento proveitoso para ambos. O resultado favorável do relacionamento organização-públicos para a organização é o seu desenvolvimento e para os públicos é a sua satisfação. Para atingi-los, as duas partes devem se empenhar no processo do relacionamento, assim explica França; o principal objetivo do relacionamento organização-públicos sustenta-se por interesses institucionais, promocionais ou de desenvolvimento de negócios como sucede com os colaboradores, clientes, fornecedores, revendedores e demais públicos ligados ás operações produtivas e comerciais da organização. Empresas e públicos tem interesses comuns de produtividade e lucratividade. São parceiros, cientes de que, para atuarem em conjunto e obterem resultados, devem ser cada vez mais qualificados. (FRANÇA, 2004, p. 100) Mais adiante o autor comenta sobre os casos que constituem o relacionamento entre públicos e organização. há aqui duas situações: a) capacidade de relacionamentos e de realização de negócios lucrativos para ambas as partes (relação de troca); b) no campo da opinião, a possibilidade de formação de um “clima” favorável à empresa pela qualidade operacional que reflete a identidade corporativa. A existência desse “clima de negócios” resulta na qualidade dos relacionamentos e, em suma, do planejamento estratégico, da identidade corporativa, dos valores e princípios operacionais e éticos das empresas. (FRANÇA, 2004, p. 100-101). O relacionamento com públicos é essencial para a sobrevivência de todos os tipo de organização, inclusive nas organizações desportivas, como é o caso dos clubes de futebol. Assim afirmam Taylor (apud LEONCINI; SILVA , 2005, p.2), “no futebol, relacionamento é tudo. As partes constituintes de cada nível do “jogo” dependem da existência saudável dos rivais, desde os direitos de propriedade e administração até as torcidas ativas e o público passivo de TV”. Dentre os públicos do clube de futebol, o que gera para o clube um relacionamento complexo, por não envolver somente questões financeiras, é o torcedor. O relacionamento clubetorcedor (ou então, clube-consumidor final) possui um diferencial dos outros relacionamentos que o clube como empresa mantém. Essa diferença é o fator emocional do torcedor que o leva a torcer pelo clube e que por motivos passionais consome ou não os bens e serviços produzidos pelo clube. Porém, outras características desse relacionamento são apresentadas por Silva e Campos Filho os quais apontam que uma das peculiaridades do consumidor final do futebol (o torcedor) é a de que, diferente de mercados comuns, seu relacionamento com o clube é duradouro apesar do serviço oferecido não ser dos melhores (como, por exemplo, a falta de títulos, desconforto e insegurança nos estádios). [...] Um relacionamento duradouro com os clientes é a base das fontes de receita das organizações. Além disso, o atual cenário, pós Lei Pelé, compromete a rentabilidade dos clubes através da negociação da venda de “passe” de jogadores e cria uma necessidade ainda maior de se relacionar com os clientes. (SILVA; CAMPOS FILHO, 2006, p. 199) Embora um dos fatores a ser considerado tratando-se do relacionamento clube-torcedor envolva questões intangíveis, a relação de ambos constitui uma das relações comerciais da organização desportiva porque ela está diretamente ligada a renda do Clube. Aidar e Leoncini (2000) apresentam sete relações que montam o quadro de relacionamentos de negócios que geram receita ao clube, sendo elas: relacionamento com as mídias (direitos de transmissão e trocas publicitárias), relacionamento com o patrocinador principal (investidores), relacionamento com loterias, relacionamento com o torcedor (cliente/consumidor), relacionamento com o patrocinador técnico (patrocinadoras de material), relacionamento com empresas produtoras de bens (licenciados), relacionamento com outros clubes / federações / empresas patrocinadoras (negociação de jogadores). O planejamento e o gerenciamento das relações organização-públicos geralmente são de responsabilidade dos profissionais de Marketing e Relações Públicas. A junção das atividades contribui para a melhora do relacionamento organizacional porque as áreas apresentam propósitos distintos, os quais unidos podem auxiliar a determinar ações que satisfaçam organização e consumidores. Em vista da união de esforços tanto para satisfazer as necessidades dos consumidores como para efetuar os objetivos e metas organizacionais, Fortes acredita que enquanto para o Marketing da organização empresarial existe a valorização financeira da troca, esperando-se o retorno adequado do capital que foi investido mais a margem de lucro, para as Relações Públicas a implantação de um relacionamento, empresa / público / empresa, não inclui, obrigatoriamente, a ênfase nos fatores econômicos, mas um procedimento de intercâmbio de valores, ao disseminar e receber informações coerentes, elevando, logicamente, o nível de entendimento das questões ambientais (FORTES, 1999, p.43). Conclui-se que, ao passo que as Relações Públicas alicerçam-se como ciência social e política no âmbito institucional e coorporativo das organizações, identificando e caracterizando públicos, idealizando e desenvolvendo programas de comunicação baseados nas demandas sociais e possibilidades organizacionais, além de, prognosticando e gerenciando conflitos e crises. O Marketing de Relacionamento tem como raiz a área da administração e como foco o mercado, baseia-se em modelos de competitividade para atingir objetivos econômicos; portanto, relacionar-se com consumidores é uma estratégia para que a organização adquira vantagem econômica perante a concorrência. 2.3.1 As Relações Públicas Assim como não há a existência de uma organização sem os públicos e, muito menos, dos públicos sem a organização, é inexistente a organização sem relações públicas, pois como explica Simões (1995, p. 52), relações públicas são o “sistema social constituído pelas transações entre organizações e públicos”. O surgimento da organização implica no surgimento de uma de vários públicos que viabilizam o desenvolvimento da organização dando aparato ou servindo como alvo de seus negócios. Tendo a organização uma ligação com seus públicos é implícita a ocorrência de um relacionamento entre eles. A assertiva ganha respaldo em Simões; pois, segundo o autor considerando o processo de trocas existentes entre a organização e a sociedade, os vários tipos de relações inerentes ao processo e a possibilidade constante de conflito entre a organização e seu público, tem-se que a organização, para sobreviver no e com o sistema maior deve possuir mecanismos que providenciem esta garantia, quer dizer, que regulem os conflitos, ou então que provoquem a integração. (SIMÕES, 1995, p. 101). Os mecanismos que devem servir para controlar conflitos e estimular a integração estão inerentes à organização, como explica Simões: Relações Públicas existem independentemente da vontade dos dirigentes. Surgem com a própria estrutura, com e no funcionar organizacional. Fazem parte, intrinsecamente, da organização qualquer que seja sua classificação, tamanho ou finalidade. São operacionalizadas pela própria organização, por tudo que a mesma fizer ou deixar de fazer. Sempre que existir uma organização, existirá um conjunto de ações, implicando Relações Públicas, bem ou mal realizadas. (SIMÕES, 1995, p. 101). A questão chave a ser considerada é a que se refere às Relações Públicas “bem ou mal realizadas”. O conjunto de ações que implicam a função irá ser efetuado mesmo não tendo um profissional habilitado para isso, mesmo a organização não possuindo dentre seus colaboradores alguém que saiba identificar o mercado no qual a organização está inserida, os públicos com os quais ela se relaciona, as especificidades de cada público e a maneira mais adequada de se relacionar com eles. Apesar de, hoje, haver uma miscigenação de funções entre as áreas da comunicação (e em alguns casos entre a comunicação e o marketing) em termos de mercado, o profissional de Relações Públicas possui em sua essência os públicos, pois é por causa dele que sua atividade ganhou importância e destaque a ponto de ser considerada como essencial para uma organização em busca do sucesso. As Relações Públicas tem um interesse diferente em conhecer os públicos do que as demais áreas da comunicação. Evidentemente, o interesse pela definição de públicos é de todos os comunicadores. Mas a pesquisa bibliográfica levou o estudo a se concentrar nos autores dedicados à atividade de Relações Públicas, que, entre todos, são os que mais estabelecem diretrizes e descrevem formas de relacionamento com os mais diversos públicos que interagem com as empresas, tanto do ponto de vista institucional como mercadológico. (FRANÇA, 2004, p.19) Antes de prosseguir o assunto sobre as atividades de relações públicas, vale definir conceitualmente o que são relações públicas e para isso será apresentado o conceito proposto por Roberto Porto Simões (1995, p. 42). Esse defende que como ciência, “Relações Públicas abarca o conhecimento científico que explica, prevê e controla o exercício de poder no sistema organização-públicos” e como atividade “é o exercício da administração da função (subsistema) política organizacional, enfocado através do processo de comunicação da organização com seus públicos”. Deste modo, na definição de Relações Públicas como ciência o termo poder é empregado com o sentido de ter influência, pois no “sistema organização-públicos” as decisões dos públicos influenciam a organização tanto quando são atingidos pelas ações dela. E, sobre a definição da atividade, o autor argumenta que a função política da organização tem o objetivo de que “através de filosofia, políticas e normas, a atuação da organização e do que isso implica, anteriormente em decisões e posteriormente, em produtos e serviços, ocorra e seja percebida como realizada em benefício dos interesses comuns que possui com seus públicos” (SIMÕES, 1995, p. 83) Quando o autor define Relações Públicas, em nenhum momento ele utiliza fins econômicos para designar o objetivo ou finalidade da atividade. Isso ocorre porque, segundo o próprio, o objetivo da função e da atividade é legitimar a ação da organização perante um público e, através da legitimidade, valorizar a organização na percepção do público, gerando sentimentos positivos. A valorização que vai tornar os públicos dispostos a trocas com a organização, sendo isso uma circunstância da valorização e não o fim da atividade. (SIMÕES, 1995). A atividade de Relações Públicas seria de grande validade para o clube de futebol administrar os relacionamentos com todos os seus públicos. Principalmente com os torcedores, já que esses não agem somente por razões racionais, necessitam de um tratamento especial. Na opinião de Aidar e Leoncini (2000 p. 108), a ligação do clube com o torcedor é catalisadora dos outros relacionamentos de negócios do clube. O torcedor que nutre valores positivos pelo clube irá querer ir ao estádio assistir aos jogos e consumir bens que levem a marca de seu clube. Vale ressaltar que a disponibilidade ao consumo do torcedor é consequencia da valorização do clube na sua percepção. A proximidade com as relações de troca devido aos resultados mercadológicos obtidos acabam por confundir as atividades de Relações Públicas e Marketing. Para esclarecer cada uma das atividades, Simões apresenta as diferenças entre elas. Para ele, “a primeira trata com a organização e seus públicos, regulando o conflito, para que se evitem e superem os impasses causados na relação de poder; a segunda põe no mesmo caminho produtos ou serviços e consumidores ou clientes” (SIMÕES, 1995, p. 216). Através das diferenças apresentadas entre as atividades de Relações Públicas e Marketing, conclui-se que para o bem da organização, para que ela evolua, cresça, o ideal seria que ambas atuassem em conjunto, pois suas atividades se completam. As relações públicas trabalham diretamente em função da legitimidade organizacional, e “a legitimidade da organização favorece o marketing” (SIMÕES, 1995, p. 216). Tem-se que produtos ou serviços de qualidade e consumidores ou clientes satisfeitos são fatores que contribuem para a legitimação e valorização organizacional. 2.3.2 O Marketing de Relacionamentos Os relacionamentos determinam o valor e o futuro das organizações; pois, “o capital de relacionamentos é a soma do conhecimento, experiência e confiança de que a empresa desfruta perante os clientes, empregados, fornecedores e parceiros de distribuição” (KOTLER, 2003, p.133). Como visto, a administração dos relacionamentos que visam ao lucro deveria ser uma força tarefa de Relações Públicas e Marketing. Ao passar do tempo, o marketing foi se especializando, gerando sub-áreas com enfoques diferentes, como: marketing de emoções, marketing esportivo, marketing financeiro, marketing de relacionamento, entre outros (KOTLER, 2003). Cada uma dessas sub-áreas trata do processo de trocas sob óticas diferentes – todas tem em sus essência as trocas porque esta é a essência do marketing. Para o marketing de relacionamento a troca também é necessária, mas sua intenção é criar uma ligação resistente com o consumidor, como explica Sheth, Mittal e Newman (2003, p. 683), “buscar e conquistar a lealdade do cliente a longo prazo – satisfazer ao cliente em vez de simplesmente efetuar uma venda – é o objetivo do marketing de relacionamento”. Portanto, pode-se dizer que no marketing de relacionamento o objetivo fim é a troca e o meio a fidelidade, ou seja, busca-se conquistar a fidelidade do consumidor porque esse, sendo fiel a empresa, estará disposto a realizar trocas com ela. E, “conquistar a lealdade” ou a fidelidade pressupõe que o cliente manterá com a empresa uma relação prolongada, “a longo prazo”. O comportamento desse cliente passa a ser denominado de “comportamento de compra com base no relacionamento” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2003, p. 684). Um modelo deste comportamento pode ser visualizado no Anexo E. Sheth, Mittal e Newman (2003, p. 684) explicam que “os clientes que se engajam na prática da compra com base no relacionamento limitam sua escolha a um único fornecedor e dependem dele para satisfazer a suas necessidades referentes a um produto ou serviço”. Os motivos que levam os clientes a dependerem da empresa envolvem fatores custo-benefício e socioculturais. Conforme os autores, a intenção do cliente é se tornar fiel a uma empresa porque isso traz vantagens para ele quando são considerados os fatores custo-benefícios em mercados competitivos. A fidelidade à empresa ocorre porque fazer escolhas pode ser dispendioso – custa tempo, dinheiro e energia; e não há garantias de que o fornecedor alternativo seja melhor do que o antigo. Assim, em um mercado competitivo no qual todos estão tentando fazer a melhor oferta ao cliente, compensa para ele economizar o tempo, o dinheiro e a energia necessários para pesquisar os fornecedores alternativos. