O Cuidado de Enfermagem a Pacientes Queimados em Unidades de Tratamento de Queimaduras Ibélio Brito Correa1 Luciana Soares Macêdo2 RESUMO Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que tem como objetivos: realizar um levantamento de pesquisas que tenham como foco o cuidado da enfermagem a vítimas de queimaduras internadas em Unidades de Queimados; Conhecer os cuidados da enfermagem a vítimas de queimaduras em UTQ; Determinar as dificuldades e os desafios no cuidado da enfermagem a vítimas de queimaduras em UTQ. Para atingir os objetivos propostos foi realizado um levantamento do material no portal BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), através de três bases de dados: LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SCIELO (Scientific Eletronic Library On Line) e BDENF (Base de Dados em Enfermagem), utilizando os seguintes descritores: Queimaduras, Enfermagem; Cuidado; Assistência. Após o levantamento do material, foram feitas as leituras e a seleção de artigos científicos nacionais entre os anos de 2002 a 2012. Após essa exclusão restaram 12 pesquisas para serem analisadas. Os resultados revelaram três categorias: Dificuldades e Estratégias de intervenção no cuidado de enfermagem ao paciente queimado; Assistência de enfermagem ao paciente queimado; Desvelando o cuidado ao paciente queimado em UTQ. Conclui-se que o profissional de enfermagem é indispensável na realização do cuidado e acompanhamento a vítimas de queimaduras, principalmente no que diz respeito ao gerenciamento da dor e também no preparo dos familiares . Palavras-chave: Queimaduras. Cuidado. Enfermagem. Assistência. 1 Introdução No Brasil, as queimaduras representam um agravo significativo à saúde pública, sendo que os casos de queimaduras mais notificados ocorrem nas residências das vítimas e quase a metade das ocorrências envolve a participação de crianças. 1-Orientador. Médico Residente em cardiologia no Hospital de Excelência do Coração - ITACOR, Médico assistente em Alto Alegre – MA. 2-Enfermeira. Mestranda no Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva - SOBRATI trabalha no Hospital de Excelência do Coração - ITACOR. Brasil. email: [email protected] 2 Por sua vez, entre os adultos do sexo masculino, as queimaduras mais frequentes ocorrem em situações de trabalho. Já para as mulheres adultas, os casos mais frequentes de queimaduras estão relacionados às várias situações domésticas (como cozimento de alimentos, riscos diversos na cozinha, acidentes com botijão de gás e outros) (BRASIL, 2012). Segundo Gregoletti et al. (2008) as queimaduras constitui a terceira causa principal de morte em crianças de um a nove anos de idade, e é a quinta causa principal de morte no restante da população. Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada ano, 200 mil são atendidos em serviços de emergência, e 40 mil demandam hospitalização. As queimaduras estão entre as principais causas externas de morte registradas no Brasil, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de transporte e homicídios (VALE, 2005). Os idosos também compreendem um grupo de alto risco para queimaduras devido à sua menor capacidade de reação e às limitações físicas peculiares à sua idade avançada. Outras formas muito comuns de queimaduras são as que ocorrem por agentes químicos e as decorrentes de corrente elétrica. Estas são as mais frequentes no atendimento às vítimas em centros de tratamento de queimaduras. Por sua vez, as queimaduras elétricas são geralmente muito agressiva (BRASIL, 2012). A queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície corporal (OLIVEIRA; MOREIRA; GONÇALVES, 2012). Diversos fatores devem ser considerados para a avaliação da gravidade da queimadura, tais como: o percentual da área de superfície corporal queimada, a profundidade da queimadura, a idade e a história clínica da pessoa, a presença de lesão concomitante e a presença de lesão por inalação. Importantes alterações no nível celular são responsáveis pela