ACRESCENTAR: Cultura nacional e formações nacionais de alteridade PROPOSTA DE UM CURSO DE ESTUDOS CULTURAIS (GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO) E DE UM INSTITUTO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS DA CULTURA - IIEC I. Histórico da Proposta na UnB A abertura de um curso e de uma unidade acadêmica dedicada aos Estudos Culturais é um anseio já antigo na UnB, que responde a uma necessidade de introduzir novos temas e novas abordagens no campo amplo das Humanidades e de alguns ramos das Ciências, e à demanda de numerosos graduados por continuar sua formação nos caminhos alternativos desse campo novo. Há cerca de quinze anos um grupo de professores lotados na Comunicação, Sociologia, Antropologia e Filosofia, entre outros departamentos, tentou abrir uma pósgraduação nesta área, porém não encontrou abrigo institucional adequado para a implantação do curso em nenhuma das unidades envolvidas. Há uns dez anos, os professores Mariza Veloso, da Sociologia, Denilson Lopes (hoje na Escola de Comunicação da UFRJ), José Jorge, da Antropologia, entre outros, participaram de uma reunião de trabalho com o professor George Yúdice, da New York University, que visitou a UnB na tentativa de formar uma rede interamericana de Estudos Culturais. Apesar do grande interesse mútuo, mais uma vez não foi possível conseguir apoio institucional para a constituição dessa rede, que seria o embrião de um curso de Estudos Culturais na UnB. Há oito anos, uma nova tentativa de abrir um Doutorado Interdisciplinar em Estudos Culturais foi realizada pelos professores José Jorge e Rita Segato, da Antropologia, e Ana Vicentini, Elyeser Sturm e Grace Freitas, do Instituto de Artes. Pela terceira vez, não foi possível consolidar uma proposta devido às barreiras colocadas pelos Departamentos e Institutos, que até agora pressionam pela preservação da grade disciplinar e das unidades existentes. O que depreendemos da experiência acumulada nessas três tentativas é que, na Universidade de Brasília, não é viável tentar abrir um espaço interdisciplinar de inovação científica e curricular sem ancorar-se em uma nova unidade acadêmica que já 1 nasça aberta e preparada para abrigar essa proposta. No caso específico das nossas Humanidades e Ciências Sociais, não houve nenhuma proposta de inovação em vinte anos na graduação e a principal inovação da pós-graduação é ainda o atual CEPPAC, iniciado mediante o convênio FLACSO-UnB durante a gestão de Cristovam Buarque. Vinte anos sem inovações disciplinares e curriculares indicam uma marcada tendência à imobilidade e o perigo de perdermos pé nos diversos avanços e no processo de abertura de novos campos de indagação na grande área das Humanidades, precisamente numa época de reconfiguração e interseção acelerada de saberes, teorias, paradigmas e novidades nos modelos de articulação entre cursos e pesquisadores. Neste momento, o Reuni nos oferece a oportunidade de superar uma prática de funcionamento das unidades que, na UnB, tem conduzido a um alto grau de imobilismo disciplinar. Até agora, para que uma proposta de inovação se consolidasse era preciso que alguma unidade aceitasse ceder algum recurso próprio, como, por exemplo, suas vagas para contratação de novos docentes, bolsas ou espaço físico, para que este fosse transferido e alocado na nova unidade ou curso em constituição. Naturalmente, nenhum instituto ou departamento, na sua situação permanente de carência, poderia aceitar essa demanda. Esse foi precisamente o empecilho que encontramos nas três tentativas anteriores mencionadas. Isto porque as unidades não têm cedido recursos para a inovação; pelo contrário, lutam por novos recursos para consolidar ou reforçar os colegiados ou as grades disciplinares existentes. Disto resulta que, aqueles professores que se aventuram em experiências inter-disciplinares devem assumir uma carga extra de docência, orientação e participação em colegiados múltiplos, o que transforma a disposição para uma inovação em um ônus. Contudo, acreditamos que nos encontramos, agora, em uma nova situação, que poderá tornar possível o antigo anseio que diversos professores manifestaram repetidamente de criar uma nova unidade acadêmica capaz de acolher uma grade disciplinar mais interativa e afinada com os avanços do campo das Humanidades. II. Panorama dos Estudos Culturais como uma Área Interdisciplinar Os Estudos Culturais como uma área de estudos de perfil reconhecido surgiram na Inglaterra nos anos sessenta exatamente na encruzilhada das Humanidades com as Ciências Sociais. Para ele confluíram professores