Aline Daniele Bueno da Silva - A EJA na modalidade a - IFRS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À
EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
A EJA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA: FACILIDADES E IMPLICAÇÕES
Aline Daniele Bueno da Silva
Orientador: Prof ª Daniela Brun Menegotto
Bento Gonçalves
2009
1
FICHA CATALOGRÁFICA
___________________________________________________________________________
S586e Silva, Aline Daniele Bueno da
A EJA na modalidade a distância: facilidades e implicações / Aline Daniele Bueno da
Silva ; orientadora Daniela Brun Menegotto. – Bento Gonçalves, 2009.
26 f.
Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.
Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica
na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.
1. Educação. 2. Educação profissional. 3. Programa Nacional de Integração
da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos. 4. PROEJA. 5. Educação de Jovens e Adultos. 6. EJA. 7. EJA – Ensino a distância.8.
EJA - Ambiente virtual de aprendizagem. 9. Informática na educação.10. Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia - Campus de Bento Gonçalves. I. Menegotto, Daniela Brun.
II. Título
CDU 374.7
_____________________________________________________________________________
CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.
(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)
2
A EJA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA: FACILIDADES E IMPLICAÇÕES
Aline Daniele Bueno da Silva1
Daniela Brun Menegotto2
Resumo: Este artigo está ligado a três pontos particulares. Primeiramente, pretende-se ponderar sobre a situação
da EJA – Educação de Jovens e Adultos - no Brasil, salientando os principais marcos que a EJA percorreu até
chegar aos dias atuais. Também se faz necessário explorar os caminhos que a EJA está tomando, os rumos que
este vasto campo educacional tem ocupado. Depois, focalizar-se-á a pesquisa na modalidade de educação a
distância. Esta modalidade de ensino, mesmo que já esteja ocorrendo a um tempo considerado razoável, ainda é
inovador na sociedade e merece um olhar direcionado. E é a este foco específico que se dedica esta pesquisa. Por
fim, pretende-se analisar, através de teorizações, estudo de caso e aplicação de questionários, uma proposta em
particular para a EJA, na modalidade a distância. Desta forma, por meio da análise desta proposta, acreditase estar contribuindo para o desenvolvimento de propostas de cursos de PROEJA - Educação de Jovens e
Adultos Profissionalizante na modalidade a distância, ampliando a oferta de cursos no IFRS - Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus de Bento Gonçalves.
Palavras-chave: Educação de jovens e adultos; Educação a distância; Processo de ensinar e de aprender;
PROEJA.
Abstract: The present article is linked to three particular points. First of all, it intends to meditate about the
situation of the Youth and Adult Education in Brazil, pointing out the main marks through which it has gone
until these days. It is also necessary to explore the new ways that Youth and Adult Education is going through,
the routes that this vast education field has occupied. After that, this research will focus on distance learning.
This modality of education, although being a reality for quite a while, is still innovative in the society and
deserves a focused look. And it is to this specific focus that this research serves. Finally, it is intended to analyze,
through theorization, field research, interviews and critical evaluation, a proposal to Youth and Adult Education
in particular through the distance learning modality. This way, through the analisys of this purpose, it is
forseeing on beeing contribuiting to the development of purposes of courses of PROEJA – Educação de Jovens e
Adultos Profissionalizante (profissionalizing young and adult education) on the distance education method,
growing the offer of courses on IFRS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Federal Institut of
Education, Cience and Tecnology) – Campus of Bento Gonçalves.
Key-words: Youth and Adult Education; Distance Learning; Teaching and Learning Processes; PROEJA
1
Aluna do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada a Educação
Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2
Professora orientadora. Mestre em Educação pela Unisinos. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves.
3
Introdução
A EJA - Educação de Jovens e Adultos - se amplia a cada ano que passa. Muitas
instituições, públicas e privadas, vêem nesse tipo de ensino a solução para aqueles que não
tem idade para freqüentar o ensino regular. As pessoas, por sua vez, procuram a EJA porque
precisam de formação para entrar no mercado de trabalho ou, até mesmo, para ampliar seu
convívio no meio social.
Mais recentemente, foi criada a EJA a distância, muito provavelmente pela falta de
tempo ou dificuldade de locomoção dos alunos até a escola. Na presente pesquisa, pretende-se
estudar esta nova modalidade de ensino, investigar as principais dúvidas que circundam este
tema que está tão em voga no Brasil.
No que diz respeito a educação a distância, questiono: como são desenvolvidos os
processos de ensinar e de aprender? O presente estudo basear-se-á em outras questões que
auxiliarão a melhor compreender essa questão, tais como: Por que as pessoas procuram esse
tipo de ensino? De que maneira o aluno é avaliado nessa modalidade de ensino? Qual é a
fundamental diferença entre as aulas presenciais e as aulas a distância?
A pesquisa procura responder aos questionamentos supra, chegando-se assim a uma
compreensão mais clara sobre o desenvolvimento do processo educacional da EJA a distância.
A partir da união de estudos teóricos de autores como Moacir Gadotti, Paulo Freire, Rena
Palloff, Keith Pratt, Maria Luiza Belloni e outros, aliado ao estudo de caso realizado em uma
escola particular da cidade de Bento Gonçalves/RS. Neste estudo de caso, será analisado o
plano de curso de EJA na modalidade a distância e também serão aplicados questionários conforme Anexos – com 2 docentes e 15 discentes que participam do processo educacional a
distância. Desta forma, deseja-se também perceber se o aluno que procura esta modalidade de
ensino está desenvolvendo uma aprendizagem significativa, que contribua para o
aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas no cotidiano, com base na realidade em que
está inserido.
Em tempos em que o diploma, muitas vezes pode vir em detrimento da
aprendizagem, onde o aluno deseja prioritariamente ter um comprovante que o habilite a
desenvolver suas atividades profissionais é de extrema importância para o desenvolvimento
da EJA a distância, elaborar pesquisas que contribuam para aprimorar as metodologias de
ensino, pensando na obtenção do êxito do desenvolvimento dos processos de ensinar e de
aprender. Tratando-se especialmente da modalidade da EJA a distância, faz-se necessário
4
então entender se a mesma tem garantido a qualidade do processo educacional pretendida
pelos alunos ou se tem sido apenas um caminho mais fácil de chegar ao histórico escolar.
1 – A situação da EJA no Brasil
1.1 – Contextualização Histórica
A história da EJA no Brasil sempre esteve ligada à idéia de descontinuidade. Muito
impulsionada por iniciativas isoladas, as políticas públicas que trataram da EJA não deram
conta de garantir o direito ao estudo da maneira como pressupõe necessária a Constituição de
1988.
A história da educação de adultos propriamente dita, no Brasil, poderia começar na
época do Brasil Colônia, mas, para a proposta do presente artigo, cabe apenas salientar os
principais marcos que trouxeram a EJA até os dias atuais. Segundo GADOTTI (1995), a EJA
poderia ser dividida em três períodos:
1º) De 1946 a 1958, onde foram realizadas grandes campanhas nacionais de iniciativa
oficial, chamadas de “cruzadas”, sobretudo para “erradicar o analfabetismo”, entendido como
uma chaga, uma doença. Por isso se falava em zonas negras de analfabetismo.
2º) De 1958 a 1964. Em 1958 foi realizado o 2º Congresso Nacional de Educação de
Adultos, onde participou Paulo Freire. Partiu daí a idéia de um programa permanente de
enfrentamento do problema da alfabetização que desembocou no Plano Nacional de
Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo Freire e extinto pelo Golpe de Estado de 1964,
depois de um ano de funcionamento. A educação de adultos era entendida a partir de uma
visão das causas do analfabetismo, como educação de base, articulada com as “reformas de
base”, defendidas pelo governo popular de João Goulart. Os Centros Populares de Cultura,
extintos logo após o Golpe Militar de 64 e o Movimento de Educação de Base, apoiado pela
Igreja e que durou até 1969, foram profundamente influenciados por essas idéias.
