Notas de Aula – Economia Industrial 09_ECOIND_Notas_de_aula_7 BARREIRAS À ENTRADA Bibliografia: KON, Anita. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 2001. (CAPÍTULO 2) KUPFER, D. ; L. HASSENCLEVER. Economia industrial: fundamentos teóricos e práticos no Brasil. Rio de Janeiro:Campus, 2002. (CAPÍTULO 6) V. BARREIRAS À ENTRADA 5.1. INTRODUÇÃO Quando se estudou monopólio e oligopólio em microeconomia, chegou-se à conclusão que o lucro é maior nessas estruturas de mercado do que em mercados competitivos ( onde lucratividade é nula). Estudos empíricos revelam que raramente o grau de concentração e economias de escala são suficientes para explicar a estrutura industrial. Em geral: o escala mínima eficiente < 10% do mercado; o crescimento do custo média em escalas sub-ótimas é pequeno; o relação direta entre lucratividade e concentração de mercado também não está provada Segundo Bain, J. (1940 e 1950), o principal fator na determinação do preço e da lucratividade em uma indústria está relacionado com a facilidade ou dificuldade que as empresas estabelecidas encontram para impedir a entrada de novas empresas. 5.2. FUNDAMENTOS 5.2.1. Concorrência real e potencial Real: Depende do número e tamanho das empresas em cada indústria ( Marshall) Potencial: Competição por lucros entre empresas já estabelecidas em uma determinada indústria e novas empresas interessadas em entrar nessa indústria. já prevista pelos clássicos, sempre que há lucro puro na indústria; a entrada e saída de empresas anula qualquer lucro puro. Se a indústria apresenta lucro puro, então alguma restrição à mobilidade do capital existe. Dizemos então que há barreiras à entrada nessa indústria. Nomenclatura: empresas estabelecidas; empresas entrantes ou potenciais; incentivo à entrada (lucro extraordinário); entrada; saída. Entrada inclui apenas a adição líquida de capacidade produtiva da indústria. Exclui a expansão de indústria já estabelecida ou a fusão ou aquisição de empresa já estabelecida. Saída – eliminação permanente de capacidade produtiva da indústria. Se empresa vendeu seus ativos para terceiros não há saída, mas transferência de ativos. 5.2.2. Barreiras à entrada – definições Qualquer fator que impeça a livre mobilidade do capital para uma indústria no longo prazo e, conseqüentemente, torne possível a existência de lucros supranormais nessa indústria, constitui barreira à entrada. Bain: Barreira à entrada corresponde a qualquer condição estrutural que permita às empresas já estabelecidas em uma indústria praticar preços superiores ao competitivo sem atrair novos capitais. 5.2.3. Modelo do preço Limite (BAIN, 1949) Supondo que indústria está em equilíbrio na qual empresas estabelecidas atuam visando impedir a entrada de novas firmas PUC – CAMPINAS / ECONOMIA 2006 Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL Profa. Nelly 1 Supondo que custo médio tem formato de L. Supondo um modelo com dois curto prazo: 1- antes da entrada e 2 - imediatamente após a entrada Para prevenir a entrada, as empresas estabelecidas; o Fixam preço no nível competitivo (desaparece incentivo à entrada) o Podem fixar preço de forma a maximizar lucro no período 1, ( entradas levariam a lucro nulo) o Fixam preço – PREÇO LIMITE - numa faixa tal que é possível às estabelecidas obter lucro positivo, ao mesmo tempo que nenhuma entrada seja incentivada As empresas podem praticar preços: PM PM- preço de monopólio – lucro máximo PL PC – preço de concorrência perfeita – lucro=0 PL – preço limite que garante certa margem de PC CMédio lucro e não atrai novas entradas na indústria D RMg o Definição de preço limite: Preço limite é o maior preço comum praticado pelos vendedores estabelecidos sem induzir a entrada de novos participantes. o CONDIÇÃO DE ENTRADA = margem E sobre custos médios de longo prazo que as empresas estabelecidas podem incluir no preço competitivo PC sem atrair entradas (Bain) o E = (PL – PC)/PC o Preço limite = PL = PC + E x PC => margem sobre PC Em relação a E: Entrada fácil: E = 0; não há barreiras Entrada ineficazmente impedida: E pequeno, portanto empresas preferem estabelecidas preferem maximizar lucros; investimentos não são de longa maturação Entrada eficazmente impedida: E é significativo, portanto empresas praticam preço limite para barrar entrada se lucro nos dois períodos maior que lucro máximo no primeiro período. Entrada bloqueada: vantagens grandes demais – empresas vão manter lucros permanentes. 