UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS, SEGUNDO UMA ABORDAGEM DA COMPETITIVIDADE DAS FIRMAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL [email protected] Apresentação Oral-Comércio Internacional DIEGO DONIZETTI GONÇALVES MACHADO. UNIVERSIDADE DE BRASILIA, GAMA - DF - BRASIL. Uma análise do processo de internacionalização dos frigoríficos brasileiros, segundo uma abordagem da competitividade das firmas no comércio internacional Grupo de Pesquisa: Comércio internacional Resumo O objeto de estudo deste trabalho é verificar os impactos das estratégias implementadas recentemente pelos frigoríficos brasileiros na competitividade destes agentes no cenário global. Utiliza-se como referencial teórico a Nova Economia Institucional (NEI), especialmente, a Economia dos Custos de Transação; as teorias sobre competitividade e as teorias econômicas de internacionalização de empresas. A hipótese central do trabalho considera que as estratégias implementadas tornaram os frigoríficos brasileiros mais competitivos, especialmente a estratégia de internacionalização. A partir de informações coletadas em estudos realizados sobre o tema, conclui-se que as dez estratégias recentemente adotadas pelos frigoríficos brasileiros possuem indicativos de impacto positivo em sua competitividade. A internacionalização permitiu que se tornassem responsáveis por 51% das exportações globais de carne bovina, comprovando assim, o ganho de poder de competição no mercado internacional. Palavras-chaves: Internacionalização; Competitividade; Frigoríficos, Sistema Agroindustrial; Agronegócio Abstract The study’s object of this work is check the impacts of strategies recently implemented by brazilian cold storage rooms (refrigerators) in competitiveness of these agents in the global scenery. The New Institucional Economy (NEI), especially, the Economy of the Costs of Transaction are used as theoretical referencial system, the theories on competitiveness and the economic theories of companies’s internationalization. The main hypothesis of the work considers that the implemented strategies had become the more competitive brazilian cold storage rooms, especially the internationalization strategy. From the information collected in studies carried through on the subject, one concludes that the ten strategies recently adopted by the brazilian cold storage rooms (refrigerators) possess indicatives of positive impact in the competitiveness. The internationalization allowed them to became 1 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural responsible for 51% of the global exportations of bovine meat, proving in that way, the profit of power competition in the international market. Key Words: Internationalization; Competitiveness; Refrigerators; Agroindustrialist System; Agrobusiness 1. INTRODUÇÃO A economia mundial encontra-se em um contexto de constante e rápida evolução. Isto tem feito com que o ambiente de comercialização de bens e serviços se torne cada vez mais complexo e instável. Para Palacios e Souza (2004), isto tornou o conhecimento dos mercados fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento de empresas. Tratando-se de mercado internacional, torna-se ainda mais importante conhecer os consumidores, concorrentes, oportunidades e restrições dos diferentes mercados. Neto (2007) afirma que “neste novo cenário de negócios, o bom desempenho das empresas está diretamente relacionado à obtenção de vantagens competitivas sustentáveis”. Assim, as firmas devem analisar bem o mercado e sua posição neste para elaborar e implementar estratégias que garantam sua competitividade frente aos seus concorrentes. A economia brasileira tem passado por importantes mudanças nas duas últimas décadas, devido ao processo de abertura econômica, que levou à integração do País à economia global. Essas mudanças têm exigido cada vez mais dos setores do agronegócio brasileiro e, apesar, do Brasil ocupar posição de destaque no mercado mundial de produtos agropecuários, muito se tem discutido sobre a competitividade do agronegócio brasileiro e a sustentabilidade dessa posição de destaque no longo prazo. A agroindústria é um dos mais importantes setores do agronegócio, devido à agregação de valor que proporciona aos produtos e à sua participação no comércio internacional, que é importante para resultados comerciais superavitários, contribuindo de forma positiva para o saldo do Balanço de Pagamentos. Porém, a competitividade desse setor estratégico para o desenvolvimento do Brasil e dos demais países do Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) é questionável, dentre outros motivos, porque são facilmente identificados, nestes países, gargalos1 que afetam as atividades do agronegócio e dos demais setores da economia. O Sistema Agroindustrial (SAG) da Carne Bovina, que está totalmente inserido no contexto de negócios globais mencionado no início desta introdução, é fortemente afetado por tais problemas. Além disso, quando se trata de comércio internacional, todo o agronegócio brasileiro tem seu desenvolvimento negativamente afetado também por barreiras tarifárias e técnicas2. 1 Um gargalo que afeta muito o setor exportador brasileiro é o da infra-estrutura. Este motivou inclusive a criação de um dos maiores programas do Governo Lula, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para mais informações sobre o Programa acessar: http://www.brasil.gov.br/pac/ 2 Barreiras técnicas, considerando o estipulado pela OMC, são barreiras comerciais derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não-transparentes ou não-embasados em normas internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes 2 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural As barreiras tarifárias são utilizadas em grande parte pelos países industrializados, com a justificativa de defender seus produtores e agroindustriais, uma vez que o Brasil e outros países emergentes apresentam baixos custos na produção agrícola. Já as técnicas são ligadas a questão de qualidade para proteger a saúde do consumidor. No caso da carne bovina, as barreiras mais conhecidas são as sanitárias, ligadas a questão da rastreabilidade do rebanho brasileiro, feita por meio do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV); e às cotas de importação, especialmente a Cota Hilton3, praticada pela União Européia (UE). Dessa forma, a agroindústria brasileira precisa ampliar o acesso a mercados hoje fechados e minimizar os efeitos negativos dos gargalos que afetam a economia do País. Com relação às barreiras impostas no mercado internacional, a estratégia brasileira está focada nos processos de negociações internacionais, desenvolvidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), entre os governos dos países. São reconhecidos os avanços realizados no âmbito das negociações internacionais nos últimos anos, especialmente