UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES (PROTEN) LEONARDO QUEIROZ DE SOUZA FITOSSOCIOLOGIA EM ÁREAS COM DIFERENTES HISTÓRICOS DE USO E FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO EM CAATINGA MADURA NA PARAÍBA RECIFE Março de 2010 LEONARDO QUEIROZ DE SOUZA FITOSSOCIOLOGIA EM ÁREAS COM DIFERENTES HISTÓRICOS DE USO E FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO EM CAATINGA MADURA NA PARAÍBA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, do Departamento de Energia Nuclear, da Universidade Federal de Pernambuco, para obtenção do título de Mestre em Tecnologias Energéticas e Nucleares. Área de Concentração: Aplicação de Radioisótopos-Fertilidade do Solo Orientador: Everardo V. S. B. Sampaio RECIFE Março de 2010 2 3 S729f Souza, Leonardo Queiroz de. Fitossociologia em áreas com diferentes históricos de uso e fixação biológica de nitrogênio em caatinga madura na Paraíba / Leonardo Queiroz de Souza. - Recife: O Autor, 2010. 53 folhas, il., gráfs., tabs. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, 2010. Orientador: Everardo V. S. B. Sampaio. Inclui Referências Bibliográficas. 1. Fertilidade do Solo. 2. Fitossociologia. 3.Biomassa Caatinga. 4. I. Título. 621.4837 CDD (22. ed.) BCTG/2010-109 4 Aos meus pais e a minha filha Marianne Vilela Queiroz. Dedico. 5 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me concedido o dom da vida e a oportunidade de fazer algo importante. Aos meus pais Cilvanceli e Maria Inalda que com muito amor e carinho me incentivaram em toda minha jornada. A minha irmã Inacelli Queiroz pelo companheirismo em todos os momentos que esteve presente ao seu lado. A minha companheira Rosana Vilela por todos os momentos de compreensão quando estive ausente. Ao professor Everardo Sampaio por sua compreensão, amizade e seus ensinamentos ao longo do mestrado. A Ana Dolores Santiago de Freitas por ter me passado seu aprendizado sobre N-15. Ao professor Rômulo Menezes pelo apoio e incentivo no meu mestrado A Fazenda Tamanduá na pessoa do Dr. Pierre Landolt por ter concedido a área de estudo. A todos os colegas de pós-graduação em especial a Patrícia Maia de Moura por ter me acompanhado em todos os momentos de campo. Ao aluno de graduação da UFCG Joab Medeiros pela ajuda nos trabalhos de campo Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa. Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que este trabalho fosse realizado. 6 Sumário Pág Lista de figuras Lista de tabelas 8 9 Resumo Abstract Introdução geral Objetivos Revisão de literatura Fitossociologia Sucessão de caatinga A importância da fixação biológica de nitrogênio Quantificação de N pelo processo da abundância natural Fixação biológica de nitrogênio na caatinga Referências Capítulo 1 Fitossociologia de três sítios com diferentes históricos de uso de caatinga em Santa Terezinha, Paraíba Resumo Abstract Introdução Material e métodos Resultados e discussão Conclusões Referências Capítulo 2 Fixação biológica de nitrogênio em caatinga no Nordeste do Brasil Resumo Abstract Introdução Material e métodos Resultados e discussão Conclusões Referências 10 12 14 15 15 15 16 17 18 19 20 24 24 25 26 27 28 29 34 35 45 45 46 47 48 49 50 51 52 7 Lista de figuras Pág Capitulo 1 Figura 1: Distribuição dos diâmetros das espécies arbustivo-arbóreas encontradas 39 em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. Figura 2: Distribuição das alturas das espécies arbustivo-arbóreas encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. 40 8 Lista de tabelas Pág Capitulo 1 Tabela 1: Lista das espécies arbustivo-arbóreas encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. 41 Tabela 2: Parâmetros fitossociológicos encontradas em caatinga de áreas em 42 regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. Densidade=D(ind.ha-1), Área basal (m2.ha-1), AC=Área de copa(m2.ha-1), Biomassa total(BT=Mg.ha-1). Capítulo 2 Tabela 1: Biomassa de folhas, quantidade de N nas folhas, quantidade de N, δ15N 54 foliar, nitrogênio derivado da atmosfera e fixado nas espécies de caatinga em uma área do Nordeste do Brasil 9 FITOSSOCIOLOGIA EM ÁREAS COM DIFERENTES HISTÓRICOS DE USO E FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO EM CAATINGA MADURA NA PARAÍBA RESUMO Foi realizado o levantamento fitossociológico em sítios com três diferentes históricos de uso, em Santa Terezinha, na Paraíba (07º 00’ S e 37º 23’ W): vegetação nativa regenerando há 10 anos (R10); vegetação nativa regenerando há 25 anos (R25); e caatinga madura com mais de 50 anos, sem maior antropismo (C50). Em C50, foram estimadas as quantidades de nitrogênio fixadas anualmente, medindo as proporções de N fixado (%Ndda) e as quantidades de N nas biomassas de folhas de leguminosas arbóreas. Para cada histórico foram demarcadas três parcelas de 20 x 50m e em cada uma foram medidas todas as plantas com diâmetro do caule ≥ 3 cm. O %Ndda em C50 foi calculado comparando as concentrações de 15 N das plantas leguminosas e de referência. A biomassa de folhas foi estimada usando equações alométricas baseadas nos diâmetros dos caules a altura do peito (DAP). Em R10, R25 e C50, foram encontradas 4, 13 e 16 espécies e em todos os sítios 17 espécies, pertencendo a 17 gêneros e 12 famílias. São valores de riqueza mais baixos que os registrados para a maioria de outras caatingas, mas semelhantes aos de outras áreas da Depressão de Patos e do Seridó do Rio Grande do Norte. Os valores de densidades (693, 1100 e 1200 ind.ha-1), áreas basais (5,8, 6,3 e 11,0 m2.ha-1), áreas de copa (6045, 6280 e 8460 m2.ha1 ) e biomassas aéreas (29, 30 e 52 Mg.ha-1) também foram mais baixos que os citados na literatura para outras áreas de caatinga. Estes dados comprovam o baixo porte e a fisionomia aberta da caatinga, mesmo na área de caatinga madura. O número proporcionalmente mais baixo de espécies que das outras variáveis, em R10 em relação a C50, indica que a riqueza leva mais tempo para se recuperar que a estrutura da comunidade. R10 foi dominada por Mimosa tenuiflora (>98% das medidas) que ainda era importante em R25 (50% das medidas), mas não em C50 (<4%). A Caesalpinia pyramidalis teve um padrão inverso, mas só atingiu 30-35% das medidas em C50, dividindo a dominância com Piptadenia stipulacea e Commiphora leptophloeos. Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea e Anadenanthera colubrina tiveram grandes proporções de seus conteúdos de N derivado da atmosfera. O número de espécies fixadoras em C50 foi baixo, e a biomassa de folhas correspondeu de 5 a 10% da biomassa total. A quantidade de N nas folhas foi maior nas leguminosas do que nas não10 leguminosas. A baixa densidade de plantas e a baixa biomassa de folhas das espécies fixadoras contribuíram para que fosse relativamente baixa a quantidade N fixado nas folhas (10,6 a 15,1 kg.ha-1). Embora baixa, é quase duas vezes o valor estimado para o agreste. Palavras-chave: Regeneração, riqueza, densidade, área basal, área de copa, semi-árido. 