CONTRIBUIÇÕES DAS GEOTECNOLOGIAS PARA A PROPOSIÇÃO DO ZONEAMENTO TURÍSTICO DO GEOPARK QUADRILÁTERO FERRÍFERO Patrícia Pascoal Goulart1, [email protected] Camila Ragonezi Gomes Lopes1, [email protected] Liliane Rodrigues de Oliveira Braga1, [email protected] Maria Márcia Magela Machado2, [email protected] 1. Mestrado em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais, Bolsista CAPES, UFMG. 2. Mestrado em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais, Docente, UFMG. Resumo: Na porção centro-sudeste de Minas Gerais, encontra-se o Quadrilátero Ferrífero – QF, uma região reconhecida por sua exuberante beleza natural, paisagística, riqueza litológica, mineral, hidrogeológica e biótica. Tais particularidades conferiram a esta região a candidatura para a criação de um geopark da UNESCO de relevância Nacional e Internacional. Durante a elaboração do dossiê que fundamentou a criação do Geopark Quadrilátero Ferrífero, foram inventariados geossítios com características potenciais para o desenvolvimento do geoturismo. Esta atividade apresenta uma forte tendência a valorização e a conservação do patrimônio. Entretanto, para o desenvolvimento do geoturismo é necessário um ordenamento que identifique a área de influência de cada geossítio, assim como os bens patrimoniais materiais e imateriais presentes na sua abrangência. O uso de geotecnologias foi o principal instrumento para a delimitação da área de influência de cada geossítio. A metodologia aplicada envolveu a Análise de Multicritérios e Polígono de Voronoi. Os polígonos formados definem da área de influência de cada geossítio. A análise e caracterização destes polígonos fundamentarão o zoneamento turístico do Geopark Quadrilátero Ferrífero. Palavras Chave: Zoneamento Turístico; Geotecnologias, Geossítio, Geoturismo Eixo 14: Geoprocessamento e aplicações 1) Introdução Na porção centro-sudeste de Minas Gerais, encontra-se o Quadrilátero Ferrífero – QF, uma região de exuberante beleza natural, paisagística, riqueza litológica, mineral, hidrogeológica e biótica. As rochas que afloram datam do período Arqueano e Paleoproterozóico, revelando grande parte da história evolutiva da Terra. Tais particularidades conferiram a esta região a candidatura para a criação de um geopark da UNESCO de relevância nacional e internacional, conforme proposto por Ruchkys (2007). Na região é observada a presença de atividades que interferem na dinâmica espacial da paisagem, como a mineração e a expansão urbana, carecendo medidas para a conservação do patrimônio. Uma das propostas é a valorização do patrimônio geológico através do geoturismo. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1806 Na atualidade têm-se observado uma tendência à valorização e a conservação do meio abiótico, por meio da promoção e da divulgação do geoturismo como um novo segmento do turismo de natureza. No Brasil, uma das primeiras providências para se desenvolver o geoturismo é a identificação de aspectos geológicos que possam vir a se tornar atrativos turísticos (NASCIMENTO, SCHOBBENHAUS, MEDINA, 2008). Segundo Rodrigues (2009), um destino torna-se mais interessante, quanto mais variadas forem as ofertas, mesmo quando se trata de um segmento turístico especializado, como o geoturismo. Um local com um rico patrimônio geológico tem que se juntar aos valores das abordagens histórica, cultural e natural. Ainda, de acordo com a autora, quando um geoturista visita uma região tem a necessidade de visitar monumentos e conhecer a realidade e tradições do local que visita, como museus etnográficos, gastronomia típica, musica, dança e artesanato. É importante que o patrimônio geológico se contextualize no patrimônio natural, não se esquecendo da biodiversidade e os patrimônios histórico e cultural. Esta articulação da geodiversidade, biodiversidade, história e cultura local não só aumenta o potencial geoturístico como também diversifica e completa a oferta. No Geopark Quadrilátero Ferrífero, foram inventariados por Ruchkys (2007) 27 geossítios, sendo 17 geológicos e 10 não geológicos. É de conhecimento popular a riqueza histórica, cultural, gastronômica, de artesanato e festas típicas, entre outros bens do patrimônio material e imaterial regional. Entretanto, estes bens patrimoniais não estão inventariados e espacializados, dificultando o desenvolvimento do turismo local. De acordo com o exposto, verificou-se a possibilidade da aplicação de geotecnologias para a identificação das áreas de influência dos geossítios e a sua relação com os bens patrimoniais. Propõem-se, ainda, a promoção e a integração das diversas oportunidades para a expansão do geoturismo e a valoração do patrimônio. 