PCNA-FÍSICA ELEMENTAR 3. LEIS DE NEWTON 3.1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM: Uma pergunta interessante para iniciar este tópico seria: O que é mecânica do ponto de vista da Física? Podemos dizer que a mecânica é uma área da física que trata as questões de movimento dos corpos levando em conta, de uma maneira geral, as causas do movimento. Nesse sentido, a mecânica inclui a cinemática e a dinâmica. A mecânica estuda também situações de equilíbrio dos corpos (estático e dinâmico) e, portanto, podemos dizer que a estática também está compreendida nessa importante área da física. Acrescenta-se também que se o corpo ou sistema físico se movimenta de maneira acelerada, a descrição desse tipo de movimento também é objeto de estudo da mecânica. Uma outra maneira de descrever a mecânica é por meio da influência que corpos exercem nas interações entre si via forças (sejam forças de contato ou de qualquer outra natureza). Vemos que não temos pouca coisa pela frente: Interações entre corpos; estudos de situações de equilíbrio e de movimento acelerado, entre outras tantas coisas. Do ponto de vista de formação profissional, a mecânica é imprescindível para o engenheiro, qualquer que seja a sua área. Do ponto de vista de percepção e entendimento do mundo ao nosso redor é tão importante quanto o aspecto formativo. Convidamos então você para ir adiante ao fascinante estudo da mecânica! Neste contexto, estudaremos a Dinâmica: que é a parte da Mecânica que estuda os movimentos e as causas que os produzem ou os modificam. Costumamos construir o arcabouço da mecânica a partir do enunciado das Leis de Newton. Seguiremos esse caminho, mas faremos uma observação. As Leis de Newton formam um conjunto consistente para descrever uma imensa variedade de situações e fenômenos que vemos ao nosso redor. É nosso dever entender ao máximo o que significa cada uma dessas leis. É também muito importante entender as relações que cada uma das leis possui entre si, ou seja, não devemos apenas pensar em cada uma das leis separadamente. Antes disso, vamos olhar rapidamente a questão do referencial voltada para o estudo da dinâmica. 3.2 REFERENCIAL DO PONTO DE VISTA DA DINÂMICA Conforme veremos, ao falar sobre Leis de Newton precisaremos saber em que referenciais tais leis são válidas (tais como a conhecemos) e em que referenciais não são válidas. No caso da 1ª Lei falaremos também sobre estado de repouso de um corpo. Todas essas questões fazem necessária uma pequena discussão sobre o conceito de referencial. Vamos trazer algumas situações do cotidiano para discutir sobre esse conceito. Imagine que você está no banco de trás de um carro a 40 Km/h. Para o motorista, você está parado, com velocidade igual a 0 km/h. Já para alguém que te observa da calçada, você está se locomovendo a 40 Km/h. Quem está errado nessa discussão? Resposta: Ninguém! As análises, tanto do ponto de vista de um referencial (você) quanto do outro referencial (o observador na calçada) são válidas. Portanto, desta simples discussão podemos tirar algumas conclusões importantes: 1- Repouso (ausência de movimento) é algo relativo (repouso em relação a quem?). Depende do referencial adotado! 2 – Velocidade também é um conceito referente a algum referencial’ (velocidade em relação a quem?). Em relação ao estado de repouso, alguém pode tentar argumentar que um referencial fixo em relação à superfície da Terra (uma árvore, por exemplo) está absolutamente em repouso. Mas se levarmos em conta que a Terra também está em movimento, como fica essa “certeza”? Bem, do que já sabemos pelos avanços da Física e da Astronomia, ao contrário do que se cogitava na antiguidade, não existe movimento absoluto e nem repouso absoluto. Temos que prestar atenção no referencial que estamos adotando para fazer a análise do movimento. O estudo do referencial reserva ainda algumas surpresas. Veremos que nem todos os referenciais são equivalentes, e entender esse 26 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR ponto é muito importante para compreensão das Leis de Newton. a correta Mais um exemplo (na verdade estamos realizando experiências de pensamento1!). Imaginemos agora que nos encontramos num elevador movendo-se para baixo num movimento retilíneo com velocidade constante. Se o observador que se encontra dentro dele deixar cair um objeto, ele cairá normalmente por ação da força