VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO APOSTILA DE FILOSOFIA GERAL Prof.a: Leila Mara Mello Rio de Janeiro/2008 FILOSOFIA O nascimento da Filosofia se deu com a passagem da consciência mítica (mythos = palavra) para a racional (logos = razão). A palavra filosofia surge quando Pitágoras (século VII a.C.) cunha o termo philosophia, unindo philia, cujo significado é “amizade”, a “Sophia”, que significa “sabedoria” para indicar: Philia = amizade Procura amorosa da sabedoria Sophia = sabedoria Vamos esclarecer o que é filosofia fazendo a leitura abaixo. Filosofia e educação ALEX SOUTO ARRUDA1 Alguém uma vez na vida já se perguntou, o que é e para que serve a Filosofia? Definir filosofia não é uma questão simples, pois, os seus vários conceitos variam de acordo com o pensamento de diferentes filósofos. Para alguns, a filosofia deveria se preocupar com a essência, para outros deveria voltar-se para o fenômeno. Uns acreditam que a busca da verdade é a função da filosofia, outros entendem que á através da fé que ela se concretiza, confundindo religião com filosofia. Mas, temos que ver que todas estas definições visam o desenvolvimento do saber em busca do benefício e da felicidade do homem. Logo, se a Filosofia, como saber, tenta resolver os fins mais práticos da vida, ela nos mostra resposta para fins considerados fundamentais como a liberdade, a fraternidade, a felicidade pessoal e coletiva etc. A filosofia possui uma clara função social, pois, cabe aos filósofos estarem atentos às questões fundamentais de seu tempo, buscando encontrar um programa de ação que possa apresentar explicações e possíveis respostas. Desta forma, podemos dizer que a filosofia é muito útil à sociedade, já que ela proporciona uma compreensão das questões sociais, com bases morais. Muito se demonstrou, ao longo da história, a contribuição que os filósofos prestaram à sociedade, incluindo o âmbito político, social, econômico e religioso. Portanto, a filosofia é um dos melhores meios que possibilita engajarmos no mundo, através do uso da nossa razão, questionando os pontos óbvios e cruciais 1 (Bacharel em Direito – Advogado Militante – Pós-graduado em Direito Processual Civil – Mestrando em Ciência Sociais da Religião – Graduando em Filosofia) Disponível em http://www.webartigos.com/articles/5200/1/filosofia-e-educacao/pagina1.html 2 que acontecem no cotidiano para uma melhor educação e transformação do cidadão. O filósofo nunca foi só um contemplador do mundo, como algumas pessoas pensam, mas foi sempre um produtor de idéias. E só as idéias podem mudar o mundo de forma significativa, uma vez que estamos sempre em evolução. Como dizia o poeta: “O tempo não para..." (Cazuza). Mas, os inimigos maiores dos filósofos são os círculos viciosos das idéias. Se ele não conseguir transcendê-los, superá-los com novos conceitos e idéias, será para todo o sempre um pensador medíocre que parou no tempo e no espaço e que não conseguiu ver além da realidade que ele vive ou viveu. Assim, deve o filósofo abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum, não se deixando guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos, buscando compreender a significação do mundo, da cultura, da História, pois, conhecendo o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política, ele possa dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para termos consciência das ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos, num processo de transformação educacional, já que tudo isso nada mais é que educação. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O MITO - A FILOSOFIA - A CIÊNCIA O Mito Segundo Chauí (1997), um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder etc.). A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E, essa autoridade, vem do fato de que ele testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados. Quem narra o mito? No início foram os poetas-rapsodos, ou seja, cantores ambulantes que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública. Acredita-se que o poeta era um escolhido dos deuses, que lhe mostraram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina, logo incontestável e inquestionável. O mito narra à origem do mundo e de tudo o que nele existe por meio das lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais ou divinas que governam o mundo e o destino dos homens, sem a preocupação com a autoria da obra, já que o anonimato é a conseqüência do coletivismo, fase em que ainda não se destacava a individualidade. Além disso, não havia a escrita para fixar obra e autor. 3 Assim sendo, os mitos eram a mistura de poesia e formas de pensamento que ajudavam os gregos a compreender o Universo e a condição humana. Podemos afirmar que há muitos modos de se conhecer o mundo, dependem da situação do sujeito diante do objeto do conhecimento. Os gregos criaram vários mitos para poder passar mensagens para as pessoas e também com o objetivo de preservar a memória histórica de seu povo. Há três mil anos, não havia explicações científicas para grande parte dos fenômenos da natureza ou para os acontecimentos históricos. Portanto, para buscar um significado para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram uma série de histórias, de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente, através da literatura oral. Grande parte destas lendas e mitos chegou até os dias de hoje e são importantes fontes de informações para entendermos a história da civilização da Grécia Antiga. São histórias riquíssimas em dados psicológicos, econômicos, materiais, artísticos, políticos e culturais. Mitologia Grega. Os gregos antigos enxergavam vida em quase tudo que os cercavam, e buscavam explicações para tudo. A imaginação fértil deste povo criou personagens e figuras mitológicas das mais diversas. Heróis, deuses, ninfas, titãs e centauros habitavam o mundo material, influenciando em suas vidas. Bastava ler os sinais da natureza, para conseguir atingir seus objetivos. A pitonisa, espécie de sacerdotisa, era uma importante personagem neste contexto. Os gregos a consultavam em seus oráculos para saber sobre as coisas que estavam acontecendo e também sobre o futuro. Quase sempre, a pitonisa buscava explicações mitológicas para tais acontecimentos. Agradar uma divindade era condição fundamental para atingir bons resultados na vida material. Um trabalhador do comércio, por exemplo, deveria deixar o deus Hermes sempre satisfeito, para conseguir bons resultados em seu trabalho. Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga eram: - Heróis: seres mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplos: Herácles ou Hércules e Aquiles. - Ninfas: seres femininos que habitavam os campos e bosques, levando alegria e felicidade. - Sátiros: figura com corpo de homem, chifres e patas de bode. - Centauros: corpo formado por uma metade de homem e outra de cavalo. - Sereias: mulheres com metade do corpo de peixe que atraíam os marinheiros com seus cantos atraentes. - Górgonas: mulheres, espécies de monstros, com cabelos de serpentes. Exemplo: Medusa - Quimeras: mistura de leão e cabra, soltavam fogo pelas ventas. - Medusa: mulher com serpentes na cabeça Deuses gregos De acordo com os gregos, os deuses habitavam o topo do Monte Olimpo, principal montanha da Grécia Antiga. Deste local, comandavam o trabalho e as relações sociais e políticas dos seres humanos. Os deuses gregos eram imortais, porém possuíam características de seres humanos. Ciúmes, inveja, traição e violência também eram 4 características encontradas no Olimpo. Muitas vezes, apaixonavam-se por mortais e acabavam tendo filhos com estes. Desta união entre deuses e mortais surgiam os heróis. Conheça os principais deuses gregos: Zeus - deus de todos os deuses, senhor do Céu. Afrodite - deusa do amor, sexo e beleza. Poseidon - deus dos mares Hades - deus das almas dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo. Hera - deusa dos casamentos e da maternidade. Apolo - deus da luz e das obras de artes. Artemis - deusa da caça Ares - divindade da guerra. Atena - deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da cidade de Atenas. Hermes - divindade que representava o comércio e as comunicações Hefestos - divindade do fogo e do trabalho. Disponível em http://www.suapesquisa.com/mitologiagrega/ De acordo com Olivieri (2008, p. 1): Ao olhar as estrelas no céu noturno, um índio caiapó as enxerga a partir de um ponto de vista bastante diferente do de um astrônomo. O caiapó vê nas estrelas as fogueiras que alguns de seus deuses acendem no céu para tornar a noite mais clara. O cientista vê astros que têm luz própria e que formam uma galáxia. O índio compreende e conhece as estrelas a partir de um ponto de vista mitológico ou religioso. O astrônomo as compreende e conhece a partir de um ponto de vista científico. Assim sendo, podemos afirmar que tanto a mitologia quanto a ciência são formas de conhecer o mundo, modos de conhecimento, assim como o senso comum, a filosofia e a arte. Todos eles são formas de conhecimento, em que cada uma, ao seu modo, desvenda os segredos do mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido. Vamos examinar mais de perto cada uma dessas formas de conhecimento. O mito proporciona um conhecimento que explica o mundo a partir da ação de entidades - ou seja, forças, energias, criaturas, personagens - que estão além do mundo natural, que o transcendem, que são sobrenaturais. Veja, por exemplo, o mito através do qual os antigos gregos explicavam a origem do mundo, segundo Oliviere (op.cit): No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, denso e profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de um modo inexplicável e incompreensível, emergiram a Noite negra e a Morte impenetrável. Da muda união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito do vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta à deles, o Amor, que surgiu cintilando dentro de um ovo incandescente. Ao ser posto no regaço do Caos, sua casca resfriou e se partiu em duas metades que se transformaram no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espiando-se em deslumbramento mútuo, empapuçados de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a Terra, fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante e hospitaleiro. 5 Assim como o mito, a religião, ou melhor, as religiões também apresentam uma explicação sobrenatural para o mundo. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa explicação. Além disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a fé em que essa explicação sobrenatural proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações. Antes de seguir em frente, convém esclarecer que não vem ao caso discutir aqui a validade do conhecimento religioso. Em matéria de provas objetivas, se a religião não tem como provar a existência de Deus, a ciência também não tem como provar a Sua inexistência. E, a propósito disso, vale a pena apresentar uma outra narrativa filosófica: “Certa vez, um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O neurologista era cristão, e o cosmonauta não. “Já estive várias vezes no espaço”, gabouse o cosmonauta, “e nunca vi nem Deus, nem anjos”. “E eu já operei muitos cérebros inteligentes”, respondeu o neurologista, “e também nunca vi um pensamento”. (O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995). A passagem do pensamento mítico para o pensamento crítico racional, ou seja, a ciência da Lógica que estuda como raciocinar corretamente foi criada pelos gregos. Aliás, o que pensar? O que a mente humana é capaz de pensar? Essas questões são feitas por um grupo de pessoas que se dedicam a pensar profundamente a existência humana: os filósofos. Nasce o pensamento filosófico pelo surgimento da filosofia na Grécia, não como resultado de um salto, um milagre realizado por um povo privilegiado, mas sim culminação de um processo que se fez através dos tempos. A Ciência A ciência procura descobrir como a natureza "funciona", considerando, principalmente, as relações de causa e efeito. Nesse sentido, pretende buscar o conhecimento objetivo, isto é, que se baseia nas características do objeto, com interferência mínima do sujeito. Veja, por exemplo, a seguinte descrição científica: O coração é um músculo oco, em forma de cone achatado com a base virada para cima e a ponta voltada para baixo, do tamanho aproximado de um punho fechado. O músculo cardíaco é chamado de miocárdio. Sua superfície interna é recoberta por uma membrana delgada, o endocárdio. Sua superfície externa tem um invólucro fibro-seroso, o pericárdio. Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998 A definição tradicional de ciência pressupõe que ela seja um modo de conhecimento com absoluta garantia de validade. A ciência moderna já não tem a pretensão ao absoluto, mas ao máximo grau de certeza. Quanto à garantia de validade, ela pode consistir: - Na descrição, conforme o exemplo acima; - Na demonstração, como no caso de um teorema matemático; - Na corrigibilidade, ou seja, na possibilidade de corrigir noções e conceitos, a partir dos avanços da própria ciência. Finalmente, é importante esclarecer que a aplicação da ciência resulta na tecnologia, ou no conhecimento tecnológico. O Senso Comum O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada na opinião, que não inclui nenhuma garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso comum designa as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos homens acredita ou devem acreditar. 6 O conhecimento na partir do senso comum não é refletido e se encontra misturado à crença e aos preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não crítico), fragmentário (porque difuso, assistemático, muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador (resiste às mudanças). Isto significa, que o primeiro estádio de conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente, características estas que não precisam ser necessariamente atributos de forma mais requintada de conhecer, tais como a ciência ou a filosofia. Em outras palavras, o senso comum precisa ser transformado em bom senso, este entendido como a elaboração coerente do saber e como explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres. Segundo o filósofo Gramsci, o bom senso é “o núcleo sadio do senso comum” (ARANHA, 1996, p. 35). Qualquer homem, se não foi ferido em sua liberdade e dignidade, e se teve ocasião de desenvolver a habilidade crítica, será capaz de autoconsciência, de elaborar criticamente o próprio pensamento e de analisar adequadamente a situação em que vive. É nesse estádio que o bom senso se aproxima da filosofia, da filosofia da vida. A mais completa tradução do senso comum talvez sejam os ditados populares. A título de exemplo, eis alguns: "Cada cabeça, uma sentença." "Quem desdenha quer comprar." “Quem ri por último ri melhor." "A pressa é a inimiga da perfeição." "Se conselho fosse bom, não era dado de graça." A Filosofia Para Platão, a filosofia é o uso do saber em proveito do homem. Isso implica a posse ou aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo possível; e também o uso desse conhecimento em benefício do homem. Essa definição, porém, exige a uma definição de benefício, que por sua vez exige uma definição de Bem. Para saber o que é o Bem, entretanto, também é necessário descobrir o que é a Verdade. Alguns filósofos definem a filosofia como a busca do Bem, da Verdade, do Belo e de como os homens podem conhecer essas três entidades. Portanto, a filosofia toma para si a árdua tarefa de debater problemas ou especular sobre problemas que ainda não estão abertos aos métodos científicos: o bem e