COMPARAÇÃO ENTRE A BORRACHA NATURAL OBTIDA DO LÁTEX DA Hancornia speciosa gomes e Hevea brasiliensis José A. Malmonge1*, Egiane C. Camillo1, Rogério M. B. Moreno2, Luiz H. C. Mattoso2 1* Grupo de Polímeros, Departamento de Física e Química, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira , Universidade Estadual Paulista, Av. Brasil 56, centro - Ilha Solteira – SP, 15385-000 –[email protected] 2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Instrumentação Agropecuária, Av. XV de novembro 1452São Carlos – SP, 13560-970 – [email protected] Comparison between natural rubber properties from Hancornia speciosa gomes and Hevea brasiliensis. This work reports the rubber proprieties extracted from Mangabeira (Hancornia speciosa) and Seringueira (Hevea brasiliensis) trees, planted in the Experimental Farm of Teaching and Research of the Faculty of UNESP-Ilha Solteira/SP (FEP/FEIS), using FTIR spectroscopy , thermogravimetric analysis (TGA) and electrical conductivity measurement. The results show no significant differences between the rubbers proprieties and indicate that mangabeira rubber has qualities to be used in commercial applications. Introdução O consumo de borracha natural tem crescido significantemente nestes últimos anos, sendo que atualmente 40% do consumo mundial é de borracha natural[1]. São conhecidas mais de 2500 espécies de plantas que produzem borracha natural, sendo a borracha proveniente da Hevea brasiliensis (seringueira) a única explorada comercialmente. Com a futura escassez do petróleo e o risco que se tem com o cultivo de uma monocultura, faz-se necessário a busca de outras espécies que tenham condições de fornecer borracha com qualidades requeridas pelas industrias do setor. Neste trabalho é avaliada a borracha obtida do látex da Mangabeira (Hancornia speciosa gomes) e do látex do clone de seringueira RRIM 600, usando a técnica de FTIR, TGA e condutividade elétrica. Experimental O látex foi coletado por sangria das arvores da espécie Hancornia speciosa gomes (mangabeira) e da Hevea brasiliensis (seringueira) (RRIM 600), plantadas na Fazenda Experimental da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira ( FEIS-UNESP), e estabilizado em amônia. Dois tipos diferentes de amostras de borracha foram obtidas: a borracha não purificada obtida da coagulação do látex com ácido acético 3N e a borracha purificada, obtida a partir da coagulação do látex previamente purificado. A purificação do látex foi obtida centrifugando o látex misturado com lauril a 12500 RPM por 50 min. a 10 0C. Os filmes foram obtidos dissolvendo a borracha em toluol e a solução derramada em laminas de vidro, colocadas previamente em uma estufa com circulação de ar. Para evaporação do solvente, a temperatura da estufa foi elevada para 60 0 C e deixada por 24 horas. Os filmes formados na superfície do vidro foram então destacados para serem caracterizados. Para as medidas de condutividade elétrica, alumínio foi depositado em ambas as faces do filme por evaporação. Resultados e Discussão Na figura 1 tem-se o espectro FTIR das borrachas purificadas da mangabeira e seringueira. Observa-se que os espectros apresentam as mesmas bandas principais (3035, 2962, 2854, 1662, 1450, 1376, e 836 cm-1), características de unidades monoméricas do cis-1,4-poliisopreno[2]. Na figura 2, tem-se as curvas de TGA para as borrachas purificadas e não purificadas. Observa-se que as borrachas não purificadas perderam massas em três etapas consecutivas. A primeira ocorre no intervalo de 30 a 250 0 C, com uma pequena perda de massa de aproximadamente 1% para a borracha da mangabeira e de aproximadamente 6% para a borracha da seringueira, atribuídas à eliminação dos compostos voláteis com água[3]. A segunda perda ocorre na temperatura entre 250 a 4000C