11 PHYTOSOCIOLOGY OF AREAS WIT DIFFERENT USE HISTORY AND BIOLOGICAL NITROGEN FIXATION IN THE MATURE CAATINGA, AND PARAÍBA STATE BRAZIL. ABSTRACT A phytosociological survey was made of three sites with different use histories in Santa Terezinha municipality, Paraíba state (07º 00’ S e 37º 23’ W): R10, native vegetation regenerating for ten years; R25, native vegetation regenerating for 25 years; and C50, a mature caatinga, without disturbances for at least 50 years. Three 20 x 50 m plots were established in each site and, in each plot, all plants with stem diameter ≥ 3 cm were measured. In C50, the amounts of N symbiotically fixed were determined, measuring the proportions and the quantitities of N in the leaves of legume trees, reference plants, and estimating the leaf biomass of all fixing legume plants, using allometric equations based on the stem diameters. R10, R25 and C50 had 4, 13 and 16 species and the three sites 17 species, belonging to 17 genera and 12 families. This richness is lower than those of most caatinga sites but similar to those found in the Patos Depression and Rio Grande do Norte Seridó. Densities (693, 1100 e 1200 ind.ha-1), basal areas (5,8, 6,3 e 11,0 m2.ha-1) crown projection areas (6045, 6280 e 8460 m2.ha-1) and aboveground biomasses (29, 30 e 52 Mg.ha-1) were also lower than those of most caatingas, confirming the small size and open physiognomy of the vegetation, even a mature one. The lower number of species in R10 in relation to C50 indicates that the species richness takes longer to regenerate than the structure. R10 was dominated by Mimosa tenuiflora (>98% of all measures) that was still important in R25 (about 50% of all measures) but not in C50 (<4%). Caesalpinia pyramidalis had an inverse pattern but only reached 30-35% of all measures, sharing dominance with Piptadenia stipulacea and Commiphora leptophloeos. Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea and Anadenanthera colubrina had large proportions of their leaf N derived from atmospheric N2. The average sizes of the plants of the fixing species were not very large and the leaf biomasses corresponded to 5 to 10% of the total aboveground biomasses. The N content in the leaves was higher in legumes than in the non legume species. The low plant density and the low leaf biomasses of the fixing species contributed the most to the relatively low amounts of fixed N in the leaves (10.6 to 15.1 kg ha-1). Although low, they are almost twice the amounts estimated for tropical rain forest and a nearby caatinga. Their accumulated inputs, along the years, are crucial to the nutrient balance of the systems. 12 Key words: Regeneration, wealth, density, basal area, canopy, semiarid 13 INTRODUÇÃO GERAL O domínio das caatingas abrange cerca de 900 mil Km2, correspondendo aproximadamente a 54% da região Nordeste e 11% do território brasileiro (Sampaio, 1995). Ocupa os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte norte de Minas Gerais. Um número considerável de trabalhos descreveu as características da vegetação de caatinga, principalmente densidades, alturas e diâmetros ou áreas basais das árvores e arbustos (Alcoforado Filho, 2003; Pereira et al. 2003; Andrade, 2005). A grande maioria destes trabalhos buscou locais com vegetação relativamente preservada, representativa de estádios maduros da caatinga, embora poucos tenham descrito o histórico de uso das áreas. Trabalhos descrevendo estádios claramente definidos como de regeneração e comparando com caatinga mais madura são poucos (Pereira et al. ,2003, Andrade, 2005). Eles são importantes porque estes estádios representam a maior parte do que resta de caatinga hoje. Além disso, podem indicar e medir as mudanças ao longo do processo sucessional da caatinga. Tanto para a caatinga quanto para outras vegetações de locais semi-áridos ainda há muita controvérsia sobre sucessão. Em última análise, estes trabalhos contribuem para a formulação de técnicas e políticas de recuperação da vegetação de áreas abandonadas, muitas delas degradadas. O nitrogênio é o elemento mais importante para a maioria das plantas e sua entrada, em ecossistemas naturais, é mediada principalmente pela fixação biológica de nitrogênio. Trabalhos envolvendo fixação biológica de nitrogênio em vegetação de caatinga quase não foram feitos, havendo registro apenas o de Freitas et al (2009). Nenhum deles determinou a quantidade de N fixado em caatinga madura com mais de 50 anos de preservação. Dada a carência de dados sobre regeneração da vegetação e quantificação de N fixado em caatinga, espera-se que este trabalho vise contribuir para preencher esta lacuna de conhecimento. Estas informações são importantes para um correto manejo da vegetação nativa e para o desenvolvimento de sistemas agrosilvopastoris mais eficientes. 14 OBJETIVOS Realizar o levantamento fitossociológico em três sítios de caatinga com diferentes históricos de uso e quantificar a fixação biológica de N em sítio de caatinga madura. REVISÃO DE LITERATURA Fitossociologia A caatinga é bastante heterogênea nos seus aspectos florísticos e fisionômicos, por isso, até hoje, apesar de muitas tentativas, não existe uma proposta de classificação aceita universalmente. As principais dificuldades de enquadrá-la em um único tipo funcional deve-se a um conjunto de fatores relacionados com clima, relevo, geologia e geomorfologia da região, que condicionam uma multiplicidade de fisionomias e conjuntos florísticos (Rodal, 1992). Os primeiros estudos quantitativos neste bioma foram os inventários realizados pela SUDENE na década de 70 por Tavares et al.(1969a,1969b,1970,1974 e 1975). Desde então, muitos levantamentos desta natureza vêm sendo feitos, como os de Rodal (1992), Araújo et al. (1995), Alcoforado Filho et al.(2003), Santana (2005) e Amorim et al.(2005) . Araújo et al. (1995) amostraram a vegetação em três áreas de caatinga de Pernambuco: Poço de Ferro (PF) e Baixa do Faveleiro (BF), no município de Floresta, e Fazenda Samambaia (FS), no município de Custódia. Foram utilizados 100 pontos quadrantes interespaçados de 10m, em cada área, com critério de inclusão de altura (AT) maior ou igual a 1m e circunferência do caule ao nível do solo (CNS) maior ou igual a 5cm. Para o levantamento florístico foram também coletadas plantas fora dos quadrantes que atendiam aos mesmos critérios. Nas três áreas registraram 58 espécies e índices de diversidade de 1,85, 2,18 e 1,64 nats/ind. para as localidades PF, BF e FS, respectivamente. As espécies com maior índice de valor de cobertura foram Caesalpinia pyramidalis Tul. e Croton sonderianus Mull. Arg em PF, e FS e Mimosa acustipula Benth., Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. e Opuntia palmatoria Britton e Rose, em BF. 15 Trabalho realizado na Estação Ecológica do Seridó, RN, por Amorim et al. (2005) merece destaque pela proximidade com a área deste estudo. Foi utilizado o método de parcelas múltiplas com a implantação de 30 parcelas retangulares de 20 x 10m, sendo medidos todos os indivíduos com diâmetro ao nível do solo (DNS) maior ou igual a 3cm e altura total igual ou superior a 1 metro. Foram encontradas 22 espécies, 20 gêneros e 12 famílias. Croton sonderianus foi à espécie mais presente, ocorrendo em quase todas as parcelas. O índice de diversidade de Shannon alcançou 2,35 nat.indivíduos-1. Comparando-se estes resultados com os de outras áreas de caatinga, pode-se concluir que esta área tem uma baixa diversidade de espécies e que todas as espécies são comuns à flora da caatinga. Medidas mais diretas seriam a ocupação do espaço pela área de projeção das copas e a biomassa aérea acumulada. São medidas raras em trabalhos e quase inexistentes na caatinga. Nos estudos feitos por Amorim et al. (2005), na Estação Ecológica do Seridó, foram medidas as projeções de copa e realizada a estimativa da biomassa de todas as plantas. Na literatura somente havia sido realizado um estudo de projeção de copas, em Petrolina, PE (Albuquerque et al. 1982) e um outro estudo sobre estimativa de biomassa da parte aérea, realizado em Serra Talhada, PE (Kauffman et al., 1993). Sampaio e Silva (2005) elaboraram modelos de equações alométricas através de parâmetros fitossociológicos para determinação de biomassa e estoque de nutrientes em dez espécies de caatinga. Sucessão de caatinga Poucos trabalhos foram