O Mestre Jesus dos 13 aos 30 anos

Propaganda
JESUS, dos 13 aos 30. Onde ELE esteve ?
Posted by DAVID BISETTO on Friday, September 21, 2012 Under: Cavaleiros Templários
O Novo Testamento contém 27 livros, 7 956 versículos e 138 020 palavras. E uma única referência à juventude de Jesus. O
Evangelho de Lucas nos conta que, aos 12 anos, ele viajou com os pais de Nazaré a Jerusalém para celebrar o Pessach, a
Páscoa judaica. Quando José e Maria retornavam a Nazaré, perceberam que Jesus tinha ficado para trás. Procuraram o
garoto durante 3 dias e decidiram voltar ao Templo, onde o encontraram discutindo religião com os sacerdotes. “E todos
que o ouviam se admiravam com sua inteligência” (Lucas 2:42-49).
Isso é tudo. Jesus só volta a aparecer no relato bíblico já adulto, por volta dos 30 anos, ao ser batizado no rio Jordão por
João Batista. É quando o conhecemos realmente. Da infância, as Escrituras falam sobre o nascimento em Belém, a fuga com
os pais para o Egito –para escapar de uma sentença de morte impetrada por Herodes, rei dos judeus – e a volta para Nazaré.
Da vida adulta, o ajuntamento dos apóstolos e a pregação na Galileia, além do julgamento e da morte em Jerusalém. Mas o
que aconteceu com Jesus entre os 12 e os 30 anos? Qual foi sua formação, o que moldou seu pensamento nesses 18 “anos
ocultos”? Afinal, o que ele fez antes de profetizar na Galileia?
A notícia para quem deseja reconstruir o Jesus histórico é que novas análises dos Evangelhos, documentos históricos e
achados arqueológicos nos dão pistas sobre a sociedade da época. E dessa forma podemos chegar mais perto de conhecer o
homem de Nazaré. E entender o que passava em sua cabeça.
O pedreiro com muitos irmãos
Uma coisa é certa. Aos 13 anos, Jesus celebrou o bar mitzvah, ritual que marca a maioridade religiosa do judeu. E é bem
provável que ele tenha seguido a profissão de José, seu pai. Carpinteiro? Talvez não. “Em Marcos, o mais antigo dos
Evangelhos, Jesus é chamado de tekton, que no grego do século 1 designava um trabalhador do tipo pedreiro, não
necessariamente carpinteiro”, diz John Dominique Crossan, um dos maiores especialistas sobre o tema. Para o historiador,
os autores de Mateus e Lucas, que se basearam em Marcos, parecem ter ficado constrangidos com a baixa formação de
Jesus. E deram um jeito de melhorar a coisa. Mateus (13:55) diz que o pai de Jesus é que era tekton. E Lucas omitiu todo o
versículo.
As mesmas passagens de Marcos e Mateus informam que Jesus tinha 4 irmãos (Tiago, José, Simão e Judas), além de irmãs
(não nomeadas). Mas dá para ir mais longe a partir dessa informação. “Se os nomes dos Evangelhos estão corretos, a
família de Jesus era muito orgulhosa da tradição judaica. Seus 4 irmãos tinham nomes de fundadores da nação de Israel”,
diz a historiadora Paula Fredriksen, da Universidade de Boston. “Seu próprio nome em aramaico, Yeshua, recordava o
homem que teria sido o braço direito de Moisés e liderado os israelitas no êxodo do Egito, mais de mil anos antes.” Assim, a
família teria pelo menos 9 pessoas, mas nem por isso era pobre. Nazaré ficava a apenas 8 km de Séforis –um grande centro
comercial onde o rei Herodes, o Grande, governava a serviço de Roma. Com a morte dele, em 4 a.C., militantes judeus se
revoltaram contra a ordem política. Deu errado: o general romano Varus chegou da Síria para reprimir os rebeldes. E seu
amigo Gaio completou o serviço, queimando a cidade.“Homens foram mortos, mulheres estupradas e crianças
escravizadas”, diz Crossan. Mas a destruição de Séforis teve um lado positivo: Herodes Antipas, filho do “o Grande”,
transformou o lugar num canteiro de obras. Isso trouxe uma certa abundância de empregos para a região. Um pequeno
boom econômico. Então o ambiente ao redor da família de Jesus não era de privações. “A reconstrução da cidade deve ter
gerado muito trabalho para José”, diz Paula Fredriksen.