3º) O governo militar insistia em campanhas como a “Cruzada do ABC” e
posteriormente com o MOBRAL. Este foi concebido como um sistema que visava o controle
da população, especialmente a rural. Em seguida, com a redemocratização (1985), a Nova
República extingue o MOBRAL e cria a Fundação Educar. Os objetivos dessa última eram
mais democráticos que o MOBRAL, mas não tinha os mesmos recursos.
5
A EJA assim foi enterrada pela Nova República e o autodenominado “Brasil Novo”
(1990) do primeiro presidente eleito depois de 1961, criou o PNAC (Plano Nacional de
Alfabetização e Cidadania), apresentado com grande pompa publicitária em 1990 e extinto no
ano seguinte sem qualquer explicação para a sociedade civil que o havia apoiado.
A verdade é que pouco se alfabetizou após o Regime militar. A EJA foi levada à
estagnação pedagógica. Entretanto, com a efervescência da democracia na década de 80,
definiu-se uma nova concepção de Educação de Jovens e Adultos a partir da Constituição
Federal de 1988. Esta garantiu importantes avanços no campo da EJA. No artigo 208, a
educação passa a ser direito de todos independentes de idade.
O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: Iensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive sua oferta
gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria
(CONSTITUIÇAO FEDERAL, 1988)
Em 1990 foi criada a Comissão Nacional de Alfabetização, coordenada por Paulo
Freire e, depois, por José E. Romão. Ela tinha o objetivo de elaborar diretrizes para a
formulação de políticas de alfabetização a longo prazo que nem sempre são assumidas pelo
governo federal.
A luz no fim do túnel veio com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (9394/96) onde promulgou-se a primeira referência falando da EJA no título
terceiro, artigos 4º e 5º, institucionalizando esta modalidade de ensino.
Por todas as modificações citadas, percebe-se que não há uma proposta única para a
Educação de Jovens e Adultos, que é formulada e reformulada a cada governo. Assim, criouse uma desconfiança por parte da população, mesmo quando há compromisso por parte dos
dirigentes do Estado. A EJA parece ficar marcada como uma educação descontínua, onde
muitos tomam as decisões, mas poucos levam em frente o que foi começado.
1.2 – Novas Tendências para a EJA
Foi a partir de 2003, através de um programa chamado “Brasil Alfabetizado” que
aumentou a preocupação em distribuir verba aos municípios com objetivo de incentivar a
continuidade dos estudos.
A EJA, em síntese, trabalha com sujeitos marginais ao sistema, com atributos
sempre acentuados em conseqüência de alguns fatores adicionais como
raça/etnia, cor, gênero, entre outros. Negros, quilombolas, mulheres, indígenas,
6
camponeses, ribeirinhos, pescadores, jovens, idosos, subempregados,
desemprego, trabalhadores informais, são emblemáticos representantes das
múltiplas apartações que a sociedade brasileira excludente, promove para
grande parte da população desfavorecida econômica, social e culturalmente.
(PROEJA, Documento Base, 2007, p.11)
Por essa citação, entende-se que existe uma grande fatia da sociedade que, por um
motivo ou outro, não conseguiu concluir os estudos em tempo considerado o ideal, ou seja, o
Ensino Médio até o fim da adolescência. Também fica claro que a EJA é composta, na
maioria dos casos, por pessoas marginalizadas pela sociedade. O fato de não estudar, resulta
na difícil colocação no mercado de trabalho e, na maioria das vezes, acredita-se que essas
pessoas, procuram a EJA para conseguir “mais facilmente” essa tão esperada vaga no
mercado.
Este pensamento não deixa de ter certa razão, mas também tira a “culpa” do sistema
capitalista que tem, em parte, responsabilidade pelo desemprego estrutural. Faz-se necessário,
para amenizar o caos do desemprego que se instaurou com o passar dos anos (tendo início no
modelo Fordista, no trabalho em série) criar políticas públicas que não só oportunizem o
estudo para os excludentes como também ofereçam um ensino qualificado voltado ao mundo
do trabalho.
O declínio sistemático no número de postos de trabalho obriga redimensionar a
própria formação, tornando-a mais abrangente permitindo ao sujeito, além de
conhecer os processos produtivos, constituir instrumentos para inserir-se de
modos diversos no mundo do trabalho, inclusive gerando emprego e renda.
Nesse sentido a discussão acerca da identidade “trabalhador” precisa ser
matizada por outros aspectos da vida, aspectos constituintes e constitutivos dos
sujeitos jovens e adultos como a religiosidade, a família e a participação social
e política nos mais diversos grupos culturais. (Id.Ibidem, p.14)
Em vista disso, a EJA ocupa um papel fundamental na sociedade, uma vez que
procura re-inserir o jovem e adulto não só no mercado de trabalho, mas também tem como
objetivo principal formar um ser crítico, homem cidadão e consciente de seu lugar no mundo,
como observa-se nas palavras de Freire (1995)
A educação popular, de corte progressista, democrático, superando o que
chamei, na Pedagogia do Oprimido, “educação bancária”, tenta o esforço
necessário de ter no educando um sujeito cognoscente, que, por isso mesmo, se
assume como um sujeito em busca de, e não como pura incidência da ação do
educador. (FREIRE, Paulo.1995.p.14)
A EJA, que inicialmente era um programa com o objetivo apenas de formar no ensino
básico, hoje ocupa um espaço bem maior. Ela busca a superação do saber de senso comum
7
pelo conhecimento mais crítico. Busca recolocar as pessoas que, por questões econômicas,
por falta de oportunidade, ficaram à margem da sociedade.
Com esse objetivo definido, através do Decreto número 5.478, de 24/06/2005 iniciouse o primeiramente denominado Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino
Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos, o PROEJA. “...o PROEJA expôs a
decisão governamental de atender à demanda de jovens e adultos pela oferta de educação
profissional técnica de nível médio, da qual, em geral, são excluídos, bem como, em muitas
situações, do próprio Ensino Médio.” p.12
Porém, apesar do PROEJA ser um programa que tem como visão aliar a área técnica
ao Ensino Médio na modalidade de Jovens e Adultos, isto não quer dizer que este ensino
deseje apenas formar para o mercado de trabalho. Em primeiro lugar, a idéia é se formar para
a vida.
O que realmente se pretende é a formação humana, no seu sentido lato, com
acesso ao universo de saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos
produzidos historicamente pela humanidade, integrada a uma formação
profissional que permita compreender o mundo, compreender-se no mundo e
nele atuar na busca de melhoria das próprias condições de vida e da construção
de uma sociedade socialmente mais justa. A perspectiva precisa ser, portanto,
de formação na vida e para a vida e não apenas de qualificação do mercado ou
para ele. (Id-Ibidem,p.13).
Freqüentar a escola, portanto, precisa ter um significado. Os jovens e adultos que
abandonam a escola, quando retornam a ela, precisam reconhecer sua importância, se
identificar com ela de alguma forma.