desenvolvidos com comparações de diferentes estádios sucessionais de caatinga. Pereira et al. (2003) realizaram um estudo no Agreste paraibano fazendo a comparação de quatro áreas com diferentes tipos de manejo e preservação Os autores concluiram que áreas utlizadas pela agricultura e que foram abandonadas levam décadas para se restabelecerem até o porte original. Já Carvalho et al. (2007) fizeram a comparação de duas áreas de caatinga na região do Cariri Oriental da Paraíba, encontrando espécies de estágio inicial de sucessão como Bauhinia cheilantha (Bong) Steud. Já para o estádio tardio de sucessão foram encontradas Manihot glaziovii Meell. Arg e Sapium sp, Erythrina velutina Willd, Maytenus rigida Mart e Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex DC) Standl. Conclui-se que poucos estudos 16 foram desenvolvidos em relação à comparação de diferentes estádios sucessionais no bioma caatinga. Sampaio et al. (1998) realizaram um estudo de regeneração de caatinga em Serra Talhada,PE, após corte e queima da vegetação com diferentes intensidades de combustão. A maioria das plantas de caatinga rebrotou após o corte, mas quando este foi seguido por queima a rebrota diminuiu de forma progressiva com a intensidade de combustão. As juremas-pretas levaram grande vantagem em relação a capacidade de rebrota após a queima, o que indica que esta espécie se encontra nos estádios sucessionais iniciais na caatinga. A importância da fixação biológica de nitrogênio (FBN) Apesar do N ser o elemento mais abundante na Terra, compondo 78% da atmosfera, a escassez de suas formas disponíveis para as plantas torna-o fator crítico para o crescimento, perdendo em importância apenas para a luz do sol e a água (Smill, 1999; Graham, 2003). Nos ecossistemas naturais, a fixação biológica do nitrogênio (FBN), e principalmente a fixação simbiótica, desempenha um papel fundamental na manutenção das quantidades adequadas de nitrogênio no compartimento das plantas. Uma indicação deste papel é a sobrevivência de numerosos membros da família Leguminosae em solos bastante deficientes de nitrogênio, como os solos da caatinga. Uma grande parte das espécies desta família forma associações com bactérias genericamente conhecidas como Rhizobium, que invadem os pêlos radiciais, formando nódulos nas quais o nitrogênio livre no ar é convertido em nitrogênio fixado para assimilação ou estoque pela planta. Este processo é um meio eficiente de suprir as leguminosas de nitrogênio e obter uma vantagem evolutiva sobre as outras plantas, o que lhes conferiu grande sucesso ecológico (Allen e Allen, 1981). Nos sistemas agrícolas, o aporte ou a deficiência de nitrogênio assume problemáticas diferentes de acordo com as características dos modelos de exploração adotados. Nos modelos extensivos, a inserção de leguminosas capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio pode despontar como uma alternativa de prevenir a degradação do meio ambiente e ajudar a segurança alimentar. Para a agricultura de subsistência, o fertilizante nitrogenado é freqüentemente indisponível, tornando a agricultura de sequeiro pouco viável, ficando as culturas dependentes do N mineralizado da matéria orgânica do solo (Sampaio et al., 1995). Nestes modelos, a 17 FBN muitas vezes se afirma como única saída de viabilização e sustentabilidade da agricultura (Dakora e Keya, 1997). Quantificação de N pelo processo da abundância natural Existem dois isótopos estáveis de nitrogênio, 14 N e 15N. O isótopo pesado, 15 N, ocorre no N2 atmosférico numa abundância constante de 0,3663 átomos %. Se a abundância no N do solo disponível para as plantas (mineral) é maior que este valor, uma estimativa das proporções do N contido nas leguminosas derivado de cada fonte pode ser feita. Para essa estimativa, a abundância de 15 N no N mineral é obtida analisando uma planta referência não fixadora de N, a qual é totalmente dependente do solo para o seu crescimento. Com o aumento da FBN, a abundância do 15N nas plantas fixadoras de N diminui, em função da ‘diluição’ do N assimilado no solo pelo N2 atmosférico de baixo δ15N fixado nos nódulos radiculares (Peoples et al., 1989). A técnica que se mostra mais promissora para quantificar as contribuições da fixação de N em árvores é de abundância natural do 15 N (Shearer; Kohl, 1986), que explora diferenças de ocorrência natural na abundância de 15N entre o nitrogênio do solo disponível para as plantas e o N2 atmosférico (Boddey et al., 2000). Ela se baseia no fenômeno comumente observado que o N mineral do solo (NO3 e NH4) geralmente é enriquecido (ou menos frequentemente diluído) no isótopo pesado do 15 N, comparado com o N2 atmosférico (Shearer e Kohl, 1986). Variações regulares da razão isotópica de N (15N/14N) podem proporcionar informações úteis a respeito das fontes de N utilizadas pelas plantas, bem como de aspectos relacionados ao fluxo de N nos ecossistemas. Alguns problemas são inerentes à aplicação de qualquer metodologia baseada em 15 N voltada para árvores. Esses problemas são relacionados (i) à amostragem representativa de toda a composição da planta; (ii) à escolha de plantas-referência apropriadas e (iii) ao potencial de transferência de N fixado das árvores fixadoras de N para as espécies-referência associadas (Boddey et al., 2000). No entanto, quando são feitos os ajustamentos necessários, a abundância natural do 15 N pode trazer inferências significativas no que diz respeito a aspectos do ciclo global do N e da forma com que esse elemento está sendo assimilado pelas plantas. Gathumbi et al (2002) confirmaram a utilidade do método da abundância natural do 15 N para estimar a fixação de nitrogênio em leguminosas arbóreas e herbáceas, no campo. A assinatura do δ15N nas folhas das plantas, em conjunto com sua concentração 18 total de N, podem constituir indicadores relevantes para a identificação de grupos funcionais dentro da comunidade de espécies não-fixadoras de N2, bem como para detectar a ação de microorganismos diazotróficos (Roggy et al., 1999). Fixação biológica de nitrogênio na caatinga Apenas um trabalho foi encontrado com a estimativa da fixação biológica na caatinga, o de Freitas (2010). A autora fez a estimativa em quatro áreas de caatinga da Paraíba e Pernambuco, utilizando a metodologia da abundância natural do 15N. Foram amostradas espécies de plantas potencialmente fixadoras e espécies de referência, sendo leguminosas e não-leguminosas. Ela concluiu que algumas leguminosas da caatinga tiveram grande capacidade de fixação de nitrogênio, como Mimosa tenuiflora, Mimosa arenosa e Piptadenia stipulacea e que na caatinga existe um bom potencial para o uso da abundância natural do 15N, em estimativas do %Ndda. 19 Referências Bibliográficas Albuquerque, S.G.; Soares, J.G.G. & Araújo Filho, J.A. 1982. Densidade de espécies arbustivas em vegetação de caatinga. Petrolina, EMBRAPA-CPATSA. (Pesquisa em andamento, 16). Alcoforado-Filho F.G., Sampaio E.V.S.B., Rodal M.J.N., 2003. Florística e fitossociologia de um remanescente de vegetação caducifólia espinhosa arbórea em Caruaru, Pernambuco. Acta botanica brasílica, v. 17, p. 287-303. Allen, O.N.; Allen, E.K. The Leguminosae: a source book of characteristics use and nodulation. Wisconsin, University of Wisconsin Press, 1981. 812p. Amorim, I.L; Sampaio,E.V.S.B; Araújo,E.L; Flora e estrutura da vegetação arbustivoarbórea de uma área de caatinga do Seridó,RN,Brasil. 