que corresponde ao processo de pirólise ativa, com degradação estrutural da borracha e uma perda de massa de aproximadamente 97%. Na terceira etapa, a decomposição final da borracha e dos compostos formados nas etapas anteriores é evidenciada à temperatura acima de 4000C. As borrachas purificadas apresentam uma estabilidade térmica um pouco superior. Os constituintes não borracha possuem capacidades oxidantes e antioxidantes. Os aminofosfolipidios, as aminas e os primeiros termos da série alifática dos amino ácidos possuem ação antioxidante, enquanto que a uréia, os ácidos graxos saturados e insaturados são oxidantes[3]. 834 condutividade em função da temperatura a borracha da mangabeira também mostrou ser mais estável sendo que a borracha da seringueira variou uma ordem de grandeza como mostra a figura 4. Estes resultados mostram que as borrachas estão na faixa de isolante elétrico mesmo para campos elétricos e temperaturas relativamente altas. 1664 3035 Transmitância (%) Esse discreto aumento da estabilidade térmica das borrachas purificadas pode estar associado à eliminação dos ácidos graxos da borracha. 837 -17 Condutividade (x 10 S/cm) 3000 1375 1448 Seringueira Mangabeira 2927 3500 2854 2960 4000 2500 2000 1500 Mangabeira purificada Mangabeira não purificada Seringueira purificada Seringueira não puficada 120 1000 500 -1 Número de onda (cm ) Figura 1 – Espectro de infravermelho das borrachas da mangabeira e seringueira purificadas . 100 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 500 600 2 Perda de Massa (%) Campo elétrico(x10 V/cm) 100 Figura 3 – Condutividade das borrachas em função do campo elétrico. 100 1600 90 Mangabeira purificada Mangabeira não purificada Seringueira purificada Seringueira não purificada 1400 60 80 50 100 150 Condutividade (x10 S/cm) 200 0 Temperatura ( C) 40 -17 Perda de Massa (%) 80 20 Seringueira não purificada Seringueira purificada 0 100 200 300 400 500 600 1200 1000 800 600 400 200 0 0 Temperatura ( C) 40 Massa (%) 80 50 100 150 200 0 Temperatura ( C) 40 20 Mangabeira não purificada Mangabeira purificada -20 100 200 80 90 100 Conclusões Nenhuma diferença significante foi observada nas propriedades térmicas da borracha da mangabeira quando comparada às da seringueira. Com relação à condutividade elétrica a borracha da mangabeira apresentou- se mais estável com a elevação da temperatura no intervalo da temperatura ambiente até 100 0C e com a variação do campo elétrico, permanecendo na região de isolante elétrico. 90 60 0 70 Figura 4 – Condutividade da borracha em função da temperatura. 100 80 60 0 Perda de Massa (%) 100 50 Temperatura ( C) (a) 300 400 500 600 0 Temperatura ( C) Agradecimentos A CAPES pela bolsa de estudo e ao CNPq e FAPESP pelo apoio financeiro. (b) Figura 2 – Curvas de TGA para a borracha de (a) seringueira purificada e não purificada e para a borracha de (b) mangabeira purificada e não purificada. Na figura 3 tem-se o gráfico da condutividade em função do campo elétrico aplicado. Observa-se que a condutividade das borrachas não varia significantemente em função do campo elétrico aplicado. Somente para a seringueira não purificada um aumento de aproximadamente duas ordens de grandeza foi observado, atribuído a metabólicos de baixo peso molecular existentes na borracha, como mostrado na medidas de TGA. Em relação à variação da Referências Bibliográficas 1. A. Steinbüchel Current Opinion in Microbiology 2003, 6, 261. 2. J.R.D Marinho. Rio de Janeiro, 1992. Tese de Doutorado – Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1992. 3. A. P. Mathew; B. Packirisamy; S. Thomas Polymer Degradation and Stability 2001, 72, 423. 4. N. Na-Ranong; H. Livonniére; J.L. Hacob; Plantation Research and Development 1995, 2, 44. Anais do 8o Congresso Brasileiro de Polímeros 835