Não é possível a educadoras e educadores pensar apenas os procedimentos
didáticos e os conteúdos a serem ensinados aos grupos populares. Os próprios
conteúdos a serem ensinados não podem ser totalmente estranhos àquela
cotidianidade. O que acontece, no meio popular, nas periferias das cidades, nos
campos – trabalhadores urbanos e rurais reunindo-se para rezar ou para discutir
seus direitos – nada pode escapar à curiosidade arguta dos educadores
envolvidos na prática da Educação Popular. (FREIRE, 1995, p.13)
Educadores que ensinam o conteúdo sem relacioná-lo à vida, tendem a estimular o
desinteresse do aluno pela escola e esse desinteresse resulta normalmente na evasão escolar,
que, finalmente, atinge o aluno em potencial da EJA. Se esse educando já passou por um
fracasso escolar e, por um motivo ou outro, resolver tentar mais uma vez retornar a escola, o
mínimo que o professor pode fazer é tornar esse retorno agradável. O aluno precisa ver que a
escola pertence ao seu mundo e não é um universo à parte.
8
1.3 - A juventude e a EJA
há um aumento substantivo de jovens na EJA, todos com escolaridade
descontínua, não concluintes com êxito do ensino fundamental, obrigados a
abandonar o percurso, ou pelas reiteradas repetências, indicadoras do próprio
fracasso, ou pelas exigências de compor renda familiar, insuficiente para a
sobrevivência, face ao desemprego crescente, à informalidade e a degradação das
relações de trabalho, ao decréscimo do número de postos. (PROEJA, Documento
Base, 2007, p.18)
A situação da juventude nos tempos de hoje é algo novo em relação às gerações
anteriores. Segundo o Documento Base do PROEJA (2007) “A presença marcante de jovens
na EJA, principalmente nas áreas metropolitanas, vem desafiando os educadores, do ponto
de vista das metodologias e das intervenções pedagógicas, obrigando-os a refletir sobre os
sentidos da juventude.” p.19
Segundo Pochmann(1998), são muitas as razões para que isso aconteça. Uma delas é a
expectativa de vida do homem que, no prazo de cem anos, dobrou. Antigamente, até início do
século XX, os jovens saíam muito mais cedo de casa, constituíam família e cortavam o
vínculo com os pais. Sendo assim, a transição da infância para a vida adulta era curta e, uma
vez chegada a fase adulta, logo se tinha a expectativa da morte. (A expectativa de vida nessa
época era em torno dos 33 anos).
Hoje o espaço entre a infância e a vida adulta é muito maior, e nesse período as
possibilidades são múltiplas como, por exemplo, o exercício do trabalho, a situação de
desemprego recorrente, a condição precoce de ser pai ou mãe, a fase de estudo e dependência
dos pais, ou ainda a fase de estudo concomitante à constituição da própria família. Todas
essas possibilidades indicam um novo tipo de ser jovem. A faixa etária dos 15 aos 24 anos,
muitas vezes, não dá mais conta de fazer essa passagem tão complexa para a fase que
chamamos de adulta.
Essa situação tem causado, segundo Pochmann (1998), conflitos intergeracionais até
então pouco conhecidos. A fase juvenil, hoje, interfere diretamente na vida familiar devido,
principalmente, à dependência financeira dos pais por tempo postergado.
O valor ao conhecimento também é um fator determinante no que se refere à
dependência financeira dos jovens, uma vez que necessitam mais tempo (e contínuo) de
estudo para se inserir no mercado de trabalho. Na visão de Pochmann (1998) “...o resgate do
papel da educação e da formação aponta para o atendimento de exigências inexoráveis da
sociedade do conhecimento. Simultaneamente, assume maior relevância e postergação do
ingresso dos jovens no mercado de trabalho.” p.77. Ou seja, o jovem precisa,
9
necessariamente, estar bem formado e (in)formado para conseguir boas oportunidades no
mercado. Mesmo assim, ainda existem no Brasil sete jovens para cada dez que trabalham.
Esse número cai para um jovem que trabalha nos países desenvolvidos. Apesar das políticas
públicas já criadas para manter o jovem amparado na inatividade para fins de estudo, ainda
existe um longo caminho a percorrer.
Percebe-se ainda a diferença no contexto social em que o jovem vive. Existe uma
recorrência maior da violência em classes menos favorecidas. Já entre os mais abonados, há
uma tendência maior à emigração internacional.
Na sociedade atual, existe uma grande diferença entre o que o jovem gostaria de ter e
o que realmente consegue ter. A partir disso, se cria uma grande frustração que acaba por
desestruturar as relações estabelecidas entre homem e trabalho. Para isso, ainda não existem
soluções, mas, é imprescindível aliar programas de políticas públicas que oportunizem a
inatividade para o estudo à criação de espaços de formação que oportunizem a estrutura
suficiente para que esse jovem possa participar ativamente da sociedade e assim ser feliz.
Todo este contexto que caracteriza a sociedade atual e circunda a realidade dos jovens
e adultos no Brasil, auxilia a compreender e refletir sobre a necessidade da oferta da
modalidade de educação a distância para a EJA.
2 – A modalidade de Educação a distância
Uma vez contextualizada a EJA e a sua trajetória no Brasil, é necessário neste
momento abordar o conceito de EaD, na visão de alguns autores.
Conforme Palloff e Pratt (2002) a Educação a Distância se refere ao oferecimento de
recursos para a aprendizagem de alunos remotos e envolve tanto o ensino a distância (o papel
do professor no processo) quanto a aprendizagem a distância (o papel do estudante). Para os
mesmos autores, existem os seguintes elementos que caracterizam o processo educacional a
distância:
• “a separação do professor e do aluno durante, pelo menos, a maior parte de
cada processo de instrução;
• o uso de mídia educacional para unir professor e aluno para transmitir o
conteúdo do curso;
• o oferecimento de uma via dupla de comunicação entre o professor tutor ou
agente educacional e o aluno;
• a separação do professor e do aluno no tempo e no espaço;
• o controle volitivo da aprendizagem com o estudante, em vez de com o
professor.” (PALLOFF e PRATT. 2002, p.27)
10
Levando em conta estes elementos, pode-se dizer que, para que haja uma Educação a
Distância, é necessário que docente e discente estejam em espaços físicos diferentes e exista
um meio para sua interação. A partir deste princípio, cria-se uma metodologia onde conteúdos
são trabalhados e precisa, necessariamente, haver um espaço de compartilhamento entre
professor e aluno como também entre aluno-aluno.
Quando os autores dizem que “o controle volitivo da aprendizagem está com o
estudante”, pode-se entender que o aluno tem uma abertura maior para buscar seus interesses,
mesmo que o professor continue a organizar o conteúdo a ser trabalhado, desenvolvido. Nos
cursos realizados na modalidade a distância, acredita-se não ser mais suficiente uma
comunicação unidirecional, precisa haver a interação para que, de fato, possa ocorrer a
aprendizagem.
Segundo José Manoel Moran (2002), especialista em projetos inovadores na educação
presencial e a distância, Educação a Distância é o processo educacional, mediado por
tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. Ou ainda
É ensino/aprendizagem onde professores e alunos não estão normalmente
juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias,
principalmente as telemáticas, como a internet. Mas também podem ser
utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax
e tecnologias semelhantes. (2002, p.1)
Apesar de já terem sido usadas tecnologias como as acima referidas, é inegável que a
internet superou todos esses espaços, uma vez que pode propiciar, por meio de diferentes
espaços on line3 maior interação entre os envolvidos. Enquanto que a aprendizagem através
da televisão, vídeo, CD-ROM, e outras tornam a informação mais centrada em conteúdos préestabelecidos, a internet possibilita a socialização da informação e o compartilhamento de
recursos e conhecimentos com uma rapidez nunca experimentada.
Por isso, os antigos meios utilizados na EaD se tornam obsoletos, mas isso não quer
dizer que devem ser esquecidos. Mesmo com a “invasão” da internet, as demais tecnologias
podem (e devem) continuar a ser exploradas, mas não como via única e sim como um recurso
a mais de contribuição para o desenvolvimento do processo educacional a distância.
