Mecanismos de Emergência de Patógenos Rafael Brandão Varella Prof. Adjunto de Virologia Departamento de Microbiologia e Parasitologia UFF Conceitos do emergência e reemergência de patógenos; tipos, origens e consequencias Histórico • Patógenos apresentando uma interação mais benigna puderam se perpetuar nas comunidades (ex. Herpesvírus, Papilomavírus) • Alteração do modo de vida humano de caçador/coletor para agricultor/criador (~ 11.000 anos) favoreceu o contato entre homem-homem e homem-animal • Este modelo permitiu a adaptação de viroses animais em humanos e a persistência de viroses humanas na população. • Este processo tem moldado a genética humana e permitido a conquista de novas áreas geográficas • Avanços: Descoberta da penicilina em 1929 Desenvolvimento de antimicrobianos Desenvolvimento de vacinas Erradicação da varíola e outras doenças em andamento Controle de vetores Vigilância epidemiológica em tempo real • Tais avanços foram tão significativos que se pensou que a luta contra as doenças infecciosas iria ser vencida de uma vez • Entretanto... Inúmeras doenças ainda sem vacina ou tratamento Espalhamento de vetores resistentes Falha no controle de vetores Resistência a antimicrobianos Alterações ambientais Rápida disseminação de agentes infecciosos Infecções em indivíduos imunossuprimidos Panorama • Epidemias e pandemias sempre estiveram intrinsecamente ligados à história humana • Doenças como a peste (1300´s), Influenza (1918), e AIDS (1981) são exemplos clássicos • As doenças infecciosas respondem por >25% das mortes humanas e cerca de 63% entre crianças • Doenças tropicais atingem cerca de ½ bilhão de pessoas por ano. • Doenças como aids, tuberculose estão em expansão. • Das 1415 doenças que afetam o homem, 868 (61%) são zoonoses • Conceito de doença emergente: • Surgimento de um patógeno pela primeira vez em uma população humana (OMS, 1997); • Aumento de casos ou espalhamento geográfico de um patógeno (OMS, 1997); • Considera-se emergente patógenos < 20 anos (Institute of Medicine, 1992). •A emergência de um patógeno é complexa, multifatorial, e depende dos seguintes fatores: Conceito de R0 • Taxa reprodutiva básica: “número esperado de casos secundários produzidos por uma infecção única em uma população susceptível” • Onde é a probabilidade de infecção após o contato entre o indivíduo susceptível e infectado, é a taxa média de contato entre os indivíduos e é duração da infecciosidade. • Tais fatores, por sua vez, são dependentes de: • Capacidade adaptativa do patógeno • Comportamento humano/animal • Fatores ambientais • Diferença no perfil de emergência entre países de clima temperado e tropical - Tropicais transmissão por vetores (p<0,005) Presença de reservatórios (p<0,005) Perfil de doenças de caráter crônico, lento ou latente (p=0,01) - Temperados Doenças que conferem imunidade duradoura (p=0.009) Perfil de doenças mais agudo Predomínio de doenças no estágio 5 Doenças relacionadas à aglomeração de pessoas Origem das doenças emergentes • Das doenças de caráter emergente que afetam o homem, 78% são zoonoses. • Geralmente estão classificadas em risco 3 ou 4 • São originárias ou se mantém em reservatórios naturais • Na maioria dos casos, o homem é o hospedeiro terminal destas doenças • Estes fatos indicam a importância de ambientes silvestres sobre a evolução genética do patógeno • Praticamente todas são oriundas dos velhos continentes (África, Asia e Europa) • Origens: - Animais de criação: difteria, influenza, sarampo, caxumba, coqueluche, rotavírus, varíola, tuberculose (especialmente em países temperados) - Animais selvagens (especialmente em países tropicais) Macacos: hepatites B e C, HIV, FA, dengue, P. vivax Roedores: peste bubônica, tifo Morcegos: ebola • Países tropicais: alta frequencia de primatas nãohumanos e barreira genética fraca (0,5% das espécies de vertebrados mas geram 20% das doenças humanas) • Países temperados: maior tempo de convívio com animais domésticos Fatores de risco para emergência de patógenos Características dos MOs Relacionadas a emergência: Mutação e Recombinação genética • Conceito de mutação: alteração genética súbita, não prevista • Conseqüências: positivas negativas nulas AGENTES DE SELEÇÃO: - SIST. IMUNE - FATORES AMBIENTAIS - TRATAMENTO “GARGALO GENÉTICO” Quanto maior a população viral, maior a variabilidade Ex: HBV, HIV, HCV, EEV • Todos os agentes infecciosos estão sujeitos a mutações, entretanto: • Vírus RNA são muito mais susceptíveis: ausência de mecanismo de reparo (“proofreading”) • Taxa de erro da RNApol: 10-3 a -4 erros/nt • Taxa de erro da DNApol: 10-9 a -10erros/nt • Este fenômeno provoca diversas substituições, adições e deleções genéticas • Conceito de “quasispecies”: distribuição complexa de vírus mutantes e recombinantes em uma população. • - Vantagens evolutivas: Manutenção de infecção permanente (retrovírus) Resistência a drogas e vacinas (Influenza) Quebra de barreiras inter-espécies (Parvovírus, Influenza, Sarampo, Doença Vesicular Suína...) - Emergência ou re-emergência de viroses • Conceito de “quasispecies”: distribuição complexa de vírus mutantes e recombinantes em uma população. • - Vantagens evolutivas: Manutenção de infecção permanente (retrovírus) Resistência a drogas e vacinas (Influenza) Quebra de barreiras inter-espécies (Parvovírus, Influenza, Sarampo, Doença Vesicular Suína...) - Emergência ou re-emergência de viroses Comportamento humano/animal - Processo migratório de aves selvagens; Deslocamento de animais de criação; Modelos de criação animal; Adaptabilidade de vetores a novos ambientes; Alterações de temperatura e condições climáticas; Facilidade de deslocamento humano; Problemas de recurso em vigilância epidemiológica; Condições sócio-econômicas precárias (hospitalização, acesso, vacinação, saneamento...) • Portanto: Mais do que um processo natural, A ATUAÇÃO HUMANA É FUNDAMENTAL PARA O FENÔMENO! Destruição de áreas silvestres • Espécies adaptadas a ambientes mais pobres, estão mais sujeitas a carrearem patógenos e vetores. Papel aves migratórias na disseminação do vírus Influenza A www.lib.utexas.edu Exemplos bem-sucedidos de introdução de patógenos em humanos Papel das aves na transmissão do Vírus Influenza • Transmissão principalmente através das fezes. • Aves selvagens: Patos, gansos, gaivotas, aves costeiras • Aves domésticas: galinha peru galinha-d´angola codorna faisão mais vulneráveis à infecção Subtipos dos Vírus Influenza A Classificação em subtipos diferenças antigênicas na HA e NA Hemaglutinina = 16 Neuraminidase = 9 Exemplo: Vírus Influenza A H1N1, H2N2, H3N2, H7N7 Mecanismos de variabilidade do Influenza A Drift antigênico Variante antigênica de cepa pré-existente Alterações dirigidas às espículas HA e NA Manutenção da circulação do vírus nos períodos interpandêmicos Prof. Edimilson Migowski IPPMG/UFRJ 50 Shift antigênico • Mecanismo de rearranjo genético que resulta na formação de novos subtipos virais. • Pode ocorrer entre vírus da mesma espécie ou de espécies diferentes. • Associado a ocorrência de epidemias e pandemias. H3N2 Segmentos de RNA H1N2 www.bcm.edu H1N1 Especificidade de receptor dos Vírus Influenza restringem o espectro de hospedeiro H5N1 Influenza aviário: HA reconhece ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,3 Influenza humano: HA reconhece ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,6 www.hsph.harvard.edu porco hospedeiro intermediário Células do epitélio respiratório com ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,3 e -2,6 2009: Origem do vírus Influenza A H1N1 de origem suína www.science.com • Vírus da Imunodeficiência Humana • Origem: desconhecida - indicações: origem de macacos africanos devido às similaridades entre o HIV e o vírus natural - HIV-2: indicações de origem do Cercocebus atys - Similaridade com o SIV - HIV-1: indicações de origem do Pan troglodytes - Estudos sorológicos indicam que o HIV já circulava na África nas décadas de 40 e 50 SIVcpz and HIV-1 Pan troglodytes (chimpanzee) SIVsm and HIV-2 Cercobrus atys (sooty mangabey) • Para saber mais: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/index.htm