grande extensão da resposta sistêmica percebida em pacientes com queimaduras (VALE, 2005). A causa de morte mais comum nos pacientes queimados, após uma semana, é a infecção. Sendo assim, as ações da equipe devem empreender todos os 3 esforços para minimizar a transmissão de bactérias de um paciente a outro, cujo principal cuidado é a lavagem das mãos (GREGOLETTI et al. 2008). Segundo Carlucci et al. (2007) um trauma térmico, independentemente de sua extensão, é uma agressão que pode causar danos físicos (acidose, perda de fluidos, alterações no equilíbrio endócrino, potencial para infecção, dor) e psicológicos em decorrência da (separação da família, afastamento do trabalho, mudanças corporais, despersonalização, dependência de cuidados, perda da autonomia e tensão constante). Outras complicações das queimaduras estão relacionadas à infecção que pode evoluir com septicemia, assim como à repercussão sistêmica, com possíveis complicações renais, adrenais, cardiovasculares, pulmonares, musculoesqueléticas, hematológicas e gastrointestinais (OLIVEIRA; MOREIRA; GONÇALVES, 2012). Além disso, as queimaduras podem resultar em sequelas, estando entre as mais graves a incapacidade funcional, especialmente quando atinge as mãos, as deformidades inestéticas, sobretudo da face. As queimaduras, dependendo da localização, podem ainda causar complicações neurológicas, oftalmológicas e geniturinárias (VALE, 2005). Nesta perspectiva, quando o cuidado envolve pessoas acometidas por queimaduras, internadas em Unidades de Tratamento de Queimados (UTQs), a missão torna-se mais complexa e delicada, pois as pessoas permanecem internadas por longos períodos e sujeitas a inúmeros procedimentos dolorosos. Sobretudo, quando se leva em consideração que a gravidade da queimadura é determinada pela extensão e profundidade da queimadura e pelo agente etiológico, tempo e circunstâncias que envolvem a lesão (CARLUCCI et al., 2007). Nesse sentido, os primeiros cuidados adequados dispensados à vítima de queimadura constituem determinante fundamental no êxito final do tratamento, contribuindo decisivamente para a redução da morbidade e da mortalidade. Para isso é importante educar a população em geral e treinar grupos populacionais de risco para agir corretamente diante de um caso de queimadura (VALE, 2005). Além disso, o atendimento inicial ao portador de queimaduras é sempre feita em caráter emergencial começando imediatamente pelo tratamento das condições que colocam a vida do paciente em risco e em seguida a avaliação da área queimada. Para uma boa assistência de enfermagem os cuidados devem ser prestados nas 24 horas de serviço, visando reduzir as dores físicas e emocionais, 4 medos e ansiedades participando de toda sua assistência, procedimentos técnicos e administrativos (VARELA et al., 2009). Embora todos cuidem, o cuidado profissional de enfermagem desenvolve-se através de comportamentos cognitivos e culturalmente aprendidos, técnicocientíficos e utiliza processos que promovem ou recuperam a saúde e assistem a pessoa no processo de morte. O objetivo inerente ao cuidado de enfermagem é o conforto, essencial na assistência de enfermagem e complementar ao ato médico, sobretudo no que se refere ao cuidado de queimados. Cuidador na enfermagem é aquele que procura contemplar as necessidades físicas, psicológicas ou sócio-espirituais das pessoas; que busca promover cuidado de enfermagem integral e centrado no paciente-família, com excelência de qualidade, fundamentada em evidências científicas e na interdisciplinaridade (OLIVEIRA; MOREIRA; GONÇALVES, 2012). Sendo assim, o desenvolvimento desta pesquisa justifica-se pela relevância da temática, no que diz respeito ao cuidado da enfermagem e também nos impactos decorrentes as consequências das queimaduras nas pessoas expostas, no intuito de avaliar essas consequências no que se refere ao cuidado de enfermagem durante a hospitalização, e posteriormente oferecer subsídios para outras pesquisas sobre as formas adequadas de participar do cuidado a vitimas de queimaduras, a fim de atender as suas necessidades biopsicossociais. Portanto, objetiva-se com este estudo realizar um levantamento de pesquisas que tenham como foco o cuidado da enfermagem a vítimas de queimaduras internadas em Unidades de Queimados; Conhecer os cuidados da enfermagem a vítimas de queimaduras internadas em Unidades de Queimados; Determinar as dificuldades e os desafios no cuidado da enfermagem a vítimas de queimaduras internadas em Unidades de Queimados. 