aqueles provenientes da Rodada do Uruguai4. A limitação deste processo é a lentidão da tomada de decisões, devido à forte influência das relações políticas. Isto, porque, apesar dos agentes privados participarem das negociações, a decisão é tomada pelos representantes governamentais dos países. Para minimizar os impactos negativos gerados pelos gargalos da economia, os frigoríficos brasileiros – elo industrial do SAG de Carne Bovina – estão implementando algumas estratégias, dentre as quais destacamos a internacionalização, processo desenvolvido, principalmente, por meio de aquisições de empresas em território estrangeiro. Isto demonstra claramente que os agentes privados estão buscando caminhos próprios para ampliar sua competitividade no comércio internacional, como é o caso da estratégia citada acima. Parte das estratégias adotadas pelos frigoríficos baseia-se na Economia de Custos de Transação (ECT), parte teórica da Nova Economia Institucional (NEI). Esse é um fato positivo na atitude dos frigoríficos, uma vez que uma análise dos estudos recentes sobre o agronegócio deixa claro que a discussão sobre competitividade dos sistemas agroindustriais do agronegócio deve levar em conta a economia de custos de transação e a noção de coordenação ou estrutura de governança. Assim, merece destaque a questão das relações contratuais entre os elos dos sistemas agroindustriais, estudada na economia de custos de transação. Uma má definição dos contratos leva ao estabelecimento de relações instáveis, o que pode gerar prejuízos aos empresários e, conseqüentemente, ao país. Uma saída apresentada pela Economia dos da adoção de procedimentos de avaliação da conformidade não-transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções excessivamente rigorosas. Podemos citar as barreiras ambientais, sanitárias, sociais, dentre outras. 3 Cota Hilton é o prêmio oferecido pela União Européia, que permite a entrada de 58.100 toneladas de cortes bovinos nobres com uma tarifa de 20% ad valorem - superior à nacional. A Argentina tem uma cota de 28 mil toneladas, enquanto a do Uruguai é de 6,3 mil toneladas e a do Brasil, 5 mil toneladas. 4 Ver mais sobre a Rodada do Uruguai no site oficial da Organização Mundial do Comércio, pelo link www.wto.org. 3 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Custos de Transação é a verticalização do processo produtivo. O fato é que este é um dos principais objetivos buscados pelos frigoríficos a partir da internacionalização. Segundo a teoria, o processo de integração vertical proporciona uma melhoria de competitividade das empresas. Isso justifica os investimentos pesados realizados pelos frigoríficos brasileiros na internacionalização, que, nos últimos anos, realizaram aquisições de diversos frigoríficos no Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL) e em outros países estratégicos, como nos Estados Unidos da América (EUA) e em alguns membros da UE. O Frigorífico JBS-Friboi, por exemplo, desde 1995 o grupo vem realizando aquisições de frigoríficos no Brasil e no MERCOSUL. E com a compra do frigorífico argentino Swift Armour, em 2005 e do norte-americano Swift Foods, em 2007, passou a ser dono de 45% do mercado mundial de carnes, tornando-se assim, "a maior empresa do mundo no setor de alimentos de proteína de origem bovina e a maior empresa brasileira na área alimentícia5". Além do JBS-Friboi, outros frigoríficos brasileiros também estão usando essa estratégia, como é o caso do Marfrig, Minerva e Bertin. A idéia de se internacionalizar, especialmente no MERCOSUL, está ligada a dois fatores fundamentais. Primeiro, a idéia é criar um “hedge” sanitário, já que o Brasil nos últimos anos tem apresentado graves problemas sanitários, o que tem prejudicado a rentabilidade de todo o SAG. Segundo, a idéia de que as negociações multilaterais no âmbito da rodada de Doha, que praticamente fracassaram6, não possibilitarão maior acesso brasileiro aos mercados europeu, estadunidense e japonês, que permanecem protegendo fortemente seus mercados internos. Alguns fatores têm forte influência no resultado do agronegócio brasileiro. O cenário internacional de negociação de commodities, por exemplo, está bastante volátil nos últimos anos. Os preços, principalmente das commodities ligadas à energia e alimentos, vinham se elevando de forma acentuada. Isto significou, apesar da forte valorização do Real frente ao Dólar, um aumento no retorno recebido pelos agentes econômicos do agronegócio. Apesar deste aumento da rentabilidade, há de se ressaltar que neste período também tem ocorrido uma elevação dos custos de produção7, porém em menor intensidade. Essa inflação nos preços dos alimentos fez com que, no inicio de 2008, se desencadeasse uma crise em nível mundial, onde surgiram inclusive revoltas populares devido à falta de alimentos em alguns países mais pobres. Diante dessa crise, surgiram diferentes análises e alguns especialistas chegaram a afirmar que esta situação poderia levar a mais protecionismo. Porém, nos últimos meses os preços das commodities energéticas e de alimentos têm sofrido uma queda acentuada, devido a outro fato fundamental para contextualizar a análise de qualquer atividade econômica na atualidade, que é a crise financeira internacional. 5 http://indexet.gazetamercantil.com.br/arquivo/2008/03/12/361/Brasileiras-apostam-no-crescimento.html, acessado em 08 de outubro de 2008. 6 Ler mais sobre o possível fracasso da Rodada de Doha no site oficial da Organização Mundial do Comércio, pelo link www.wto.org. 7 Segundo a publicação Ativos da Pecuária de Corte de junho de 2008, produzida pelo CEPEA/Esalq e pela CNA, desde março de 2003, quando começaram a realizar a pesquisa, nunca foi verificado um ritmo de aumento de custos tão intenso como que foi observado em 2008,. 4 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Esta crise que teve sua origem nos Estados Unidos, particularmente no setor imobiliário americano. Porém, atingiu dimensões maiores e além de afetar o setor financeiro de outros países da Europa e Ásia, está tendo efeito negativo na economia real americana e européia, gerando a possibilidade de recessão em vários países. Isto significa que o crescimento mundial será menor nos próximos anos, o que pode desaquecer o comércio e diminuir o nível de capital disponível para as empresas financiarem seu processo de internacionalização. Além da diminuição da internacionalização dos frigoríficos, o impacto da crise pode afetar negativamente as exportações de carne bovina, gerando uma diminuição do preço recebido pelos exportadores e, conseqüentemente, pelos produtores. Levando em conta a escassez de crédito no mercado financeiro mundial, além da queda de preços, pode ocorrer uma diminuição na produção de carne bovina e no uso de tecnologia na atividade, fatores que incidem diretamente na competitividade dos atores deste SAG no longo prazo. Assim, a questão que se levante neste trabalho é: sob o ponto de vista da necessidade de superar os gargalos da economia brasileira e as barreiras comerciais aplicadas no comércio internacional, as estratégias implementadas pelos frigoríficos brasileiros, especialmente a internacionalização, são eficientes para ampliar a competitividade destes no mercado mundial? 