3
O termo on line compreende o uso das TIC´S – Tecnologias da Informação e da Comunicação – como um novo
meio para desenvolver o processo educacional, onde predomina a ocorrência dos processos de interação virtual
entre todos os sujeitos envolvidos.
11
As tecnologias não são boas (ou más) em si, podem trazer grandes
contribuições para a educação, se forem usadas adequadamente, ou apenas
fornecer um revestimento moderno a um ensino antigo e inadequado. É
essencial, porém, que tenhamos consciência de que sua integração à educação
já não é uma opção: estas tecnologias já estão no mundo, transformando todas
as dimensões da vida social e econômica. (BELLONI, Maria Luiza.2001,
p.104)
A citação de Maria Luiza Belloni toca em um fator importante quando se fala em EaD,
que é a questão da metodologia em educação. Muitos cursos oferecidos na modalidade a
distância, acreditam que somente por estar utilizando as TIC’s – Tecnologias da Informação e
da Comunicação – estão inovando no método de ensinar. Isso não é verdade, pois as
tecnologias estão aí para auxiliar no desenvolvimento do processo educacional, objetivando a
aprendizagem e não simplesmente para trazer uma nova roupagem a um método ultrapassado
de leitura e “decoreba”, por exemplo. Sem uma boa metodologia de ensino, não há tecnologia
que faça por si só por uma educação de qualidade.
SCHLEMMER apud MENEGOTTO (2006) fala da internet como novo meio de
interação e também reforça a necessidade de repensar as metodologias de ensino:
(...) a maior contribuição que a Internet pode proporcionar ao processo
educacional diz respeito à mudança de paradigma, impulsionada pelo
grande poder de interação que ela propicia. Os meios com os quais
interagimos hoje são de outra natureza, de modo que as metodologias
anteriormente adotadas no ensino a distância já não servem, pois não dão conta
de explorar ao máximo o potencial que esse novo meio oferece. Assim, novas
metodologias precisam surgir, levando em consideração a potencialização do
processo de interação. (SCHLEMMER apud MENEGOTTO (2006), p. 19)
Sendo assim, atualmente com os recursos disponíveis na internet, as metodologias da
Educação a Distância tem condições de potencializar muito mais a interação entre os sujeitos
envolvidos no processo educacional do que a alguns anos atrás. Portanto, as metodologias da
EaD não podem privilegiar simplesmente o uso de cartilhas como meio educacional, com
conteúdos pré-selecionados, predominando a transmissão da informação, uma vez que por
meio do uso da internet o aluno possui diferentes meios de buscar e selecionar a informação a
toda hora, interagir com todos os participantes e construir o conhecimento coletivamente.
Desta forma, o novo meio on line possibilita e convida o aluno a ir além da proposta do
professor, desencadeando a sua própria aprendizagem, bastando a ele desenvolver autonomia.
Segundo BECKER apud MENEGOTTO (2006) a aprendizagem do aluno só acontece
na medida em que este age sobre os conteúdos específicos e age na medida em que possui
estruturas próprias, previamente construídas ou em construção.
12
Ou seja, ser autônomo da própria aprendizagem é interagir com os sujeitos e com os
conteúdos, tendo sempre como referência os conhecimentos previamente construídos,
confrontando idéias e (re)organizando o pensamento, desenvolvendo assim a aprendizagem.
Ser autônomo é ainda ir em busca do próprio conhecimento, ter uma atitude de aluno
pesquisador, interessado em ampliar seus saberes.
MENEGOTTO (2006) enfatiza a importância da autonomia do aluno quando coloca a
visão interacionista da aprendizagem, mostrando qual seria o papel do professor e do aluno no
processo educativo:
Nesta concepção, o professor oportuniza o acesso às informações, de forma
que o sujeito se aproprie buscando conhecê-las, experimentando o processo de
aprendizagem. Ao professor cabe mediar, problematizar, instigar, orientar,
acompanhar e articular o processo. Deve estar claro para o professor que a ação
do sujeito é fundamental no processo de aprendizagem. (MENEGOTTO, 2006
p.45)
O aluno autônomo atua junto com o professor, não espera que as informações venham
até ele através da figura do professor. Este aluno estabelece um diálogo, onde procura trocar
informações para aprimorar o conhecimento. A relação entre o sujeito e sua ação com o meio
em que vive e o objeto de aprendizagem é que proporciona a construção do conhecimento.
2.1 – O aluno autônomo e a EaD
Após a compreensão do que é ser autônomo durante o processo educacional a
distância, Menegotto (2006) auxilia na ênfase da necessidade de tal habilidade:
O processo de aprendizagem on line requer que os sujeitos envolvidos
desenvolvam a habilidade de articulação das informações, relacionando-as com
o mundo em que estão inseridos, podendo aplicá-las em busca de soluções para
os problemas do seu dia a dia, requerendo maior autonomia do sujeito que
aprende. (MENEGOTTO, 2006, p. 22)
Portanto, é fato que na modalidade a distância o sujeito precisa desenvolver novas
habilidades, uma delas, necessariamente, é a autonomia. O processo de aprendizagem on line
requer maior autonomia na busca e na seleção de informações, além da (re)organização das
mesmas, de maneira que consiga expor a sua forma de pensar, além de saber usá-las
adequadamente na prática do seu dia-a-dia.
13
Segundo PALLOFF e PRATT (2002) os alunos que obtêm bons resultados nos
programas de EaD possuem algumas características em comum:
•
“ buscam voluntariamente novas formas de aprender;
•
são motivados, tem maiores expectativas e são disciplinados;
•
tendem a ser mais velhos do que o aluno médio;
•
tendem a possuir uma atitude mais séria em relação ao curso.”
(PALLOFF e PRATT, 2002, p.30)
Sendo assim, pode-se concluir que o aluno virtual, para ser bem sucedido, precisa
ser autônomo, criativo e curioso. Quanto mais o aluno estiver motivado com o curso, maiores
são as chances de desenvolver aprendizagem. Não basta estar meramente inscrito em um
curso a distância, é imprescindível participar, interagir, buscar, questionar, além de
compartilhar experiências. Pelas características acima, trazidas por PALLOFF e PRATT
(2002), pode-se compreender também que o aluno da EaD precisa ser determinado,
entusiasmado e acima de tudo, ter a consciência de que, em um curso desta natureza, o aluno
é sujeito da sua aprendizagem. Diz BELLONI (2001) que
Um processo educativo centrado no aluno significa não apenas a introdução de
novas tecnologias na sala de aula, mas principalmente uma reorganização de
todo o processo de ensino de modo a promover o desenvolvimento das
capacidades de auto-aprendizagem. Esta verdadeira revolução na prática
pedagógica implica um conhecimento seguro da clientela: suas características
socioculturais, suas necessidades e expectativas com relação àquilo que a
educação pode lhe oferecer. (BELLONI, Maria Luiza.2001, p.102)
Parece que é esta “reorganização” do processo educacional e esta “revolução” das
práticas pedagógicas, que também almeja a modalidade da Educação de Jovens e Adultos.
Então, desta forma as modalidades EJA e EaD parecem ter o mesmo objetivo.
3 – Pesquisa de Campo: uma abordagem a partir da Escola.
A partir da fundamentação teórica que auxilia na contextualização do campo a ser
pesquisado, busca-se melhor compreender o problema de pesquisa: Como são desenvolvidos
os processos de ensinar e de aprender na EJA a distância? As questões que auxiliam na busca
pela compreensão do problema: Por que as pessoas procuram esse tipo de ensino? De que
14
maneira o aluno é avaliado nessa modalidade de ensino? Qual é a fundamental diferença entre
as aulas presenciais e as aulas a distância?