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2003, p. 684-685). Outros fatores que, também, influenciam o comportamento de compra com base no relacionamento são aqueles baseados mais na emoção do que na razão (cultura, relacionamentos pessoais), são os fatores socioculturais. Conforme Sheth, Mittal e Newman um motivo pelo qual os clientes engajam-se na compra com base no relacionamento é que eles são socializados desde que utilizam aquele produto ou serviço pela primeira vez. Como clientes individuais, as pessoas aprendem muitas escolhas a partir da socialização da infância [...] Muitas escolhas de marcas, produtos e fornecedores se baseiam na observação que a pessoa faz no seio da família. (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2003, p. 689) No mundo do esporte, a escolha de uma pessoa sobre para qual clube de futebol irá torcer é realizada em grande parte pela influencia de familiares e amigos, mas também pode ser influenciada pelo ambiente. O fato é que dificilmente se encontra no Brasil alguém que não torça para algum time de futebol ou não simpatize com o esporte. O futebol já está inserido na cultura brasileira, como afirma Caldas ao dizer que há uma “profunda empatia do torcedor com esse esporte, a ponto de torná-lo o mais importante produto da cultura lúdica brasileira”. (CALDAS, 2000, p. 126-127). Adiante o autor completa: No Brasil o futebol deixou, há muito tempo, de ser apenas um esporte. Hoje é uma instituição de inegável força cultural para seu povo. A despeito do intenso processo de urbanização da população, são milhares os campos de várzea espalhados pelo país, onde a principal diversão dos baixos estratos populacionais, é assistir e jogar as tradicionais “peladas”. Esta prática no Brasil tornou-se quase um costume cultural. A população como um todo é muito bem informada sobre a prática do futebol. (CALDAS, 2000, p. 162). A paixão pelo futebol e a necessidade do torcedor demonstrar esse sentimento contribuirão para a transformação do clube-empresa, pois viu-se nos torcedores um público ávido por consumir bens e serviços ligados a sua paixão. Mesmo os torcedores de classes econômicas baixas fazem esforços para conseguir ir aos estádios e comprar o uniforme do time. A validade dessa afirmativa vem da análise de Caldas sobre esses torcedores: Seus compromissos financeiros não permitem mais que ele mantenha a mesma assiduidade aos estádios. Mesmo assim, sua paixão pelo futebol já é há tanto tempo de tal grandeza, que ele não pode mais prescindir do grito de gol. Já faz parte de seu cotidiano, dos seus costumes, enfim, da sua própria cultura. (CALDAS, 2000, p. 162). São esses torcedores que estão interessados em consumir bens e serviços esportivos que são o alvo das ações do Marketing de Relacionamento. E, é pelo interesse deles que os clubes investem em departamentos de marketing e em profissionais qualificados, como é o caso do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Compostos de Marketing e Relações Públicas estão presentes no Planejamento Estratégico 2003-2008 do Clube6 (Anexo F). Um dos objetivos apresentados é o “relacionamento com todos os públicos”, onde o Clube pretende atingir empregando estratégias de “valorização e fidelização do quadro social”, “gerenciamento de relacionamento”, “desenvolvimento da função comercial” e “contribuições para a sociedade”. Tanto objetivo, quanto estratégias são pouco ou nada delimitados. Outros indícios de que o Clube faz uso das áreas de marketing e de relações públicas para o encaminhamento das ações de relacionamento estão presentes na seção “Plano Estratégico – perguntas mais freqüentes” (Anexo G) na qual consta uma questão sobre se o plano estratégico vai beneficiar torcedores do interior e de outros estados. A resposta do Clube diz: “sim, pois o planejamento estratégico contempla um conjunto de ações, especialmente na área de marketing e relacionamentos, destinado a valorizar os consulados e os torcedores que se encontram fora da Grande Porto Alegre” (GRÊMIO). E o último indício, e o principal, na Assessoria de Comunicação do Clube, há duas profissionais de Marketing e uma profissional de Relações Públicas atuando no mesmo sub-setor, tendo a de Relações Públicas o cargo de assessora e sendo subordinada a Gerente de Marketing. Ao final do item 2.3, foram abordas as diferenças entre Marketing e Relações Públicas; porém, a temática das Relações Públicas exercerem apoio ao Marketing “já vem sendo objeto de atenção dos estudiosos há vários anos” (KUNSCH, p.123). Sobre esses estudos, Kunsch (2003, p. 125) conclui que “em função das características, das finalidades e dos objetivos das organizações, as relações públicas desenvolverão programas puramente institucionais ou apoiarão o marketing comercial”. Sendo assim, no contexto de apoiadora ao marketing, o trabalho de relações públicas “visa agregar valor econômico e ajudar na consecução dos objetivos mercadológicos das organizações [...] e tudo o que contribuir para criar e consolidar um conceito positivo das organizações perante seus públicos e a opinião pública” (Ibid, p. 123-124). Nesse sentido, podese dizer que a integração dessas áreas pode contribuir na administração de crises de imagem. 6 O Planejamento Estratégico foi consultado no site oficial do Clube. (www.gremio.net) 3. ADMINISTRANDO CRISES O ideal é que a organização prognostique as possíveis situações de conflito pelas quais pode ser atingida e com base nisso elabore um planejamento com ações estratégicas para solucioná-las. Porém, caso não tenha acontecido isso, a organização não pode deixar de lado o planejamento de estratégias de comunicação para lidar com a crise, mesmo durante ela. Caso o conflito tenha ocorrido de surpresa, os dirigentes devem ter calma para planejar suas ações, não devem agir as presas e sem pensar. “A administração de crises consiste em um método para prover organizações ou pessoas dos meios e das ações necessárias para detectar e conduzir crises de imagem” (ROSA, 2001, p. 101) Quando a organização não planeja suas estratégias de combate ao conflito, este toma proporções maiores e acaba por prejudicar a imagem da organização. Fortes (1999, p.67) diz que as estratégias lidam, fundamentalmente, com uma série de premissas e de ações relacionadas, e são estabelecidas para colher resultados pretendidos pelos centros decisórios da organização. A elaboração de estratégias é o estabelecimento de premissas e ações relacionadas que visam ao alcance de resultados pretendidos pela organização. 3.1 Identidade e Imagem Organizacional Organizações podem sofrer crises de diferentes origens – desastres naturais ou industriais, financeiro, reputação, relações humanas, informação (ROSA, 2001) – porém, não importa a natureza da crise, todas podem afetar a imagem da organização se não controladas. A crise de imagem é um resultado da má conduta da organização (não agindo quando deveria ou agindo de forma errada) que afeta a reputação da mesma. A falta de credibilidade pode causar graves problemas entre a organização e seus públicos, como explica Rosa (2001, p. 23): “A melhor definição é de que a crise de imagem constitui um conjunto de eventos que pode atingir o patrimônio mais importante de qualquer entidade ou personalidade que mantenha laços estreitos com o público: a credibilidade, a reputação.” Sobre a reputação, Argenti acredita que, quando bem estabelecida, ela “converte-se em orgulho e compromisso – entre funcionários, consumidores e o público em geral – e essas qualidades são ativos insubstituíveis em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo em escala global” (ARGENTI, 2006, p. 103). A importância da reputação é o reflexo da importância que seus elementos formadores tem, tendo em vista que sua formação é composta pela imagem que os públicos fazem dela e, por sua vez, a imagem é construída pela percepção dos públicos sobre o conjunto de elementos que formam a organização. Isso quer dizer: a reputação é formada pela imagem, que é formada pela percepção dos públicos sobre a identidade organizacional. Kunsch salienta que enganam-se as organizações que acham que sua imagem e sua identidade se resumem à sua apresentação visual, mediante seus logotipos, nomes criativos, luminosos em pontos estratégicos etc. elas são muito mais complexas, decorrendo da junção de vários fatores e diversas percepções para a formação de uma personalidade com diferencial e que seja reconhecida como verdadeira pelos públicos. (KUNSCH, 2003, p.174) As normas e as diretrizes que regem a organização somadas com as ações efetuadas pela mesma resultam na identidade organizacional, ou seja, a identidade é tudo o que a organização é e faz, como explica Kunsch (2003, p. 172) “a identidade corporativa reflete e projeta a real personalidade da organização. É a manifestação tangível, o auto-retrato da organização ou a soma total de seus atributos, sua comunicação, suas expressões etc”. A identidade também é formada pelos processos que estão inseridos no funcionamento da organização – aqui, entende-se processos como os passos que seus colaboradores realizam para que a organização produza, ou seja, “corresponde a determinada lógica coerente de funcionamento fundada na ação coletiva das pessoas em uma empresa e que a distingue de outras” (BRANDÃO; CARVALHO, 2003, p. 191). Em outras palavras, Joan Costa (apud KUNSCH, 2003, p.172) explica que a identidade consiste no que a organização efetivamente é: sua estrutura institucional fundadora, seu estatuto legal, o histórico de seu desenvolvimento ou de sua trajetória, seus diretores, seu local, o organograma de atividades, suas filiais, seu capital e seu patrimônio. E, também, no que ela faz: todas as atividades que movem o sistema relacional e produtivo, compreendendo técnicas e métodos usados, linhas de produtos ou serviços, estruturas e preços e características de distribuição, num conjunto que está sancionado em forma de resultados comerciais e financeiros. Algumas organizações, preocupadas com sua imagem diante dos públicos, investem grandes quantias em campanhas institucionais tentado mostrar como gostariam de ser vista e quais valores devem lhe ser atribuídos. As campanhas institucionais são um excelente meio de propagar a imagem de uma organização, mas elas não servem para nada se a organização não age coerentemente com a imagem que quer transmitir. Identidade e imagem devem ser coesas. A inserção dos valores desejados na identidade organizacional terá como consequencia a transfiguração desses na imagem organizacional, assim, “a credibilidade que uma empresa adquire através da aplicação continuada de um excelente padrão de comportamento determinará sua imagem nas mentes dos públicos de modo muito mais profundo do que uma campanha de anúncios corporativos” (ARGENTI, 2006, p.96). Enquanto a identidade é a realidade da organização, a imagem é a subjetividade da mesma, pois “imagem tem a ver com o imaginário das pessoas, com as percepções. É uma visão intangível, abstrata das coisas, uma visão subjetiva de determinada realidade” (KUNSCH, 2003, 170). A imagem é considerada subjetiva porque nasce da percepção dos públicos, da idéia deles sobre as informações que recebem da organização. Antes de prosseguir, vale mencionar que percepção significa a captação sensorial e a interpretação da realidade. Segundo Eduardo Soto (2002, p. 65), a percepção se refere ao “processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais visando dar significado ao ser ambiente”. Ainda, Soto explica que “se atendemos a origem epistemológica da expressão, esta provém do latim per capiere e literalmente significa „obtido por captura ou captação‟” (Ibid, p. 65). Cada indivíduo pode ter uma percepção da organização e, esta pode ser única ou semelhante a de outros mas nunca será totalmente igual, como expressa Soto, a percepção é importante no comportamento organizacional, já que costuma fazer com que diferentes pessoas tenham diferentes interpretações ou visões, inclusive contraditórias, do mesmo fato ou pessoa. [...] No ato da percepção influem fatores, tanto externos como internos, do indivíduo. (SOTO, 2002, p. 65). Sendo assim, as organizações poderão desenvolver tantas imagens quanto os públicos investirem no processo perceptivo desencadeado por elas. Conforme explica Machado: “ao ficar por conta das percepções, a imagem também pode variar, conforme os diferentes públicos” (MACHADO, 2007, p. 48). Portanto, o poder exercido pela a imagem organizacional a faz ser uma ferramenta essencial no gerenciamento de crises nas organizações. Tem-se, também, que os valores agregados à imagem permitem que a organização exerça um poder sobre seus públicos (BALDISSERA, 2000), caracterizando assim uma relação dual, pois ambos influenciam-se. 3.1.1 Fatores que Sustentam Imagens Como visto, a imagem organizacional não funciona exatamente como um espelho da realidade, refletindo aquilo que é a organização realmente é; pois, a percepção dos indivíduos é um processo mais complexo que implica a interpretação das informações, não somente a captação das mesmas. E, com vistas a entender melhor o que constitui a imagem da organização, Rosa determina os cinco pilares que sustentam uma imagem. Ele determina e caracteriza os pilares da seguinte forma: o primeiro pilar da imagem: imagens estão baseadas não somente em fatos, mas são condicionadas fortemente por valores. Os valores associados a uma imagem às vezes são muito mais influentes do que os fatos objetivamente pertencentes a ela. [...] o segundo pilar da imagem: os mesmos fatos, vistos a partir de novos valores, podem assumir novo significado. [...] o terceiro pilar da imagem: o ser humano não precisa viver uma realidade para se convencer da imagem a ela associada. O conhecimento, o saber, o estudo, a tradição, a cultura permitem que o homem construa uma imagem do mundo, aceitando como verdadeiras as premissas que ele não pode checar pessoalmente. [...] A cultura, aqui entendida como os laços que nos ligam culturalmente, é o quarto pilar da imagem. [...] O quinto pilar da imagem está baseado nas opiniões do professor Kenneth Boulding, da Universidade de Michigan [...] Imagens, goste-se ou não, nunca são reais. E nunca são falsas. Porque, acima de tudo, imagens são abstrações. Não são concretas. (ROSA, 2001, p. 84-90) Com base nas palavras de Rosa, pode-se concluir que o primeiro pilar da imagem referese à força que os valores relacionados a uma organização ganham a ponto do indivíduo confiar mais na imagem que ele tem da organização do que nos fatos que a cercam. Essa relação também pode ocorrer com um produto da organização e esta ser, ou não, beneficiada com a credibilidade de seu produto. Já no segundo pilar o pensamento de Rosa vai ao encontro dos de Soto e Machado, pois os três autores afirmam que a imagem pode variar conforme a percepção do indivíduo. O terceiro pilar são as imagens aceitas pelo indivíduo e que não são contestadas porque suas realidades não podem ser vividas por ele, como fatos históricos, lugares que o indivíduo desconhece. Os valores culturais que são adquiridos pelo indivíduo devido a sua etnia ou religião são simbolizados pelo quarto pilar. E, o quinto, e último pilar, representa a idéia de que imagens são verdadeiras para quem as forma. A verdade de uma imagem está na percepção do indivíduo e não na realidade, por isso, ela nunca será falsa. O fato da imagem não depender exclusivamente da realidade é o motivo que a torna complexa e pelo qual as organizações tentam preserva-la, pois o indivíduo terá preferência pela organização de melhor imagem quando consumir ou indicá-la para outro. Com isso, a valorização da imagem organizacional cresce conforme os mercados vão sendo compostos por mais e mais empresas produtoras dos mesmos tipos de bens e serviços. A imagem torna-se o grande diferencial entre uma empresa e outra (BRANDÃO; CARVALHO, 2003). Essa afirmativa também pode ser encontrada na obra de Luciane Lucas: “Em um mercado mundial em que certificações de qualidade na produção se tornam prerrogativas básicas para competir e no qual produtos se assemelham cada vez mais, a credibilidade se torna o diferencial competitivo por excelência” (LUCAS, 2004, p. 23). Quando uma organização sofre uma crise e esta passa a ser de conhecimento público, caracterizando-se como crise de imagem, ela pode perder o seu diferencial e acabar sendo preterida em relação as outras organizações do mesmo nicho de mercado. Por isso a atitude de prevenir crises e administra-las corretamente quando ocorrem é imprescindível para qualquer organização. Sobre isso, segue a passagem de Caponigro: a decisão estratégica de como comunicar durante e depois da crise é uma das mais importantes decisões que você tomará na administração da crise. Consiste em todos os passos que a organização irá tomar no sentido de esclarecer, por todas as formas e meios, a todos os seus públicos, com vista a evitar estragos ainda maiores a sua imagem. (CAPONIGRO apud FORNI, 2006, p. 365) O relacionamento que a organização cria com seus públicos durante a crise é determinante para este manter ou mudar a imagem que possui da organização. Se antes de uma crise, o público vê na organização valores positivos, ele deve continuar vendo depois que a crise eclodir, para o bem da organização. Caso ele visse valores negativos, a conduta correta da organização durante a crise pode mudar essa visão a favor da organização. Como visto nos pilares da imagem de Mário Rosa, a percepção do público sobre a organização e, consequentemente, os valores que este relaciona a ela, é mais importante na formação da imagem do que os fatos em si. Segundo Martins (1999, p. 23), “elementos emocionais adequados ao posicionamento que envolve a marca vão agregar ao produto uma percepção maior de seu valor”. Por isso, organizações preocupadas com suas imagens e que reconhecem a importância da participação dos públicos na formação delas, buscam esforços tanto na comunicação como no marketing para desenvolver o relacionamento com os públicos e para administrar suas crises de imagem. 