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é analisar como as estratégias implementadas pelos frigoríficos brasileiros, com foco no processo de internacionalização, impactam na competitividade dessas firmas no cenário internacional. Espera-se com os resultados deste trabalho contribuir com a discussão sobre a competitividade destas importantes empresas do agronegócio brasileiro e produzir elementos que contribuam para a tomada de decisões dos empresários, com relação à implementação de estratégias com o intuito de se manterem competitivos no setor no longo prazo. Além disso, busca-se gerar insumos para tomada de decisão dos formuladores de políticas agropecuárias, especialmente, aquelas relacionadas aos incentivos para internacionalização, como é o caso das implementadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem dado apoio por meio da BNDESPar, segmento do banco responsável pelas participações acionárias. O trabalho parte das seguintes proposições: a) Os frigoríficos brasileiros têm passado por mudanças estruturais e vêm implementando estratégias para garantir sua competitividade no mercado internacional; b) O processo recente de internacionalização destes frigoríficos é uma estratégia eficiente para ampliar a competitividade individual. 3. METODOLOGIA Na primeira etapa do trabalho procede-se uma pesquisa exploratória, que será realizada por meio de uma revisão da literatura sobre o tema em livros, artigos, revistas e sites 5 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural especializados. Esse tipo de pesquisa costuma fazer parte da primeira etapa de uma investigação mais ampla, enquanto que o produto final desse processo passa a ser um problema passível de investigação via procedimentos mais sistematizados. Devido à dificuldade de mensurar indicadores de competitividade relacionados à ECT e ao fato de ser recente o processo de internacionalização dos frigoríficos, serão utilizados alguns dados qualitativos levantados em outras pesquisas sobre o tema. Em sua totalidade os dados são secundários, não sendo realizada nenhuma pesquisa de campo ou aplicação de questionário. O método aqui utilizado é o indutivo, ou seja, parte de um caso particular para uma formulação geral, sendo que o caso particular é a análise das estratégias adotadas pelos frigoríficos e a formulação geral trata da competitividade destes no cenário internacional e de sua sustentabilidade. A elaboração deste trabalho procura seguir, principalmente, uma análise descritiva. Porém, faz uso também de uma análise histórica, podendo incluir algumas análises estatísticas simples, uma vez que a intenção aqui não é gerar nenhum modelo complexo para explicar o tema, mas demonstrar quais os determinantes da competitividade dos frigoríficos, quais problemas ameaçam esta situação e a eficiência das estratégias implementadas pelos frigoríficos para aumentá-la e torná-la sustentável. 4. REFERÊNCIAL TEÓRICO 4.1. A Economia dos Custos de Transação A utilização da ECT como base analítica para o estudo de formas organizacionais da produção busca relacionar as dimensões típicas das transações com as formas de organização mais eficientes em termos de economia nos custos de transação e produção, em que a análise comparativa implica no contraste entre formas alternativas de organização, desde a realização da produção via mercado até o outro extremo, que é a verticalização (PITELLI, 2004). Williamson (1989) afirma que os custos de transação são: “os custos de conduzir o sistema econômico, ou seja, os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações que resultam, quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas”. De acordo Zylberzstajn (1995), o pressuposto básico da ECT é a existência de custos na utilização do sistema de preços como na condução de contratos intrafirma. O segundo pressuposto é de que as transações ocorrem em um ambiente institucional estruturado e que as instituições não são neutras, ou seja, interferem nos custos de transação, sendo o ambiente institucional correspondente ao sistema de normas (restrições informais, regras formais e sistemas de controle) que afetam o processo de transferência dos direitos de propriedade, exigindo recursos reais para operarem. Ou seja, o ambiente institucional é o locus de parâmetros de deslocamento que influencia na decisão sobre a forma organizacional de produção a ser adotada. A governança de uma transação pode ser entendida como a forma como estas ocorrem. Segundo Pittelli (2004) existem três formas de governança: transacionar insumos e produto 6 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural diretamente no mercado; forma híbrida, quando a firma adota contratos para se relacionar com outros agentes na transação; e forma hierárquica (verticalizada), em que a firma se encarrega de toda a produção e/ou comercialização de seus produtos. A ECT analisa qual estrutura de governança é mais eficiente através da consideração dos seus pressupostos comportamentais e das dimensões das transações. Pittelli (2004) conclui que a governança de uma transação se faz através do uso de mecanismos apropriados para regular uma determinada transação, denominados de estruturas de governança (ou estruturas de gestão), que diferem em seus custos e competência, onde se devem alinhar as transações, tendo em vista a minimização de custos. 4.2 Competitividade Embora constantemente nos deparemos com políticos, empresários, lideranças sindicais e patronais, entre outros, discursando sobre competitividade, este termo encontra várias interpretações diferentes na literatura científica especializada. Assim, como também são diferentes, as formas pelas quais os pesquisadores vêm tentando mensurar essa competitividade e identificar os principais fatores que a afetam. Ferraz et alli (1996) identificam duas vertentes diferentes de entendimento do conceito de competitividade. Na primeira a competitividade é vista como um “desempenho” de uma empresa ou produto. O principal indicador de competitividade, segundo essa ótica de entendimento, estaria ligada à participação de um produto ou empresa em um determinado mercado (market share). Isso significa que o mercado estaria, de alguma forma, sancionando às decisões estratégicas tomadas pelos agentes econômicos. Segundo essa teoria, a participação das exportações de um dado setor no mercado internacional pertinente seria um indicador adequado de competitividade internacional. Assim, a competitividade de uma nação ou setor seria o resultado da