A Utilização de Instrumentos Contábeis no Processo de Gestão nas Micro e Pequenas Empresas Juliana Benites Padua – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Manfredo Rode – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Resumo Por conta da existência de evidências de que os instrumentos contábeis não são integralmente utilizados no processo decisório por algumas empresas, este artigo visa conhecer o nível de utilização desses instrumentos contábeis nas micro e pequenas empresas optantes pelo Simples Nacional, localizadas na cidade de Dourados-MS. Para tanto, por intermédio de uma pesquisa descritiva e de levantamento, foram analisadas trinta empresas comerciais de confecções que se concentravam na área central do município. Maior parte das empresas que recebem os demonstrativos contábeis indicou utilizar essas informações gerencialmente de forma satisfatória, porém observou-se um índice relevante de empresas que não utilizam os demonstrativos contábeis para nenhuma finalidade, de forma que possuem serviços contábeis por ser exigência do fisco. Palavras-chaves: gerenciamento, micro e pequenas empresas, demonstrações contábeis, tomada de decisões. Abstract Because of the existence of evidences that the accounting instruments are not fully used in decision-making process by some companies, this article aims to know the level of use of accounting tools in micro and small enterprises witch opting for National Simple, located in the city of Dourados-MS. Thus, through a descriptive research and a survey, were analyzed thirty companies in the clothing trade that were concentrated in the central area of the city. Most companies that receive the financial statements has indicated using that information managerially satisfactorily, but there was a relevant index of companies that don’t use the accounting statements for any purpose, thus they have accounting services only because of the taxes requirements Keywords: management, micro and small enterprises, accounting statements, decisionmaking. 1. Introdução Diante de um mercado cada vez mais exigente e desafiador, as empresas brasileiras precisam estar mais preparadas para que seja possível atender as demandas e manter-se neste concorrido mercado. De acordo com Ottoboni e Pamplona (2001), em virtude das constantes mudanças e inovações, ocorre o aumento do fluxo de riscos e incerteza, tornando o gerenciamento das empresas uma atividade bastante complexa e desafiante. Para que a contabilidade possa expressar um papel como fonte de informações para a tomada de decisões, Oliveira et al. (2000) afirma que: “a contabilidade deve acercar-se de características fundamentais à administração, tais como: ser útil, oportuna, clara, íntegra, relevante, flexível completa e preditiva.” Desta forma, o gestor com o controle das operações deve se ater a todos estes aspectos no cotidiano da administração. O fato inconveniente dessas mudanças é que, devido à falta de fiscalização eficiente, muitas empresas encontram dificuldades em realizar a prática legal e utilizar a contabilidade na tomada de decisões no negócio. Segundo Fernandes et al. (2006), algumas entidades ainda acreditam na falsa premissa da não obrigatoriedade da escrituração contábil e em muitas VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br dessas empresas, as demonstrações não mostram a realidade financeira e patrimonial das mesmas. A inexistência de uma contabilidade estruturada para elaborar relatórios contábeis adequados tem sido uma dificuldade encontrada pelas pequenas empresas, tanto na obtenção de recursos de financiamento, como no processo de gestão econômica das atividades (KASSAI; KASSAI, 2001). E no que dizem respeito a pequenas empresas, as dificuldades são ainda maiores em se adaptar com as mudanças frente das inovações tecnológicas. Devido à obrigatoriedade para algumas empresas selecionadas de acordo com sua atividade em implantar a Nota Fiscal Eletrônica (NFe), Emissor de Cupom Fiscal (ECF) e também o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), tem se percebido uma resistência nesta adoção por partes de algumas entidades, pois além de trazer um controle mais rígido das informações prestadas ao fisco, e uma série de benefícios até mesmo para o próprio empresário, esse sistema gera custos com implantação, manutenção, pessoal capacitado e em alguns casos devido à prática da informalidade assim como omissão de receita, falta de estrutura, acaba dificultando a utilização da contabilidade de maneira apropriada e eficiente. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as micro e pequenas empresas, representam 98% das empresas formais no país, destacando-se nos vários setores da economia entre comércio, indústria e serviços, gerando emprego e renda à população. No estado de Mato Grosso do Sul, o número dessas empresas também é expressivo, de acordo com a Junta Comercial de Mato Grosso do Sul - Jucems (2010) existem no estado atualmente 77.440 empresas enquadradas como Micro Empresa (ME), e 5.871 enquadradas como Empresa de Pequeno Porte (EPP), sendo que deste total o município de Dourados abriga 5.808 Micro Empresas e 569 Empresas de Pequeno Porte. Em Dourados, segunda maior cidade do estado de Mato Grosso do Sul, depois da capital Campo Grande, considerada também a segunda maior economia do estado, tem forte influência comercial. O comércio local é considerado uma importante fonte de arrecadação de impostos aos cofres públicos, de renda, assim como boas expectativas de crescimento, dado que fora destacado pela revista Você S/A, que por meio de pesquisa nacional aponta Dourados como sendo a quinta cidade no Centro-Oeste e a octagésima segunda cidade no âmbito nacional, como sendo a melhor cidade para se trabalhar e que oferece oportunidades profissionais. 1.1 Problemática Tendo em vista o papel da contabilidade como importante mediador nos negócios empresariais e instrumento com vasta informação em relação ao fluxo das movimentações financeiras, operacionais e patrimoniais, percebe-se que em determinadas organizações empresariais não ocorre o emprego ideal dessas informações, tornando difícil o acesso a dados confiáveis e transparentes que dariam subsídios a decisão gerencial. De acordo com Oliveira et al. (2000), o que deveria ser instrumento de gestão, análise de projeções, geração de informações, tornou-se meramente um instrumento de exigência fiscal. Em vista dos benefícios gerados pela contabilidade, que contribui expressivamente no processo decisório das entidades, mas que não vem sendo explorada de forma relevante, nos deparamos com os seguintes questionamentos: Qual o nível de utilização dos demonstrativos contábeis nas micro e pequenas empresas de Dourados? E por quais motivos um instrumento tão valioso de gestão pode não estar sendo utilizado de forma satisfatória na gestão dessas empresas? VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Este trabalho tem por objetivo conhecer o nível de utilização dos artefatos contábeis no processo decisório entre as micro e pequenas empresas, optantes pelo Simples Nacional, localizadas na cidade de Dourados-MS. 1.2.2 Objetivos específicos o Estabelecer possíveis fatores que possam dificultar a total utilização da informação contábil na tomada de decisões pelos pequenos empresários; o Identificar as possíveis necessidades dos empresários que não vem sendo atendidas por seus contadores; 2. Referencial teórico De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) PME – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas, “As pequenas e médias empresas são aquelas que não possuem obrigação pública de prestação de contas; e elaboram demonstrações contábeis para fins gerais para usuário externo.” Segundo Cher (1991, p.17), “[...] para se conceituar as pequenas e médias empresas, algumas variáveis são tradicionalmente utilizadas, tais como mão-de-obra empregada, capital registrado, faturamento, quantidade produzida, etc.”