3.2 Marketing de Emoções No campo do marketing houve um tempo em que este dizia que as organizações deviam buscar conquistar e manter clientes somente com a oferta de vantagens em relação aos concorrentes. Acreditava-se que os indivíduos eram movidos por razões lógicas, que entre dois produtos, ele escolheria o de menor valor, por exemplo. Porém, os tempos mudaram e a vantagem que uma organização oferta hoje será a mesma que suas concorrentes ofertarão amanhã. Assim explica Kotler: o velho mantra recomendava que as empresas superassem os concorrentes na oferta de alguns benefícios e que promovessem as vantagens competitivas daí decorrentes. Sob o nome marketing de benefícios, a abordagem tradicional presumia que os consumidores eram mais influenciados por argumentos racionais do que emocionais. Mas, na economia de hoje, as empresas copiam rapidamente as vantagens competitivas dos concorrentes, até que deixem de ser fator de diferenciação. (KOTLER, 2003, p. 90) Atualmente, as organizações têm utilizado fatores emocionais para promover produtos e serviços com vistas a conquistar o cliente através do sentimento e não da razão. Por isso, “as empresas recorrem cada vez mais à imagem e ao marketing emocional para conquistar participação na mente e no coração dos clientes” (KOTLER, 2003, p. 90). A participação da organização no coração do público é de extrema importância se for considerado que “para a maioria das pessoas, a razão analisa mas é a emoção que mobiliza” (MARTINS, 1999, p. 24), ou seja, razão e emoção atuam juntas no processo de decisão. Cabe à razão examinar os fatos que irão contemplar a necessidade e à emoção decidir o que irá satisfazer o desejo. É a emoção que vai fazer o público agir em relação à organização. Atingindo o público de forma positiva emocionalmente é mais fácil para a organização esperar que esse público tenha um comportamento de consumo a seu favor. Atingir o sentimento do público de forma positiva e estimular nesse um comportamento a favor da organização é um dos objetivos do marketing de emoção. Esse ramo do marketing busca transformar emoções humanas em imagens fotográficas e fazer com que o consumidor relacione o produto às imagens que a organização quer que ele relacione, como explica Martins (1999). Para conseguir isso, as abordagens do marketing de emoções “costumam ser a produção de mensagens que afetam mais profundamente as emoções e a construção da imagem do produto em torno de algum arquétipo que povoa o inconsciente coletivo” (KOTLER, 2003). 3.2.1 Os Arquétipos Emocionais Arquétipos são modelos, padrões que habitualmente transmitem os mesmos valores aos indivíduos de uma mesma cultura. Eles não são imagens, são predisposições para formar imagens. Martins compreende o termo arquétipo emocional da seguinte maneira: Os arquétipos emocionais são padrões comuns a toda cultura humana. Podem ser percebidos como estados de espírito ou formas de percepção do mundo. Os arquétipos são elementos simbólicos que resgatam estados de espírito comuns a todos nós, possibilitando um trabalho de criação com objetivos definidos. Uma forma pragmática de serem reconhecidos é através de associações de emoções que se agrupam por afinidade. (MARTINS, 1999, p. 37). A utilização dos arquétipos é um meio que a organização pode utilizar para escolher os valores que deseja transmitir. Os valores que ela quer transmitir fazem parte da realidade subjetiva da organização e os arquétipos auxiliam na conversão dessa subjetividade em algo concreto. Quanto ao uso de arquétipos, Martins (Ibid, p. 196) acredita que a utilidade dos arquétipos emocionais “é transformar uma realidade subjetiva aparentemente individual em uma realidade visível comum a todos através de fotos, com sentimentos e intenções coesas e claras”. O autor apresenta vinte e seis grupos arquetípicos que segregam cem variações de emoções, são eles: fluxo de energia, lúdico, raiz, instinto de posse, guerreiro, socialização, cenas do cotidiano, formalização, racional, grande meta, auto-estima, rebelde, o intimo, i‟m a star, equilíbrio estético, exaltação dos sentidos, jogo do poder, busca do inconsciente, idealismo, expansão, expressão, líder visionário, tribo-global, sentimento cósmico, sensibilidade, força de união da humanidade (MARTINS, 1999). Pode-se destacar três grupos dentre esses vinte e seis que são comumente identificados com o esporte e, por isso, utilizados por organizações desportivas na comunicação com seus públicos. O primeiro destaque é o grupo denominado Líder Visionário o qual transmite a “percepção da capacidade de construir a realidade, usar a força de vontade e a fé para realizar objetivos” (Ibid, p. 44). O Líder Visionário é aquele que acredita que com força de vontade e acreditando no próprio potencial conseguirá atingir suas metas. Dentre as emoções relacionadas ao grupo encontram-se: criar a própria realidade concreta, força de vontade, firmeza, vencedor, espírito de conquista e convicção (MARTINS, 1999). Outro grupo de destaque é o Grande Meta o qual “se relaciona ao sentimento de luta, disciplina e determinação. Nesse arquétipo as pessoas são atraídas pela capacidade de realização” (MARTINS, 1999, p.70). A utilização de arquétipos deste grupo ocorre quando se pretende mostrar mobilidade dentro de uma estrutura social, apresentar necessidade de desafios para conquistar objetivos (MARTINS, 1999). À Grande Meta, relacionam-se emoções como: “conquista, esforço, determinação, vencer obstáculos, grandes obras, obstinação, grandiosidade” (Ibid, p. 189). O terceiro destaque vai para o grupo denominado Guerreiro o qual simboliza a “busca pela sobrevivência em um mundo que ameaça e a luta com os inimigos pela sobrevivência” (Ibid, p. 42). O Guerreiro é destemido e bravo, enfrenta seus oponentes de modo notável. Assim sendo, as emoções relacionadas ao Guerreiro são “desejo de glória, espírito de luta, uso de forças irracionais, heroísmo, força, vencer hostilidades e não temer” (MARTINS, 1999, p. 187). O herói é uma figura deste grupo, pois ele “busca a justiça, o limite a ser ultrapassado, um obstáculo a ser vencido, o impossível a ser realizado” (Ibid, p. 58). O marketing de emoção exercido pelas organizações desportivas utiliza mensagens compostas por esses arquétipos porque as relações que o torcedor tem com o esporte, a equipe e o clube são relações de fundo emocional. O próprio torcedor reconhece e não esconde sua paixão pelo clube como podemos ver no relato de Natal Augusto Dornelles, torcedor gremista que escreveu um livro descrevendo sua paixão pelo Clube: “Não quero traçar nenhum perfil psicológico do torcedor. Não é sobre esse tema que estou escrevendo. O tema é a paixão, é a alegria, é o amor, é a transformação do sonho em realidade pela euforia de um gol” (DORNELLES, 2008, p. 21). 3.3 Organizações Administrando Crises de Imagem A administração de crises de imagem é praticada por algumas organizações que já se viram em meio a uma ou viram concorrentes passar por uma. Ambos os casos podem deixar como legado a prevenção de novas crises que, muitas vezes, não são novas no sentido de diferentes, mas de estarem ocorrendo novamente na mesma organização ou em uma concorrente. A semelhança das crises já foi percebida por aqueles que estudam o fenômeno, assim como menciona Rosa: O grande ovo de Colombo, daqueles que começaram a se debruçar sobre a análise da evolução das crises de imagem em nossa sociedade moderna. Foi perceber que, estudando-se todas elas, há um traço razoável de semelhança. As pioneiras na adoção da administração de crise viram que de tempos em tempos qualquer atividade é obrigada a enfrentar crises de um tipo particular. (ROSA, 2001, p. 102). Outro autor que também reconhece a ocorrência de semelhanças entre as crises é Forni, para este, “as crises de imagem, reverberadas na comunicação, tem um padrão. Em muitas delas, há como prevenir e preparar a reação da empresa, porque obedecem a sequencias muito similares” (FORNI, 2003, p. 383). A semelhança entre as crises torna sua prevenção ainda mais fácil de ser realizada, pois a partir do que aconteceu, de como foi agido e dos resultados obtidos pode-se fazer uma análise do que deveria ser feito para obter resultados iguais ou melhores. E, a prevenção torna-se mais essencial quando não há exemplos a serem seguidos porque na eclosão da crise a organização terá que resolver tudo sem nenhum exemplo a seguir. Por isso que o momento de pensar na crise é quando não se está vivendo uma, “quando todos estão de cabeça fria e com tempo. E quanto melhor o planejamento prévio, melhor o desempenho na hora crítica. Essa premissa, a da prevenção, é a base da administração de crises” (ROSA, 2001, p.103). As organizações que pensam em como solucionar crises antes que elas aconteçam poupam tempo e evitam ações equivocadas ou desnecessárias quando elas ocorrem. Forni (2003) acredita que na ausência de um plano preventivo, a organização deve, pelo menos, se preocupar com o mapeamento dos possíveis conflitos pelos quais ela pode ser atingida e que provavelmente teriam repercussão negativa na mídia – o autor defende a ideia de que a repercussão midiática negativa causa mais estragos do que a crise em si. Algo que deve ser ressaltado quando se fala em prevenção de crise ao planejar a administração da crise é o fato do plano para administrá-la servir como um guia que orienta sobre os melhores caminhos a ser percorridos, indicando desvios de rota se necessário. Ele não deve ser considerado como uma receita a ser seguida passo-a-passo. Desta forma explica Rosa: o plano de administração de crises deve ser encarado como um repertório de ações que podem e devem ser adotadas de acordo com a necessidade de cada situação. Assim como as sete notas musicais, oferece variadas possibilidades de combinação, para atender a diferentes objetivos. Essa é a maneira mais valiosa de encarar um plano de administração de crises: não como um livro sagrado com regras imutáveis, mas como um cardápio de opções. (ROSA, 2001, p.118). O plano de como administrar crises além de auxiliar em um momento crítico também pode servir para a organização se conhecer melhor, conhecer a sua imagem, saber quais são seus pontos fracos, em quais setores ela pode melhorar. Esses são uns dos conhecimentos que a organização irá adquirir se implantasse o plano de gerenciamento de crise de Rosa. O autor diz que a organização deve responder sete perguntas para elaborar o plano, são elas; “(1) Qual é a minha imagem? (2) Qual é a minha crise? (3) Qual é o meu comando? (4) Qual é o meu rumo? (5) Qual é a minha face? (6) Qual é a minha arma? (7) Qual é o meu alvo?” (ROSA, 2001, p. 119). Portanto, ao elaborar o planejamento, a organização deve ser verdadeira ao responder as perguntas, mesmo que as respostas não agradem. Conforme o autor, “a condução eficiente de um plano de gerenciamento de crise deve buscar responder a sete questões centrais. Quanto mais precisa e corretamente você definir essas sete respostas para a crise, mais positivamente conseguirá conduzi-la” (Ibid, p. 119). Tendo como ponto de partida responder a primeira pergunta – Qual é a minha imagem? – a organização deve realizar uma pesquisa em jornais e revistas para saber o que é publicado a seu respeito e de que forma as informações são publicadas. O clube de futebol que pretenda elaborar o plano deve, nesse passo, buscar informações nos cadernos de esportes e nos colunistas esportivos de jornais e nas revistas especializadas em esporte. Trata-se, na prática, de uma pesquisa minuciosa de material publicado pela mídia sobre a empresa [...] em questão. A idéia é buscar paradigmas, padrões que venham a emergir dos registros da mídia, permitindo ao comando encarregado de gerir a crise um entendimento sobre qual é a visão de fora. (ROSA, 2001, p. 123). Porém, não basta ter a visão de fora, saber como os outros a veem, a organização também necessita saber como ela é realmente, conhecer a sua identidade. Um meio de tornar isso possível é a realização de uma auditoria de imagem na qual “o importante é saber qual a visão da organização sobre si mesma”(ROSA, 2001, p. 125). Ainda para responder a primeira pergunta, a organização também deve definir a sua missão a qual deve estar de acordo com o código de conduta da organização e ambos devem reger todas as ações da mesma. A segunda pergunta – qual é a minha crise? – obtém sua resposta ao passo que a organização definir o que para ela seria uma crise (quais características um acontecimento deve ter para ser reconhecido como tal), realizar um mapeamento das possíveis crises que pode sofrer e estipular, entre hipóteses de crise, quais a organização não está preparada para enfrentar. Ou seja, conforma Rosa (2001, P. 131), “um passo fundamental, quando o assunto é crise, consiste em separar da forma mais clara possível as múltiplas facetas de um problema, compartimentando as áreas nas quais ele interfere”. Para o clube futebol, estabelecer os acontecimentos que poderiam ser caracterizados como crise pode ser baseado nos fatos que diminuiriam o interesse de investidores e patrocinadores no clube, reduziria o número de torcedores no estádio, cessasse a associação de torcedores ao clube ou reduzisse o número de sócios. “Definir o seu grupo de administração de crises é a terceira resposta para a crise” (ROSA, 2001, p. 137). É fundamental que a organização estabeleça um grupo de pessoas para por em prática as ações do plano e gerenciar a crise. O grupo de administração de crises “serve para estabelecer os pontos vulneráveis de uma organização e, com base nisso, definir os objetivos, a estratégia e as táticas para enfrentar as crises que ela está predisposta a encarar. Isso inclui os procedimentos e itens a serem produzidos antes dos eventos críticos” (Ibid, p. 136). Para Forni (2003, p. 374), o grupo de administração de crises é “um grupo de pessoas ligado à diretoria, com poder de decisão, acionados tão logo ocorra algum acontecimento capaz de ameaçar a imagem da empresa ou provocar repercussão negativa na opinião pública”. Para Rosa (2001) e Forni (2003), o comando da crise deve ser realizado por pessoas que conheçam a organização, tenham poder de decisão e sejam capazes de manter um bom relacionamento com a imprensa. O grupo de administração de crises de um clube de futebol pode ser formado pelo presidente do clube, os vices de futebol, administração, jurídico e finanças, o presidente do conselho deliberativo e o coordenador de comunicação do clube, por exemplo. A definição do comando de crise é pré-requisito para responder a quarta pergunta – Qual é o meu rumo? – pois é o comitê quem vai definir o posicionamento da organização perante a crise. Mas para definir o rumo, a direção das ações da organização, é necessário conhecer os valores da mesma, “são os valores que ditarão as regras sobre qual deve ser o rumo a seguir durante as crises. Os valores definirão a doutrina de crise de cada organização, o que se irá fazer ou não, qual a filosofia a pôr em prática” (ROSA, 2001, p. 138). Além do comitê de administração da crise, uma figura muito importante é a do porta-voz da organização. Essa figura é a resposta para a quinta pergunta, Qual é a minha face?. A representatividade da organização diante da mídia é o porta-voz, pois é ele quem fala em nome da organização, as ações dele vão representar as ações da organização e as ações dela vão ser representadas por ele. Por isso que, ao definir esse porta-voz, deve-se “optar de preferência por alguém que tenha domínio e controle sobre o negócio da empresa; habilidade para ouvir; expressar-se; para manter-se calmo, sob forte pressão; postura e boa aparência e, mais importante, transpire credibilidade” (FORNI, 2003, p. 375). O porta-voz além de saber transmitir corretamente a mensagem da organização, deve se portar de acordo com a imagem que a organização quer transparecer. A resposta para a pergunta qual é a minha arma? está justamente na mensagem que a organização irá transmitir. Segundo Rosa, para construir a mensagem, é necessário antes produzir o seu kit de informações de crise. Essa é a sua arma. Com ela, você poderá definir os conteúdos, as versões, os fatos, os dados que respaldarão a sua mensagem. Definir o que deve integrar esse kit é uma das funções mais importantes do grupo de administração de crises. (ROSA, 2001, p. 142143). A mensagem deve se clara, simples de ser entendida e contendo somente as informações necessárias para esclarecer os fatos aos públicos de interesse. Por falar em públicos, eles são a resposta da última pergunta, Qual é o meu alvo?. Para responder essa questão, a organização deve definir os públicos a serem atingidos em cada uma das possíveis crises identificadas e determinar as mídias utilizadas para atingir os públicos e receber a resposta deles. Com explica Rosa (2001, p. 143), “basicamente, o que está em questão aqui é como fazer para que sua mensagem chegue ao lugar certo. Há diversas mídias e diversos modos de atingir os diversos públicos e ser atingido por eles”. Rosa compara a prevenção de crises de uma organização à obtenção de um plano de saúde por uma pessoa. Enquanto o indivíduo faz um plano de saúde porque pensa que é um ser predisposto a sofrer doenças ou males que necessitará de cuidados especializados para voltar a ser saudável, a organização elabora o plano de administração de crise para solucioná-las com eficiência quando ocorrerem. Assim como o indivíduo faz o plano sem estar doente, a organização deveria fazer o seu. Os dirigentes de organizações esquecem que elas são como organismos vivos, pois são formadas por indivíduos predispostos a cometerem erros. 