Jesus nasceu no ano da destruição da cidade, 4 a.C. Ou perto disso. O Evangelho de Mateus diz que Jesus nasceu no tempo
de Herodes, o Grande (4 a.C. ou antes). Lucas coloca o nascimento na época do primeiro censo que o Império Romano
promoveu na Judeia. E isso aconteceu, segundo as fontes históricas romanas, em 6 a.C. A única certeza, enfim, é que “foi
por aí” que Jesus nasceu. E que o ódio contra o que os romanos tinham feito em Séforis permeava o ambiente onde ele
viveu. “Não é difícil imaginar que Jesus pensou muito sobre os romanos enquanto crescia”, diz Crossan.
Na década de 20 d.C., quando Jesus estava nos seus 20 e poucos anos, o sentimento antirromano cresceu mais ainda. Pôncio
Pilatos assumiu o governo da Judéia cometendo o maior pecado que poderia: desdenhar da fé dos judeus no Deus único.
Mas, em vez de se unir contra o romano, os judeus se dividiram em seitas. Os saduceus, por exemplo, eram os mais
conservadores. Os fariseus eram abertos a ideias novas, como a ressurreição – quando os justos se ergueriam das tumbas
para compartilhar o triunfo final de Deus. Os essênios viviam como se o fim dos tempos já tivesse começado: moravam em
comunidades isoladas, que faziam refeições em conjunto seguindo estritas leis de pureza. Já os zelotes defendiam a luta
armada contra os romanos.
Em qual dessas seitas Jesus se engajou na juventude? Não há consenso entre os pesquisadores. Para alguns, porém, existem
semelhanças entre a dos essênios e o movimento que Jesus fundaria – ambas as comunidades viviam sem bens privados,
num regime de pobreza voluntária, e chamavam Deus de “pai”. Essa hipótese ganhou força com a descoberta dos
Manuscritos do Mar Morto, em 1947. Eles trouxeram detalhes sobre uma comunidade asceta de Qumran, que viveu no
século 1 e estaria associada aos essênios. O achado arqueológico não provou a ligação entre Jesus e essa seita. Até porque
os essênios eram sujeitos reclusos, ao passo que Jesus foi pregar entre as massas da Galileia e Jerusalém.
Jesus podia não ser essênio. Mas, para alguns estudiosos, seu mentor foi.
João, o mestre
Dois dos 4 Evangelhos começam a falar de João Batista antes de mencionar Jesus. É em Marcos e João. O homem que
batizaria Cristo aparece descrito como um profeta que se vestia como um homem das cavernas (“em pelos de camelo”) e
que vivia abaixo de qualquer linha de pobreza traçável (“comia gafanhotos e mel silvestre”).
Para a historiadora britânica Karen Armstrong, outra grande especialista no tema, isso indica que João pode ter sido um
essênio. A vocação “de esquerda” que Jesus mostraria mais tarde, inclusive, pode vir da ligação do mestre João com a
“sociedade alternativa” dos essênios. “É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no
reino de Deus”, ele diria mais tarde.
Os Evangelhos não falam de João como mestre de Jesus. Nada disso. Ele apenas reconhece Jesus como o Messias na
primeira vez que o vê. Os textos sagrados também informam que ele usava o batismo como expediente para purificar seus
seguidores, que deviam confessar seus pecados e fazer votos de uma vida honesta.
Então Jesus aparece pedindo para ser batizado. Na Bíblia, esse é o primeiro momento em que vemos o Messias após aqueles
18 anos de ausência. Depois de purificado nas águas do rio Jordão, Jesus parte para sua vida de pregação, curas e milagres.
A vida que todos conhecem.
Para quem entende esse relato à luz da fé, isso basta. Mas é pouco para quem tenta montar um panorama da vida de Jesus,
um retrato puramente histórico de quem, afinal, foi o homem da Galileia que sairia da vida para entrar na Bíblia como o
Deus encarnado. E uma possibilidade é que Jesus tenha sido um discípulo de João Batista. Discípulo e sucessor.
As evidências: tal como João Batista, Jesus via o mundo dividido entre forças do bem e do mal. E anunciava que Deus logo
interviria para acabar com o sofrimento e inaugurar uma era de bondade. Em suma: tanto um como o outro eram o que os
pesquisadores chamam de“profetas apocalípticos”. E se os Evangelhos jogam tanta luz sobre João Batista (Lucas fala
inclusive sobre o nascimento do profeta, assim como faz com Jesus), a possibilidade de que a relação deles tenha sido mais
profunda é real.
O grande momento de João Batista na Bíblia, porém, não é o batismo de Jesus. É a sua própria morte. Morte que abriria as
portas para o nosso Yeshua, o Jesus da vida real, começar o que começou.