de gravidade normal. Imaginemos agora que num dado instante há um problema com o cabo e o elevador entra em queda livre. Se o observador largar agora o mesmo objeto ele não cairá (em relação ao observador que também está caindo aceleradamente). No primeiro caso (elevador que desce com velocidade constante) podemos tomar o observador como sendo um referencial inercial. Na outra situação (cabo arrebentado) o “pobre” observador que está no elevador não pode mais ser tomado como um referencial inercial. É, portanto, um referencial não-inercial. Aqui avisamos ao leitor que o estudo de referencial é algo bem sutil e procuraremos ser tão “light” quanto possível, mas sem perder de vista que referencial inercial e referencial não inercial do ponto de vista físico e matemático são não equivalentes, portanto não devem ser 2 confundidos . Vamos colocar a questão de duas 1 Experiências de pensamento são recursos utilizados por grandes físicos, tais como Galileu Galilei e Albert Einstein. Em tais experiências o arcabouço teórico é utilizado e as consequências podem ser deduzidas sem custos e sem riscos para ninguém. Não substitui a experiência de fato, mas nem por isso deixam de ser interessantes. 2 Apenas para o leitor saber. A Terra por conta dos movimentos que executa em seu “passeio” pelo espaço sideral sofre efeito de acelerações. Ou seja, “para valer, para valer mesmo”, a Terra não é um referencial inercial. Como essas acelerações são muito pequenas quando comparadas à aceleração da gravidade, nós consideramos apenas de maneira aproximada a Terra como sendo um referencial inercial. Isso quer dizer que numa grande variedade de experimentos de mecânica que realizamos em laboratório os resultados não são afetados maneiras simples e complementares. A primeira é que um referencial que está sofrendo uma aceleração é não inercial. A outra é a seguinte. Só é válida a aplicação direta das leis de Newton em referenciais inerciais. Se um observador está em um referencial acelerado ele sentirá o efeito de força(s) que ele não conseguirá descrever no próprio referencial. O efeito dessa(s) força(s) é tão real quanto qualquer outra. Não duvide disso, prezado leitor! (quem nunca foi “espremido” contra a parede de um ônibus fazendo uma curva?). O ponto é que nosso corpo “sabe” quando estamos submetidos à acelerações apreciáveis (comparáveis à aceleração da gravidade ou maiores). Mas o observador não conseguirá descrever essa(s) força(s) do ponto de vista do próprio referencial. Por esse motivo essa força(s) é(são) chamada(s) de força(s) fictícia(s). O que o leitor precisa mesmo ter em mente é o seguinte: IMPORTANTE! 1- Um referencial inercial não está acelerado. 2- A aplicação e entendimento das leis de Newton conforme estudaremos nesse material são válidos para referenciais inerciais. 3.3 PRIMEIRA LEI DE NEWTON (PRINCÍPIO DA INÉRCIA) A primeira lei de Newton afirma que se a força resultante, atuante sobre um corpo é nula, então o corpo que estiver em repouso, permanecerá em repouso ou se estiver em movimento com velocidade constante, ele continuará nesse mesmo movimento. Em outras palavras, essa propriedade da matéria de resistir a qualquer variação em sua velocidade recebe o nome de inércia. Essa propriedade é diretamente proporcional à massa do corpo. apreciavelmente por conta dos acelerados que o nosso planeta sofre. movimentos 27 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR Figura 3.1 – Quanto mais lisa a superfície, mais longe um disco desliza após tomar uma velocidade inicial. Se ele se move em um colchão de ar sobre a mesa (c), a força de atrito é praticamente zero, de modo que o disco continua a deslizar com velocidade quase constante. (YOUNG. H. D; FREEDMAN. Física 1Sears & Zemansky. Mecânica. 12ª. Edição. Ed. Pearson.) A 1ª Lei de Newton pode ser ilustrada com algumas experiências de pensamento (ok, podem ser ilustradas na prática também!). Quem já andou de carro, ônibus ou avião sabe que quando o meio de transporte viaja com velocidade estabilizada em linha reta tudo se passa como se o mesmo estivesse parado. Mas tudo muda quando o meio de transporte sofre uma variação de direção ou no módulo da velocidade. 