Odontologia do esporte

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Edição 22 | Agosto de 2016
Odontologia do esporte
Com Dr. Alexandre F. Barberini
• Prof. coordenador do ambulatório de odontologia do esporte do Centro
de Excelência da Fifa, disciplina de medicina esportiva Cete/ Unifesp.
• Membro fundador e diretor científico da Academia Brasileira de
Odontologia do Esporte - Abroe.
• Membro da câmara técnica de odontologia do esporte do Crosp.
• Prof. de atualização do curso de odontologia do esporte e traumatismo
dentário na FFO-Fundecto conveniada à Fousp.
• Cirurgião-dentista do S.C. Corinthians Paulista e Red Bull Brasil.
• Especialista e mestre em endodontia pela Fousp.
1. Fale um pouco mais sobre a nova especialidade e
sua importância na odontologia.
A odontologia do esporte, especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) desde 2015, cresce e se consolida a cada dia no Brasil, com
pesquisas científicas, comprovações clínicas e estatísticas
que norteiam a evolução dessa nova área da odontologia.
Esse novo segmento da odontologia vem somar as várias
áreas do conhecimento que já se solidificaram no esporte,
como: medicina do esporte, fisiologia do exercício, fisioterapia do esporte e psicologia – que estão difundidas e se
fazem necessárias dentro de uma equipe esportiva para o
desenvolvimento de atletas de alto rendimento.
A atividade relacionada à especialidade já está consolidada em diversos países, como Estados Unidos (dentistry
sport), Alemanha (zahnmedizin sport), Holanda (tandheelkunde sport), França (dentisterie sport), Itália (odontoiatria sport) e rússia (cтоматология cпорт).
No Brasil, foi fundada, em setembro de 2012, a Academia Brasileira de Odontologia do Esporte (Abroe), que
englobou as instituições nacionais criadas anteriormente
(Abrodesp e Sboesp). A Abroe apresenta uma comissão
científica composta por especialistas, mestres e doutores com publicações e linhas de pesquisas inseridas na
área da odontologia do esporte, que geram trabalhos
científicos que capacitam o reconhecimento das especi-
ficidades do atendimento ao atleta de alto rendimento.
Vários conselhos regionais de odontologia contam com
comissões de odontologia do esporte e, agora, câmaras
técnicas com profissionais da área, com o objetivo de incentivar e ampliar a discussão sobre o tema.
2. Muitos associam a especialidade apenas ao uso do
protetor bucal. Quais outros campos de atuação de
um profissional da odontologia do esporte?
Os protetores bucais foram introduzidos no esporte para
amortizar as consequências da força de impacto durante os traumas e minimizar os traumatismos orofaciais e
dentários e por anos foram o ‘carro chefe’ da especialidade de odontologia do esporte. Hoje, a área possui
alguns aspectos próprios nos atendimentos dos atletas,
principalmente os esportistas de alto rendimento. Por
definição, a odontologia do esporte é a área de atuação do cirurgião-dentista com o objetivo de investigar,
prevenir, tratar, reabilitar e compreender a influência das
doenças da cavidade bucal no desempenho dos atletas
profissionais e amadores, com a finalidade de melhorar
o rendimento esportivo e prevenir lesões, considerando as particularidades fisiológicas dos atletas, a modalidade que ele pratica e as regras do esporte (Abroe).
Edição 22 | Agosto de 2016
O dentista do esporte deve:
• Fazer avaliações pré, participação e proservação da
saúde bucal do atleta.
• Atendimento inicial no local do evento e tratamento
inicial dos acidentes orofaciais.
• Cuidado na correta prescrição de medicamentos que
possam causar o doping positivo.
• Aplicar metodologia para detecção de doping e estresse pela saliva.
• Orientar os treinadores, técnicos e dirigentes com informações a respeito de procedimentos de urgência e
uso de acessórios de proteção indicados para cada modalidade esportiva.
• Aplicar os protocolos de atendimento da equipe médica no tratamento odontológico.
• Atuar profissionalmente em treinos e competições das
diferentes modalidades desportivas.
• Respeitar os direitos desportivos do atleta e sua imagem.
• Promover campanhas de educação e prevenção de
saúde bucal para os atletas.
