artigos - Revista Filosofazer

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artigos
Diálogos possíveis entre
antropologia e saúde humana
Arnaldo Nogaro*
Idanir Ecco*
Resumo: O presente texto constitui-se numa revisão de literatura cujo
objetivo é refletir em torno da interlocução antropologia-saúde humana. Orienta-se a partir das grandes interrogações feitas ao longo da história humana (O que é o homem? Quem é o homem? Quem somos nós?
De onde viemos? Para onde vamos?), das leituras a respeito do assunto e
da experiência dos autores como docentes da disciplina de antropologia,
cujas percepções apontam algumas dificuldades por parte dos estudantes
no entendimento da importância e finalidade dessa área do conhecimento na matriz curricular, especialmente dos cursos da área da saúde. Ao
ingressar na universidade, o estudante tem uma visão de senso comum
carregada de mitos sobre a profissão que exercerá futuramente, além de
uma concepção tecnicista da formação acadêmica que favorecem o estreitamento de seu entendimento sobre disciplinas que não sejam de sua
formação específica. Isto tem ocorrido com a antropologia que, normalmente, está posta nos primeiros semestres dos cursos. Trazemos indicativos e apontamentos que vislumbram possíveis diálogos e sintonias
* Professor da URI – Campus de Erechim. Doutor em Educação (UFRGS). Integrante
do Grupo de Pesquisa Ética e Educação.
** Professor da URI – Campus de Erechim. Mestre em Educação (UPF). Integrante do
Grupo de Pesquisa Ética e Educação.
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da antropologia com a saúde humana, reforçando sua importância para
a formação dos profissionais desta área e para o entendimento do ser
humano como ser que está em maior ou menor equilíbrio consigo e com
o meio onde vive.
Palavras-chave: Antropologia. Saúde. Ser humano.
Palavras preliminares sobre o tema
O questionamento em aberto sobre o que é o homem, as recentes
leituras e contato com obras da área de antropologia para preparar aulas
desta disciplina e mais especificamente o manuseio e leitura de obras
relacionadas a este tema (Laplantine; Helman; Bastos; Campos; Alves;
Cohn, entre outros), provocaram-nos a refletir e a escrever sobre diálogos
possíveis entre antropologia e saúde humana.
As razões nucleares que nos conduziram a elaborar esta reflexão
são fundamentalmente duas: a gênese de nossa primeira inquietação
está relacionada a interrogações que emergiram quando do contato com
uma obra sobre “antropologia da doença” (embora trate de temas pertinentes à saúde) e não de antropologia da saúde.1 Num primeiro olhar
parece ser algo natural, não digno de grandes preocupações, no entanto,
acreditamos caber ponderar algumas considerações ao longo do texto.
A segunda razão está relacionada a nosso exercício docente como professores da disciplina de Antropologia em Cursos de Graduação.
O enfoque dado a este artigo leva em consideração as percepções
colhidas no exercício da docência no que diz respeito ao entendimento
dos acadêmicos em relação à antropologia. Estes veem a disciplina como
periférica ou distante dos conhecimentos necessários ao seu futuro
exercício profissional. Tal entendimento leva o estudante a secundarizar
conhecimentos desta área com perdas para sua formação. Consideramos
esta forma de encarar a antropologia como equivocada e resultante da
1 Alguns autores consideram a Antropologia da Saúde ou da Doença, indistintamente,
com igual enfoque. Tanto uma como outra denominação privilegiam o significado
ou as representações da doença, sua causalidade, as medicinas tradicionais e a
medicina moderna. No entanto consideramos mais adequado e afirmativo falar
somente de antropologia, sem qualquer adjetivação.
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ausência de maiores esclarecimentos, saberes prévios, sobre a relevância
destes saberes para a atuação profissional. Não cabe julgar ou transformar
este texto em um “muro de lamentações”, mas utilizá-lo para explanar
ideias que ancorem uma melhor compreensão desta área e, ao mesmo
tempo, externar argumentos na direção de contribuir para explicitar os
sentidos e os nexos que permitam visualizar como a antropologia pode
auxiliar ou “ser útil”2 como parte integrante dos saberes necessários ao
exercício das profissões que tratam da saúde humana.
As características da antropologia diferenciam-na de muitas outras
disciplinas dos cursos cuja matriz curricular a contempla, seja pelas suas
especificidades, seja por não possuir o caráter tecnicista3 que muitas carregam, o que faz com que os estudantes a percebam como algo com menor
sentido. Esta percepção encontra ressonância em um relato feito por Cohn
ao falar do ensino de antropologia da saúde nos cursos de graduação.