E Yeoshua vira Cristo
João Batista podia se vestir com pele de animal e se alimentar de gafanhotos. Mas tinha a influência de um grande líder
político. Prova disso é que morreu por ordem direta de Antipas. O Herodes júnior tinha violado o 10º mandamento da lei
judaica: “Não cobiçarás a mulher do próximo”. Não só estava cobiçando como estava de casamento marcado com a exmulher do irmão, Felipe. João condenou a atitude do rei publicamente. E acabou executado.
Mateus deixa claro como Jesus, então já com seus 12 discípulos e em plena pregação, recebeu a notícia:“Ouvindo isto,
retirou-se dali para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades”. Logo na sequência, o
Cristo emenda o maior de seus milagres. Sentido com a fome da multidão que ia atrás dele, pegou 5 pães e dois peixes (tudo
o que os apóstolos tinham) e foi dividindo. Passava os pedaços aos discípulos, e os discípulos à multidão. “E os que
comeram foram quase 5 mil homens, além das mulheres e crianças” (Mateus 14:21). Horas depois, no meio da madrugada,
outro milagre de primeiro escalão: Jesus apareceria para os apóstolos andando sobre as águas.
Esses episódios, claro, são parte da vida conhecida de Jesus (ou da mitologia cristã, em termos técnicos). Mas deixam claro:
a morte de João foi importante a ponto de ter sido seguida de dois dos grandes episódios da saga de Cristo. O filho do
pedreiro assumiria o vácuo religioso deixado pelo profeta. Agora sim: Yeshua caminharia com as próprias pernas. E
começaria a virar Jesus Cristo. “Ele não só assumiu o manto de João, mas alterou sua doutrina. A diferença interessante
entre João Batista e Jesus Cristo é que Jesus ergueu o manto caído de Batista e continuou seu programa mudando
radicalmente sua visão”, diz Crossan.
Ele continua: “João dizia que Deus estava chegando. Mas João foi executado e Deus não veio”. Ou seja: para o pesquisador,
Jesus teria ficado tão chocado ante a não-intervenção divina que mudou sua visão sobre o que o Reino de Deus significava.
“João Batista havia imaginado uma intervenção unilateral de Deus. Jesus imaginou uma cooperação bilateral: as pessoas
deveriam agir em combinação com Deus para que o novo reino chegasse”,diz o pesquisador. Ou seja: não adiantaria esperar
de braços cruzados. O negócio era fazer o Reino dos Céus aqui e agora. Como? Primeiro, extinguindo a violência. Mas e se
alguém me der um soco, senhor? “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra” (Lucas 6:29). Depois, amando ao
próximo como a ti mesmo, ajudando ao pior inimigo se for necessário, como fez o bom samaritano da parábola famosa…
Em suma, a essência da doutrina cristã.
A natividade
Agora, um aparte: chamar de “anos ocultos” apenas a juventude de Jesus é injustiça. O nascimento também é uma incógnita
completa. A começar pela data de nascimento: 25 de dezembro era a data em que os romanos celebravam sua festa de
solstício de inverno, a noite mais longa do ano. Não porque gostassem de noites sem fim, mas porque ela marcava o começo
do fim do inverno. Praticamente todos os povos comemoram esse acontecimento desde o início da civilização – nossas
festas de fim de ano, a semana entre o Natal e o Ano-Novo são um reflexo disso. O dia em que Jesus nasceu não consta na
Bíblia – foi uma imposição da Igreja 5 séculos depois, para coincidir o nascimento do Messias com a festa que já acontecia
mesmo – com troca de presentes e tudo.
“Na verdade, não sabemos nada histórico sobre Jesus antes de sua vida pública, já que os dois primeiros capítulos de
Mateus e Lucas [os que relatam o nascimento] são basicamente parábolas, não história”, diz Crossan. De acordo com
Mateus, José soube num sonho que Maria daria à luz um menino concebido pelo Espírito Santo. Quando Jesus nasce, magos
surgem do Oriente e seguem uma estrela que os conduz a Jerusalém. Lá, eles ficam sabendo que o Cristo nasceu em Belém.
Seguindo a estrela, os magos chegam à cidade para adorar o menino e lhe regalam com ouro, incenso e mirra. Mas Herodes
fica perturbado com o nascimento e manda soldados matarem todos os bebês de até 2 anos em Belém. Assim, José foge
com a família para o Egito e depois vai morar em Nazaré, na Galileia, onde Jesus é criado.