o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida e a morte. Tradicionalmente, a filosofia se divide em cinco áreas: Lógica - estuda o método ideal de pensar e investigar; Metafísica - estuda a natureza do Ser (ontologia), da mente (psicologia filosófica) e das relações entre a mente e o ser no processo do conhecimento (epistemologia); Ética - estuda o Bem, o comportamento ideal para o ser humano; Política - estuda a organização social do homem; Estética - estuda a beleza e que pode ser chamada de filosofia da Arte. Convém concluir lembrando que a ciência e o pensamento científico se originaram com a filosofia na Grécia da Antigüidade. Com o passar do tempo, certas áreas da especulação filosófica, como a matemática, a física e a biologia ganharam tal especificidade que se separaram da filosofia. Comente a poesia de Flavio Cardo Reis. 7 Mitologia Brasileira Mitologia Nem grega, nem romana Pois mito, é o que foi dito Deuses substituídos Sem serem trocados Heróis supridos Por crenças De todas as regiões. Sem Afrodite, Zeus e Hera Anhagá, botos e curupiras Protegem nossa terra Embalados pelo Canto do Uirapuru. Também temos nossas Não são minotauros, medusas ou Quimera Os boitatás, lobisomens e chupa cabras Assombram quem os desperta. Hércules, Aquiles e outros guerreiros Se tornaram heróis gregos Mas Tiradentes, Zumbi dos Palmares Até mesmo Dom Pedro I Também devemos acrescentar Um povo movido pela fé Lutando contra seus medos. História ainda a serem contadas Que preencheram estantes e prateleiras História de nossa terra Uma mitologia brasileira. QUAIS AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA? Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: As viagens marítimas permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por outros monstros e seres fabulosos não possuíam monstros e nem seres fabulosos. As viagens produziram desencantamento ou desmistificação do muno, que passou assim, a exigir uma explicação que o mito não podia oferecer. A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como poder divino incompreensível. A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, ou seja, uma troca feita por cálculo de valor semelhante 8 das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização. O surgimento da vida urbana, com o predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de trocas, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietárias de terras, por que para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terra e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo das artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir. A invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário e da moeda, revela crescimento da capacidade de abstração e da generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas – como, por exemplo: os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o quê dela se pensa e se transcreve. A invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia. 1- A idéia da lei com expressão da vontade de uma coletividade humana que decide opor si mesma o que é melhor para si mesma o que é melhor e com ela definirá suas relações internas; 2- O surgimento de um espaço público, que fez parecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele proferido pelo mito. 3A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulado por seitas sagradas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. Nietzsche (século XIX) afirma que os outros povos da antiguidade nos deram santos; só os gregos nos deram sábios. Por que esta afirmação? Porque a democracia de Atenas valorizava as pessoas capazes de falar bem e de convencer as pessoas. Daí o surgimento dos primeiros mestres, pessoas que refletiam sobre todos os setores da indagação humana, na procura da verdade, não se fazendo somente na pura razão, mas também na amorosidade. Eles eram denominados de filósofos sofistas. Etimologicamente, a palavra sofista vem de sophos, que significa sábio, ou melhor, professor da sabedoria. Os primeiros sábios ocupam-se, sobretudo, com a natureza (physis). Sendo assim, os sofistas procedem à passagem para a reflexão propriamente antropológica, voltada para as questões da moral e da política. Podemos afirmar que eles foram responsáveis por elaborar teoricamente e legitimar o ideal democrático da classe em ascensão, a dos comerciantes enriquecidos. Os sofistas fascinam a juventude com o brilhantismo da sua retórica e se propõem a ensinar a arte da persuasão, do convencimento, do discurso, que serão bem aproveitados na praça pública, sedes de assembléia democráticas. Os mais famosos sofistas foram Protágoras de Abdera (485 – 410 a C.), Geórgia de Leôncio (485 – 380 a C.), e outros, como Trasímico e Hipódamso. Os sofistas são criadores da educação intelectual, que vai se tornar independente da educação física e musical, até então predominantes nos ginásios. Entretanto, em conseqüência do desenvolvimento da escrita, do surgimento da moeda, do nascimento da polis (cidade – estado) e o aparecimento dos filósofos que crítica à atitude intelectual dos sofistas, pois alguns sofistas manipulavam a linguagem para convencer as pessoas que 9 coisas absurdas eram “verdadeiras” e ao costume de cobrarem muito caro de quem quisesse aprender suas técnicas de falar bem em público. Por causa disso, o sofisma passou a ser sinônimo de um raciocínio incorreto, de uma frase aparentemente lógica, mas que na verdade está enganando as pessoas. Nesse bojo, nasce o pensamento racional e filosófico, em substituição ao mítico. Uma nova visão que homem passa a ter do mundo e de si próprio se dá pelo surgimento da FILOSOFIA. Nasce uma nova concepção de virtude diferente do valor do guerreiro belo e bom. Se antes a virtude é ética e aristocrática, agora ela é política, voltada para o ideal democrático da igual repartição de poder. Surge a problematização e a discussão de uma realidade antes não questionada pelo mito. Os mais famosos filósofos que nos inspiram e persuadem a praticar a arte de pensar por nós mesmos foram, segundo os manuais de história: Na filosofia da Antigüidade foram: Sócrates (469 – 399 a C.); Aristócles, nome verdadeiro de Platão (428 – 347 a C.); Isócrates (436 – 338 a C.) e Aristóteles (384 – 332 a C.). “O pensamento está, sobretudo, no sentimento (phatos), da admiração da realidade (ón) ... aviva nele o desejo (eros), da fala (logos), a mais bela morada (éthos) do humano. Esse pensamento vai persistir em todas épocas subseqüentes. Ainda hoje nos sentimos aprendizes dos discursos dessa Antigüidade. Seus textos seus mestres insuperáveis” (BUZZI, 2001, p.14). Na filosofia da Idade Média foram: Santo Agostinho de Hipona (354-430), Santo Tomas de Aquino (1225-1275) e outros. Nesse período, os filósofos compreendiam à existência humana no mundo como forma encarnada dos mistérios do Cristianismo, tinham o pensamento na grande experiência da fé. Na experiência desta fé, os medievais desenvolveram a teologia e nesse sistema assimilaram a filosofia da Antigüidade. Na filosofia da Idade Moderna foram: Francis Bancon (1516-1626), Jonh Locke (16321704) Augusto Comte (1798-1857) e outros (Representantes do Empirismo). Renato Descartes (1596-1650), Immanuel Kant (1724-1804), Frederich Hegel (1770-1831) e outros (Representantes do Racionalismo). Nesse período, o pensamento está no interesse da ciência que pesquisa e domina a natureza de justificar seu uso com caminho de realização plena da Humanidade. É costume dividir uma diferença entre os filósofos da Modernidade, classifica-os em empiristas e racionalistas. Na filosofia Contemporânea, o pensamento está na necessidade de re-encontrar a sabedoria originária ou o sentido da existência humana no mundo, assentada no dorso indomável da máquina, arrastada pelo turbilhão da Ciência, no delírio do consumismo e na exaustão da natureza. Nessa experiência de esquecimento do sentido, e de perda da sabedoria de vida, começa a filosofar. Por causa disso, estamos hoje numa aprendizagem de pensar bem próximo dos antigos. Como eles, nós devemos começar tudo de novo. Os filósofos modernos precursores da contemporeidade destacamos Rosseau (17121778), Marx (1818-1883), Freud (1856-1939), Heidegger (1889-1978) e outros FILOSOFIA É um pensar permanente, de tudo que existe no universo, no todo da realidade, de modo mais genérico e sistemático. É o pensamento instituinte questionando o saber instituído. É à busca da coerência interna, da definição rigorosa de conceitos, do debate, da discussão organizada em doutrinas e do surgimento do pensamento abstrato. 