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Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, Brazil, 52171-900, E-mail: [email protected] RESUMO- Foi realizado o levantamento fitossociológico em sítios com três diferentes históricos de uso, em Santa Terezinha, na Paraíba (07º 00’ S e 37º 23’ W): vegetação nativa regenerando há 10 anos (R10); vegetação nativa regenerando há 25 anos (R25); e caatinga madura, com mais de 50 anos sem interferência antrópica (C50). Para cada histórico de uso foram demarcadas três parcelas de 20 x 50m e em cada uma foram medidas todas as plantas com diâmetro do caule ≥ 3 cm. Em R10, R25 e C50, foram encontradas 4, 13 e 16 espécies respectivamente e em todos os sítios 17 espécies, pertencendo a 17 gêneros e 12 famílias. Os valores encontrados de densidades (693, 1100 e 1200 ind.ha-1), áreas basais (5,8, 6,3 e 11,0 m2.ha-1), áreas de copa (6045, 6280 e 8460 m2.ha-1) e biomassas da parte aéreas (29, 30 e 52 Mg.ha-1) também foram mais baixas que as da maioria das caatingas, mesmo para a caatinga madura. O número proporcionalmente mais baixo de espécies que das outras variáveis, em R10 em relação a C50, indica que a riqueza leva mais tempo para se recuperar que a estrutura. R10 foi dominada por Mimosa tenuiflora (>98% das medidas) que ainda era importante em R25 (50% das medidas), mas não em C50 (<4%). Caesalpinia pyramidalis teve um padrão inverso, mas só atingiu 30-35% das medidas em C50, dividindo a dominância com Piptadenia stipulacea e Commiphora leptophloeos. Palavras –chave: Regeneração, riqueza ,biomassa, área basal, densidade, área de copa. 25 PHYTOSOCIOLOGY OF THREE CAATINGA SITES WITH DIFFERENT USE HISTORY IN SANTA TEREZINHA, PARAIBA SATE, BRAZIL. A phytosociological survey was made of three sites with different use histories in Santa Terezinha municipality, Paraíba state (07º 00’ S e 37º 23’ W): R10, native vegetation regenerating for ten years; R25, native vegetation regenerating for 25 years; and C50, a mature caatinga, without disturbances for at least 50 years. Three 20 x 50 m plots were established in each site and, in each plot, all plants with stem diameter ≥ 3 cm were measured. R10, R25 and C50 had 4, 13 and 16 species and the three sites 17 species, belonging to 17 genera and 12 families. This richness is lower than those of most caatinga sites but similar to those found in the Patos Depression and Rio Grande do Norte Seridó. Densities (693, 1100 e 1200 plant.ha-1), basal areas (5,8, 6,3 e 11,0 m2.ha1 ), crown projection areas (6045, 6280 e 8460 m2.ha-1) and aboveground biomasses (29, 30 e 52 Mg.ha-1) were also lower than those of most caatingas, confirming the small size and open physiognomy of the vegetation, even the mature one. The lower number of species in R10 in relation to C50 indicates that the species richness takes longer to regenerate than the structure. R10 was dominated by Mimosa tenuiflora (>98% of all measures), that was still important in R25 (about 50% of all measures) but not in C50 (<4%). Caesalpinia pyramidalis had an inverse pattern but only reached 30-35% of all measures, sharing dominance with Piptadenia stipulacea and Commiphora leptophloeos. Key words: Regeneration, wealth, density, basal area, canopy, semiarid 26 Introdução Dos cerca de um milhão de quilômetros quadrados do semi-árido nordestino, aproximadamente a metade ainda se encontra com cobertura de caatinga em algum estádio de regeneração (IBGE, 2004). A vegetação nativa constitui o maior percentual da pastagem dos rebanhos domésticos e é parte integrante da etapa de pousio do ciclo de agricultura itinerante. Entretanto, estes usos, principalmente o da agricultura, envolvem a derrubada total ou parcial da cobertura arbustivo-arbórea da vegetação nativa, de modo que a caatinga que resta é um mosaico de diferentes estádios de regeneração (Pereira et al. 2003). Atualmente, o baixo rendimento econômico da agricultura itinerante tem levado ao aumento das áreas abandonadas. Por outro lado, a pecuária tem se intensificado, com o aumento da manipulação da vegetação nativa (Sampaio et al. 1998). Estas tendências resultam em um mosaico ainda mais complexo de vegetações em etapas distintas de regeneração natural e artificial. Um número considerável de trabalhos descreveu as características da vegetação de caatinga, principalmente densidades, alturas e diâmetros ou áreas basais das árvores e arbustos (Alcoforado Filho, 2003; Pereira et al. 2003; Andrade, 2005). A grande maioria destes trabalhos buscou locais com vegetação relativamente preservada, representativa de estádios maduros da caatinga, embora poucos tenham descrito o histórico de uso das áreas. Trabalhos descrevendo estádios claramente definidos como de regeneração e comparando com caatinga mais madura são poucos (Pereira et al. 2003 Andrade, 2005). Eles são importantes porque estes estádios representam a maior parte do que resta de caatinga ainda hoje. Além disso, podem indicar e medir as mudanças ao longo do processo sucessional da caatinga. Tanto para a caatinga quanto para outras vegetações de locais semi-áridos ainda há muita controvérsia sobre sucessão. Em última análise, eles contribuem também para a formulação de técnicas e políticas de recuperação da vegetação de áreas abandonadas, muitos delas degradadas. Assim, este trabalho objetivou realizar o levantamento fitossociológico de caatingas com três diferentes históricos de uso, no município de Santa Terezinha, Paraíba. 27 Material e métodos O estudo foi realizado na Fazenda Tamanduá, no município de Santa Terezinha, Paraíba (07º 00’ S e 37º 23’ W). De acordo com a classificação climática de Köppen, a região caracteriza-se pelo clima do tipo Bsh, semi-árido, marcado por uma estação seca e outra chuvosa (BRASIL, 1978). A área faz parte da unidade geomorfológica da Depressão Sertaneja e é formada de extensa planície baixa (250 a 310 m de altitude), de relevo predominante suave-ondulado, por vezes ondulado, com elevações residuais disseminadas na paisagem, nas quais a rocha granítica se apresenta exposta ou com uma camada pouco espessa de solo (SUDEMA, 2004). Os solos são rasos, pedregosos, de origem cristalina e fertilidade média à alta, mas muito suscetíveis à erosão. Predominam os Luvissolos, Argissolos, Neossolos Litólicos e Planossolos (Embrapa, 1999). Foram estudadas vegetações em sítios com três diferentes históricos de uso: 1) vegetação regenerando há um período de 10 anos, ou seja, foi permitido que a vegetação nativa regenerasse sem roço e corte raso, mas com a presença ocasional dos animais do rebanho. Essa condição foi denominada de R10; 2) vegetação nativa também regenerando, mas neste caso, há cerca de 25 anos, em condições semelhantes à de R10, sendo os sítios denominados de R25; e 3) vegetação de caatinga considerada madura, com pelo menos 50 anos sem corte raso e sem sinais de modificação humana recente, denominada C50. Para cada histórico foram demarcadas três parcelas semi-permanentes de 20 x 50m, distando entre elas com no mínimo 0,1 km e no máximo 1 km. Em cada parcela, todas as plantas com diâmetro do caule a 1,3 m do solo (DAP) igual ou superior a 3 cm, foram identificadas e medidas quanto a altura total, largura e comprimento máximos ortogonais da projeção da copa. Através do diâmetro foram obtidas a área basal (AB), considerando- se o caule como circular e as medidas da projeção da copa transformadas em área da copa (AC), considerando que tivesse o formato de elipse. No caso de plantas com caules bifurcados abaixo da altura do peito, com pelo menos uma das ramificações atendendo ao critério de inclusão, foram medidas todas as ramificações, uma a uma. Depois, foram calculadas as áreas basais de cada uma das ramificações e somadas, correspondendo à área basal da planta. Para a estimativa da biomassa da parte aérea (B, kg), foram utilizadas as equações alométricas específicas e a