Linguagem e Realidade

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Tema
Linguagem e Realidade
Tópico de estudo
Aspectos de norma culta.
Entendendo a competência
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora
da organização do mundo e da própria identidade.
As palavras que você usa para conversar com seus amigos são as mesmas a que você recorreria para ser entrevistado
para um emprego? Você já reparou que, em situações diversas, a linguagem que utilizamos se modifica? Isso acontece
porque a língua de um povo é formada a partir da troca de experiências entre vários grupos, inseridos em realidades sociais, geográficas, históricas, econômicas e contextuais diversas. A maneira como utilizamos os recursos disponíveis na
língua portuguesa revela a nossa percepção de mundo, nossas intenções e a imagem que temos de nós mesmos e do
outro, com quem interagimos. Por isso, para compreender e usar a língua portuguesa e para perceber sua relação com
a organização do mundo e com a formação da própria identidade é preciso estar atento às diversas formas linguísticas
que temos à nossa disposição. Nenhuma expressão linguística é fruto do acaso.
Desvendando a habilidade
Habilidade 27 – Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Por ser a variante convencional, a norma culta possibilita ampla comunicação entre os usuários da nossa língua e deve
ser utilizada sempre que o contexto exigir. Você já reparou que os textos oficiais (contratos, leis, redações de concurso)
privilegiam essa variante? Isso é normal e altamente desejável. Afinal, se já verificamos a necessidade de observarmos
o contexto antes de selecionar o tipo de linguagem que utilizaremos, também já deixamos claro que, à medida que
aumentam nossas responsabilidades profissionais e a nossa curiosidade em relação ao mundo, também aumenta a
necessidade de utilização/reconhecimento da norma culta nas diferentes situações de comunicação.
Situações-problema e conceitos básicos
Ao ler o texto a seguir, alguns leitores podem ter a impressão de que o verbo “achar” está flexionado equivocadamente:
Era do Terror
Assessores de Itamar filosofam que governo justo é aquele que entra do lado do mais fraco. Como consideram a
inflação resultado de conflito na distribuição de renda, apregoam cadeia para quem acham que “abusa” nos preços.
Painel, Folha de S.Paulo, 11 mar. 1994.
a) a quem o jornal atribui a opinião de que quem abusa nos preços deve ir para a cadeia?
b) do ponto de vista estrutural, o que produz a sensação de que há um desvio de norma culta quanto à concordância?
c) explique por que não há erro algum.
O texto, presente em jornal com grande tiragem, reflete sobre o posicionamento dos assessores do ex-presidente
Itamar Franco. Ainda que esteja dentro da norma culta, a proximidade entre os termos “quem” e “acham” produz
uma sensação de erro para o leitor, que pode ser levado a acreditar que o redator considerou o pronome, e não o
termo “assessores”, como sujeito do verbo “achar”. Nesse caso, seria melhor reestruturar o período, inserindo, por
exemplo, o pronome “eles” (para quem eles acham) e deixando a construção mais clara.
Curso Pré-ENEM
Linguagens
Quando utilizamos a norma culta, podemos ser compreendidos por um número maior de pessoas e ter acesso a
mais experiências sociais e culturais. Para isso, no entanto, não basta conhecermos as regras gramaticais: temos também que apresentar bastante cuidado na construção das nossas frases, para que a clareza seja sempre preservada.
Dentre os vários aspectos de norma culta que podem ser cobrados no Enem, vamos destacar aqueles expressos
na matriz de referência da prova:
1. Elementos de referência
a) Num texto coeso, construído dentro da norma culta, verifica-se sempre um grande cuidado com os termos que
fazem referência a ideias ou a outros elementos já citados ou a serem citados pelo emissor. Nesse sentido, o uso
dos pronomes assume especial importância.
Por exemplo, imaginemos o seguinte fragmento:
Gostava da Maria. Sua mãe era minha professora.
Se quiséssemos unir os dois períodos acima em um só, poderíamos utilizar um pronome relativo. Como há
uma relação de posse subentendida (“Sua mãe” é a mãe da Maria), o termo apropriado para ligar ambas as orações seria o “cujo”. Dessa forma, ficaria assim o fragmento:
Gostava da Maria, cuja mãe era minha professora.
b) Outro ponto importante, ainda dentro desse tópico, é o uso dos oblíquos átonos de 3a pessoa. Imagine, por exemplo, a sequência:
Se você não se cuidar, o resfriado vai te pegar.
