volume - Quintessence Editora

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VOLUME
ANÁLISE ESTÉTICA
116
REABILITAÇÃO ESTÉTICA EM PRÓTESE FIXA
4
MAURO FRADEANI
Capítulo
ANÁLISE
FONÉTICA
117
A fonética é uma função bastante afetada pela relação entre dentes, lábios e língua,
podendo ser significativamente comprometida pela presença de restaurações inadequadas. A pronúncia dos sons m, e, f/v e s pode ser valiosa na identificação de
alguns dos parâmetros funcionais e estéticos a serem seguidos quando do desenvolvimento de um plano de tratamento protético.
OBJETIVO: Auxiliar a identificar, por meio de testes fonéticos, o comprimento incisal ideal,
a posição dental adequada e a correta dimensão vertical de oclusão.
4
VOLUME 1 ANÁLISE ESTÉTICA
Capítulo
118
ANÁLISE
FONÉTICA
Os testes fonéticos são um auxílio na obtenção de um diagnóstico estético e funcional
confiável.1 Eles podem fornecer indicações
úteis no estabelecimento do comprimento e
posição dental adequados, como também, na
determinação de uma dimensão vertical de
oclusão viável.
Embora sejam uma ferramenta válida no estabelecimento de um plano de tratamento correto, os resultados dos testes fonéticos, ainda
assim, devem ser comparados com os achados de outras análises dentofaciais.
De fato, pode ser necessário escolher entre
achados aparentemente conflitantes. Em tais
casos, após ter avaliado os resultados do teste como um todo, o clínico deve fazer a escolha com base em sua experiência clínica e
conhecimento.
O SOM M
DIMENSÃO VERTICAL
Quando o paciente está na posição de repouso,
existe um espaço entre as arcadas, variando
de 2 a 4 mm, que não é completamente ocupado pelos dentes (ou seja, o espaço livre).2-5
Este valor pode variar não apenas entre pacientes,6,7 mas também em um mesmo indivíduo durante o dia (Figs. 4-1a a 4-1e). Muitos
estudiosos8-12 consideram o uso do som m
valioso na identificação da posição postural
interoclusal, muito embora nem todos julguem
esse método totalmente confiável.13 A abertura
vertical encontrada entre as duas arcadas durante a pronúncia desse som, contudo, pode
auxiliar o clínico a determinar a dimensão vertical de oclusão.
ANÁLISE FONÉTICA