3. Quais os principais desafios?
O nosso principal desafio é conscientizar a sociedade e
principalmente o colega cirurgião-dentista sobre as particularidades do atendimento dos atletas de alto rendimento e esportistas, já que o cirurgião-dentista especialista em odontologia do esporte, ao integrar as equipes
da área da saúde que prestam assistência ao paciente
atleta, pode e deve contribuir para a integralidade, considerando-se o indivíduo como um todo, atuando multiprofissional, inter e transdisciplinarmente.
4. Como está o mercado de trabalho para quem quer
seguir na área?
A odontologia do esporte cresceu muito e há mercado
de trabalho para todos, temos colegas trabalhando em
confederações, clubes, academias, projetos e eventos
esportivos. Surgiram profissões como a do “cutman”,
que cuida dos atletas de MMA dentro e fora do octógono. Atualmente, os melhores “cutmen” são cirurgiões-dentistas e brasileiros. Em cada campeonato são
nomeados dois “cutmen” para atendimento aos atletas
competidores. Quando ocorrem traumas, há interação
com uma equipe multiprofissional composta por médicos e bucomaxilos e quando é necessário a realização
de cirurgias, há o encaminhamento para um hospital
próximo. Também podem fazer parte desta equipe or-
todontistas, periodontistas, endodontistas, radiologistas e outros especialistas que possuam conhecimento
em Odontologia do Esporte, entendendo as diversas
peliculiaridades de suas especialidades dentro das diversas modalidades esportivas. O título de especialista constitui a forma oficial de reconhecer o cirurgião-dentista com formação acadêmico-científica, apto a
exercer essa especialidade com competência, responsabilidade e ética, proporcionando o fortalecimento e
o crescimento qualificado da odontologia no Brasil. O
cirurgião-dentista é um profissional versátil e o esporte
necessita disso. O colega que está interessado nessa
nova área da odontologia precisa, inicialmente, participar de cursos que tratam do assunto, pesquisar, filiar-se
à Abroe e frequentar grupos de estudo nas entidades
de classe, câmaras técnicas e comissões.
5. De que forma a nova especialidade contribui no
rendimento e proteção de um atleta?
Um problema presente nos esportes passíveis de contato são os traumatismos orofaciais, sendo de extrema
importância a conscientização do uso do protetor bucal
adequado. Atualmente, a Abroe classifica os protetores
em cinco tipos: tipos I e II são os protetores pré-fabricados em tamanhos pré-determinados (aqueles que se
fervem e depois mordem para se adaptarem ao tamanho
da arcada). Os protetores do tipo III, IV e V são confeccionados por empresas especializadas e com acompanhamento do cirurgião-dentista. Os protetores do tipo III são
protetores simples, os do tipo IV são os multilaminados e
os do tipo V são os otimizadores de performance.
Os protetores bucais são diferentes, pois realizam funções diferentes nas modalidades para as quais são confeccionados. Deve-se tomar cuidado com o uso dos protetores tipo I e II que são encontrados nas lojas de artigos
esportivos. De acordo com as pesquisas científicas, podem prejudicar o rendimento do atleta pela falta de uma
boa adaptação.
Existem inúmeras pesquisas com uma metodologia adequada para avaliar os protetores que podem melhorar
o desempenho, no caso os protetores do tipo V, mas o
desenvolvimento científico busca comprovar esta nova
função, através das pesquisas que direcionam esta melhora pela estabilização oclusal. Outro fator importante
é o acompanhamento de um profissional habilitado na
moldagem, registro interoclusal e, principalmente, dos
ajustes do protetor na boca do atleta. É inadmissível uma
empresa entregar um protetor bucal pelo correio dire-
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tamente para o atleta. Um contato prematuro posterior
pode aumentar a chance de fraturas na cabeça da mandíbula. O simples fato de o protetor encaixar na boca
não significa que está ajustado da forma correta.
mos eram instruídos a morder algo para amenizar a dor
durante o procedimento. A principal função dos dispositivos intraorais é melhorar a relação de posição da cabeça da mandíbula em relação à fossa articular. Com isso,
o dispositivo vai atuar como uma espécie de ‘palmilha’
individualizada, fazendo com que as cadeias musculares
funcionem em perfeita harmonia, aumentando também
as vias aéreas e proporcionando uma melhor oxigenação.