Esse enunciado, sob o ponto de vista da norma culta, está inadequado. Sabemos que um pronome de tratamento (no caso, o “você”) leva todos os termos que a ele se referem para a 3a pessoa. No caso, então, para
atendermos à linguagem padrão, teríamos que eliminar o “te” e substituí-lo por um pronome de 3a pessoa. Mas
que pronome deveríamos utilizar: “o” ou “lhe”? Para resolver esse problema, precisamos lembrar que, como
complementos verbais, o “lhe” atua como objeto indireto, e o “o” como objeto direto. Dessa forma, atendendo a
norma culta, teríamos:
Se você não se cuidar, o resfriado vai pegá-lo.
c) Podemos utilizar os pronomes para localizar elementos no espaço, no tempo e no próprio texto. Por exemplo:
• No espaço
Esta camisa é minha. (próximo de quem fala)
Essa camisa é minha. (próximo de com quem se fala)
Aquela camisa é minha. (próximo de uma 3a pessoa)
• No tempo
Este ano está sendo bom. (presente)
Esse ano foi / será bom. (passado ou futuro próximo)
Aquele ano foi terrível. ( passado remoto)
• No texto
“A ternura não embarga a descrição nem esta (descrição) diminui aquela (ternura)”
Minha tristeza é esta: não a ver mais.
Ela disse que não viria e compreendi isso.
d) As formas seu, sua, seus, suas aplicam-se, indiferentemente a 3as pessoas, do plural ou do singular, com o(s)
possuidor(es) masculino(s) ou feminino(s). Por isso, numa frase como:
Manuel foi ao cinema com sua mãe.
É impossível dizer se tratamos da mãe de Miguel, de uma 3a pessoa ou da mãe do interlocutor. Para evitar o
duplo sentido, usam-se, por exemplo, as expressões dele(a)(s), de você etc.
Manuel foi ao cinema com a mãe dele.
Manuel foi ao cinema com a mãe de você.
Manuel foi ao cinema com sua própria mãe.
e) Algumas frases causam dúvida quanto à utilização do pronome em sua forma reta ou oblíqua. Por exemplo, devese dizer:
Passe a bola para mim chutar ou Passe a bola para eu chutar?
Curso Pré-ENEM
Linguagens
A segunda opção, no caso, é a correta, pois perceba que o pronome é sujeito do verbo chutar.
Partindo desse raciocínio: é correto dizer Será difícil para mim ir à festa ou Será difícil para eu ir à festa? No
caso, a primeira opção é a correta: trata-se de um hipérbato (inversão frasal).
A frase, na ordem direta, é Ir à festa será difícil para mim. O pronome não possui função de sujeito e, por isso,
a forma oblíqua foi utilizada.
Para finalizar, observe a frase Entre eu e ela, está tudo bem. Já é fácil identificarmos sua inadequação: o pronome destacado não é sujeito. Por isso, deveria ser escrito Entre mim e ela, está tudo bem.
2. Tempos e modos verbais
a) A utilização das flexões verbais dentro da norma culta sempre é assunto dos mais cobrados em todos os exames
de admissão ao curso superior. Não seria diferente no Enem. Analisemos alguns casos:
Lula e Meneguelli divergem sobre o pacto. Concordam em negociar, mas Lula só aprova um acordo se o governo
retirar a medida provisória dos salários, suspender os vetos à lei da Previdência e repor perdas salariais.
Painel, Folha de S.Paulo.
O trecho acima foge à norma culta. Se lermos com atenção, notamos que o vocábulo “se” introduz uma hipótese que, em geral, é expressa por verbos no modo subjuntivo. Embora tenha flexionado corretamente os
verbos “retirar” e “suspender”, o redator da informação se equivoca ao escrever “repor”, em vez de “repuser”.
Isso acontece, muitas vezes, por causa da própria contaminação sonora, já que verbos regulares (como “retirar”
e “suspender”) possuem formas idênticas para representar o infinitivo e o futuro do subjuntivo, e verbos irregulares (como “repor”) não.
b) Um vício linguístico que se convencionou chamar “gerundismo” também tem sido figura constante em provas.
Veja o caso seguinte:
Senhor, nós vamos estar entregando seu pedido dentro do prazo prometido.