“Não há nenhum relato, em qualquer fonte antiga, sobre o rei Herodes massacrar crianças em Belém, ou em seus arredores,
ou em qualquer outro lugar. Nenhum outro autor, bíblico ou não, menciona isso”, diz o teólogo americano Bart D. Ehrman
no livro Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não Foi? No relato de Lucas, o anjo Gabriel vai à casa de Maria, em Nazaré, e lhe
avisa que daria à luz um futuro rei. E que o “Filho de Deus” se chamaria Jesus. Maria era uma virgem prometida a José, e o
anjo lhe explicou que o filho seria gerado pelo Espírito Santo. Lucas diz que naquela época, “quando Quirino era
governador da Síria”, um decreto do imperador Augusto obrigou os súditos a se registrar no primeiro censo do Império.
Todo mundo devia retornar à cidade de origem para se alistar. Como os ancestrais de José eram de Belém, ele foi com
Maria grávida para lá. Jesus nasceu em Belém pouco depois, e foi envolvido em panos na manjedoura. Lá o menino recebeu
a visita de pastores e foi circuncidado aos 8 dias, para depois passar a infância em Nazaré.
“Os problemas históricos em Lucas são ainda maiores”, diz Ehrman. “Temos registros do reinado de Augusto, e em nenhum
deles há referência a um censo para o qual todos teriam de se registrar retornando ao lar dos ancestrais.”
Ok, mas afinal por que Mateus e Lucas fazem Jesus nascer em Belém? Bom, de acordo com uma profecia do livro de
Miqueias, do Antigo Testamento, o salvador viria de lá. Por que de lá? Porque era a cidade do rei Davi, o mais lendário dos
soberanos de Israel. Depois que o general Pompeu invadiu a Judeia, em 63 a.C., e fez dela província do Império Romano, os
profetas passaram a dizer que um rei da linhagem de Davi inauguraria o “reino de Deus”. Chamavam essa figura de “o
ungido” – já que Davi e outros reis israelitas haviam sido ungidos com óleo. Os Evangelhos foram escritos em grego, o
inglês da época. E em grego “ungido” é christos. O Cristo tinha que nascer em Belém. Yeshua provavelmente era de Nazaré
mesmo.
Os Evangelhos, por sinal, são obra de autores desconhecidos. É apenas uma convenção dizer que foram escritos por Marcos
(secretário do apóstolo Pedro), Mateus (o coletor de impostos), João (o “discípulo amado”) e Lucas (o companheiro de
viagem de Paulo). Além disso, os escritores não foram testemunhas oculares. “O autor de Marcos escreveu por volta do ano
70. Mateus e Lucas, de 80. E João, no final dos 90″, diz Karen Armstrong. E claro: “Eram cristãos. Eles não estavam
imunes a distorcer as histórias à luz de suas crenças”, diz Ehrman. Afinal, “evangelho” deriva da palavra grega euangélion,
que significa “boas novas”. O objetivo dos autores não era escrever a biografia de Jesus, e sim propagar a nova fé. Levando
isso em conta, chegamos a outra polêmica: os anos considerados como os mais conhecidos da vida de Jesus também são
cheios de episódios misteriosos. Vejamos.
Yeoshua sai da vida para entrar na Bíblia
Talvez tenha sido em busca de audiência que Yeshua rumou com os discípulos da Galileia para Jerusalém, por volta do ano
30 d.C. Depois de 3 anos pregando na periferia, já seria hora de atuar no palco principal.
Jerusalém era o pivô do fermento espiritual judaico, e milhares de judeus iam para lá na Páscoa. Os Evangelhos nos dizem
que Jesus causou um tumulto no local, destruindo as banquinhas de câmbio (que trocavam moedas estrangeiras dos
romeiros por dinheiro local cobrando uma comissão), já que seria uma ofensa praticar o comércio em pleno Templo de
Jerusalém, o lugar mais sagrado da Terra para os judeus. Por perturbar a ordem pública, ele foi condenado à cruz. Parece
historicamente sólido, mas o episódio central do Novo Testamento também é fonte de reinterpretações.
No julgamento, por exemplo, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus –já que era
“costume” da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Além disso, Jesus
pode não ter sido exatamente crucificado, mas “arvorificado”. É a teoria (controversa, é verdade) do arqueólogo Joe Zias, da
Universidade Hebraica de Jerusalém. Suas pesquisas indicam que as vítimas dos romanos eram mais comumente
crucificadas em árvores, pregando uma tábua de madeira no tronco para prender os braços do condenado. Seja como for,
não há por que duvidar de que ele tenha sido executado. Roma usava e abusava do expediente para tentar manter o controle
das regiões que conquistava. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu do século 1, numa só ocasião 2 mil judeus foram
executados.