3.4 RELAÇÃO VETORIAL VELOCIDADE E ACELERAÇÃO ENTRE Não são poucos alunos que confundem conceitualmente e operacionalmente dois conceitos vetoriais muito importantes para a dinâmica: velocidade e aceleração. São conceitos que estão relacionados, mas são distintos. É fundamental que o leitor tenha em mente o seguinte. Velocidade é um vetor, e qualquer variação nesse vetor (velocidade) corresponde a uma aceleração. Sem exceção! Mas o que isso quer dizer? Sejamos ainda mais explícitos. 1) Situação em linha reta. Pense num carro acelerando ou frenando (qualquer coisa que altere o módulo da velocidade). Nesse caso a aceleração é facilmente visualizável pela maioria dos alunos. Nesse caso, temos uma aceleração associada a uma variação do módulo da velocidade e que possui a mesma direção do vetor velocidade. 2) Situação de curva realizada com velocidade escalar constante (curva realizada com pressão constante no acelerador, resultando em leitura constante no velocímetro). Nesse caso temos aceleração associada à variação de direção do vetor velocidade. Essa aceleração é perpendicular ao vetor velocidade (veremos mais a respeito no estudo do movimento circular uniforme) 3) Bola que ricocheteia horizontalmente contra uma parede e retorna com o mesmo módulo da velocidade, mas tem seu sentido de movimento alterado. Nesse caso, não temos mudança de módulo ou de direção, mas ainda assim temos uma aceleração associada à mudança de sentido do vetor velocidade. Mas por que essa discussão é importante? Para responder façamos outra leitura da primeira Lei de Newton: A velocidade de um objeto, vetorialmente falando, não muda “de graça”. Se há variação do vetor velocidade (seja de módulo, de direção ou apenas mudança de sentido) há aceleração e se há aceleração há também a presença de uma força resultante que perdura enquanto houver mudança do vetor velocidade. Essa é a importância. Não enxergar de maneira plena a relação entre velocidade e aceleração pode comprometer seu entendimento sobre as leis de Newton. Mas agora você já sabe! Se o objeto está acelerado, ele não está em equilíbrio e, portanto, há uma força resultante não nula atuando sobre ele (somente enquanto o objeto estiver acelerado). Há ainda alguns comentários importantes a serem feitos sobre a primeira lei de Newton. A primeira lei trata sobre estados de equilíbrio (não acelerados – força resultante nula). O repouso é apenas uma forma de equilíbrio (também chamado de equilíbrio estático). Um objeto que se mova com rapidez constante numa trajetória retilínea também se encontra em equilíbrio. O 28 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR equilíbrio, do ponto de vista da mecânica, é um estado em que não ocorrem mudanças no estado de movimento do objeto. Uma bola de boliche rolando com rapidez constante numa trajetória retilínea também está em equilíbrio (equilíbrio dinâmico) – até que bata nos pinos. A forma vetorial da resultante nula é dada pela equação (3.1) enquanto que as formas escalares são mostradas na equação (3.2). ∑ ⃗𝑭 = 𝟎 (3.1) (partícula em equilíbrio, forma vetorial) ∑ 𝐹𝑥 = 0 ∑ 𝐹𝑦 = 0 ∑ 𝐹𝑧 = 0 (3.2) do disco varia a uma taxa constante. A velocidade escalar do disco aumenta, de modo que a aceleração a está na mesma direção de v ⃗ . (YOUNG. H. D; FREEDMAN. Física 1e ∑𝑭 Sears & Zemansky. Mecânica. 12ª. Edição. Ed. Pearson.)Concluímos que uma força resultante não nula que atua sobre um corpo faz com que o corpo acelere na mesma direção que a força resultante. O vetor força resultante é igual ao produto da massa pela aceleração do corpo. Esta é uma das formulações da 2ª Lei de Newton. ⃗ = 𝑚𝒂 ∑𝑭 ⃗ (3.3) (Segunda Lei de Newton de Forma Vetorial) (partícula em equilíbrio, forma de componentes) Outro ponto importante da primeira lei de Newton. Um objeto sob a influência de uma única força jamais pode estar em equilíbrio. A força resultante não poderia ser nula. Apenas quando duas ou mais forças atuam é que pode haver equilíbrio. Podemos testar se algo está ou não em equilíbrio observando se ocorrem ou não alterações em no estado de movimento do corpo. IMPORTANTE! Uma força resultante nula sobre um objeto não significa que ele esteja necessariamente em repouso, e sim que seu estado de movimento mantém-se inalterado. Ele pode estar tanto em repouso quanto em movimento uniforme em linha reta. 3.5 SEGUNDA LEI DE NEWTON De acordo com a primeira lei de Newton, quando um corpo sofre uma força resultante nula, ele se move com velocidade constante e aceleração zero. Mas o que acontece quando a força resultante é diferente de zero? Sobre um disco em movimento na Figura 