Dentro da norma culta, não se pode usar a sequência “ir + estar + gerúndio” para representar o futuro. Para
adequar o enunciado à linguagem padrão, deveríamos escrever:
Senhor, nós entregaremos (ou vamos entregar) seu pedido dentro do prazo prometido.
c) Há uma especial correlação entre os tempos verbais. Utilizemos, como base, a sentença a seguir:
Eles pediram que a Petrobrás garanta que não haverá inquéritos administrativos contra os grevistas.
Folha de S.Paulo.
Se o redator começasse o período com “Eles haviam pedido”, deveríamos escrever:
Eles haviam pedido que a Petrobrás garantisse que não haveria inquéritos administrativos contra os grevistas.
Isso porque, ao utilizar o pretérito mais-que-perfeito composto (“haviam pedido”), passamos a situar a ação
de “garantir” no passado, impondo o uso do imperfeito do subjuntivo (“garantisse”). Ao utilizarmos esse tempo
verbal, somos obrigados, para atender à norma culta, a substituir o futuro do presente (“haverá”) pelo futuro do
pretérito (“haveria”).
d) Outro ponto de destaque é a formação do imperativo. Analisemos o caso a seguir:
Vai que a bola é sua, goleiro!
Embora aceitável num contexto coloquial, o fragmento acima rompe com a norma culta do idioma. A forma
verbal “Vai”, flexionada no imperativo, está na 2a pessoa. Entendemos, com isso, que o receptor está sendo tratado como “tu”. Torna-se, portanto, inadequado utilizar o pronome “sua”, de 3a pessoa. Dentro da língua padrão,
enunciamos:
Vai que a bola é tua, goleiro!
Para recordar, observe o quadro de formação do imperativo afirmativo e do imperativo negativo:
Presente do indicativo
Curso Pré-ENEM
Imperativo afirmativo
Presente do subjuntivo
Imperativo negativo
Eu opino
X
(que) eu opine
X
Tu opinas
opina tu
(que) tu opines
não opines tu
Ele opina
opine você
(que) ele opine
não opine você
Nós opinamos
opinemos nós
(que) nós opinemos
não opinemos nós
Vós opinais
opinai vós
(que) vós opineis
não opineis vós
Eles opinam
opinem vocês
(que) eles opinem
não opinem vocês
Linguagens
Presente do indicativo
Eu aprendo
Imperativo afirmativo
X
Presente do subjuntivo
(que) eu aprenda
Imperativo negativo
X
Tu aprendes
aprende tu
(que) tu aprendas
não aprendas tu
Ele aprende
aprenda você
(que) ele aprenda
não aprenda você
Nós aprendemos
aprendamos nós
(que) nós aprendamos
não aprendamos nós
Vós aprendeis
aprendei vós
(que) vós aprendais
não aprendais vós
Eles aprendem
aprendam vocês
(que) eles aprendam
não aprendam vocês
Presente do indicativo
Imperativo afirmativo
Presente do subjuntivo
Imperativo negativo
Eu nutro
X
(que) eu nutra
X
Tu nutres
nutre tu
(que) tu nutras
não nutras tu
Ele nutre
nutra você
(que) ele nutra
não nutra você
Nós nutrimos
nutramos nós
(que) nós nutramos
não nutramos nós
Vós nutris
nutri vós
(que) vós nutrais
não nutrais vós
Eles nutrem
nutram vocês
(que) eles nutram
não nutram vocês
e) Não se pode confundir o “se” indeterminador do sujeito com o “se” apassivador do sujeito, para que não tenhamos problemas na flexão verbal. Veja:
No caso do sujeito indeterminado, há emprego do verbo (intransitivo, transitivo indireto ou de ligação) na
terceira pessoa do singular acompanhado do pronome indeterminador do sujeito “se”:
Precisa-se de emprego.
Não se vive bem aqui.
Ainda se é bobo neste país.
A voz passiva sintética ou pronominal só pode se realizar com verbos transitivos diretos ou com verbos transitivos diretos e indiretos.
Compra-se casa.
Nesse caso, “casa” é sujeito. Portanto, se tivéssemos escrito, em vez de “casa”, “casas”, teríamos:
Compram-se casas.
Além da análise da transitividade do verbo, uma forma eficaz de verificação é a tentar passar o verbo para a voz
passiva analítica. Por exemplo, uma frase como Bebia-se muita água, pode ser transformada em Muita água era bebida, coisa impossível numa frase como Vive-se bem aqui.
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