[...] a experiência de ministrar a disciplina nos mostra mais uma
vez a dificuldade de realizá-la: a despeito de uma predisposição
institucional, os alunos chegam à sala de aula na expectativa de
dominar competências sobre técnicas eficazes e universais de
alívio e cura (COHN, 2011, p. 42).
A nosso juízo, trata-se de um ledo engano, pois os cursos nos quais
a antropologia está inserida preparam profissionais para contracenar de
maneira efetiva com seres humanos (relação muito próxima, pessoal com
as pessoas, inclusive necessitando tocar no paciente para examiná-lo), o
que demanda uma “ciência” mais acurada sobre o homem. Geralmente,
a antropologia está posta na matriz curricular nos primeiros semestres
dos cursos, fator contributivo para este olhar de viés dos acadêmicos,
uma vez que, ao ingressarem na universidade, em sua grande maioria,
possuem muitas noções de senso comum sobre a profissão a ser exercida,
acreditando piamente que o enfoque específico e pragmático, de sua área
2 Utilizamos esta expressão por traduzir o que muitos acadêmicos buscam, ou seja,
“para que serve?”; “qual sua finalidade?” Não temos a intenção de dar à antropologia caráter pragmático de um “saber fazer”, utilitarista que ela não possui, como
ciência do homem, pretendemos explicitar argumentos que desvelem sua natureza
e sua contribuição para a formação acadêmica.
3 Usamos esta expressão com o sentido de instrumentalista, como domínio de técnicas
operacionais.
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de atuação, seja o único necessário. Assim, o campo de conhecimentos
de sua formação é visto de modo deslocado cuja preparação deva se dar
na direção exclusiva do “especialista”, 4 desconhecendo intervenientes e
componentes de outras ordens, responsáveis pela boa formação universitária. Nossa dúvida é se os acadêmicos em fases posteriores dos cursos
(mais avançadas) adquirem este entendimento, se concluem sua formação
com o olhar mais humanizado, com visão de totalidade do homem.
Mesmo que paire esta dúvida, acreditamos ser valioso construir um
texto que tenha caráter mais propedêutico [introdutório] para auxiliar o
estudante a valorizar os conhecimentos da antropologia e a incorporá-los no seu processo de formação acadêmica. Amparar o profissional
da saúde para compreender “[...] como as pessoas consideram sua
condição de saúde e doença e, com base nisso, como lidam com a situação” (AMADIGI et al., 2009, p. 140). A arquitetura do texto está
estruturada em três momentos: inicialmente apresentamos elementos
que auxiliem no entendimento da gênese e definições de antropologia;
um segundo passo vamos em direção a mostrar a relevância dos conhecimentos advindos desta área e, finalizando, situamos os elos que
unem antropologia e saúde.
Antropologia: o estudo do todo humano
Embora Rocha e Tosta consideram estabelecer a origem de uma
ciência como lugar comum, quando se trata de um texto didático, com
finalidade de esclarecimento sobre um campo de conhecimento e sua importância, nunca é exagerado subsidiar o leitor com saberes prévios, elementares, mesmo que para os mais aprofundados e estudiosos do assunto
4 A epígrafe do artigo de Minayo (2012) ilustra bem nossa preocupação e auxilia no
entendimento desta dimensão. “Como fazer para que as disciplinas clínicas que lidam com pessoas doentes, pretendendo achar soluções para as causas de seu sofrimento físico, integrem o fato de a essência da pessoa humana ir muito além do seu
corpo biológico – sendo ela um ser que pensa, imagina, simboliza, vive de afetos e
de fantasmas quanto de alimentos materiais? Como fazer com que aqueles especialistas cuja atuação se dirige aos indivíduos – seja para curá-los, seja para educá-los
– admitam o fato de cada pessoa ser inserida em redes, estruturas, formas de pensamento coletivas que até certo ponto marcam e orientam seu comportamento?”
(RAYNAUI apud MINAYO, 2012, p. 189).
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seja considerado desnecessário. Firmes nesse propósito revisitaremos
algumas definições de autores sobre a antropologia e sua origem para auxiliar o leitor chegar a um esclarecimento maior sobre o assunto em pauta.
A gênese da antropologia, segundo Rocha e Tosta, é de natureza
mítica, remete como marco de referência ao pensador Heródoto, podendo
ser considerado como o “pai da antropologia”, embora como preocupação
com o homem tem raízes mais remotas (Sócrates, os Sofistas).
Assim, como Heródoto, viajantes, cronistas, administradores
coloniais, missionários e militares também deixaram registros
importantíssimos acerca da vida e dos costumes de outros povos ao
longo do tempo. Isso em um período em que ainda não existia
“oficialmente” a figura do antropólogo (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 22).