10 A visão da Filosofia é de conjunto, nunca trata o problema examinando-o de forma parcial, mas na perspectiva de conjunto, na relação de cada aspecto com outros do contexto em que está inserido. A Filosofia tem múltiplos aspectos: Especulativo contemplativo e conjuntural – conhecimento de Deus e das realidades divinas não por métodos discursivos e sim pela vivência. Prescrito ou normativo quando recomenda valores. Crítico ou analítico quando examina conceitos tais como a mente, o eu e a causa, em diferentes contextos, a fim de sinalizar as incoerências do nosso temperamento. A Filosofia é simultaneamente natural e necessária ao homem, porque o espírito humano busca eternamente uma visão mundial ou uma estrutura compreensiva, através da qual as nossas intuições sobre a realidade possam ser explicadas. Logo, ela não é apenas uma parte do nosso conhecimento, mas é a abrangência de interligação de outras disciplinas em sua base teórica. No século XVII, Galileu dá início à promoção da autonomia da ciência e seu desligamento da filosofia, permanecendo até o século XX, com o surgimento da fragmentação do saber. Surgem as ciências particulares como a Física, a Química, a Biologia, a Matemática, a Astronomia, a Psicologia, a Sociologia, delimitando o campo específico de pesquisa a ser estudado por cada ciência. Assim cabe investigar: O movimento do corpo Física A natureza dos seres vivos Biologia As transformações substanciais Química Delimita-se o objeto da ciência – o confronto dos resultados e a verificabilidade permitem certa objetividade. Aperfeiçoam-se os métodos científicos. (experimentação ou matematização). Na intenção de substituir o saber parcelado em uma perspectiva de tratar o problema em uma visão de conjunto, ressurge a Filosofia. Hoje, reconhece-se que o saber especializado, sem a devida visão de conjunto leva a exaltação do discurso competente e às conseqüentes formas de dominação (ARANHA, 1998). A Filosofia é a possibilidade da transcendência, ou seja, a capacidade de que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. É pela transcendência que o Homem surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino. De acordo com TELES (1996, p.13): Na filosofia aprendemos a analisar os elementos que compõem a existência do ser-no-mundo, isto porque há em nós uma inquietação existencial congênita. Ao filosofar, avivamos nossa própria luz interior, fazemos um exercício de aproximação e de encontro com o que é buscado. Há, pois, o descobrimento e o dia’logo, em busca do descobrimento. Por isso, filosofia é o conhecimento do conhecimento. Aí está a sua diferença com relação à ci6encia. Enquanto esta trata dos dados experimentais da realidade, a filosofia trata das idéias, conceitos e representações mentais daquela mesma realidade. 11 IDEOLOGIA Percebemos que não é automática a passagem do conhecimento do senso comum ao bom senso e um dos obstáculos ao processo se encontra na difusão da ideologia. Existem vários sentidos para a palavra ideologia. Em sentido amplo, é o conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Quando indagamos a qual é a ideologia de determinado pensador, estamos nos referindo à doutrina, ao corpo sistemático de idéias e ao seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos. É nesse sentido que falamos em ideologia liberal ou ideologia marxista. Podemos nos referir à ideologia enquanto teoria, no sentido de organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a ação efetiva. Logo, existe uma ideologia de uma escola, que orienta a prática pedagógica; a ideologia religiosa que dá regras de conduta aos fiéis; a ideologia de um partido político, que estabelece determinada concepção de poder e fornece diretrizes de ação a seus filiados. O conceito ideologia tem outro sentido mais específico, como nos afirma Aranha (1996), a ideologia adquire um sentido negativo como instrumento de dominação. Isto significa que a ideologia tem influência marcante nos jogos de poder e na manutenção dos privilégios que plasmam a maneira de pensar e de agir dos indivíduos na sociedade. A ideologia de tal forma é insidiosa que até aqueles em nome de quem ela é exercida não lhe perceberiam o caráter ilusório (p. 36). Segundo Gramsci (1891- 1937), as ideologias historicamente orgânicas são necessárias, porque “organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc. Em todas as manifestações de vida individuais e coletivas e que tem por função conservar a unidade de todo o bloco social”. Portanto, em um primeiro momento, enquanto concepção de mundo, a ideologia tem função positiva de atuar como “cimento” de estrutura social. Ela ajuda a estabelecer o consenso, o que em ‘’ultima análise confere hegemonia a uma determinada classe, que passará a ser dominante. Segundo Gramsci, isto não significa que os dominados permaneçam submissos indefinidamente, pois no senso comum poderão ser trabalhados elementos de bom senso e de instinto de classe que aos poucos formarão por sua vez a ideologia dos dominados. Daí a necessidade da formação de intelectuais surgidos da própria classe subalternas e capazes de organizar coerentemente concepção de mundo dos dominados. Para Chauí (1997): a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade, o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer”. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e práticos (normas, regras e preceitos) de caráter preescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividas em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera de produção. Pelo contrário, a função da ideologia é apagar as diferenças, como as de classe, e de fornecer aso membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de 12 todos e para todos, como por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou Estado (p.113). A ideologia se caracteriza pela naturalização, na medida em que são consideradas naturais as situações, que na verdade são produtos da ação humana, logo, são históricos e não naturais; por exemplo, dizer que a divisão da sociedade em ricos e pobres faz parte da natureza; ou que é natural que uns mandam e outros obedeçam. Sendo assim, a universalidade das idéias e dos valores é resultado de uma abstração, ou seja, as representações ideológicas não se referem ao concreto, mas ao aparecer social. VAMOS REFLETIR SOBRE A LETRA DA MÚSICA ABAIXO: Ideologia Cazuza Composição: Cazuza/Roberto Frejat Meu partido É um coração partido E as ilusões Estão todas perdidas Os meus sonhos Foram todos vendidos Tão barato Que eu nem acredito Ah! eu nem acredito... Que aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Frequenta agora As festas do "Grand Monde"... Meus heróis Morreram de overdose Meus inimigos Estão no poder Ideologia! Eu quero uma prá viver Ideologia! Eu quero uma prá viver... O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs Não tem nenhum rock 'n' roll Eu vou pagar A conta do analista Prá nunca mais Ter que saber 13 Quem eu sou Ah! saber quem eu sou.. Pois aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste a tudo Em cima do muro Em cima do muro... Meus heróis Morreram de overdose Meus inimigos Estão no poder Ideologia! Eu