UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Jefferson Dias Caldas PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DE GRÃOS FEIJÃO, SOJA E MILHO GUARAPUAVA-Pr 2009 Perdas Na Colheita Mecanizada De Grãos Feijão, Soja e Milho GUARAPUAVA – Pr 2009 3 Jefferson Dias Caldas Perdas Na Colheita Mecanizada De Grãos Feijão, Soja e Milho Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso ao de Gestão Agrária e Desenvolvimento Regional da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista. Orientador: Professora Suellen Córdova GUARAPUAVA-Pr 2009 4 SUMARIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7 2.PRIMEIRAS COLHEDEIRAS.................................................................................. 9 3. AVALIAÇÃO DE ESPAÇAMENTOS E POPULAÇÕES DE PLANTAS DE FEIJÃO VISANDO À COLHEITA MECANIZADA DIRETA .............................. 10 3.1. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 13 3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 14 4. PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DA SOJA NA REGIÃO DO ALTO PARANAÍBA ................................................................................................................ 16 4.1. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 18 4.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 20 5. PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DE MILHO NO ALTO PARANAIBA ........................................................................................................................................ 22 5.1. MILHO BRANCO ................................................................................................ 24 5.2. MILHO TRANSGÊNICO..................................................................................... 25 5.3.CARACTERÍSTICAS DA PLANTA....................................................................... 27 5.4.CULTIVO DE MILHO NO BRASIL ..................................................................... 27 6. CONCLUSÃO........................................................................................................... 38 7. LITERATURA CITADA......................................................................................... 39 5 Resumo O presente trabalho teve por objetivo avaliar as perdas ocasionadas na colheita mecanizada da cultura do feijão, soja e milho em lavouras do Alto Paranaíba – MG, na safra 2008/2009, pelos métodos da Embrapa e da Pesagem, em função da velocidade de trabalho e da idade das colhedoras. Na metodologia da Embrapa, os grãos perdidos após a passagem da colhedora foram coletados em área conhecida e quantificados via copo medidor padronizado. Na metodologia da Pesagem, os grãos foram pesados e a sua umidade corrigida para 12%. Os resultados permitiram concluir que, em 6 das 14 propriedades analisadas, a metodologia do copo medidor da Embrapa diferiu estatisticamente da metodologia da Pesagem quanto ao valor da massa de grãos perdidos. Não houve uma correlação da idade da colhedora e da velocidade de avanço com a perda de grãos, indicando que essas não foram as causas principais das perdas.. 6 A colheita Mecanizada nas Propriedades Rurais Jefferson Dias Caldas Introdução A modernização da colheita mecanizada de grãos teve inicio na década de 70 com a fabricação nacional de máquinas de médio porte e leves. A mecanização dos processos, além da racionalização e controle da evolução de custos é de grande importância para o aumento da produtividade e humanização do trabalho, afastando o trabalhador rural da exposição às condições climáticas, vários tipos de topografias e vegetações diferenciadas, ainda dos riscos de picadas de animais peçonhentos. Após dez anos da edição das publicações relacionadas ao processo de modernização da agricultura brasileira, cabe ponderar, a partir das notificações veiculadas na literatura dos países de capitalismo avançado relacionada com a transformação da agricultura, que àquela época já se dispunha na prática de pelo menos mais uma modalidade de prosseguimento da difusão das inovações mecânicas na produção agrícola. Tal alternativa se substancia no deslocamento parcial ou total do exercício da função de reproduzir o capital adiantado em maquinários para fora do âmbito da unidade de produção agrícola, pelo que tem sido referenciada como um processo de desativação de tarefas e funções, as quais previamente integravam a composição organizacional da unidade de produção agrícola, e que gradativamente passam a ser exercidas por agências externas. Perante a isso, essa opção tem sido apontada como uma alternativa capaz de assegurar a permanência dos estabelecimentos rurais de pequena escala de produção num padrão de organização da produção 7 agrícola demarcado pelo amplo uso das inovações mecânicas. Assim, tais constatações necessitam de uma reconsideração, ao menos parcial, ou ainda, sugere a readequação do atual padrão agrícola pela qual, segundo PUGLIESE (1986)09, "a unidade de produção agrícola se converte na sede física de uma série de atividades que podem ser realizadas: a) com máquinas, equipamentos e outros meios de produção que não pertencem ao estabelecimento... b) com mão-de-obra empregada e paga por agências externas ao estabelecimento... c) a partir de decisões (de tipo de cultivo, características dos tratos culturais) não tomadas pelo estabelecimento rural, senão impostas por indústrias, cooperativas ou empresas comerciais... “ Em outros termos, o postulado é de que a forma futura, ou mais acabada, de suprimento das necessidades de força produtiva veiculada pelos novos instrumentos de trabalho agrícola é de compra/venda de partes da vida útil dos maquinários agrícolas, através da qual o empreendedor da produção agrícola suprirá suas necessidades temporárias de capacidade operacional relacionada com a execução dos trabalhos agrários diretos. De forma que o movimento em curso se caracteriza também pela conformação de um novo mercado, assim como pela nova condição de uso dos instrumentos de trabalho mecanizados, a de uso supra-empresarial ou supra-unidades agrícolas. 8 2. Primeiras Colhedeiras A colheitadeira, também conhecida como ceifeira-debulhadora (nome utilizado em Portugal), colhedeira (sudeste do Brasil), colhedora ou ceifadeira é um equipamento agrícola destinado à colheita de lavouras, tais como de cana-de-açucar, algodão ou grãos (trigo, arroz, café, soja, milho etc). A ceifeira mecânica foi inventada por Obed Hussey (1792 — 1860), inventor e fabricante de equipamentos mecânicos de uso agrícola estadunidense nascido no Maine. Hussey ficou famoso ao inventar o que foi a primeira máquina colheitadeira primária de sucesso, que funcionava à tração animal. A invenção atingiu grande êxito comercial depois de ser patenteada em 1833, nos estados de Illinois, Maryland, Nova Iorque e Pensilvânia. A partir de 1831, outro industrial norte-americano Cyrus Hall McCormick, nascido a 15 de Fevereiro de 1809 e falecido a 13 de Maio de 1884, iniciou a construção de sua primeira ceifeira mecânica. Em 1947,Chicago, fundouse a empresa McCormick’s Reaper Works que passou produzir ceifeiras em série, permidindo difundir a máquina nos Estados Unidos e, depois, na Europa, onde foi premiada nas Exposições Internacionais de Londres (1851) e Paris (1855). As primeiras máquinas destinadas a este tipo de serviço eram chamadas ceifeiras mecânicas e foram primeiro desenvolvidas para a colheita de milho e trigo. A primeira máquina motorizada do gênero, foi inventada por Obed Hussey (1792 — 1860), um inventor e fabricante de equipamentos mecânicos de uso agrícola estadunidense nascido no Maine. Hussey ficou famoso ao inventar o ceifeiro, a primeira máquina colheitadeira primária de sucesso, e que funcionava à tração animal, e que atingiu grande êxito comercial depois de ser patenteada em 1833, nos estados de Illinois, Maryland, Nova Iorque e Pensilvânia. 