competitividade individual dos agentes pertencentes ao país, região ou setor. O segundo foco identificado nas análises sobre competitividade por mesmo conjunto de autores (FERRAZ et alli, 1996) vê a competitividade como “eficiência”. Nesse segundo caso, trata-se de tentar medir o potencial de competitividade de um dado setor ou empresa. Essa predição do potencial competitivo poderia ser realizada por meio da identificação e estudo das opções estratégicas adotadas pelos agentes econômicos face as suas restrições gerenciais, financeiras, tecnológicas, organizacionais, etc. Dessa forma, existiria uma relação causal, com algum grau determinístico, entre a conduta estratégica da firma e o seu desempenho eficiente. Considerando que essas duas abordagens são insuficientes para analisar o problema, os autores concluem pela seguinte definição de competitividade: “... a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (FERRAZ et alli, 1996:3). As abordagens de competitividade apresentadas até o momento encontram na firma seu espaço de análise privilegiado. No caso dos agronegócios existe um conjunto de especificidades que resultam na definição de um espaço de análise diferente dos 7 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural convencionalmente admitidos em estudos de competitividade. Esse espaço de análise é o sistema agroindustrial. Assim, os estudos de competitividade, dentro de uma visão de agronegócios, devem efetuar um corte vertical no sistema econômico para a definição do campo de análise. Nesses casos, a competitividade desse sistema aberto definido por uma dada cadeia de produção agroindustrial não pode ser vista como a simples soma da competitividade individual dos seus agentes. Existem ganhos de coordenação, normalmente revelados em arranjos contratuais especialmente adequados às condições dos vários mercados que articulam os SAG’s, que devem ser considerados na análise de competitividade. Dessa forma, qualquer modelo metodológico e conceitual que se pretenda para a análise de competitividade em agronegócios deve, necessariamente, levar em consideração os ganhos potenciais de uma coordenação eficiente. Assim, pode-se dizer que, a exemplo de outros autores, esse trabalho considera que a competitividade é a capacidade de um dado sistema produtivo obter rentabilidade e manter participação de mercado no âmbito interno e externo (mercado internacional), de maneira sustentada. Esse conceito será importante para analisar a competitividade do SAG de Carne Bovina brasileiro no comércio internacional, porém esse não é o objetivo central deste trabalho. Então, para analisar a competitividade das firmas agroindustriais – frigoríficos – será usado o conceito de competitividade, visto como eficiência. 4.3 Teorias Econômicas de Internacionalização de Empresas Segundo Pozzobon (2008), as teorias econômicas de internacionalização buscam explicar o processo de internacionalização através do nível de agregação da macroeconomia, das indústrias e das firmas. Porém existem outras teorias que buscam entender esse processo, como as teorias de operações internacionais que o explicam a partir dos diferentes tipos de fábricas implantadas no exterior; e as teorias comportamentais que enfatizam os problemas associados com a aprendizagem, o comprometimento, e os aspectos culturais, sendo que estas últimas vêem a internacionalização como um processo gradual, envolvendo aprendizagem. A autora afirma ainda que o processo de internacionalização também tem sido estudado sob a ótica da competitividade. O conceito utilizado pelas teorias econômicas da internacionalização está relacionado à teoria do comércio internacional e produção internacional, principalmente, investimento direto no exterior (“IDE” ou Foreign Direct Investment “FDI”), mas, também a exportação, licenciamento e alianças. Tema extremamente importante para o trabalho aqui proposto, a extensão da teoria dos custos de transação da firma em geral para a firma internacional é devida, principalmente a McManus (1972), que acredita que a existência de custos de transação torna-se a chave do por que das empresas multinacionais estabelecerem subsidiárias no exterior, as quais operam sob controle diretamente centralizado (integração vertical) ao contrário de operar via mercado. Buckley e Casson (1976) continuam a teoria de McManus e partem dos seguintes pressupostos: firmas maximizam lucros em um mundo de imperfeições de mercado; 8 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural quando os mercados de produtos intermediários são imperfeitos, existe um incentivo para desviá-los criando mercados internos (integração vertical), isso envolve criação de propriedade comum e controle das atividades as quais são ligadas pelo mercado; internalização dos mercados através dos limites nacionais gera empresas multinacionais. Ainda seguindo Pozzobon (2008), outra teoria econômica importante da internacionalização de empresas é o Paradigma Eclético (DUNNING, 1980), um quadro sistêmico de referência (holistic framework) a partir do qual é possível identificar e avaliar a significância dos fatores que influenciam tanto a decisão inicial de uma empresa de produzir no exterior quanto o crescimento deste tipo de produção. Segundo a autora são três as vantagens específicas, de acordo com Dunning (1980): vantagem específica de propriedade (O- ownership), relacionada com a natureza e/ou nacionalidade da propriedade; vantagem específica de localização (L- location), relacionada ao local onde se implantam as operações no exterior; vantagem específica de internalização (Iinternalization), obtida ao se utilizar a estrutura da empresa para transações internacionais ao invés de mecanismos de mercado, ou seja, internalizar transações ao invés de fazer via mercado. No caso da última, a variável decisória é o custo (nesse caso, de transação) e a decisão é pela hierarquia, ou seja, a relação matriz versus subsidiária é uma forma de governança de integração vertical, visto que a teoria da internalização tem como pressuposto diminuir os custos de transação. Neste trabalho considera-se que a existência de custos de transação é fundamental para entender o estabelecimento de subsidiárias no exterior pelas empresas multinacionais, as quais operam sob controle diretamente centralizado (integração vertical), ao contrário de operar via mercado (MCMANUS, 1972). Além disso, considera-se que os principais motivos para as firmas, especificamente, os frigoríficos brasileiros se internacionalizaram são: o risco e as incertezas de estar atrelado a um só mercado, considerando ainda as barreiras tarifárias e não-tarifárias. 