quero uma prá viver Ideologia! Prá viver... Pois aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste a tudo Em cima do muro Em cima do muro... Meus heróis Morreram de overdose Meus inimigos Estão no poder Ideologia! Eu quero uma prá viver Ideologia! Eu quero uma prá viver.. Ideologia! Prá viver Ideologia! Eu quero uma prá viver... FILOSOFIA E A CIÊNCIA CIÊNCIA origem do latim scientia, significa “sabedoria”, “conhecimento”. Caracteriza pela busca de conhecimento sistemático e seguro dos fenômenos do mundo. Objetivo básico da ciência tornar o mundo compreensível, proporcionando ao seres humanos os meios para exercer o controle sobre a natureza. “O homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão”. (BRONAUSKI) 14 Visão negativa da ciência Segundo Nietzsche, “o conhecimento se dá através da força e da dominação, isto porque, todo conhecimento implica poder”. Nessa relação entre ciência e poder, Horkheimen e Adorno (1998, p. 78) afirmam que “o ditador trata o homem como o homem trata a natureza: ele a conhece para melhor controlá-la”. Papel do filósofo refletir sobre a ambigüidade da ciência, suas pretensões, suas possibilidades, seus acertos e seus erros, buscando compreender algumas questões: Qual a especificidade do saber científico? Quais as condições e limites desse conhecimento? Qual o valor da ciência para a vida humana? Quais os limites da atividade científica? O conhecimento científico só é alcançado através de um método científico. MÉTODO CIENTÍFICO (cada coisa em seu lugar) O método científico apresenta de um modo geral, uma estrutura lógica que se manifesta nas etapas para solução de um problema. ESQUEMA BÁSICO DESSAS ETAPAS 1- Enunciado de um problema A partir de observação dos fatos do mundo, o cientista enuncia um problema que o intriga que ainda não foi explicado pelo conjunto de conhecimentos disponíveis. O problema deve ser exposto com clareza e precisão, procurando todos os instrumentos possíveis para tentar resolvê-los. 2- Formulação de hipóteses Para solucionar o problema o cientista propõe uma resposta possível que constitui uma hipótese a ser avaliada na sua investigação. Isto significa que a hipótese é uma resposta não comprovada que deve ser testada cientificamente. 3Testes experimentais da hipótese É a testagem da validade da hipótese, cujo cientista procura investigar as conseqüências da solução proposta. A investigação deve ser controlada pelo cientista, para que o fator relevante previsto na hipótese seja suficientemente destacado na ocorrência do fato-problema. 4Conclusão 15 O cientista conclui a pesquisa científica, confirmando ou corrigindo a hipótese formulada ou testada. Inúmeras teorias científicas que, por algum tempo, reinaram como absolutamente sólidas e corretas, foram refutadas, substituídas ou modificadas por outras. Isto significa que os conhecimentos científicos não são inquestionavelmente certo, coerentes e infalíveis para o todo sempre. É como eles tivessem certas “condições de validade”. Toda teoria científica é revista ou corrigida por outra, levando às crenças que todos os conhecimentos científicos são passagens e condenados no futuro. A FILOSOFIA INVESTIGA A CIÊNCIA O campo de reflexão crítica sobre a ciência e seus métodos levou ao surgimento da filosofia da ciência, desdobrando-se em uma série de questões, tais como: o estudo do método de investigação científica; a classificação da ciência; a natureza das teorias científicas e sua capacidade de explicar a realidade; o papel da ciência e sua utilização na sociedade. FILOSOFIA E A CIÊNCIA Acredita-se geralmente que o cientista faz suas descobertas, mediante a observação de inúmeros fatos e depois, formulando generalizações, a partir dos mesmos. Isso não é inteiramente verdade. Com efeito, não existe o que se possa chamar uma observação sem preconceitos. A natureza não dita coisa alguma ao cientista e, pelo contrário, para usarmos uma metáfora jurídica, o cientista interroga a natureza. Para fazê-lo, deve saber precisamente que informações procurar; deve ter suas perguntas preparadas antecipadamente. É claro que não vai necessariamente encontrar aquilo que busca; pode não encontrar coisa alguma ou descobrir algo diferente. Mas sua investigação deve ter um propósito; isto é, deve principiar com uma hipótese, que é uma conjetura para guiar sua investigação. Como nasce uma hipótese? Pode ter origem em hipóteses anteriores ou surgir novinhas em folha – gerada na imaginação do cientista. O que se considera popularmente ciência – basicamente, a previsão e a comprovação experimental – só começa depois de a hipótese ter sido formulada, e isto requer algo mais do que generalização e verificação. Exige audácia imaginativa, a capacidade de pressentir uma ordem e um padrão nas coisas onde anteriormente nada fora vislumbrado. Todas as afirmações científicas são fatuais; as suas conseqüências podem ser verificadas, quer através dos sentidos, quer com instrumentos que constituem prolongamentos dos sentidos, por qualquer pessoa que siga os métodos conducentes às conclusões. A Filosofia por outro lado, examina as questões que se situam além do âmbito da ciência, pois sua preocupação não reside no fato, mas no que os fatos pressupõem. Para a ciência não existe acontecimento sem causa. Mas como poderemos ter certeza disso? Causa e efeito existirá no próprio mundo, ou serão frutos de nossa imaginação? 16 Essas perguntas não podem ser respondidas cientificamente, pois a causalidade não é um fato estabelecido, mas um pressuposto da ciência. O cientista não pode fornecer a resposta, visto que as coisas em si mesmas, em oposição às suas aparências, estão, por definição, além da verificação empírica. Exemplo: Se observarmos as informações sobre a natureza humana, verificamos que a Psicologia nos dá uma imagem do homem, a Psicanálise outra, a Sociologia outra, a Antropologia outra, a Economia outra, etc. Ao final, o que possuímos, depois de todas as ciências terem sido inventariadas, não é uma imagem composta do homem, mas uma série de imagens diferentes. Todas deixam de satisfazer, porque explicam aspectos distintos do homem, em vez do homem como um todo. Vemos o ser humano fragmentado, nas várias ciências. Logo, podemos afirmar que a ciência apenas estuda aquelas coisas que, no homem, podem ser quantitativamente medidas. A Filosofia é simultaneamente natural e necessária ao homem, porque o espírito humano busca eternamente uma visão mundial ou uma estrutura compreensiva através da qual nossas intuições da realidade possam explicar-se. A Filosofia não é apenas uma parte do nosso conhecimento, a parte da arte, da ciência e da religião; na realidade, abrange essas disciplinas em suas fases teóricas, procurando explicá-las e interligá-las. Hoje, podemos reconhecer que a metafísica e a ciência são duas atividades diferentes, cada uma delas valiosa por direito próprio. A imagem científica obtida pela experiência – e o mundo fenomenológico – continuam sendo, sempre uma simples aproximação, um modelo maior ou menos dividido. Assim como existe um objeto material subentendido em todas as sensações, também existe uma realidade metafísica subjacente em tudo o que a experiência humana demonstra ser real (KNELLER, 1978, p. 17 e 18). A NATUREZA DO CONHECIMENTO Epistemologia é a teoria do conhecimento que procura desvendar o que está envolvido no processo conhecer, sem estar interessada em reunir e classificar fatos sujeitando-os a uma análise estatística, mas possuir idéias sobre o modo como as pessoas pensam e sentem, mas sem a pretensão de explicá-los cientificamente. Em geral, o problema epistemológico de maior importância é estabelecer e avaliar as próprias bases em que o conhecimento assenta e sobre as quais se pretende obtê-lo. Há, evidentemente, tipos diversos de conhecimento. TIPOS DE CONHECIMENTO Conhecimento Revelado é, em