Módulo 1 – Anexo 1 O INTERESSANTE HISTÓRICO DA LOGÍSTICA Luis Piñel A Logística tem sua origem na pré-história, juntamente com a Economia. A Logística recebe diversos conceitos e definições conforme a época e o autor que se dedica aos seus estudos. No nosso curso estaremos nos dedicando primeiramente a consolidar os fundamentos da Logística pela sua evolução histórica, para que o aluno tenha condições de, após concluído seu estudo, desenvolver análises práticas e rápidas sobre o que é e o que não é Logística e, principalmente, desenvolver seu raciocínio lógico com base em ações práticas. Para entendermos melhor o que é Logística, vale a pena voltarmos a analisar os primórdios dos seres humanos, verificar como o Homem das Cavernas desenvolvia a Logística. O aluno pode achar que estamos brincando, ou fazendo uma análise equivocada, mas sugiro primeiro criar a curiosidade sobre se esta informação é verídica, possível, ou não. Vamos analisar o ser humano na sua condição mais primitiva, quando ainda vivia de forma nômade, sem nenhuma das facilidades atuais e, pior ainda, com dificuldades de comunicação infinitamente maiores do que as atuais (podemos até considerar que não existiam as línguas ou outras formas de comunicação verbal senão grunhidos, ou então a comunicação não verbal, com gestos). Este ser primitivo, em um determinado momento, verificou que era melhor viver em grupos que, por sua vez, se tornariam as comunidades. Isso por causa das dificuldades que a natureza oferecia (ataques constantes de animais, ataques de outros grupos de nômades rivais, divisão de tarefas etc.). Ao se deparar com a vida em comunidade, o ser humano começa a sentir, inconscientemente, os efeitos das Leis da Economia. Mas a necessidade de suprir o seu grupo, principalmente de alimentos, levaria este ser humano a conhecer o que chamaríamos mais tarde de ABASTECIMENTO. Essa necessidade básica de alimentar seu grupo forçou o ser humano a sair em grupos para a caça e a coleta de alimentos. Mas, a cada retorno surgiam novidades, como o nascimento de mais elementos para a comunidade ou a inclusão de novos membros vindos de outras regiões, aumentando muito a necessidade de mais alimentos. Parece até natural o crescimento desta comunidade, mas natural também é o crescimento de suas necessidades, principalmente de alimentos. Assim, quando este ser humano voltava de sua ação em busca de alimento, quase sempre a quantidade conseguida não era suficiente para abastecer sua comunidade. Teve, então, que se dedicar a conseguir formas mais eficientes de abastecer sua comunidade, e começou assim a primeira grande revolução na história humana, a vitória da Lei da Inteligência sobre a Lei da Natureza (Sobrevivência). Este ser humano em destaque se viu na necessidade de, cada vez que saísse para buscar alimentos, ser cada vez mais eficiente em sua empreitada, ter cada vez mais otimização nos recursos que se destinavam ao processo de busca dos bens para saciar as necessidades de sua comunidade, de seu grupo. Foi assim que o ser humano percebeu que aquele couro que era jogado fora, depois de consumir a carne do animal cassado, servia como matéria-prima para confeccionar uma bolsa de couro e assim transportar, mesmo que ainda fosse pelas suas próprias mãos, maior quantidade de alimento. Presenciamos neste momento a criação de um dos elementos mais importantes do estudo da Logística: a EMBALAGEM. Mas após algumas empreitadas com esta ferramenta do Processo Logístico, o ser humano percebeu também que não era suficiente para atender às necessidades de busca de alimento e que, apesar de poder costurar diversas bolsas, o seu deslocamento era limitado pelo esforço físico. Ou seja, depois de algumas atividades de busca de alimento, ao voltar à sua comunidade este ser humano percebeu que a mesma tinha aumentado a uma velocidade maior do que poderia conseguir alimento. Foi nesta fase que começamos a presenciar a criação de um dos elementos mais interessantes do estudo da Logística: o TRANSPORTE. O ser humano, limitado por seu esforço físico, buscou a domesticação dos animais mais dóceis e próximos de seu convívio (cavalos, bois etc.) para usufruir da força animal para o transporte de seus alimentos. Nesta fase, o ser humano presenciou seu primeiro grande salto de produtividade: o transporte, antes limitado à força braçal, foi substituído pela força animal que poderia transportar no mínimo 10 vezes mais (valor ilustrativo). Satisfeito com os resultados obtidos pelo aumento de sua “produção” de alimentos e com a sua “logística” para abastecer seu “mercado”, o homem primitivo se deparou com a primeira ação de “super abastecimento” de sua comunidade, ou seja, pela primeira vez conseguiu obter mais alimentos do que pode consumir. Assim, identificou a necessidade de desenvolver técnicas de conservação destes alimentos. Enfim, estamos diante do momento em que este ser humano percebe a necessidade de construir elementos para guardar adequadamente seus alimentos. Nascem aí as primeiras “prateleiras” da história da humanidade, cavidades cavadas na rocha, dentro das cavernas, a uma altura adequada para a armazenagem dos alimentos, suficientemente altas para não permitir que animais pudessem alcançálas facilmente. Percebemos neste momento o nascimento do primeiro sistema de ARMAZENAGEM da nossa história. Estes dados estão fartamente registrados nos livros sobre a pré-história. Mas