Vacina para Estudantes e Professores DATA: 18/05/2012 HORÁRIO: 10:00 Salão Nobre - FAMED PRESIDIU: Prof. Ajácio Bandeira de Mello Brandão (UFCSPA) CONFERENCISTA: Profª. Eliana Trotta (UFRGS) Prof. Ajácio inicia os trabalhos relatando sua satisfação em retornar à sua faculdade. Apresenta a Profa. Eliana Trotta. Relata que diversos congressos de medicina têm abordado a importância das vacinas para professores e alunos da área da saúde. A Profa. Eliana inicia com a história da vacinação, relata que no Egito Antigo já existia uma forma primitiva de vacinação. No ano 1500 a.C. na China e Turquia também usava-se uma forma de vacina semelhante. Em 1978 Edward Jenner inoculou conteúdo contaminado por varíola bovina em um menino de 5 anos, que apresenta sintomas mais brandos que os da varíola humana. O conteúdo das vesículas do menino de 5 anos foi injetado em um outro menino de 8 anos, que após 6 semanas foi inoculado com varíola humana, não apresentando sintomas. Após 6 meses foi feita nova inoculação de varíola humana, também não apresentando sintomas da doença, sugerindo a imunização. Aí criou-se o termo “vacinação”, do latim para vaca – varíola vaccinae. Profa. segue comentando que ao longo do séc. XIX e XX surgem vacinas para bactérias, vírus e difteria e outros. Em 1961 o Ministério da Saúde inicia a vacinação oral contra poliomielite, em 1972 contra o sarampo, em 1977 BCG, sarampo, poliomielite oral e tríplice bacteriana (DTP). Admitindo-se que os acadêmicos de medicina foram vacinados nas décadas de 80 e 90 acredita-se que devem ter, no mínimo, as vacinas: BCG, sarampo, poliomielite oral, tríplice viral e tríplice bacteriana (tétano, difteria, coqueluche). Devido à vacinação e grande diminuição da prevalência dessas doenças surge uma situação nova: a falta de exposição ao antígeno levando à perda da memória imunológica. A epidemia de sarampo ocorrida em 1997, atingindo 53 mil adultos jovens é um exemplo dessa perda de memória imunológica. Em outro caso um adulto jovem vindo ao Rio Grande do Sul, de Santa Catarina durante o período de incubação da doença contaminou grande número de pessoas ao participar de um baile. Profissionais da área da saúde como médicos, enfermeiros, patologistas, dentistas, fonoaudiólogos, pessoal de apoio e manutenção de ambientes hospitalares fazem parte do grupo de profissionais que devem ser vacinados. Recomenda-se as vacinas contra: hepatite B, influenza, meningococo, tétano e difteria, tríplice viral e varicela. Além dessas a vacina contra hepatite A é recomendada para aqueles que trabalham em áreas endêmicas. A profa. relata pesquisa de campo feito por um colega em área de risco, que acabou causando-lhe contaminação por hepatite A. A vacinação da hepatite B se faz em 3 doses, 0, 1 e 6 meses. Um a dois meses após a terceira dose deve-se dosar anti-HBs para documentar a imunização. Se o resultado for positivo o profisisonal está imunizado. Caso negativo repete-se as 3 doses e nova testagem. Se houver novo negativo é considerado não-respondente e novas tentativas de imunizaçnão serão inúteis, nesse caso o profissional deve ter cuidados maiores e utilizar EPI apropriado. A vacina contra influenza deve ser refeita anualmente devido a mutabilidade do vírus. A vacina anual da gripe é feita com base nos 3 tipos de vírus mais comuns no ano anterior. É recomendada para todos os profissionais de creches, funcionários de clínicas para doentes crônicos e idosos e outros. É uma vacina de vírus vivo e atenuado, não sendo recomendada para gestantes e profissionais que trabalham com pacientes imunossuprimidos. Também é contra-indicada se houver alergia grave a ovo ou reações graves a outras vacinas anteriores. Reações com vacinas devem sempre ser relatadas ao serviço de saúde. A meningocócica não é recomendada para todos os profissionais da saúde, apenas para microbiologistas que trabalham rotineiramente com N. meningitidis ou em caso de surtos. Nos Estados Unidos a vacinação meningocócica é ampla, porém lá corre uma variedade diferente da que ocorre no Brasil. No momento não temos uma vacina efetiva contra meningococo B que é o mais prevalente no Rio Grande do Sul. Já foram feitas tentativas com vacinas cubanas, porém não se mostraram eficiente na população brasileira. A tríplice viral (MMR), contra sarampo, rubéola e caxumba, é recomendada para profissionais da saúde que foram