A EXPERIÊNCIA DOS FAMILIARES/CUIDADORES DE PACIENTES COM CÂNCER COLORRETAL FRENTE AO TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO INTRODUÇÃO: O câncer é reconhecidamente um problema de saúde pública no Brasil e no mundo, o que torna importante o conhecimento da sua magnitude para o seu controle, por meio de programas de prevenção e detecção precoce, assim como implementação de intervenções de enfermagem para o tratamento e reabilitação do paciente oncológico. No que concerne à incidência, o câncer de cólon e reto é a terceira causa mais comum de câncer no mundo, em ambos os sexos, e a segunda causa em países desenvolvidos. Os padrões geográficos são bem similares entre homens e mulheres, porém, a incidência de câncer de reto é cerca de 20% a 50% maior em homens na maioria das populações (BRASIL, 2007). As neoplasias do intestino grosso podem ter caráter benigno,(adenomas) ou maligno, os carcinomas (adenocarcinomas). Os adenocarcinomas (surgem no epitélio interno do intestino) representam a quase totalidade dos cânceres colorretais. Ele pode iniciar como um pólipo benigno, mas pode se tornar maligno e invadir e destruir os tecidos normais e estender-se pelas estruturas ao seu redor. As células cancerosas podem se partir longe do tumor primário e espalhar-se para outras partes do corpo (mais frequentemente para o fígado). (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). Entre os fatores relacionados ao desenvolvimento de câncer colorretal, encontram-se, principalmente, a idade (sendo a maioria dos casos diagnosticada após os 50 anos) e dietas pobres em frutas, verduras e legumes, ricas em gordura animal e baixo teor de cálcio. Além destes, indivíduos com história de parentes de primeiro grau com adenomas diagnosticados antes dos 60 anos de idade; história pessoal pregressa de adenomas ou câncer de mama, ovário ou endométrio; e portadores de colite ulcerativa crônica ou Doença de Crohn também apresentam risco aumentado de desenvolverem câncer do intestino. Cerca de 7% dos casos deste câncer estão associados a algumas condições hereditárias, como a polipose adenomatosa familiar (FAP, do inglês: “Familial adenomatous polyposis”) e o câncer colorretal hereditário sem polipose (HNCCP, do inglês: “Hereditary non-polyposis colorectal câncer”).(INCA, 2008) O baixo nível de atividade física é um dos fatores mais reconhecidos como associado ao incremento no risco de desenvolvimento do câncer do intestino. Sua prática regular pode diminuir o risco de doença em até 50%. O mecanismo responsável por este efeito parece estar relacionado à diminuição do tempo de trânsito intestinal, minimizando assim o contato de carcinógenos com as células do intestino. Algumas hipóteses sustentam ainda que a atividade física poderia alterar o sistema imunológico e modificar o metabolismo dos ácidos biliares.MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). Os sintomas são fortemente determinados pela localização do câncer, estágio da doença e função do segmento intestinal no qual ele está localizado. O sintoma mais comum apresentado é a mudança nos hábitos intestinais. A passagem de sangue nas fezes é o segundo sintoma mais comum. Os sintomas podem também incluir anemia inexplicada, anorexia, perda de peso e fadiga. Os sintomas mais comumente associados às lesões do lado direito são dor abdominal abafada e melena (fezes pretas, tipo piche). Os sintomas mais comumente associados às lesões do lado esquerdo são aqueles associados a obstrução (dor abdominal e cólicas, fezes finas, constipação e distensão), assim como sangue vermelho-vivo nas fezes. Sintomas associados com lesões retais são tenesmo (esforço doloroso e ineficaz à evacuação), dor retal e sensação de esvaziamento incompleto após uma evacuação, alternância de constipação e diarréia e fezes sanguinolentas.(BRUNNER & SUDDARTH, 2002). Segundo o Programa Nacional de Prevenção do Câncer(2003), o câncer do intestino pode evoluir de forma significativa sem o surgimento de sintomas ou com sintomas pouco específicos ou perceptíveis aos doentes ou profissionais de saúde. O diagnóstico precoce é um dos passos essenciais para a busca da cura. Alguns dos fatores responsáveis pelo enorme retardo no diagnóstico do câncer do intestino e do reto são: a falta de orientação da população para importância do exame proctológico, as deficiências dos sistemas de saúde e o excesso de pudor, ou até preconceito, dos pacientes com relação aos exames utilizados na investigação de doenças do intestino grosso. As etapas fundamentais do diagnóstico são: anamnese, exame físico, exame coloproctológico e biopsia. O tratamento depende do estágio da doença e consiste em cirurgia para remoção de parte do intestino afetado e dos linfonodos próximos a esta região. Os dados recentes demonstram atraso na recorrência do tumor e aumento do tempo de sobrevida para os pacientes que recebem alguma forma de terapia auxiliar _ quimioterapia, radioterapia e/ou imunoterapia. Após o tratamento cirúrgico, a radioterapia associada ou não à quimioterapia é utilizada para diminuir a possibilidade da volta do tumor (recidiva). Para os tumores inoperáveis ou não sujeitos a ressecção, usa-se radiação para obter significativo alívio dos sintomas. Apesar do tratamento predominante para o câncer colorretal ser cirúrgico, considerando que as demais formas terapêuticas têm pouca influência no prognóstico da doença, sabe-se que a sobrevida do paciente pode ser melhorada com a quimioterapia sistêmica. As reações adversas mais destacadas são: a leucopenia, trombocitopenia,anorexia, mucosite, estomatite, náusea, diarréia, vômito,alopécia, fotossensibilidade