parte; a espécie de saber que Deus revela ao homem. Em sua consciência Deus inspira certos homens para registrar. Sua revelação em forma permanente, tornando-se dessa maneira acessível a toda humanidade. Par os cristãos e judeus, está contido na Bíblia; para os muçulmanos, no Alcorão; para os hindus, no Bhagavad-Gita e nos Upanichades. Divinamente autenticado, promete aos que o aceitam que nunca, de acordo com suas próprias luzes, cairão no erro. 17 Esse conhecimento limita-se às religiões ou seitas que o reconhecem como o verbo de Deus. Não pode ser provado e reprovado empiricamente. Aceitamo-lo na base da fé, amparado sempre que possível pela razão e pela experiência crítica. Conhecimento Autoritário é o conhecimento aceito como verdade porque provém de especialistas, colhidos em enciclopédias, monografias e publicações especializadas, de autoria de reconhecidos profissionais competentes. É usualmente considerado autoritário, por aceitarmos sem discussão as fórmulas para resolver certos problemas matemáticos. A maior parte do nosso conhecimento fatual baseia-se na autoridade, constituído pelo registro de realizações, experiências e fatos que uma cultura julga de suficiente valor para que se perpetuem. Conhecimento Intuitivo é talvez, o mais pessoal meio de saber, considerada a única fonte verdadeira do conhecimento. Para Nietzsche, a intuição é a “mais inteligente de todas as espécies da inteligência”; para Bruner “e a técnica intelectual para chegar a plausíveis, mas conjeturais formulações, sem passar pelas fases analíticas por meio das quais essas formulações seriam consideradas conclusões válidas ou inválidas” (1988, p.13). A intuição de maneira alguma é monopólio de místicos, santos e mulheres. Os cientistas, artistas, filósofos e líderes religiosos que experimentaram momentos de profunda contemplação, todos testemunham o fato de que algumas de suas realizações mais construtivas ocorrem após súbitas intuições ou momentos de inspiração. Ela deve ser comprovada pelos conceitos da razão e pelas percepções sensoriais, verificadas pelos métodos científicos normais, antes de poderem ser declaradas válidas e dignas de crédito. Dessa forma, podemos afirmar pautadas na afirmação de Bruner (op.cit), que a característica essencial do pensamento produtivo, não se dá só nas disciplinas acadêmicas formais, mas também na vida cotidiana. Conhecimento Racional é o conhecimento que se dá pela razão pelo qual derivamos juízos universalmente válidos e coerentes entre si. Os que destacam a razão como o fator importante no conhecimento, são conhecidos como racionalistas. Reconhecem a contribuição dos sentidos para o conhecimento, na forma simples de simples fatos e impressões isoladas. Mas, acreditam que no intelecto, interpreta e organiza esses fragmentos e parcelas de informações, convertendo-os naquilo que podemos chamar um conhecimento idôneo e significativo. Entretanto, a razão pura é hoje menos usada do que nos primeiros dias de Filosofia, quando o homem acreditava que só a razão tinha import6ancia máxima. Todavia, continua sendo ainda o árbitro e juiz do conhecimento se quiserem que este seja racional. Conhecimento Empírico é o conhecimento que provém dos sentidos. Vendo, ouvindo, cheirando, sentindo e provando, formamos a nossa imagem do mundo que nos cerca. Portanto, o conhecimento compõe-se de idéias formadas de acordo com os fatos observados. Um empirista adverte-nos para que “procuremos e vejamos”, ao passo que um racionalista nos diz “pensemos completamente as coisas”. Visto que a ciência é empírica, a sua metodologia está estreitamente aliada com este particular aspecto da epistemologia. As teorias e as hipóteses são comprovadas através de experiências para descobrir qual delas explica melhor um determinado fenômeno. O êxito depende de múltiplos fatores, como a cuidadosa copilação de dados, o plano adequado de pesquisa e seleção de métodos e a atitude do pesquisador. 18 Mesmo assim nunca se espera que a conclusão de uma experiência prove e reprove absolutamente uma hipótese. Pode apenas apresentar os resultados como mais ou menos prováveis. Portanto o conhecimento empírico não é necessariamente o mais digno de confiança de que dispomos como muitos supõem. Ocupa seu lugar ao lado de outros tipos de conhecimento, como mais um caminho aberto para a compreensão da realidade. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx TIPOS DE ARGUMENTAÇÃO Os argumentos tradicionalmente são divididos em dois tipos: os dedutivos e os indutivos, sendo que a analogia constitui apenas uma forma de indução. DEDUÇÃO – é o argumento cuja conclusão é inferida necessariamente de duas premissas. A matemática usa predominantemente dedutivo de raciocínio. A proposição matemática é demonstrada quando a deduzimos de preposições já admitidas como verdadeiras, quando fazemos ver que a conclusão decorre necessariamente das proposições já admitidas como verdadeiras, quando fazemos ver que a conclusão decorre necessariamente das proposições colocadas anteriormente. Porém a dedução matemática não se confunde com a dedução lógica, pois a matemática manipula símbolos capazes de se transformarem uns nos outros, ou de se substituírem, revelando relações sempre imprevistas, o que torna a dedução matemática mais fecunda. A dedução lógica chamada por Aristóteles de silogismo significa “ligação” de dois termos por meio de um terceiro. Por exemplo, quando dizemos “se x = y, e y = z, então x = z”. Assim, quando dizemos que todos os homens são mortais. João é homem. Logo João é mortal, a conclusão é necessária porque deriva de duas premissas. Podemos dizer que o silogismo é um raciocínio que parte de uma proposição geral (que também pode ser particular). Uma preposição é geral quando o sujeito da proposição é tomado na sua totalidade. Por exemplo: “Toda baleia é mamífero.” É preciso prestar atenção, pois às vezes usamos apenas o artigo definido (o, a) para indicar a totalidade. “O homem é livre”. INDUÇÃO – é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal. Enquanto na dedução a conclusão deriva de verdades universais já conhecidas, partindo, portanto, do plano inteligível, a indução ao contrário, chega a uma conclusão a partir das experiências sensíveis, dos dados particulares. Por exemplo: O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata também; logo, o metal (isto é todo metal) é condutor de eletricidade. Diferentemente do argumento dedutivo, o conteúdo da conclusão da indução excede o das premissas. Ou seja, enquanto a conclusão da dedução está contida nas premissas, e retira daí sua validade, a conclusão da indução tem apenas probabilidade de ser correta. Segundo Salmon “podemos afirmar que as premissas de um argumento indutivo correto sustentam ou atribuem certa verossimilhança à sua conclusão” (1998, p. 234). Apesar da aparente fragilidade da indução, que não possui o rigor do raciocínio dedutivo, trata-se de uma forma muito fecunda de pensar, sendo responsável pela fundamentação de grande parte dos nossos conhecimentos na vida diária e de grande valia nas ciências experimentais. Todas as previsões que fazemos para o futuro parte da indução, ou seja, no raciocínio que, baseado em alguns casos de experiência presente, nos faz inferir que o mesmo poderá ocorrer mais tarde. ANALOGIA – Embora analogia seja um caso de indução, a análise será feita separadamente por conter características específicas. 