Neste texto não teremos fôlego para exaurirmos as discussões, de
maneira detalhada, em torno da sua origem e detalharmos sua história,
por isso tomaremos como base de apoio a ideia da antropologia como
ciência que data de período próximo à nossa era (século XX). Como
ramo do conhecimento adquiriu status de “ciência” num período bastante recente. Seus primeiros passos datam do século XVIII, embora alguns estudiosos afirmem que só ganha maioridade e se consolide como
novo campo de conhecimento científico em meados do século XX. Mesmo diante destas imprecisões, é neste período que ela inicia uma caminhada mais sólida rumo à maturidade científica e metodológica como a
conhecemos hoje.
O século XVIII reconheceu a antropologia como disciplina e lhe
deu direito de cidadania na filosofia. Somente no século XX esta
disciplina levanta a pretensão de liderança; ela alia-se às ciências
empíricas de seu tempo e tenta imprimir seu selo na filosofia. Todos
os sinais apontam, portanto, para o século XX (ARLT, 2008, p. 14).
Recorremos à etimologia da palavra para introduzirmos elaborações
conceituais resgatadas de diferentes autores. Antropologia significa o
estudo do homem. Antropos = homem; logos = estudo, tratado. Afirmar ser o estudo do homem é uma proposição muito genérica, quer
dizer tudo e, ao mesmo tempo, não diz nada. São muitas as ciências que
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possuem o homem como objeto de estudo, em suas diferentes dimensões
e até em aspectos específicos. Por isso faz-se necessário recorrer a conceituações mais esclarecedoras, mais concisas e que nos permitam um entendimento mais palpável que consiga definir os contornos desta área do
conhecimento. Um passeio pela literatura nos auxiliará nesta construção.
Rocha e Tosta, diferenciam a antropologia de outras ciências por
primar pelo estudo do homem em sua totalidade e complexidade, ideia
que é compartilhada por Arduini (2002) que a define como a ciência do
“todo humano”.
[...] a antropologia parece ter, ao menos inicialmente, a aspiração
ou pretensão de estudar o homem em sua totalidade. Significa isso
não mais pensar o homem dividido entre o corpo e a alma, entre
a natureza e a cultura, mas como sugere Marcel Mauss (2003), enquanto “homem total”, isto é, um ser ao mesmo tempo biológico,
psíquico e sócio-histórico (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 29).
Segundo Stein, as tipologias enumeradas pouco dizem sobre o
homem, mesmo em grande quantidade. Como forma de elucidar esta
questão ele cria a figura do homem antropológico que seria a referência para se falar da dimensão ontológica constituinte do ser humano,
anterior a outras tipificações.
Estaria assim implícita a orientação para o universal, ou para
aspectos que sempre aparecem quando falamos do homem. Teríamos então uma espécie de homem formal, sem pressupostos,
mas que se situaria por baixo de todos os tipos que se referem
a aspectos parciais, enquanto o homem antropológico quereria
referir-se a um todo, que não seria simples resultado de somas.
[...] Então poderíamos dizer que o homem antropológico refere-se àquilo que no ser humano é anterior ao homem econômico,
político, psicológico, estético, etc. (STEIN, 2010, p. 40).
A convicção da antropologia como ciência que busca superar a
compreensão do homem pelas suas especificidades constitui-se em tônica de muitos dos seus estudiosos. Fernández González situa o campo do
saber antropológico pelo objeto formal e não pelo material. No seu modo
de ver são várias as ciências que se ocupam do estudo do homem e de
seu comportamento, porém somente a antropologia o trata de maneira
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holística, “[...] esforçando-se por oferecer uma visão integrada do problema
da existência humana, a qual envolve aspectos diferentes como o biológico,
o psicológico e o cultural” (FERNÁNDEZ GONZÁLEZ, 2005, p. 30). No
mesmo sentido vai o pensamento de Marconi para quem a antropologia é
a ciência da humanidade, preocupada em conhecer cientificamente o ser
humano em sua totalidade. “Tenta compreender a existência humana em
todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da
estrutura biopsíquica. Busca também a compreensão das manifestações
culturais, do comportamento e da vida social” (MARCONI, 2001, p. 24).
O que caracteriza o olhar antropológico é o seu teor integrativo.
Laplantine é categórico ao mencionar que só pode ser considerada como
antropológica uma abordagem integrativa quando objetiva levar em
consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade. A
antropologia não seria senão um certo enfoque que consiste no: “a) estudo do homem inteiro; b) estudo do homem em todas as sociedades,
sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas”
(LAPLATINE, 2000, p. 16). Kluckhohn (1963) vem corroborar com esta
visão ao considerá-la como um estudo muito amplo, com pontos de contato
com as ciências físicas, biológicas e sociais e com as humanidades.