4. COMO A ORGANIZAÇÃO DESPORTIVA SUPERA CRISES UTILIZANDO ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO: O CASO GRÊMIO Mesmo tendo um histórico marcado por grandes conquistas, a Organização não deixou de passar por momentos de crise. Esta frase refere-se à organização desportiva Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense a qual possui dois rebaixamentos de Série ao longo de seus 105 anos de existência. Como não bastasse ser rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, o Clube enfrentou uma grave crise administrativa-financeira e, por falta de uma administração correta da situação, a crise atingiu a imagem do Clube. Neste capítulo serão mostrados os possíveis motivos que levaram o Clube ao seu segundo rebaixamento, em 2004; como este fato transformou-se em uma crise de imagem; e, qual a reação da organização para reverter esse quadro. 4.1 A Crise O rebaixamento de Série sofrido pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense no ano de 2004 não foi o primeiro do Clube. Após seu fundamento em 15 de setembro de 1903 – por iniciativa de Cândido Dias da Silva e do Clube ser apelidado de “derrubador de campeões” nos primeiros trinta anos de existência – o Clube passou por dois rebaixamentos de Série no Campeonato Brasileiro, um em 1991 e outro em 2004. Em 1991, o Grêmio terminou um campeonato com vinte equipes na décima nona posição ocasionando seu rebaixamento e levando-o a disputar no ano seguinte a Série B do Brasileiro. Nesta Série, o tricolor gaúcho finalizou em nona posição e só conseguiu retornar à Série A devido a mudança que ocorreu naquele ano nas regras do Campeonato. Até 1991, somente os quatro times com melhores resultados garantiam vaga na Série A; porém, excepcionalmente em 1992 os dirigentes dos grandes clubes apresentaram à CBF uma proposta na qual subiriam de série doze clubes. Proposta aceita; logo, o Grêmio subiu de série, retornando à Série A. Em 2003, começaram os problemas em nível administrativo-financeiro e futebolístico do Clube. A equipe quase foi rebaixada novamente, salvando-se somente na última rodada da competição. “Mas a falta de dinheiro não explica a sucessão de erros. Apesar do susto em 2003, quando só se livrou do rebaixamento na última rodada, o Grêmio começou a projetar 2004 de forma equivocada” (CAMARGO; BENFÍCA, 27/12/2004, p. 2). Logo, o que acontecera em 1991 voltou a ocorrer em 2004. O Grêmio foi rebaixado à Série B do Brasileiro pela segunda vez em cento e um anos de história. Alguns atribuem a péssima campanha do time, às dívidas contraídas que quase levaram o Clube à falência, às ações trabalhistas movidas por ex-jogadores e diversas outras dívidas com funcionários do Clube e outras agremiações; porém, a provável causa do rebaixamento do Clube tenha sido a união de todos esses fatores. Segundo Gabriel Camargo e Luiz Henrique Benfica, responsáveis pela série de reportagens que o jornal Zero Hora publicou em dezembro de 2004 com a retrospectiva dos acontecimentos que levaram o Grêmio à Série B do Brasileiro, a falta de visão a longo prazo gerou o Grêmio de 2004, o pior em 101 anos de história. Um a um, os equívocos gerenciais foram fragilizando o clube. Mas a crise financeira não explica tudo. A direção cometeu erros que inviabilizaram a montagem de um time competente em 2004. Por se recusar inicialmente a formar parcerias e a negociar com empresários, a direção do Grêmio perdeu a disputa por bons jogadores. (CAMARGO; BENFICA, 26/12/2004, p.41) Adiante os jornalistas acrescentam que não foram somente os equívocos ocasionados pela falta de empreendedorismo dos dirigentes que culminaram na crise, eles também erraram ao pensar que a grandeza do Clube devido as conquistas do passado iriam por si só garantir a sobrevivência do mesmo. As extraordinárias conquistas dentro de campo nas últimas décadas turvaram a visão dos dirigentes quanto à necessidade de modernizar o clube. Entre 1981, ano do primeiro título nacional, e 2004, pouco foi feito para solidificar a estrutura do Grêmio, preparando-o para o futuro. Não apostar nos associados como fonte de recursos e deixar de investir na construção de um centro de treinamentos foram dois dos piores erros cometidos ao longo das últimas duas décadas. (CAMARGO; BENFICA, 26/12/2004, p.41) Com base nas falas dos jornalistas, verifica-se que a falta de visão empresarial dos dirigentes do Clube e de um planejamento prejudicou o gerenciamento do Clube. O não empreendedorismo levou a tomadas de decisões erradas que fragilizaram a economia do clube. Esta falta deve-se aos dirigentes do Clube que atuavam movidos pela paixão, pela emoção das conquistas do passado e sem mentalidade empresarial. O Clube de futebol, atualmente necessita “mais de realização do que de paixão” (MELO NETO, 1998, p. 66). O dirigente não pode atuar como amador na direção do clube, tomando decisões com base no sentimento exacerbado, esquecendo-se que o clube é uma empresa a qual tem o esporte como negócio e esse negócio precisa ser produtivo para o Clube continuar existindo. Um modo de direcionar esforços para ações que tornem a produção da organização mais rentável é a adoção de um planejamento. O plano deve ser utilizado até para direcionar os caminho que irão levar a formação da imagem do Clube e, posteriormente, como o Clube irá fazer para manter a imagem. Planejar deve ser pensado como um ato de inteligência, um modo de pensar sobre determinada situação ou realidade, enfim, como um processo racional-lógico, que pressupõe estudos, questionamentos, diagnósticos, tomadas de decisões, estabelecimentos de objetivos, estratégias, alocação de recursos, custo de ações, etc. Planejar não significa simplesmente fazer previsões, projeções e predições, solucionar problemas ou preparar mecanicamente planos e projetos (KUNSCH, 2003, p. 203) Reconhecer a relevância do planejamento é próprio da mentalidade empresarial. Foi a falta dessa mentalidade nos dirigentes do Grêmio que ocasionou em decisões administrativas equivocadas como o prolongamento desnecessário das negociações com jogadores – ocasionando atraso na preparação da equipe, o despreparo perante as novas leis regentes do futebol, o não oferecimento de condições de trabalho, a falta de visão: torcedores = consumidores, a preocupação em somente pagar dívidas antigas em detrimento de investir no aumento da qualidade do produto (futebol). O Clube não investiu em jogadores qualificados e em técnicos adequados para comandar o plantel do Clube resultando na má qualidade do produto, ou seja, “faltou futebol, mas também faltou comando sobre o grupo de jogadores do Grêmio na desastrada temporada de 2004” (CAMARGO; BENFÍCA, 28/12/2004, p.48). As decisões equivocadas da direção do Clube geraram uma dívida de R$ 95 milhões, como afirmam Camargo e Benfíca, do sonho de virar a grande potência do futebol brasileiro [...] sobraram dívidas. Um passivo que chega a R$ 95 milhões. O clube não se preparou para a Lei Pelé, deixando de incluir pesadas rescisões nos contratos dos jogadores. Além disso, não proporcionou condições adequadas de trabalho. Para não ter de pagar indenizações, membros das comissões técnicas não foram demitidos em 2004. Apenas deslocados para outras funções. (CAMARGO; BENFICA, 26/12/2004, p.41). A péssima atuação dos gestores do Clube era nitidamente refletida dentro de campo, pois além dos jogadores não serem os mais qualificados, não detinham condições de trabalho favoráveis. A má condução do Clube pela diretoria e os resultados negativos em campo criou um cenário propício para a mídia espetáculo. Sabe-se que “há uma tendência, sobretudo nos meios audiovisuais, para que a informação dê lugar à mídia espetáculo. A crise – qualquer que seja sua dimensão – cai como uma luva nessa pauta. Se tiver imagens, melhor ainda” (FORNI, 2006, p. 367). E, se a crise além de apresentar imagens ainda ocorre com uma organização tradicional em sua área de atuação, torna-se mais atrativa. Todas as informações aqui apresentadas sobre a gestão do Grêmio no ano de 2004 fomentaram na crise vivida pelo Clube. A crise que iniciou em nível administrativo e financeiro transformou-se em crise de imagem por causa da falha do setor de comunicação do Clube em dar atenção ao que era publicado em jornais e blogs na época e por não estar preparado para administrar situações de conflito. Como relata Haroldo Campos, atual Coordenador Executivo de Comunicação do Clube, em entrevista7: nós tínhamos aqui um jornalista que só acompanhava o futebol profissional e não se preocupava com o Clube, não sei porque, tá. Não vou aqui fazer meus comentários. [...] Qual era a ferramenta que você tinha aqui dentro, o site e uma assessoria que conversava por telefone no contato com a imprensa. O despreparo do setor de comunicação e dos dirigentes para lidar com a imprensa em meio a uma crise só agravou a situação do Clube. Seguidamente, quando ocorriam entrevistas com o presidente do Clube, ele negava-se a falar sobre os problemas, esquivando-se das perguntas, e ao invés de respondê-las elogiava o site do Clube. O presidente “pouco falava sobre futebol e os problemas do time sob o pretexto de „preservar a instituição‟. Essa foi a justificativa para os elogios ao site do Grêmio, ao planejamento estratégico e ao regimento interno. Em compensação, se queixava de ex-dirigentes” (CAMARGO; BENFÍCA, 29/12/2004, p.51). Haroldo Santos também comentou sobre isso em entrevista8. O site, que já tinha sido fator de deboche, mau utilizada esta ferramenta por parte [...] do dirigente maior que toda a vez que o Grêmio perdia ou empatava ou sofria alguma derrota em algum segmento, ele vinha com a desculpa de que o Grêmio tinha o melhor site, o melhor ônibus, isso ele foi destruindo com a ferramenta site, uma ferramenta muito importante naquela época. 7 Entrevista cedida à Sabrina Raupp Souza em 03 de setembro de 2008 na sala da Assessoria de Imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegense. 8 Idem à nota 6. O Coordenador Executivo de Comunicação do Clube declarou que por causa dos depoimentos do ex-presidente o site virou motivo de deboche. Segundo Forni (2003, p. 370), a organização não deve “omitir-se quando existe uma crise instalada na empresa. A omissão nas pautas negativas dá ao jornalista o direito de escrever o que bem entende”. A atitude do presidente de não querer comentar sobre as crises administrativa e financeira vividas pelo Grêmio abriu espaço para o inicio da boataria, aumentando o interesse da mídia, as matérias em jornais e os comentários em blogs com base em informações extra-oficiais. A maioria dos autores que tratam do tema crise defende que a organização não pode se omitir para a imprensa porque o custo de corrigir uma notícia baseada em informações erradas é mais alto do que o custo de lidar com a verdade. Segundo Neves, a omissão é um equívoco porque sabemos que o desgaste sofrido para resolver a crise em si é menor do que o trabalho exigido na administração das fofocas, dos disse-me-disse. Porque gastamos um tempo precioso dando explicações para curiosos, gente que não pode nos ajudar, quando deveríamos estar concentrados na solução do problema que nos aflige. (NEVES, 2002, p. 135) A omissão do presidente e a sua atitude esquiva quando questionado sobre a crise causou uma repercussão negativa para o clube, pois a midiatização de suas declarações e o deboche sobre elas denegriu a reputação do Clube perante seus torcedores e deu inicio à crise de imagem do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. 4.2 Enfrentando a Crise O modo como a crise do Grêmio foi encarada pela organização pode ser dividida em dois períodos os quais segregam-se devido a gestão de dois presidentes do Clube. O primeiro período equivale ao inicio da crise, quando os equívocos administrativos começaram a aparecer e a equipe começou a perder sucessivos jogos. Neste período o presidente do Clube tentava administrar a crise escondendo-a, evitando falar sobre os problemas. E, o segundo, equivale a troca de diretoria e a mudança de postura da presidência com relação ao período vivido pelo Clube. As atitudes dos novos dirigentes foram fundamentais para que a organização desportiva realmente enfrentasse a crise. Em janeiro de 2005, quando o novo presidente do Grêmio iniciou seu mandato o cenário não era nada positivo. Havia muitos problemas a serem solucionados, as soluções deveriam ser encontradas em pouco tempo e o Clube não possui dinheiro suficiente para investir em si mesmo. Segundo Ferrás, não eram poucos os desafios do novo presidente: Retirar o Grêmio da Série B e recolocá-lo de volta na elite do futebol brasileiro. Recuperar administrativa e financeiramente o Clube. Modernizar a gestão. Ampliar o quadro social e investir no patrimônio do Clube com a remodelação do Complexo Olímpico Monumental e a construção do Centro de Treinamento de Eldorado do Sul. Renegociar os débitos pendentes e montar um grupo de profissionais capaz de disputar títulos. (FERRÁS, 2007, p. 12) Assim que eleito, o novo presidente iniciou uma mudança organizacional no Clube, adotando uma visão estratégica para o crescimento do Clube, enfim, modernizando o clube empresa. Quando Ferrás (2007, p. 13) questionou o novo presidente sobre as primeiras estratégias que ele utilizou para administrar o Clube naquele período de crise, recebeu a seguinte resposta: A primeira estratégia estabelecida foi construir uma postura política. A primeira preocupação não podia ser atirar pedra no passado, mas olhar para frente e construir o futuro. Para isso, o Grêmio precisou de toda a sua torcida, de todo o seu esforço, precisamos unir o Clube e recuperar a auto-estima do torcedor. (ODONE apud FERRÁS, 2007, p.13). O novo presidente reconhecia a importância que a imagem do Clube exercia no comportamento dos torcedores e que o apoio destes era fundamental para o retorno do Grêmio à Série A do Campeonato Brasileiro. Conforme as palavras do presidente, tínhamos que trazer a força do torcedor para junto do time. Isso faz toda a diferença, provoca a adrenalina, ajuda na superação do atleta quando entra em campo. E uma coisa fez a outra. O time com garra levanta o brio da torcida e a torcida, com vibração, transmite confiança e superação ao time. Nossa estratégia foi essa. (ODONE apud FERRÁS, 2007, p.13). Ou seja, era preciso mostrar ao torcedor que o se apoio, a sua força, era essencial para melhorar o desempenho da equipe. E, por sua vez, a equipe recebendo o apoio da torcida, joga melhor e anima ainda mais os torcedores. É um ciclo. O torcedor contente com o seu clube vai ao estádio assistir aos jogos, consome mais produtos com a marca do clube e pode ter vontade de associar, aumentando a renda fixa mensal do clube. Mas para que tudo isso ocorra é necessário planejar o relacionamento com o torcedor, e a nova presidência estava ciente disto. Desde o inicio, no primeiro jogo da equipe, o Clube deixou claro que precisava do apoio total do torcedor. Conforme matéria do site ClickRBS, “após um ano marcado por relações conturbadas, quando os protestos eram rotina no Olímpico, a nova direção tenta uma reaproximação com a torcida. No primeiro jogo da temporada, o time entra em campo com uma faixa dizendo: “Torcedores, vamos jogar juntos em 2005”9. Para planejar a comunicação do Clube com seus públicos, principalmente com o torcedor, foi contratado um profissional com experiência na área esportiva para remodelar o setor de comunicação do Clube e atuar como Coordenador Executivo de Comunicação. Sobre a sua contratação, o Coordenador declara em entrevista10: quando eu cheguei aqui, nós tínhamos um assessor de imprensa no profissional (um jornalista), um outro jornalista que ficava aqui no setor de comunicação do Clube e mais um estagiário. Então, esta era a equipe. [...] Eu vim de uma coordenação de imprensa de um clube chamado Grêmio Náutico União, fui assessor de esportes, de imprensa, depois passei a coordenação, então eu vim com uma outra velocidade para o Grêmio. Eu vim com uma velocidade lá em cima, vim com novas idéias, novas estratégias. No que se refere à comunicação, o Grêmio utilizou basicamente as mídias virtual e impressa. Para a organização esportiva, a imprensa e a internet, são os canais mais adequados para atingir o torcedor. Forni (2003, p. 381) acredita que há inúmeras maneiras da organização se comunicar com um público em meio a uma crise, “mas o meio mais efetivo ainda continua sendo a atenção com a imprensa”. Porém, com a utilidade que a internet adquiriu e a importância que a informação contida nela apresenta, a organização não tem outra escolha se não aderir ao universo virtual (ARGENTI, 2006). Através das