6. Quais os fatores relacionados entre a odontologia e
a saúde geral do atleta?
Protetor tipo V
A tecnologia é a grande aliada para confecção desses
dispositivos e protetores bucais tipo V. O diagnóstico é
fundamental e o uso da bioinstrumentação torna-se uma
premissa. Para encontrar a posição ideal de repouso mandibular são usadas bioinstrumentações como um desprogramador eletrônico mandibular, eletromiografia de
superfície, cinesiografia mandibular, através de software
no computador com a possibilidade de 3D. Todos esses
recursos registram a melhor posição muscular mandibular. Logo após esse registro, um laboratório confecciona
o aparelho ou protetor bucal otimizado naquela posição.
Curiosidade: o uso de dispositivos intraorais não é uma
novidade, mas agora temos muitos estudos que comprovam a sua eficiência. Foi observado o uso deles, através
da história, quando soldados romanos eram instruídos a
morder tiras de couro para ter uma força extra nas batalhas e também na guerra civil americana, onde não
existia anestesia geral. Durante a guerra, se fosse preciso
fazer uma amputação de algum soldado ferido, os mes-
Presença de focos infecciosos, perda dentária ou maloclusões severas, erosão causada por uso indiscriminado de isotônicos, respiração bucal, halitose, desordens
temporomandibulares e traumatismo dentário são problemas que prejudicam o desempenho de atletas. Um
dos principais fatores que podem influenciar na recuperação de lesões musculares e cirurgias ortopédicas é a
presença de focos infecciosos, de origem periodontal
ou endodôntico, que dificultam a cicatrização tecidual.
A perda dentária ou maloclusões severas, além de acarretarem problemas de ordem estética, estão relacionadas ao mau aproveitamento alimentar e à deficiência na
absorção dos nutrientes. Já o uso de isotônicos pode
provocar erosão dentária, o que acaba interferindo na
nutrição, uma vez que o atleta passa a evitar alimentos
mais ácidos, quentes e frios. A síndrome do respirador
bucal, que deve ser corrigida precocemente na infância
ou no início da adolescência, está diretamente relacionada à perda do rendimento físico, já que pode causar
sonolência, halitose, menor aproveitamento do oxigênio
e dores na musculatura cervical. A halitose pode interferir
no convívio entre os atletas de esportes coletivos, sendo
que as causas mais frequentes de mau hálito são bucais
e metabólicas, e estão relacionadas à desidratação, ao
estresse e ao alto consumo energético. Já as desordens
temporomandibulares podem causar dores articulares,
de cabeça e musculares, além de estarem relacionadas à
postura incorreta. Cada vez mais frequente, o traumatismo dentário pode até provocar o afastamento do atleta
das competições.
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7. Quais as consequências para um atleta que não
procura tratamento dentro dessa especialidade?
Quando a saúde bucal do atleta não vai bem, como as
infecções odontológicas pós-cirúrgicas, periodontais,
endodônticas e pericoronarites, em alguns casos pode
ocorrer queda do rendimento. O importante é realizar os
exames e diagnosticar o mais rápido possível e resolver
qualquer interferência que possa causar um foco infeccioso. O atleta de alto rendimento geralmente está no
seu limite de treinamento, se engana quem pensa que
o atleta é saudável, em algumas modalidades tem que
perder peso, ele fica debilitado, com a imunidade baixa e perde rendimento rapidamente. Os atletas podem
apresentar algumas alterações que prejudicam sua saúde e seu desempenho, tais como:
• Síndrome do respirador bucal.
• Problemas ortodônticos - má oclusão.
• Periapicopatias - focos de infecção.
• Má higiene oral.
• Disfunção da articulação temporo-mandibular e postura.
• Cáries interproximais e oclusais.
• Anomalias radiculares.
• Dentes inclusos e sua posição intraóssea.
• Reabsorções alveolares.
• Bolsas periodontais.
• Raízes residuais e corpos estranhos.
O Brasil vive um momento muito importante no esporte
e com isso reforça a importância da odontologia do esporte cumprindo importante papel dentro do departamento médico das diversas equipes esportivas.
Ainda tem dúvidas?
Entre em contato conosco através do [email protected]
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