5 2 Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e descritiva, constituída de artigos científicos e livros acerca da temática “o cuidado da enfermagem em pacientes queimados em Unidades de Queimados”. Segundo Gil (2009) o desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica varia em função de seus objetivos, ou seja, como os demais tipos de pesquisas, esta é norteada pelos seus objetivos procurando dar conta, através da literatura pesquisada e, posteriormente analisada, de respostas que venham a contribuir com a realidade da problemática enfocada. Para atingir os objetivos propostos foi realizado um levantamento do material no portal BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), através de três bases de LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SCIELO (Scientific Eletronic Library On Line) e BDENF (Base de Dados em Enfermagem), utilizando os seguintes descritores: Queimaduras, Enfermagem; Cuidado; Assistência. Após o levantamento do material, foram feitas as leituras e a seleção de artigos científicos que encontravam-se publicados entre os anos de 2002 a 2012, os quais foram excluídos aqueles que não estavam de acordo com os objetivos desta pesquisa, os que não estavam em português, as repetições e os que não apresentavam resumo. Após essa exclusão restaram 12 pesquisas para serem analisadas. 3 Analise e Discussão Os resultados encontrados nas pesquisas analisadas foram distribuídos em três categorias: Desvelando o cuidado ao paciente queimado em UTQ; Assistência de enfermagem ao paciente queimado; Dificuldades e Estratégias de intervenção no cuidado de enfermagem ao paciente queimado. 6 3.1 Caracterização das pesquisas Inicialmente foi constituída uma apresentação das pesquisas analisadas, onde foi demonstrado os seus autores, ano de publicação e periódicos em que foram publicadas. Tabela 1: Distribuição das pesquisas quanto a autoria, ano de publicação e periódico. Nº AUTOR (ES) REVISTA ANO 1 COSTA; ROSSI Rev. Esc. Enferm. 2003 2 FERREIRA et al. Rev. Esc. Enferm. 2003 3 4 MENEGHETTI et al. PRUDENTE; GENTIL Rev. Esc. Enferm. Rev. Enferm UNISA 2005 2005 5 PEREIRA; BACHION Rev. Bras. Enferm 2005 6 VALE Rev. Bras. Enferm 2005 7 8 FREITAS; MENDES GAYATÁ; ROSSI; DALRI 2006 2006 9 COSTA et al. 10 11 12 BALAN; OLIVEIRA; TRASSI COELHO; ARAÚJO SILVA; RIBEIRO Rev. Bras. Enferm Rev. Latino-am Enfermagem Rev. Latino-am Enfermagem Ciênc. saúde coletiva Acta Paul Enfermagem Rev. Dor 13 DUART et al. Rev. Gaúcha Enfermagem 2012 2008 2009 2010 2011 Fonte: Biblioteca Virtual de Saúde A Tabela 2 apresenta o percentual das pesquisas analisadas, sendo que as revistas com maior expressão foram a Revista Escola de Enfermagem e a Revista Brasileira de Enfermagem, cada uma com 3(23,07%) das publicações, seguida da Revista Latino-am de Enfermagem com 2(15,38%) publicações. Quanto ao ano de publicação o mais evidenciado foi o de 2005 com 4(30,76%), seguido do ano de 2003 com 3(23,07%) de publicações e do ano de 2006 e 2011 com 2(15,38%). 7 Tabela 2: Percentual das pesquisas quanto à revista e o ano de publicação. TeresinaPI, 2013 REVISTAS Nª % ANO DE PUBLICAÇÃO Nª % Rev. Esc. Enferm Rev. Bras. Enferm. 4 3 30,76 23,07 2003 2005 3 4 23,07 30,76 Rev. Latino-am Enferm Rev. Gaúcha de Enfermagem Rev. Dor 2 15,38 2006 2 15,38 1 7,6 2008 1 7,6 1 7,6 2009 1 7,6 Rev. Enferm. UNISA 1 7,6 2010 1 7,6 Acta Paulista de Enferm. Ciênc. saúde coletiva. 