CAPITAL SOCIAL, UM NOVO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DA AMÉRICA LATINA Social capital, a new instrument for local development: the Latin America case Francisco José Silva Tabosa1 Keuler Hissa Teixeira1 Ruben Dario Mayorga 2 RESUMO O objetivo primordial deste trabalho é mostrar, através de um estudo analítico, o capital social como um novo fator direcionado a promover um desenvolvimento local sustentável na América Latina. Para a teoria endogenista, a solução para as disparidades do desenvolvimento acelerado e equilibrado de algumas regiões em relação às outras, mesmo dispondo dos mesmos fatores produtivos (capital financeiro, mão de obra e tecnologia) está na utilização de novos fatores determinados na própria região e não de forma exógena. Entre esses, encontra-se o capital social, fator intangível por natureza, que valoriza a confiança, a cooperação e as relações sociais. Apesar da dificuldade de se medir, é possível afirmar que ele esteve presente nos sucessos de desenvolvimento, e ausente em muitos fracassos. O capital social, constituído de associações de caráter horizontal, não-hierárquicas e sem fortes barreiras à entrada, tem na confiança a sua principal característica, constituída de interações contínuas de indivíduos, onde além de estimular a organização coletiva para desenvolver-se, valorizando a sociedade e as relações sociais, proporciona uma melhor atuação do governo, facilitando as ações coordenadas para obter o desenvolvimento, com uma gestão macroeconômica mais previsível, com o surgimento de instituições mais eficazes e também pela forte integração social. Para tanto, devese construir ou fortalecer o capital social na região, na coordenação das ações coletivas e das decisões dos agentes, com a democratização da sociedade e construção de redes sociais, visando melhores condições de vida da população e criando a capacidade da sociedade liderar e conduzir o seu próprio desenvolvimento. Palavras-chaves: Capital social, desenvolvimento local, América Latina. ABSTRACT The primordial objective of this work is to show, through an analitic study, the social capital as a new factor addressed to promote a sustentable local development in Latin America. For the theory endogenist, the solution for the disparities of the accelerated and balanced development of some areas in relation to the other, same having the same productive factors (financial capital, work hand and technology) it is in the use of new certain factors in the own area and not of exogen form. Among those, find the social capital, intangible factor by nature, that values the trust, the cooperation and the social relationships. In spite of the difficulty of measuring, it is possible to affirm that he was present in the development successes, and be absent in many failures. The social capital, constituted of character associations horizontal, no-hierarchical and without strong barriers to the entrance, has in the trust your characteristic principal, constituted of individuals' continuous interactions, where besides stimulating the collective organization to grow, valuing the society and the social relationships, it provides a better performance of the government, facilitating the actions coordinated to obtain the development, with an administration more previsible macroeconomic, with the appearance of more effective institutions and also for the strong social integration. For so much, it should be built or to strengthen the social capital in the area, in the coordination of the collective actions and of the agents' decisions, with the democratization of the society and construction of social nets, seeking better conditions of life of the population and creating the capacity of the society to lead and to lead your own development. Keywords: Social Capital, local development, Latin America. 1 2 Universidade Federal do Ceará. Professor, Universidade Federal do Ceará. 