A antropologia há que buscar apoio em outras ciências para chegar
a seu objeto, pois visa “[...] compreender e expressar o que o homem é
e o que pode ser” (RABUSKE, 1992, p. 13). Constitui-se em uma tarefa
complexa em que não basta o exercício da reflexão para realizar esta
descoberta, faz-se necessário o apoio do conhecimento científico das
ciências demonstráveis e também a participação da linguagem do símbolo, que por não ser objetivável cientificamente, carrega consigo ambiguidades inevitáveis, mas que nem por isso deixa de dar importante
contribuição. Em síntese, a antropologia necessita de outros ramos do
saber para levar a cabo sua função.
No século XX o estudo da antropologia ganha novos adeptos, o
que resulta em novas abordagens. A definição apresentada por Barros
Júnior, amparado em estudiosos como Franz Boas, Radcliffe-Brown e
Malinowski, sinaliza divisões que ocorreram no campo de estudo da
antropologia como “[...] a ciência que se preocupa em conhecer, explicar
cientificamente o ser humano, em sua totalidade, ou seja, em seu tríplice
aspecto: natural, social e humano” (BARROS JÚNIOR, 2011, p. 18).
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Minayo considera a antropologia da saúde no Brasil muito jovem,
porém seu desenvolvimento vem ocorrendo num tempo de acelerada
transição no campo social, político, econômico, demográfico e epidemiológico. “[...] é dinâmica, florescente, e se constitui com várias peculiaridades, porém, sempre em diálogo com o que está sendo construído no
campo da saúde e no âmbito da antropologia, nacional e internacional”
(MINAYO, 2012, p. 214).
No entendimento de Canesqui (1994), embora esteja em expansão
no Brasil o interesse na pesquisa de temas relacionados à antropologia e
saúde, inexiste ainda o consenso dos antropólogos de constituir esta subárea do conhecimento. Tanto é que nas últimas duas décadas a temática abordada pelos pesquisadores tem assumido diversas denominações:
antropologia da saúde, antropologia nutricional, antropologia da ou e
saúde e medicina, antropologia médica, o desvio, as aflições, perturbações físico-morais, pessoa, corpo, sob as quais configuram-se distintos
enfoques das relações da antropologia com as ciências médicas ou interpretações sobre a doença, ou mesmo influências originárias dos centros
formadores internacionais na área.
Cada uma das ramificações da antropologia vai alinhavando seu
status e constituindo novos nichos de estudo que são subdivididos de
acordo com o entendimento de cada pesquisador. Rabuske (1992) subdivide a antropologia em Teológica, Filosófica e Empírica (Cultural e Física); Barros Junior (2011) em Cultural, Física e Filosófica; Fernández González em Filosófica, Biológica, Psicológica e Cultural; Laplantine (2000)
identifica cinco áreas: Biológica, Pré-Histórica, Linguística, Psicológica,
Social e Cultural; Montagu (1962) entende a antropologia como o estudo ordenado do homem, tudo o que se refere ao homem diz respeito
ao antropólogo. Divide-a em Cultural e Física; Marconi (2001) tipifica a
antropologia em: Social, Humana e Natural.
Em princípio, o fato de cada pensador estabelecer tipologias não
interfere de maneira drástica no entendimento da gênese e desenvolvimento histórico da antropologia. O fato a ser observado, segundo Stein
(2010), é o da antropologia não possuir uma unidade definidora das diferentes tendências antropológicas, o que leva a certa dispersão, a certo
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holismo científico que a conduz a ter dificuldade de definir seu objeto,
produzindo um certo relativismo antropológico possível de ser resolvido
por uma unificação a ser feita pelo olhar filosófico.
Em que pesem algumas divergências, podemos afirmar convictamente que a antropologia ampliou e diversificou seus campos e objetos
de estudo fazendo com que cada vez mais lhe seja dada importância e
adquira status mais concreto.
Independentemente das teorias que as sustentam, as produções
antropológicas têm um refinado instrumental que lhes permite
acessar tanto os sistemas de pensamento produzidos pelas sociedades tribais e rurais como pelas sociedades industriais e pós-modernas (MINAYO, 2012, p. 190).
Helman (2003) endossa esta ideia ao falar do objeto de estudo no
passado e hoje, quando afirma que a antropologia ocupava-se principalmente com o estudo de pequenas sociedades tribais dentro ou nas bordas
dos impérios coloniais. A antropologia moderna, contudo, ocupa-se igualmente em fazer etnografia nas sociedades complexas modernas. A “tribo”
de um antropólogo moderno pode ser, facilmente, uma seita em Nova
York, um subúrbio em Londres, um grupo de cirurgiões em Los Angeles
ou pacientes de uma clínica em Melbourne.