entrevistas realizadas com Haroldo dos Santos (Anexo A), Coordenador Executivo de Comunicação do Grêmio, e Grace Barth (Anexo C), Gerente de Conta da Agência SLM Ogilvy, prestadora de serviços publicitários para o clube, pode-se identificar quatro estratégias de comunicação para promover a relação clube-torcedor e administrar a crise do rebaixamento, são elas: a) campanha para novos sócios, b) modernização do site e criação de novos canais virtuais, c) propaganda institucional e d) relação frequente com a imprensa. As estratégias tinham em comum o princípio de motivar o torcedor para fazer com que ele agisse em favor do Clube, seja adquirindo um produto ou serviço, seja demonstrando apoio ao Clube. Para Grace Barth o papel da comunicação e do marketing “além de trazer recursos para o Clube, que é 9 A matéria pode ser conferida no endereço eletrônico http://www.clicrbs.com.br/especiais/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&espid=25&section=Home, 10 A transcrição completa da entrevista encontra-se no Anexo 5. o principal papel, é unir esforços para manter o torcedor motivado, apesar da situação difícil”. As ações do Clube foram planejadas para com base no relacionamento direto clube-torcedor, ou seja, o Clube desenvolvendo ações que atingem diretamente o torcedor e no relacionamento Clubeimprensa-torcedor. Neste caso, o Clube entendia que os torcedores buscavam muitas informações sobre a situação do Clube na impressa, então através do relacionamento com a imprensa (concedendo entrevistas, fornecendo putas, colaborando com reportagens e matérias) também estariam se relacionando com os torcedores. Abaixo segue explicação de cada estratégia: a) Campanha para novos sócios No inicio do ano de 2005, o Grêmio detinha quatro mil sócios. O lançamento da Campanha foi realizado em 02 de março desse ano com a meta de obter quinze mil sócios inicialmente. A campanha foi composta de vídeos de trinta segundos para a televisão, anúncios (Anexo H) em jornais e no site no Clube. As mensagens convidando o torcedor para se associar ao clube também foram incorporadas as chamadas para os jogos publicadas em jornais, mas não tinham o mesmo destaque que nas peças da Campanha. Nos anúncios da Campanha, apareciam três pessoas, sendo elas, Paulo Odone, Hugo Da Leon e Mário Sergio – presidente do Clube, técnico da equipe de futebol profissional e diretor de futebol, respectivamente. Sobre a utilização deles na campanha, Barth justifica que eles eram associados a grandes conquistas do Clube e eram esse sentimento de vitória que a campanha queria ascender no torcedor para estimula-lo a se associar ao Clube. A gerente de conta da SLM Ogilvy, Grace Barth, declara em entrevista11: justamente nessa época, foram contratadas essas figuras que eram muito importantes no passado do Grêmio. Então, ao utilizar essas figuras, não só o torcedor ter conhecimento sobre quem está por trás do Grêmio, mas justamente tentar resgatar através da imagem deles todo aquele espírito, aquele sentimento de vitória que aquelas pessoas representavam na época que elas estavam no Grêmio. [...] a tentativa foi de resgatar a imagem associada a essas figuras na campanha para tentar trazer ao torcedor um pouco mais de esperança e um pouco mais de motivação para ele se tornar sócio. Os três personagens utilizados na campanha serviram de arquétipos, ou seja, a imagem deles se transformou em elementos simbólicos para resgatar estados de espírito comuns a todos os torcedores gremistas. Conforme Martins (1999, p. 196), o uso de arquétipos “é transformar uma realidade subjetiva aparentemente individual em uma realidade visível comum a todos 11 Entrevista realizada dia 02/10/2008 na sede da Agência SLM Ogilvy, em Porto Alegre. através de fotos, com sentimentos e intenções coesas e claras”. A intenção da campanha era mostrar para o torcedor que aqueles que fizeram parte de um passado vitorioso do Clube estavam de volta, então havia esperança para o futuro ser de vitórias também, mas a participação do torcedor era essencial (Barth, anexo C). Além da participação na campanha, os “garotos propaganda”, como Haroldo Santos se refere a eles quando os cita (Anexo A), também mandavam mensagens diretamente para os torcedores quando prestavam entrevistas. Eles chamavam os torcedores para os jogos e diziam o quanto à presença deles era importante para os jogadores. Em entrevista dada ao site ClickRBS, Mario Sérgio transmite a seguinte mensagem aos torcedores: Torcedores gremistas, a situação é difícil, mas assim como vim de São Paulo, abandonei minha família, acreditando na recuperação do Grêmio, os torcedores têm a obrigação de acreditar mais do que eu. Uma coisa marcante na minha passagem no Grêmio como jogador foi justamente o potencial da torcida de sair de situações adversas. Se o Palmeiras conseguiu sair dessa situação, o Grêmio, com o potencial de torcida que tem, pode também. Desde que queira e acredite12. Um destaque na campanha, foi a utilização da imagem do então presidente do Clube, Paulo Odone. Apesar de incomum, a utilização de sua imagem foi uma estratégia por causa da sua popularidade entre os torcedores, conforme declara Barth: o próprio presidente se expondo, não é muito comum a gente usar ele em campanhas, mas o presidente Paulo Odone tem uma desenvoltura muito grande, ele é um bom interlocutor, ele realmente atinge o coração das pessoas, então o uso dele também foi uma estratégia que para a época foi importante para dar essa mensagem de esperança e convocar as pessoas. Os valores positivos associados à figura de Odone e o papel de líder do presidente contribuíram para a formação do arquétipo que transmitia o sentimento de conquista, de que a crise vivida pelo Clube seria superada. A visibilidade da liderança em momentos de crise dá confiança ao cliente, assim afirma Neves (2002, p. 196), “é necessário mostrar que tem alguém no comando, liderando os esforços na busca de solucionar a crise. Tendo uma figura no comando transmite a impressão de segurança ao contrário do descontrole que é transmitido quando ninguém se responsabiliza pelo gerenciamento da crise”. Os resultados obtidos com a campanha agradaram tanto ao Clube quanto a Agência SLM. Segundo Barth, se for realizada a análise dos gráficos presentes no plano de mídia que demonstra 12 A entrevista foi cedida dia 06/01/2005 e está disponível no endereço eletrônico: http://www.clicrbs.com.br/especiais/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&espid=25&section=Home o acompanhamento da campanha, a curva de associação nos dias que a campanha entrava no ar tinha picos de ligação, de procura e associação. “Em 2005, a arrecadação financeira do Quadro Social obteve o incremento superior a 50% em relação ao ano anterior” conforme matéria publicada na revista Nação Tricolor de janeiro de 2007 (revista oficial do Clube). b) Modernização do site e criação de novos canais virtuais Devido ao ex-presidente utilizar a qualidade do site do Clube como resposta para esquivar-se das questões referentes à crise, como mencionado anteriormente, o site virou motivo de deboche entre a imprensa e o próprio torcedor do Clube. Por isso, uma das principais ações de comunicação foi a remodelagem e modernização do site, ferramenta muito importante para a época, segundo Haroldo Santos, Coordenador Executivo de Comunicação do Grêmio. Quando este foi contratado para ocupar o cargo recém criado de Coordenador Executivo de Comunicação, o próprio Presidente do clube solicitou que o site fosse resgatado, porém não havia verba para grandes investimentos, assim relata Santos: quando eu cheguei o Presidente Paulo Odone, numa conversa que ele teve comigo, precisava que eu resgatasse o site, que já tinha virado fator de deboche [...] então eu tinha que resgatar essa ferramenta, reestruturar essa ferramenta, modernizar essa ferramenta dentro de condições financeiras zero [...] O Clube não ia investir na troca de um site naquele momento sabendo que não tinha dinheiro para investir na compra de um bom jogador, um ótimo jogador para colocar dentro de campo, se não pegaria muito bem com a torcida. A remodelagem da ferramenta site apresentou-se importante não só pelo fato de haver uma necessidade das estratégias de mídia da organização precisarem ser expandidas com táticas para lidar com a dimensão de cobertura da internet. Duarte (2003, p. 252) afirma que “o site pode tornar-se uma fonte regular de consulta e ser utilizado pelo jornalista sem sequer entrar em contato com a assessoria”. A remodelagem ganhou mais importância porque o site estava com uma imagem negativa devido a má utilização da ferramenta. Juntamente com a modernização do site, foram elaborados atrativos para despertar a atenção do torcedor para esta ferramenta, como a newsletter Antena Tricolor (Anexo I) e a Grêmio TV (Anexo J). A Antena Tricolor é uma publicação diária on-line dirigida aos torcedores cadastrados que informa o que acontece no Clube, como a contratação de jogadores, resultado de jogos, decisões importantes da diretoria, entre outros. Sobre a newsletter, Santos informa que o Clube possui “cerca de 110 mil assinantes que recebem diariamente uma sinopse do que está acontecendo no Clube ou vai acontecer”. Com base em uma definição conceitual de newsletter temos que esta é uma publicação sobre tema específico, dirigida a um público determinado. Em geral, a periodicidade é estendida e a produção do conteúdo mais especializada. Pode ser utilizada por uma empresa, por exemplo, para divulgar entre clientes as especificações de uma linha de produtos e sua evolução. Ou por uma associação de classe para difundir entre formadores de opinião sua avaliação de conjuntura, com análises sobre o setor de economia em que está incluída. (LEMOS; DEL GAUDIO, 2003, p. 274) A definição das autoras para newsletter não corresponde exatamente às características do veículo de comunicação utilizado pelo Clube. Conforme definição de Lemos e Del Gaudio o veículo de comunicação com o torcedor do Clube deveria ser classificado como Informativo digital pois este não só privilegia a informação instantânea, na forma de notas e notícias curtas, como também pode “potencializar a atualidade e baixo custo pela distribuição por meio de correio eletrônico, rápida e direta ao leitor. Por isso pode ser usado para comunicação com públicos dispersos, como clientes, empregados de diferentes unidades, associados de um sindicato” (LEMOS; DEL GAUDIO, 2003, p. 272). As definições apontam a newsletter como uma publicação especializada, é a exploração de um determinado assunto, diferente do informativo digital que divulga informações em forma de notas ou notícias curtas e não explora uma única informação, como é o caso da Antena Tricolor. Para modernizar o site e agregar a ele veículos de comunicação que estimulasse o torcedor a manter contato com o Clube no período da crise, o Coordenador Executivo de Comunicação propôs a criação de uma TV dentro do site do Grêmio, a Grêmio TV. A iniciativa do Clube de criar uma TV na internet é pioneira entre os clubes de futebol, conforme relata Santos: “nós temos uma TV na internet, uma ferramenta moderna e que está evoluindo e evoluindo muito bem, ela é um exemplo, ela é pioneira no Brasil entre os clubes de futebol brasileiros. Flamengo e Corinthians chegaram depois”. Para Lemos e Del Gaudio (2003, p. 276), o programa de tv/vídeo “conta com a vantagem comunicativa da imagem, mas tem custo de produção alto. [...] No caso de produtos que vissem à comunicação externa, é necessário avaliar se a emissora e horário escolhidos efetivamente atingem o público pretendido e o custo da ação”. Neste caso, a vantagem do Clube é que a transmissão dos programas é feita pela internet e o público é quem escolhe o horário que vai assistir, diminuindo os gastos com a transmissão e concentrando os custos na produção dos programas. c) Propaganda institucional A propaganda institucional pode ajudar a organização na formação de sua imagem, pode ser utilizada para melhorar a reputação da organização, mas não serve para nada se a organização não agir de acordo com o que quer transparecer. Caponigro (apud FORNI, 2003, p. 381) chama a atenção para as organizações terem esse cuidado, ele diz que “todo o esforço pessoal positivo com os clientes poderia evaporar na publicação de uma história negativa, se ela contradiz algo que você disse com antecedência para seus clientes”. Por isso, a organização deve direcionar seus esforços para ser aquilo que diz que é além de demonstrar o que diz ser. Segundo Argenti (2006, p. 109), a propaganda institucional é “definida como o uso pago da mídia com fins de beneficiar a imagem da empresa como um todo, e não somente de seus produtos ou serviços”. Essa foi exatamente a intenção do Grêmio, segundo Barth e Santos, o clube precisava recuperar a imagem da organização desportiva e não apenas da equipe de futebol. A estratégia da propaganda institucional com a publicação de anúncios em jornais tem mais vantagem para o clube de futebol devido a ocorrência de permuta com as empresas de jornalismo impresso. “O Grêmio trabalha com permuta em todos os jornais, ele troca por espaços publicitários e outros aproveitamentos dentro do estádio e em contra partida os veículos dão um x de espaços por ano para o Grêmio. Então naquela época a gente usou muito mais jornal do que hoje” explica Barth. Então, graças a permuta, na época em que o clube esteve na segunda divisão, pode-se trabalhar a comunicação com o torcedor através de anúncios em jornais. A gerente de conta ainda acrescenta mais um comentário sobre a importância da publicação em jornal: a nossa mídia principal foi o jornal. O jornal atinge um grande número de pessoas e a gente tem espaços „gratuitos‟, são trocados, mas existe essa mídia. Um clube de futebol não tem condições financeiras de ser um anunciante como ele é, se ele fosse pagar por isso, com certeza ele não seria esse anunciante. Ele, hoje, é comparado a um anunciante muito bom de qualquer agência de publicidade, mas porque ele tem essa facilidade na mídia que é de graça, se não seria mais complicado. No conteúdo dos anúncios eram incorporadas mensagens de esperança e incentivo da participação de torcedores nos jogos, da presença deles no estádio, como visto no Anexo K. A parte textual era mais longa comparando com os anúncios de épocas tranquilas. Barth menciona que “naquela época todos os anúncios tinham textos mais longos do que a gente usa hoje. A gente passava mais mensagens de otimismo. Não era só „venha ao jogo‟, era „venha mesmo ao jogo, a gente precisa de vocês”. As mensagens apareciam tanto na divulgação dos jogos como nos anúncios de promoção de datas comemorativas. Barth comenta que fora as datas promocionais do calendário tradicional que são trabalhadas em função da própria organização ou da loja oficial do Clube, “principalmente na época do rebaixamento se trabalhou com a convocação para jogos”. Barth justificar esse foco, o torcedor quando vê seu time perdendo, a tendência é que ele vá a menos jogos, porque ele quer, todo mundo quer, que seu time ganhe. Ninguém quer ir lá no estádio para ver seu time perder. Então, a tentativa que a gente fez na época foi de dar uma mensagem de esperança para aquele torcedor, dizendo que a participação dele poderia afetar o resultado dentro de campo, a torcida dele poderia influenciar os jogadores. O que o Clube buscava com a propaganda institucional criar no torcedor uma boa vontade, na realidade, qualquer organização que faça uso da propaganda institucional está buscando estimular em algum público uma ação positiva para si. Assim como diz Argenti (2006, p. 123), “a melhor propaganda corporativa é aquela que cria boa vontade e fortalece a reputação”. d) Relação frequente com a imprensa Nos momentos de crise a relação com a imprensa torna-se delicada devido a seu caráter ambíguo. Assim explica Faria (2003, p. 163), “a ambiguidade da mídia ao tratar das instituições e empresas – um dia, pode até elogiar, no outro dia instala a crise na porta da organização – é um traço visceral”. Rosa entra em consenso com Faria ao dizer que “a imprensa destaca, realça, valoriza. Mas também arrasa, destrói, enfraquece” (2001, p. 185). Este caráter dúbio também é reconhecido por Haroldo Santos, quando menciona em entrevista que “a imprensa te valoriza até o limite dela e, as vezes, o limite dela é uma curva, as vezes é sair da sala”. Deste modo, a organização deve estar preparada para se relacionar com a imprensa e tomando todos os cuidados para que o caráter favorável a organização prevaleça sobre seu oposto. Num período de crise, o relacionamento com a mídia pode ser uma estratégia para evitar a publicação de matérias com informações equivocadas e um modo de manter os públicos informados sobre o que está acontecendo no Clube. Sendo assim, a mesma imprensa