Para tanto, é feito um estudo de caso a partir do contexto da Escola Mutirão,
localizada na cidade de Bento Gonçalves/RS. Analisar-se-á o plano de curso de EJA oferecido
na modalidade a distância, tentando compreender o processo educacional por meio da
proposta pedagógica no qual o curso é fundamentado, além dos questionários aplicados a 2
docentes e 15 discentes que participam do processo educacional a distância.
A Escola Mutirão está vinculada à Escola Dom, situada em Erechim. A instituição
iniciou em 1993, como uma escola de informática. Em 1995 transformou-se em um prévestibular. Com o passar dos anos, a escola foi se ampliando e estabelecendo parcerias com
escolas de outros municípios (que é o caso do Mutirão) e assim, hoje, oferece ensino desde a
Educação Infantil até o Ensino Superior.
O curso de ensino médio nas modalidades de EJA a distância é semi-presencial, isto
é, acontece em parte na sala de aula físico-presencial e outra parte a distância, através de
tecnologias como telefone, fax e internet. Cada etapa de trinta horas aula é iniciada com cinco
aulas presenciais (uma vez por semana). O professor orienta o estudo, introduzindo o
conteúdo e indicando como será o estudo a distância.
Fora essas aulas presenciais, o aluno tem o plantão de dúvidas, que coloca o professor
disponível por, no mínimo, quatro horas semanais em um local e horário estabelecidos. A
avaliação é feita toda a semana, como uma revisão do que foi dado na aula presencial. O
aluno possui uma apostila com o conteúdo impresso e atividades já propostas que, acredita-se,
conforme a metodologia de cada professor, são mais ou menos aproveitadas para o estudo a
distância.
O curso é feito por disciplinas, uma ministrada de cada vez, numa seqüência préestabelecida pela Escola. Por exemplo, somente iniciará a disciplina de Geografia quando
tiver concluído toda a carga horária referente a História.
O curso compreende quatro etapas, cada qual com 600 horas. Cada etapa corresponde,
na prática, a 20 semanas, ou seja, um semestre. O curso totaliza, portanto, 2400 horas aula. As
600 horas de cada semestre são assim divididas:
•
•
•
20 encontros semanais
Cada encontro é composto de 30 períodos, sendo que cinco são presenciais e os demais
destinados ao estudo a distância, que deve ocorrer ao longo da semana.
Dentro dos cinco períodos presenciais, um é reservado para a avaliação presencial.
15
A verificação do rendimento dos estudos se dá por meio de acompanhamento direto de
instrumentos próprios, previamente definidos, tais como: produções, trabalhos e participação
efetiva do aluno no processo.
3.1 – Aplicação dos questionários aos alunos
Para realizar a coleta de dados da pesquisa, foram aplicados questionários a alguns
alunos e professores que se mostraram disponíveis em colaborar com qualquer contribuição
que estivesse ao seu alcance.
Em relação aos alunos, foi escolhida uma turma aleatória, com 15 participantes, para
responder as questões, conforme o Anexo I – Questionário Aplicado aos educandos:
Em análise das respostas referentes à primeira pergunta “Por que você optou pela EJA
a distância quando resolveu retomar seus estudos?”, observou-se que os alunos escolhem a
EaD, na sua grande maioria, porque não precisam ir diariamente até a instituição e com isso,
além de poupar dinheiro com passagens, ainda dispõe de mais tempo livre. Das quinze
respostas, dez referiram-se ao tempo livre e à redução de gastos com transporte.
“Optei pelo curso a distância por ser um curso que não preciso dispor de muito
tempo como o presencial, assim, como moro em outra cidade se tornaria muito “puxado” vir
para Bento todas as noites.” diz uma aluna. Já outro diz “Porque é uma forma mais rápida
de terminar o 2º grau e ingressar na faculdade”. Observando esses depoimentos, percebe-se
que ambos fazem referência ao tempo, mesmo que em sentidos diferentes. Enquanto que uma
aluna preferiu a EaD por uma questão de locomoção em menor freqüência, dispondo assim de
mais tempo livre, outro a escolheu por proporcionar a conclusão do Ensino Médio em menor
tempo.
Alguns alunos simplesmente cursam a EaD porque a escola não oferece mais a EJA na
modalidade presencial, como observa-se na fala deste aluno “ A princípio estava fazendo o
presencial, como não tem mais, resolvi continuar no EJA a distância para não perder mais
tempo”. Porém, esse grupo de alunos não corresponde à maioria.
Quando questionados a respeito dos aspectos positivos e negativos da EJA a distância
da Escola Mutirão, mais uma vez o quesito “tempo” e rapidez foram levantados. “Por ter
aula somente uma vez por semana, tenho mais tempo disponível com a família”. “O ponto
positivo é que posso conciliar o trabalho com os estudos.” “O estudo é dinâmico, rápido e
eficiente”. “...necessito de menor tempo para a conclusão dos estudos.”
Pelas falas registradas, percebe-se que esse perfil de aluno tem pouco tempo
disponível, normalmente possui uma vida conturbada, tendo que dar conta do trabalho e da
16
família e, neste contexto, dificilmente sobra algum tempo para o estudo. Neste caso, parece
que o aluno de EaD possui o mesmo perfil do aluno da EJA presencial e o fato de não precisar
despender tanto tempo dentro da escola, como acontece no presencial, facilita muito ao aluno
concluir o Ensino Médio.
Além de não precisar estar muito tempo dentro de sala de aula, os alunos, muito
provavelmente por sentirem falta do diploma, responderam que um dos maiores pontos
positivos do curso é a rapidez na conclusão. Dos quinze entrevistados, treze colocaram este
como um ponto positivo. Isto mostra como a sociedade em geral tem valorizado o estudo, seja
porque o mercado de trabalho está exigindo ou mesmo por uma realização pessoal.
Ainda em relação aos pontos positivos, outras respostas menos recorrentes foram
registradas: “Os professores são bem qualificados e explicam bem a matéria.” “O método a
distância é bom porque aprendemos a ser autodidatas.” “Como as provas ocorrem a cada
encontro, não há o acúmulo de conteúdos.”
Pela fala do aluno que diz ser positivo “aprender a ser autodidata”, observa-se a
importância da autonomia no desenvolvimento da aprendizagem. Vê-se que o próprio aluno
se dá conta de que a sua ação é fundamental em seu processo de construção do conhecimento.
Em relação aos aspectos negativos da metodologia EaD da Escola Mutirão, as
respostas dos alunos apontaram para um paradoxo: ao mesmo tempo em que consideram
ótimo concluir rapidamente os estudos, ficam insatisfeitos com a rapidez com que são
abordados os conteúdos em sala de aula. “Não sei se o conteúdo que estudamos é suficiente
para mais a frente prestarmos o vestibular.” “O tempo é muito curto para estudarmos todas
as matérias dadas.” “O conteúdo é reduzido e a aula é rápida.” “Grande volume de
conteúdo em pouco tempo.” “Apostila extensa e alguns conteúdos são pulados porque não há
tempo de ver tudo.”
Por esses relatos, percebe-se que o fator “rapidez” tem os dois lados da moeda. Ao
mesmo tempo em que proporciona o diploma em um espaço de tempo menor, torna este
espaço sobrecarregado. Ou seja, é muito complicado dar conta dos conteúdos que, a princípio,
haviam sido planejados para a conclusão do Ensino Médio em três anos.