A pergunta pelo ser humano
Cassirer declara considerar universalmente admitido que a meta
mais elevada da indagação humana é o conhecimento de si próprio.
Embora muitas escolas de pensamento divirjam entre si sobre muitas
coisas, parece haver certa sintonia em relação a este aspecto que “[...]
revelou-se o ponto de Arquimedes, o centro fico e imutável, de todo
pensamento” (CASSIRER, 2010, p. 15).
A pergunta “o que é o homem?” ou “quem somos nós?’ suscita
inquietações perpetuadas por séculos. A literatura produzida, em diferentes áreas do conhecimento, mostra o esforço realizado por inúmeros
pensadores, em diferentes períodos da história da humanidade, no sentido de encontrar argumentos que pudessem diminuir ou amenizar a
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angústia existencial resultante da incapacidade de encontrar e precisar
respostas convincentes a estes dilemas. Parece um tanto absurdo desejar
encontrar respostas para interrogações, que de antemão, sabemos serem
pouco prováveis. No entanto, é constituinte da natureza humana o perguntar, o querer saber, a inquietude perante o desconhecido que faz o ser
humano se debruçar no pensar, no refletir, mesmo sabendo que algumas respostas sejam enigmas.5 Poderíamos concluir: como ser inacabado, o homem aposta no processo, no percurso mais do que no resultado,
ou seja, ele se “objetiva” (para usar a linguagem hegeliana), materializa
suas utopias que se tornam a razão do seu estar-sendo, de seu viver.
O desejo do homem de saber sobre si e sobre o mundo circundante
orienta a direção dos questionamentos. “Devemos tematizar aquela
autocompreensão original, que continuamente possibilita, acompanha,
condiciona e penetra todo o nosso conhecer, falar e agir expresso e objetivo” (RABUSKE, 1992, p. 16). Trata-se de interrogar, esclarecer o que
o homem, em parte, sabe pelo vivido, mas ainda desconhece existir algo
de mais valioso e profundo a ser buscado.
O interesse de arguição persegue um horizonte global, é a sede pelo
todo da experiência humana, transformada constantemente, que funda
a natureza dinâmica de seu ser. O homem ultrapassa a soma ou fusão
das suas partes. É unidade na complexidade, resulta do incessante jogo
de equilíbrio entre ser e não-ser, sustentáculo, horizonte e condição da
pergunta: o que é o ser humano?
O homem pergunta pela sua própria essência. Isso somente é
possível, porque ele já sabe algo de si mesmo. Não é um saber que suprime a pergunta, mas que a possibilita. O homem
não se compreende perfeitamente, ele permanece para si mesmo um ser enigmático e misterioso. Sabe por si como um ser
que espiritualmente se possui e compreende. Mas está imerso
na obscuridade do ser e devir material, que lhe impede uma
autocompreensão plena. Esta dualidade determina a essência
do homem. Dela surge a possibilidade e a necessidade do seu
perguntar (RABUSKE, 1992, p. 16).
5 A História da Ciência é rica em exemplos destas tentativas que resultaram em
descobertas inesperadas e inimagináveis, mas que só foram possíveis graças a esta
sede do ser humano por respostas.
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Uma parte da resposta é dada por ciências que estendem sua
contribuição para a antropologia como a Biologia, a Psicologia, a História, a Física, Neurociência, dentre outras, mas a outra parte da pergunta
continua como incógnita e alimentando o desejo de descoberta de tantas
mentes humanas. No entendimento de Brandão (apud ROCHA; TOSTA,
2009) é a pessoa humana que nasce e se sobrepõe à natureza, ao biológico.
O animal se transforma pelo uso do simbólico, pela criação da cultura
resultante do esforço do homem para compreender a si e ao seu entorno e
definir as condições para sua sobrevivência. Se dependesse de sua natureza
animal o homem pereceria muito rapidamente, sua sobrevivência, resistência está nas condições transformadas graças à sua inteligência, criatividade e capacidade de aprender. “Quando o ser humano percebe que o que
ele faz modela o seu ser, nesse momento transforma-se no responsável
de sua própria realização” (FERNÁNDEZ GONZÁLEZ, 2005, p. 76).
Embora a antropologia pergunte pela interioridade do homem e por
elementos de sua natureza intrínseca e social, tem seu objeto de estudo com
um desenho e contribuição diferentes dos de outras ciências humanas.