5.3. BARREIRAS ESTRUTURAIS À ENTRADA Fontes: o Vantagens absolutas de custos o Preferência dos consumidores pelos produtos das empresas estabelecidas o Estruturas de custos com significativas economias de escala o Capital inicial elevado 5.3.1. Barreiras por vantagens absolutas de custos (FRACAS: presentes em geral nas indústrias extrativas de primeiro processamento, como a metalurgia ou minerais não metálicos e agroindústrias) Sendo CMeLP entrante > CMeLP estabelecida, Se preço limite fixado pela estabelecida PL < CMeLP da entrante, não há entrada. A estabelecida aufere lucro líquido produzindo QL. Caso não houvesse barreira, o preço seria PC e QC seria produzido PUC – CAMPINAS / ECONOMIA 2006 Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL Profa. Nelly 2 Ver figura Kupfer e Hasenclever p. 117 Fontes de diferenciais de custo em favor das estabelecidas: o Aspectos tecnológicos: detenção de patentes; economias decorrente do aprendizado acumulado o Acesso a fontes de matérias primas – recursos naturais o Acesso a recursos humanos de maior qualificação o Acesso a capital pelas facilitado por representarem menor risco porque oferecem garantias reais – menores taxas de juros e menores gastos financeiros o Controle mercado de insumos pela integração vertical Essa barreira não impede a entrada de empresa inovadora com melhor tecnologia que as estabelecidas 5.3.2. Barreiras por existência de economias de escala Para Bain, fracas; Para Modigliani e Sylos-Labini as condições para barreiras de escala são: o Escala mínima eficiente (EME) não negligenciável em comparação com a demanda de mercado o Custos médios de produção em escala subótimas sensivelmente superiores aos custos médios mínimos de LP Ver figura Kupfer e Hasenclever p. 120 Situação 1: Se a empresa entrante sabe que se produzir em escala grande os preços baixam sensivelmente, escolhe uma escala subótima. As estabelecidas praticarão preço limite a seu favor e impedirão a entrada. (escala subótima é uma hipótese forte devido à indivisibilidades na tecnologia das entrantes) Situação 2: A entrante escolhe escala mínima eficiente. Se as estabelecidas não reagirem (não resposta em quantidade), haverá excesso de oferta e o preço cairá para um nível incompatível com a obtenção de lucro pela entrante. Outra reação seria não resposta em preço, e contraem a produção, acomodando assim a entrante. Evitam guerra de preços. Esse é um comportamento ingênuo – cai lucro e estimula a entrada de novas firmas. Mas... Stigler nota que os custos iniciais da nova empresa são os mesmos das estabelecidas, portanto considera que barreiras de escala não existem. 5.3.3. Barreiras por DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS É a mais forte barreira à entrada Se há lealdade dos consumidores com os produtos existente no mercado O custo médio total inclui um custo médio de produção mais um custo médio de penetração no mercado (esforço de venda e propaganda). Esse diferencial de custo é apropriado pelas estabelecidas. O grau dessa barreira depende do tipo de produto e do esforço de venda imposto pelas firmas existentes, e da natureza dos métodos de distribuição (redes de distribuição, por exemplo) É a mais forte barreira porque a primeira empresa a se mover cria as bases para a preferência do consumidor. A empresa entrante precisa deslocar a preferência consolidada do consumidor pelas marcas já estabelecidas. Exemplo: bens duráveis (Brastemp) e de maior valor unitário (automobilística - Chevrolet, VW) Ineficaz se a empresa entrante é subsidiária de uma marca conhecida no exterior (Toyota, Honda) – acontece um spill-over – há transferência de credibilidade do mercado original para o novo mercado 5.3.4. Requerimentos iniciais de capital PUC – CAMPINAS / ECONOMIA 2006 Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL Profa. Nelly 3 Surgem devido a elevadas escalas mínimas eficientes; Refletem a dificuldade de financiar os grandes volumes de capital quando os investimentos iniciais são elevados. Não constitui barreira estrutural porque um investimento lucrativo não deixa de ser feito por escassez de fundos para financiar. Por esse ângulo, barreiras de capital incluem-se em barreiras de custos ( financeiros) Na verdade, os elevados investimentos iniciais são barreiras à SAÌDA, já que são formados por custos irrecuperáveis. 