9 A modernização das lavouras, com grandes plantios comerciais em grandes áreas e com a escassez de mão-de-obra no meio rural estados-unidense, contribuíram para que a colheita feita manualmente fosse substituída por máquinas de tração animal que logo passaram a ser motorizadas por motores a vapor e posteriormente por motores de combustão interna. Além disso, com o uso de colheitadeira houve melhoria na qualidade do produto colhido, a colheita é feita com maior rapidez, eficácia e menor teor de impurezas. Com o passar do tempo foram invetadas máquinas destinadas a uma gama cada vez maior de gêneros agrícolas, como por exemplo a Máquina colhedora de café, inventada no Brasil em 1979 por um imigrante japonês, Shunji Nishimura, em Pompéia, SP. 3. AVALIAÇÃO DE ESPAÇAMENTOS E POPULAÇÕES DE PLANTAS DE FEIJÃO VISANDO À COLHEITA MECANIZADA DIRETA Feijão é um nome comum para uma grande variedade de sementes de plantas de alguns gêneros da família Fabaceae (anteriormente, Leguminosae). O seu cultivo é bastante antigo. Há referências a ele na Grécia antiga e no Império romano, onde feijões eram utilizados para votar (um feijão branco significava sim, e um feijão preto significava não). O prato "feijão com arroz" (ou "arroz-e-feijão") é um dos mais típicos dos lares brasileiros, acompanhado com alguma "mistura" (nome comum no estado de São Paulo para qualquer coisa que se coma com arroz-e-feijão, como, por exemplo, bife ou batata-frita). O feijão também é a base de um dos principais pratos da culinária típica brasileira, a feijoada tal como em Portugal onde o feijão comum (Phaseolus vulgaris) é a base de várias sopas e da feijoada, misturado com arroz ou como elemento de acompanhamento obrigatório das tripas à moda do Porto e ainda em alguma doçaria (por 10 exemplo o pastel de feijão). As vagens verdes (feijão verde) podem acompanhar, cozidas, qualquer prato de peixe cozido, e, cortadas às tiras, em sopa (sopa de feijão carrapato). No caso do feijão frade, é frequentemente servido com cebola e salsa picadas, a acompanhar atum. Três espécies de feijão são muito cultivadas no Brasil: • Phaseolus vulgaris, o feijão comum, cultivado em todo o território; • Vigna unguiculata, vulgarmente chamado de feijão de corda, feijão macassa, caupi e outros, predominante na região Nordeste e na Amazônia e • Cajanus cajan, feijão-guandu ou andu, comum no nordeste, principalmente em sua variedade arbórea. O consumo em quantidades de média a alta de feijão está sendo associado a diminuição no desenvolvimento de doenças como o diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e até mesmo neoplasias. Acredita-se que esse efeito benéfico do consumo do feijão é devido à presença de metabólitos secundários nessa leguminosa, os fitoquímicos, sendo os que presentes em maiores concentrações os compostos fenólicos e os flavonóides. O maior problema para o cultivo do feijão, em lavouras empresariais, reside na dificuldade de mecanização da colheita, devido às elevadas perdas que ocorrem no processo. Isso acontece porque a maioria das cultivares de feijão existentes atualmente possuem baixa altura de inserção de vagens, concentradas nos 2/3 inferiores da planta, e também altos índices de acamamento (Silva & Bevitori, 1994). Isso impede a utilização de colheitadeiras tradicionais em face das elevadas perdas com a operação de colheita (Alcântara et al., 1991). Apesar disso, na atualidade, número significativo de produtores rurais demonstram grande interesse na implantação da cultura do feijão e no uso de novas tecnologias que viabilizem a produção em termos empresariais. A planta ideal de feijão para colheita mecanizada, conforme Simone et al. (1992), é a que tem a altura superior a 50 cm; de porte ereto do tipo I ou II; resistência ao acamamento; ramificação compacta, com três ou quatro ramificações primárias, cujo ângulo de inserção seja agudo, positivo; vagens concentradas sobre o ramo 11 principal e sobre os 2/3 superiores da planta; vagens indeiscentes com não mais de 6 a 8 cm de comprimento; maturação uniforme e boa desfolha natural por ocasião da colheita. A pesquisa tem obtido alguns sucessos quanto à mecanização da colheita do feijoeiro, mediante a adaptação dos equipamentos e do melhoramento genético do feijoeiro. Outra alternativa seria provocar modificações na arquitetura da planta por meio de práticas de manejo da cultura. Na cultura da soja, que apresenta similaridades com o feijão quanto à arquitetura, manejo de cultivo e hábitos de crescimento, já está bem definido que altura de planta, altura de inserção das primeiras vagens e índice de acamamento, normalmente aumentam com o aumento na população de plantas (Costa Val et al., 1971; Queiroz, 1975; Espínola, 1978). Pouca atenção tem sido dada à cultura do feijão quanto ao efeito de práticas de manejo sobre as características agronômicas relacionadas à colheita mecanizada. Alcântara et al. (1991) observaram que o aumento da população de plantas aumentou a altura de inserção de vagens, enquanto Medina (1992) não observou efeito da população sobre a altura de inserção da primeira vagem. Dutra et al. (1977) verificaram que o aumento do espaçamento reduziu a altura de inserção da primeira vagem e aumentou a altura das plantas. Cunha & Oliveira (1978) constataram que a variação na população de plantas não afetou a altura das plantas. Já Moura et al. (1977) verificaram que o espaçamento não afetou a altura das plantas. A cultura do feijão mostra-se tolerante a uma grande variação na população de plantas/ha sem sofrer alterações no rendimento de grãos. Dariva et al. (1975) não encontraram efeito de variação no espaçamento sobre o rendimento de grãos, enquanto Santa Cecília et al. (1974) e Rocha (1991) constataram que a redução do espaçamento aumentou o rendimento. O presente estudo objetivou avaliar o efeito do espaçamento entre linhas e da população de plantas sobre as características agronômicas relacionadas com a mecanização da colheita. 12 3.1. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em área experimental da Fazenda Alto Paraíso, Município de Ibiá, MG. Usou-se a cultivar Pérola, que apresenta hábito de crescimento indeterminado, Tipo II (Centro Internacional de Agricultura Tropical, 1981), em todas as combinações de três espaçamentos entre linhas (25, 50 e 75 cm) com quatro populações de plantas/ha (100, 200, 350 e 500 mil). O delineamento experimental foi um fatorial 3x4 distribuído em blocos, com quatro repetições. As parcelas foram compostas por 11, 6 e 5 linhas de 4 m de comprimento para os espaçamentos 25, 50 e 75 cm entre linhas, proporcionando áreas úteis de 5,25, 6,0 e 6,75 m2, respectivamente. A semeadura foi realizada no dia 24/01/2009, e as sementes foram distribuídas eqüidistante mente na linha de semeadura, de forma manual, nas proporções adequadas para a obtenção das populações desejadas. Os tratos culturais empregados na condução do experimento foram os normalmente recomendados para a cultura. Por ocasião da maturação das plantas foi determinado, no campo, o índice de acamamento, utilizando-se uma escala visual de 1 a 9, em que: 1 - significava todas as plantas eretas; 2 - poucas plantas caídas ou todas as plantas levemente inclinadas; 3 - 25% das plantas caídas ou todas as plantas inclinadas em torno de 25 graus; 5 - 50% das plantas caídas ou todas as plantas inclinadas 45 graus; 7 - 75% das plantas caídas, ou todas inclinadas em torno de 65 graus; 8 - poucas plantas não caídas ou todas as plantas quase tocando o solo; 9 - todas as plantas caídas (Antunes & Silveira, 1993). Também, nesse momento, foram determinados, em 20 plantas colhidas ao acaso em cada parcela, a porcentagem de plantas com vagens encostando no solo, e com o auxílio de uma régua graduada determinou-se a distância da ponta da vagem mais baixa até o solo (cm), a altura da planta (cm) e a altura de inserção da primeira vagem (cm). Nestas últimas determinações, usaram-se 10 plantas colhidas ao acaso na área útil de cada parcela. O rendimento de grãos foi padronizado para 13% de umidade e convertido em kg/ha. 13 3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em nenhuma característica avaliada ocorreu interação significativa entre os fatores espaçamento entre linhas e população de plantas, a não ser no índice de acamamento (P<0,05). Houve uma tendência de redução no acamamento das plantas nos espaçamentos testados, fato mais visível no espaçamento de 75 cm. No espaçamento de 50 cm não houve efeito da variação na população de plantas. No espaçamento de 25 cm, porém, observa-se que o índice de acamamento foi mais alto na população de 100 mil plantas/ha, não diferindo entre os outros níveis de população. Nas populações mais baixas observam-se diferenças nos índices de acamamento entre os espaçamentos, porém