que pode auxiliar no agravamento de um fato negativo eclodindo em crise, pode ser uma „parceira‟ na administração da mesma crise. Assim como diz Neves, apesar de tudo, o melhor amigo das corporações nas crises é a mídia. Verdade! Passados os momentos mais dramáticos, tendo o povão já feito a sua catarse e, na medida em que a empresa tenha bons argumentos, a mídia pode ser convencida de que existe uma outra história. Isso também é notícia. Faz parte da novela, embora não mais com os mesmos picos de audiência. (NEVES, 2002, p. 151) Com a mentalidade de utilizar a imprensa a favor do Clube na relação com o torcedor, ao mesmo tempo, demonstrar que o Clube estava colaborando para que jornalistas desenvolvessem seus trabalhos, Haroldo Santos relata em entrevista que uma das ações criadas para se relacionar com os torcedores foi “um relacionamento com a imprensa mais frequente, um relacionamento com a imprensa de ouvir mais a imprensa”. Essa atenção especial com a imprensa em momentos de crise também é defendida por Argenti, o qual sugere que “em momentos de crise, por exemplo, pode ser interessante que a empresa se concentre mais intensamente nas relações com a mídia – que normalmente, seria considerado secundário – para administrar sua reputação e tentar minimizar a cobertura desfavorável da imprensa” (ARGENTI, 2006, p. 35). O setor de comunicação do Grêmio, além de estar mais prestativo com a imprensa, desenvolveu novos serviços para se relacionar com ela. Foi criado um boletim com informações sobre o Clube, com o objetivo de servir de sugestões de pauta para os jornalistas, o Pauta Tricolor. A definição deste tipo de serviço, segundo Duarte (2003, p. 249), é: “conjunto de assuntos que podem transformar-se em notícia, como um alerta; mas, pela limitação de informações, exige a busca de detalhes. A circulação é regular e dirigida a um grupo restrito de jornalistas”. Este tipo de serviço, demonstra que o Clube está disposto a cooperar com a imprensa e cria uma ligação entre eles pois os assuntos não são aprofundados, justamente para instigar o jornalista a procurar o Clube para saber mais informações. Além destas quatro estratégias, o Grêmio também realizou sorteios de camisetas, viagens com a delegação para os jogos fora do Olímpico, mandou mensagens para os celulares dos torcedores cadastrados no site; enfim, realizou diversas ações para estimular a participação dos torcedores e nos jogos. E, se o que o Clube queria manter o torcedor motivado, o resultado foi positivo; pois, segundo matéria do site ClickRBS13, antes mesmo do início da disputa da fase quente da competição, o Grêmio já garantira a melhor média de público da Série B. Conforme estatísticas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nas sete partidas disputadas no Estádio Olímpico com os portões abertos, a média de público ficou em 17.513 torcedores pagantes . Retrocedendo a história do Grêmio, pode-se dizer que o ano de 2004 foi um período de turbulência, marcante na história de Clube; porém, mais marcante foi o ano de 2005, pois foi 13 Matéria disponível no endereço eletrônico (http://www.clicrbs.com.br/especiais/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&espid=25&section=Home,) nesse período que ele enfrentou a crise. Mais importante do que o fato de entrar em crise é sair dela. E para isso, pode-se dizer que o Clube seguiu os passos sugeridos por Rosa, os quais são apresentados no Capítulo 3. O Grêmio reconheceu que a sua imagem estava danificada, tornando-se ciente do momento que estava vivendo. Então, além de ter começado a agir para sair da crise, mostrou para os públicos que havia pessoas no comando da organização empenhadas em encontrar soluções para os problemas. Dirigentes e colaboradores trabalharam para estipular e praticar os valores que deveriam guiar a conduta do Clube. Foi desenvolvido o treinamento de quem iria representar o Clube perante a mídia. Também, planejou e projetou na mídia as mensagens que atingiram os torcedores. Assim, o Clube utilizou técnicas de Relações Públicas, Marketing de Relacionamentos e Marketing de Emoções para administrar a crise que estava vivendo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A natureza dessa monografia é de caráter exploratório, demonstrando que sua intenção é “proporcionar uma visão geral de um determinado fato” (GIL, 1999, p. 43), não cabendo conclusões definitivas sobre quais as estratégias de comunicação que organizações desportivas devem optar para administrar uma crise de imagem. Buscou-se através do resgate de um acontecimento e da pesquisa bibliográfica, elaborar sugestões de estratégias de comunicação para orientar o comportamento da organização desportiva diante da situação de crise de imagem. A intenção dessa pesquisa é abrir caminhos que possam desenvolver novos esforços na busca de aprofundar o conhecimento a respeito da comunicação, e principalmente das Relações Públicas, no cenário das organizações desportivas. Estabelecer conceitos de organização e especificar o que seria organização desportiva mostrou-se necessário para estipular o tipo de organização da qual este estudo trata e para caracterizar o mercado no qual estas organizações estão inseridas. Com isso, compreende-se organização desportiva como aquela que produz bens ou serviços relacionados à prática de esportes, como os clubes de futebol, clubes de vôlei, associações esportivas e demais organizações que proporcionam a prática do esporte. O produto desses clubes é o esporte e o que está relacionado a ele (o jogo, os uniformes, as bandeiras, os souvenirs), logo, tem-se que o produto do clube de futebol é, em sua essência, o futebol. A comercialização desses produtos no mercado é melhor explorada conforme o nível de empresarização do clube, conforme foi visto com Aidar e Leoncini (2000). Entender como funciona o mercado é essencial para compreender como deve proceder a comunicação, quais os públicos da organização, com quais ela deve ter um contado frequente, como que eles podem ajudar a organização a se desenvolver. Também, através desses conhecimentos é possível estipular o quanto a crise de imagem pode afetar o relacionamento com o consumidor desportivo. Tendo em vista que organizações desportivas como o clube de futebol tem suas estratégias de comunicação lidando constantemente com incertezas, pois estão ligadas diretamente ao resultado dos jogos, ao desempenho de jogadores, ao comportamento de torcedores, ou seja, a fatores que não são totalmente controlados pelo clube e que podem variar da forma positiva para a negativa em um curto período. Sendo assim, sugere-se que a organização desportiva una esforços com estratégias de marketing e relações públicas para potencializar os valores positivos agregados a sua imagem, reforçando a credibilidade de sua marca. Como visto no Capítulo 3, as organizações desportivas utilizam arquétipos emocionais, como o guerreiro (figura geralmente associada ao jogador da equipe, ao técnico, à torcida ou ao conjunto desses), para transmitir valores à imagem da organização. No caso do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, o time de futebol do clube é conhecido por jogar com garra, bravura, sentimentos típicos do arquétipo do guerreiro e que estão presentes na cultura do torcedor, com demonstra Dornelles nos trechos de seu livro, “a verdadeira alma gremista é guerreira, é explosiva” (2008, p. 40), “raça que é sinônimo de Grêmio” (ibid, p. 62), “em campo, o Grêmio faz uma partida memorável. Incorporou seu espírito guerreiro, sua garra, sua força, sua determinação, sua imortalidade” (ibid, p. 82). Esses sentimentos presentes nos torcedores devem ser explorados pelo clube constantemente, pois a organização que trabalha repetidamente para garantir a confiança do consumidor pode ter sua reputação segura mesmo diante de um acontecimento negativo. A reputação da organização se dá pela percepção que seus públicos tem de suas ações. E o público que mais influencia na formação dessa é o cliente. Segundo Aidar e Leoncini (2000) e Silva e Campos filho (2006), o cliente ou consumidor de bens e serviços ligados ao esporte age através de estímulos emocionais, é por isso, que o torcedor de futebol (cliente ou consumidor para os clubes de futebol) tende a consumir mais produtos ou serviços relacionados ao seu time quando este é percebido com valores positivos. Em alguns casos, clube não precisa estar em situações vitoriosas para o torcedor consumir produtos do clube. Como visto anteriormente e, como Grace Barth comenta em entrevista14, mesmo quando o Grêmio não estava obtendo resultados positivos, os torcedores marcavam presença nos estádios e associavam-se ao Clube – resultados das estratégias de comunicação empregadas pelo Clube conforme depoimentos de Haroldo Santos15 e Grace Barth. Logo, o relacionamento clube-torcedor é de extrema importância para o primeiro sobreviver no mercado em que atua, como afirma França (2004) ao dizer que o principal objetivo do relacionamento organização-públicos tem como base os interesses institucionais, promocionais ou de desenvolvimento dos negócios como ocorre com os clientes e demais públicos ligados ás operações comerciais da organização. 14 15 Ver Anexo C. Ver Anexo A. A ocorrência de uma crise de imagem pode prejudicar as operações comerciais da organização desportiva se esta não conseguir manter um bom relacionamento com seus clientes. É com base nisso que este estudo persiste no fato de que os clubes devem se preparar para as crises antes que elas ocorram, pois como diz Rosa (2001), a prevenção é a melhor maneira de se administrar uma crise de imagem, “e não esqueça: administrar crises é, antes de mais nada, uma forma de pensar – e não uma simples fórmula de agir” (Ibid, p. 166). Com isso, pode-se concluir que para administrar crises a organização deve conhecer todos os fatores que a envolvem e ao acontecimento negativo para estabelecer as estratégias adequadas ao seu caso. Entretanto, organizações de um mesmo segmento podem valer-se das experiências vividas por seus concorrentes para avaliar as ações deles no contra-ataque à crise. Os clubes de futebol, e as organizações desportivas em geral, podem se prevalecer da ocorrência dos fatos negativos com seus concorrentes para estipular as possíveis crises que poderiam sofrer e com isso iniciar seu plano de prevenção e administração de crises. Como visto, os autores Forni (2003) e Rosa (2001) acreditam que há semelhanças entre as crises de imagem que podem ocorrer com organizações de um mesmo mercado. A semelhança entre as crises torna sua prevenção ainda mais fácil de ser realizada, pois a partir do que aconteceu, de como foi agido e dos resultados obtidos pode-se fazer uma análise do que deveria ser feito para obter resultados iguais ou melhores. Este estudo sustenta-se neste pensamento, de que as crises de imagem podem ocorrer por motivos semelhantes e podem ser solucionadas da mesma maneira quando se trata de organizações desportivas e, mais especificamente, de clubes de futebol. Através do estudo, conclui-se que o plano de como administrar crises de imagem da organização desportiva tem como objetivo principal a otimização dos processos de relacionamento com os consumidores desportivos através de ações estratégicas de comunicação como as propagandas e campanhas institucionais, a assessoria de imprensa e a criação de novos canais. Mas o que irá potencializar esse plano é o conhecimento que a organização possuir sobre seus públicos, ou seja, quanto mais um clube conhecer sobre quem são seus torcedores, mais eficientes poderão ser as ações criadas para administrar a crise de imagem. Também, vale lembrar que a qualificação dos profissionais que colaboram com a organização, planejando e executando estratégias de comunicação, é outro fator que pode maximizar os resultados obtidos com o plano de administração de crises de imagem. Limitações e sugestões Em primeiro lugar, vale ressaltar que as interpretações e conclusões do estudo aqui apresentado foram feitas segundo as perspectivas do pesquisador no momento de desenvolvimento do estudo. Diferentes interpretações e conclusões podem resultar de novas leituras sobre outras perspectivas e em outro momento. Algumas limitações surgiram no decorrer da pesquisa bibliográfica e no estudo do expost-facto. No que se refere a pesquisa bibliográfica, a ausência de estudos aprofundados sobre a comunicação e as relações públicas nas organizações desportivas apresentou-se como um fator que limitou o respaldo em estudos acadêmicos e na adaptação de conceitos. Embora existam pesquisadores que já publicaram livros que contemplam esses assuntos, esses livros são de difícil acesso. Tendo dificultado e atrasado a elaboração do referencial teórico. A pesquisa ex-post-facto no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense apresentou limitações referentes as entrevistas e a disponibilidade de material informativo sobre o ocorrido. Uma das pessoas que foi escolhida para as entrevistas não quis colaborar com a pesquisa alegando que o Clube deveria autorizar a realização desta. Esta autorização não pode ser solicitada por causa da falta de tempo necessário, visto que o Clube autoriza com a antecedência de seis meses da realização da pesquisa e o pesquisador ficaria sujeito a uma lista de espera, segundo informações da secretaria do Clube e da do setor de Comunicação e Marketing. A limitação apresentada pelos materiais informativos do acontecido deve-se a estes vir de fontes suspeitas, pois se trata de textos carregados de hipérboles e adjetivos, escritos por torcedores do clube ou rivais que não apresentam uma versão neutra dos fatos, mas sim, passional. Embora a realização deste estudo tenha acrescido conhecimento à pesquisadora, a mesma considera necessária a continuidade do mesmo de forma que os diversos assuntos aqui abordados fossem segmentados com vistas a aprofundar cada um deles. Cabem futuras pesquisas sobre o futebol como negócio, o clube empresa, o comportamento de consumidores esportivos, as relações clube-torcedor, as crises em organizações desportivas e as Relações Públicas na indústria esportiva. Diante disso, espera-se que este estudo sirva para fomentar estudos posteriores e ampliar o conhecimento da comunicação em organizações desportivas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDAR, Antônio Carlos K. LEONCINI, Marvio Pereira. Evolução do Futebol e do futebol como negócio. In: AIDAR, Antônio Carlos K. LEONCINI, Marvio Pereira. OLIVEIRA, João José de. A nova gestão do futebol. Rio de Janeiro: FGV, 2000. ARGENTI, Paul A. Comunicação Empresarial: a construção da identidade, imagem e reputação. São Paulo: Elsevier, 2006. 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Disponível em: ANEXOS ANEXO A Entrevista: Haroldo dos Santos, Coordenador Executivo de Comunicação do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Entrevista com Haroldo Santos – Coordenador Executivo de Comunicação do Grêmio Dia 03/09/2008 às 10h30 Local: Sala da Assessoria de Imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Sabrina - Tu chegaste ao Clube em Abril de 2005 Haroldo Santos - Em cheguei em 5 de abril... 