e hiperpigmentação. A Organização Mundial da Saúde (OMS),caracteriza reação adversa a medicamento como uma “resposta lesiva, não desejada e que está presente em doses habitualmente utilizadas na espécie humana”. Essas reações adversas produzidas por medicamentos poderiam subdividir-se em dois grupos:efeitos colaterais farmacológicos exagerados, porém normais de um fármaco administrado em doses habituais, e efeitos totalmente aberrantes e não esperados à luz das propriedades farmacológicas conhecidas de um medicamento administrado nas doses habituais. O paciente submetido ao tratamento quimioterápico apresenta uma predisposição a algumas reações adversas, que podem ser esperadas, variando de acordo com o tipo de agente utilizado. É de extrema importância que a enfermeira conheça cada indicação quimioterápica, sua toxicidade e incompatibilidade. Embora o tratamento do câncer envolva uma ampla gama de profissionais, o manejo dos efeitos colaterais geralmente é feito pelos enfermeiros, pois é este profissional que tem maior relacionamento e contato com o paciente, ainda, nos serviços especializados é a equipe de enfermagem que informa, prepara e assiste os pacientes a respeito dos efeitos colaterais que provavelmente ocorrerão. Foi realizado um estudo prospectivo de corte transversal observacional descritivo,em pacientes portadores de câncer colorretal, tratados no Instituto de Tumores de Cuiabá-MT, para identificar e quantificar as reações adversas à quimioterapia por 5-Fluouracil (5-FU) 425mg/m2 e leucovorin (LV) 20mg/m2 (RA5FU).Em relação ao sintoma das RA-5FU observou-se que as do trato gastrointestinal (TGI) estiveram em proporção superior a 70% em todos os ciclos de quimioterapia, sendo que entre estes os mais freqüentes foram a náusea com 28,3%, hiporexia com 26,9% e a diarréia com 19,2%, fora do TGI destacaram-se a hiperpigmentação com 12,8% e a sonolência com 4,6%.Outras reações estiveram presentes em menos de 3% dos pacientes. Observa-se que a náusea foi a mais freqüente, apesar de 100% dos pacientes terem sido tratados com antieméticos durante a infusão do 5FU/LV, e posteriormente à quimioterapia em alguns casos. (ESPÍRITO SANTO e VANZELER, 2006). Em decorrência desses e outros efeitos adversos no tratamento quimioterápico percebe-se a importância de familiares/cuidadores junto ao paciente em todas as etapas do tratamento. Diante disso, para que a atmosfera de cuidado ocorra de forma verdadeira e acolhedora é preciso dar informações específicas de fácil compreensão e direcionadas ao controle dos efeitos colaterais no sentido de minimizar tais ocorrências. Considera-se necessário se dispor de instrumentos para desenvolver as potencialidades dos cuidadores para assumirem como sujeitos, as ações voltadas para o enfrentamento dos problemas decorrentes desse tratamento.Diante disso, decidiu-se realizar um estudo com o objetivo verificar a experiência do cuidador do paciente com câncer colorretal em tratamento quimioterápico e elaborar protocolo de ensino para esses cuidadores. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo qualitativo que será realizado no ambulatório de Especialidade de Coloproctologia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo), nos meses de junho e julho de 2008. Os pacientes com critérios de elegibilidade serão selecionados com os seguintes perfis de identificação: homens /mulheres com câncer colorretal em idade acima de 40 anos submetidos a tratamento quimioterápico em esquema terapêutico com o 5-Fluouracil (5-FU), entre o primeiro e o sexto ciclos do tratamento. Já as características definidoras dos familiares/cuidadores serão do sexo feminino em idade inferior a 40 anos, sendo sua profissão “do lar”. Para coleta de dados será aplicado entrevistas com perguntas semi-estruturadas, observações não estruturadas e levantamento do prontuário. As questões norteadoras serão feitas aos familiares/cuidadores de pacientes com câncer colorretal em tratamento quimioterápico ambulatorial. As pessoas convidadas a participar do estudo, assinarão o termo de consentimento livre e esclarecido, assegurando-lhes o respeito ao anonimato e à liberdade de recusa em participar da mesma, sendo que a quantidade se norteará pela exaustão de dados. Ao realizar as entrevistas será feito o uso de gravador em um tempo não cronometrado pelo relógio para buscar apreender o tempo existencial, como horizonte que possibilite o emergir de respostas às minhas inquietações. Serão inquiridas aos depoentes as seguintes questões: “Como tem sido a sua experiência de cuidar/ajudar do Sr.(a)___________ que faz quimioterapia?”, “Qual o significado da quimioterapia para você?”. É preciso estar atento não apenas (e não rigidamente, sobretudo) ao roteiro preestabelecido e às respostas verbais que vai obtendo ao longo da interação. Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). BIBLIOGRAFIA: _ BRASIL, Ministério da Saúde. Falando sobre o Câncer do Intestino. Programa Nacional de Prevenção do Câncer .Rio de Janeiro: INCA, 2003. _ BRASIL, Ministério da Saúde. Estimativas 2008: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro:INCA, 2007. _ BRUNNER, L. S & SUDDARTH, D.S. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 9ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. _ ESPIRITO SANTO,E.A.R. e VANZELER, M.L.A. Reações Adversas ao Tratamento com 5-Fluouracil em Pacientes. Cogitare Enfermagem, v.11, n.2 (2006). _ site do INCA _ LÜDKE, M. e ANDRÉ, M.D.A.Pesquisa em Educação:abordagens qualitativas. II título. III série. São Paulo: EPU, 1986.