19 Analogia (ou raciocínio por semelhança) é uma indução parcial ou imperfeita, na qual passamos de um ou de alguns fatos singulares não a uma conclusão universal, mas a outra enunciação singular ou particular, inferida em uma virtude da comparação entre objetos que, embora diferentes, apresentam pontos de semelhança: Exemplo: Maria sarou de suas dores de cabeça com este remédio. Logo, João há de sarar de suas dores de cabeça com este mesmo remédio. O raciocínio por semelhança apenas fornece uma probabilidade, não uma certeza. Mas desempenha u papel importante na descoberta ou na invenção. Sabe-se que grande parte de nossas conclusões diárias se baseia na analogia. Se lermos um bom livro de Machado de Assis, provavelmente compraremos outro do mesmo autor, na suposição de que deverá ser bom também. Se formos bem atendidos em uma loja, voltaremos da próxima vez, na expectativa de tratamento semelhante. Da mesma forma, se formos mal atendidos, evitaremos retornar. Quando as explicações de um determinado fato nos parecem complexas, costumamos recorrer a comparações, que na verdade são analogias. “Quem não está habituado a ler, sofrer como nadador iniciante engole água e perde fôlego”. Do mesmo modo, o texto literário é enriquecido pela metáfora, que é a forma de estabelecer semelhança: “Amor é fogo que arde sem se ver” (Camões). Também a ciência se vale de analogias. As analogias podem ser fracas ou fortes, dependendo da relevância das semelhanças estabelecidas entre objetos diferentes. Embora os homens sejam muito diferentes dos ratos, nas experiências biológicas podem ser feitas comparações de natureza fisiológica que tornam a analogia adequada e fecunda. Assim, se o biólogo constatar determinados efeitos de uma droga ministrada em ratos, é possível sustentar que os efeitos provocados nos homens sejam semelhantes. OS FILÓSOFOS DA ANTIGUIDADE Os primeiros filósofos eram chamados de “filósofos da natureza” porque se interessavam, sobretudo, pela natureza e pelos processos naturais e, viam com olhos críticos a mitologia tradicional. A exemplo disso citamos o filósofo Mileto que considerava a água a origem de todas as coisas. Não demorou muito para que um grupo de mestres itinerantes, vindo de colônias gregas, se concentrasse em Atenas, para desconsiderar a hipótese de alguém pudesse encontrar respostas realmente seguras e definitivas para o mistério da natureza, portanto eram críticos à mitologia tradicional. Eles se autodenominavam sofistas, eram pessoas estudadas, versadas em um determinado assunto e, ganhavam a vida em Atenas ensinando cidadãos a dominar a arte de falar bem, a retórica, cobrando bem por suas aulas. Como eles eram criaturas bem viajadas e conheciam diferentes sistemas de governo, eles iniciaram em Atenas uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. Dessa forma, eles criaram na Cidade-Estado de Atenas as bases para uma crítica social. Eles dedicaram à questão do homem e de seu lugar na sociedade. Exemplo: o fato de ser ter ou não vergonha de alguma coisa, estava ligado aos usos e costumes de uma sociedade. Por volta de 450 a C Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. A partir daí a filosofia tomou um novo rumo. Os filósofos naturais eram, principalmente, pesquisadores naturais. Eles ocupam, portanto, um lugar muito importante na história da ciência. Depois deles, o centro de interesse em Atenas deslocou-se para o homem e para sua posição na sociedade. 20 Em Atenas, desenvolveu-se pouco a pouco uma democracia com assembléias populares e tribunais. Um pressuposto para a democracia era o fato de que as pessoas recebiam educação suficiente para poder participar dos processos democráticos. Ao mesmo tempo, porém os sofistas simplesmente rejeitavam tudo o que consideravam especulação filosófica desnecessária, por considerarem que ninguém jamais conseguiria encontrar respostas realmente seguras e definitivas para os mistérios da natureza e do universo. Esse ponto de vista é conhecido na filosofia como ceticismo. Os sofistas incitaram na sociedade de Atenas discussões ao afirmarem que não havias normas absolutas para o certo e para o errado e um raciocínio falso com aparência de lógico. Daí surge os filósofos críticos aos sofistas, dentre os mais críticos Sócrates, que tentou mostrar que algumas normas são realmente absolutas e de validade universal. SOCRÁTES (470 – 399 a C.) Ao contrário dos sofistas, Sócrates tentou mostrar que algumas normas são realmente absolutas e de validade universal. Ele era visto como uma pessoa enigmática e logo depois de sua morte foi considerado o fundador das mais diversas correntes filosóficas. Como ele não escreveu uma única linha, e não obstante, está entre os que mais influenciaram sobre o pensamento europeu, a sua vida ficou conhecida por Platão, seu discípulo e também um dos maiores filósofos da história. Platão não considerava os sofistas, pessoas instruídas, mas, sim, os criticavam por todas as formas de injustiça e de abuso de poder que eles usavam. O ponto central de toda sua atuação estava no fato de que ele não queria propriamente ensinar as pessoas. Para tanto, em suas conversas, Sócrates dava a impressão de ele próprio querer aprender com seu interlocutor. Ao “ensinar”, ele não assumia a posição de um professor tradicional. Ao contrário ele dialogava, discutia. Ele conseguia levar o seu interlocutor a ver prontos fracos de suas próprias reflexões. Uma vez pressionado contra a parede, o interlocutor acabava reconhecendo o que estava certo e o que estava errado. Para Sócrates só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento, portanto ele forçava as pessoas a usar a razão, para distinguir entre o certo e o errado. Para Sócrates, o filósofo é uma pessoa que reconhece que há muita coisa além do que ele pode entender e vive atormentado por isto. Do ponto de vista, ele é mais inteligente do que todos que vivem se vangloriando de seus pretensos conhecimento: “Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe”. Dessa forma, para Sócrates era importante encontrar um alicerce seguro para os nossos conhecimentos. Ele acreditava que este alicerce estava na razão humana. Para ele o conhecimento do que é certo leva ao agir correto. Para ele o que é bom acaba fazendo o bem e se transformar em um homem verdadeiro. Contrariamente aos sofistas ele acreditava que a capacidade de distinguir entre o certo e o errado estava na razão, e não na sociedade. Assim sendo, para Sócrates todo conhecimento tem que desenvolver a capacidade do pensar, portanto toda educação é ativa, ou seja, parte do conhecimento de si mesmo. PLATÃO (427- 347 a C.) Discípulo de Sócrates e acompanhou de perto o processo movido contra seu mestre e presenciou quando Sócrates teve que beber o cálice de cicuta. O fato de Atenas ter 21 condenado à morte seu filho mais nobre não só lhe deixou marcas para toda vida como também determinou a direção de toda a sua atividade filosófica. Para Platão, a morte de Sócrates deixou bem clara a contradição que pode existir entre as permanentes relações dentro de uma sociedade e a verdade e o ideal. A primeira ação de Platão como filósofo foi a publicação do discurso de defesa de Sócrates. Nele Platão torna público o que Sócrates disse ao grande júri. Assim como Sócrates, Platão considerava o ato de ensinar ligado ao diálogo, portanto, em sua academia além de ensinar matemática e música, ensinavam-se também filosofia. Platão se interessava tanto pelo que é imutável e eterno na natureza tanto quanto pelo eterno e imutável na moral e na sociedade. Para o filósofo ambos os casos era uma coisa só. Para Platão tudo que podemos tocar e sentir na natureza “flui”. Não existe, portanto, um elemento básico que não se desintegre. Absolutamente tudo que o que pertence ao “mundo dos sentidos” é feito de um material sujeito à correção do tempo. Ao mesmo tempo, tudo ‘é formado a partir de uma forma eterna e imutável. Isto significa, para Platão, este aspecto eterno e imutável, não é, portanto, elemento básico físico. Eternos e imutáveis são os modelos espirituais ou abstratos, a partir dos quais todos os fenômenos são formados. Esta notável concepção é chamada por nós de a teoria das idéias de Platão. Para Platão o homem é um ser é dual. Temos um corpo que “flui” e que está indissoluvelmente