A história de Jesus não acaba aí, claro. “Alguns discípulos estavam convencidos de que ele ressuscitara. E que sua
ressurreição anunciava os últimos dias, quando os justos se reergueriam das tumbas”, diz Armstrong. Para esses judeus
cristãos, Jesus logo retornaria para inaugurar o novo reino. O líder do grupo era Tiago, irmão de Jesus, que tinha boas
relações com fariseus e essênios. E o movimento se expandiu. Quando Tiago morreu, em 62, Jerusalém vivia o auge da
crise política. Em 66, romanos perseguiram os judeus com medo de uma insurgência. Os zelotes se rebelaram e
conseguiram manter as tropas do Império afastadas por 4 anos. Com medo de que a rebelião judaica se espalhasse, Roma
esmagou os revoltosos. Em 70, o imperador Vespasiano sitiou Jerusalém, arrasou o Templo e deixou milhares de mortos.
“Não temos ideia de como seria o cristianismo se os romanos não tivessem destruído o Templo”, diz Armstrong.“Sua perda
reverbera ao longo dos livros que formam o Novo Testamento. Eles foram escritos em resposta à tragédia.”
Para os pesquisadores, então, os textos sagrados refletem a realidade da Judeia do final do século 1 – e não a do início, a que
Jesus viveu de fato. Por exemplo: Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar
romanos na calada da noite, como uma forma de vingança pela destruição do Templo. E que por isso mesmo eram
assassinos amados pela população. Quer dizer: Barrabás seria um personagem típico da década de 70 d.C., inserido no
episódio da morte de Jesus, fato que aconteceu na década de 30 d.C, num momento em que o ódio aos romanos e o louvor a
quem se dispusesse a matá-los não eram tão violentos.
Até a época em que os Evangelhos foram escritos, o movimento de Jesus era apenas um entre as várias seitas judaicas. Os
primeiros cristãos se diziam “o verdadeiro Israel” e não tinham intenção de romper com a corrente principal do judaísmo.
Mas tudo mudou com a destruição do Templo.
Ela intensificou a rivalidade entre as facções judaicas. “Em sua ânsia por alcançar o mundo gentio (o dos não-judeus), os
autores dos Evangelhos estavam dispostos a absolver os romanos da execução de Jesus e declarar, com estridência
crescente, que os judeus deviam carregar a culpa”, diz Armstrong. João, o Evangelho mais virulento, declara que os judeus
são “filhos do Diabo” (João 8:44). Até o autor de Lucas, que tinha uma visão mais positiva do judaísmo, deixou claro que
havia um bom Israel (os seguidores de Jesus) e um Israel mau – os fariseus. A rixa com os fariseus tem lógica, já que eram
competidores diretos dos judeus cristãos. “Num extremo do judaísmo estavam os saduceus, a ala mais conservadora. No
outro, os essênios, a mais radical. Já os fariseus e os judeus cristãos estavam no meio. Eles lutavam pela mesma coisa: a
liderança do povo, que estava entre as duas pontas”, diz Crossan.
Não é surpresa, aliás, que os livros do Novo Testamento contenham tantas contradições entre si. “Quando os editores finais
do Novo Testamento juntaram esses textos, no início da Idade Média, não se incomodaram com as discrepâncias. Jesus
havia se tornado um fenômeno grande demais nas mentes dos cristãos para ser atado a uma única definição”, diz
Armstrong. Os Evangelhos atribuídos a Marcos, Lucas, Mateus e João seriam finalmente selecionados para o cânon da
Igreja. Dezenas de outros evangelhos ficaram de fora.
Só no século 2, quase 100 anos após a morte de Jesus, começam a aparecer relatos sobre ele no centro do Império. Um deles
é uma carta do político romano Plínio ao imperador Trajano. Plínio cita pessoas conhecidas como “cristãs” que veneravam
“Cristo como Deus”. Outra fonte é o historiador romano Tácito, que menciona os “cristãos (…), conhecidos assim por causa
de Cristo (…), executado pelo procurador Pôncio Pilatos”. Suetônio, que escreveu pouco depois de Tácito, informa sobre
uma perseguição de cristãos,“gente que havia abraçado uma nova e perniciosa superstição”. Uma “superstição”cuja
mensagem convenceria cada vez mais gente, a ponto de, no século 4, o imperador romano em pessoa (Constantino, no caso)
converter-se a ela. E o resto é história. Uma história que chega ao seu segundo milênio. Com 2 bilhões de seguidores.
Download