1 7,6 2011 2 15,38 1 7,6 2012 1 7,6 Total 14 100 13 100 Fonte: Biblioteca Virtual de Saúde Foi possível constatar através do levantamento deste estudo que o maior acervo de pesquisas, sobre a temática em questão, encontrava-se publicado em revistas de enfermagem. Este fato pode estar diretamente ligado a temática e aos objetivos propostos pela pesquisa. 3.1 Desvelando o cuidado ao paciente queimado em UTQ A essência da enfermagem é o ato de cuidar do ser humano, e proporcionar uma recuperação segura, além de ser responsável na execução de medidas preventivas sob a forma de educação em saúde. É nesse contexto que a equipe de enfermagem deve estar preparada para atuar em distintas áreas, com competências e habilidades (SILVA; RIBEIRO, 2011). Neste contexto, salienta-se que acidentes de origem térmica têm como consequências traumas adicionais e comprometimento ao organismo humano, principalmente lesões pulmonares, ocasionadas pela inalação de gases nocivos, além de fraturas e lacerações em alguns órgãos. A equipe deve estar preparada e 8 ter em mãos recursos que irão assegurar a vida ao paciente queimado durante a primeira conduta de atendimento (MENEGHETTI et al., 2005). Paciente queimado, quando admitido em uma UTQ, independentemente da extensão de sua lesão deve ser assistido pela equipe de saúde, que realizará os procedimentos e exames necessários, para avaliar o nível de comprometimento cutâneo e sistêmico. A conduta de atendimento é executada de acordo com o protocolo de atendimento estabelecido pela unidade, levando-se em conta a extensão das feridas e de seu quadro clínico. Há casos em que o paciente deve ser encaminhado ao centro cirúrgico, para realização de desbridamento e curativos ou, até mesmo, procedimentos cirúrgicos (GAYATÁ; ROSSI; DALRI, 2006). Duarte et al. (2012) constataram em sua pesquisa que a convivência com o paciente na UTQ, testemunhando diariamente o seu esforço de luta pela vida, estimula o desenvolvimento de um trabalho qualificado, ainda mais quando há retorno dos pacientes à unidade para agradecer os cuidados que lhes foram proporcionados. Além disso, evidenciaram também em sua pesquisa que o trabalho, na unidade de atendimento ao queimado, trouxe muitas reflexões aos profissionais, dentre elas, maneiras diferentes de encarar a vida, dando valor aos pequenos detalhes que, antes, passavam despercebidos. Neste sentido, segundo Costa e Rossi (2003) para que o cuidado seja aperfeiçoado, é preciso que haja espaço para a prática crítica e reflexiva, que a rotina seja mantida dentro dos limites nos quais ela é necessária e que todos os aspectos que envolvem o cuidado ao paciente queimado sejam questionados no dia a dia. Para que isso ocorra, é preciso que a estrutura organizacional promova esse espaço e, assim, possibilite a participação crítica dos agentes inseridos neste contexto. Silva e Ribeiro (2011) chamam atenção para maior relação entre a enfermagem e o paciente devido a sua alta permanência na unidade de internação, cujos cuidados diretos contribuem sobremaneira em todo o processo de tratamento, inclusive nas ocasiões em que a dor se faz presente implicando em maiores responsabilidades e habilitação técnica para gerenciar e aliviar a dor sentida pelo paciente. Os achados anteriores foram de encontra a pesquisa realizada por Montes, Barbosa e Sousa Neto (2011) que afirmaram que ao prestar assistência ao paciente queimado, o enfermeiro se depara com uma rotina de muito trabalho, dor e 9 sofrimento, não apenas do doente, mas também de seus familiares, exigindo intervenção delicada por parte de toda a equipe. O enfermeiro terá de lidar com dor, depressão, padrão de sono perturbado, mobilidade física prejudicada e risco para infecção, e deve saber intervir em cada situação, de forma eficaz e ética. Segundo Vale (2005), o tratamento dos queimados é dividido em três fases: reanimação, reparação e reabilitação. O cuidado ao queimado, quanto ao critério de prioridades de condutas de atendimento, é o mesmo tido com vítimas de algum tipo de trauma, como, por exemplo, verificar