equação geral propostas por Sampaio e Silva (2005), baseadas no diâmetro à altura do peito (DAP, cm). Foram usadas as equações específicas para as espécies que as tiveram mensuradas no referido trabalho: 28 Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan agora denominada A. colubrina (Vell.) Brenan (B=0,2482DAP2,1628); Aspidosperma pyrifolium Mart. (B=0,3675DAP1,8355); Caesalpinia pyramidalis Tul. (B=0,2365DAP2,1928); Cereus jamacaru DC. (B=0,001DAP3,2327); Croton sonderianus Muell. Arg. agora C. blanchetianus Baill. (B=0,3569DAP1,8565); Jatropha mollisima (Pohl.) Baill. (B=0,197DAP1,8145); e Mimosa hostilis Bemth. agora M. tenuiflora (Willd.) Poir. (B=0,3127DAP2,1183). Para as demais espécies foi utilizada a equação geral (B=0,173DAP2,2950). Resultados e discussão Em todos os sítios, foram encontradas 17 espécies, pertencendo a 17 gêneros e 12 famílias (Tabela 1). Nos sítios de regeneração, o número de espécies foi crescente: 3 em R10, 13 em R25 e 16 em C50. O número de espécies encontradas foi um pouco menor que o do levantamento realizado na mesma propriedade em uma área mantida como RPPN por vários anos (Araújo, 2007). As 27 espécies desta área incluíam todas as 17 amostradas no presente trabalho. Em outra área relativamente próxima (60 km), mas no Seridó do Rio Grande do Norte (Amorim et al. 2005), o número de espécies também era baixo (15) e apenas duas não estavam na área do presente trabalho. Todas estas áreas têm menos espécies arbustivas e arbóreas que a maioria de outras caatingas em todo o Nordeste, tanto as incluídas na revisão de Sampaio (1996) quanto às descritas em trabalhos posteriores (Pereira et al. 2002; Alcoforado Filho et al. 2003; Rodal et al. 2008; Cavalcanti et al. 2009). A baixa riqueza florística da caatinga da Depressão de Patos foi discutida por Araújo (2007) e a do Seridó já havia sido referida por Luetzelburg (1922-1923). Outros trabalhos nas caatingas do Rio Grande do Norte (Tavares et al. 1975; Figueiredo 1987; Ferreira, 1988) também têm encontrado baixo número de espécies arbustivas e arbóreas (até 19 em cada área) e mesmo amostrando vários locais em mais de um município o número sobe para, no máximo, 34 espécies. Estes resultados parecem indicar que as caatingas da Depressão de Patos e de parte do Rio Grande do Norte, mesmo as preservadas há muitos anos, são menos ricas em espécies que as de outras áreas. Entretanto, os locais amostrados foram poucos para permitir conclusões seguras. A precipitação média anual não parece explicar a pobreza em espécies, porque há locais com totais de chuva semelhantes e com número maior de espécies (Sampaio, 1996). As áreas de Agreste, na borda leste do semi-árido, podem chegar a ter entre 50 e 60 espécies arbustivo-arbóreo, em um único local (Pereira et al. 29 2002; Alcoforado Filho et al. 2003). A distribuição das chuvas, mais regular ao longo do ano no Agreste, pode ser uma das causas da maior riqueza, mas a profundidade e a capacidade de retenção de água dos solos também podem contribuir, favorecendo maiores disponibilidades hídricas. As menores riquezas encontradas nas áreas em regeneração são condizentes com o padrão descrito para as poucas áreas de caatinga já estudadas (Pereira et al. 2003) e também para outros tipos de vegetação (Brown e Lugo 1990; Guariguata e Ostertag 2001). Mesmo os sítios com 25 anos de regeneração ainda tinham menor número de espécies (13) que a caatinga madura (16), embora a diferença fosse pequena. Com períodos de regeneração semelhantes (20 e 30 anos), no Agreste da Paraíba, Pereira et al. (2003) encontraram números bem menores (11 e 25 espécies) que a caatinga madura (53 espécies). Na Fazenda Tamanduá há várias áreas de caatinga madura entremeadas às áreas de pastagem, facilitando a dispersão de propágulos. No Agreste da Paraíba, caatingas maduras são raras e o fragmento estudado por Pereira et al. (2003) era um dos poucos e muito isolado de qualquer outro. No entanto, mesmo na Fazenda Tamanduá, o re-estabelecimento de algumas espécies leva alguns anos, já que nos sítios com 10 anos de regeneração o número de espécies ainda era muito pequeno (3 espécies). É possível que a dispersão de muitas espécies dependa da existência de abrigos e poleiros para a fauna e também que o estabelecimento das plântulas destas espécies seja facilitado por alguma cobertura vegetal maior, provida pelas espécies pioneiras. As três espécies presentes em R10 (Mimosa tenuiflora, Caesalpinia pyramidalis e Croton blanchetianus) são pioneiras em áreas de caatinga com processo de regeneração. Mimosa tenuiflora foi considerada a principal pioneira, seguida por Caesalpinia pyramidalis e Croton blanchetianus, em área com poucos anos de regeneração (até 6 anos), em Serra Talhada, Pernambuco (Sampaio et al. 1998). No Agreste da Paraíba (Pereira et al. 2003), Mimosa tenuiflora dominou a área com 20 anos de regeneração, enquanto Caesalpinia pyramidalis dominou a com 30 anos de regeneração e Croton blanchetianus teve pouca presença nas duas áreas. Na área com 25 anos de regeneração (R25), na Fazenda Tamanduá, notou-se um grande número de plantas de Mimosa tenuiflora mortas, sugerindo que o ciclo de vida destas pioneiras deve ser em torno destes 25 anos. Croton blanchetianus tem sido apontada como um espécie pioneira e até indicadora de locais de caatinga degradada (Sampaio et al. 1998). Por outro lado, Erythroxylum pungens, Amburana cearensis, Pseudobombax marginatum, Cnidoscolus phyllacanthus e Commiphora leptophloeos, que foram 30 encontradas exclusivamente na caatinga madura (C50), poderiam ser espécies das fases mais tardias de sucessão. Amburana cearensis e Pseudobombax marginatum estavam presentes na caatinga madura amostrada por Pereira et al. (2003) , mas não em áreas de regeneração e Commiphora leptophloeos e Cnidoscolus phyllacanthus estavam presentes na área madura e na de regeneração há 30 anos, mas não na de 20 anos. Estes dados reforçam a hipótese que seriam espécies de aparecimento tardio em caatingas em regeneração mas são poucas observações para permitir conclusões seguras. Muitas plantas de faveleiras aparecem nas beiras de estrada e em outros locais impactados de caatinga, indicando que a espécie pode não ser tão exigente quanto às condições propiciadas por vegetação madura. A comunidade apresentou fisionomia bastante aberta. As densidades totais foram 693, 1100 e 1200 ind.ha-1 para R10, R25 e C50, respectivamente, e as coberturas de copas 6045, de 6300 e 8536 m2. ha-1. As densidades são baixas, comparadas às de outros locais de caatinga amostrados com o mesmo critério de inclusão (Sampaio, 1996; Araújo, 2007). Sabe-se que densidade e a altura têm relação inversa (Sampaio 1996) e a baixa densidade da caatinga madura poderia ser uma conseqüência da ocupação dos espaços por indivíduos de grande porte. Dificilmente seria o caso de R10 porque não se espera que plantas de caatinga com menos de 10 anos tenham um porte grande. Realmente, os dados das coberturas de copas indicam a existência de espaços abertos na vegetação, já que, em nenhum sítio, a cobertura atingiu os 10000 m2 do cálculo feito para 1 ha. Na verdade, a área descoberta era maior porque há sempre alguma sobreposição de copas medidas. Existem apenas dois trabalhos com medidas de copas na caatinga, para comparar com estas: o de Albuquerque et al. (1982), em Petrolina, PE, que encontrou 30070 m2.ha-1 , somando as copas das árvores e dos arbustos e o de Amorim et al. (2005) que encontrou 8723 m2.ha-1, na Estação Ecológica do Seridó, no Rio Grande do Norte. O fato da caatinga de Petrolina ter porte relativamente baixo e mesmo assim ter uma cobertura de copas tão maior que a da Fazenda Tamanduá ajuda a imaginar a ocupação na Tamanduá, com muitos espaços abertos, apenas recobertos pelo manto de herbáceas, viçosas na época de chuvas e secas quando elas cessam e a deficiência hídrica prevalece. A cobertura semelhante a do Seridó reforça a idéia que são caatingas parecidas, mas a densidade de plantas lenhosas no Seridó foi mais que o dobro em qualquer um dos sítios amostrados na Fazenda Tamanduá. 