A abordagem antropológica provoca, assim, uma verdadeira
revolução epistemológica, que começa por uma revolução do
olhar. Ela implica um descentramento radical, uma ruptura
com a ideia de que existe um “centro do mundo”, e, correlativamente, uma ampliação do saber e uma mutação de si mesmo
(LAPLANTINE, 2000, p. 22-23).
A antropologia reconhece sua insuficiência e utiliza o suporte de
outras ciências, fazendo daquilo que poderia se constituir em uma fragilidade um ponto forte, pois ancora seu trabalho em bases seguras com
economia de tempo e esforço se ela os fosse descobrir (o que pela especificidade de certos saberes não lhe seria possível). De modo exímio ela
torna possível a compreensão do homem em seus diversos processos de
humanização: seja de aculturação, educativos, de relacionamento entre
grupos, de convivência pessoal, etc. Para Barros Junior (2011, p. 167),
ainda necessitamos caminhar e pesquisar muito para nos humanizar
e compreender melhor nossas dimensões. “A ciência da antropologia
pode auxiliar muito nessa tarefa. Outros estudos mais profundos são
necessários se quisermos entender um pouco mais sobre os inúmeros
aspectos que compõem nossa natureza humana.”
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Contribuições da antropologia para o debate sobre a saúde humana
Nossa pretensão, nesta última seção, é construir argumentos em
favor do entendimento da antropologia 6 “com os pés no chão”, isto é,
falarmos do homem como um ser de relações, envolvido por determinado contexto e como ele produz e é produzido por esse meio, conforme
podemos evidenciar na ideia de Helman:
Não é possível entender como as pessoas reagem à doença, à morte
ou a outros infortúnios sem entender o tipo de cultura na qual cresceram ou adquiriram – isto é, sem entender um pouco da ‘lente’
através da qual elas enxergam e interpretam o mundo (2003, p. 15).
Ao tratarmos da relação antropologia – saúde humana temos a
intenção deliberada de apontar razões para demonstrar como os conhecimentos da antropologia podem contribuir ou se fazer presentes para
maior bem-estar e equilíbrio do ser humano. Minayo (2012) estrutura
cinco argumentos para ilustrar como a antropologia pode se constituir
em uma aliada no pensar e fazer saúde. Segundo a autora citada, a antropologia contribui para: relativizar conceitos biomédicos; desvendar a
estrutura dos mecanismos terapêuticos; mostrar as relações entre saúde/
doença e realidade social; a contextualização dos sujeitos; e com formas
de abordagem dos processos de saúde/doença. Na sequência do texto
menciona que quando trazemos o método antropológico para a área da
saúde ele serve para compreendermos:
(a) valores culturais e representações, opiniões e crenças sobre
saúde e enfermidades, tanto biomédicos como tradicionais;
(b) relações entre todos os componentes das equipes de saúde,
os pacientes e os familiares; lógicas de instituições de saúde e de
movimentos sociais específicos; e (c) avaliação de políticas, práticas, propostas, sistemas e modelos de atenção desde o sentido
de sua formulação, aplicação técnica, como a significância que
os vários sujeitos lhes atribuem (MINAYO, 2012, p. 199).
6 Neste texto utilizamos o conceito “antropologia” unicamente, sem adjetivá-lo,
mesmo quando nos referimos à sua utilização relacionada, aplicada à área da saúde. Alguns teóricos (Amadigi; Minayo) preferem utilizar a expressão “antropologia
da (em) saúde”, inclusive subdividindo-a por quatro abordagens: a tradicional, a
aplicada, a ecológica e a interpretativa.
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Em outras palavras, como o ser humano se constrói pelas relações
vivenciadas e como a saúde se insere nesta teia? Ao referirmos a bem-estar não estamos fazendo alusão à definição de saúde que a Organização Mundial da Saúde traz como “[...] estado de mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade”,
pois sabemos que ele jamais existirá. Para Scliar (2005), o “estado de
mais completo bem-estar físico e social” é um conceito que reflete expectativas mais recentes, mas foi rotulado como pouco operacional. A
expressão “bem-estar” envolve um componente subjetivo dificilmente
quantificável, algo semelhante a “felicidade”, mais uma “imagem-horizonte” do que um alvo concreto. Na mesma direção de raciocínio, Bastos
(2011) afirma ser contraditória, pois no homem não há como separar,
não há distinção entre físico e mental, como o bem-estar pode ser físico
e mental? “Essa definição, apesar de parecer correta, sofre de uma deficiência fundamental: ela é circular, pois define algo pela ausência de seu
oposto” (BASTOS, 2011, p. 18).