as vias aéreas, ventilação, coluna vertebral e circulação, com objetivo de controlar a hemorragia. No caso do paciente queimado, faz-se necessário remover as roupas, a fim de possibilitar melhor avaliação. O exame neurológico é fundamental no primeiro momento. Assim, o primeiro cuidado é a manutenção da permeabilidade das vias aéreas, reposição de fluidos e controle da dor. São medidas que têm por finalidade diminuir complicações devido ao trauma térmico. Na fase de reparação, a forma de cuidado e o tratamento ao queimado serão estabelecidos de acordo com a gravidade das lesões decorrentes da exposição, tipo e grau de comprometimento, levando em conta a real necessidade do paciente, com a finalidade da estabilização, melhora e, por fim, diminuir seu tempo de internação (PRUDENTE; GENTIL, 2005). No processo de reabilitação, o enfermeiro tem que ajudar o paciente e seus familiares a enfrentar as mudanças corporais e as possíveis dificuldades e limitações em atividades diárias que fazia antes do acidente; orientar que isso acontece devido a retrações teciduais e dores, uma vez que são dificuldades que ele irá se deparar após a alta hospitalar. Portanto, o profissional de enfermagem deve começar durante o período de internação a ajudar o paciente a lidar com algumas situações que ele poderá vivenciar fora do ambiente hospitalar (COSTA et al., 2008). Balan, Oliveira e Trassi (2009) afirmam em sua pesquisa que para que seja implantado o plano de cuidados de enfermagem, devem-se estabelecer prioridades diárias, realizando mudanças necessárias conforme as alterações no quadro do paciente, sempre realizando o registro diário de todas as ações e intercorrências com o paciente assistido, além de buscar manter comunicação eficaz com a equipe. Salienta-se que estar queimado é uma das formas mais traumáticas que o indivíduo pode ter como experiência física e emocional, pois se trata de um acontecimento que interrompe a sua forma de viver, passando da integridade física para o desequilíbrio. Portanto, o processo de cicatrização, formação de um tecido no 10 decorrer do tratamento, irá dimensionar a possibilidade e limitações do paciente (COSTA; ROSSI, 2003). 3.2 Assistência de enfermagem ao paciente queimado Segundo Meneghetti et al. (2005) prestar assistência de enfermagem ao paciente queimado exige que o enfermeiro tenha alto nível de conhecimento científico sobre as alterações fisiológicas que ocorrem no sistema orgânico após uma queimadura. Isso possibilitará identificar e prevenir alterações sutis que possam desencadear maiores complicações em decorrência das lesões teciduais e sistêmicas. Compete ao enfermeiro levantar informações necessárias, por meio da anamnese, para que possa estabelecer assistência de enfermagem que atenda às necessidades do paciente queimado e, assim, dar continuidade ao tratamento terapêutico iniciado no primeiro momento. A equipe de enfermagem deve prestar assistência na fase de emergência, monitorando a estabilização física e psicológica do paciente, além de intervir nas necessidades psicológicas também da família, pois as queimaduras geram respostas emocionais variáveis (COSTA; ROSSI, 2003). Em uma pesquisa realizada por Silva e Ribeiro (2011) constatou que no exercício da assistência de enfermagem ao paciente queimado a atribuição essencial consiste em suavizar a dor e o sofrimento deste, para tanto, o profissional precisa abdicar-se de experiências individuais passadas quando estas forem deletérias, compreendendo o paciente que sofre com dor como um ser integral com características exclusivas. Desta forma, o profissional de enfermagem deve elencar as prioridades de ações ao paciente, planejando uma assistência adequada de acordo com as necessidades afetadas do queimado, deve analisar e acompanhar os exames com periodicidade. Também deve manter uma comunicação efetiva com o doente e seus familiares e com a equipe de saúde (SILVA; RIBEIRO, 2011). Balan, Oliveira e Trassi (2009) destacam, ainda, a