5. A COMPETITIVIDADE DOS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS Considerando que o conceito de competitividade, aqui assumido, é aquele que vê esta no sentido de eficiência, ou seja, que busca entender o potencial competitivo por meio da identificação e estudo das opções estratégicas adotadas pelos agentes econômicos, neste caso, dos frigoríficos brasileiros. A análise aqui realizada buscará fazer um detalhamento das estratégias implementadas pelos frigoríficos frente ao novo cenário competitivo global. Entende-se que existe uma relação causal, com algum grau determinístico, entre a conduta estratégica da firma e o seu desempenho eficiente. Porém, este detalhamento das estratégias será alvo do próximo capítulo e no subseqüente será feita uma análise ainda mais detalhada do processo de internacionalização e de como este impacta a competitividade destes agentes. Busca-se analisar outros fatores que podem determinar a competitividade dos frigoríficos brasileiros, como uma análise market share, ou seja, da participação de um produto ou empresa em um determinado mercado. Neste caso, a participação dos principais frigoríficos no mercado internacional de carne bovina, dado agregado pela exportação brasileira. 9 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Segundo Neves e Saab (2008) o sistema agroindustrial de carne bovina passa por mudanças impulsionadas pela crescente participação brasileira no comércio internacional, com exigência de qualidade. Nesse contexto, que tem como uma de suas resultantes o aumento da concorrência, os agentes do SAG têm tomado atitudes importantes para serem competitivos no novo cenário, como é o caso da abertura de mercados, a sofisticação de marcas e embalagens, a criação de lojas e marcas próprias com garantia de qualidade e a aquisição e construção de plantas com alta tecnologia. Por meio de uma análise de market share, percebemos que o Brasil é o país mais competitivo no comércio internacional uma vez que é responsável por 25% do total das exportações mundiais, sendo o país que mais exporta em termos de volume e valor. Esse fato comprova a competitividade do SAG de Carne Bovina e é um indicador de que os frigoríficos são competitivos no cenário internacional, uma vez que as exportações são feitas por estes agentes. No entanto, um fator que incide diretamente na competitividade dos frigoríficos é o dado de que 51% das exportações mundiais de carne bovina em 2007 foram feitas por frigoríficos brasileiros (NEVES e SAAB, 2008), tanto por suas matrizes como por suas subsidiárias no exterior. Com esse resultado, fica evidente que os frigoríficos brasileiros têm se modernizado e que as estratégias adotadas têm gerado um efeito positivo em sua competitividade. Abaixo estão elencados (sem ordem de importância) os principais determinantes da competitividade dos frigoríficos brasileiros, definidos com base na pesquisa bibliográfica desenvolvida na primeira etapa do trabalho: • O Brasil apresenta o menor custo de produção de carne bovina no mundo: o Fartura de terras, que possibilita ganho em escala e expansão da atividade; o Mão-de-obra barata e disponível em larga escala; • Genética melhorada e adaptada ao meio ambiente; • Tecnologia, que possibilita aumentar seus índices de produtividade; • Condições climáticas favoráveis à produção pecuária de baixo custo e “ecologicamente correta”, ou seja, animais criados soltos, a pasto, sem hormônios ou outras substancias proibidas e com baixo uso de insumos químicos; • Gestão estratégica e agressiva nos principais frigoríficos; o Aprendizado e ganho de escala, por meio da internacionalização; o Criação de marcas próprias, que tem possibilitado a diferenciação do produto; o Abertura de capitais. Porém, é importante ressaltar que, apesar de serem competitivos no cenário internacional, os frigoríficos brasileiros ainda enfrentam problemas que impedem o aumento dessa competitividade ou que ameaçam a sustentabilidade desta. Abaixo estão relacionados, em lista sintética e não exaustiva, alguns dos principais fatores que afetam 10 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural negativamente a competitividade destes agentes. A lista foi elaborada também com base na pesquisa bibliográfica realizada na primeira etapa deste trabalho: • Conjunto de embargos que veta o acesso dos frigoríficos nacionais a parte do mercado internacional; o Restrições sanitárias que dificultam o acesso dos frigoríficos aos EUA, Canadá e México, além de outros mercados importantes no mundo. • Diferenciação de produtos limitada e fica praticamente nas mãos dos varejistas (PITELLI, 2004 apud FILHO e PAULA, 1997); o A maior parte dos frigoríficos trabalha sem marcas próprias; o Os produtores entregam os animais em situações diferenciadas (idade, sexo, gordura etc). • Inconsistência de qualidade e padronização da matéria prima (PITELLI, 2004 apud BARCELLOS & FERREIRA, 2003); • Descoordenação entre os elos que compõem o SAG (PITELLI, 2004 apud SIFFERT FILHO & FAVEREST FILHO, 2003); o Implica na falta de rastreabilidade, o que é sem dúvida o fator que possibilita o embargo a carne brasileira nos principais mercados mundiais; o Transmissão de informações é realizada principalmente via preço. • Deficiência no rigor da política sanitária e falhas do SISBOV. 6. ESTRATÉGIAS PARA AMPLIAR E/OU MANTER A COMPETITIVIDADE IMPLEMENTADAS PELOS PRINCIPAIS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS O Brasil possui um grande número de frigoríficos, porém, boa parte destes funciona clandestinamente. A quantidade de empresas que possuem o aval da inspeção federal (SIF) é bem menor e a de frigoríficos aptos a atender a demanda internacional é menor ainda (PITELLI, 2004). Esse fator é importante para a análise aqui proposta, que não se debruçará sobre os frigoríficos clandestinos ou em todos os que possuem registro no SIF, mas sim nos seis maiores frigoríficos do país por números de unidades, segundo estimativa da revista DBO para 2008: JBS-Friboi (21 unidades); Marfrig (18 unidades), Bertin (10 unidades), Minerva (8 unidades), Mercosul (9 unidades) e Independência (10 unidades). Segundo Neves e Saab (2008), o elo frigorífico do SAG de Carne Bovina tem passado nos últimos anos por dez mudanças estruturais. Estas mudanças surgem da adoção de estratégias destes agentes para se manterem competitivos frente aos concorrentes no mercado internacional. Para os autores essas mudanças serão cada vez mais importantes para este SAG, porém é importante ressaltar que, para a ampliação da competitividade, é importante que ocorra o crescimento sustentável em todos os seus elos, com equilíbrio de renda, preços, valor e respeito ao meio ambiente, às pessoas e aos agentes do sistema. 11 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 6.1 Mudanças estruturais nos frigoríficos: estratégias adotadas e seus principais benefícios Esta parte da pesquisa tem por objetivo, detalhar as mudanças estruturais pelas quais os frigoríficos vêm passando, pois estas são fruto das estratégias de ampliação da competitividade adotadas por estes, objeto de estudo aqui. As mudanças aqui citadas são encontradas no trabalho recente de Neves e Saab, publicado na revista AgroAnalysis da Fundação Getúlio Vargas. 