das áreas de História, Sociologia, 2 Literatura, Filosofia e Estudos de Comunicação. Tão relevante, porém, para o caso da abertura desse curso na UnB e em consonância com a proposta realmente avançada do ReUni, foi sua inovação democratizante: seus fundadores (todos acadêmicos eminentes, como o historiador E. P. Thompson e o crítico literário Raymond Williams) tinham uma perspectiva crítica, eram vinculados aos programas de alfabetização de adultos da Associação Nacional dos Trabalhadores, e posteriormente fizeram parte do projeto da Open University de ensino à distância. Nossa proposta, transplantada à realidade da UnB, visa também a interdisciplinaridade nos estudos da cultura e uma intervenção acadêmica conectada com as novas demandas por cidadania na sociedade brasileira atual. A expansão dos Estudos Culturais para outros países ocidentais abriu ainda mais o leque de interdisciplinaridade original, ao expandir as reflexões sobre a produção cultural industrializada, os estudos de Cinema, de Gênero e Sexualidade, e de Cultura Digital, além de discutir as várias modalidades de democratização do lugar eurocêntrico hegemônico na produção de saberes, o que tornou o novo campo mais próximo das políticas de inclusão de minorias étnicas, raciais e nacionais. Tal é o perfil, em síntese, da parte mais progressista dos Estudos Culturais nos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e nas universidades bilíngües com o inglês de Hong Kong, Coréia do Sul e Índia. Nos últimos quinze anos, enquanto lutamos por abrir a área aqui na UnB, departamentos e cursos de Estudos Culturais foram sendo abertos em outros países latino-americanos, como na Universidade Javeriana de Bogotá, na Universidade Nacional da Colômbia, na Universidade de Buenos Aires, na Universidade do Chile, na Universidade Simón Bolívar de Quito, no Colegio de la Frontera Norte, no Instituto de Antropologia e Historia e na Universidade de Baja California de México, e na Universidade de Santiago del Estero na Argentina, além de um núcleo como parte da pós-graduação em Comunicação da Universidad del Valle em Cali e o Programa Intercultural da Universidade Católica do Peru. Vale ressaltar que o Prof. José Jorge deu, em 2002, um mini-curso de pós-graduação prévio à instalação definitiva do curso na Universidade Nacional da Colômbia e proferiu, em 2007, a conferência inaugural do curso (que começa plenamente agora no segundo semestre de 2008) na Universidade de Santiago del Estero. Em cada uma dessas universidades de língua espanhola os programas de Estudos Culturais têm sido refeitos para ser adaptados às realidades e interesses locais. Nas 3 universidades colombianas, as temáticas mais importantes são a questão das identidades em uma nação pluri-étnica, a cultura urbana em uma época de grande migração interna e as teorias da pós-colonialidade. O perfil dos cursos no Chile, Equador e Peru privilegia as teorias e práticas da interculturalidade, resultado de um grande movimento pela inclusão dos povos andinos e amazônicos ao ensino superior: os cursos são bilingües com o espanhol (quéchua, aimará, mapudungun), existe uma política de inclusão de docentes e discentes pertencentes a esses grupos étnicos e todas as áreas disciplinares se abrem para uma revisão do padrão epistemológico eurocêntrico que tem dominado até hoje as Humanidades nas universidades do nosso continente. A proposta de Santiago del Estero enfatizará as relações das culturas regionais com a cultura nacional, a inclusão étnica na academia, e as culturas populares, que alcançam uma grande expressão no Norte argentino. A proposta que ora apresentamos incorpora praticamente todos os temas desses cursos ao mesmo tempo que visa ampliar ainda mais os trânsitos interdisciplinares neles promovidos. No Brasil, existem atualmente vários grupos e núcleos de professores que tentam abrir essa área nas Universidades Federais do Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e na Universidade de São Paulo. Pelo que sabemos, as dificuldades que encontram são semelhantes às da UnB: o fechamento disciplinar dos departamentos que poderiam abrigar o curso e a resistência às inovações temáticas e teóricas propostas. Nosso Instituto deverá iniciar-se então sob o signo do diálogo com essas experiências de inovação e simultaneamente deverá estimular a criação de cursos e centros paralelos nas universidades brasileiras acima mencionadas. Nossa proposta procura inovar em três dimensões simultâneas: a) criação de um curso de graduação em Estudos Culturais; b) criação de curso de pós-graduação em Estudos