Sendo assim, percebe-se que a metodologia utilizada a distância não pode ser a mesma
que a metodologia presencial, é necessária uma adaptação de conteúdos, sempre levando em
conta o contexto e situação social do sujeito. Se o professor não respeitar esses elementos,
corre o risco do aluno se sentir lesado, achar que está sendo prejudicado pelo “atropelamento”
de conteúdos, ou, o que é pior, não assimilar os conteúdos, objetivando a construção de
17
conhecimentos. Conforme o Coordenador do curso4 “O professor de EaD precisa de uma
formação específica nesta área para saber de que maneira pode manejar os conhecimentos,
orientando seu aluno para uma aprendizagem significativa.”
Na terceira questão, que se refere às horas de dedicação, aproximadamente, ao estudo
a distância por semana, apareceram as seguintes respostas: “Nenhuma” – 3 alunos; “Uma
hora” – Um aluno; “Três horas” – 2 alunos; “Quatro horas” – Um aluno; “Sete horas” – 3
alunos; “Oito horas” – 2 alunos; “Dez horas” – Um aluno; “Treze horas” – Um aluno;
“Somente antes da prova” – Um aluno.
Por esses dados, observa-se que depende de cada aluno o quanto vai ou não se dedicar
no tempo em que não está em sala de aula. Na EaD o aluno tem flexibilidade e autonomia
para organizar seu tempo de estudo de acordo com a suas possibilidades, desde que
desenvolva, no mínimo, o que foi proposto. Assim, parece que a modalidade a distância tende
a respeitar o ritmo de aprendizagem de cada aluno.
Entretanto, também existem os casos de alunos que não levam a sério os momentos de
estudo e, normalmente, quando isso acontece, pode ser porque o aluno não está motivado para
qualquer tipo de aprendizagem, seja ela na modalidade presencial ou a distância.
E ainda há os casos dos alunos que não se adaptam a EaD. Como já foi dito, o aluno
de um curso a distância precisa ser dedicado, responsável por seu estudo e, muitas vezes, a
curta duração do curso atrai o estudante e este confunde “rapidez” com “facilidade”. Este
perfil de aluno entra neste curso por achar que não precisa se dedicar tanto, que pode
conseguir o diploma tão esperado sem esforço algum. Porém, logo percebe que, se não houver
o estudo previsto a distância, ou seja dedicação, fatalmente não conseguirá acompanhar os
conteúdos e realizar com êxito as avaliações solicitadas.
A última pergunta do questionário foi sobre a forma como a Educação a Distância
estava contribuindo para a vida pessoal ou profissional do educando e as respostas foram as
seguintes: “Dá para conciliar trabalho e estudo” - um aluno; “Permite evoluir culturalmente” quatro alunos; “Permite ficar menos tempo em sala de aula” - dois alunos; “Progredir no
trabalho” - cinco alunos; “Contribui na socialização, integração e auto-estima” - dois alunos;
“Não contribui em nada” - um aluno.
Por essas respostas percebe-se o quanto a experiência de estudar em um curso a
distância é diferente para cada um. Enquanto uns valorizam e se adaptam bem à experiência,
demonstrando vontade e entusiasmo, outros estão participando dela apenas por uma cobrança
4
Coordenadora do curso EJA na modalidade a distância da Escola Mutirão/Bento Gonçalves.
18
externa (muitas vezes acredita-se que para conseguir ou manter o emprego, ou mesmo porque
os pais exigem que terminem os estudos, etc).
Observa-se também que uma grande parte de alunos referiu-se à progressão no
trabalho, mais uma vez a fala dos alunos demonstra como o mercado de trabalho está
vinculado à volta dos jovens e adultos à sala de aula. “Onde trabalho as máquinas são todas
computadorizadas e preciso ter estudo para aprender a lidar com elas”, diz um aluno. “A
empresa onde trabalho exigiu que eu voltasse a estudar, caso contrário, perderia o emprego
para outra pessoa mais qualificada.”, diz outro.
Outro fator que chama a atenção nas respostas dos alunos é o fato de mencionarem
que a principal contribuição do curso tem sido a evolução cultural. Muitas pessoas têm uma
baixa auto-estima, que é vinculada, muitas vezes, à baixa escolarização. Quando retomam os
estudos, passam a sentir-se integrados à sociedade, com maiores condições de discutir idéias
com os demais. A nível pessoal, a EJA a distância tem contribuído muito para a elevação da
auto-estima dos alunos e para uma maior integração e criticidade desses sujeitos. É o que
diferentes alunos dizem: “O curso do Mutirão elevou minha auto-estima, proporcionou a
integração da minha pessoa como aluna no contexto atual de ensino”; “Eu sinto mais
liberdade para aprender e percebi que a minha visão de mundo mudou depois que voltei a
estudar”; “Agora tenho mais conhecimento e me sinto mais inteligente também”.
3.2 – Questionário aplicado aos professores:
Foram dois os professores, que trabalham na Instituição de ensino, que responderam
as questões disponíveis em Anexo II – Questionário aplicado aos educadores. Para respeitar a
identidade dos docentes participantes da pesquisa, não haverá citação de nomes.
Quando questionados sobre como têm sido desenvolvidos os processos de ensinar e
aprender na modalidade de ensino EJA a distância, os professores responderam:
Prof. A: Através da orientação do professor que faz uso de diferentes
metodologias para abordar os conteúdos do material impresso (apostila). Os
alunos têm contato com o professor e colegas uma vez por semana. Para
alcançarem êxito nos processos avaliativos devem dedicar tempo extra-classe
para as atividades pertinentes ao estudo da apostila. Também possuem um
tempo destinado a sanar dúvidas e/ou questionamentos.
19
Prof. B: Esta modalidade é muito tranqüila e fascinante. Procuro passar o que
realmente é importante para os alunos. Não que haja algo desnecessário,
apenas o que se aproxima mais do cotidiano deles.
Em análise das respostas supra, parece que o professor A possui uma visão
construtivista de educação, onde o professor se coloca como um orientador no
desenvolvimento do processo educacional. Também observa-se a preocupação em utilizar
diferentes metodologias nas aulas presenciais para trabalhar com o material didático impresso.
Já o professor B parece ter bastante apego aos conteúdos, quando diz “procuro passar
o que é realmente importante”. O professor também se mostra preocupado em trabalhar aquilo
que ele acredita que vai ser útil no cotidiano do aluno, mas não cita se a escolha dos temas
foram sugeridos ou não pelos estudantes. Segundo Freire, quando se trata da Educação
Popular, é fundamental levar-se em conta os interesses e o estilo de vida das classes
trabalhadoras na hora da escolha dos conteúdos, caso contrário, estes perdem o significado.
Pela resposta do professor B pode-se interpretar que este ainda tem uma visão
empirista, onde o professor é o centro da aprendizagem, onde o professor “passa” as
informações ao aluno. Segundo FREIRE (1999) “ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (p.25).
Segundo o autor, essa linha de raciocínio existe por sermos seres humanos e, dessa
maneira, temos consciência de que somos inacabados, e esta consciência é que nos instiga a
pesquisar, perceber criticamente e modificar o que está condicionado, mas não determinado,
passando então a sermos sujeitos e não apenas objetos da nossa história.
Quando questionados sobre o perfil dos sujeitos que tem procurado a EJA na
modalidade a distância, os professores responderam:
Prof. A: As pessoas que procuram a modalidade de ensino EJA a distância
apresentam perfis variados, isto é, são pessoas que deixaram a muito tempo de
estudar e outras a pouco tempo. Portanto, compreende pessoas de várias
faixas etárias e diferentes experiências profissionais.
Prof. B: Os alunos que procuram este método de ensino são aqueles que, por
algum motivo, não tiveram oportunidade de concluir os estudos no passado.