. Koteski (2004) afirma que: “as micro e pequenas empresas são um dos principais pilares de sustentação da economia brasileira, quer pela sua enorme capacidade geradora de empregos, quer pelo infindável número de estabelecimentos desconcentrados geograficamente”. Almeida (1994) salienta que na pequena empresa a administração é geralmente feita pelos proprietários ou por seus parentes, que muitas vezes não tem conhecimento aprofundado das técnicas administrativas. Esta cultura predominante nas pequenas empresas já vem ocorrendo há muito tempo, fato que evidencia certa resistência da aceitação as novas técnicas sem controle hábil e técnica suficiente que demonstre os resultados corretos. Entre os objetivos da contabilidade, tem-se o fornecimento de informações da situação econômica e financeira da entidade aos seus usuários de modo que essa informação auxilie na tomada das decisões. Porém, essa informação fica distorcida quando alguns contadores se preocupam em atender prioritariamente a legislação fiscal não se importando tanto com a qualidade das mesmas, tal qual apresenta Marion (2008, p.25) quando menciona que: A função básica do contador é produzir informações úteis aos usuários da Contabilidade para a tomada de decisões. Ressaltemos, entretanto, que, em nosso país, em alguns segmentos de nossa economia, principalmente na pequena empresa, a função do contador foi distorcida (infelizmente), estando voltada exclusivamente para satisfazer às exigências do fisco. Estas evidências praticadas por esses contadores se tornam prejudiciais à saúde da empresa, desta forma não há possibilidades do empresário se basear em informações duvidosas para administrar seu negócio. É importante que haja uma integração entre o empresário e seu contador no desempenho de suas funções, de maneira que a empresa disponibilize todos os documentos necessários para a escrituração, possibilitando ao contador realizar a emissões dos relatórios que contenham informações precisas e úteis ao empresário. Mesmo que talvez o empresário não tenha recursos suficientes para implantar sistemas de gestão altamente eficazes, é possível obter informações de qualidade por meio da VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br contabilidade, pois ela é uma ferramenta importante na tomada de decisões desde que seja utilizada corretamente. Segundo Iudícibus (1997), a evidenciação constitui compromisso inalienável com seus usuários e com seus próprios objetivos e diz respeito à apresentação ordenada das informações quantitativas e qualitativas, propiciando uma base adequada de informação para o usuário. A importância da contabilidade como ferramenta de apoio a gestão também é destacada por Balaminut (2007), ex-presidente do CRC-SP, onde ele afirma: [...] as mais de 5 milhões de pequenas e médias empresas existentes hoje no Brasil necessitam de informações e instrumentos que melhorem sua gestão, que apontem soluções viáveis para a continuidade dos negócios. Segundo dados divulgados pelos órgãos oficiais, metade desses pequenos empreendimentos está condenada à morte do primeiro ao terceiro ano de existência, e a principal causa apontada para essa tremenda mortandade é a falta de informações para tomada de decisões e ferramentas adequadas para a gestão do negócio. Com relação às novas medidas de controle fiscal adotadas pelo fisco, Francisco et al. (2009) enfatizam: Espera-se que a implantação da informatização, principalmente com o uso da Nota Fiscal Eletrônica, as fiscalizações se tornem mais eficazes, fazendo com que os empresários se preocupem em planejar seus gastos tributários e apliquem um sistema de informações contábeis. Desta forma, cada vez mais, esses sistemas aplicam-se como ferramentas indispensáveis de gestão para as organizações, sejam elas grandes ou pequenas, que pretendem minimizar sua carga tributaria de forma legal, sem riscos de atuações fiscais, que, certamente, serão mais frequentes. Diante das mudanças que essa adoção irá proporcionar no cenário contábil, Duarte (2008) afirma que: “a auditoria contábil, a contabilidade fiscal consultiva e a contabilidade gerencial, em seus diversos sabores, saem do fundo do baú para se tornarem as grandes vedetes do momento.”. Em virtude dessas mudanças e aprimoramento tecnológico no controle fiscal no Brasil, tem-se se percebido uma preocupação cada vez maior do fisco com o grau de informação prestado pelas empresas. Em vista disso, espera-se que seja possível que as empresas possam enviar informações de maior qualidade para que não haja problemas futuros com a fiscalização. 