Culturais; c) criação de um Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura que contará, de saída, com um colegiado amplamente multi-disciplinar e com um leque de temas e abordagens teóricas até hoje não disponíveis na Universidade de Brasília. Nosso projeto contém, ainda, várias inovações conceituais com relação à estrutura do ensino vigente na UnB, que respondem ao projeto nacional do REUNI (ver detalhes das mesmas no subtítulo III): 4 a) concebe duas categorias de titulação ou grau: Diploma suplementar, outorgado somente a graduados de outros cursos – à maneira de um minor no sistema anglosaxão – , além do diploma pleno; b) permite a Múltipla entrada na matrícula; c) prevê a consolidação progressiva do curso de graduação, iniciando-se com a oferta destinada a cursos de outros institutos; d) destina-se ao horário noturno, porém não mais como outros cursos nesse turno, abertos apenas como duplicação da oferta existente em horários diurnos, mas com menor prestígio e destinados às classes menos favorecidas. No sentido estrito do termo, fundar os Estudos Culturais na UnB significará refundar essa área recente de saberes acadêmicos, adaptando-a a novos interesses teóricos e aos cruzamentos temáticos e de pesquisa que partem do seu colegiado fundador, têm uma demanda represada na nossa universidade e no Brasil e não têm acolhida nas unidades atualmente existentes na nossa universidade. III. Graduação em Estudos Culturais O curso de graduação em Estudos Culturais visa uma formação interdisciplinar em teorias da cultura e metodologias de análise para uma compreensão das complexas relações entre produção e consumo das expressões culturais no mundo contemporâneo. Neste sentido, virá preencher a falta de uma formação que coloque o foco nas interfaces temáticas e teóricas de disciplinas que permanecem disciplinarmente fechadas nos seus respectivos departamentos, como Antropologia, Sociologia, Filosofia, História, Teoria Literária, Comunicação e Artes (para ficar na grade mais trabalhada até agora pelos Estudos Culturais). Os departamentos que se ocupam desses campos disciplinares transmitem ao aluno uma base teórica conectada com a área disciplinar por que optou, porém sem lhe dar oportunidade para que possa aceder a conhecimento dos avanços teóricos e metodológicos de outras áreas afins que sejam igualmente de seu interesse. Essa é precisamente a novidade dos Estudos Culturais: formar na interdisciplinaridade, isto é, permitir que o aluno tenha acesso a mais de uma formação disciplinar e possa 5 circular sem barreiras no amplo campo das Humanidades da forma em que o seu objeto de análise o requeira. Nesse sentido, este novo campo se ocupa do tema das culturas contemporâneas em todos seus aspectos e variedades a partir de uma ótica informada pelos avanços das Ciências Humanas, Sociais, audiovisuais e cibernéticas, incluindo também os intercâmbios necessários com a biologia no que tange ao estudo dos processos de simbolização. A formação em Estudos Culturais será oferecida de um modo flexível para que cada estudante escolha a ênfase ou especialização que mais lhe interesse, ficando assim a meio caminho entre uma formação geral na grande área das Humanidades e uma formação mais específica em uma área temática ou teórica que, na maioria das vezes, ficará mais próxima de uma disciplina. De qualquer modo, trata-se de abrir o espaço para o trânsito livre e aberto no campo das teorias contemporâneas da cultura que incluirão, por exemplo: o pós-estruturalismo, a renovação da análise marxista da cultura, as leituras psicanalíticas da cultura, a desconstrução e as teorias da diferença, as teorias do corpo e da performance, as teorias do gênero e da sexualidade (incluindo a teoria queer); a teoria pós-colonial, interculturalidade e inclusão, filosofia comparada e diálogo entre civilizações, cultura visual, correlações entre os planos psicológico e o plano cultural, relações entre biologia e cultura, cultura e evolução humana, cibercultura. Quando essas abordagens teóricas são utilizadas nos cursos existentes na UnB, esse estudo é sempre feito de um modo marginal, já que os Departamentos continuam reproduzindo os corpus de conhecimento próprios de seus cânones disciplinares. Por outro lado, os temas e perspectivas teóricas dos Estudos Culturais demandam desenvolver nos alunos a capacidade de transitar entre disciplinas e abrir-se para o que se vêm chamando de “grande campo da teoria contemporânea”. Este campo do pensamento se instala entre as abordagens disciplinares, não sendo plenamente captado por nenhuma disciplina