1. INTRODUÇÃO A partir da década de 90, estudos sobre o desenvolvimento econômico apontavam que várias regiões vinham atingindo um desenvolvimento acelerado e equilibrado, em relação a outras, mesmo dispondo das mesmas condições na busca de fatores produtivos (capital financeiro, mão-de-obra e tecnologia). Para a Teoria do Desenvolvimento Econômico Endógeno, a resposta está na utilização de novos fatores, determinados na própria região e não de forma exógena. Dentre esses, surge o capital social, que passa a valorizar as relações sociais, a confiança, a cooperação, promovendo o desenvolvimento econômico ou bem-estar. Robert Putnam, em sua obra “Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna” de 1996, conceitua e inclui o capital social como um fator determinante para o desenvolvimento econômico, sendo necessário uma maior participação, organização e cooperação horizontal entre os atores sociais, com objetivo de fortalecer o tecido social. Outros pesquisadores defendem com mesma ênfase a importância da sociedade e das relações sociais no desenvolvimento local. Entre esses, Godard comenta: “Uma das chaves do desenvolvimento local reside na cooperação entre seus atores”(GODARD et. al. apud SOUZA FILHO, 2000, p.3). Já Boisier (1997) analisa que a sociedade, compreendida de solidariedade, cooperação e integração social, pode ser considerada como o principal agente de transformação socioeconômica de uma região. O capital social, fator intangível por natureza, possui diversas definições. Putnam (1996, p.177) define como “(...) características de organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas”. Para o referido autor, o capital social facilita a cooperação espontânea, através da confiança mútua que promove uma maior integração das relações sociais, sendo que a confiança social provém de duas formas interligadas: regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. Vale ressaltar que o acúmulo de capital social no Mercado Comum Europeu foi um dos fatores determinantes para o seu desenvolvimento, com uma sociedade civil organizada e governos fortes, mesmo sendo países de cultura e hábitos tão distintos. Todavia, o Mercosul não conseguiu desenvolver. Dentre outros motivos, está o pequeno estoque de capital social, que ocasionou numa sociedade atrasada, com baixo nível de confiança, e alto grau de criminalidade, corrupção e exploração. O presente trabalho tem como objetivo primordial mostrar, através de um estudo analítico, o capital social como um novo fator direcionado a promover um desenvolvimento local sustentável na América Latina, de uma melhor forma de organização social em relação às outras. Na próxima seção, abordaremos algumas definições de capital social. Em seguida, na seção 2, analisaremos a importância do capital social para o desenvolvimento local. Na seção 3, exemplificaremos casos no qual o capital social esteve presente nos sucessos de desenvolvimento local. A conclusão encerra o trabalho. 2. CAPITAL SOCIAL: DEFINIÇÕES Existem várias definições de capital social. Mostraremos algumas delas atribuídas a sociólogos, cientistas políticos e economistas. James Colemam, segundo Monastério (2000, p.2) “o principal responsável pela introdução do capital social nas agendas de pesquisa”, em sua obra “Foundations of Social Theory” de 1990, define capital social incluindo todas as maneiras em que as relações sociais possam contribuir para a produção, até mesmo organizações verticais, desde que resolvam os dilemas de ação coletiva (intencionalmente ou não). Para o referido autor, o capital social aumenta a medida que se utiliza e diminui pelo desuso, ao contrário de outras formas de capital, sendo assim mais importante, duradouro e produtivo. Putnam (1996), apesar da sua definição de capital social ser bastante ampla, em seus estudos o autor somente tem em mente as associações de caráter horizontal, nãohierárquicas e sem fortes barreiras a entrada, “congregando agentes que têm o mesmo status e o mesmo poder” 3; possuindo como características um espírito de cooperação e solidariedade, a confiança, normas e sistemas que contribuem para aumentar a eficácia da sociedade e “(...)o fato de que ele normalmente constitui um bem público, ao contrário do capital convencional, que normalmente é um bem privado” 4. Segundo Putnam (1996, p.192), “Para a estabilidade política, para a boa governança e mesmo para o desenvolvimento econômico, o capital social pode ser mais importante até do que o capital físico ou humano” já que “O equilíbrio social caracterizado pelo “desertar sempre” pode