No início do texto afirmamos desejar uma antropologia da saúde
e não da doença. Mas o que é mesmo saúde? É a completa ausência de
doença? É possível haver existência humana assim? “Assim, podemos
dizer que saúde é, também, fruto de uma harmonia de eventos incrivelmente dinâmica, uma grande rede de interações, já que nós e o mundo
que nos cerca estamos em permanente mudança” (BASTOS, 2011, p. 97).
Saúde é estar em equilíbrio? O que significa dizer que se está em equilíbrio? Quais padrões existem para definirmos equilíbrio? O equilíbrio
definiria um “silenciamento” dos órgãos, não estariam “doendo” ou
apresentando algum sintoma? É possível uma perfeita sintonia conosco
mesmos e com o mundo?
A antropologia é a ciência do homem todo, ou seja, área do
conhecimento que se preocupa com o homem total, complexo. Esta
mesma perspectiva não nos é possível quando falamos em saúde e
doença, pois não há uma teoria de conjunto que permita uma definição abrangente e completa o bastante. Para cada sociedade existem
formas e naturezas diferentes e elementares de conceber e representar
a saúde e a doença. Segundo Laplantine, esta dificuldade advém
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[...] do fato de que as maneiras pelas quais essas formas são
representadas de uma sociedade para outra são extremamente
díspares, e de que numa mesma sociedade, em um certo momento de sua história, as correntes médicas, os sistemas de
pensamento, as escolas, os comportamentos sociais são extremamente variados e a essas variações sociais acrescentam-se as
variações individuais (1991, p. 11).
Em outras palavras, são diferentes discursos sobre saúde e doença
entrelaçados e entrecruzados, dificultando precisão maior da definição.
Como nos parece um tanto complicado e exaustivo definir “saúde”, vamos
nos pautar pela ideia de que possuir saúde significa estar num estado de
máximo equilíbrio e harmonia possível.
Nossa intenção com esta reflexão é possibilitar a quem exerce profissão
com vínculos diretos com a saúde e a doença possa reorientar seu olhar
e superar a perspectiva exclusiva da “clínica” (modelo biomédico7) ou do
discurso institucional (a ideia de que há alguém que cura e os que são curados; a concepção unilateral da doença tomada como objeto de conhecimento científico8) e passe a acolher o “todo” do sujeito, centro do interesse de
ação do profissional.
[...] o que esperamos mostrar é que, ao lado ou, mais exatamente,
com relação à doença tomada como objeto do conhecimento científico, ou seja, como ato de objetivação por um saber objetivo, não
é apenas “importante”, “interessante” [...] mas cientificamente
necessário que uma verdadeira antropologia da saúde se volte
também para o doente, que não só pode como deve ser levado em
consideração, tornando-se um autêntico polo de conhecimento
(LAPLANTINE, 1991, p. 17).
O homem é ser corpóreo e muitas doenças se manifestam por meio
dele, mas não necessariamente nele se originam. Algumas ciências se
7 Que se caracteriza por uma abordagem clínica centrada no cuidado individual e
na figura do médico. Trata as pessoas com base em suas doenças e na explicação
biológica para suas causas e mecanismos de tratamento.
8 Não se trata de desconsiderar ou negar o papel e a importância do conhecimento
científico, mas de entender que há muitos outros intervenientes, que em muitas situações, atuam como variáveis que fogem ao controle da Ciência e colocam em xeque
sua eficácia e possibilidade de êxito. Isto é, há muitas questões que a ela não responde
e não tem conhecimento. Ela é sempre provisória e também tem limitações.
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ocupam predominantemente com a dimensão da materialidade, o que
não significa não poder existir males de outra natureza, mais ampla
que a somática, situados além dos contornos “físicos”. O corpo dá a facticidade histórica, ou seja, externa e manifesta sua existência (e ameaças a ela como a doença), mas não contempla em si todas as explicações
possíveis ou esgota as possibilidades de perguntas sobre o ser doente.
Faz-se necessário entender que o que denominamos corpo, dimensão
da matéria, não pode ser reduzido a “uma coisa”. Está muito além do
objetivável, razão pela qual o ser humano está além da soma de suas
partes. Na visão de Minayo (2012), uma visão antropológica sugere
que, quando analisamos qualquer problema de saúde precisamos entender suas dimensões biológicas no contexto das condições estruturais, políticas e subjetivas em que ocorrem. Mais que qualquer outro
fenômeno histórico-cultural, saúde/enfermidade têm vinculação com
os modos de produção, as desigualdades sociais e as redes sociais de
apoio dos indivíduos e grupos.