PRONÚNCIA DO SOM M

PRONÚNCIA DO SOM E

PRONÚNCIA DOS SONS F E V

PRONÚNCIA DO SOM S
Capítulo
4
ANÁLISE FONÉTICA

Avalia o comprimento incisal

Avalia a dimensão vertical

Avalia o comprimento incisal

Avalia o comprimento incisal

Avalia o perfil incisal

Avalia a posição dental

Avalia a dimensão vertical
EXAMINAR
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Fig. 4-1a
119
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Fig. 4-1b
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Fig. 4-1c
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Fig. 4-1d
›
Fig. 4-1e
FIG 1 (a) O espaço livre entre as arcadas, observado na pronúncia do som m pode ser uma fonte de informação valiosa na determinação tanto da dimensão vertical de oclusão como do comprimento incisal dos incisivos superiores. (b e c) A exposição dos
dentes em repouso pode variar de acordo com a idade e o sexo do paciente. Em indivíduos jovens, os incisivos são normalmente
visíveis, embora em muitos casos eles apareçam apenas ligeiramente. (d, e) Não é raro, especialmente em adultos, verificar que
não há nenhuma exposição, nem dos dentes superiores nem dos inferiores, ou a exposição apenas dos inferiores.
VOLUME 1 ANÁLISE ESTÉTICA
Considerações e aplicações protéticas
No caso do aumento da dimensão vertical, o
clínico deve tomar cuidado especial para que
a reabilitação protética não ocupe completamente o espaço livre. De fato, a manutenção de uma distância interoclusal (2 a 4 mm)
durante a pronúncia do som m é necessária
para garantir uma função correta. Juntamente com o som s, ele é um dos parâmetros
clínicos mais comumente utilizados para testar a validade das alterações realizadas proteticamente com relação à dimensão vertical
de oclusão.
COMPRIMENTO INCISAL
Além de estabelecer a posição postural
inter­o­c lusal, o som m pode também proporcionar informação valiosa para a determinação do comprimento inicisal. Por meio da repetição de palavras contendo essa consoante
em intervalos regulares (p. ex., mãe...mãe),
pode-se determinar a posição da mandíbula
em repouso.
No intervalo entre uma pronúncia e outra, o
clínico pode avaliar a porção dos incisivos
centrais que é visível na posição de repouso,
o que o auxiliará a determinar as alterações
que necessitam ser realizadas em relação
ao comprimento incisal.12,14
Considerações e aplicações protéticas
Nesta fase, a porção dos incisivos centrais
nor­malmente visível nos pacientes jovens é de­
aproximadamente 3,5 mm em indivíduos do­
sexo feminino e de 2 mm em indivíduos do­sexo
masculino (veja Cap. 3, pág. 70).­15,16 A possibilidade de diminuir ou aumentar o terço incisal
dos dentes anteriores deve ser avaliada com
base na quantidade de exposição dental, sexo
e idade do paciente, seus desejos e todas as
considerações clínicas da avaliação geral (veja
Tab. no Cap. 5, pág. 237) (Figs. 4-2a a 4-2g).
120
FIG 2 (a) A abrasão e a erosão observadas nos dentes anteriores reduziram significativamente o comprimento dos incisivos
centrais superiores. (b) A guia de silicone obtida do enceramento diagnóstico, posicionada na boca, demonstra a necessidade de aumento do comprimento dental, que é definido com auxílio do som m. (c) Os preparos dentais foram
mantidos em esmalte. (d a f) Duas facetas cerâmicas foram colocadas nos incisivos centrais superiores, que parecem
estar bem-integrados na cavidade oral (veja Vol. 2, Cap. 6). (g) Quando o paciente pronuncia a letra m em intervalos, a
exposição adequada dos dentes restaurados é evidente.
Capítulo
4
ANÁLISE FONÉTICA
›
›
Fig. 4-2a
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Fig. 4-2b
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Fig. 4-2c
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Fig. 4-2d
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Fig. 4-2e
›
Fig. 4-2g
Fig. 4-2f
121
VOLUME 1 ANÁLISE ESTÉTICA
O SOM E
COMPRIMENTO INCISAL
Um outra avaliação fonética valiosa do comprimento dos dentes superiores é, de acordo
com Spear,17 a pronúncia prolongada da vogal e
(como em meeee...).
pado quase inteiramente pelos incisivos superiores. A borda incisal é, portanto, colocada
muito próxima do contato com o lábio inferior.
Caso os dentes superiores ocupem menos que
50% desse espaço, eles podem normalmente
ter o comprimento aumentado proteticamente,
de modo a ocupar o total de 80% do espaço
entre os lábios (Figs. 4-3b a 4-3h).
Pacientes idosos Devido à tonicidade
Observando-se o paciente enquanto esse
som é pronunciado, pode-se notar um espaço entre os lábios superior e inferior que
é ocupado apenas parcialmente pelos incisivos superiores. O tamanho desse espaço
varia de paciente para paciente, dependendo
da idade (Fig. 4-3a).
Considerações e aplicações protéticas
Pacientes jovens Quando pacientes jo-
vens pronunciam a letra e, o espaço entre os
lábios superior e inferior é, via de regra, ocu-
reduzida dos tecidos periorais em pacientes
idosos, o espaço entre os lábios superiores
e inferiores é apenas parcialmente ocupado
pelos incisivos superiores. A borda incisal
pode, portanto, apresentar uma longa distância do lábio inferior. Isso permite o aumento do comprimento desses dentes, que, de
qualquer modo, não tomaria mais que 50%
do espaço em questão, de forma a não parecer muito longo em pacientes que não são
mais jovens.17
122
FIG 3 (a) Durante a pronúncia prolongada da vogal e,
os incisivos superiores ocupam até 80% do espaço inter­in­cisal, especialmente em indivíduos jovens.
(b e c) As visões de perfil deste jovem paciente durante a pronúncia do som e demonstram como os