vir a ser o futuro de boa parte do mundo onde o capital humano é escasso ou inexistente” (Idem). Conforme Putnam (1996, p.174), só existe capital social com a existência de confiança mútua entre os indivíduos. “Para haver cooperação é preciso não só confiar no 3 4 Ver Putnam (1996), p. 182. Idem, p. 180. outro, mas também acreditar que goza de confiança”. Sendo assim, o referido autor vê na confiança a resolução dos dilemas da ação coletiva, no qual os indivíduos, mesmo interessados em agir cooperativamente, não conseguem gerar resultados coletivamente eficientes. Para Monastério (1999), o capital social é definido pela sua própria função. Segundo o referido autor “Ele está presente sempre que houver uma característica de organização social que, intencionalmente ou não, potencializa o trabalho humano, coordenando as atividades dos agentes com resultados positivos” 5. Monastério comenta que o capital social não se deprecia com o tempo, pois sua utilização freqüente contribui para o seu fortalecimento. Já a sua degeneração se dá pela falta de uso. “Outra característica marcante do capital social está na sua intangibilidade e fluidez” 6. Abramovay (2000) afirma que “(...) o Capital Social corresponde a recursos cujo abre caminho para o estabelecimento de novas relações entre habitantes de uma determinada região”7 ; aparecendo como uma solução dos dilemas de ação coletiva. Jara (1999) comenta que o capital social pode ser “um recurso individual que projeta visões de solidariedade” 8 , já que uma pessoa pode ter sentimentos de confiança e solidariedade e compartilha e se envolve na comunidade. Segundo o autor, o capital social deve ser alimentado ou construído através da democratização da sociedade e construção de redes sociais e alianças, pois promovem a interação entre as pessoas e as instituições. Kliksberg (1999) focaliza os componentes do capital social: “Las personas, las familias, los grupos, son capital social y cultura por esencia. Son portadores de actitudes de cooperación, valores, tradiciones, visiones de la realidad, que son su identidad misma” 9. Conforme o autor, a cultura constitui numa parte relevante do capital social, portadora de múltiplas possibilidades de construção nas ações de desenvolvimento. Amaral Filho (2000b), em seus estudos sobre a presença do capital social no Estado do Ceará, o define como: “(...) o acúmulo de compromissos sociais construídos pelas interações sociais em uma determinada localidade” 10 , onde “o principal aspecto do capítal social é a confiança, construída socialmente através das interações contínuas entre os indivíduos” 11 . 5 Ver Monastério (1999), p. 2. 6 Idem. Ver Abramovay (2000), p. 2. 7 8 Ver Jara (1999), p. 19. Ver Kliksberg (1999), p.8. 10 Ver Amaral Filho (2000b), p. 1. 11 Idem. 9 3. A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Atualmente, a grande indagação que se faz hoje nos estudos de desenvolvimento econômico é por que algumas regiões crescem e outras não? Mesmo que elas disponham das mesmas condições na busca de fatores produtivos, como capital financeiro, tecnologia e mão - de - obra. O problema deste questionamento se dá no fato da sociedade não dar a devida atenção ao processo da tomada de consciência da organização coletiva que pode abrir o caminho para uma nova relação social entre as comunidades. A transição para uma sociedade sustentável requer uma mudança interna nas pessoas. A resposta para indagação do estudo do desenvolvimento econômico, sobre as disparidades de crescimento de determinadas regiões, pode ser respondida através do consenso em torno da idéia de que é insuficiente considerar apenas os aspectos materiais, tangíveis, da vida econômica, leva, agora, em consideração aos aspectos das sociedades e de suas relações sociais. Novos fatores de produção, determinados na própria região, não de forma exógena e de caráter decisivo, como o capital social, capital humano, pesquisa e desenvolvimento, informação e instituições passam a ser vistos de forma diferente, onde a região que consegue reunir esses fatores possui melhores condições de atingir o desenvolvimento acelerado e equilibrado. Barquero comenta que a sociedade local têm um papel relevante no desenvolvimento equilibrado e sustentado de