4 de abril de 2005 Sabrina – Então, como no Clube houve o rebaixamento em dezembro de 2004, neste período de dezembro à abril, tu sabes se o Clube realizou um planejamento já visando os torcedores? Haroldo – Já, lançou uma promoção em busca de novos sócios, que teve até o Hugo de Leon, o Mário Sérgio e mais um outro jogador como os garotos propaganda do Clube buscando a captação de novos sócios. Porque, quando essa administração chegou aqui ela tinha em torno de 4 – 5 mil sócios em dia. Então, ela começou um resgate da vontade de retornar a primeira divisão em 2005, mas precisando da ajuda financeira, emocional e da torcida, o resgate da torcida. Sabrina – E essas ações, elas já haviam sido planejadas antes de realmente ocorrer o rebaixamento ou elas foram planejadas depois? Haroldo – Como houve uma troca de direção total, um novo presidente, isso aí é decidido naquele momento quando tu entra direção, né. Saiu o presidente Flávio Obino, entrou o presidente Paulo Odone, então de cara precisava de alguma coisa para trazer o torcedor, resgatar a questão financeira e a presença do torcedor aqui no Olímpico. Sabrina – E no caso, a sua contratação e a criação do seu cargo, que antes não existia, foi já uma estratégia do Clube para gerenciar um período conturbado? Haroldo – Sim, quando eu cheguei aqui, nós tínhamos um assessor de imprensa no profissional (um jornalista), um outro jornalista que ficava aqui no setor de comunicação do Clube e mais um estagiário. Então, esta era a equipe. Quando eu cheguei o presidente Paulo Odone, numa conversa que ele teve comigo, ele precisava que eu resgatasse o site, que já tinha sido fator de deboche, mau utilizada esta ferramenta por parte, não dos jornalistas que estavam aqui, não da comunicação que estava aqui, pequena mas se encontrava aqui, mas sim, do dirigente maior que toda a vez que o Grêmio perdia ou empatava ou sofria alguma derrota em algum segmento, ele vinha com a desculpa de que o Grêmio tinha o melhor site, o melhor ônibus, isso ele foi destruindo com a ferramenta site, uma ferramenta muito importante naquela época e hoje se tornou mais ainda. Então tu vê como foi a evolução, eu cheguei aqui com a história do site sendo a maior defesa do presidente anterior, virou chacota do torcedor, virou chacota da própria imprensa, então tinha resgatar essa ferramenta, reestruturar essa ferramenta, modernizar essa ferramenta dentro de condições financeiras zero, entendeu, zero. O Clube não ia investir na troca de um site naquele momento sabendo que não tinha dinheiro pra investir na compra de um bom jogador, um ótimo jogador pra colocar dentro de campo, se não pegaria muito bem com a torcida. Então nós tínhamos que estruturar o setor, pensar de forma tranqüila mas com pressa pra que nós tivéssemos uma resposta melhor. Eu vim de uma coordenação de imprensa de um clube chamado Grêmio Náutico União, fui assessor de esportes, de imprensa, depois passei a coordenação, então eu vim com uma outra velocidade para o Grêmio. Eu vim com uma velocidade lá em cima, vim com novas idéias, novas estratégias. Encontrei parceiros, mas também da minha maneira encontrei obstáculos que eu próprio criei, entendeu. Você chega, vassoura nova, encontra bons amigos, bons parceiros, mas também encontra pessoas que não estão a fim de colaborar contigo. Por que tu está aqui dentro? Eu era repórter também de uma rádio, vivia o dia-a-dia do Grêmio mas como repórter, o outro lado da moeda, então entrou deu um choque. Eu mesmo, vou ser sincero pra ti, fazendo uma avaliação do meu primeiro ano, não jogo nada fora, não refaço nada, mas eu me julgo também um velocista e eu deveria ter sido um maratonista no primeiro ano. Já no segundo ano não, o Clube já está na primeira divisão, daí as peças começaram a ser colocadas dentro do meu setor, o setor cresceu começou a se reestruturar, começou a pensar no futuro, daí já é um ano diferente. Mas, no primeiro ano a gente meio que tinha que assumir uns compromissos na área de comunicação que você batia em outras portas, então, daqui a pouco tinha um mal entendido, um atrito, mas tinha que mostrar que aquele caminho de trabalho era o melhor para o clube, que aquela maneira era uma maneira de querer o Clube numa situação melhor de comunicação. Sabrina – E especificamente, quais foram as ações criadas para se relacionar com os torcedores quando tu iniciaste teu trabalho? Haroldo – Na minha área de comunicação, acho que o site, um relacionamento com a imprensa mais freqüente, um relacionamento com a imprensa de ouvir mais a imprensa, mas sou bem sincero em dizer pra ti que algumas armas que eu utilizei pra ter esse contato com a imprensa, hoje eu não faria. A imprensa te valoriza até o limite dela e, as vezes, o limite dela é uma curva, as vezes é sair da sala. Então eu tentei de uma maneira ou outra mostrar que o setor estava sendo construído e que nós estávamos tentando dar aquela atenção devida, melhor do que acontecia antes porque 2004 foi um ano de muita turbulência, muitas preocupações, muitas respostas mal dadas, muitas perguntas mal feitas. Então no ano de 2005 foi isso, eu quis modernizar uma peça que eu tinha, mas sem condições financeiras que era o site, eu projetei em maio de 2005 a Grêmio TV que hoje ta aí fazendo sucesso com outro braço que é a Grêmio Rádio. Tudo isso foi feito de uma maneira simples. Aproximação, eu me aproximei dos meus ex-colegas em termos de que eu estava dentro do Grêmio mas não convivendo com o Grêmio, e eles de uma maneira ou outro foram me ajudando me entendendo, mas também tive algumas decepções com os meus colegas do lado de lá. Porque as vezes tu tenta ajudar e eles não estão entendendo. As vezes tu tenta mostrar que aquele caminho ali é o melhor e vem uma outra proposta e eles não mostram toda aquela união que tu espera naquele momento. São coisas dos bastidores do futebol que se eu tivesse que escrever eu criaria aí no mínimo uns dez números. Sabrina – E, quanto as torcidas organizadas, houve ações especialmente criadas para atingi-las? Haroldo – Tu sabe que a Geral, em 2005, começou a ter uma canal direto com a Direção do Clube, principalmente com o presidente do Clube, Paulo Odone. Se existe uma alavanca, uma coisa que ajudou a trazer o torcedor para dentro de campo, eu sou bem sincero em dizer pra ti, chama-se avalanche. Não é nem a Geral, é avalanche. Se você tira a avalanche da Geral naquele momento o Grêmio fica como os demais clubes. A mesma coisa, o torcedor vem, senta no cimento, vibra, torce, aplaude, vaia, chama todo mundo pro abraço, daqui a pouco entra em atrito. Eu acho que a grande ferramenta, o grande detalhe que trouxe o torcedor pra dentro do Olímpico foi a avalanche. Sabrina – No caso, os próprios torcedores que mantiveram a paixão pelo Clube é que incentivavam os outros torcedores a continuar assistindo aos jogos (H – Isso!), a incentivar o Clube (H – Isso!). Haroldo – A avalanche, né. Daqui a pouco eu era da cadeira e descia pra participar da avalanche. E a avalanche foi a maior ferramenta de marketing em 2005 desse Clube. As pessoas vinham pra ficar ali naquele setor, pra curtir, ou fazendo ou olhando, ou vinham para o estádio e ficavam olhando. Olhavam para o gol e olhavam a avalanche. A avalanche foi a maior ferramenta de marketing utilizada por este Clube em 2005. Sabrina – E como era a estrutura do Setor de Comunicação antes desta atual? Haroldo – Na minha chegada nós tínhamos aqui um jornalista que só acompanhava o futebol profissional e não se preocupava com o Clube, não sei porque, ta. Não vou aqui fazer meus comentários. Tinha um jornalista que cuidava do site e um estagiário que dava a retaguarda pros dois. Quando eu cheguei eu estruturei todo o setor. Hoje, nós temos 8 pessoas que convivem com o dia-a-dia do Clube. Esses 8 profissionais, são 9 no total até. São 5 jornalistas e 4 estagiários estudantes de jornalismo e um fotógrafo que é free lance. Quando eu cheguei aqui não tinha fotógrafo profissional cobrindo os jogos e os treinos. Quando eu cheguei aqui, como eu disse, tinha um estagiário, que dobrei pra dois e logo já eram três. Hoje, nós temos 4. Jornalistas eram 2, hoje, nós temos 5. Qual era a ferramenta que você tinha aqui dentro, o site e uma assessoria que conversava por telefone no contato com a imprensa. Hoje você tem um site modernizado, uma ferramenta moderna; nós temos uma TV na internet, uma ferramenta moderna e que está evoluindo e evoluindo muito bem, ela é um exemplo, ela é pioneira no Brasil entre os clubes de futebol brasileiros. Flamengo e Corinthians chegaram depois, esse projeto foi desenvolvido a parte teórica em 2005, em maio. Na parte de construção começou em dezembro. Seu estúdio, nós temos um estúdio de 240m² construído debaixo da arquibancada da Geral, da avalanche, aqui no Olímpico Monumental, um senhor estúdio, super profissional. Nós temos, pra você ter uma idéia, essa TV na internet que hoje ela já tem um braço de rádio. Porque na internet você pode trabalhar tanto áudio como vídeo, daqui a pouco só com áudio. Então ela tem essa mutação dentro dos braços da comunicação do Clube. Nós temos um jornal hoje, que ele é mensal, antes não tinha, né. Nós já tivemos uma revista em duas edições, mas a revista em qualquer empresa, porque o Clube é uma empresa, ela tem que ser desenvolvida no primeiro passo. Como vai chegar na mão do leitor, o sócio. Ah dessa maneira, então ta bom. Depois você vai partir para fazer a revista. Se você fizer a revista primeiro e depois se preocupar em como vai chegar na mão do sócio, ela termina na segunda, terceira edição pelo custo operacional. Nós já tivemos nossa revista. Hoje, temos a rádio, a TV, a rádio que cobre os jogos do Grêmio dentro do Olímpico e fora, viaja com a delegação, transmite os jogos de fora, é pioneira também no Brasil a fazer isso, os demais Clubes não estão fazendo isso. O Atlético Paranaense tenta fazer algo parecido com isso, mas na minha opinião de uma forma amadora, não está correta a utilização desta ferramenta, e o que eu posso dizer mais pra você, dentro do Clube nós temos o nosso informativo que pega a informação interna do Clube e coloca internamente para que os funcionários, aqueles que estão mais na formação de opinião, estejam na formação de idéias, estejam bem informados sobre o que está acontecendo dentro do Clube. Nós temos duas newsletter. Uma é a newsletter que se chama Antena Tricolor que eu criei em 1° de agosto de 2005 eu criei a newsletter. Hoje temos cerca de 110 mil assinantes que recebem diariamente também uma sinopse do que está acontecendo diariamente no Clube ou o que vai acontecer, chama-se Antena Tricolor. E, temos também, uma newsletter, dá pra dizer assim, que vai direto para os jornalistas que se chama Pauta Tricolor, que passa aquelas informações internas ou a chama a atenção do que o jornalista pode tornar uma matéria, uma pauta futuramente como Clube. Então hoje nós temos uma ligação direta como associado através do site, TV, rádio e jornal. Na parte virtual nós temos aí a Antena Tricolor, e temos também uma ligação direta com os jornalistas que são os formadores de opinião. Pra dar um ponto final nisso aí, eu digo o seguinte, é muito pouco dentro da sabedoria brasileira, tudo que nós falamos aqui é muito pouco, porque o brasileiro é preguiçoso, isso que eu quero dizer pra ti. Tu faz tudo isso e ele ainda continua te questionando sobre o que o Clube ta fazendo, se o Clube tem ou não tem, então o que trás isso que eu to te comentando é o seguinte, tudo isso feito é pouco porque o brasileiro é preguiçoso e me coloca na obrigação de procurar novas ferramentas de comunicação pra colocar na cabeça do torcedor que o Clube trabalha pelo crescimento do próprio Clube. Sabrina – Podes me dizer o nome dos profissionais que atuavam antes da tua chegada? Haroldo – Sergio Schiller, que era o assessor de imprensa do futebol profissional; Márcio Neves que controlava o site; um estagiário chamado Rafael Pfaifer. Quando eu cheguei eram esses três. Tu quer saber hoje? (S – Gostaria.) Haroldo Santos que é o Coordenador executivo de Comunicação do Clube; Bianca Ramos que é jornalista; Jean Carla Webber jornalista; Márcio Neves que está também na nossa equipe e é jornalista; Vitor Rodrigues que é jornalista e assumiu o lugar do Sérgio Schiller como assessor do futebol profissional e nós temos o jornalista Rafael Pfaifer. O Rafael como estagiário se manteve no Grêmio. Foi fazer uma passagem na ouvidoria, fez um excelente trabalho lá e de cara, foi sempre, vou ser bem sincero pra ti, sempre botei nos meus planos esse rapaz. Hoje ele está formado, está na nossa equipe a quase, fechando agora em outubro 1 ano. Nós temos 4 estagiário. Então vamos lá. Rodrigo Faturi que fecha agora 2 anos, estudante da Unisinos; Eduardo Barbosa que é estudante do IPA, o IPA já aí presente; a Tainá Espinosa que é estudante da PUC; Bruna Cubasqui que é estudante da PUC, esses 4 estagiários. Fotógrafo, que no momento em que eu assumi, eu coloquei um fotógrafo, depois de muita negociação, trouxe o José Durval que tem 2 Copas do Mundo, tem várias coberturas esportivas locais, nacionais e internacionais e, também, cobriu várias outras pautas em jornalismo. Então, é um fotógrafo de nome, trás uma certa experiência pra gente, o José Durval. Então essa é a nossa equipe. Nós temos uma Grêmio TV e uma Grêmio Rádio, que esta equipe que eu citei pra ti, tirando o Durval e o Vitor, quer dizer, Haroldo, Bianca Jean Carla, Márcio, Rafael, Eduardo, Bruna, Tainá e Rodrigo Faturi, todo esse pessoal relacionado aí, eles executam a função de assessoria do Clube, a função de jornalistas e estudantes de jornalismo do Clube, mas também eles estão na linha de frente da TV e da Rádio. Na parte operacional da Rádio e da TV é a empresa chamada PGM que em 2005 foi convidada por este que está falando aqui pra fazer o projeto Grêmio TV e que também no desenvolvimento do projeto ganhou também uma rádio. Então a parte operacional da TV e da Rádio fica a cargo dessa empresa chamada PGM. S – Vocês utilizam alguma agência de publicidade para criar as peças gráficas? H – Tem, tem. A SLM que é uma agência de publicidade que está com o Clube a anos aqui, que trabalha com esta responsabilidade de desenvolver algumas idéias ou colocar algumas idéias que são desenvolvidas aqui dentro do Clube. Então essa é a agência que faz esse trabalho aí. Sabrina – Haroldo, tu terias algo a acrescentar? Algo que tu achas relevante? Haroldo – Hã, eu acha que não. Eu acho que todos trabalharam para que o Grêmio subisse para a primeira divisão dentro de campo e fora também. Eu sou do seguinte pensamento: onde há um grupo positivo, um grupo de pensamento, um grupo de crescimento, isso reflete dentro da empresa, isso reflete dentro do pensamento único da empresa, porque o Grêmio é uma empresa. Então, eu valorizo muito quem vem trabalhar pensando sempre no melhor. Aquele que vem trabalhar apenas por trabalhar, comigo não fica. Nesses 3 anos que eu estou aqui, quarta temporada, eu sou bem sincero, eu já tive vários estagiários. Que 2 estagiários se formaram e estão trabalhando aqui com a gente, exemplo de lembranças boas. Mas também já tive estagiários que achavam que o ato de errar várias vezes, várias vezes, é uma coisa normal, é uma coisa que não tem cobrança, e comigo não existe isso. O erro é importante, porque você mostra que você ta naquela fase de conhecimento, naquela fase de desenvolver teu conhecimento, mas errar em cima de vários erros que você vem cometendo, isso pra mim já é um sinal de que a pessoa não ta fazendo o curso certo, que ta no curso errado. Eu acho que a comunicação ta dizendo tudo, comunicação. Aonde você convive com o erro e derrota, o nome certo pra esse curso não é comunicação. ANEXO B Entrevista: Michelle Billo, Gerente de Marketing do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Entrevista com Michelle Billo – Gerente de Marketing do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Dia 03/10/2008 às 18h Local: Sala da Assessoria de Imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Sabrina – Quais seriam as funções do Departamento de Marketing do Grêmio? Michelle – O Departamento de Marketing cuida tanto da parte de negócio, relacionamento e comunicação, ou seja, o que seria isso, eu cuido da publicidade como negócio, ou seja, permuta, negócios, patrocinadores, contratos renovações, isso dos menores, os maiores eu deixo para a direção do Clube tratar diretamente com os maiores, os graudos se entendem. O Departamento de Marketing tem também o relacionamento, ele alimenta os outros setores do Clube no sentido de: dando ferramentas para o quadro social trabalhar e ampliar o número de sócios e manter a fidelidade. A gente faz também um trabalho de endomarketing onde a gente está sempre proporcionando ao colaborador o crescimento, uma melhoria dentro da sua profissão. A gente cuida também das lojas, loja que eu digo são o que está envolvido dentro. Nós temos uma loja que é fixa, a do Clube na realidade que é esta aqui do Estádio Olímpico. As outras lojas Grêmio Mania elas são licenciadas, não são franquias, por isso não há a padronização nem de produtos, nem de layout. São licenciadas, ou seja, elas têm total liberdade de comprar de quem eles querem, seguindo o padrão deles, não necessariamente um padrão imposto. Normalmente franquia tu segue um padrão, uma linha e isso não ocorre. Hoje, nós estamos com 24 lojas licenciadas, onde o Grêmio ganha um percentual mínimo do faturamento deles e ganha royalties em cima dos licenciados também. Sabrina – Tu me falaste Michelle que tu estas a pouco tempo aqui no Clube. Tu não pegaste o período em que o Clube estava rebaixado? Michelle – Não, graças a Deus não peguei. Eu fiquei triste em casa, chorei, mas não. Sabrina – Tu saberia me dizer alguma coisa sobre a atuação do Departamento de Marketing naquele período? Michelle – Na realidade, o Departamento de Marketing independente de qualquer período do campo, a gente não pode atrelar o campo as atividades normais, ou tu até pode. A gente desenvolve um planejamento de ações que eu pretendo executar até dezembro. Já estou em fase com a minha agência que é a SLM desenvolvendo um planejamento pra 2009, mas o que acontece, muitas fezes o que a gente planeja, a gente não consegue executar. Porque infelizmente, não que o nosso foco perca a direção, mas muitas vezes a estratégia utilizada, por exemplo, ela interfere no resultado que deu num jogo, ou seja, se eu programa um anúncio pra amanhã dizendo que o Grêmio é o melhor, que pela 