incisivos superiores tomam pouco mais que metade
do espaço interlabial, sugerindo a necessidade de
um possível aumento dos dentes anteriores.
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Fig. 4-3a
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Fig. 4-3c
55%
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Capítulo
4
ANÁLISE FONÉTICA
Fig. 4-3b
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Fig. 4-3d
Fig. 4-3e
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Fig. 4-3f
70 a 80%
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Fig. 4-3g
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Fig. 4-3h
FIG 3 (cont.) (d, e) Após a criação de uma restauração diagnóstica de resina composta direta e de proporções dentais adequadas, o
próximo passo é a fabricação das restaurações definitivas. (f a h) As vistas frontal e de perfil das restaurações definitivas demonstram a viabilidade do comprimento incisal restabelecido.
VOLUME 1 ANÁLISE ESTÉTICA
OS SONS V/F
COMPRIMENTO INCISAL E
PERFIL INCISAL
A correta pronúncia dos sons f e v é produzida pelo leve contato entre os incisivos centrais superiores e a borda vermelha do lábio
inferior (Fig. 4-4a).
A compressão de ar que ocorre quando as
superfícies duras das bordas incisais dos incisivos superiores entram em contato com a
superfície mole do lábio inferior, durante a pronúncia das letras f e v, produz os sons apropriados. A pronúncia fluente desses sons significa que os incisivos superiores apresentam
comprimento correto e que seu perfil incisal
está posicionado adequadamente.18-20
Considerações e aplicações protéticas
124
Na dentição natural, os incisivos centrais superiores apresentam uma curva vestibular
acentuada que favorece os fenômenos de
refração e reflexão, tornando-os particularmente dominantes. Para recriar esses efeitos agradáveis e, simultaneamente, manter
as corretas dimensões da restauração protética, é essencial realizar um preparo dental
adequado, que envolva a inclinação lingual
do terço incisal do pilar protético. De fato, a
redução insuficiente dessa área é frequentemente a razão do excessivo posicionamento
vestibular do perfil incisal que resulta da inevitável espessura de cerâmica que o técnico
deve fabricar para a obtenção de um resultado estético aceitável.12,21 Isso levaria a uma
pronúncia incorreta dos sons f e v, dando ao
paciente a sensação de excesso de estrutura
dental e tornando difícil a aproximação dos
lábios, devido a borda incisal estar posicionada além da borda vermelha do lábio (Figs.
4-4b a 4-4l).19,22
Portanto, a borda vermelha do lábio representa
o limite vestibular dentro do qual as bordas
incisais das restaurações devem estar posicionadas (Figs. 4-4m a 4-4bb).19,21 Quando
a borda incisal apenas toca o lábio inferior,
o comprimento incisal pode ser considerado
viável. Se existir qualquer separação entre
os dentes e o lábio durante a pronúncia, a
viabilidade do comprimento dos dentes anteriores deve ser avaliada com base nos resul­
tados de outros testes fonéticos (ou seja,
com a letra m e e) e análise de outro dente
e parâmetros dentolabiais (veja Tab. no Cap. 5,
pág. 237).
FIG 4 (a) Durante a pronúncia dos sons
f e v, a borda incisal superior não
deve, na direção vestibulolingual,
ir além do limite definido pela borda vermelha do lábio inferior.
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Capítulo
4
ANÁLISE FONÉTICA
Fig. 4-4a
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Fig. 4-4b
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Fig. 4-4c
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Fig. 4-4d
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Fig. 4-4e
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Fig. 4-4f
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Fig. 4-4g
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Fig. 4-4h
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Fig. 4-4k
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Fig. 4-4i
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Fig. 4-4j
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Fig. 4-4m
Fig. 4-4l
FIG 4 (cont.) (b a e) Este paciente procurou o consultório queixando-se de deficiência estética e funcional. A vista de perfil do trabalho protético preexistente demonstra uma quantidade excessiva de trespasse, que não permite nenhum contato entre os
dentes anteriores, tornando impossível qualquer tipo de desoclusão nas áreas posteriores (veja Cap. 5, pág. 228). (f) Após o
acúmulo de placa bacteriana e cálculo terem sido removidos em algumas consultas para higiene dental e a colaboração ativa
do paciente ter sido obtida, foi realizada uma cirurgia para eliminar os defeitos periodontais (cirurgia periodontal realizada
pelo Dr. Stefano Parma Benfenati). (g) A cirurgia também reduziu a quantidade de tecido gengival exposto durante o sorriso,
melhorando a aparência estética global. (h a j) Durante o período de espera pós-cirúrgica de maturação tecidual, a viabilidade
da posição da borda incisal durante a pronúncia do som f foi testada com o auxílio das primeiras restaurações provisórias.
Na vista de perfil, as bordas incisais podem ser vistas estendendo-se bem além do limite da borda vermelha do lábio inferior,
estando evidente a considerável inclinação da emergência dental. (k e l) A vista contralateral e oclusal dos modelos também
confirmou a quantidade excessiva de trespasse (7 mm). (m) Esta foi reduzida no enceramento diagnóstico realizado para a
fabricação de uma segunda restauração provisória.
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