3. Metodologia A pesquisa de campo foi realizada junto às micro e pequenas empresas comerciais, optantes pelo Simples Nacional do setor varejista de confecções, do município de Dourados e que terceirizam os serviços contábeis aos escritórios de contabilidade, sendo essa pesquisa caracterizada de caráter descritivo quanto aos seus objetivos, onde essa tipologia segundo Gil (1999) tem por objetivo descrever as características de determinada população de forma que possa estabelecer relações entre as variáveis utilizando técnicas padronizadas de coleta de dados, e de levantamento quanto aos procedimentos, onde conforme cita Gil (1999): Se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados. A pesquisa foi realizada por meio da utilização do questionário, visando conhecer o nível de utilização da contabilidade na tomada de decisões entre gestores ou empresários responsáveis por essas empresas. As respostas obtidas mediante a análise quantitativa darão subsídios para constatação do objetivo da pesquisa. A região delimitada para análise foi escolhida de acordo com o local onde ocorre maior concentração das mesmas, que é a região central do município Dourados, abrangendo as ruas João Rosa Góes, Hilda Bergo Duarte, Joaquim Teixeira Alves, e Weimar Gonçalves Torres, onde na qual abriga 47 estabelecimentos comerciais, que se adéquam ao perfil desejado para análise dessa pesquisa. Foram aplicados os questionários nessas 47 empresas identificadas, o que corresponde a 100%, entretanto, houve retorno de 30 questionários que somaram 63% do total das empresas identificadas. O período de aplicação do questionário e a coleta ocorreram entre os dias 04 a 18 de outubro de 2010 A pesquisa foi direcionada ao gestor ou responsável legal do estabelecimento, a fim de saber sob a percepção dessas pessoas o nível de aproveitamento da informação contábil na tomada decisões. Cabe lembrar que os resultados desta pesquisa, estão restritos a amostra pesquisada do município de Dourados – MS, situada na região central da cidade, delimitada de acordo com os critérios mencionados anteriormente e não pode ser generalizados a outra região. 4. Análise e discussão dos dados 4.1.1 Período de existência das empresas Dentre os estabelecimentos analisados, foi constatado que as empresas recentes, de até quatro anos de existência correspondem a 23% da amostra, sendo que deste grupo, 10% enquadramse com existência superior a dois anos. As empresas com mais de quatro anos aparecem com índices maiores, contudo, aquelas que possuem mais de oito anos totalizam 40%, com destaque de 23%, maior índice isolado, às empresas com mais de dez anos no mercado. 23% 25% 20% 20% 15% 17% 17% 13% 10% 10% 5% 0% Menos de Entre dois Entre Entre s eis Entre oito Mais de dois anos a quatro quatro a a oito a dez anos dez anos anos s eis anos anos Figura 2: Período de existência da empresa Fonte: Dados da pesquisa 4.1.2 Nível de preparação dos gestores Quando indagado sobre a preparação dos empresários ou gerentes que administram as empresas (figura 3), 70% responderam que ‘possui somente experiência profissional no VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br mercado’, uma parte correspondente de 20% a 23,33% informaram que eventualmente participa de eventos voltados à administração ou cursos especializantes da área. Apenas 23,33% afirmaram possuir formação de nível superior voltado a área das ciências aplicadas. 23,33% 0,00% 20,00% 70,00% 23,33% Somente experiência prof issional no mercado Possui cursos superior (administração, Ciências Contábeis ou Economia) Possui cursos especializados promovidos por órgãos de apoio aos empreendedores Participa frequentemente de eventos que aprimoram os métodos de administração Outros Figura 3: Nível de preparação profissional do gestor da empresa Fonte: Dados da pesquisa É imprescindível atualmente que as pessoas envolvidas a frente de qualquer negócio que vise o fim lucrativo tenha toda a preparação que esta responsabilidade exige, que tenha noções necessárias para interpretar e executar seu papel, de forma que possa conduzir os negócios de forma satisfatória, evitando assim, experiências com crises administrativas desnecessárias por falta de planejamento. 4.1.3 Faturamento De acordo com a figura 4, o faturamento das empresas analisadas varia mais entre R$ 120.000,00 a 480.000,00, tendo maior quantidade aquelas que faturam entre R$ 240.000,00 a 480.000,00 anuais. As empresas que faturam acima desse valor, possuem mais de oito anos no ramo e um potencial maior de investimento físico. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Até 120.000,00 3% 3% 3% De 120.000,01 a 240.000,00 17% 7% De 240.000,01 a 360.000,00 De 360.000,01 a 480.000,00 20% 23% De 480.000,01 a 600.000,00 De 600.000,01 a 720.000,00 De 720.000,01 a 840.000,00 23% Acima de 840.000,01 Figura 4: Faixa de faturamento anual Fonte: Dados da pesquisa 4.1.4 Planejamento ou projeções administrativas A figura 5 trata da questão sobre o planejamento empresarial e tem se observado que metade das empresas respondeu que não realizam nenhum tipo desse controle. O restante dos empresários informou que realizam, entretanto 26,67% indicaram que fazem pelo menos mensalmente essas projeções sendo que 85,22% dos respondentes que possuem ensino de nível superior, responderam que utilizam essa prática na empresa. 60,00% 50,00% 50,00% 40,00% 30,00% 26,67% 20,00% 10,00% 6,67% 10,00% 6,67% 0,00% Mensal Trimestral Semestral Anual Não Realiza Figura 5: Planejamento administrativo ou projeções Fonte: Dados da pesquisa 4.1.5 Destinações dadas ao movimento mensal pelas empresas Com relação à documentação que é enviada mensalmente ao escritório de contabilidade, demonstrado através da tabela 1, foi constatado que dos itens listados na pesquisa, somente as notas fiscais de entrada e as guias de recolhimento são integralmente direcionadas ao escritório por todas as empresas e apenas 20% informaram enviar integralmente todas as opções listadas na tabela ao escritório, ou seja, grande parte dos documentos essenciais a informação contábil é enviado parcialmente ou nem é enviado ao VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br escritório que realiza os serviços contábeis. Os itens menos enviados são destacados pelos documentos relacionados a bancos, onde 63% das empresas informaram não enviar os extratos de conta corrente e aplicações financeiras ao escritório, e 83% responderam que não enviam os contratos bancários. Tabela 1: Destinação dos documentos mensais É enviado É enviado ao Não é enviado Descrição parcialmente escritório ao escritório ao escritório Nota fiscal de entrada Nota fiscal de saída Pgto. de duplicatas Despesas gerais Guia INSS Guia FGTS Guia Simples Outras guias Extrato bancário Contratos ref. Empréstimos Outros Fonte: Dados da pesquisa % 100 83 47 33 100 100 100 40 27 % 17 23 37 10 10 % 30 30 50 63 17 - - 83 3 Através destas informações, podemos observar que muitos documentos importantes não possuem a destinação ideal que é chegar até o escritório de contabilidade e ser devidamente escriturados. Embora haja profissional que julgue desnecessária a elaboração de demonstrações contábeis às micro empresas, os contabilistas por sua vez, precisam orientar melhor seus clientes sobre esta prática, para que possa proporcionar a esses clientes, informações de qualidade sobre a situação da empresa, possibilitando que estes realizem projeções para obter maior resultado e também melhor transparência junto ao fisco, 4.1.6 Demonstrativos encaminhados às empresas De acordo com a figura 6, o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultado do Exercício e o Balancete, são os demonstrativos mais encaminhados aos empresários, em sua grande maioria anualmente, ressalta-se também que aquelas empresas que informaram enviar todos os documentos necessários ao escritório, recebem pelo menos, essas três demonstrações. Os demais relatórios gerenciais apresentaram-se em menores proporções, sendo entre eles o fluxo de caixa, o controle de estoque e o controle de custos, despesas e receitas os mais recebidos. Entre aqueles que responderam que não recebem nenhum tipo de relatório ou demonstrativo contábil, somaram-se em 16,67%. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Balanço Patrimonial 90% 80% DRE 70% Balancete 60% Controle custos, despesas e receitas Fluxo de caixa 50% 40% 30% Controle de estoque 20% Textos informativos 10% Outros 0% Não recebe nenhum tipo de demonstração 1 Figura 6: Demonstrativos encaminhados pelos contabilistas às empresas Fonte: Dados da pesquisa Das empresas que não recebem as informações contábeis, se tratam de empresas recentes, onde fora constatado menor estrutura e menor nível de preparação de seus responsáveis, fator que tem contribuído em muitos casos com a descontinuidade das organizações por falta de gestão adequada. Contudo, a maioria dos demonstrativos que as empresas indicaram receber são os relatórios de cunho fiscal, uma pequena parcela afirmou receber os relatórios gerencias de seus contadores, demonstrando que grande parte dos profissionais desenvolve o seu trabalho voltado para atender as necessidades fiscais de seus clientes. 4.1.7 Compreensibilidade dos relatórios pelos usuários internos No quesito compreensibilidade (tabela 2), o nível de interpretação das demonstrações recebidas pelos empresários e gestores é relativamente boa, sendo que o Balanço Patrimonial, o Balancete e a Demonstração de Resultado do exercício, foram considerados os itens mais claros no momento das análises por seus usuários, os relatórios gerenciais não obtiveram tanta atenção dos respondentes, mas que oscilaram de Regular a Bom no conceito atribuído entre aqueles que responderam. Tabela 2: Compreensibilidade dos relatórios Relatórios Ruim % 3 3 3 Regular % 20 17 13 Bom % 30 23 30 Ótimo % 10 14 14 Excelente % 10 10 10 Não responderam % 27 33 30 - 3 4 7 3 11 10 16 4 3 3 3 - 83 83 77 90 Balanço patrimonial DRE Balancete Controle custos e receitas Fluxo de caixa Controle de estoque Textos informativos Fonte: Dados da pesquisa VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br 4.1.8 Confiabilidade dos relatórios pelos usuários internos Também questionado sobre a confiabilidade dos empresários nas informações obtidas através dos demonstrativos contábeis que recebem de seus contabilistas, como mostra a tabela 3, foi observado dentre os respondentes que, a maior parte das demonstrações recebeu maior conceito entre ‘Regular’ a ‘Bom’, seguido por ‘Ótimo’, com um pouco mais de 20%. Entre os empresários ou gestores que possuem nível superior de ensino, 66% indicaram conceito entre ‘Bom’ a ‘Ótimo’, 16% deles informaram conceito ‘Regular’ e a outra parcela correspondente a 16% indicaram o conceito ‘Excelente’ para os demonstrativos que recebem. Tabela 3. Confiabilidade dos relatórios Relatórios Ruim Regular Bom Ótimo Excelente Não Responderam % % % % % % Balanço Patrimonial 3 30 30 20 3 14 DRE 30 27 23 3 17 Balancete 3 20 33 20 24 Controle custos e receitas 17 17 10 56 Fluxo de caixa 13 17 13 57 Controle de estoque 10 27 7 56 Textos informativos 20 3 77 Fonte: Dados da pesquisa 4.1.9 Itens isolados dos demonstrativos que refletem a realidade da empresa Sob a hipótese de haver confiabilidade parcial em determinado demonstrativo, foi questionado também, ao empresário ou gestor, a percepção deles em relação a alguns itens segmentados que compõem essas demonstrações. Conforme destacado na tabela 4, o saldo de Estoques e o de Lucros ou prejuízos acumulados foram os itens isolados menos indicados, ambos com 15% cada, seguido pelo caixa com 19% das respostas. Um total de 23% dos empresários ou gestores informou que as demonstrações que recebem estão sendo elaboradas de acordo com a situação real da empresa, ou seja, segundo eles, as informações expressas nas demonstrações são evidenciadas com exatidão de todos os fatos ocorridos. Porém, 35% dos respondentes da pesquisa, indicaram que as demonstrações contábeis obtidas não são evidenciadas com transparência, ou seja, a demonstração emitida pelo escritório é um mero instrumento que gera informações fiscais e irreais, não fornecendo beneficio algum aos seus usuários internos que poderiam se beneficiar gerencialmente com as informações contidas nesses relatórios. VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Tabela 4: Itens dos demonstrativos que refletem a realidade da empresa Descrição Caixa Estoque Contas a pagar e contas a receber Lucros ou prejuízos acumulados Nenhum dos itens refletem a realidade da empresa Todos os demonstrativos contábeis refletem a realidade da empresa Não sei responder Não responderam Fonte: Dados da pesquisa Quantidade Percentual 5 19% 4 15% 8 31% 4 15% 9 35% 6 2 2 23% 8% 8% 4.2.0 Finalidade dos demonstrativos contábeis Entre as empresas que recebem as demonstrações contábeis, pode-se constatar que a maioria dos usuários afirmou utilizar essas informações gerencialmente, conforme mostra a figura 7, estes totalizaram 37% dos respondentes. Ressalta-se também que 33% dos respondentes utilizam esses relatórios para serem apresentados a bancos, ficando esta opção com a segunda posição quanto à finalidade dos documentos. 