em isolamento. O curso de Estudos Culturais propiciará uma formação teórica, etnográfica e analítica para a compreensão dos fenômenos culturais e será ofertado no turno noturno. A oferta em horário noturno responde aos objetivos de democratização do ensino superior preconizados pelo REUNI: a) Une expansão com inovação acadêmica de ponta; 6 b) reverte a costumeira segregação dos cursos noturnos, vistos pela comunidade como cursos de menor prestígio, devido a que estudantes de todos os cursos da universidade interessados em expandir sua compreensão do impacto da cultura sobre seus campos profissionais terão acesso às disciplinas e a uma formação complementar; além disso, será um curso completo integrado com os programas de mestrado, doutorado, residência pós-doutoral e outras atividades de alto nível sediadas pelo Instituto (ver subtítulo VI). Mais ainda: c) Contorna as restrições de espaço (disponibilidade de salas de aula) atualmente enfrentadas pela UnB; d) contorna os choques de grade horária dos estudantes que solicitam matrícula; e) permite sua melhor compatibilização com uma oferta de extensão para funcionários públicos, assessores e consultores de órgãos públicos como o MINC, MEC, SEPPIR, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e a Secretaria Nacional de Políticas para a Mulher, entre outros, assim como também para membros de ONGs e Fundações. A implantação do programa obedecerá ao seguinte cronograma de etapas de progressiva consolidação: Primeira fase de implantação: durante o primeiro ano de funcionamento – 2009 –, ele garantirá uma oferta noturna de disciplinas com caráter de optativas, de área conexa e de módulo livre para os cursos ministrados pelos departamentos dos seguintes Institutos e Faculdades: ICS, IH, FAC, FD, FAU, IPOL, IREL, IB, IP, IL. Segunda fase de implantação: durante o segundo e o terceiro anos de funcionamento – 2010 e 2011 –, o curso outorgará um diploma suplementar (como um minor no sistema anglo-saxão) para graduados dessas faculdades e institutos, visando qualificá-los para o ingresso na pós-graduação em Estudos Culturais. Terceira fase de implantação: somente no quarto ano de funcionamento – 2012 –, o curso de graduação em Estudos Culturais alcançará sua existência institucional definitiva, com ingresso mediante exame vestibular e diploma pleno. 7 A partir de 2012, já consolidado, o programa continuará a oferecer um diploma suplementar para graduados de outros cursos e oferecerá também um diploma pleno, constituindo ambas as modalidades opções alternativas de curso de graduação em Estudos Culturais. Em todas as fases do seu processo gradual de consolidação, a matrícula das disciplinas poderá ter acesso pelo sistema de múltipla entrada para acolher estudantes de graduação, pós-graduação, extensão e visitantes em residência do Instituto e da Universidade de Brasília. Disciplinas do curso: Estudos Culturais: Gênese de uma área interdisciplinar Cultura e Poder Antropologia Cultural Método etnográfico Sociologia da Cultura Teorias da Literatura Literatura e Sociedade Filosofia Comparada Teorias do Discurso Teorias de Gênero Culturas Populares Indústria Cultural Mídia e Política Reconhecimento, Multiculturalismo e Interculturalidade Diferença Cultural e Direitos Humanos Teorias Pós-Coloniais e Descolonização Teorias da Performance Psicologia e Cultura Biologia, Cultura e evolução dos processos de simbolização Cultura Virtual Cultura Visual 8 Cinema, História e Cultura (Literatura, Ritual, Diferença) IV. Pós-Graduação em Estudos Culturais A pós-graduação em Estudos Culturais iniciar-se-á já no 1° semestre de 2009. Sua abertura responde a demandas temáticas, teóricas e metodológicas novas vindas de um contingente de alunos que já terminaram ou que estão neste momento terminando a graduação, e também de muitos outros que estão fazendo vários cursos de pósgraduação na UnB. As linhas temáticas aprofundam e ampliam as já incluídas no currículo da graduação, e dão mais ênfase à prática de pesquisa e elaboração de textos, colocando no centro dos objetivos a produção de conhecimento e o desenvolvimento da capacidade de reflexão teórica e autoria por parte dos estudantes. Linhas temáticas da Pós-graduação em Estudos Culturais: Estudos Feministas, de Gênero e da Sexualidade Esta linha dará continuidade ao agora interrompido programa de pós-graduação em Estudos Feministas que funcionou durante quatro anos no Departamento de História. Ações Afirmativas e Relações Étnicas e Raciais Esta linha se vinculará às experiências de pesquisa e coleta de dados que serão realizados no