uma região no longo prazo, através dos seus processos de organização e relação social: “...a forte identidade da cultura local tende a assimilar as novas realidades produtivas e os novos esquemas de relações sociais, e os novos valores encontram um eco favorável nas zonas de desenvolvimento local. Desta feita, tendem a integrar-se com um mínimo de custos sociais e culturais, já que são respostas visíveis aos problemas locais” (BARQUERO apud SOUZA FILHO, 2000, p. 2) Kliksberg (1999) comenta que uma onda de investigações nos últimos anos têm indicado que o capital social fortalece o tecido social, proporcionando o desenvolvimento local. Segundo Monastério (2000), sociólogos, cientistas políticos e, logo depois, os economistas passaram a valorizar o capital social e sua influência positiva no desempenho econômico das regiões, através de uma sociedade civil ativa e organizada, que consegue superar problemas e “(...) potencializa as intervenções públicas em favor do desenvolvimento” 12 Para Amaral Filho (2000b), apesar da dificuldade de se medir, é possível afirmar que o capital social esteve por trás dos sucessos de desenvolvimento de muitas regiões, e a sua ausência esteve por trás de muitos fracassos. O capital social constituído por instituições horizontais, de participação cívica e regras de reciprocidade generalizada criaram um ambiente favorável para o surgimento de instituições públicas mais eficazes. A atuação do governo é beneficiada pela infra– estrutura social e pelos valores democráticos, tanto por parte das autoridades, quanto dos cidadãos dessa comunidade. Esta atmosfera favorável proporciona uma gestão macroeconômica mais previsível, facilitando ações coordenadas para obter um desenvolvimento econômico. Jara (1999) ressalta a importância da construção de redes sociais, já que promovem a interação entre as pessoas e instituições. O investimento em capital social incentiva essa construção. “As redes representam uma estratégia de luta e cooperação dos grupos sociais que conformam a sociedade fragmentada para transformá-la” 13. O referido autor comenta que “os relacionamentos de confiança, reciprocidade e cooperação facilitam a construção de processos de mudança social e desenvolvimento..., enriquecendo o tecido social” 14. A confiança é a essência do capital social. Sem ela, torna-se impossível uma sustentabilidade. Caso ocorra a quebra dos laços de solidariedade, haverá a desconfiança. Amaral Filho (2000b) afirma que a confiança resulta da cooperação e eficiência coletiva, mas não extingue a competição entre os indivíduos e grupos sociais. Para Putnam (1996) a confiança social provém de duas formas interligadas: regras de reciprocidade (forma na qual um indivíduo tem de controlar a ação de outro indivíduo, que consegue fortalecer a confiança social, facilitando a cooperação) e sistemas de participação cívica (associações comunitárias, cooperativas, clubes desportivos, associações de assistência mútua e sociedades orfeônicas, já que representam forte integração social). Souza Filho (2000b) analisa o papel relevante do capital social para o desenvolvimento local (de caráter endógeno), enfatizando: A capacidade da sociedade liderar e conduzir o seu próprio desenvolvimento regional, condicionando-o à mobilização dos fatores produtivos disponíveis em sua área e ao seu potencial 12 13 14 Ver Monastério (1999), p. 1. Ver Jara (1999), p. 7. Idem, p. 17. endógeno, (...) na execução de políticas de fortalecimento e qualificação das estruturas internas visando sempre a consolidação de um desenvolvimento originalmente local” 15. O autor ressalta que a participação popular pode se constituir em um importante gerador de capital social, mas é preciso que a gestão de seu processo esteja voltada para esta finalidade e que sua prática seja comum e permanente16. O capital social, sozinho, não consegue promover o desenvolvimento econômico. No entanto, conforme Souza Filho (2000a), ele é a base para as regiões enfrentarem e se adaptarem aos desafios e oportunidades presentes e futuras. Deve-se manter e ampliar o seu estoque nas localidades, fortalecendo e estimulando a autoorganização local. Vale ressaltar que se faz necessário formar comunidades voltadas à colaboração e a participação, que