31 A comunidade vegetal em R10 apresentou 36% das plantas na classe de diâmetro entre 6 e 9 cm, que concentrou o maior número de plantas(Figura 1). Já R25 e C50 apresentaram 35% e 38%, respectivamente dos diâmetros na classe de 6 a 9 cm. C50 e R25 tinham 55% das plantas na classe de 4 a 6 m, enquanto R10 tinha 82% nesta classe. Apenas 10 plantas por hectare, tanto em R10 quanto em R25, tiveram diâmetro maior que 20 cm e apenas 140 plantas maior que 12 cm. Já em C50, foram encontradas 46 plantas com diâmetro maior que 20 cm. São números mais baixos que todos os compilados da literatura sobre caatinga por Alcoforado Filho et al. (2003). Consistente com a baixa densidade e os baixos diâmetros, as áreas basais (Tabela 2), mesmo de C50 (11 m2 ha-1), foram das menores já reportadas. Valores semelhantes ou menores só foram reportados para um local em Santa Maria da Boa Vista, PE (Drumond et al. 1982), e para três locais do Rio Grande do Norte, sendo dois no Seridó (Tavares et al. 1975; Amorim et al. 2005). As baixas áreas basais indicam um baixo porte da vegetação que é confirmado pelas estimativas de biomassa da parte aérea. As biomassas totais variaram entre 29 e 55 Mg.ha-1 (Tabela 2), bem abaixo dos 74 Mg.ha-1 determinados em caatinga de Serra Talhada, PE (Kauffman et al. 1993) mas acima dos 20 a 25 Mg.ha-1 estimados para a caatinga da Estação Ecológica do Seridó (Amorim et al. 2005). Na comparação com esta última, que teve o dobro da densidade e alturas não muito distintas, fica patente o efeito dos maiores diâmetros dos caules. R10 e R25 tiveram áreas basais (5,8 e 6,3 m2 ha-1) e biomassas semelhantes (29 e 30 Mg.ha-1) indicando que a recuperação destas variáveis estruturais na caatinga avança relativamente rápido, até um certo ponto, e que depois leva ainda muitas décadas até atingir os valores da maturidade. Esta rápida recuperação estrutural contrasta com a recuperação mais lenta da composição florística. Em florestas tropicais de áreas mais úmidas este mesmo padrão tem sido relatado (Aide et al. 1996; Guariguata e Ostertag 2001; Chazdon 2003). Valores de biomassa para diversas áreas de caatinga apresentam ampla faixa de variação e o menor valor poderia decrescer até próximo de zero se em todos os levantamentos fossem consideradas todas as situações, como áreas que sofreram antropização recente ou recobertas de lajedos (Amorim et al. 2005). Os dados de densidade, área basal, área de copas e biomassa das espécies nas diversas situações, confirmam a situação de pioneirismo de Mimosa tenuiflora. Em R10, ela respondeu por mais de 98% de todas estas medidas, enquanto Croton blanchetianus, Caesalpinia pyramidalis e Cereus jamacaru estavam presentes com poucos indivíduos pequenos. Com 25 anos de regeneração (R25), Mimosa tenuiflora só 32 era responsável por cerca de metade das medidas dos parâmetros, enquanto Caesalpinia pyramidalis respondia por cerca de um terço e Croton blanchetianus havia sido ultrapassado pela Piptadenia stipulacea. Na caatinga madura, Mimosa tenuiflora representava apenas em torno de 3% da densidade, área basal, área de copas e biomassa O padrão para esta área, então, parece indicar que Mimosa tenuiflora se instala rapidamente, domina até pelo menos 10 anos e começa a perder a importância gradativamente, de modo que nas caatingas maduras tem uma participação pequena. Já a Caesalpinia pyramidalis parece instalar-se mais lentamente, mas vai dominando progressivamente até representar entre 35 e 40% da estrutura da vegetação, com pouco avanço depois dos 25 anos de regeneração. Croton blanchetianus não teve papel de destaque em nenhuma das épocas e sua maior participação foi na área de 25 anos. Caesalpinia pyramidalis é a espécie que mais aparece como importante em todos os levantamentos feitos em caatinga, quase sempre situados em caatingas consideradas maduras (Sampaio 1996; Alcoforado Filho et al. 2003). No entanto, Croton blanchetianus aparece como a mais importante em algumas áreas e também tem sido considerada uma invasora de áreas degradadas. Na Fazenda Tamanduá, ela não parece ter este papel, mas, considerando a caatinga como um todo, há uma variação grande na composição e nas espécies dominantes. As causas desta variação ainda são desconhecidas, provavelmente ligadas à disponibilidade de água e nutrientes, assim como as situações preferenciais das espécies. Entre as espécies tardias, merece destaque a Commiphora leptopholoeos. Ausente nas áreas em regeneração, na caatinga madura tinha a segunda maior densidade, área basal, área de copas e biomassa aérea, logo atrás da Caesalpinia pyramidalis , com proporções entre 25 e 30% dos valores da comunidade arbustivoarbórea. Esta espécie foi caracterizada, na revisão de Sampaio (1996), como a arbórea com mais registros de presença em levantamentos de caatinga, indicando uma dispersão ampla em toda a área de ocupação deste tipo vegetacional. Por ordem de densidade, na caatinga madura, em terceiro lugar apareceu Piptadenia stipulacea, mas com indivíduos pequenos, de forma que área basal, área de copa e biomassa foram inferiores às da Cnidoscolus phyllacanthus. Esta maior importância de Cnidoscolus phyllacanthus foi causada pelo porte dos indivíduos, alguns com os maiores diâmetros de caule da comunidade. É difícil ver plantas de Cnidoscolus phyllacanthus tão grandes em outras áreas de caatinga. Há pouca informação sobre estas duas espécies em outros levantamentos e, aparentemente, em nenhum elas tiveram destaque. 33 Conclusões O número de espécies foi menor do que em outros levantamentos e todas as espécies são comuns na flora da catinga. Mimosa tenuiflora correspondeu a 98% das medidas na caatinga em regeneração, mas na caatinga madura 4% das medidas. Já Caesalpinia pyramidalis atingiu padrão inverso, de 30-35% das medidas, dividindo a dominância com Piptadenia stipulacea e Commiphora leptopholeos. Cnidoscolus phyllacanthus, Commiphora leptophloeos e Amburana cearensis, ocorreram somente na caatinga madura. 34 Referências Aide, T.M.; Zimmerman, J.K.; Rosaro, M.; Marcano, H. Forest recovery in abandoned cattle pastures along an elevational gradient in northeastern Puerto Rico. Biotropica, v. 28, n. 1, p. 537-548, 1996. Albuquerque, S. G.; Soares, J. G. G.; Araújo Filho, J. A. Densidade de espécies arbustivas em vegetação de caatinga. Petrolina: Embrapa-CPATSA. 1982.9p. (Pesquisa em andamento, 16). Alcoforado Filho, F.G.; Sampaio, E.V.S.B; Rodal, M.J.N. Florística e fitossociologia de um remanescente de vegetação caducifólia arbórea em Caruaru, Pernambuco. Acta Botanica Brasílica, v.17, n.2,p. 287-303, 2003. Amorim, I. 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Inventário florestal da Paraíba e no Rio Grande do Norte l. Estudo preliminar das matas remanescentes do vale do Piranhas. Recife, SUDENE. (Recursos Naturais, 3) 38 Figura 1. Distribuição dos diâmetros das espécies arbustivo-arbóreas encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. 