13ª vez é Top of Mind, que o Grêmio é o primeiro do ranking, que tem a 3ª maior torcida. Se eu programa esse anúncio para domingo e, Deus o livre, acontecer alguma coisa amanhã, tenho que cancelar. Eu tenho que me resguardar. Eu não posso, porque eu vou estar dando a cara pra bater. Eu, particularmente, eu sou uma profissional e não posso me deter pelas emoções. Claro que eu sofro, sou gremista, mas eu não posso me deixar envolver. O meu trabalho tem que ser contínuo, ou seja, é o Clube como um todo, eu vejo o Clube como uma empresa. Hoje, o Grêmio é um Clube profissionalizado dentro dos seus setores.Eu sou responsável aqui, pelo Departamento de Marketing, no Quadro Social nós temos uma pessoa que é responsável também. O Clube está contratando pessoas formadas dentro de suas áreas especializadas para não perder o foco do trabalho que é o crescimento, a ampliação, o sucesso da marca como um todo. Sabrina – pensando no Clube como uma empresa e tendo esse planejamento, algumas ações ainda têm uma ligação com os resultados da equipe? Michelle – Exatamente. Elas são abortadas ou não. Não é que nem uma empresa, um varejo, por exemplo. Eu sei que uma xícara custa R$ 1,99 e daqui a 15 dias ela vai continuar custando R$ 1,99. Eu sei que o Grêmio hoje tá na liderança e vai continuar, tem que pensar assim. Mas, e se por uma eventualidade acontece alguma coisa, eu não posso usar esse mesmo planejamento para daqui 15 dias porque muitas coisas podem rolar. Ou seja, tudo o que está planejado, eu gostaria de executar porque tudo é em prol e bom para o Clube mas muitas vezes eu não consigo por causa do resultado do campo. Mas o resultado não interfere nas pessoas, nem na Michelle como profissional. O meu trabalho continua a mesma coisa, mesmo na vitória, mesmo na derrota o meu objetivo, o meu posicionamento, o meu foco é o mesmo sempre. Eu não posso me deixar levar pela emoção. A emoção eu deixo pro sócio, eu deixo para o torcedor que vem aqui, que grita, que solta toda a energia dele. A minha energia eu resguardo para continuar o meu trabalho. Sabrina – Também, tendo o Clube como uma empresa, é feito algum planejamento de gerenciamento de crise de qualquer natureza? Michelle – Na realidade não existe um planejamento Sabrina, a gente administra conflitos... o que acontece, tem um planejamento, como eu já disse, pra ser executado que eu gostaria de executar, porque tudo que está ali escrito são coisas positivas, ou seja, são anúncios bacanas, são ações interessantes que vão dar uma repercussão bacana também, mas o que acontece, eu gerencio a derrota é abortando qualquer tipo de ação, eu me calo, a gente não expõe aquilo que gostaria de expor. Ou seja, a gente entra na retaguarda e acalma, espera o movimento, espera a imprensa lá fora fazer o que tem que fazer e a gente fica quieto. E depois a gente começa a trabalhar novamente ANEXO C Entrevista: Grace Barth Atendimento/Gerente de Contas da Agência SLM Ogilvy Entrevista com Grace Barth – Atendimento/Gerente de Contas da Agência SLM Ogilvy Dia 02/10/2008 às 11h Local: Agência SLM Ogilvy/Porto Alegre Grace – Na verdade, o Grêmio trabalha com permuta em todos os jornais, ele troca por espaços publicitários e outros tipos de aproveitamentos dentro do estádio e em contra partida os veículos dão um x de espaços por ano para o Grêmio. Então, naquela época a gente usou muito mais jornal do que hoje. Sabrina – Uma das coisas que eu gostaria de saber é: o que mudou na publicidade que era feita antes para a daquele período? Mudou alguma coisa? Grace – É, mudou. Se tu fores analisar os textos, os conteúdos que a gente colocou mudaram. A estratégia de comunicação em si não mudou muito, porque a gente já tem uma estratégia assim: a gente sabe que tem que fazer chamamento para os jogos, a gente sabe que tem que trabalhar para que a loja venda, então a gente trabalha em datas promocionais para a loja, a gente tem que trabalhar para captar sócios, então tem que trabalhar nessa fidelização, para isso a gente tem várias ferramentas (e-mail marketing ou é mensagem no doc de pagamento ou é anúncio) e tem que trabalhar também o institucional do clube ressaltando os grandes feitos, as conquistas em competições, os prêmios tipo top of mind a gente comemora, o fato de ser o primeiro no ranking do Brasil também a gente comemora. Então tem várias... 20 de setembro a gente também comemora, porque é uma data que a gente acha que tem muito a ver com o Grêmio pelo seu estilo aguerrido, bravo e tal de jogo, pela alma assim que o Grêmio tem. Ele tem uma relação muito grande com a Revolução Farroupilha. Fora essas datas promocionais do calendário tradicional que a gente trabalha institucionalmente, a gente trabalha e principalmente na época do rebaixamento a gente trabalhou com a convocação para jogos. Por quê? Porque é natural. O torcedor quando vê seu time perdendo, a tendência é que ele vá a menos jogos, porque ele quer, todo mundo quer, que seu time ganhe. Ninguém quer ir lá no estádio para ver teu time perder. Então, a tentativa que a gente fez naquela época foi de dar uma mensagem de esperança para aquele torcedor, dizendo que a participação dele poderia afetar o resultado dentro de campo, a torcida dele poderia influenciar os jogadores, o que é de fato, quando a torcida no estádio tá fervendo e gritando e tal, a gente vê que os jogadores percebem esse apoio, se sentem mais seguros. Claro, não é nada científico, é uma questão de feeling. Então, se tu for ver, naquela época todos os anúncios tinham textos mais longos do que a gente usa hoje, por exemplo. A gente passava mais mensagens de otimismo. Não era só “venha ao jogo”, era “venha mesmo ao jogo, a gente precisa de vocês” A gente mostrou que precisava muito mais do torcedor naquela época. Não que a gente não precise hoje, mas hoje a torcida tá vindo ao natural, a gente não precisa dizer “venha pelo amor de Deus‟, naquela época a gente precisava. E, a surpresa é que apesar daquela fase toda, ser uma fase de número de torcedores mais baixo, ela manteve nesse período uma média de torcedores acima do esperado, para a condição que o time tava. A gente via inclusive, os torcedores viajando para ver o Grêmio num período que pow, ia ver o Grêmio perder praticamente, porque não se tinha muita esperança de que o time desse uma reagida e fizesse um campeonato brasileiro maravilhoso, não. Sabia-se da limitação do time e que não tinha milagre para fazer. Qualquer mudança no time para refletir no campo não é um jogador que tu mexe, as vezes tu pode mudar todos os jogadores e não ter um resultado imediato porque eles não estão entrosados. Então, é uma série de componentes que influenciam no resultado de campo. Então, como a gente não tem domínio sobre o campo, o nosso papel, o papel do marketing, além de trazer recursos para o Clube, que é o principal papel, seja através de propaganda dentro do estádio, propaganda no site, venda de produtos, venda de títulos de sócio, tudo o que dá receita para o Clube se manter, a questão da bilheteria também é uma questão importante, a bilheteria do jogo dá recursos para o Grêmio. Então o nosso esforço era manter esse torcedor motivado, apesar da situação que era difícil, né. Sabrina – E fora os anúncios nos jornais, houve alguma outra estratégia? Grace – A gente usa, e cada vez mais agora, na época a gente começou um trabalho de marketing dirigido através do e-mail marketing, a gente tem através de cadastro hoje, hoje mais ainda porque o site tá cada vez mais forte, teu um número de usuários bem grande, bem significativo. Tanto no site, quanto no marketing direto mandando pra casa da pessoa a mensagem. Era uma prática também, mandar mensagem de texto pra celular um pouco antes dos jogos. Nos jogos onde, por exemplo, era dia da mulher e a mulher entrava de graça; dia das mães e a família podia entrar como acompanhante do homem. Tinha umas facilidades que a gente oferecia para que mais gente viesse ao estádio. A nossa mídia principal realmente foi o jornal. O jornal atinge um grande número de pessoas e a gente tem espaços “gratuitos”, são trocados né, mas existe essa mídia. Um Clube de futebol não tem condições financeiras de ser um anunciante como ele é, se ele fosse pagar por isso, com certeza ele não seria esse anunciante. Ele hoje é comparado a um anunciante muito bom de qualquer agência de publicidade, mas porque ele tem essa facilidade na mídia que é de graça, se não seria mais complicado. Sabrina – Na campanha para novos sócios, foi utilizado o Odone, o Da Leon e o Mário Sergio. Porque resolveram utilizar essas três figuras? Grace – Justamente nessa época, foram contratadas essas figuras que eram muito importantes no passado do Grêmio. Então, ao utilizar essas figuras, não só o torcedor ter mais conhecimento sobre quem está por trás do Grêmio hoje, mas justamente tentar resgatar através da imagem deles toda aquela, aquele espírito, aquele sentimento de vitória que aquelas pessoas representavam na época que elas estavam no Grêmio, quer dizer, eles foram importantes em grandes conquistas. Se tu fores no memorial do Grêmio tu vai ver muita coisa sobre essas figuras. Então, a tentativa foi resgatar a imagem associada a essas figuras na campanha pra tentar trazer ao torcedor um pouco de esperança e um pouco de motivação para ele se tornar sócio, tipo “ah, agora vai, a gente está bem assessorado” Então, teve muito disso. E o próprio presidente se expondo, não é muito comum a gente usar ele em campanhas, mas o presidente Paulo Odone, ele tem uma desenvoltura muito grande, ele é muito bom interlocutor, ele realmente atinge o coração das pessoas, então o uso dele também foi uma estratégica que pára a época foi importante para dar essa mensagem de esperança e convocar as pessoas. E realmente a campanha teve resultado nessa época. Sabrina – E quais foram os resultados de todas as estratégias usadas nesse período, vocês chegaram a fazer uma avaliação geral? Grace – É, sim. Tem dois resultados, um é a própria campanha de sócios que se a gente analisar o gráfico, a curva durante a campanha de associação, nos dias que a campanha entrava no ar, que a gente tem os planos de mídia que a gente vai acompanhando e vai acompanhando o sistema do Grêmio ao mesmo tempo, dava-se para se perceber que justamente nos dias que entrava o comercial no ar tinham picos de ligações e de procura. Então, na curva daquele período o número de sócios realmente aumentou. E, a gente pode dizer que a média de público se manteve além do que era esperado para o time e um clube nas condições que estava. Sim, teve resultado. Claro, a gente não teve estádio lotado, mas não se esperava também isso. A gente conseguiu manter uma média de público interessante. Qual o período exatamente que tu tá analisando? Sabrina – Eu to analisando de 19 de dezembro de 2004 a 26 de novembro de 2005. Grace – Quando caiu para a segunda a quando voltou para a primeira, até a batalha dos aflitos. É, a Batalha dos Aflitos foi um marco muito grande nessa época, que ela fez o papel da propaganda, digamos, naquela época. Foi uma vitória tão surpreendente que virou dvd depois e tal que hoje a gente comemora na data do aniversário daquela competição. Pensa, a gente tá comemorando uma competição da série B, né, uma coisa estranha, mas foi tão marcante, ela foi tão representativa do que é essa alma tricolor, do que é essa capacidade de superação. Então, usar ela como exemplo para qualquer coisa vale, para qualquer competição, tipo, “olha, a gente conseguiu naquelas condições, numa situação totalmente adversa, com jogadores a menos e mesmo assim se consegui”. Existem milagres que acontecem realmente para o Grêmio. A gente usa muito aquela competição para exemplo de quão, de como pode se superar um time numa situação dessa, com união, com vontade, com a torcida e tal. Foi muito representativo. Sabrina – E, para falar com o torcedor é válido usar os ícone, que já se transformaram em ícone: avalanche, geral, agora os aflitos, mas naquela época já, antes dos Aflitos, a avalanche e a geral já eram ícones do Clube. Grace – É, e eu acho que elas se reforçaram muito mais naquele momento. Porque no passado, a avalanche começou um pouco antes, mas a avalanche não era vista por todos como uma coisa... não se sabia avaliar se aquilo era muito bom ou não. Porque numa avalanche, as vezes a gente tem alguém que se machuca e o Grêmio tem responsabilidade sobre isso. Então, existia muita dúvida, mas naquele período a avalanche foi muito importante porque era um ícone grande da torcida que contaminava o estádio todo. Se for ver hoje, se tu for no jogo hoje, no estádio relativamente lotado, tu vai ver que a avalanche que ocupava um determinado espaço, agora ela já tá fazendo a curva no anel inferior, ela já tá contaminando. Apesar das outras pessoas não serem participantes da torcida geral do Grêmio oficialmente porque existe um grupo que é oficial né, ela acabou contagiando todo o resto do anel inferior e hoje metade do estádio faz avalanche, é uma coisa surpreendente. Então se deu muita força naquela época porque se viu que aquilo era um ícone que as pessoas estavam adorando e virou uma marca registrada. Hoje, se tu for ver, quando falam do Inter e do Grêmio na tv, o ícone do Grêmio, quando mostra um gol, eles mostram o gol e em seguida mostram a avalanche sempre, é impressionante, a Globo adotou também isso. E isso é muito bom, porque é um diferencial que só o Grêmio tem, ninguém vai poder imitar. Sabrina – Grace, tu terias algo a acrescentar, sabendo do tema, do motivo da pesquisa, algo mais que tu aches relevante, fora o que já conversamos? Grace – Deixa eu pensar em algum fato diferente da época... ... Nessa época também, se não me engano teve o lançamento da camisa preta, eu acho. Sabrina – A Shadown? Grace - A Shadown. Tu chegou a ver esses anúncios na tua pesquisa? Sabrina – Não. Grace – Mas eu acredito que sim. Foi uma coisa bem surpreendente, teve um resultado bárbaro. É um exemplo de marketing diferente que os clubes não fazem e que foi feito para essa camisa, porque era uma camisa não para usar no jogo, mas para usar na noite, a passeio. A gente posicionou ela como uma camisa pra ti sair a noite. Porque na época começou a moda das pessoas saírem mais com camiseta de futebol em situações que não eram de futebol, que não eram de jogo. A gente saía na noite e via pessoas usando camisas não só do seu time como de times da Europa. Aproveitou-se esse momento e a Puma soube aproveitar muito bem esse momento, que era o patrocinador nessa época. A gente fez um lançamento diferente, além de posicionar ela como algo mais do que uma camiseta normal, a gente fez uma ação que atingiu os bares de Porto Alegre num determinado dia, que a gente chamou de Flasch Mobile. A gente alugou uma van preta e colocamos um adesivo da Puma branco e contratamos modelos que vestiam essa camisa preta. Como a gente fazia a intervenção: a van chegava, saía lá de dentro um DJ com cabelo black power, colocava a mesa de som, instalava as caixas, fazia o tapete azul rolar, formando uma passarela no meio do bar, e as modelos saíam desfilando e outras entregando um folheto incentivando as pessoas a entrarem no site e concorrerem a camisas. Acontecia o desfile, a gente recolhia tudo e ia para outro bar. Nós mapeamos uns cinco ou seis bares e acabamos a noite no Opinião, que deixou a gente entrar, e fizemos o mesmo, só que no palco. O que eu te digo é que o marketing esportivo é uma coisa que está se falando cada vez mais e que agora é que nós estamos conhecendo práticas diferentes desse marketing. Antes o marketing fazia o tradicional, o anúncio, o rádio, a propaganda estática lá do campo. E , agora, a gente vê e estimulamos muito isso no Grêmio, que isso era uma tendência. E por quê não um clube de futebol fazer? O clube de futebol nunca foi visto como um anunciante convencional, mas ele pode ser. Então, o recado é esse, fazer coisas diferentes mesmo para clubes de futebol. ANEXO D Pesquisa de Opinião Pública sobre Torcidas Fonte: Site do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística ANEXO E Modelo de compra com base no relacionamento Fonte: Sheth; Mittal; Newman, 2001, p.685. ANEXO F Planejamento Estratégico do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Fonte: Site oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense ANEXO G Seção Perguntas Mais Frequentes Fonte: Site Oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense ANEXO H Anúncios Campanha Novos Sócios Fonte: Jornal Zero Hora, 02/03/05, p. 19; 03/03/05, p. 41 ANEXO I Newsletter do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Fonte: documento recebido por Sabrina Raupp Souza ANEXO J Grêmio TV Fonte: Site oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense ANEXO K Anúncio do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Fonte: Jornal Zero Hora, 30/01/05, p. 38