possua indivíduos que valorizam a importância do trabalho em conjunto, abertos à mudança e preparados para criarem e inovarem. Bandeira (1999) diz que qualquer política de atuação governamental e gestão de políticas públicas são imprescindíveis para a ampliação do capital social em uma determinada região17. O acúmulo de capital social nos países europeus, mesmo sendo países de cultura e hábitos tão distintos, foi um dos fatores determinantes para o desenvolvimento da região, com uma sociedade civil organizada e governos fortes. A prova é o sucesso do Mercado Comum Europeu, que conseguiu obter níveis positivos de crescimento econômico. Ao contrário da Europa, a América Latina não conseguiu desenvolver, onde “os Estados Latino-americanos se encontram mais e mais impotentes” (Jara,1999,p.8) e políticas sociais que não apontam a construir sustentabilidade, sem moderar as desigualdades. O pequeno estoque de capital social na região, ocasionando numa sociedade desorganizada e atrasada, com o aumento das distâncias entre os mais ricos e mais pobres da população, baixo nível de confiança, e alto grau de criminalidade, corrupção e exploração foi um dos motivos do fracasso do Mercosul. No entanto, existem casos da presença do capital social no desenvolvimento de algumas regiões da América Latina (veja as seções 3.2. e 3.3.), sendo possível fortalecer ou construir o capital social na região. 15 Ver Souza Filho (2000b), ps. 2 e 3. Idem. 17 Souza Filho (2000b) possui o mesmo posicionamento de Bandeira (1999), em relação a atuação de políticas governamentais. 16 4. EXEMPLOS DA PRESENÇA DO CAPITAL SOCIAL NO DESENVOLVIMENTO LOCAL 4.1 Itália Putnam (1996) analisou duas regiões italianas: Emili-romagna, ao norte, e Calábria, ao sul. Ambas as regiões, na década de 1900, possuíam aspectos de desenvolvimento muito parecidos. Já na década de 1970, Putnam detectou uma desigualdade acentuada entre essas regiões. A região de Emili-romagna, de grande participação política e solidariedade social conseguiu-se desenvolver, enquanto que a região da Calábria, notava-se ainda a presença de características feudais, fragmentada e isolada. Como resposta à essa disparidade entre ambas regiões, Putnam (1996) concluiu que as tradições cívicas e organização social foram fatores preponderantes no desenvolvimento econômico e institucional da região de Emili-romagna, que conseguiu industrializar-se, com melhoras na qualidade de vida da população, tornando-se uma das regiões mais prósperas da Europa. Essa região era detentora de um grande número de sistemas de participações horizontais, com uma sociedade civil bastante organizada e governos fortes, democráticos, transparentes e organizados. Ao contrário da região de Emili-romagna, a região da Calábria não se desenvolveu. A presença de organizações verticais, o elevado grau de corrupção, “a desconfiança mútua e a transgressão, a dependência vertical e a exploração,...Havia pouca participação em associações cívicas. A ilegalidade era previsível.” 18, ocasionando a desordem, a criminalidade, o atraso e comunidades impotentes e exploradas. 4.2 Porto Alegre Kliksberg (1999) e Bandeira (1999) analisaram a presença do capital social na cidade de Porto Alegre-RS, que conseguiu melhorar a qualidade de vida de sua população. Em 1989, a cidade de Porto Alegre possuía diversos problemas sociais, e grande parte de sua população tinha o acesso limitado aos serviços básicos. A prefeitura local elaborou um sistema que possibilitava a participação popular. A cidade fora dividida em 16 regiões, sendo discutidas suas prioridades. Ao mesmo tempo, foram realizadas diversas reuniões, onde se debatiam publicamente problemas e soluções para o desenvolvimento local, com melhorias na saúde, educação e cultura. 18 Ver Putnam (1996), p. 191. Como resultado, entre os anos de 1990 a 1996, o abastecimento de água atingiu 98% da população. O programa de legitimação de propriedade da terra a setores pobres e assentamentos beneficiou, no mesmo período, 13% da população. O número de matrículas nas escolas primárias e secundárias cresceu 159% entre 1989 e 1997, onde foi criado o programa de alfabetização de adultos. Vale ressaltar que “(...) la participación colectiva en el monitorio de los procesos de ejecución, posibilitaron resultados de esta magnitud” 19. O capital social esteve presente na sociedade de Porto Alegre, através das associações de comunidade, com mobilização ativa, na luta contra a descentralização do poder, na elevação da capacidade de cooperação, “se creó um clima de confianza entre los actores, se generaron estímulos significativos para um comportamiento cívico constructivo” 20. 