Pelo corpo o homem faz parte, sente e se relaciona com o mundo,
mas não se restringe aos limites prescritos do homo somaticus, ou seja,
para entendermos ou perguntarmos sobre o que realmente é o homem
devemos ir muito além dele. Cuidar da saúde do homem exige observar,
conhecer e tratar aspectos mais amplos que a materialidade de seu corpo.
Este fala muito do que é o homem, mas não se reduz ao dado pelo somático. “Eu supero incessantemente o meu corpo: estou sempre além de mim
mesmo e, não obstante a pequenez da minha configuração corpórea,
consigo fazer minha a imensidão do universo” (MONDIN, 2008, p. 39).
A leitura da obra de Arduini (2002), especialmente o capítulo primeiro, auxilia no entendimento do que é o homem. Orienta a respeito
da natureza do olhar necessário para adentrarmos no que ele denomina
ser humano como “projeto antropológico.” Portanto, após, falarmos da
antropologia, sua importância no estudo e entendimento do homem, e
sua implicação no entendimento da saúde humana, retomamos a interrogação inicial: o que é o homem ou quem é o homem? Toda e qualquer
proposta que queira o bem-estar físico, mental e social do homem precisa pensar e agir dentro da perspectiva de vê-lo como conjunto e dedique
tratamento cuidadoso a esta pergunta.
Stein fala de uma antropologia fundamental, “[...] usada para afirmar
que, na base de todas as Antropologias, se pressupõe algo maior que elas
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mesmas” (2010). O questionamento em torno da saúde humana deve
ser feito além do campo de estudo das ciências particulares sejam elas
empíricas ou metafísicas. Parafraseando Kant (1997), o âmbito do
questionamento está no “mundo da vida”. “Esse deslocamento torna-se
extremamente necessário numa época em que vivemos uma crescente
perda da dimensão teleológica da vida humana e, portanto, também um
progressivo distanciamento das considerações éticas de como realizar
essa vida” (STEIN, 2010, p. 222). Em outras palavras, perguntar-se a este
respeito está estritamente vinculado com o fim da vida humana, com o
quê é viver e para quê viver?
Considerações finais
A resposta à pergunta pela vida humana não pode ser reduzida
aos campos de algumas ciências específicas como a Física, Biologia, Medicina, Biociências... vendo-a como soma de elementos genéticos, pois
a existência é sempre maior que a facticidade do existir. Stein (2010)
resume muito bem tal condição ao afirmar que a vida humana, como
existência, ultrapassa a natureza humana como um todo.
A interlocução, o diálogo deve ocorrer não somente entre as áreas
do conhecimento (antropologia – saúde), mas especialmente entre aqueles que objetivamente corporificam, concretizam cada segmento no dia
a dia do atendimento; o profissional da saúde e o paciente. De acordo
com Minayo (2012), isso demandaria dos profissionais da saúde ouvir:
primeiro, como nosso interlocutor define sua situação; segundo, qual
é a sua experiência biográfica, lembrando que uma pessoa sempre está
situada biograficamente no mundo da vida e é nesse contexto que pensa, sente e age; terceiro, qual o seu estoque de conhecimento a partir do
qual interpreta o mundo e pauta sua ação; quarto, o que o interlocutor
dá relevância em sua fala, pois sua estrutura de relevância se relaciona à
bagagem de conhecimentos e à sua situação biográfica.
No entender de Cohn (2011) para alcançarmos uma prática efetiva
deste diálogo ainda temos um caminho longo e trabalho oneroso para
superar a cisão que há entre as duas áreas, afinal, a crença exclusiva na
ciência, na biomedicina, na tecnologia, no profissional de saúde, é difícil
de abandonar e, mais ainda, a possibilidade de entender o outro em sua
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alteridade, difícil de abraçar. Já para Minayo (2012), ao ampliar as bases
conceituais incluindo a contribuição da antropologia, as ciências da saúde
não se tornarão menos científicas e aproximar-se-ão com maior abrangência e profundidade dos contornos reais dos fenômenos que abarcam.
Embora o diálogo encontre resistências, ele é possível e necessário
se quisermos ampliar e redimensionar nossas concepções de saúde e
doença, possibilitando maior humanização no atendimento e um olhar
voltado à perspectiva social e de dignidade humana para as pessoas.
Para que isso ocorra faz-se necessário que os antropólogos aceitem abrir
mão de suas concepções arraigadas e fechada, dando acesso aos profissionais da saúde a suas pesquisas e produções, permitindo assim maiores interfaces. Por outro lado, a área da saúde vai precisar se libertar da
visão tecnicista e do utilitarismo pragmático da ciência embasado na
crença da saúde como um processo biologicamente determinado.
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