não ocorreu nas populações mais altas, e ocorreu maior acamamento na combinação do maior espaçamento com a menor população de plantas. Quanto à altura das plantas, a análise de variância mostrou diferenças significativas apenas do efeito do espaçamento entre linhas. Observa-se, que ocorreu aumento linear da altura das plantas com o aumento do espaçamento, fato também observado por Dutra et al. (1977). Já Moura et al. (1977) constataram que o espaçamento não afeta a altura de feijoeiros, enquanto Cunha & Oliveira (1978) não encontraram efeito de população. Em relação à porcentagem de plantas que encostam as vagens no solo, a análise da variância mostrou efeito significativo do espaçamento entre linhas e da população de plantas. O efeito do espaçamento foi linear, e cresceu com o efeito do espaçamento. O aumento de 25 para 50 cm entre linhas provocou um acréscimo de 3,5%, ao passo que, quando passou para 75 cm entre linhas, o aumento foi de 28,4% O aumento da população de plantas provocou uma redução linear na porcentagem de plantas com vagens encostando-se ao solo. Quanto à altura da inserção da primeira vagem, a análise de variância mostrou significância estatística quanto aos fatores espaçamento e 14 população. O aumento do espaçamento entre linhas aumentou linearmente a altura da inserção da primeira vagem. Dutra et al. (1977) constataram o contrário. Para a população de plantas não se observa um efeito consistente sobre a altura da inserção da primeira vagem, apenas uma pequena tendência de acréscimo. Também Moura et al. (1977) e Medina (1992) não encontraram efeito da variação na população de plantas sobre a altura da inserção das vagens. No entanto, outros trabalhos têm demonstrado tendência de acréscimo na altura da inserção das vagens, com o aumento na população de plantas (Alcântara et al., 1991). Quanto à altura da ponta da vagem mais baixa até o solo, verifica-se, pela análise da variância, que houve efeito significativo apenas do espaçamento. O aumento do espaçamento entre linhas provocou redução linear nesta variável, e o efeito foi mais acentuado nos espaçamentos mais largos. O rendimento de grãos foi afetado significativamente apenas pelo espaçamento. Observa-se, que o aumento no espaçamento provocou aumento linear no rendimento de grãos, passando de 1.197 kg/ha para 2.112 kg/ha. Outros autores, porém, como Dariva et al. (1975), não encontraram efeito da variação no espaçamento entre linhas sobre o rendimento de grãos. Também Santa Cecília et al. (1974) e Rocha (1991) constataram reduções nos rendimentos de grãos com o aumento do espaçamento entre linhas. 15 4. PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DA SOJA NA REGIÃO DO ALTO PARANAÍBA Soja é um grão rico em proteínas, cultivado como alimento tanto para humanos quanto para animais. A soja pertence à família Fabaceae (leguminosa), assim como o feijão, a lentilha e a ervilha. A palavra soja vem do japonês shoyu. A soja é originária da China. O maior produtor de soja do mundo são o Brasil, seguido de Estados unidos, Argentina, China, Índia e Paraguai. O óleo de soja é o mais utilizado pela população mundial no preparo de alimentos. Também é extensivamente usado em rações animais. Outros produtos derivados da soja incluem óleos, farinha, sabão, cosméticos, resinas, tintas, solventes e biodiesel. No Brasil até o século XIX a soja era plantada na Bahia, em pequena escala, mas, sua disseminação pelo Brasil se deu graças aos imigrantes japoneses. A soja é uma das plantações que estão sendo geneticamente modificadas em larga escala, e a soja transgênica está sendo utilizada em um número crescente de produtos. Atualmente, 80% de toda a soja cultivada para o mercado comercial é transgênica. A Monsanto é a empresa líder na soja geneticamente modificada. A soja é considerada uma fonte de proteína completa, isto é, contém quantidades significativas de todos os aminoácidos essenciais que devem ser providos ao corpo humano através de fontes externas, por causa de sua inabilidade para sintetizá-los. Como ilustração do poder nutritivo da soja, saliente-se o fato de que ela é o único alimento protéico fornecido por organizações humanitárias a africanos famélicos. Com uma alimentação exclusivamente baseada em soja, crianças à beira da morte recuperam todo o seu peso em poucas semanas. Esse fenômeno ocorreu em larga escala nas crises humanitárias de 16 Biafra (Década de 1970), Etiópia (Década de 1980) e Somália (Década de 1990). O processo de beneficiamento da soja, incia-se com o esmagamento, no qual basicamente se separa o óleo bruto (aproximadamente 20% do conteúdo do grão) do farelo, utilizado largamente como ração animal. O óleo bruto passa por um processo de refino até assumir propriedades ideais ao consumo como óleo comestível. O Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba constituem importantes regiões produtoras de grãos do Estado de Minas Gerais. Nessas áreas, a soja (Glycine max (L.) Merrill) representa uma das principais culturas. Apesar do bom nível tecnológico de muitos produtores brasileiros, o processo de colheita da soja provoca desperdícios significativos. Um levantamento feito pela Embrapa, na safra 2007/2008, apontou desperdício de 4,2% da soja colhida. O Brasil cultiva cerca de 21 milhões de hectares de soja e em cada hectare ficam, em média, 2 sacos no chão, perdidos (LANDGRAF, 2004). Esse número torna-se mais preocupante ainda, quando se leva em consideração que a perda tolerável é de apenas 1 saco ha-1 (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA, 2004). Uma colhedora combinada é uma máquina agrícola constituída de órgãos auxiliares e órgãos fundamentais. Os órgãos auxiliares constam basicamente de um motor de combustão interna, sistema de transmissão para deslocamento, tanque de combustível e uma cabine com posto de operador, com os comandos da máquina. Os órgãos fundamentais compõem a unidade de colheita, dividida em sistema de corte e alimentação, trilha, separação e limpeza (BALASTREIRE, 1987; GADANHA JÚNIOR et al., 1991; LAGUNA BLANCA, 1997). A velocidade de trabalho recomendada para uma colhedora de soja é determinada em função da produtividade da cultura e da capacidade admissível de manusear toda a massa que é colhida junto com o grão. Ao tomar a decisão de aumentar ou diminuir a velocidade, não se deve preocupar somente com a capacidade de trabalho da colhedora, mas verificar se os níveis toleráveis de perdas estão sendo 17 respeitados. Embora as origens das perdas sejam variadas e ocorram tanto antes quanto durante a colheita, cerca de 80% a 85% delas ocorrem pela ação dos mecanismos da plataforma de corte das colhedoras (EMBRAPA, 1998). Segundo Mesquita et al. (2001), as perdas de grãos independem das marcas e da idade das colhedoras com até 15 anos; a partir daí, as perdas podem ser superiores. Ainda de acordo com os autores, as perdas tendem a aumentar de forma acentuada com velocidades de trabalho superiores a 7 km/h, e os níveis de grãos quebrados tendem a aumentar com a redução do teor de água dos mesmos. Desta forma, o passo inicial para reduzir esse problema é conhecer os níveis de perda média das propriedades e suas causas, para, a partir daí, propor medidas mitigadoras. 4.1. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado na região do Alto Paranaíba – MG, na safra 2008/2009. Avaliaram-se as perdas de grãos de soja ocasionadas na colheita mecanizada em 14 propriedades, utilizando-se a metodologia da Embrapa Soja (MESQUITA et al., 1998) e metodologia da Pesagem. As duas metodologias utilizadas foram realizadas em conjunto, de forma simultânea nas áreas. As propriedades escolhidas para avaliação pertenciam a produtores associados ao Clube Amigos da Terra de Uberlândia (CAT), caracterizando-se pelo emprego de alta tecnologia. Foram realizadas 4 repetições de cada metodologia, para cada propriedade, em locais aleatórios. Todas as máquinas avaliadas eram colhedoras combinadas autopropelidas de fluxo tangencial, dotadas de plataforma tipo molinete, reguladas para colheita de soja. A velocidade de avanço das colhedoras, mantida constante ao longo das avaliações, foi obtida cronometrando-se o tempo gasto para percorrer um percurso de comprimento conhecido. Em cada propriedade, empregou-se a velocidade de rotina do operador. A mesma variou de 3,8 a 7,0 km/h, estando dentro da faixa recomendada pelos fabricantes para a operação de colheita. O ano de fabricação das 18 colhedoras foi obtido através de testemunho dos proprietários e variou de 1995 a 2009. As máquinas avaliadas no presente trabalho não seguiram um padrão de idade e marca, pois o objetivo principal foi efetuar as medições de perda de grãos média, nas condições de cada propriedade, de forma aleatória. As avaliações foram feitas após a passagem da colhedora, utilizando as regulagens próprias de cada agricultor e descontando as perdas pré-colheita. Os grãos perdidos no solo foram coletados e colocados no copo medidor da Embrapa, onde foi realizada a leitura direta de perda em sacos/ha. Após esta etapa, os grãos foram levados para o Laboratório de Análises de Sementes da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, para serem pesados. Quantificou-se também a umidade dos grãos. Os resultados foram analisados em perda de grãos, quantificado em quilos por unidade de área. Na metodologia da Embrapa, os dados de perda foram coletados utilizandose o copo medidor, o qual associa o volume à quantidade de grãos perdidos, empregando-se uma escala graduada. Foram mensuradas as perdas de soja por meio da coleta de todos os grãos e vagens caídos no solo dentro de uma armação de madeira e barbante de 2 m2. Os grãos recolhidos foram colocados no copo medidor calibrado e, assim, obteve-se a leitura direta da perda em sacos/ha. A metodologia da Pesagem, considerada como padrão de referência, consistiu em recolher os grãos da área convencionada de 2 m2, os quais foram pesados em balança eletrônica de precisão, obtendo-se a massa de grãos perdidos na área conhecida. A leitura da umidade dos grãos foi realizada por meio de um determinador de umidade marca Gehaka, modelo universal. O resultado final da massa de grãos foi corrigido para o teor de água de 12%. Para a comparação das médias de perda pelas duas metodologias, em cada propriedade, utilizou-se o teste de Student, a 5% de probabilidade. Realizou-se, também, uma análise de correlação entre perda e velocidade de avanço da colhedora, e perda e idade da colhedora, utilizando se o coeficiente de correlação de Pearson. 19 4.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando todas as propriedades, a perda geral média foi maior quando obtida pelo método da Embrapa. Provavelmente, isso ocorreu em decorrência de fatores intrínsecos ao copo medidor, pois o método da Pesagem é o parâmetro comparativo padrão, ou testemunha comparativa. Ele mostra a massa real dos grãos perdidos, corrigida para o teor de água de 12%. Em contrapartida, o copo medidor proporciona uma estimativa de perda de grãos, em sacos/ha, por meio de uma média geral do diâmetro dos grãos de soja. Levando em consideração a quantidade de grãos atingida em uma escala, possibilita a leitura direta, independente da cultivar, do teor de água do grão, da quantidade de grãos quebrados e dos diferentes diâmetros. Uma quantidade pequena de grãos, mas com maior diâmetro terá equivalência com uma grande quantidade de grãos, mas com menor diâmetro, na leitura da escala volumétrica do copo medidor, entretanto, em massa de grãos será diferente, ou seja, a metodologia com o copo medidor pode apresentar distorções. Também não há correção referente ao teor de água. Grãos com maior umidade apresentam maior diâmetro, possibilitando leituras errôneas. Um fator também determinante é a quantidade de espaços vazios entre os grãos de soja de formato esférico colocados no copo medidor. Não há precisão na aferição da leitura, pois alguns grãos a mais ou a menos apresentarão a mesma leitura na escala, já que será visualizada a média de posição sobre a marca no copo por quem a está visualizando. A metodologia do copo medidor, no entanto, não pode ser descartada, pois não apresentou diferença significativa, pelo teste de Student, em 8 das 14 propriedades analisadas. Salienta-se que a metodologia do copo medidor possibilitou leituras de forma prática e rápida, mas não tão precisas quanto à metodologia de 20 pesagem. Trata-se, portanto, de uma importante ferramenta prática de campo, no entanto, de uso mais limitado na pesquisa. A perda média de grãos nas propriedades analisadas, pelo método padrão da pesagem, foi de 50,93 kg/ha, isto é, menos do que um saco/ha. De acordo com Mesquita et al. (2001), este valor é aceitável. Campos et al. (2005), avaliando perdas na colheita mecanizada de soja no Estado de Minas Gerais, encontraram valores variando de 24 a 126 kg/ha. Analisando os resultados, percebe-se que não houve um padrão de correlação entre idade e perda. Essa não se correlacionou com a idade das máquinas, indicando que a sua causa não está ligada diretamente com o ano de fabricação da colhedora. Provavelmente, essa perda deveu-se à ação de outros fatores, tais como a falta de regulagem adequada da colhedora. Também pode ter havido perda causada pela própria arquitetura das plantas de soja, com a inserção das vagens muito próximas ao solo, não possibilitando a entrada das mesmas na plataforma. De acordo com Alves Sobrinho e Hoogerheide (1998), o estado de conservação da máquina, a taxa de utilização anual e a eficiência do operador influenciam as perdas na colheita. Segundo Mesquita et al. (2001), as perdas de grãos independem da marca e da idade das colhedoras com até 15 anos. A partir daí, as perdas são superiores, o que não foi observado no presente trabalho. A perda de grãos, avaliada pelo método da pesagem, em função da velocidade de avanço da colhedora, não houve um padrão de correlação entre as duas variáveis, indicando que a velocidade de avanço não foi a causa principal da perda, até a velocidade de 7 km/h. Ressalta-se que todas as velocidades analisadas estavam dentro da faixa recomendada pelos fabricantes. Pelo exposto, pode-se sugerir que os operadores trabalhem no limite superior da faixa recomendada de velocidade, visto que não ocorreu aumento de perda. O incremento da velocidade permite o aumento da capacidade operacional das máquinas. Diante disso, deve-se analisar outras circunstâncias relativas às causas ocorridas que possibilitaram as perdas de grãos, pois o fator velocidade de deslocamento da colhedora não seguiu um padrão linear que possibilitasse ligar o fator 21 perda com a velocidade desempenhada. As perdas de grãos de soja ocorreram provavelmente em detrimento a fatores práticos de não realização de regulagens adequadas na colhedora. De acordo com Landgraf (2004), a principal causa do desperdício está relacionada à inadequação de mecanismos da colhedora, o que inclui a má regulagem de componentes da máquina. Cerca de 80% das perdas ocorrem pelo funcionamento inadequado dos mecanismos da plataforma de corte das colhedoras, formada por molinete, caracol e barra de corte. A troca de navalhas quebradas, o uso correto da velocidade do molinete e do cilindro trilhador e a limpeza de outros componentes estão entre os ajustes que devem ser observados. Em geral, a velocidade das colhedoras deve variar entre 4 e 7 km/h. Velocidades superiores a esses valores causam impactos e raspagem da haste, induzindo a perdas. Em algumas máquinas de fluxo axial, esses valores de velocidade podem ser elevados sem grande incremento de perdas. De acordo com Pinheiro Neto e Gamero (2000), a colheita mecanizada da soja acarreta perdas quantitativas de grãos e sementes que ficam na superfície do solo, assim como perdas qualitativas para a soja comercializada como grão ou semente. 5. PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DE MILHO NO ALTO PARANAIBA O milho é um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo. O milho é extensivamente utilizado como alimento humano ou ração animal, devido às suas qualidades nutricionais. Existem várias espécies e variedades de milho, todas pertencentes ao gênero Zea. Todas as evidências científicas levam a crer que seja uma planta de origem americana, já que aí era cultivada desde o período pré-colombiano. É um dos alimentos mais nutritivos que existem, contendo quase todos os aminoácidos conhecidos, sendo exceções a lisina e o triptofano. 