4.3 Estado do Ceará21 Amaral Filho (2000b) realizou estudos sobre a suposta presença do capital social no desenvolvimento local no Estado do Ceará, a partir de 1987, “na coordenação das decisões dos agentes, no monitoramento das ações públicas e na sustentabilidade desse crescimento” 22 , nas reformas estruturais ocorridas no Governo Estadual, que resultou no crescimento econômico com taxa acumulada de variação do seu PIB de 56,25% contra 41,1% do Nordeste e 36,2% do PIB nacional, entre os anos de 1985 e 1998. O capital social esteve inicialmente presente no CIC (Centro Industrial do Ceará), logo depois, ele se estendeu na AJE (Associação de Jovens Empresários), no Pacto de Cooperação (fundado em 1991, é a principal iniciativa que mantém um relacionamento estreito de cooperação entre o setor privado, governo e sociedade civil), no Projeto Áridas e no PLANEFOR (Plano Estratégico da Região Metropolitana de Fortaleza), passando a promover debates e “a acumulação e o desenvolvimento desse capital social, em redes, contribuíram para os ajustes e a estabilização do regime de crescimento do Estado do Ceará na sua história recente” 23 A parceria entre essas entidades, juntamente com outras associações, universidades, governos estadual e municipais proporcionaram, entre outras, uma política de recursos hídricos (“Governos das Mudanças: 1995-2000”), uma reforma fiscal (sendo 19 Ver Kliksberg (1999), p. 21. Idem, p. 22. 21 Em trabalho anterior, entitulado: “ A Importância do Capital Social para o Desenvolvimento Local: o caso do Estado do Ceará, pós 1987. VIII Encontro de Iniciação à Pesquisa, resumos. Fortaleza: UNIFOR, 2002” analisamos o capital social no Estado do Ceará. Mostraremos alguns resultados. 22 Ver Amaral Filho (2000b), p. 21. 20 o Estado do Ceará o pioneiro no ajuste fiscal) , financeira (conseguindo uma autonomia financeira no contexto nacional e internacional, gerando condições de realizar investimentos em infra-estrutura e atraindo parcerias com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID), e administrativa a partir de 1987. Como resultado de desenvolvimento, nota-se, segundo Maia (2000), uma política de cadeias produtivas (clusters) e uma descentralização das políticas sociais, através do fortalecimento dos municípios e comunidades, obtendo melhores resultados de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), passando de 0,477 em 1980 para 0,590 em 1996, com crescimento relativo de 23,7%, superando o mesmo período, a nível nacional, que obteve 13,1%. 5. CONCLUSÃO A resposta para indagação do estudo do desenvolvimento econômico pode ser respondida através do consenso em torno da idéia de que é insuficiente considerar os aspectos naturais, tangíveis, da vida econômica, leva–se, agora, em consideração aos aspectos das sociedades e de suas relações sociais traduzidas pelo capital social. Podemos dizer que, o capital social é importante para o desenvolvimento local, pois contribui para um novo regime de desenvolvimento econômico à medida que coordena as decisões dos agentes e o monitoramento das ações públicas, sustentando dessa forma de desenvolvimento. No Brasil, assim como em toda a América Latina, deve-se enfatizar hoje a importância de desenvolver na cultura de seu povo o espírito de coletividade e solidariedade para alcançar o desenvolvimento, valorizando a sociedade, construindo ou fortalecendo o capital social, objetivando melhorias nas condições de vida das populações, empenhando as relações sociais no território. 23 Idem. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R. 2000. O Capital Social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia Aplicada - Vol. 4, n 2: 379-397, abril/junho. _____________. 1998. A formação do Capital Social para o desenvolvimento local sustentável. 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