necessidade de promover ações preventivas e educativas que envolvam a população em geral, visando à redução dos índices de acidentes domiciliares, especialmente com líquidos superaquecidos, cujas consequências são cicatrizes físicas e emocionais, algumas reabilitáveis e outras não. 11 Segundo Prudente e Gentil (2005) o exame físico é primordial na avaliação do paciente queimado, levando em conta suas limitações, pelas lesões que sofreu, deve ser realizado de forma criteriosa, atentando-se com frequência aos sinais vitais, dando ênfase aos pulsos periféricos em que, por sua vez, pode ser inviável a verificação, devido à presença de edema. A avaliação desses parâmetros permite ao enfermeiro amplo conhecimento da evolução no quadro clínico do paciente, pois, somente assim, será possível afirmar se o tratamento está tendo uma resposta efetiva. Estabelecer intervenções tanto gerais como especificas é direcionar o cuidado de enfermagem, visando sempre o bem-estar e melhora do paciente que sofreu algum tipo de queimadura, seja ele pequeno, médio ou grande queimado, deve ser executada através da avaliação de cada caso clínico, uma que vez que cada um tem suas peculiaridades e necessita de cuidados específicos e até mesmo complexos (SILVA; RIBEIRO, 2005). A equipe de enfermagem deve compreender a percepção que o paciente queimado tem das alterações que ocorreram no seu corpo. Cabe ao enfermeiro encorajar o doente e a família a expressar seus sentimentos, estabelecendo uma relação de confiança, o que permitirá um diálogo mais aberto, demonstrando sempre estar disposto a ouvir. É importante preparar o paciente para o que ele poderá ver, quando for se realizado algum cuidado ou procedimento nele, se possível descrever de uma forma tranquila, sem usar terminologias técnicas, a fim de amortizar o choque (MONTES; BARBOSA; SOUSA NETO, 2011). Segundo Duarte et al. (2012) prestar assistência de qualidade ao paciente queimado é uma tarefa árdua, sendo muito importantes a dedicação e a perseverança da equipe de enfermagem. Sendo assim, é preciso entendê-lo, levando-se em conta as características muito especiais consequentes da situação traumática vivenciada, partindo do pressuposto de que as queimaduras que sofreu podem deixar sequelas para a vida toda, seja incapacitando o indivíduo ou desfigurando-o irreversivelmente. Nesse sentido, segundo Ferreira et al (2003) a equipe de saúde que atua em Unidades de Queimados necessita manter-se atualizada, não se prendendo a tratamentos convencionais, sem fundamentação científica. Tal equipe deve também fazer uso de um raciocínio crítico na tomada de decisão e na implementação de ações com vistas à efetividade do tratamento. 12 3.3 Dificuldades e Estratégias de intervenção no cuidado de enfermagem ao paciente queimado Os fatores que desencadeiam as reações dos profissionais frente ao cuidado de enfermagem ao paciente, que sofreu queimaduras, como as suas formas de enfrentamento, dependem de significados culturais aprendidos ao longo da vida dessas pessoas. É nesse sentido que a compreensão das atitudes e emoções da equipe de enfermagem responsável pelo cuidado ao paciente que sofreu queimaduras traz reflexão e fornece subsídios para que as dificuldades sejam superadas e estratégias sejam elaboradas (COSTA; ROSSI, 2003). Duarte et al. (2012) destacaram em sua pesquisa que o trabalho desenvolvido, em uma UTQ, pela equipe de enfermagem, é permeado por dificuldades, tais como: O primeiro dia de trabalho e o choque inicial (traz o medo de não conseguir tocar em uma pessoa sem a pele e de sentir a dor dos pacientes); a culpabilização da família pelo acidente (demonstra um julgamento dos profissionais a partir de suas experiências pessoais. O ato de julgar influencia a atenção dispensada aos familiares); o despreparo e o receio de trabalhar com crianças queimadas; e o preconceito enfrentado pelos pacientes. Outra dificuldade vivenciada pela equipe de enfermagem durante a assistência ao queimado, segundo Gayatá; Rossi