São pessoas comprometidas e que realmente tem interesse de concluir seus
estudos. Claro que há também aqueles que as empresas, por motivos internos,
exigem que todos os seus colaboradores tenham ensino concluído.
As duas respostas mostram que não existe um perfil único de aluno na EJA a
distância. A grande maioria são pessoas que não concluíram os estudos na idade “padrão” e,
20
agora, sentem a necessidade de ter um diploma. Porém, os professores também citam os
alunos jovens que adentram esse método de ensino. “...compreende pessoas de várias faixas
etárias.” diz o professor A.
Percebe-se também nas respostas que o perfil desses alunos é bem heterogêneo. Pelo
fato de haverem faixas etárias diversas, ocorre, de fato, um encontro de diferentes gerações
nesta modalidade educacional. Ou seja, acontece uma mistura cultural considerável, uma vez
que existem alunos mais experientes, com toda uma bagagem de vida pessoal e profissional e
alunos em início de carreira, buscando através do estudo uma oportunidade melhor de
emprego.
Essa questão nos leva a pensar, mais uma vez, o quanto o profissional na área de
educação deve estar preparado para lidar com um público tão peculiar. O professor precisa,
necessariamente, planejar aulas que contemplem tanto o aluno mais jovem quanto o aluno
mais velho. Pensar desde a metodologia a ser utilizada até a compreensão de quais os assuntos
interessariam a diferentes faixas etárias.
O professor B, em sua resposta, também toca na questão do comprometimento dos
alunos. Enquanto que existem aqueles que realmente buscam construir conhecimento e estão
motivados a levar o curso a sério, existem aqueles alunos que são “obrigados” a voltar a
estudar e buscam no curso a distância uma maneira mais rápida.
Quando questionados sobre como têm sido desenvolvidas as aulas presenciais e as
aulas a distância, os professores responderam:
Prof. A: Nas aulas presenciais, os alunos possuem contato direto com o
professor, que é o orientador de estudos, podendo sanar dúvidas e/ou
questionamentos. Em cada aula são abordados os assuntos pertinentes a um
módulo que consta em material impresso (apostila), em aulas expositivas, em
que cada um pode ser promovedor de conhecimento através da exposição
articulada de suas experiências pessoais e profissionais, relacionadas aos
conteúdos abordados. Os alunos são orientados para dedicarem horas livres
para o estudo a distância de forma que possa ocorrer a apropriação de maior
número de informações, através de leitura e realização de atividades
propostas.
Prof. B: As aulas a distância são desenvolvidas de acordo com cada etapa.
Precisamos nos organizar muito bem para conseguir passar o conteúdo e
programar sempre trabalhos extra classe para que eles produzam em casa,
com isso eles têm por obrigação estudar em casa.
Em relação ao professor A, observa-se que há uma preocupação em interagir com o
aluno, ouvindo suas experiências pessoais e profissionais durante as aulas presenciais. Mesmo
que haja um conteúdo a ser trabalhado (apostila), o professor dá abertura para seus alunos
compartilharem suas idéias com os demais.
21
Já o professor B não faz referência nenhuma às aulas presenciais e se mostra muito
preocupado em “passar o conteúdo”, mais uma vez trazendo a idéia de que o aluno não tem
conhecimento prévio nenhum e que o professor é o transmissor único do saber. Por esta fala
do professor, percebe-se que seu maior objetivo é “dar conta” do conteúdo.
Este método de ensino é muito complicado, pois corre-se o risco de o professor ficar
preso somente ao conteúdo e, por dispor de pouco tempo para trabalhá-lo, a aula virar uma
corrida desenfreada de despejo de conteúdos sobre os alunos.
Quando questionados a respeito de que maneira o aluno é avaliado nessa modalidade
de ensino, os professores responderam:
Prof. A: O aluno é avaliado através de três avaliações tais como: prova,
apostila e participação do plantão tira-dúvidas: através de seu envolvimento,
desenvolvimento de competências, participação e interesse.
Prof. B: Nossos alunos são avaliados por tudo que fazem, ou seja, valorizamos
tudo que ele fizer. Eles têm uma apostila avaliativa, participação e teste.
Apesar de o aluno ser avaliado como um todo, o curso prevê que as provas semanais
possuem um peso maior, em torno de sete pontos. O plano de curso deixa esta questão clara e
determina que seja esta a forma de avaliação. Os demais pontos, cada professor confere da
forma que achar melhor, como, por exemplo, os quesitos registrados nas respostas dos
professores A e B: apostilas com exercícios extra-classe completos, envolvimento e
comparecimento no plantão tira-dúvidas.
Quando questionados a respeito dos aspectos positivos e negativos do método de
ensino utilizado na EJA a distância, os professores responderam:
•
•
•
•
Prof. A: Positivos:
O aluno pode dar continuidade a suas demais atividades laborais, de lazer e
pessoais sem prejuízo aos estudos, desde que saiba reorganizar seu tempo
livre de estudo;
Surge o aluno que tem espírito de investigação, levanta questionamentos,
desenvolve o espírito crítico e vai em busca de novas informações,
principalmente pela internet, embora esse recurso não esteja disponível para
grande parte em suas residências;
O aluno percebe durante as aulas a importância do conhecimento no seu
cotidiano e se sente motivado a compartilhar com o grande grupo suas
experiências.
Negativos:
Devido ao menor tempo de contato com colegas e professor, ocorre menos
troca de informações e de idéias;
22
•
•
•
•
•
Algumas práticas pedagógicas não podem ser aplicadas nessa modalidade de
ensino, devido ao escasso tempo de permanência com os alunos em sala de
aula;
Alguns alunos apresentam dificuldades em organizar o tempo livre para
estudo (a distância).
Prof. B: Eu só vejo pontos positivos, por exemplo:
Os alunos estudam em casa, no nosso dia de encontro tiram todas as suas
dúvidas;
Os professores são capacitados para esta modalidade;
Possuímos um ótimo material desenvolvido para cada etapa com seqüência.
Pelas respostas obtidas, observa-se que são muitos os pontos positivos do curso de
EJA a distância se comparados aos pontos negativos. O aluno, nesta modalidade, segundo o
professor A, possui mais tempo livre para as atividades extra- classe, desenvolve seu espírito
de sujeito investigador e percebe que o conhecimento construído é importante para o seu
cotidiano. Já o professor B acredita que a aula presencial dá conta de tirar todas as dúvidas
dos alunos e que este método funciona bem. Também segundo ele, os professores possuem a
formação adequada e o material utilizado é bem formulado.
Quanto aos pontos negativos descritos, como há diminuição da interação entre os
colegas devido ao pouco tempo em que passam juntos, parece ser necessário que a escola
promova o maior número possível de encontros presenciais, não somente para os momentos
de estudo, mas também de confraternização. Esses momentos seriam importantes para unir a
turma e propiciar um contato mais pessoal entre professores e alunos.
Quanto às práticas pedagógicas, que o professor A mencionou da dificuldade de
aplicar algumas devido ao escasso tempo com os alunos, me parece que o jeito é tentar inovar
da maneira como conseguir em sala, já que é preciso trabalhar tantos conteúdos em pouco
tempo. Ou talvez seja necessário abrir mão de alguns conteúdos não tão relevantes em nome
da qualidade da aula e, assim, poder aperfeiçoar as práticas pedagógicas.
E quanto à dificuldade de alguns alunos em organizarem seu tempo livre para o estudo
a distância, mais uma vez entra a questão da autonomia. O aluno precisa estar disposto para o
desenvolvimento do processo de aprendizagem.