recém-criado Laboratório de Políticas de Cotas e Ações Afirmativas da Universidade de Brasília. A UnB foi pioneira com sua postura pró-ativa e na abertura de cotas para negros e indígenas no ensino superior brasileiro e pode agora mais uma vez ser pioneira na reflexão teórica sobre todas as modalidades de ações afirmativas, políticas de inclusão e justiça distributiva: além da cotas para negros e reserva de vagas para índios, cotas para mulheres, para portadores de necessidades especiais e cursos e programas interculturais para formação de docentes indígenas, para movimentos sociais, etc. 9 Arte, cultura e subjetividades contemporâneas Esta linha se propõe definir um campo conceitual expandido para além do disciplinar, que dê conta de abordar a emergência de subjetividades contemporâneas e dos agenciamentos micro e macro-políticos que elas promovem frente o assombroso crescimento do mercado cultural nas últimas décadas O exame da paisagem artística e cultural contemporânea visa explicitar diversos modos de produção e controle das subjetividades e sensibilidades individuais e coletivas no contexto do capitalismo mundial integrado. Tendo como foco as produções de sentido na contemporaneidade centradas no corpo e na performance, pretende-se encorajar a interlocução entre arte, política, psicanálise e filosofia. O foco no corpo humano, grande ausente do interesse das Ciências Humanas durante décadas, como lócus da cultura permite para superar binarismos hoje considerados insustentáveis, tais natural/artificial. Outros temas: Culturas tradicionais e populares no mundo contemporâneo Indústria Cultural Direitos Culturais e Direitos Humanos Análise Marxista da Cultura Psicanálise da Cultura Literatura e Sociedade Diálogo entre Civilizações Políticas Culturais Poder e Representação Cultura Visual Cinema, História e Cultura (Literatura, Ritual, Diferença) Dimensões Performáticas da Cultura (voz, canto, teatralidade) Colonialidade e Descolonização na América Latina Antropologia Cultural Culturas das Cidades. Constituição da subjetividade Modernidade e Pós-modernidade Ideologia e cultura 10 como individual/social, Cultura e Evolução É preciso enfatizar que todas essas sub-áreas, tanto da graduação como da pósgraduação, são tratadas só marginalmente dentro das unidades e cursos já existentes na UnB, o que contradiz o anseio de vários professores e de um grande grupo de estudantes por trata-las como foco central da sua formação. A motivação para criar um novo curso e ofertar um novo elenco de disciplinas é de somar e interagir e não substituir as pósgraduações existentes. Trata-se de cobrir aspectos e interfaces ainda não trabalhadas em decorrência de escolhas consideradas prioritárias pelas unidades que obedecem ao seu cunho disciplinar originário e que, por isso, deixam de contemplar as áreas de ensino e pesquisa aqui listadas. No caso da abordagem antropológica, por exemplo, vale lembrar que a pós-graduação da UnB, que goza de alto prestígio na CAPES, é definida explicitamente como Antropologia Social (daí a nomenclatura de PPGAS, a mesma usada também no Museu Nacional da UFRJ, outro programa também de referência nacional), enquanto o que aqui propomos á o campo da Antropologia Cultural. A opção pelo campo disciplinar da Antropologia Social deixa de fora outros campos igualmente importantes da abordagem antropológica, que ficam por isso ausentes da grade disciplinar, como os cursos de Antropologia Cultural, de Cultura e Linguagem, de Antropologia Biológica e de Arqueologia. O Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura acolherá então essas dimensões não contempladas no PPGAS da UnB. V. O Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura - IIEC O Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura contará com um coletivo de acadêmicos dedicados a estudar todas as dimensões dos processos de produção dos símbolos culturais: a dimensão social propriamente dita, a dimensão biológica e a dimensão cibernética. O Instituto terá, neste sentido, o perfil de uma unidade de altos estudos com dois compromissos básicos: a) estabelecer pontes entre as áreas disciplinares que pesquisam as várias dimensões dos processos culturais, algumas mais próximas, outras consideradas distantes entre si e em alguns casos propondo protocolos sem precedentes de intercâmbio de saberes; 11 b) abrir-se à inovação e à atualização constantes, postura que será facilitada e mesmo estimulada como conseqüência da troca teórica e epistemológica entre as disciplinas. A graduação em Estudos Culturais inovará por permitir uma formação