22 Tem um alto potencial produtivo, e é bastante responsivo à tecnologia. Seu cultivo geralmente é mecanizado, se beneficiando muito de técnicas modernas de plantio e colheita. O milho é cultivado em diversas regiões do mundo. O maior produtor mundial são os Estados Unidos. No Brasil, que também é um grande produtor e exportador, São Paulo e Paraná são os estados líderes na sua produção. Atualmente somente cerca de 5% de produção brasileira se destina ao consumo humano e, mesmo assim, de maneira indireta na composição de outros produtos. Isto se deve principalmente à falta de informação sobre o milho e à ausência de uma maior divulgação de suas qualidades nutricionais, bem como aos hábitos alimentares da população brasileira, que privilegia outros grãos. Segundo Mary Poll, em trabalho publicado na revista Pnas, os primeiros registros do cultivo do milho datam de há 7.300 anos, e foram encontrados em pequenas ilhas próximas ao litoral do México, no golfo do México. Seu nome, de origem indígena caribenha, significa "sustento da vida". Alimentação básica de várias civilizações importantes ao longo dos séculos, os Olmecas, Maias, Astecas e Incas reverenciavam o cereal na arte e religião. Grande parte de suas atividades diárias eram ligadas ao seu cultivo. Segundo Linda Perry, em artigo publicado na revista Nature, o milho já era cultivado na América há pelo menos 4.000 anos. O milho era plantado por índios americanos em montes, usando um sistema complexo que variava a espécie plantada de acordo com o seu uso. Esse método foi substituído por plantações de uma única espécie. Com as grandes navegações do século XVI e o início do processo de colonização da América, a cultura do milho se expandiu para outras partes do mundo. Hoje é cultivado e consumido em todos os continentes e sua produção só perde para a do trigo e do arroz. O plantio de milho na forma ancestral continua a praticar-se na América do Sul, nomeadamente em regiões pouco desenvolvidas, no sistema conhecido no Brasil como de roças. 23 No final da década de 1950, por causa de uma grande campanha em favor do trigo, o cereal perdeu espaço na mesa brasileira. Atualmente, embora o nível de consumo do milho no Brasil venha crescendo, ainda está longe de ser comparado a países como o México e aos da região do Caribe. A composicao puro ou como ingrediente de outros produtos, é uma importante fonte energética para o homem. Ao contrário do trigo e o arroz, que são refinados durante seus processos de industrialização, o milho conserva sua casca, que é rica em fibras, fundamental para a eliminação das toxinas do organismo humano. Além das fibras, o grão de milho é constituído de carboidratos, proteínas e vitaminas do complexo B. Possui bom potencial calórico, sendo constituído de grandes quantidades de açúcares e gorduras. O milho contém vários sais minerais como (ferro, fósforo, potássio e zinco) no entanto é rico em ácido fítico, que dificulta a absorção destes mesmos. 5.1. Milho branco Uma das variedades mais difundidas no Brasil é o milho branco. Tem como principais finalidades a produção de canjica, grãos e silagem. A planta tem altura próxima de 2,20 metros, sendo que a espiga nasce a 1,10 metro do solo. A espiga é grande, cilíndrica e apresenta alta compensação. O sabugo é fino, os grãos são brancos, profundos, pesados e de textura média. O colmo tem alta resistência física e boa sanidade. A planta é especialmente resistente às principais doenças foliares do milho, em diferentes altitudes e épocas de plantio. Podem ser colhidas até duas safras de milho branco por ano.Em algumas épocas e regiões do Brasil, a cotação da saca de milho branco pode ser até 50% superior à do milho tradicional. O auge da demanda ocorre no período imediatamente anterior à Quaresma, pois a canjica é um prato típico destas festividades. No Brasil, o milho branco é bastante difundido nos estados do Paraná e São Paulo, mas há também plantações isoladas nos estados de Santa Catarina, 24 Minas Gerais e Mato Grosso. Entre os principais municípios produtores estão Londrina, Irati e Pato Branco no Paraná, e Quadra - que é considerada a "Capital do Milho Branco" -, Tatuí e Itapetininga em São Paulo. Nos Estados Unidos, a produção de milho branco em 2004 correspondia a 3% do total. Embora ainda minoritário, o milho branco tem ganho espaço no mercado nos últimos anos, e a área plantada tem refletido o aumento na demanda. Um dos motivos é que o mercado reconhece que ainda não existem variedades trangênicas de milho branco, o que automaticamente aumenta seu valor de mercado em nichos específicos. 5.2. Milho transgênico Em relatório recentemente divulgado, notificou-se que determinado tipo de milho transgênico (o MON 863) causou problemas em camundongos (alterações no sangue e rins menores). A variedade transgênica mais conhecida é desenvolvida pela Monsanto, e é conhecida como RR GA21 (tolerante ao herbicida glifosato). Ela é utilizada extensivamente nos Estados Unidos. Outras empresas atuantes no ramo incluem a Syngenta e a DuPont. Em 1999, a Novartis foi a primeira empresa a receber autorização do governo brasileiro para realizar testes no país com o milho transgênico BT, resistente a insetos. Segundo os produtores de sementes, o milho transgênico traz um aumento médio de 8% na produtividade. Nos EUA, mais de 70% do milho semeado é transgênico. A produção de variedades transgênicas na Argentina e no Brasil é crescente, embora nem sempre a prática do cultivo dessas variedades seja legal. Há também relatos de milho transgênico em Honduras (terra de origem do milho), onde variedades transgênicas "contaminaram" as variedades locais. No México, o milho transgênico também enfrenta séria oposição governamental. 25 O milho é um exemplo da manipulação de espécies pelo Homem, sendo utilizado tanto pelos defensores quanto pelos opositores dos transgênicos. O milho cultivado pelos índios mal lembra o milho atual: as espigas eram pequenas, cheias de grãos faltando, e boa parte da produção era perdida para doenças e pragas. Através do melhoramento genético, o milho atingiu sua forma atual. Os defensores dos transgênicos utilizam este exemplo para dizer que a manipulação das características genéticas de vegetais não é novidade, e já foi feita anteriormente, com muito menos controle do que atualmente. Os opositores dos transgênicos utilizam o mesmo exemplo para defender que há alternativas para a manipulação direta dos genes de espécies vegetais, técnica à qual se opõem. Nem sempre as remessas de milho importado dos Estados Unidos chegam aos países da América Latina com rotulagem indicando isso aos consumidores. Apesar disso, pesquisas mexicanas indicam que a contaminação do milho nativo pode ter sido causada pela polinização acidental, que talvez tenha ocorrido também em outros países centroamericanos. Os milhos trangênicos, de propriedade de algumas poucas empresas, ao entrar em contato com o ambiente natural, se espalham. Há casos nos Estados Unidos em que um pequeno agricultor planta milho e depois precisa pagar royalties, pois tais espigas eram transgênicas e estavam patenteadas por grupos financeiros. Já que o milho transgênico está tomando o lugar com o milho de verdade, natural, tais acontecimentos tem sido cada vez mais comuns. Os ativistas que enfrentam os transgênicos tentam acabar com a possibilidade de que, algum dia, uma pessoa faminta não possa plantar uma espiga de milho porque esta pertence a alguma empresa. O consumidor pode optar por não consumir milhos transgênicos se procurar por o milho orgânico, já que os demais milhos não especificam o teor do que está sendo vendido. 26 5.3.Características da planta O milho pertence ao grupo das angiospermas, ou seja produz as sementes no fruto. A planta do milho chega a uma altura de 2,5 metros, embora haja variedades bem mais baixas. O caule tem aparência de bambu, e as juntas estão geralmente a 50 centímetros de distância umas das outras. A fixação da raiz é relativamente fraca. A espiga é cilíndrica, e costuma nascer na metade da altura da planta. Os grãos são do tamanho de ervilhas, e estão dispostos em fileiras regulares presas no sabugo, que formam a espiga. Eles têm dimensões, peso e textura variáveis. Cada espiga contém de duzentos a quatrocentos grãos. Dependendo da espécie, os grãos têm cores variadas, podendo ser amarelos, brancos, vermelhos, azuis ou marrons. O núcleo da semente tem um pericarpo que é utilizado como revestimento. 