5.4. Modelos de Contestabilidade (Barreiras à saída) TEORIA DOS MERCADOS CONTESTÁVEIS (Baumol et al., início da década de 80) Para a TEORIA DA CONTESTABILIDADE, a estrutura, e mesmo as condutas da firma pouco importam porque o desempenho é função das condições básicas (custos, em particular custos irrecuperáveis) dos mercados. a) A concorrência potencial ganha importância nesse modelo. Os autores apresentam a idéia de contestabilidade de um mercado. Um mercado será perfeitamente contestável se: o não houver barreiras à entrada (vantagem absoluta de custo, diferenciação de produto, escala) ou qualquer outra restrição institucional; o não houver barreiras à saída , ou seja, as firmas estabelecidas podem deixar o mercado sem que com isso incorram em custo o o tempo de resposta da firma estabelecida a uma eventual entrada é superior ao tempo que a entrante leva para iniciar suas operações, sendo que esta pode abandnar o mercado antes de uma retaliação de preços. Observadas essas 3 condições, um mercado é perfeitamente contestável. As entradas funcionam como guerrilhas (hit and run competition).Se uma firma consegue manter seus preços acima dos custos médios de LP, outras firmas podem entrar nesse mercado sem incorrer em custos, antes que as estabelecidas sejam capazes de reagir, e sair assim que as estabelecidas esbocem qualquer retaliação. Portanto, esse processo (de hit and run) é capaz de disciplinar as decisões de preços das empresas, mesmo em monopólio. Qualquer sobrepreço imposto pelas estabelecidas daria lugar a uma entrada lucrativa, até quando ocorresse retaliação de preços. Nesse momento, a empresa entrante abandonaria a indústria sem perdas devido à ausência de custos irrecuperáveis. Ex: linhas aéreas (o avião é um custo fixo, mas não é um custo irrecuperável). b) O desempenho, portanto, depende da existência ou não de custos irrecuperáveis para a empresa entrante. Segundo essa teoria, uma configuração industrial é factível quando todas as empresas atendem a demanda total sem incorrer em prejuízo ( com base em funções de produção e estruturas de custo). Será sustentável, se não há plano possível para que uma empresa entrante tenha lucros com os preços e quantidades que vigoram no mercado. Nesse caso, a indústria pratica preços tais que (custos de entrada) > (receita total – custo total de produção das empresas estabelecidas) Um mercado será sustentável se for factível e se não puder ser contestado. Novamente isso depende da estrutura de produção e dos custos. As empresas ESTABELECIDAS devem produzir em seu tamanho ótimo, apresentando o menor custo possível, caso contrário novas empresas entram. Portanto a pressão exercida pela concorrência potencial é tal que a configuração da estrutura de mercado resultante será factível e sustentável. O equilíbrio é assegurado pela livre mobilidade do capital no sentido clássico, e não por ações e reações das empresas rivais em uma dada indústria. A contribuição de Baumol et al.: PUC – CAMPINAS / ECONOMIA 2006 Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL Profa. Nelly 4 o dissociam concentração de mercado e poder de monopólio (portanto, um oligopólio, desde que perfeitamente contestável, pode ser eficiente) o identificam barreiras à saída como importantes determinantes da concorrência nos mercados. Barreiras à saída decorrem da necessidade de realização de custos irrecuperáveis (sunk costs) de tal modo que uma firma não pode abandonar o mercado sem incorrer em perdas. As barreiras à saída disciplinam a entrada de empresas que tenham o objetivo de aproveitarem-se de lucro temporário. VII. PARADIGMA de ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reúne as principais contribuições da Economia Industrial em uma compilação das principais contribuições (Scherer, 1990). Parte do pressuposto de que há um encadeamento causal da estrutura de mercado para a conduta das empresas e desta para o desempenho econômico. Preocupa-se com a formulação de políticas públicas como condicionante da estrutura-conduta e desempenho. QUESTÕES PARA REVISÃO ( ainda incompleto) 1. Descrever o modelo do preço limite . 2. O que é condição de entrada? 3. Caracterizar o que são barreiras por vantagens absolutas de custo e quais os fatores que podem ocasionar essas vantagens. 4. Caracterizar barreiras devido a economias de escala e analisar qual o peso desse tipo de barreira na entrada de novas firmas na indústria 5. Qual o papel da diferenciação de produtos na criação de barreiras à entrada? Exemplificar. 6. O requerimento inicial de capital para fazer face ao investimento inicial representa uma barreira à entrada? Discuta as opiniões sobre esse assunto. PUC – CAMPINAS / ECONOMIA 2006 Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL Profa. Nelly 5