40% 37% 33% 35% 27% 30% 27% 25% 20% 20% 15% 10% 10% 5% 0% Para tomar decisões Bancos Fornecedores Licitações Cadastros em Não utiliza para geral nehuma finalidade Figura 7: Finalidade dos demonstrativos contábeis Fonte: Dados da pesquisa Foi constatado que 10% das empresas utilizam os demonstrativos contábeis para participar de licitações, já que a apresentação destes documentos é uma das exigências dos processos licitatórios. Contudo, o número de empresas que não utilizam os demonstrativos para nenhuma finalidade, não é tão desprezível totalizando em 20% das empresas. Entre empresas que indicaram usar a informação contábil gerencialmente, 75% realizam algum tipo de planejamento ou projeções de resultados, e todas possuem um nível de confiabilidade das informações contábeis entre ‘Bom’ e ‘Excelente’. 4.2.1 Nível de informatização das empresas A Tabela 5 mostra que, grande parte das empresas possui algum tipo de sistema de gerenciamento das informações, sendo que 100% das empresas que responderam possuir essa VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br tecnologia utilizam pelo menos o controle de estoque informatizado, onde este facilita a organização da quantidade física existente na empresa, em segunda posição, onde 66,67% das empresas informaram controlar o movimento do caixa eletronicamente As empresas analisadas que admitiram não possuir o gerenciamento de dados eletrônico, se tratam de empresas recentes com menos de dois anos de existência, com aparente capacidade inferior de investimento nessa tecnologia. Tabela 5: Nível de informatização das empresas Descrição Controle de estoque Fluxo de caixa Controle de vendas e contas a receber Cadastro de clientes e fornecedores Emissão de nota fiscal e duplicata A empresa não possui nenhum tipo de informatização eletrônica Outros Fonte: Dados da pesquisa Quantidade Percentual 25 83,33% 20 66,67% 19 63,33% 19 63,33% 17 56,67% 2 0 6,67% 0% 4.2.2 Percepção sobre a carga tributária imposta sobre a atividade A figura 8 retrata que 80% dos gestores ou empresários que contribuíram com a pesquisa, informaram ser ‘excessiva’ a carga tributária sobre a atividade que a empresa exerce. 80% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 13,33% 20% 6,67% 10% 0,00% 0% Excessiva Razoável Justa Não sei reponder Figura 8: Percepção sobre a carga tributária Fonte: Dados da pesquisa Das empresas que responderam ser ‘razoável’ ocupam a segunda posição com 13,33% do total e apenas 6,67 das empresas, informaram que consideram justa a tributação atual sobre a atividade. 4.2.3 Importância do auxílio da contabilidade VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br Das empresas que informaram utilizar a informação contábil gerencialmente, a maioria (40%) indicou ser muito útil essas informações no auxilio da tomada de decisões (tabela 6), foi também informado por alguns, 26,67% do total que eventualmente necessitam de alguma orientação do profissional contábil, acerca dos aspectos fiscais, assuntos sobre departamento de pessoal entre outros. Contudo, o restante correspondente a 33,33%, alegou que utilização dos serviços contábeis é obtida por apenas ser uma exigência fiscal. Tabela 6: Importância do auxilio da contabilidade Descrição Quantidade Percentual Muito útil e importante o serviços contábeis para a empresa 12 40,00% Eventualmente necessita de alguma orientação do profissional 8 26,67% Não tem muito contato com o contador 0 0,00% Apenas usa por ser exigência fiscal 10 33,33% Fonte: Dados da pesquisa Vale destacar que as empresas que não enviam todos os documentos necessários ao escritório possuem uma utilização menos relevante dos artefatos contábeis, pois se constatou que maior parte dessas entidades informou usar os serviços contábeis por ser exigência do fisco, dando indícios de insatisfação com a qualidade dos serviços que os contadores possam estar prestando a essas empresas, como se o trabalho do profissional não fosse tão importante e essencial para as