5.4.Cultivo de milho no Brasil Cultivado em todo o Brasil, o milho é usado tanto diretamente como alimento, quanto para usos alternativos. A maior parte de sua produção é utilizada como ração de bovinos, suínos, aves e peixes. Atualmente somente cerca de 15% de produção brasileira se destina ao consumo humano e, mesmo assim, de maneira indireta na composição de outros produtos. Isto se deve provavelmente à falta de informação sobre o milho e suas qualidades e ao costume culinário brasileiro de utilizar mais os grãos de arroz e feijão. Ao lado da soja, a cultura de milho é uma das pontas-de-lança da recente expansão da atividade agrícola brasileira. O cultivo de milho é altamente 27 beneficiado pela tecnologia e pelas inovações da pesquisa agrícola, sendo um dos principais casos de sucesso da chamada revolução verde. Além dos benefícios óbvios decorrentes da exportação (como a geração de divisas para o país), a cultura de milho adquire importância estratégica quando se leva em conta a vantagem de mercado que uma grande produção nacional de milho traz para atividades agrícolas que usam a ração animal como base, como a pecuária, a avicultura, a suinocultura e até a piscicultura. Os estados líderes na produção de milho são São Paulo e o Paraná. Afora o seu alto prestígio no agronegócio, o milho também é uma das culturas mais cultivadas pela agricultura familiar brasileira, tanto para a subsistência quanto para a venda local. Aproximadamente 85% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares. Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira e 37,8% do valor bruto da produção agropecuária são produzidos por agricultores familiares. No sistema de agricultura familiar, a direção da unidade produtiva é exercida pela família, a mão-de-obra familiar é superior à contratada e a propriedade dos meios de produção é da família (Castelões 2005). No Brasil, existem aproximadamente 4,8 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar, dos quais 10% estão no estado de Minas Gerais. Dentre os dez principais produtos produzidos por esses núcleos, o milho ocupa o quarto lugar (INCRA, 2000). Na safra 2003/04, o Brasil apresentou uma produção de aproximadamente 42,191 milhões de toneladas de milho, dos quais 14,2% foram produzidos no estado de Minas Gerais, cuja produtividade é 35,4% superior à media nacional, sendo que sua área plantada representa 10% da área total plantada no Brasil (IBGE, 2005). Embora o estado apresente tais características, têm sido verificado, em áreas cultivadas sob o sistema de agricultura familiar da Zona da Mata Mineira, valores menores de produtividade. Esse fato pode estar associado à dificuldade de mecanização dessas áreas, que apresentam elevadas declividades. De acordo com Santos (2000), aproximadamente 40% da 28 produção de milho do Brasil é colhida manualmente, restando 60% colhidos mecanicamente. Ressalta-se que a porcentagem de áreas colhidas por máquinas tende a aumentar visto o aumento da frota mecanizada, que, nos últimos quatro anos, apresentou aumento médio de 20% na produção de máquinas de colheita (ANFAVEA, 2006). As vantagens apresentadas pela colheita mecânica são bem claras, isto é, redução do tempo de execução da colheita e conforto ao indivíduo envolvido (Souza et al., 2001). Entretanto, algumas peculiaridades relacionadas às interações máquina-planta durante esse processo podem provocar elevada perda de produto. Essas peculiaridades estão relacionadas com a quantidade de material que entra nos sistemas internos das máquinas (Queiroz et al., 2004) e a energia transmitida no processo de colheita pelos mecanismos que compõem esses sistemas. Dentre os mecanismos que constituem a colhedora combinada, de acordo com Souza ET al. (2003), aqueles que formam o sistema de trilha são considerados os mais complexos, principalmente por serem responsáveis pela trilha e separação parcial do produto. Tanto o sistema de trilha quanto os sistemas de corte, de separação e de limpeza apresentam suas perdas de grãos altamente influenciadas pela taxa de alimentação da máquina e das condições da cultura no momento da colheita. De acordo com Mantovani (2000), quando não há necessidade de antecipação da colheita, esta deve ser iniciada quando o teor de água estiver na faixa de 18 a 20%. Dessa forma, além das características dos sistemas da colhedora, a condição em que as plantas se encontram no momento da colheita tem efeito direto no processo, pois, conforme Souza et al. (2001), o aumento no teor de água do produto diminui a eficiência de trilha e da separação mecânica. Por outro lado, Puzzi (1986) relata que o atraso na época da colheita mecânica, após maturação do milho, provoca diminuição do teor de água dos grãos e, conseqüentemente, aumento das perdas. Outros fatores que podem influenciar as perdas na colheita mecânica são a baixa escolaridade, 29 aliada à falta de treinamento dos operadores (Alves Sobrinho et al., 1998), e a idade da colhedora (Mesquita et al., 2002). O objetivo foi avaliar a perda quantitativa de grãos ocorrida na produção de milho, em lavouras do Alto Paranaíba, estudando-se a influência da velocidade de deslocamento e da rotação do cilindro trilhador da colhedora. O trabalho foi conduzido numa área de agricultura familiar da zona rural do município de Ibiá, MG. Na lavoura, foi utilizado o milho Agroceres BRS 2110, com espaçamento de 0,90 m. A máquina utilizada na colheita foi uma colhedora combinada TC 57, com sistema convencional de trilha, fabricada em 1994. As variáveis investigadas nos ensaios foram a taxa de alimentação da máquina, obtida pela variação da velocidade de trabalho da mesma (1ª simples, 2ª reduzida e 2ª simples), e a rotação do cilindro trilhador, trabalhando-se com 720 e 850 rpm. A colhedora, trabalhando nas marchas 1ª simples, 2ª reduzida e 2ª simples, apresentou velocidades de deslocamento de 1,22; 1,50 e 2,45 km/h, respectivamente. A abertura entre cilindro e côncavo foi de 48 mm na entrada e 25 mm na saída do sistema de trilha, por essa ter sido a regulagem que apresentou menor dano mecânico visível ao produto. A peneira superior foi regulada com 17 mm de abertura e a inferior, com 11 mm. Em cada teste, foram determinados a velocidade de deslocamento da máquina, a massa de grãos colhidos e o tempo necessário para colhê-la e a massa de grãos perdidos. Antes de iniciar a colheita com a máquina, foram realizadas medições, utilizando-se uma armação de 30 m2, em diferentes locais da área, a fim de determinar a perda natural, totalizando-se dez amostras. As perdas naturais foram obtidas do quociente da massa de grãos perdidos pela área da armação (equação 1). Pn = 10 m/a em que: Pn - perda natural, kg/ha; m - massa de grãos perdidos naturalmente, a área da armação, g; A - área da armação, m². 30 Para determinar as perdas na plataforma de corte, nos mecanismos interno e perda total, relativas à colhedora, foi usada uma armação de 2 m², colocada no sentido transversal ao plantio das linhas. Os grãos soltos e aqueles contidos em sabugos encontrados no chão dentro da armação foram pesados. Para determinar as perdas na plataforma de corte, colheram-se duas linhas de plantio. Parou- se a colhedora e os mecanismos da plataforma de corte foram desligados. Deu-se marcha-a-ré na colhedora, a uma distância igual à metade do comprimento da máquina. Colocou-se a armação na parte colhida em frente à colhedora e todos os grãos ali presentes, soltos ou nas espigas, foram recolhidos e pesados. A perda na plataforma de corte foi determinada conforme a equação 2: PP = MP/A-Pn em que: PP - perda na plataforma de corte, kg ha-1; MP - massa de grãos perdidos na plataforma de corte, na área da armação, g. Na medição da perda total, depois da passagem da máquina, foi colocada a armação atrás da colhedora, na parte colhida, e os grãos presentes nesse espaço, estivessem eles nos sabugos ou não, foram coletados e pesados. Essa perda total de grãos foi determinada conforme a equação a seguir: PT = 10 MT/A em que: PT - perda total, kg/ha; MT - massa total de grãos, na área da armação, g. 31 Visando determinar as perdas nos sistemas de trilha e de separação e limpeza, o picador de palha foi desligado. Para determinar as perdas nos mecanismos internos da colhedora, subtraíram-se das perdas totais as perdas da plataforma de corte (equação 4). Os grãos que se encontravam nos sabugos foram considerados