e Dalri (2006) esta na compreensão de como a família é afetada pelo acidente por queimaduras de um de seus membros. Tal compressão é fundamental para os profissionais que desejam trabalhar na perspectiva de cuidado à família e aos seus membros, pois a equipe de saúde deve ter em mente que o trauma ocorrido tem impacto nos demais elementos do sistema familiar. Gayatá; Rossi e Dalri (2006) ressaltam também a importância da equipe de enfermagem conhecer os diagnósticos de enfermagem de familiares de pacientes adultos queimados. Ansiedade, tensão emocional, estresse, preocupação e apreensão em relação aos aspectos físicos, emocionais e sociais são exemplos de diagnósticos de enfermagem que necessitam de intervenções por parte dos enfermeiros e têm como objetivos auxiliar os familiares na escolha de estratégias de enfrentamento frente às consequências do trauma por queimaduras, visando facilitar a adaptação dos familiares ao retorno do paciente e do familiar ao domicílio e ao convívio social. 13 Outra dificuldade na assistência de pacientes vítimas de queimaduras segundo Meneghetti et al (2005) é a falta de registros diários pelos enfermeiros que contenham uma avaliação completa do paciente. Preconiza-se nesta unidade que os enfermeiros avaliem os pacientes em cada turno de trabalho. Os registros deveriam propiciar um retrato do paciente em relação aos diagnósticos aos seus fatores relacionados e características definidoras ou fatores de risco. As prescrições de enfermagem deveriam ser realizadas considerando a avaliação e os diagnósticos identificados. Outro aspecto evidenciado por Montes, Barbosa e Sousa Neto (2011) para a assistência de enfermagem em UTQ foi à necessidade de implementação de protocolos de atendimento, tratamento e cuidados aos pacientes queimados, os quais, certamente, contribuirão para assegurar a qualidade da assistência para esta população. Coelho e Araújo (2010) chamam atenção em seu estudo para outra dificuldade enfrentada pelos enfermeiros durante a sua assistência em UTQ que esta diretamente relacionada à intensidade do desgaste de suas reações sensoriais, levando-os ao sofrimento. Dentro deste contexto, e visando proporcionar uma assistência efetiva, devem-se estabelecer estratégias defensivas para reduzir o desgaste psíquico e o sofrimento da própria equipe e do cliente, onde estes não devem ser menosprezados ou ignorados, pois pode gerar consequências para a saúde mental da equipe de enfermagem e para o cuidado prestado. Sob a ótica destas dificuldades comentadas anteriormente Freitas e Mendes (2006) afirmam em sua pesquisa que ao programar estratégias para melhorar a qualidade do cuidado em UTQ, o enfermeiro também realiza novas investigações, amplia conhecimento com leituras, pesquisas, bem como elaboração de trabalhos que possam facilitar a excelência da assistência. Além disso, pode-se observar que o uso do diagnóstico de enfermagem na prática cotidiana tem sido atividade inovadora, embora, ainda, seja realizada experimentalmente em algumas instituições. Reconhece-se que a utilização do processo de enfermagem é uma tentativa relevante de universalizar a linguagem entre a categoria, pois, provavelmente, irá possibilitar a excelência no cuidado cotidiano, em especial aos idosos que nos dias atuais se apresentam como parcela populacional que demanda atenção e estimula uma formação de profissionais para efetivar atenção (FREITAS; MENDES, 2006). 