2) Objetivo O objetivo deste trabalho é propor um zoneamento turístico do Geopark Quadrilátero Ferrífero através da delimitação espacial das áreas de influência dos geossítios. 3) Fundamentação Teórica A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, adotada em 1972 pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, constitui um dos instrumentos mais importantes na conceituação e criação de um patrimônio de valor universal. Em seu artigo 2º a UNESCO (1972), considera como “patrimônio natural”: os monumentos naturais ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1807 constituídos por formações físicas e biológicas ou por conjuntos de formações de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente delimitadas que constituam habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural (NASCIMENTO, SCHOBBENHAUS, MEDINA, 2008). Neste contexto, a definição de Geopark como uma área com expressão territorial e limites bem definidos, que contém um significativo número de sítios de interesse geológico, denominados geossítios, com particular importância científica, raridade ou beleza ou que seja representativo da história geológica, dos eventos ou processos de uma área (RUCHKYS, 2007) deve ser considerado um patrimônio de valor universal. Ainda, de acordo com a autora, os Geossítios compõem no enfoque geral, o patrimônio geológico de uma região. São caracterizados como locais, afloramentos, serras, picos, ruínas, vestígios que reportam a memória da Terra ou a história da mineração. Estes sítios fazem parte de um conceito integrado de proteção, educação, turismo e desenvolvimento sustentável. Por vez, o conceito de geoturismo foi destacado inicialmente por Hose (1999) que o define como a promoção de atividades interpretativas e de serviços para a valorização e benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos a fim de assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse recreativo ou de lazer. Na perspectiva de utilização do turismo para a conservação, Brilha (2005), define a geoconservação, em sentido amplo, tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos. Entretanto todas as atividades em uma área podem causar de impactos, sendo recomendado o planejamento ou ordenamento territorial. Um dos instrumentos do planejamento, seja para o turismo ou qualquer outra atividade, é o zoneamento, que divide o espaço em diferentes zonas, em função de suas particularidades. Segundo Neves (2006), para a realização de zoneamento turístico, levantamento de potencialidades turísticas, entre outros, as Geotecnologias são ferramentas imprescindíveis. As geotecnologias são interpretadas por Rosa (2005) como o conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência geográfica. São compostas por soluções que constituem poderosas ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1808 ferramentas para tomada de decisões. Destacam-se os sistemas de informação geográfica, a cartografia digital, o sensoriamento remoto, o sistema de posicionamento global e a topografia. Utilizando as geotecnologias para o planejamento ou ordenamento territorial das metodologias empregadas é a Análise de Multicritérios. Definida por Mourão (2009) como procedimento metodológico de cruzamento de variáveis, amplamente aceito nas análises espaciais. Este procedimento baseia-se no mapeamento de variáveis por plano de informação e na definição do grau de pertinência de cada plano de informação e de cada um de seus componentes de legenda para a construção do resultado final. Outra técnica empregada para a definição de áreas de influência é o Polígono de Voronoi, ou de Thiessen. A mesma autora conceitua o Polígono de Voronoi, como um modelo de análise que permite o estudo das áreas de influência de pontos de interesse definidas por suas posições em relação ao conjunto de dados. 