perdas por deficiência de trilha e os grãos soltos, por deficiência de separação e limpeza. PI = PT-PN-PP em que: PI - perda nos sistemas internos da máquina, kg/ha. . Para se determinar a capacidade de colheita, a máquina foi colocada para colher numa distância conhecida, cronometrando-se o tempo gasto por ela nesse percurso e, em seguida, pesando-se o produto colhido. A capacidade de colheita foi obtida da relação entre a massa de grãos colhidos e o tempo gasto no percurso, conforme se observa na equação 5. Para garantir que um teste não influenciasse o próximo, a máquina foi totalmente limpa de grãos e palhada ao final de cada teste. CC = 3,6 MG/t em que: CC - capacidade de colheita, t h-1; MG - massa de grãos colhidos, kg; t - tempo gasto no percurso, s. Em todos os testes de campo, o teor de água dos grãos perdidos pela máquina foi considerado igual ao teor de água dos grãos contidos no tanque graneleiro da colhedora. A produtividade da lavoura foi determinada pela soma da massa colhida e perdida durante a colheita e antes dela. Foram 32 determinadas a densidade da palhada e a razão em peso seco da relação palha/grãos da cultura. Estes parâmetros serviram para determinar a quantidade de massa processada pela máquina, nos testes. A densidade livre da palhada foi determinada com o auxílio de dois recipientes de volume conhecido, enquanto certa quantidade de massa de palha foi colocada dentro do recipiente, livremente, sem compactação. Utilizaram-se dois recipientes de volumes diferentes, buscando minimizar os erros envolvidos nessa medição, conforme recomendado por Souza et al. (2003). Finalmente, foi determinado o peso da massa de palha seca, sendo sua densidade expressa em quilogramas por metro cúbico. A taxa de alimentação de palhada foi obtida por meio da determinação da massa de grãos que alimentou a máquina em cada teste e da relação palha/grão da cultura. Foram retiradas amostras no tanque graneleiro da máquina, para a determinação do teor de água do produto, usando-se o método padrão em estufa a 105 ± 3oc por 24 h, com três repetições, conforme recomendações de Brasil (1992). O diâmetro equivalente do grão de milho foi determinado considerando o volume do grão como o de uma esfera. Foi montado um experimento em esquema fatorial 3x2, com três velocidades de deslocamento e duas rotações do cilindro trilhador, instalado segundo o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e de metodologia de superfície de resposta. Os modelos foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste t e o coeficiente de determinação. As médias foram comparadas utilizando-se o teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas dos dados foram realizadas utilizando-se o programa computacional SAEG, versão 9. O teor de água do milho durante a colheita foi de 13,5 ± 0,2%, sendo esse valor considerado baixo para a colheita desse tipo de produto, pois têm sido recomendados valores entre 18 e 20% (Mantovani, 2000). Como os pequenos agricultores dependem do empréstimo ou aluguel de maquinário 33 para execução da colheita, e sendo que nem sempre há disponibilidade na época adequada, acabam realizando colheita tardiamente, com o produto mais seco. A densidade livre da palhada seca foi de 12,01 ± 1,83 kg m3 e a relação palha/grão foi de 1,80 ± 0,25 kg/kg/ha. Resultado semelhante de relação palha/grão foi obtido por Dourado Neto et al. (2003), que, estudando o efeito da população de planta e do espaçamento sobre a produtividade do milho, observaram valores de 1,75 e 1,83 kg/kg, para a maior (90.000 plantas/ha) e a menor (30.000 plantas/ha) população de plantas, respectivamente. O diâmetro equivalente do grão foi de 7,11 ± 0,51 mm. A perda natural foi de 17,1 kg ha-1, representando aproximadamente 0,73% da produtividade média da lavoura, que foi de 2336,4 kg/ha. Segundo Bragachini e Peiretti (2005), na colheita de milho, em estudo realizado na Argentina, essa perda pode alcançar valores de 65 kg/ha, equivalendo a 0,9%. Não foi observada influência da velocidade de deslocamento e da rotação do cilindro trilhador sobre as perdas na plataforma de corte, no sistema de trilha e a perda total. Para a menor velocidade de deslocamento, a rotação do cilindro trilhador de 850 rpm apresentou menor perda nos sistemas de separação e limpeza. Esse fato ocorreu provavelmente devido à palhada ter ficado mais fracionado ao sair do sistema de trilha, favorecendo o aumento da eficiência do ventilador e ocasionando diminuição da espessura da camada de palha sobre as peneiras, o que facilitou a passagem dos grãos por essa camada. Em geral, a perda total ocorrida no processo de colheita mecanizada foi de 9%, sendo que 3,5% ocorreram na plataforma de corte, 2,4% na trilha e 3,1% na separação e limpeza. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005), perdem-se, em média, mais de 11% de grãos de milho por problemas de colheita. Essa porcentagem de 9% de perda total pode ter sido favorecida pelo atraso da colheita mecânica, que Fo realizada aproximadamente aos 30 dias após a maturação da cultura. Resultados semelhantes de perdas foram apresentados por Puzzi (1986). Segundo Portella (2000), pode-se afirmar que pelo menos 34 50% dessas perdas poderiam ser eliminadas, desde que fossem respeitadas as épocas de colheita. Isso indica que, devido à pouca disponibilidade de maquinário no momento adequado de colheita, na região onde foram realizados os testes, o produtor fica à mercê da perda qualitativa e quantitativa de grãos por atraso da colheita. Além disso, outro fator que pode ter influenciado o processo de perdas é a idade da máquina, pois, de acordo com Mesquita et al. (2002) e Campos et al. (2005), as perdas aumentam conforme a idade da colhedora. Não foi observada diferença significativa da velocidade de deslocamento sobre os índices de perdas na plataforma de corte, na trilha e nos sistemas de separação e de limpeza da colhedora, independentemente da rotação do cilindro trilhador, exceto na rotação de 850 rpm, em que a velocidade de 1,50 km/h proporcionou menor índice de perda por deficiência de trilha. Considerando a rotação do cilindro trilhador, observou-se que, na maior velocidade de trabalho, a de 850 rpm apresentou maior valor de índice de perda na plataforma de corte. Por outro lado, na velocidade de 1,50 km/h, houve diminuição do índice de perda na trilha quando foi aumentada a rotação do cilindro trilhador. O aumento na rotação do cilindro trilhador proporcionou diminuição e aumento no índice de perdas no sistema de separação e limpeza para as velocidades de 1,22 e 1,50 km/h, respectivamente, enquanto não houve efeito na velocidade de 2,45 km/h. Para as respectivas rotações do cilindro trilhador, com a máquina trabalhando com 1,2; 1,5 e 2,5 km/h, respectivamente. Quando a máquina trabalhou com a velocidade de 1,2 km/h e rotação no cilindro trilhador de 720 rpm, o índice de perda da separação e limpeza foi maior, seguido pelo índice da plataforma de corte e da trilha. Nessa mesma velocidade e numa rotação de 850 rpm, não foi observada diferença entre os valores de índice de perda para os sistemas da máquina. Analisando a velocidade de 1,5 km/h, na rotação de 720 rpm, pode-se observar que não houve diferença entre os índices de perdas na plataforma de corte, na trilha e nos sistemas de separação e limpeza, enquanto na rotação de 850 rpm, o 35 menor índice ocorreu na trilha, apresentando-se semelhantes os valores da plataforma e da separação e limpeza do produto. Na maior velocidade de deslocamento da máquina, o índice de perdas para a rotação de 720 rpm apresentou-se para os três sistemas, de forma similar, enquanto, na maior rotação, na plataforma de corte, ocorreu o maior índice de perda, não havendo diferença entre os outros sistemas. De maneira geral, o índice de perda na plataforma de corte foi de 39%, 26% na trilha e 35% nos sistemas de separação e de limpeza. O maior índice de perda ocorrido na plataforma de corte está relacionado com o baixo teor de água do produto no ato da colheita, pois, quanto menor seu valor, maior é a possibilidade de granação provocada pela ação mecânica do rolo espigador e correntes coletoras. Analisando o comportamento dos índices de perdas nos mecanismos internos da colhedora, observaram-se valores de 65,7 e 56,9% para as rotações de 720 e 850 