MPHP - Site Racionalista Humanista Secular Jesus x Cristo Tarciso S. Filgueiras Para muitas pessoas, Jesus Cristo seria um nome composto, assim como João Paulo, Roberto Carlos, Maria Helena, etc. Isto é, um estaria sempre associado ao outro ou, ainda mais, um seria sinônimo do outro. Tanto faz dizer Jesus ou Cristo. Esta maneira de ver parece não ter suporte histórico, porém pode estar baseada unicamente na interpretação teológica e na apologética cristã. Segundo os dois evangelhos canônicos que tratam da infância de Jesus (Mateus e Lucas, já que em Marcos e João, Jesus já aparece como adulto), o nome dado ao recém nascido filho de Maria é Jesus. Mateus afirma que um anjo anunciou, em sonho, o nascimento do menino a José e que ele deveria chamá-lo “com o nome de Jesus” (Mt 1: 21). Em seguida, Mateus traz à tona a curiosa profecia de Isaías que diz: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel” (Mt 1: 23). Aqui aparece a proposta para um segundo nome para esta mesma criança, Emanuel. Em Lucas, o anjo anuncia a Maria que ela conceberá e dará à luz um filho e que deverá chamá-lo “com o nome de Jesus” (Lc 1: 31). Portanto, mesmo antes de vir ao mundo, existem dois nomes para esta criança de nascimento miraculoso, Jesus e Emanuel. Um deveria ser o nome pessoal, ou prenome. O outro, um título pelo qual ele seria, mais tarde, conhecido. Isto parece não ter ocorrido, já que nos demais textos evangélicos, Jesus é chamado por vários nomes (Senhor, Mestre, Rabi, Raboni, etc.), mas nunca de Emanuel. E o nome Cristo, como surgiu? Como foi incorporado ao nome de Jesus, como se fizesse parte intrínseca dele? O nome Cristo aparece bem mais tarde, no desenvolvimento do mito cristão. No âmbito da Palestina do século I, o messias esperado por certas seitas judaicas era chamado de mashiach. Portanto, uma palavra bem distinta de cristo. Este nome só aparece quando o movimento cristão atingiu as comunidades que falavam o grego, tanto os judeus da diáspora, que viviam fora do território judaico, quanto gentios gregos e helenizados. A palavra é derivada do verbo grego khrío, com o significado de ungir. Na cultura judaica do Velho Testamento, reis e profetas, para assumirem plenamente suas funções, deveriam ser ungidos com um óleo sagrado, especialmente preparado pelos sacerdotes do Templo. A mistura continha azeite de oliva, canela, mirra, cálamo doce e cássia. Esta importante cerimônia de unção os credenciava para exercer sua função mística e guerreira. Cristo, portanto, significa ungido. Os termos crisma, crismado, etc. são todos cognatos desta mesma raiz. Quando os missionários judeus e judaizados começaram a anunciar o cristianismo aos não judeus, em língua grega, eles pregavam que Jesus era o messias, isto é, o Cristo, o ungido do Pai. E foi dentro deste contexto que o nome se propagou pelo mundo, foi registrado nos diversos evangelhos e chegou até nós. Portanto, Jesus é o nome da personagem histórica. Cristo é sua interpretação teológica, conferida pela fé dos que acreditam que Jesus representa a encarnação da divindade em um indivíduo do sexo masculino pertencente à espécie Homo sapiens. Segundo esta interpretação, Deus se tornou presente na História, se tornou sujeito na e da História. Desde então, como canta o compositor brasileiro Ivan Lins, “Deus está conosco até o pescoço”. Para quem aceita esta doutrina, eis que, finalmente, a profecia de Isaías se realizou: Emanuel! http://www.mphp.org Fornecido por Joomla! Produzido em: 29 May, 2017, 07:36 MPHP - Site Racionalista Humanista Secular Bibliografia Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Ed. Paulus, 2002. Filgueiras, T.S. Ensaio sobre Jesus: Revelando o homem. São Paulo, Livro Pronto, 2ª ed., 2006. Lindell, H.G. & Scott, R. A Greek-English lexicon. Oxford University Press. 1940. Thiering, B. Jesus the man, Corgi, 1978. http://www.mphp.org Fornecido por Joomla! Produzido em: 29 May, 2017, 07:36