3.1 com atrito desprezível, aplicamos uma força horizontal constante na mesma direção e sentido em que ele se move. Logo, ƩF é constante e se desloca na mesma direção horizontal de v. Descobrimos que enquanto a força está atuando, a velocidade Normalmente usaremos essa relação na forma de componentes: ∑ 𝐹𝑥 = 𝑚𝑎𝑥 ∑ 𝐹𝑦 = 𝑚𝑎𝑦 ∑ 𝐹𝑧 = 𝑚𝑎𝑧 (3.4) (segunda lei de Newton, forma de componentes) A aceleração de um corpo submetido à ação de um conjunto de forças é diretamente proporcional à soma vetorial das forças que atuam sobre o corpo (a força resultante) e inversamente proporcional à massa do corpo. Esta é outra formulação da segunda lei de Newton. Como na primeira lei, a segunda lei de Newton vale apenas em sistemas de referência inerciais. A unidade de força é definida em termos das unidades de massa e de aceleração. Em unidades SI, a unidade de força denomina-se Newton (N), sendo igual a 1 Kg.m/s2. Discutiremos um pouco mais sobre a segunda lei tratando do princípio da superposição de forças. Figura 3.2 – Massa, aceleração e a segunda lei de Newton. 29 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO DE FORÇAS. Quando você joga uma bola, pelo menos duas forças agem sobre ela: o empurrão da sua mão e o puxão para baixo da gravidade. Experiências ⃗⃗⃗1 e 𝐹 ⃗⃗⃗⃗2 comprovam que, quando duas forças 𝐹 atuam simultaneamente em um ponto A de um corpo (Figura 3.3), o efeito sobre o movimento do corpo é o mesmo que o efeito produzido por uma única força 𝑅⃗ dada pela soma vetorial das duas forças ⃗⃗⃗ 𝐹1 e ⃗⃗⃗⃗ 𝐹2 . Generalizando, o efeito sobre o movimento de um corpo produzido por um número qualquer de forças é o mesmo efeito produzido por uma força única igual à soma vetorial de todas as forças. Esse resultado importante denomina-se princípio da Superposição das Forças. (YOUNG. H. D; FREEDMAN. Física 1-Sears & Zemansky. Mecânica. 12ª. Edição. Ed. Pearson.) Figura 3.4 – Achando os componentes do vetor soma (resultante) R de duas forças F1 e F2. 3.6 RELAÇÃO ACELERAÇÃO ENTRE FORÇA E I.Uma força resultante que atua sobre um corpo faz com que o corpo acelere na mesma direção da força e sentido da força. II.Se o módulo da força resultante for constante a aceleração produzida sobre o corpo também será. Figura 3.3 – Duas forças F1 e F2 que atuam sobre um ponto A exercem o mesmo efeito que uma força R dada pela soma vetorial. Em problemas de mecânica, só entendemos (e em muitos casos, só resolvemos) os problemas se tratamos as forças pelo o que elas são. Entes vetoriais! Normalmente precisamos determinar o vetor soma (resultante) de todas as forças que atuam sobre um corpo. Chamaremos essa soma de força resultante que atua sobre um corpo. 𝑁 𝑅⃗ = ∑ 𝐹𝑖 𝑖=1 III.Quanto maior a força resultante aplicada sobre o corpo maior a aceleração produzida. IV.Corpos de massas distintas adquirem acelerações distintas quando submetidos à mesma força resultante. V.Quanto mais massivo for o corpo menor a aceleração produzida para uma mesma força resultante. IMPORTANTE! Todo corpo que não está em equilíbrio sob a ação de uma ou mais forças está acelerado, e a recíproca é verdadeira. Se o corpo está acelerado é porque há uma força resultante não nula atuando sobre ele. 30 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR IMPORTANTE! A segunda lei de Newton refere-se a forças externas. A segunda lei de Newton é válida somente em sistemas de referenciais inerciais, assim como é também para a primeira lei de Newton. Segunda Lei de Newton na Engenharia analisando um par de forças atuando sobre o mesmo corpo pode afirmar com certeza que não é um par de ação e reação. Vamos agora estabelecer de forma mais precisa a terceira lei por meio de alguns enunciados equivalentes. Enunciados “Quando um corpo A exerce uma força sobre um corpo B (uma ‘ação’), então o corpo B exerce uma força sobre o corpo A (uma ‘reação’). Essas duas forças possuem mesmo módulo e mesma direção, porém são orientadas em sentidos contrários. Essas duas forças atuam em corpos diferentes.” “Quando dois corpos interagem, as forças que cada força exerce sobre o outro são sempre iguais em módulo e possuem sentidos contrários.” Figura 3.5 – O projeto de uma motocicleta de alto desempenho depende fundamentalmente da segunda lei de Newton. Para maximizar a aceleração, o projetista deve fazer a motocicleta ser mais leve possível (isto é, minimizar sua massa) e usar o motor mais potente possível (isto é, maximizar a força motriz). 