rpm, respectivamente. Verifica-se que houve diminuição das perdas internas quando foi aumentada a rotação do cilindro trilhador da máquina. Esse fato pode estar relacionado com a maior energia transmitida ao processo de trilha, separação e limpeza. Resultado semelhante foi observado por Souza et al. (2001). Analisando-se o coeficiente de correlação para a perda na plataforma de corte e a perda total, observa-se que o aumento da taxa de alimentação provocou diminuição nos seus valores, para as duas rotações, não acontecendo da mesma forma para a trilha e o sistema de separação e limpeza. Na menor rotação do cilindro trilhador, as perdas na trilha foram proporcionais ao aumento da taxa de alimentação de palhada, ocorrendo o comportamento contrário na maior rotação. No sistema de separação e de limpeza, na rotação de 720 rpm, na medida em que foi aumentada a taxa de alimentação de palhada da máquina, houve diminuição das perdas, enquanto, na rotação de 850 rpm, houve aumento. A capacidade de colheita aumentou com o incremento da taxa de alimentação de grãos da colhedora, representado pela variação da velocidade de deslocamento e da rotação do 36 cilindro trilhador. Capacidade de colheita da colhedora em função da velocidade de deslocamento (V) e rotação do cilindro trilhador (R). A Colheita foi obtida na velocidade de deslocamento de 2,5 km/h e na rotação do cilindro trilhador de 850 rpm, equivalendo a 1,2 t/h. Observando os parâmetros do modelo selecionado para representar o comportamento da capacidade de colheita, verifica-se que a velocidade de deslocamento foi o fator que mais influenciou a capacidade de colheita. Embora as perdas obtidas na região onde o trabalho foi realizado estejam acima da ideal, estas são inferiores àquelas praticados na Argentina, onde segundo Bragachini & Peiretti (2005), podem chegar a 385 kg/ha. Alves Sobrinho et al. (1998) afirmam que a redução das perdas pode ser obtida se os produtores fizerem monitoramento constante da colheita. Além disso, a realização da colheita na época adequada pode favorecer a melhoria da regulagem da máquina, visando ao aumento de eficiência de colheita, pois o atraso na colheita diminui o teor de água do produto, aumentando a possibilidade de danos mecânicos, fazendo que o operador regule a máquina também para manter a qualidade dos grãos, pela diminuição dos quebrados. 37 6. Conclusão A combinação do maior espaçamento com a menor população provoca o maior índice de acamamento. A redução no espaçamento entre linhas reduz a altura das plantas, a altura da inserção das vagens e o rendimento de grãos, mas provoca aumento na altura da ponta da vagem mais baixa até o solo, e redução na porcentagem das plantas encostando vagens no solo. O aumento na população de plantas não afeta a maioria das características agronômicas das plantas, porém provoca redução na porcentagem de plantas encostando vagens no solo, não provocando modificações no rendimento de grãos. A altura das plantas e a altura da inserção da primeira vagem, medida após a arranca das plantas, não servem como critérios para a avaliação da seleção de plantas para a colheita mecanizada. Em 6 das 14 propriedades analisadas, a metodologia do copo medidor de avaliação de perdas de grãos de soja na colheita diferiu da metodologia da pesagem quanto ao resultado final. Não houve uma correlação da idade da colhedora e da velocidade de avanço com a perda de grãos, indicando que essas não foram as causas principais das perdas. A perda média de grãos de soja na colheita, nas propriedades analisadas, foi de 80,86 kg ha-1 (método da Embrapa) e de 50,93 kg ha-1 (método da Pesagem), estando esta dentro do padrão aceitável. Contudo, pode-se concluir que na cultura do milho não foi observada influência da velocidade de deslocamento e da rotação do cilindro trilhador sobre as perdas na plataforma de corte e no sistema de trilha. As menores velocidades de deslocamento e a rotação do cilindro trilhador de 850 rpm apresentaram menor perda nos sistemas de separação e limpeza. A velocidade de deslocamento de 2,5 km h-1 e a rotação de 850 rpm apresentaram os maiores valores de capacidade de colheita. 38 7. Literatura Citada ALVES SOBRINHO, T.; HOOGERHEI-DE, H. C.; ALVES, L. A. Diagnóstico de colheita mecânica da cultura de soja no município de Dourados, Mato Grosso do Sul. Cerrados, Revista de Ciências Agrárias, Campo Grande, v. 1, n. 2, p. 40-42, 1998. MESQUITA, C. M.; COSTA, N. P.; PEREIRA,J. E. MAURINA, A. C.; ANDRADE, J. G. M. Perfil da colheita mecânica da soja no Brasil: safra 1998/1999. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 22, n. 3, p. 398-406, 2002. ALCÂNTARA, J.P.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A.; SANTOS, J.B. Avaliação de cultivares de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) em diferentes densidades de semeadura e condições de ambiente. Ciência e Prática, Lavras, v.15, n.4, p.331-428, 1991. ANTUNES, I.F.; SILVEIRA, E.P. Feijão: manual de campo. Pelotas: Embrapa-CPACT, 1993. 7p. CENTRO INTERNACIONAL DE AGRICULTURA TROPICAL. Morfologia de la planta del frijol común (Phaseolus vulgaris L.): guia de estúdio. Cali, 1981. 50p. COSTA VAL, N.M. da; BRANDÃO, S.S.; GALVÃO, J.D.; GOMES, F.R. Efeito do espaçamento entre fileiras e da densidade na fileira sobre a produção de grãos e outras características da soja (Glycine Max (L.) Merrill). Experientiae, Viçosa, v.12, n.12, p.431-476, 1971. 39 CUNHA, J.M. da; OLIVEIRA, A.F.F. de. Estudo sobre fertilidade e densidade de semeio de feijão. In: EPAMIG. Projeto feijão: Relatório 73/75. Belo Horizonte, 1978 p.18-20. DARIVA, T.; JOBIM, J.D.C.; SILVA, M.D. da. Efeito do espaçamento e da densidade de plantio sobre o rendimento de grãos na cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.). Revista do Centro de Ciências Rurais, Santa Maria, v.5, n.4, p.259-264, 1975. DUTRA, L.G.; RIBEIRO, M.J. del P.; MORAES, E.A.; BRAGA, T.M. Da resposta diferencial de duas variedades de feijão a interação entre níveis de fósforo, espaçamento entre fileiras e densidade nas fileiras sobre a produção de grãos e outras características agronômicas da cultura. In: EMGOPA (Goiânia, GO). Relatório técnico UEPAE-1. Goiânia, 1977. p.44-45. ESPINDOLA, E.A. Resposta de três cultivares de soja Glycine max (L.) Merrill à população de plantas, correção da acidez e adubação do solo. Pelotas: UFPel, 1978. 105p. Dissertação de Mestrado. MEDINA, S.G. MOURA, R.L. de; COSTA, M.S.S.; ROMILDO, E.P.; MENDES, C.V. Efeitos da adubação nitrogenada, do espaçamento e densidade de semeadura sobre o rendimento do feijão. In: REUNIÃO TÉCNICA ANUAL DO FEIJÃO, 14, 1977, Porto Alegre. Ata. Porto Alegre: IPAGRO, 1977. p.79-86. QUEIROZ, E.F. Efeito da época de plantio e população sobre o rendimento e outras características agronômicas de quatro cultivares de soja, Glycine max (L.) Merrill. Porto Alegre: UFRGS, 1975. 108p. Dissertação de Mestrado. 40 ROCHA, J.A.M. Produção de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) cultivado em populações variáveis quanto ao número ao arranjamento de plantas. Piracicaba: USP-ESALQ, 1991. 48p. Dissertação de Mestrado. SANTA CECILIA, F.C.; RAMALHO, M.A.P.; SOUZA, A.F. de. Efeitos do espaçamento de plantio na cultura do feijão. Agros, Lavras, v.4, n.1, p.11-21, 1974. SILVA, C.C. da; BEVITORI, R. Colheita e beneficiamento de feijão. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.178, p.54-63, 1994. ALVES SOBRINHO, T.; HOOGERHEIDE, H. C. Diagnóstico de colheita mecânica da cultura de soja no município de Dourados - MS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27, 1998, Poços de Caldas. Anais... Lavras: Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 1998. v. 3, p. 52-54. BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole, 1987. 357 p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Brasil reduz desperdício na colheita da soja. 2004. Disponível em: <http://www.cnpso.embrapa.br/html/reduz.htm> Acesso em: 18 mar. 2009. 41 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Recomendações técnicas para a cultura da soja na região central do Brasil. Londrina: Embrapa Soja, 1998. 182 p. GADANHA JUNIOR, C. D.; MOLIN, J. P.; COELHO, J. L. D.; YAHN, C. H.; WADA TOMIMORI, S. M. A. Máquinas e implementos agrícolas do Brasil. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1991. 315 p. 42