4) Metodologia empregada A metodologia apresentada tem como foco analisar a área de influência espacial dos geossítios situados no quadrilátero ferrífero através da Análise de Multicritérios e aplicação do modelo de Polígono de Voronoi. A princípio, foi realizada a revisão bibliográfica e selecionados os geossítios que serão estudados, tendo como referência o número de citações científicas e a inventariação realizada por Ruchkys (2007). As próximas etapas consistem em: a) o levantamento e a espacialização dos bens do patrimônio material e imaterial dos municípios nos quais estão situados os geossítios, a partir de dados secundários e georreferenciamento em trabalhos de campo; b) Coleta e organização da base de dados cartográficos, utilização das bases de dados de diversos órgãos governamentais, que realizam pesquisas e regularizam atividades; c) Análise de multicritério, nesta etapa ocorre a seleção de variáveis e a definição de seus respectivos pesos, por meio do método Delphi; d) Valoração dos geossítios, atribuição do valor à massa de cada geossítio (ponto); e) Definição das variáveis de atrito, estas características fazem com que a área de influência não apresente comportamento regular; f) Realização da álgebra de mapas, para a definição da massa de cada geossítio; g) Aplicação do modelo do polígono de Voronois, para a definição das áreas de influência dos geossítios, correspondente às zonas temáticas. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1809 A partir do resultado da modelagem realizada, a próxima etapa consistirá no zoneamento turístico, caracterizando as zonas identificadas. Este trabalho, subsidiará a elaborados roteiros turísticos com diferentes focos. 5) Resultados esperados Espera-se identificar as diferentes zonas turísticas do Geopark Quadrilátero Ferrífero, identificar os geossítios que precisam de ações de conservação do patrimônio, identificar os locais potenciais para a implantação de infraestrutura de recepção turística, além de subsidiar a elaboração de roteiros turísticos com diferentes focos: evolução natural da Terra, ecoturismo, turismo pedagógico, histórico-cultural e Rural. O alcance e dos resultados esperados e a implantação das propostas elaboradas atribuirão valor geoturístico ao Geopark quadrilátero ferrífero, proporcionando medidas de geoconservação do território e contribuição para o desenvolvimento econômico. Referências Bibliográficas Brilha, J. B. Patrimônio Geológic e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu. 2005 HOSE, 1999. In: RUCHKYS et. al. 2005. Definição de Percursos Geoturísticos na APA Carste de Lagoa Santa.Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte. Moura, Ana Clara M. Discussões metodológicas para aplicação do modelo de Polígonos de Voronoi em estudos de áreas de influência fenômenos em ocupações urbanas – estudo de caso em Ouro Preto – MG. Anais VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos - ENABER, São Paulo, 2009. Nascimento, M. A. L.; Schobbenhaus, C.; Medina, A.I. M. Patrimônio Geológico: Turismo Sustentável . In: Silva, Cassio Roberto da; Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM. Rio de Janeiro, 2008. Neves, S. M. A. S.. Geotecnologias e turismo no Pantanal Mato-grossense. Anais: 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, 2006. p.635-644. Rodrigues, J. C. Geoturismo – Uma Abordagem Emergente. In.: Dowling, R. (2009). Geoturism’s contribution to Local end Regional Development. In: Neto de Carvalho, C. e Rodrigues, J.C. (Eds.), Geoturismo & Desenvolvimento Local, Idanha-a-Nova, 15-37. In:. p.38-61. Rosa, R. (2005). Geotecnologias na Geografia Aplicada. Revista do Departamento de Geografia, 2005. Ruchkys, Úrsula de Azevedo. Patrimônio Geológico e Geoconservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: Potencial para a Criação de um Geoparque da UNESCO – Tese de Doutorado, Instituto de Geociências da UFMG, Belo Horizonte, 2007. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1810 UNESCO. Convenção para a proteção do patrimônio mundial, cultural e natural. 1972. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001333/ 33369por.pdf>. [apud] Nascimento, M. A. L.; Schobbenhaus, C.; Medina, A.I. M. Patrimônio Geológico: Turismo Sustentável . In: Silva, Cassio Roberto da; Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o futuro. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM. Rio de Janeiro, 2008. 1811 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014