4 - Considerações Finais
23
Em vista do estudo realizado, pude confirmar a minha hipótese: que a Educação a
Distância está presente em nossa sociedade e veio para ficar. Esta modalidade de ensino está,
de fato, contemplando uma gama muito grande de pessoas que consideravam impossível
retomar os estudos pelas vias tradicionais. É uma nova oportunidade de aprimorar os
conhecimentos dos sujeitos que, por diversas razões, abandonaram a escola.
Acredito no potencial da Educação a Distância, uma vez que viabiliza a construção do
conhecimento e possibilita o desenvolvimento da autonomia do aluno. Estes são os pontos
positivos desta modalidade de educação, que estimula a busca pelo conhecimento de forma
autônoma com maior flexibilidade de tempo e de espaço.
Em tempos em que está cada vez mais difícil conciliar trabalho e estudo, a EaD mostra
que é possível desenvolver a aprendizagem sem estar o tempo todo vinculado à sala de aula
físico presencial. As experiências diversas que estão ocorrendo nesse campo, seja em cursos
totalmente realizados a distância ou em cursos presenciais com o uso de recursos oferecidos
pela tecnologia evidenciam que são muitos os meios que tendem a possibilitar o
desencadeamento da aprendizagem.
Considero, baseando-me nas leituras feitas, que, no que se refere ao Ensino Médio, é
sempre preferível uma educação físico-presencial, uma vez que o aluno não possui (em geral)
a autonomia suficiente para fazer um curso a distância. A modalidade a distância,
normalmente, é recomendada ao Ensino Superior.
Porém, a pesquisa me possibilitou acreditar na potencialidade da modalidade a
distância para a Educação de Jovens e Adultos, devendo-se levar em conta que esses alunos,
normalmente, não têm uma vasta experiência na educação formal, por isso, hipoteticamente,
necessitam de um amparo maior dos professores no andamento do curso.
Em relação ao estudo realizado na Escola Mutirão, tenho consciência de que é
impossível estabelecer conclusões definitivas sem esgotar novas possibilidades de pesquisa.
No presente artigo, as conclusões referentes ao curso foram baseadas em um determinado
número de sujeitos e as respostas coletadas não dão conta de analisar todos os envolvidos no
curso. Todavia, além dos sujeitos participantes da pesquisa, as conversas informais dentro da
própria instituição também serviram de parâmetro para esta pesquisa.
Um dos pontos positivos que observei é o fato de os alunos estarem muito ligados à
instituição, pois o curso exige a presença constante na escola, já que ocorre uma aula
presencial por semana. Esse ponto é muito positivo, pois, como já foi dito, a interação
professor/aluno ou aluno/aluno é muito importante para a integração social. Acredito ser
necessária, em todo o curso oferecido à distância, uma abordagem presencial, para que haja
24
uma interação de cunho mais humano nas relações. A troca on line não contempla o contato
físico, o qual considero importante.
Neste ponto, pode-se dizer que o curso de EJA a distância oferecido pela Escola
Mutirão é mais presencial do que à distância, uma vez que as aulas em si ocorrem sempre na
modalidade presencial. As aulas à distância, considero que são muito mais “temas de casa” do
que aulas propriamente ditas. O curso não faz uso das TIC’s para apoiar o processo
educacional, o que faz com que os sujeitos envolvidos pouco interajam. Assim, o estudo fica
muito restrito ao uso da apostila como material didático.
Em relação ao corpo docente, percebeu-se que, também como os alunos, existe um
perfil variado. Apesar de todos realizarem cursos de formação continuada, as metodologias e
formas de lidar com a educação são diferentes. Enquanto que uns se preocupam em ser o
orientador do estudo, um auxiliador que facilita a informação, propondo trabalhos de
pesquisa, outros continuam com a visão de que o professor é o centro do processo de ensino e
de aprendizagem. Este prepara seu conteúdo, “passa” para os alunos e não importa em qual
contexto está atuando, somente importa “vencer” o conteúdo da apostila.
De nada adianta a proposta educacional ser inovadora, se o professor continuar
utilizando métodos antigos de ensino.
Também acredito no potencial da EJA e PROEJA à distância, desde que todos os
atores estejam aperfeiçoando o seu fazer pedagógico. Caso contrário, as escolas podem se
tornar fábricas de diplomas em série.
5 – Referências Bibliográficas
1) BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. São Paulo: Autores Associados,
2001.
2) CHAVES, Eduardo. In_ www.edutec.net disponível em 17/01/2009.
3) _____. Decreto 2.494. Regulamenta o Artigo 80 da LDB - Lei 9394/96. Brasília:
1998.
4) FREIRE, Paulo. Educação de Adultos – algumas reflexões. In_ EJA: teoria, prática
e proposta. São Paulo: Cortez, 1995.
25
5) FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
6) GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (Org). Educação de Jovens e Adultos: teoria,
prática e proposta. São Paulo: Cortez – Int. Paulo Freire, 1995.
7) MENEGOTTO, Daniela. Práticas Pedagógicas on-line: os processos de ensinar e
de aprender utilizando o AVA-UNISINOS. São Leopoldo, 2006.
8) __________. Ministério da Educação. PROEJA. DOCUMENTO BASE, Brasília:
2007.
9) MORAN, José Manuel. In_ www.eca.usp.br/profmoran/dist.htm disponível em
09/01/2009.
10) PALLOFF, Rena; PRATT, Keith. Construindo Comunidades de Aprendizagem no
Ciberespaço.
Estratégias
eficientes
para
salas
de
aula
on-line.
Porto
Alegre:Artmed, 2002.
11) PALLOFF, Rena; PRATT, Keith. O aluno virtual: uma guia para trabalhar com
estudantes on-line. Porto Alegre: Artmed, 2004.
12) POCHMANN, Márcio. A batalha pelo primeiro emprego: a situação atual do
jovem e as perspectivas no mercado de trabalho brasileiro. São Paulo: Publisher
Brasil, 2000.
26
ANEXO I
Questionário aplicado aos educandos
Caro educando,
Ao responder as questões abaixo, você estará contribuindo para o desenvolvimento da
pesquisa, cujo objetivo é compreender o funcionamento da modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – EJA a distância.
Desde já agradeço a sua disponibilidade!
Você não precisa se identificar.
Os dados coletados por meio deste questionário serão utilizados,
somente, para fins de pesquisa.
1) Por que você optou pela EJA a distância quando resolveu retomar seus estudos?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________
2) Liste alguns aspectos positivos e negativos do método de ensino utilizado na EJA a
distância:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________
3) Quantas horas semanais, aproximadamente, você precisa despender para compreender
os conteúdos propostos?
________________________________________________________________________
______________________________________________________________
4) De que forma a EJA a distância tem contribuído para o seu desenvolvimento pessoal e
profissional?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
ANEXO II
Questionário aplicado aos educadores
Caro educador,
Ao responder as questões abaixo, você estará contribuindo para o desenvolvimento da
pesquisa, cujo objetivo é compreender o funcionamento da modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – EJA a distância.
Desde já agradeço a sua disponibilidade!
Você não precisa se identificar.
Os dados coletados por meio deste questionário serão utilizados,
somente, para fins de pesquisa.
1) Como têm sido desenvolvidos os processos de ensinar e aprender na modalidade de
ensino EJA a distância?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
2) Qual o perfil dos sujeitos que tem procurado esse tipo de ensino?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
3) Como têm sido desenvolvidas as aulas presenciais e as aulas a distância?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
4) De que maneira o aluno é avaliado nessa modalidade de ensino?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
5) Liste alguns aspectos positivos e negativos do método de ensino utilizado na EJA a
distância:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
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