6.1.1 Internacionalização A primeira e mais importante mudança citada por Neves e Saab (2008) é o processo de internacionalização dos frigoríficos. Como este é o principal objeto de estudo deste trabalho, o capítulo 8 foi destinado apenas a análise da internacionalização, portanto, neste capítulo citaremos a internacionalização como mudanças importante e a discutiremos apenas no próximo. 6.1.2 Abertura de Capital Dentre os frigoríficos selecionados para análise apenas Friboi, Marfrig e Minerva abriram o capital até então. Bertin, Mercosul e Independencia já declararam seu interesse de fazer o mesmo em breve. O índice de recursos captados nos IPO’s, sigla em inglês de Initial Public Offering, ou seja, oferta primária de ações indica o quão interessante é a adoção dessa estratégia para as firmas frigoríficas. O Friboi foi o que mais captou recursos (R$ 1,6 bilhão), seguido do Marfrig (R$ 1 bilhão) e pelo Minerva (R$ 444 milhões). Alguns fatos são importantes para estimular e justificar este tipo de estratégia por parte dos frigoríficos, como a estabilidade da economia brasileira; a recente avaliação positiva que o Brasil recebeu das principais agências de rating mundiais, passando a ser a ser considerado um país grau de investimento neste ano; os recursos recordes aportados pelo BNDES no setor Um dos seus principais benefícios da abertura de capital para os frigoríficos brasileiros é a captação de recursos para financiar os investimentos dos frigoríficos, sejam aquisições nacionais ou internacionais ou construção de novas indústrias. 6.1.3 Diversificação Regional Devido aos recentes casos de febre aftosa registrados no Brasil, que levaram ao embargo das exportações de alguns estados do país, os frigoríficos têm adquirido ou construído novas unidades em outros estados. Os principais frigoríficos já adotaram essa estratégia, cujo principal benefício é a diminuição de riscos para a exportação em caso de embargo. Outro fator benéfico é a otimização e a especialização com base no suprimento de bois regional. Uma externalidade positiva, ressaltada desta estratégia, é a geração de renda e impostos nos estados e municípios brasileiros. 6.1.4 Integração para trás (boi próprio) Segundo Neves e Saab (2008) vários frigoríficos possuem produção própria de bovinos para o abate e realizam a fase final de terminação, ou seja, o próprio abate. Segundo os autores ao adotar essa estratégia, os frigoríficos podem aproveitar as sinergias próprias do 12 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural negócio. Como benefícios destacam-se a redução dos riscos do empreendimento e da dependência de matéria prima do mercado. Além, claro, de citar as vantagens da integração vertical, como o fato de gerar economia de escala. 6.1.5 Entrada de outras indústrias Esta mudança pouco tem a ver com as estratégias adotadas pelos frigoríficos, mas geram benefícios ao setor e acabam por levá-los a se repensarem. A SADIA reassumiu em 2006 as operações de uma planta industrial que tinha arrendado para o JBS Friboi em 2000 e anunciou este ano que vai investir R$ 100 milhões em uma fábrica com capacidade de abater 2 mil cabeças de gado por dia. A PERDIGÃO arrendou também em 2006 uma planta para abate de bovinos. Estas atitudes de empresas de alimentos reconhecidas internacionalmente, como é o caso das duas citadas acima (SADIA e PERDIGÃO), valorizam as empresas do setor frigorífico, dão maior visibilidade e confiabilidade ao produto brasileiro, devido a volta de marcas reconhecidas e respeitadas, e promove o acirramento da concorrência, o que é positivo, pois leva os frigoríficos a buscarem melhorias em sua gestão, uma vez que estas empresas, que estão entrando no setor, são industrias experientes no mercado internacional. 6.1.6 Diversificação de linhas de produtos Entre os principais frigoríficos, o Marfrig é destaque no uso da diversificação de produtos como estratégia, porém, voltada apenas à produtos alimentícios. O referido frigorífico já produz ovinos (no Chile), abate cordeiros e suínos (no Brasil) e produz beef jerky8 (na Argentina). O Bertin também tem feito fortes investimentos na diversificação, como exemplo, cita-se a construção na China de uma fábrica de couros. No Brasil o Bertin possui fábricas de itens de higiene, limpeza, para a linha pet, equipamentos de proteção individual e biodiesel e atua nas áreas de construção civil, turismo e saneamento básico. Recentemente, o frigorífico entrou no mercado de frangos e de leite. O Independência por sua vez, direcionou todos seus esforços em diversificação para a produção de couro, atividade que já representa 25% do total de seu faturamento. Também, o JBS-Friboi utiliza esse tipo de estratégia. O frigorífico possui uma linha de produtos de limpeza com a marca Minuano e de cuidados pessoais com a marca Albany. Esse tipo de estratégia possibilita a captura de valor em outros negócios, trazendo redução de riscos às empresas e a diluição dos custos de transporte, armazenamento e distribuição. Além disso, proporciona as empresas mais experiência com marketing e o aproveitamento de subprodutos. 6.1.7 Join Ventures e Alianças Estratégicas Muitos frigoríficos brasileiros têm firmado importantes alianças estratégicas com grupos de produtores de gado bem coordenados, visando a ocupação de unidades industriais e até, em alguns casos, dando suporte às marcas desses produtores no mercado de carnes. Este tipo de estratégia é positiva, pois permite um relacionamento mais próximo com os pecuaristas, o que leva a um maior controle na qualidade e dá mais segurança aos frigoríficos. 8 Beef jerky são tiras de carne salgada para comer como um salgadinho. 13 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Com relação à formação de join ventures, destacam-se a formada entre o Bertin e seu sócio chinês Wonder Best Holding em 2006 e formada em 2007 entre o Marfrig e a empresa irlandesa Dawn Farms Food, que atua no fornecimento de carnes processadas (cooked frozen) para o setor de food service da Europa e Ásia. Essa formação de join ventures possibilita o aproveitamento da tecnologia da outra empresa para produzir itens com maior valor agregado, a expansão da área atuação e o acesso a novos clientes. 6.1.8 Ações Coletivas Os principais frigoríficos brasileiros possuem forte representação na Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne (ABIEC). Esta associação tem assumido cada vez mais um papel de fortalecer o marketing da carne bovina. Este tipo de estratégia tem permitido uma valorização da marca e da origem brasileira dos produtos. 