interdisciplinar na interseção das Humanidades com as Ciências Sociais e outros ramos da ciência e da arte; a pós-graduação ampliará esse quadro ao oferecer, além dos temas de Estudos Culturais da graduação, cursos especiais a partir do engajamento dos professores com órgãos, instituições e movimentos que demandam cursos específicos na área da cultura para consolidar políticas de inclusão e de formação intercultural; finalmente, o Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura não apenas abrigará os cursos de graduação e de pós-graduação em Estudos Culturais, como também acolherá residentes de Pós-Doutorado, assim como uma série de programas e projetos de Extensão e Intervenção na Universidade e na Sociedade. A abrangência maior que os programas de ensino stricto sensu que abriga levou à decisão de utilizar o nome de Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura – IIEC para a unidade acadêmica, e conservar o nome já consagrado de Estudos Culturais para os programas de ensino de graduação e Pós-graduação. No seu caráter de inovação institucional e como sede de diversas atividades e encontros acadêmicos, o IIEC se soma às seguintes estruturas já existentes em outras universidades brasileiras: o Instituto de Altos Estudos da USP, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG; o Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC. VI. Extensão e Intervenção do IIEC na Universidade e na Sociedade O Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura será, também, sede das seguintes estruturas e atividades: 1. Um Laboratório de Políticas de Cotas e Ações Afirmativas – LCAA, que se encontra em fase de implantação e já realiza suas atividades iniciais em colaboração com o DATA-UnB, agora instalado no Departamento de Estatística. Este laboratório 12 monitorará o sistema de cotas na UnB e se propõe formular uma grade de acompanhamento de todas das políticas de inclusão nas universidades brasileiras. 2. Um conjunto de convênios de colaboração com vários órgãos estatais, como o Ministério da Cultura (Fundação Palmares, Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural e IPHAN), com as Secretarias Especiais de Promoção da Igualdade Racial, de Políticas para as Mulheres, de Direitos Humanos, com a FUNAI, etc. Através dessas colaborações, o Instituto Interdisciplinar de Estudos da Cultura oferecerá cursos de formação para mestres da Cultura Popular, gestores de cultura e ativistas de Direitos Humanos no campo das Ações Afirmativas. 3. Uma rede internacional de Estudos Culturais e de programas de Interculturalidade. Os proponentes do Instituto já mantêm vínculos acadêmicos com os programas das universidades Javeriana e Nacional de Bogotá, del Valle de Cali, Católica do Peru e Santiago del Estero na Argentina. 4. Uma Revista Acadêmica dedicada aos Estudos Culturais de nível internacional. É sabido que a UnB carece há décadas de uma Revista que se destaque pelo seu alto nível no campo das Humanidades. Não se trata de substituir a Revista Humanidades, mas de produzir uma revista de padrão acadêmico que seja referência nos debates nacionais e internacionais. 5. Seminários internacionais sobre temas e teorias de ponta dos quais participarão grandes expoentes do pensamento contemporâneo, tanto do Norte quanto do Sul do mundo. O Instituto organizará pelo menos um encontro anual de projeção internacional. VII. Recursos Institucionais e Infra-Estrutura Requeridos Serão necessários: 1. 15 vagas de professores adjuntos para constituir o colegiado do Instituto. 2. 5 servidores técnico-administrativos 3. 10 bolsas de Mestrado 4. 5 bolsas de doutorado 13 5. espaço institucional (salas e equipamentos) para abrigar o Instituto, incluindo: um centro completo de apoio audiovisual para os cursos e pesquisas em cultura audiovisual, e um auditório inteiramente equipado para conferências internacionais VIII Equipe acadêmica: O Instituto contará inicialmente com o seguinte colegiado de professores, alguns deles com vínculo exclusivo e outros com dupla lotação. Ana Lúcia Farah Valente – Ciências Sociais Aplicadas e Agronegócio (FAV) Angélica Madeira - SOL Frederico Flósculo Barreto – PRO-FAU José Jorge de Carvalho – Professor Associado – DAN Luis Felipe Miguel – Professor Associado - IPOL Mariza Veloso Motta Santos – Professor Adjunto – SOL Miroslav Milovic - Professor Titular – FIL Regina Dalcastagnè – Professora Associada - TEL Regina Pedroza – Professora Adjunta – PED-IP Rita Laura Segato – Professora Associada – DAN Sara Almarza – Professora Associada - TEL Silvia Davini – CEN Tânia Navarro Swain – HIS 14