3.7 TERCEIRA LEI DE NEWTON Das três leis de Newton, a 3ª Lei talvez seja a mais conhecida pelos estudantes e pelo grande público, embora com alguns equívocos, em geral. Nesse sentido é importante termos claro o que é e o que não é a 3ª Lei de Newton. Uma das maneiras menos formais e talvez mais poéticas de se enunciar essa lei seria: “É impossível tocar sem ser tocado”. Com isso queremos dizer que o ato de tocar traz uma consequência intrínseca. Você toca em algo ou em alguém e necessariamente é tocado de volta no com o contato físico com o objeto ou pessoa. Outra maneira interessante de colocar a 3ª Lei: “Forças acontecem aos pares!”, uma vez que é impossível haver uma ação sem reação. Já sabemos que a reação não é nem mais intensa e nem menos intensa que a ação. Outro ponto importantíssimo: A ação se dá num corpo e a reação se dá em outro corpo. Se você estiver Figura 3.6 – Identificação das forças em ação, quando um pedreiro puxa uma corda amarrada a um bloco. Figura 3.7 – As forças horizontais que atuam sobre a 31 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR combinação bloco-corda (à esquerda) e o pedreiro (à direita). (As forças verticais não são mostradas). 3.8 DIAGRAMA DE CORPO LIVRE O que é um diagrama de corpo livre? Podemos encarar como um procedimento padrão para resolver diversos problemas de mecânica. Vamos tentar sistematizá-lo através de perguntas e respostas. em uma única direção, ou seja, se o problema for unidimensional, basta estabelecer o sentido positivo do eixo). 1) Qual o primeiro passo? R: Seria desenhar uma figura, um esboço da situação que será estudada, contendo o objeto ou sistema físico que será estudado e a representação geométrica (vetores indicados por setas) de todas as forças que atuam sobre o corpo. No primeiro passo, você deve entender e responder por meio desse recurso gráfico a seguinte pergunta: O que eu estou estudando? Em linguagem de físico, dizemos que ao responder a essa pergunta você está delimitando o objeto de estudo. Muitas vezes, para poupar tempo, representamos o objeto estudado por um ponto e colocamos sobre o mesmo a representação geométrica de todas as forças que atuam sobre o objeto. Figura 3.8 - A figura acima representa: a) um esboço da situação a ser estudada. b) as forças atuantes no corpo A. c) a força atuante no corpo B. 2) Qual o próximo passo? R: Representar todas as forças que atuam sobre o objeto. Ou seja: Não deixe força de fora (das que atuam sobre o objeto); não coloque forças que o objeto exerce na vizinhança. Após a representação de todas as forças que atuam sobre o objeto, em geral é necessário escolher um sistema de coordenadas para decompor as forças (se todas as forças estiverem contidas Figura 3.9 – (a) Uma caixa sobe um plano inclinado, puxada por uma corda. (b) As três forças que agem ⃗ a força gravitacional cobre a caixa: a força da corda 𝑇 𝐹𝑔 e a força normal 𝐹𝑁 . (c) As componentes de 𝐹𝑔 na direção ao plano inclinado e na direção perpendicular. IMPORTANTE! Não se deve confundir a representação das forças que atuam sobre o objeto com as componentes das forças que atuam sobre o objeto. As componentes já implicam em uma escolha de sistema de coordenadas específica. 3) Após escolher o sistema de coordenadas que usaremos para decompor as forças, prosseguimos na resolução do problema encontrando a força resultante para cada eixo do sistema de coordenadas. Para isso fazemos a somatória de forças para cada eixo, ou seja, encontramos as componentes do vetor força resultante. Em geral, podemos afirmar que problemas de dinâmica necessitam de procedimentos de soma vetorial. Observação 1: Se for um problema de estática, temos que a força resultante sobre o sistema é nula. Nesse caso vamos trabalhar com um sistema de equações em que cada componente da força resultante é igual à zero. Observação 2: Ao longo da resolução dos problemas vamos ganhando experiência na escolha de eixos coordenados de modo a simplificar a resolução do problema. 32 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR 4) Tendo as componentes do vetor força resultante, temos todos os elementos para prosseguir até o final da resolução do problema. 