os mais curiosos poderão verificar aqui mesmo, no Brasil, os registros históricos aqui relatados. Falo de uma visita ao Sítio Arqueológico da Capivara, no Município de São Raimundo Nonato, no Estado do Piauí. Lá está registrada, em desenhos nas formações rochosas, boa parte deste relato. AS ORIGENS MILITARES DA LOGÍSTICA Podemos ainda observar na história a utilização da Logística na arte da guerra, nas atividades militares, desde os mais longínquos tempos. Podemos ainda afirmar que a formatação moderna da Logística veio justamente das necessidades dos exércitos gregos (na Grécia Antiga) em otimizar as operações. Nos relatos antigos sobre Ação Militar encontramos uma famosa cena dos ataques dos exércitos gregos em grandes blocos de batalha (formações dos pelotões em blocos quadrados) e confronto direto, frontal, com o exército inimigo. Este tipo de confronto beneficiava os exércitos que mantinham grandes contingentes e, conseqüentemente, o vitorioso era o que tinha maior número de combatentes. Foi devido à escassez de recursos (contingente, alimentos, armamento etc.) que tornou-se necessária a remodelação de toda uma ação militar, formatando uma maneira que, com conhecimento e lógica, se aplicassem os mesmos de forma otimizada para obter melhores resultados. Assim, a Ação Militar desenvolveu as seguintes técnicas para melhorar o desempenho do seu exército e ganhar batalhas: 1) Estratégia = planejar a melhor forma de se obter o objetivo - meta 2) Logística = abastecer-se dos recursos necessário para atender à Estratégia 3) Tática = pôr em prática (fazer acontecer) o que se planejou Foi assim que pequenos exércitos gregos conseguiram fazer com que grandes exércitos se rendessem após uma perfeita Ação Militar. Quer um exemplo? Vamos lá... Vamos imaginar aquelas antigas batalhas vistas nos filmes de Hollywood, em que os exércitos não passavam de grandes contingentes de homens armados com formação em blocos e a batalha se passava em campos abertos e com ataque frontal. Esta Ação Militar se alterou sensivelmente, pois o Batalhão de Estratégia começou a identificar locais mais adequados para o confronto (vales onde se pudessem lançar pedras sobre os inimigos, locais onde se poderia encurralar o inimigo etc.) em vez do confronto aberto e em campos amplos; colaborou também o deslocamento de forma mais ágil dos batalhões, graças à existência de um Batalhão de Logística que transportava de forma mais adequada os suprimentos do exército. O Batalhão de Logística em especial tratava do: • • • Planejamento e da realização de projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material (para fins operativos e administrativos); Recrutamento, incorporação, instrução e adestramento, designação, transporte, bem-estar, evacuação, hospitalização e desligamento de pessoal; Aquisição ou construção, reparação, manutenção e operação de instalações e acessórios destinados a ajudar o desempenho de qualquer função militar. Podemos resumir que a Logística se encarregava de toda a ação de suprir o exército com os recursos necessários para sua operação. Assim, podemos facilmente imaginar os pelotões de soldados não mais marchando com vários quilos de material, mas somente com o básico para ataques-surpresa, se deslocando com mais velocidade e agilidade que o inimigo. O Batalhão de Logística, com mais recursos (transporte por força animal, homens treinados para tal fim, conhecimento prévio de onde se instalar – previsto pelo Batalhão de Estratégia etc.), se deslocava à frente preparando o local da batalha, alimentação para as tropas, tendas para o pernoite, munição e armamento adequados àquela batalha etc. E, por fim, temos o Batalhão Tático, que realizava efetivamente o confronto, só que de forma muito mais preparada e eficiente. No momento da batalha podemos imaginar facilmente o resultado: um exército ágil, que levou o inimigo ao campo de batalha desejado e que vai esperá-lo mais preparado (descansado, alimentado, sabendo mais do seu adversário), mesmo estando em condições numéricas inferiores. Esta formação da Ação Militar perdura até hoje em diversas corporações militares, mas com as devidas evoluções que o conhecimento humano e a tecnologia proporcionaram. Vale destacar que o ingresso da Logística no meio empresarial se deve às Grandes Guerras Mundiais pois, com a grande necessidade de pessoal para os confrontos, os Exércitos ficaram com contingentes enormes, principalmente em suas linhas de comando (Generais, Tenentes, Brigadeiros etc.). Com a necessidade de locar estas equipes com alto grau de competência técnica e administrativa em atividades mais nobres, os governos de diversos países deslocaram estes para os quadros de comando das chamadas “Empresas Estatais”, onde puderam aplicar as técnicas logísticas do exército nas empresas. Ao aluno, com esta breve história da evolução da logística, queremos transmitir grandes lições que até hoje são atuais nas nossas complexas atividades empresariais ou governamentais. Não queremos desprezar outros exemplos que surgiram com pioneiros (principalmente empresários) que desenvolveram soluções logísticas em diversas épocas e locais, mas estaremos atentando para situações simples, de fácil entendimento, para um aprendizado adequado. Os princípios da Logística estão fartamente colocados nestas simples ações, e — melhor ainda — fica explícito também o valor que a Logística agrega quando é utilizada.