40 35 30 (%) 25 R10 20 R25 15 C50 10 5 0 3--6 6--9 9--12 12--15 15--18 >18 Classes de diâmetro (cm) 39 Figura 2. Distribuição das alturas das espécies arbustivo-arbóreas encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. Distribuição de altura 90 80 70 60 (%) R10 50 R25 40 C50 30 20 10 0 0-2 2--4 4--6 6--8 8--10 >10 Classes de Altura (m) 40 Tabela 1. Lista das espécies arbustivo-arbóreas encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. Família Nome científico Nome vulgar Apocynaceae Bignoniaceae Burseraceae Bombacaceae Cactaceae Caesalpinaceae Caesalpinaceae Capparaceae Combretaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Fabaceae Mimosaceae Mimosaceae Mimosaceae Erythroxylaceae Aspidosperma pyrifolium Mart Tabebeuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillett Pseudobombax marginatum (A.St.-Hil., Juss. & Cambess.) A.Robyns Cereus jamacaru DC. Caesalpinia pyramidalis Tul. Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Capparis flexuosa L. Combretum leprosum Mart Cnidoscolus phyllacanthus Croton sonderianus Muell. Arg. Jatropha mollissima (Pohl) Baill Amburana cearensis (Allemão) A.C. Smith Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenam Piptadenia stipulacea (Benth) Ducke Mimosa tenuiflora (Willd) Poiret Erythroxylum pungens O.E Schulz Pereiro Pau d’arco Umburana Embiratanha Mandacaru Catingueira Mororó Feijão-bravo Mofumbo Faveleira Marmeleiro Pinhão-bravo Cumarú Angico Jurema branca Jurema preta Rompe gibão 41 Tabela 2. Parâmetros fitossociológicos encontradas em caatinga de áreas em regeneração há 10 anos (R10), há 25 anos (R25) e de caatinga madura (C50) em Santa Terezinha, Paraíba. Densidade=D(ind.ha-1), Área basal (m2.ha-1), AC=Área de copa(m2.ha-1), Biomassa total(BT=Mg.ha1 ). Espécies R10 AB AC - Aspidosperma pyrifolium D - Tabebeuia impetiginosa - - Commiphora leptophloeos - - Pseudobombax marginatum - - Cereus jamacaru 3 Caesalpinia pyramidalis R25 C50 BT - D 3 AB 0,004 AC 29,3 BT 0,06 D 50 AB 0,2 AC 241,5 BT 0,76 - - 3 0,0003 15,4 0,01 - - - - - - - - - - 307 3,07 2002,5 16,1 - - - - - - 17 0,04 24,6 0,1 0,02 - 0,054 13 0,293 - 0,18 7 0,06 - 0,1 3 0,01 20 0,032 350 2,32 2905 11,2 440 4,28 3549 21,4 Bauhinia cheilantha - - - - 10 0,01 17,5 0,06 13 0,04 52,5 0,17 Capparis flexuosa - - - - 7 0,02 55,3 0,11 3 0,003 9 0,001 Combretum leprosum - - - - 17 0,06 99 0,28 53 0,28 318 1,3 Cnidoscolus phyllacanthus - - - - - - - - 33 0,95 705 5,2 Jatropha mollissima - - - - 10 0,03 , 0,17 23 0,08 73 0,01 Amburana cearensis - - - - - - - 3 0,55 292 0,08 - Anadenanthera colubrina - - - - 3 0,01 38,3 0,07 43 0,25 211 1,6 Piptadenia stipulacea - - - - 77 0,31 219,5 - 77 0,31 533,5 2,8 Mimosa tenuiflora 687 5,74 6000 28,9 517 2,96 2643 15,3 40 0,38 416,5 2,1 Croton sonderianus 3 0,02 25,1 0,04 87 0,26 256 2,7 3 0,004 20 0,005 Erythroxilum pungens - - - - - - - - 37 0,13 11 0,09 TOTAL 696 5,8 6045 29,0 1100 6,3 6280 30,1 1200 11,0 8460 52,0 43 44 Capítulo 2 Fixação biológica de nitrogênio em caatinga no Nordeste do Brasil Fixação biológica de nitrogênio em caatinga no Nordeste do Brasil Leonardo Queiroz de SouzaA, Ana Dolores Santiago de FreitasB, Everardo Valadares de Sá Barretto SampaioA, Patrícia Maia MouraA e Rômulo Simões Cezar MenezesA A Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco, Av. Prof Luís Freire, 1000, Recife, PE, E-mail: [email protected] , [email protected] , [email protected] ,[email protected] B Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, Brazil, 52171-900, E-mail: [email protected] Resumo Dados quantificando a fixação biológica de nitrogênio (FBN) em vegetação nativa são raros, especialmente em florestas secas tropicais. Foram estimadas as quantidades de N fixadas anualmente, medindo-se as proporções de N fixado (%Ndda) e as quantidades de N nas biomassas de folhas de leguminosas arbóreas em uma área de caatinga madura da Paraíba. O %Ndda foi calculado comparando concentrações de 15 N das plantas leguminosas e de referência. A biomassa de folhas foi estimada usando equações alométricas baseada no diâmetro do caule a altura do peito. Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea e Anadenanthera colubrina tiveram grandes proporções do N de suas folhas derivado do N2 atmosférico. O porte médio das plantas das espécies fixadoras não foi muito grande e as biomassas de suas folhas corresponderam a 5-10% das biomassas totais. O teor de N nas folhas foi maior nas leguminosas do que nas não-leguminosas. A baixa densidade de plantas e a baixa biomassa de folhas das espécies fixadoras foram os fatores que mais contribuíram para as quantidades relativamente pequenas de N fixado nas folhas (10,6 a 15,1 kg.ha-1). Embora pequenas, elas são quase duas vezes as quantidades estimadas para uma floresta tropical úmida da Amazônia e para uma caatinga próxima. Estes aportes de N, acumulados ao longo dos anos, são cruciais para o balanço de nutrientes dentro do sistema. Palavras-chave: Fixação Biológica de Nitrogênio, Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea, Anadenanthera colubrina, 15-N, biomassa. 46 Abstract Quantification of symbiotic nitrogen fixation in native vegetations is scarce, especially in tropical dry forests. We estimated the amounts of N fixed annually, measuring the proportions of fixed N (%Ndda) and the amounts of N in the leaf biomass of tree legumes in one area of mature caatinga in Paraíba state, Brazil. The %Ndda was calculated comparing 15 N concentrations of legume and reference species. Leaf biomass was estimated using allometric equations based on the stem diameters at breast height. Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea and Anadenanthera colubrina had large proportions of their leaf N derived from atmospheric N2. The average sizes of the plants of the fixing species were not very large and the leaf biomasses corresponded to 5 to 10% of the total aboveground biomasses. The N content in the leaves was higher in legumes than in the non legume species. The low plant density and the low leaf biomasses of the fixing species contributed the most to the relatively low amounts of fixed N in the leaves (10.6 to 15.1 kg ha-1). Although low, they are almost twice the amounts estimated for a tropical rain forest and a nearby caatinga. Their accumulated inputs, along the years, are crucial to the nutrient balance of the systems. Key words: nitrogen biological fixation, Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea, Anadenanthera colubrina, 15-N, caatinga. 47 Introdução A fixação biológica de nitrogênio (FBN) é o principal processo de entrada de N nos ecossistemas naturais e também um dos mais importantes processos ecológicos (Cleveland et al. 1999). Apesar da sua importância, dados quantificando a FBN são raros, principalmente em vegetação nativa tropical. A principal limitação é a inexistência de um método adequado para determinação da fixação em árvores e arbustos de maior porte. O método mais confiável, baseado na abundância de 15N, só pode ser usado quando há uma diferença significativa entre o sinal de 15 N da leguminosa fixadora e o de plantas não fixadoras tomadas como referência (Högberg 1997; Boddey et al. 2000, Gehring e Vlek 2004). Esta condição não é encontrada em muitos locais e tipos de vegetação, mas é encontrada na caatinga (Freitas et al. 2009), que cobre aproximadamente um milhão de quilômetros quadrados do nordeste brasileiro (Sampaio 1995). Baseado no método da abundância natural de 15 N, as proporções do N fixado simbioticamente em relação ao N total da planta têm sido determinadas em várias espécies de florestas tropicais secas, em diferentes condições ambientais, na África (Schulze et al. 1991; Ndiaye e Ganry 1997) e na América (Shearer et al. 1986). Para estimar as quantidades de N fixado nas plantas, as medidas destas proporções precisam ser feitas simultaneamente às determinações das quantidades de N produzido. Isto não é feito facilmente em vegetações perenifólias, que têm produção de folhas ao longo de todo o ano, mas é mais fácil em vegetações caducifólias, nas quais a massa de folhas é renovada anualmente e corresponde à maior parte da biomassa aérea produzida (Machado et al. 1997). Para estimar as quantidades de N fixadas em uma área, as quantidades de N em todas as leguminosas fixadoras desta área precisam ser determinadas. Isto também é mais fácil em florestas secas do que nas úmidas porque elas têm menos espécies. Estas determinações simultâneas e integradas raramente foram feitas e só uns poucos trabalhos foram publicados com estimativas de FBN em vegetações nativas tropicais (Roggy et al.1999, Sylla et al. 2002). Apesar de serem mais facilmente obtidos, praticamente inexistem dados para florestas tropicais secas. Considerando esta ausência de informação, foram estimadas as quantidades de N fixadas anualmente em folhas de árvores numa área de caatinga do Nordeste do Brasil. 