vacinados na infância, pois podem ter perdido a memória imunológica. Não vacinados só devem ser considerados imunizados com provas laboratoriais de imunidade. É aplicada em 2 doses, com intervalo de 4 semanas entre elas. Pode ser aplicada até 72 horas pós-exposição. Tétano/Difteria/Pertusis (Td/Tdap) é aplicada em 0, 1-2, 6-12 meses. O reforço de Td é recomendado a cada 10 anos. No caso de ter a vacinação completa para tétano e difteria recomenda-se fazer vacina para Tdap, 2 anos após a última dose. A vacina para coqueluche no adulto deve ser a acelular, que não está disponível na rede pública brasileira. Isso é um limitante na imunização dos profissionais da saúde. No Brasil atualmente há um aumento na incidência de coqueluche. Há preocupação pois em crianças pequenas há necessidade de internação em UTI e para idosos também recomenda-se a internação. Para o profissional da saúde é uma preocupação pela facilidade de contágio. A profa. Eliana Trotta relatou ter conhecimento de diversos casos de alunos seus que ao passar pelo estágio de pediatria contraíram a doença. Nota-se que adultos já vacinados podem apresentar imunidade parcial, apresentando a doença atenuada, mas podendo transmití-la para indivíduos não imunizados, nos quais ela se manifestaria completamente. Em relação à varicela, a professora recomenda que todos os profissionais devem receber a segunda dose da vacina mesmo se vacinados na infância. Não vacinados recebem duas doses com intervalo de 4 semanas. A vacina utiliza vírus vivos atenuados, por isso não é recomendada para imunodeficientes. Em adultos a doença é mais grave do que em crianças, quando infectados adultos apresentam sintomas mais fortes que crianças e são mais queixosos. Prof. Ajácio relata já ter tido um aluno que contraiu a doença durante as atividades do curso de medicina. A Profa. Eliana Trotta aponta, como referências, o site do CDC e da Sociedade Brasileira de Imunização, sendo essa independente do Ministério da Saúde. O Ministério está aos poucos adotando novas vacinas, aproximando-se do modelo recomendado pelo CDC. A Profa. lembra que a vacinação envolve aspectos éticos. Há um debate sobre a obrigatoriedade da vacinação, onde há um impasse entre a autonomia e livre escolha do profissional da saúde e o direito dos pacientes e dos familiares do profissional a não serem expostos ao risco de contágio. Nos Estados Unidos uma instituição não pode legalmente obrigar ninguém a fazer uma vacina, porém é preciso estar ciente da possibilidade de levar essas doenças para dentro da própria casa, podendo contaminar seus familiares. O profissional que não se vacina está colocando em risco tanto sua própria saúde quanto a de seus familiares e pacientes. A Profa. julga que é um dever do hospital escola e da escola médica informar aos alunos a quais doenças estarão expostos, bem como facilitar que seus alunos tenham acesso a vacinação contra elas, seja através da rede pública ou por convênios com clínicas privadas. Em situações especiais em que o aluno não possa arcar com sua vacinação a escola médica ou hospital escola deveria custear a vacinação do aluno. Não se deve aguardar o aluno ingressar no ciclo clínico para que esses cuidados sejam tomados. Devem ser iniciados já no ingresso do novo aluno, pois algumas atividades já no início do curso expõem o aluno ao contato com pacientes, A Profa. relata já ter sido chefe de departamento e que recomenda aos alunos a vacinação. A ampliação da vacinação dos alunos é uma preocupação da faculdade de medicina. Em esforços para facilitar o acesso a vacinação foram firmadas parcerias informais com clínicas privadas para diminuir os custos para o aluno. Além disso, a pedido do diretor da FAMED UFRGS, Prof. Mauro, as Profas. Eliana Trotta e Dvora Jovkelevich criaram tabelas de vacinação para estudantes e profissionais da saúde. Prof. Ajácio encerra a apresentação ressaltando os aspectos abordados pela profa. Eliana. Relata ser coordenador da medicina da UFCSPA e demonstra interesse pelas tabelas de vacinação de autoria da Profa. Eliana Trotta. A Profa. relata a dificuldade de organização dos diversos fatores que são de responsabilidade de uma escola de medicina e a necessidade de constante troca do conhecimento científico. Segundo ela: “ciência não tem dono”. RELATORES: Frederico Giannetti Krumenauer (UFRGS) Ricardo Dahmer Tiecher (UFRGS)