6.1.9 Agregação de Valor na Carne (Diferenciação do Produto) Esta estratégia é adotada com a intenção de oferecer mais opções aos consumidores e oferecer produtos com maior praticidade, facilidade e rapidez no preparo. Além disso, um objetivo novo é oferecer porções menores para pessoas que moram sozinhas ou famílias pequenas, demonstrando assim uma adaptação ao perfil do consumidor. Segundo NEVES e SAAB (2008), isso tem possibilitado aos frigoríficos aumentarem sua margem de lucro e conquistarem novos mercados com poder aquisitivo mais alto, que pagam melhor e não são tão sensíveis a preços. Praticamente todos os principais frigoríficos utilizam essa estratégia atualmente. O Marfrig possui uma das maiores fábricas de carnes cozidas, congeladas e pratos prontos no mundo, na cidade de Andradina (SP), onde oferece 26 opções de pratos prontos para consumo, que só precisam ser aquecidos (strogonoff, almôndegas, rabada, dobradinha, penne à bolonhesa). O JBS-Friboi produz produtos industrializados à base de carne, como patês, fiambres e salsichas. Além disso, oferece carne orgânica e produtos especiais in natura. O Bertin é outro exemplo de frigorífico que faz uso dessa estratégia, por meio da linha Pronto Sabor, onde oferece também pratos prontos. 6.1.10 Integração rumo ao consumidor Visando a possibilidade de comercializar seus próprios produtos, sem intermediários, de conhecer de perto os gostos e preferências do consumidor e de testar técnicas de vendas e marketing de varejo (novas estratégias de vendas e apresentação dos produtos, aceitação de novos produtos), os frigoríficos buscam a integração em direção ao consumidor. Com esse objetivo o Marfrig, por exemplo, possui três tradings. Uma no Chile, outra nos EUA e uma no Reino Unido. Já o JBS-Friboi comprou 100% das ações da SB Holdings, uma das maiores distribuidoras de carne industrializada dos EUA e suas subsidiárias Tupman Thurlow, Astro Sales Internacional e Austral Foods. Além de possuir distribuidores também no Chile, Egito, Inglaterra e Rússia. Já o Bertin abriu lojas de varejo em pontos estrategicamente localizados (Lins, Ribeirão Preto e Brueri-Alphaville). 7. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS 14 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Fica evidenciado com a descrição das dez mudanças estruturais ocorridas nos frigoríficos recentemente que estes agentes, já competitivos no mercado internacional de carne bovina, têm buscado manter e/ou tornarem-se ainda mais competitivos. Porém, existe uma dificuldade em mensurar os impactos destas estratégias na competitividade das firmas. Assim, o que ficam são indicativos de que a competitividade pode aumentar dados os benefícios que podem surgir quando da implementação das referidas estratégias Neste capítulo daremos atenção à estratégia considerada por muitos estudiosos do setor como a mais importante para a sustentabilidade e/ou ampliação da competitividade nos frigoríficos brasileiros. Primeiro se fará uma análise de como este processo pode afetar positivamente a competitividade, usando os instrumentos teóricos das Teorias Econômicas de Internacionalização e, quando conveniente, da Economia de Custos de Transação. 7.1 Possíveis impactos da internacionalização na competitividade Como já citado na introdução deste trabalho, a internacionalização é uma resposta das empresas brasileiras ao acirramento da concorrência nos mercados, buscando se tornarem mais competitivas. Segundo Neto (2007), ser internacional é bem mais do que alargar a visão de mercado de local para global. Para o autor é, principalmente, ser capaz de entender a diversidade dos vários ambientes de atuação, de interpretar corretamente as mais variadas realidades e de encontrar o modelo de negócios adequado que assegure capacidade competitiva para enfrentar os concorrentes do jogo global, seja onde ele aconteça, até mesmo nos mercados locais. Segundo Sauvant (2007) o investimento direto no exterior (IDE ou FDI) do Brasil temse tornado mais importante do que as exportações para a manutenção dos mercados de bens e serviços. Dados citados por Neto (2007) mostram que as vendas das empresas afiliadas, localizadas fora do país, são três vezes mais que suas exportações e a tendência é crescer. Cyrino e Penido (2007) afirmam, citando Penrose (1959 e 1963), que a decisão de se internacionalizar tem implicações profundas e de longo alcance sobre o modus operandi das empresas. Normalmente, a principal motivação de adotar essa estratégia é de ordem econômica, derivada das necessidades e da dinâmica de crescimento das empresas. Assim, apenas as empresas que já desenvolveram vantagens competitivas significativas sobre as demais nos seus mercados domésticos são capazes de, quando julgarem necessário e oportuno, fazer investimentos em mercados estrangeiros. O sucesso das empresas no plano internacional depende de sua capacidade de conciliar duas forças opostas: de um lado, maximizar a base de ativos e os conhecimentos desenvolvidos nos mercados em que atua, e, de outro, estabelecer uma nova configuração de competências, adaptada às circunstâncias e características locais, e explorá-la numa escala global (CYRINO E PENIDO, 2007). Ainda usando a análise feita por Cyrino e Penido (2007), definem-se os principais benefícios gerados para as empresas pelo processo de internacionalização, ou seja, uma expansão internacional da produção por parte das empresas. Em suma, são três os benefícios: i) a expansão dos mercados; ii) a melhoria da eficiência; iii) a aprendizagem. 15 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Porém, há de ressaltar, que estes se desdobram em uma série de vantagens citadas no quadro abaixo e que buscaremos analisar aqui. Quadro 7.1: Benefícios da Internacionalização Benefícios da Internacionalização • Expansão de mercados o Maior capacidade de resposta aos clientes internacionais; o Fortalecimento da posição competitiva; o Diversificação do portfólio geográfico e redução de riscos; o Efeito de demonstração. • Melhoria da eficiência o Economias de escala e escopo; o Acesso a recursos a custos inferiores; o Ganhos de arbitragem. • Aprendizagem o Acumulação de conhecimento e desenvolvimento das competências empresariais existentes; o Alavancagem de competências empresariais e novos produtos e segmentos; o Desenvolvimento e aquisição de novas competências empresariais. Fonte: Cyrino e Penido (2007) 7.1.1 Expansão de Mercados Quando uma empresa busca a expansão e a diversificação internacional, normalmente, o faz porque as perspectivas de crescimento no país de origem já não são atrativas o suficiente para assegurar os retornos desejados pelos acionistas, ou porque a empresa identifica oportunidades mais interessantes para a aplicação de seus ativos no exterior. Assim, as empresas buscam expandir para outros mercados, inicialmente, por meio de exportações, e progressivamente com a extensão de outros elos da cadeia dos novos mercados geográficos. 