48 Material e Métodos O estudo foi conduzido na Fazenda Tamanduá, município de Santa Terezinha, Paraíba, em torno das coordenadas 07°0’14” S e 37°20’38” W. A precipitação média anual é de 600 mm, com grande variação de ano a ano e concentrada em três meses, normalmente entre março e maio. A temperatura anual média é de 26° C, com pouca variação sazonal e diária. Os solos são Neossolos Litólicos, relativamente rasos e de baixa fertilidade. Foram escolhidas três áreas dentro da propriedade, todas cobertas com caatinga preservada por mais de 50 anos. Em cada área, foi demarcada uma parcela de 20 x 50 m e, em cada parcela, todas as plantas com o diâmetro do caule igual ou superior a 3 cm foram marcadas, identificadas e tiveram seus diâmetros do caules medidos à altura do peito (DAP, 1,3 m do solo). A biomassa total e de folhas de cada planta foram estimadas utilizando as equações alométricas desenvolvidas por Sampaio e Silva (2005) e Silva e Sampaio (2008). Como todas as espécies de leguminosas estudadas são decíduas, a estimativa das biomassas de folhas foi considerada equivalente a produção anual de folhas. Folhas maduras, completamente expandidas, de cada espécie de leguminosa fixadora foram coletadas em cada parcela, assim como folhas de uma leguminosa não fixadora (Caesalpinia pyramidalis Tul.) e de uma espécie não leguminosa (Aspidosperma pyrifolium Mart.), usadas com espécies de referência. Das espécies de leguminosas fixadoras com menos de cinco plantas em cada parcela, foram coletadas amostras de todas elas; das com mais de cinco plantas, foram selecionadas, aleatoriamente, cinco para coleta. As folhas foram secas em estufa, moídas e analisadas quanto aos seus teores de N total, pelo método de Kjeldhal, e de 15N, por espectrometria de massa. A proporção de N fixado em cada planta (%Ndfa) foi calculada utilizando a seguinte fórmula (Shearer e Kohl, 1986): %Ndfa = (δ15N(referência) – δ15N(fixadora)/ δ15N(referência) – B) × 100; Onde δ15N(referência) é o valor médio de δ15N das plantas das espécies de referência em cada parcela, δ15(fixadora) é o valor médio de δ15N de cada leguminosa considerada como possível fixadora e B é o valor de δ15N do processo de fixação em plantas crescidas em meio sem suprimento de N mineral. Considerando os altos valores de δ15N das plantas não fixadoras da caatinga, as dificuldades metodológicas de determinar este valor B em espécies arbóreas (Högberg 1997, Boddey et al. 2000) e a ausência deste valor para 49 quaisquer espécies da caatinga, ele não foi determinado. Como recomendado por Högberg (1997), testaram-se valores extremos de B da literatura, para avaliar o efeito nos cálculos da %Ndfa. Foram usados os valores de 0% e -2%, comumente empregados em estudos de FBN (Schulze et al. 1991, Roggy et al.1999, Raddad et al. 2005). A quantidade de N fixado nas folhas foi estimada multiplicando-se a biomassa de folhas de cada planta na parcela pela média da proporção do N fixado (%Ndfa) da espécie, em cada parcela. Resultados e Discussão Os valores de δ15N das folhas das leguminosas fixadoras foram significativamente menores (médias de 1.02 a 1.74‰) que os das plantas de referência (4.48 e 4.70‰) (Tabela 1). Todas as espécies fixadoras tiveram altas proporções de seus conteúdos de N derivadas do N2 atmosférico. Elevadas capacidades de fixação de Mimosa tenuiflora e de Piptadenia stipulacea já haviam sido encontradas por Freitas et al. (2009), em um local próximo, mas eles não encontraram sinais de fixação em Anadenanthera colubrina neste mesmo local. As proporções da fixação destas espécies estão entre as mais altas já registradas em leguminosas crescendo em vegetações naturais (Schulze et al. 1991, Ndiaye e Ganry 1997, Roggy et al. 1999, Sylla et al. 2002, Gehring et al. 2005). Os valores médios das biomassas das espécies fixadoras não foram muito elevados (Tabela 1), seguindo o padrão da vegetação local, limitada pela disponibilidade de água durante 5 a 7 meses por ano. A biomassa de folhas correspondeu a proporções entre 5 e 10% da biomassa aérea total, dentro da faixa usualmente referida para plantas arbóreas e arbustivas de caatinga (Silva e Sampaio, 2008). Os teores de N nas folhas das leguminosas foram mais elevados que nas folhas das plantas da espécie não leguminosa (Tabela 1). As quantidades de N fixado nas folhas de A colubrina, M. tenuiflora e P. stipulacea foram estimadas entre 12,8 e 18,3 kg ha-1, dependendo do valor de B adotado. Entre as variáveis que compuseram o cálculo da fixação biológica de N nas folhas das plantas (biomassa de folhas, quantidade de N e proporção de N fixado), somente a biomassa de folhas teve valores baixos em relação a outros tipos de vegetação. Calculando com base na área, as baixas densidades de plantas e as baixas biomassas de folhas foram as variáveis responsáveis pelas baixas quantidades de N fixado (Tabela 1). Estas quantidades são bem menores que as registradas em leguminosas cultivadas, que podem chegar a 87 e até a 177 kg ha-1 (Hauser e Nolte 2002). 50 No entanto, são mais do dobro das quantidades estimadas por Roggy et al. (1999), em uma floresta tropical na Guiana, e por Freitas et al. (2009) em uma área de caatinga próxima. Conclusões Mimosa tenuiflora, Piptadenia stipulacea e Anadenanthera colubrina fixaram simbioticamente grandes proporções de seus conteúdos de N, mas as baixas densidades das plantas na área e as baixas quantidades de biomassa de folhas fizeram com que as quantidades de N fixado nas folhas fossem relativamente baixas (10,6 a 15,1 kg ha-1). Embora baixas estas entradas acumuladas ao longo dos anos são cruciais para o balanço de N no sistema. 51 Referências Boddey RM, Peoples MB, Palmer B, Dart P (2000) Use of the 15 N natural abundance technique to quantify biological nitrogen fixation by woody perennials. Nutrient Cycling in Agroecosystems 57, 235-270. Cleveland CC, Townsend AR, Schimel DS, Fisher H, Howarth RW, Hedin LO, Perakis SS, Latty, EF, Von Fischer JC, Elseroad A, Wasson NF (1999) Global patterns of terrestrial biological nitrogen (N2) fixation in natural ecosystems. Global Biogeochemical Cycles 13, 623-645. 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Espécies Biomassa de folhas Quantidade de N na folha Quantidade de N Ndfa δ15N B=0 (kg ha-1) (%) (kg ha-1) 738 Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan 106 2.72 2.9 1.84 Mimosa tenuiflora (Willd.) Poire 141 3.24 4.6 1.02 Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke 491 2.70 12.7 Leguminosas não-fixadoras Outras espécies 1931 2773 B=-2 (‰) Leguminosas fixadoras Fixação N B=0 (kg ha-1) (%) 20.2 2.77 2.04 53.5 56.7 B=-2 15,1 10,6 42,3 1,7 1,2 78,0 54,6 3,6 2,5 1.05 77,5 54,2 9,8 6,9 4.79 - - - - 4.48 - - - -