14 Nesta perspectiva, Meneghetti et al. (2005) apontam como estratégias o registro de todas as etapas do processo de enfermagem. Tal registro é importante para observar a dinamicidade dessa metodologia de assistência e também dar continuidade ao cuidado. A forma como o processo de enfermagem é implementado e registrado precisa ser discutida e reformulada e isto deve ser feito em conjunto com os outros profissionais de enfermagem que atuam nessa Unidade. Nesse processo, o enfoque deveria ser a individualização do cuidado ao paciente e o seu envolvimento no cuidado. Balan, Oliveira e Trassi (2009) encontraram resultados semelhantes e acrescentam que a precariedade das anotações pode representar desconhecimento ou falta de condições para efetuar os registros nas fichas de atendimento ou, ainda, falta de conscientização quanto à necessidade de registros consistentes sobre o atendimento prestado. Esse é um ponto importante a ser trabalhado com a equipe de enfermagem que trabalha na UTQ. Duarte et al. (2012) identificam em seu estudo como estratégia de intervenção a importância do apoio psicológico ao paciente e aos próprios membros do grupo, na tentativa de qualificar o seu trabalho e a assistência aos pacientes, sendo dever das instituições, onde as Unidades de Tratamento ao Queimado estão locadas, proporcionar espaços de apoio psicológico no atendimento às demandas dos profissionais que prestam assistência às vítimas de trauma térmico, onde as instituições de ensino, devem dar maior ênfase a essa área durante a formação dos futuros profissionais. Outra estratégia de intervenção para a equipe de enfermagem no cuidado aos queimados foi mensurada no estudo de Gayatá, Rossi e Dalri (2006), os quais ressaltaram a importância da equipe ter a família como um elemento facilitador da implantação dos procedimentos terapêuticos necessários, pois quando são devidamente habilitados, darão continuidade aos cuidados à pessoa queimada nas atividades de banho e higiene corporal, alimentação, vestuário, medicação, curativo, conforto, segurança, interação psicoemocional e atividades reabilitadoras no ambiente hospitalar e domiciliar, mantendo o contato com a equipe terapêutica. Costa e Rossi (2003) identificam que outra maneira para melhorar o cuidado é explorar a experiência do paciente durante o tratamento, fortalecendo a habilidade dele para suportar esse tratamento aliviando o seu sofrimento, tendo em vista que aliviar o sofrimento é a principal responsabilidade da enfermagem. Desta forma, os 15 enfermeiros são responsáveis pelo completo cuidado do paciente, pois seu preparo educacional envolve prover conforto ao paciente como um todo. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que esta pesquisa atingiu os objetivos propostos e que, percebendo isto, esse estudo é fundamentado na perspectiva de subsidiar estudos futuros que visem uma efetiva assistência de enfermagem a estes pacientes, paralelamente, mudanças eficazes na qualidade do cotidiano dessa categoria de trabalhadores pelo desenvolvimento de técnicas de enfrentamento. Tais mudanças devem: usar um protocolo de atendimento a pacientes queimados em UTQ, adotar o processo de enfermagem na assistência aos queimados, bem como registrar todos os cuidados dispensados a eles em seu prontuário, deve-se também ter em mente a importância da família no estabelecimento de um cuidado continuo eficaz, além de estratégias de educação permanente para o gerenciamento da dor para profissionais e pacientes. Com essas condutas mensuradas anteriormente e através dos achados das pesquisas analisadas ocorrerão melhorias da vivência desse processo para todos nele inseridos porque estariam gerenciando estratégias coerentes as dificuldades mensuradas nos estudos avaliados em relação ao cuidado de enfermagem a pacientes queimados em UTQ. As literaturas nacionais analisadas ressaltam também a importância da participação da equipe de enfermagem como fundamental no processo de gerenciamento terapêutico da dor, podendo influenciar no êxito e na eficácia do seu alívio, no entanto, percebe-se na exposição dos autores a recomendação da necessidade de investimentos em conhecimentos técnico-científicos e de sensibilização desses cuidadores, bem como a importância do estabelecimento de um protocolo de atendimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALAN, Marli Aparecida Joaquim; Oliveira, Magda Lúcia Félix; TRASSI, Gislaine. Cienc Cuid Saude. São Paulo, v. 8, n. 2, p.169-75, abr-jun. 2009. Disponível em:<>. 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