por que filosofia

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POR QUE FILOSOFIA?
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou
recusamos as coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas: “que horas são”, “ que dia
é hoje?”. Nossa expectativa é de que alguém tenha um relógio ou um calendário e nos
dê a resposta exata. Com essa pergunta, demonstro que acredito que o tempo existe, que
ele passa, que pode ser medido em horas e dias, que existe passado, presente, futuro.
Uma simples pergunta contém silenciosamente, várias crenças não questionadas por
nós.
Em qualquer pergunta ou afirmação que fizemos, no fundo estão nossas crenças
silenciosas. Se eu digo: “onde há fumaça, há fogo” ou “não saia na chuva para não se
resfriar”, afirmo, silenciosamente, muitas crenças: que existem relações de causa e
efeito entre as coisas, que onde houver uma coisa certamente houve uma causa para ela,
que uma coisa é causa de outra, que na realidade é feita de causalidades, que os fatos e
as situações se encadeiam.
Avaliamos que uma casa é mais bonita que a outra, que alguém é mais alto ou
mais jovem que outro. As coisas, os fatos., as pessoas, as situações, podem ser
comparados. Dizemos que o sol é maior do que o vemos. Acreditamos que o espaço
existe, possui qualidades (perto, longe, alto, baixo) e quantidades, podendo ser medido
(comprimento, altura, largura).
Quando chamamos alguém de mentirosos, acreditamos que há verdade e
mentira. Quem erra, se ilude involuntariamente; quem mente, deforma a realidade
voluntariamente. Sabemos diferenciar o erro da mentira. Ao mesmo tempo avaliamos
que a mentira nem sempre é coisa ruim. Lemos romances, vemos novelas, assistimos
filmes. Mas temos as mentiras inaceitáveis, que estão relacionadas ao caráter das
pessoas, à moral. Acreditamos que as pessoas podem ser morais ou imorais, pois
cremos que a vontade é livre para o bem ou para o mal. Daí que todos os seres humanos
seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos,
artísticos. Somos seres conscientes e dotados de raciocínio. A nossa vida cotidiana é
toda feita de crenças silenciosas, de aceitações que nunca questionamos porque nos
parecem naturais e óbvias.
ATITUDE FILOSÓFICA
Vamos imaginar que alguém ao invés de perguntar “que horas são” ou “que dia
é hoje”, perguntasse: “o que é o tempo?”. Ou, ao invés de afirmar: “onde há fumaça, há
fogo” ou “não saia na chuva para não se resfriar”, dissesse: “ o que é causa?”, “o que é
efeito?”. Ou, “esta casa é mais bonita que a outra” por: “o que é mais?”, “o que é
menos?”, “o que é belo”? Ao invés de gritar para alguém “mentiroso”, questionasse: “ o
que é verdade?”. “ o que é falso?, “o que é erro?”, “o que é mentira?”
Ao avaliar se algo é bom ou ruim, maior ou menor, se perguntasse: “o que é
bondade?”, “ o que é valor?”, “ o que é quantidade?”, “o que é qualidade?”, “o que é
moral?”, “o que é vontade?”, “ o que é liberdade?”.
Alguém que tomasse a decisão de fazer essas perguntas, estaria tomando
distância da vida cotidiana e de si mesmo para indagar o que as crenças e os sentimentos
que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Estaria adotando uma atitude
filosófica.
Então, a primeira resposta à pergunta “ o que é filosofia” poderia ser: a decisão
de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéia, os fatos, as situações, os
valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana: jamais aceita-los sem antes
havê-los investigado e compreendido.
ATITUDE NEGATIVA: dizer não ao senso comum, aos preconceitos, aos pré-juízos,
ao que todo mundo diz e pensa, ao estabelecido.
ATITUDE POSITIVA: Interroga sobre o que são as coisas, os porquês. São
indagações fundamentais da atitude filosófica.
PARA QUE FILOSOFIA?
Raramente as pessoas perguntam para que matemática? Para que física? Ou outra
disciplina. Mas é comum ouvir a pergunta: “para que filosofia?”.
Essa pergunta pode ter uma resposta irônica: ela não serve para nada. Na nossa
sociedade, costumamos considerar alguma coisa que tenha finalidade prática, de
utilidade imediata. O senso comum não enxerga o que o que os cientistas sabem muito
bem. As ciências pretendem ter conhecimentos verdadeiros, obtidos através de
procedimentos rigorosos de conhecimento, pretendem agir sobre a realidade, através de
instrumentos e objetos técnicos, pretendem ter progressos nos conhecimentos,
corrigindo-os, aumentando-os.
Verdade, pensamento, procedimentos para conhecer, relação entre teoria e
prática, correção, acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência. São questões filosóficas.
Os cientistas partem delas como questões já respondidas, mas é a filosofia quem as
formula e busca as respostas para elas. Daí que a ciências precisam do trabalho da
filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. Não se deve esperar da filosofia
resultados técnicos ou utilidade econômica. A filosofia seria a arte de bem viver. Ela
ensina-nos a virtude que é o princípio do bem viver. Ela faz perguntas desconcertantes e
embaraçosas: o que é o homem? Que é vontade? Que é paixão? Razão? Virtude? Vício?
Liberdade?... Filosofia é a arte de indagar. É o pensamento interrogando-se. É a arte de
refletir. Reflexão é o movimento de volta a si mesmo. É voltar-se também para tudo o
que nos circula. Nada se escapa à reflexão filosófica. E não é “achismo”.
PENSAMENTO SISTEMÁTICO:
A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos
dos enunciados, trabalha com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos coerentes.
FILOSOFIA E CIÊNCIA:
A partir do séc. XVII, as ciências começam a delimitar seu campo específico de
pesquisa. Cada ciência investiga “recortes” do real. A filosofia, porém, investiga a
realidade na sua totalidade, no seu conjunto. Ela estabelece o elo entre as diversas
formas do saber e do agir. Ela é reflexão crítica dos fundamentos do conhecimento do
outro, o que é método, o que é validade, as conseqüências éticas das descobertas
científicas.
FILOSOFAR É UMA ATITUDE DIANTE DA VIDA. É a procura da verdade. As
perguntas em filosofia são mais essências que as respostas e cada resposta se transforma
em uma nova pergunta.
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