mesmas. Quando indagado aos empresários ou aos gestores sobre uma possível necessidade que atualmente não esteja sendo atendida pelo contador da empresa, 66,67% das pessoas disseram não haveria nada no momento que não estivesse sendo atendido pelo profissional contábil, e aparentemente estavam satisfeitos com os serviços prestados pelo escritório. Aqueles que opinaram sobre essa questão, sugeriram que seria interessante o recebimento de relatórios com dados específicos da movimentação financeira, comparando os dados de anos anteriores, para que possibilite uma melhor projeção de objetivos a alcançar. Outra sugestão mencionada por um empresário foi de que gostaria de receber informações sobre as mudanças da legislação pertinentes a atividade, onde poderia estar mais bem informado sobre os aspectos tributários. 5. Considerações finais Pode-se observar por intermédio desta pesquisa que, dentre os empresários ou os gestores das micro e pequenas empresas analisadas, a utilização dos instrumentos contábeis tem exercido papel importante para maioria das organizações analisadas, mesmo que para alguns essa prática não seja tão utilizada, a maioria informou que são capazes de interpretar os dados de forma satisfatória e utilizam os demonstrativos contábeis para tomar decisões. Entre os fatores que possam dificultar um melhor aproveitamento dos demonstrativos contábeis por algumas empresas podemos destacar a falta de integração das mesmas com seus contadores, onde muitos informaram não enviar documentos importantíssimos ao escritório para que sejam escriturados. Outro fator de destaque é a alta carga tributária imposta, conforme indicação da maioria das empresas analisadas, de forma que isso pode acarretar em omissão de receitas e consequentemente comprometer a qualidade das informações contábeis obtidas. Entretanto aquelas empresas que apresentam dificuldades em utilizar a informação contábil pode estar associadas ao contador, que por sua vez, por achar que não receba suficiente para tal, não esteja atendendo todas as necessidades de seus clientes. É importante VIII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – www.convibra.com.br também que o contabilista utilize meios que permita o acesso a documentos fundamentais à escrituração, onde algumas empresas alegaram na pesquisa, não enviar ao escritório de contabilidade, o que dificulta a transparência dos relatórios contábeis dessas empresas. Entre as dificuldades encontradas na realização deste trabalho, pode-se pontuar o período no qual foi realizado o estudo, devido ao grande fluxo de pessoas que movimentam o comércio em inicio de mês. A falta de tempo dos comerciários não permitiu que uma parcela das empresas contribuísse com a pesquisa, e também, conforme relato de uma empresária, por este período ser próximo ao final de ano, pico das vendas no comércio. Sob constatação de um empresário sobre a utilização de controle próprio de custos, despesas e receitas, sugere-se como pesquisas futuras um levantamento sobre quais recursos internos que não foram citados nesta pesquisa são utilizados no auxílio da gestão das empresas, de forma que possa estar incluindo mais empresas e estendendo a outros segmentos no estudo. Em suma, podemos concluir que algumas empresas estão no caminho certo, pois a contabilidade tem sido importante e tem contribuído nas decisões destas empresas, em vista que utilização de dados confiáveis contribui significativamente em termos de eficiência a entidade perante o atual cenário de mudanças do mercado e a prepara para adequação à contabilidade internacional, que já vem sendo uma realidade para estabelecimentos deste porte. Contudo espera-se que as pessoas envolvidas percebam a importância da contabilidade em face de sua relevância na geração de informação para a tomada de decisões onde acarreta em aumento da vida útil das empresas das quais permanecem saudáveis garantindo emprego e renda a população. 6. Referências bibliográficas ALMEIDA, M. I. R., Desenvolvimento de um modelo de planejamento estratégico para grupos de pequenas empresas. 230 f. Tese de Doutorado, FEA/USP. São Paulo, 1994. AMARAL, G. S. A importância das MPEs para a economia brasileira. 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