5) Após chegar ao final da resolução do problema, você como engenheiro, vai analisar a validade da solução encontrada. Para isso, faça uma análise dimensional da resposta; análise situações limites¸ e veja se o a resposta fornece resultado fisicamente aceitáveis ou se fornece resultados absurdos. Uma vez que entendemos o passo a passo do diagrama de corpo livre, podemos resumi-lo. Diagrama de corpo livre é uma representação (esboço ou figura) do problema a ser estudado em que você define o objeto (corpo ou sistema físico) que você vai estudar e nele você representa todas as forças que atuam sobre o próprio. Atenção! Você deve colocar no diagrama as forças que atuam sobre o corpo, e não as forças que o corpo exerce sobre a sua vizinhança. PERGUNTAS CONCEITUAIS: 5. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Por que o chute em uma rocha grande pode machucar mais o seu pé do que o chute em uma rocha pequena? A rocha grande deve sempre machucar mais? Explique 6. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Por que motivo de segurança um carro é projetado para sofrer esmagamento na frente e na traseira? Por que não para colisões laterais e capotagens? 7. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Quando um peso grande é suspenso por um fio no limite de sua elasticidade, puxando-se o fio suavemente o peso pode ser levantado; porém, se você puxar bruscamente, o fio se rompe. Explique isso usando as Leis de Newton para o movimento. 8. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Um cavalo puxa uma carroça. Uma vez que a carroça puxa o cavalo para trás com uma força igual e contrária à força exercida pelo cavalo sobre a carroça, por que a carroça não permanece em equilíbrio, independentemente da força que o cavalo imprime na carroça? 1. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Pode um corpo permanecer em equilíbrio quando somente uma força atua sobre ele? Explique. 2. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Uma bola lançada verticalmente de baixo para cima possui velocidade nula em seu ponto mais elevado. A bola está em equilíbrio nesse ponto? Por que sim ou porque não? 3. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Quando um carro para repentinamente os passageiros tendem a se mover para frente em relação aos seus assentos. Quando um carro faz uma curva abrupta para um lado os passageiros tendem a escorregar para um lado do carro. Por quê? 4. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Algumas pessoas dizem que , quando um carro para repentinamente, os passageiros são empurrados para frente por uma ‘força de inércia’ (ou ‘força de momento linear’). O que existe de errado nessa explicação? 9. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Em um cabode-guerra duas pessoas puxam as extremidades de uma corda em sentidos opostos. Pela terceira Lei de Newton, a força que A exerce em B tem módulo igual à força que B exerce em A.O que determina quem é o vencedor?(Dica desenhe um diagrama de corpo livre para cada pessoa) 10. (SEARS & ZEMANSKY, 12ª Ed) Você amarra um tijolo na extremidade de uma corda e o faz girar em torno de você em um círculo horizontal. Descreva a trajetória do tijolo quando você larga repentinamente a corda usando diagrama de corpo livre. 33 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR 11. (CUTNELL & JOHNSON, 6ª Ed) Uma casinha para alimentar pássaros possui grande massa e está pendurada em um galho de árvore, como mostrado no desenho. Um fio preso ao fundo da casinha foi deixado solto e fica balançando. Uma criança fica curiosa com o fio balançando e puxa o fio tentando ver o que existe dentro da casinha. O fio que fica balançando foi cortado do mesmo carretel do que prende a casinha ao galho. É mais provável que o fio entre a casinha e o galho arrebente com um puxão contínuo e lento , ou com um puxão repentino para baixo. Apresente seu raciocínio. 12. (CUTNELL & JOHNSON, 6ª Ed) A força externa resultante que age sobre um objeto é nula. É possível que o objeto esteja viajando com uma velocidade que não seja nula? Se a resposta é sim, diga se há condições que devam ser impostas ao módulo, direção e sentido do vetor velocidade. Se a sua resposta for não, forneça uma explicação para ela 13. (CUTNELL & JOHNSON, 6ª Ed) Um pai e sua filha de sete anos de idade estão frente a frente em cima de patins de gelo. Com suas mãos, eles se empurram de modo a se afastarem. (a) Comparem os módulos das forças que eles experimentam. (b) Qual deles, em caso positivo, sente a maior aceleração? Justifique sua resposta. 34