7.1.1.1 Maior capacidade de resposta aos clientes internacionais A presença nos países estrangeiros permite às empresas darem respostas mais eficazes aos clientes em termos de eficiência logística, ou ainda nas adaptações necessárias as características de mercado e de cultura local. Um efeito prático de estar localizado no país é poder fazer parte das associações de classe, com status equivalente aos produtores locais e, com isso, conseguir acesso às informações de mercado e de produção, fundamentais para traçar estratégias de atuação mais eficientes. 7.1.1.2 Fortalecimento da posição competitiva 16 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Estar presente nos mercados internacionais propicia um melhor entendimento da concorrência local e estrangeira. Além disso, seguir os concorrentes nos mercados mais expressivos evita que estabeleçam fortalezas significativas, o que poderia dificultar a entrada em momentos posteriores. Na disputa pelo mercado local, as empresas mais internacionalizadas podem adotar estratégias competitivas mais agressivas, mesmo à custa de perdas temporárias em subsidiárias em outras regiões, enquanto as empresas locais não têm como retaliar nos mercados de origem dos seus concorrentes, muito menos podem se comprometer com uma guerra de preços no mercado nacional. Assim, a internacionalização, tornou-se uma questão de sobrevivência. Em alguns setores da economia, ou as empresas se internacionalizam ou serão pressionadas por concorrentes mais internacionalizadas podendo até ser expulsas do mercado. 7.1.1.3 Diversificação do portfólio geográfico e redução de riscos A internacionalização reduz a dependência do país de origem e diminui riscos políticos e econômicos vinculados a este. Estando em vários países, as empresas diminuem o impacto de ações do governo do país de origem, como imposição de taxas excessivas e restrições legais onerosas, quebras de contrato, expropriação de ativos físicos e outras ações confiscatórias e arbitrárias. Além disso, ficam menos expostas a incertezas quanto à demanda pelos produtos/serviços da empresa, a custos e preços exercidos, assim como a mudanças de câmbio e recessões nos países de origem. Em casos de choques macroeconômicos nos países em que a empresa está instalada teria um efeito negativo menos intenso no valor da empresa, pois o desempenho nos demais compensaria a perda. Um exemplo, disso é o que ocorreu na Argentina, após a recente crise econômica que assolou o país. A crise obrigou muitos grupos empresariais a se reestruturarem profundamente, deixando estes a mercê de concorrentes poderosos, que acabaram adquirindo parte ou todos os seus ativos. 7.1.1.4 Efeito Demonstração Este efeito é um beneficio que a empresa consegue em seu país de origem. Muitos consumidores são influenciados por produtos importados e marcas estrangeiras, especialmente em países emergentes. Além disso, existe o orgulho nacionalista de ter uma empresa nacional reconhecida internacionalmente. Isso contribui para um maior desempenho da empresa em seu país de origem. Dessa forma, uma exploração de seu sucesso internacional nas publicidades das empresas pode ampliar o mercado do produto no país de origem e possibilitar que a empresa alcance diversas classes, incrementando assim o valor percebido pelo produto para os consumidores. 7.1.2 Melhoria da eficiência As empresas são capazes de atingir novos patamares de eficiência por meio da internacionalização, que proporciona ganhos de escala e escopo, bem como possibilita o acesso a fatores de produção a custos mais acessíveis. Para reduzir os custos em escala global, as empresas estão direcionando suas cadeias de suprimento para localizações que 17 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural assegurem o acesso a recursos adequados (mão-de-obra, matérias primas) ao menor custo unitário (CYRINO E PENIDO, 2007). 7.1.3 Aprendizagem Segundo os autores responsáveis pela análise dos benefícios da internacionalização, um dos ganhos decorrentes deste processo é a diversificação da base de conhecimentos adquiridos pela exposição a situações diferentes nos diversos mercados em que a empresa passa a atuar. A acumulação das experiências possibilita um upgrade das competências essenciais da empresa com um todo, permitindo, inclusive, a melhoria da produtividade e qualidade nos mercados domésticos. Estas competências podem ser usadas para o desenvolvimento de produtos para os novos mercados, que possuem diferentes características em relação ao país de origem. 8. CONCLUSÕES A hipótese básica desta pesquisa afirma que as estratégias implementadas tornaram os frigoríficos brasileiros mais competitivos, especialmente com a estratégia de internacionalização. A partir da vasta análise dos estudos realizados conclui-se que, de fato, esta hipótese é verdadeira. Todas as dez estratégias adotadas recentemente pelos frigoríficos brasileiros possuem indicativos de impacto positivo na competitividade e, especialmente a internacionalização. Isto permitiu a estes agentes se tornarem responsáveis por 51% das exportações globais de carne bovina, comprovando assim o ganho em termos de competitividade. O objetivo geral deste trabalho, analisar como as estratégias implementadas pelos frigoríficos brasileiros, com foco no processo de internacionalização, impactam na competitividade dessas firmas no cenário internacional, foi concluído, uma vez que ficou claro que as estratégias realmente afetam positivamente a competitividade. E foram levantados alguns pontos sobre como isso ocorre. Porém, como a pesquisa foi feita apenas com dados secundários, ficou inviável a produção de indicadores de competitividade que permitissem a mensuração desse impacto. Até pelo tipo de análise, baseada nos custos de transação, encontra-se essa dificuldade. Essa quantificação pode ser feita em um estudo multi-casos, onde se busquem dados nas fontes primárias, que seriam os frigoríficos, quantitativos e qualitativos. Nota-se a partir desta pesquisa que o processo de internacionalização é uma estratégia empresarial e não-estatal. No entanto, nota-se também que, num momento de crise como o atual, o apoio do governo para manter essa expansão por parte dos frigoríficos seria fundamental, uma vez que o crédito tem se tornado mais caro e mais escasso na economia mundial. Isto tornaria os frigoríficos brasileiros ainda mais fortes e competitivos no cenário global quando a crise passasse. 18 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUCKLEY, P. & CASSON, M. A long-run theoryof the multinational enterprise, 1976. CYRINO, A. B. & PENIDO, E. Benefícios, riscos e resultados do processo de internacionalização das empresas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2007. DUNNING, J. Towards an eclectic theory of international production: some empirical tests. Journal of International Business Studies, 11(Spring), pp. 9–31, 1980. FERRAZ, J.C.; KUPFER, D.; HAGUENAUER, L. Made in Brazil. Rio de Janeiro: Campus, 1996. McMANUS, S. 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