ligado ao mundo dos sentidos, compartilhando do mesmo destino de todas as outras coisas presentes neste mundo. Por exemplo, a alma é imortal não é material, mas é morada da razão. E, justamente, porque a alma é invisível ela pode ter acesso ao mundo das idéias Platão considerava que a alma existia antes de vir habitar nosso corpo. Segundo o filósofo, o corpo humano consistia em três partes. A cada uma dessas partes corresponde determinada característica. A razão pertence à cabeça; à vontade ao peito, e, o desejo e o prazer ao baixo ventre. Cada uma destas características possui um ideal ou uma virtude. A razão deve aspirar à sabedoria, a vontade deve mostrar coragem e os desejos devem ser controlados, a fim de que o homem possa exercitar a temperança. Somente quando as três partes do homem agem como um todo é que temos um indivíduo harmônico ou íntegro. Dessa forma, é que na escola os estudantes primeiramente têm de aprender a controlar seus desejos, depois a desenvolver a coragem e, por fim, a usar a razão para atingir a sabedoria. Platão valoriza a educação do intelecto, mas de acordo com as diferenças, já que considera as pessoas diferentes uma das outras. Portanto, educar não é levar o conhecimento de fora para dentro, mas despertar no indivíduo o que ele já sabe, pela resist6encia racional, à dor e ao sofrimento. A partir disso, Platão imagina o Estado constituído exatamente como o ser humano. Vamos tentar fazer uma representação esquemática das relações entre as três partes do homem e do Estado, segundo Platão. 22 CORPO ALMA VIRTUDE ESTADO Cabeça Razão Sabedoria Governantes Sentinelas Peito Vontade Coragem Baixo-ventre Desejo Temperança trabalhadores Vimos que Platão adota exatamente a divisão em três partes a sociedade: a classe dirigente (ou a casta dos sacerdotes), a casta dos guerreiros e a casta dos trabalhadores. Devido a esta divisão, Platão fora criticado duramente por vários filósofos. Mas não podemos esquecer que ele viveu em uma época diferente da nossa. É bom lembrar que Platão considerava as mulheres tão capacitadas quanto aos homens para governar. Isto porque os governantes deveriam dirigir a Cidade-Estado com a razão. Platão acreditava que as mulheres tinham a mesma razão que os homens; bastando para que isto recebesse a mesma formação dos homens e fossem liberadas do serviço de casa e das guardas das crianças. Platão considerava que a educação infantil era muito importante para ser derivada a cargo do indivíduo. Ela deveria ser responsabilidade do estado. Platão foi o primeiro filósofo a defender a criação de jardins-de-infância e semi-internatos públicos. Podemos dizer que Platão tinha uma visão positiva das mulheres - pelo menos para a sua época. ARISTÓTELES (384- 322 A c.) Durante vinte anos Aristóteles foi aluno da Academia de Platão. Aristóteles não foi apenas o último filósofo grego; foi também o grande biólogo da Europa. Ao contrário de Platão, o filósofo não usou somente a razão, mas também os sentidos. Interessava-se justamente pelas mudanças, por aquilo que hoje chamamos de processos naturais. Os escritos de Aristóteles são sóbrios e pormenorizados com os verbetes de uma enciclopédia. Ele criou uma linguagem técnica, usada até os dias atuais pelas diversas ciências, sistematizou e ordenou estas várias ciências. Aristóteles foi o organizador dos conceitos, fundou a ciência lógica, estabeleceu uma série de normas rígidas para que a conclusões ou provas pudessem ser consideradas logicamente válidas. Ele divide o reino natural em animal, vegetal e mineral. Subdivide a natureza em dois grupos: inanimados (pedra, terra etc.) e criaturas vivas (animais e o homem). Para Aristóteles tudo que vive (plantas, animais e pessoas) tem capacidade de se alimentar, crescer e multiplicar. Os animais e o homem ainda mais, a capacidade de se locomover na natureza. E todas as pessoas têm, somada a tudo isto, a capacidade de pensar, ou melhor, a capacidade de ordenar as impressões sensoriais em diferentes grupos e classes. Dessa forma, para o filósofo não existem na natureza divisões estanques. Podemos perceber uma transição gradual de vegetais simples para plantas mais complexas, de animais mais simples para animais mais complexos. Bem no alto desta “escada” está o homem, que para Aristóteles, vive a plenitude da vida da natureza. O homem cresce e se alimenta como as plantas, tem sentimentos e capacidade de locomoção como os animais, mas possui além de tudo isto uma característica muito especial, que só ele tem: a capacidade de pensar racionalmente. 23 Para Aristóteles o homem possui uma centelha da razão divina, ou seja, um Deus que colocou em mancha todos os movimentos da natureza. E, assim, Deus passa assumir o cume absoluto da escada da natureza. Os movimentos das estrelas e dos planetas, para Aristóteles, comandavam os movimentos aqui na Terra, porém o filósofo acreditava na existência de alguma coisa que faziam os corpos celestes se movimentarem. Esta coisa, Aristóteles chamava de primeiro impulsor ou Deus. Aristóteles afirmava que o homem só é feliz quando ele for capaz de desenvolver e de utilizar todas as suas capacidades e possibilidades. Aristóteles acreditava em três formas de felicidade: A primeira uma vida de prazeres e satisfações; a segunda uma vida como cidadão livre, responsável; e, a terceira é a vida como pesquisador e filósofo. Se Aristóteles vivesse hoje, talvez ele dissesse que a vida de uma pessoa que só cultiva o corpo é tão unilateral, portanto, tão lacunosa quanto à vida de outra que só usa a cabeça. Ambos os extremos são expressões de um modo errado de viver a vida. Para o filósofo não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos. (coragem de menos significa covardia e coragem demais significa audácia). Também não devemos ser nem avarentos e nem extravagantes (generosidade de menos e avareza e generosidade demais é extravagância) Para Aristóteles a forma mais elevada do convívio humano só pode ser o Estado. Aí surge a pergunta de como o Estado deve ser organizado. Ele simplesmente responde que o Estado deve cuidar para não acabar virando o governo de uns poucos, que dirigem o Estado em prol de seus próprios interesses. Quanto à mulher, Aristóteles não era tão animado quanto Platão. Para Aristóteles: “a mulher era um homem incompleto, era apenas o solo que acolhia e fazia germinar a semente que vinha do “semeador”, ou seja, do homem. Para o filósofo o homem dá a “forma”; a mulher, a “substância” (ARANHA, 1998, p. 54). A visão distorcida que Aristóteles tinha da mulher surtiu efeito particularmente danoso, pois foi ela - e não a visão de Platão – que predominou durante toda a Idade Média. Para Aristóteles a educação tem por finalidade ajudar o indivíduo a alcançar a plenitude e a realização de seu ser a desenvolver suas faculdades físicas, morais e intelectuais. A virtude do homem se dá na capacidade de pensar pelo processo da análise, síntese, indução, dedução e analogia, pois só assim o indivíduo desenvolve o método lógico. ÉTICA Ao falarmos de ética, não podemos deixar de citar Valss (1993, p.7) quando o mesmo profere: “é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”. Entretanto, se entrarmos no túnel do tempo, encontra-se em diversas obras, dos mais renomados filósofos, que abaixo serão citados, em suas diferentes abordagens filosóficas do que é ético, desde a Antiguidade até os dias atuais. Etimologicamente falando, ética vem do grego “ethos”, tem correlação com o latim “morale”, cujo significado é o mesmo para a conduta ou relativo ao costumes. Portanto, conclui-se que etimologicamente ética e moral são palavras sinônimas. 24 Iniciaremos salientando, como referência, ao primeiro Código de Ética, enquanto regras, a ser cumprida, como a Bíblia, pelos seus Dez Mandamentos. Isto porque, já existiam pessoas que os transgrediam, logo há quem fale de que o contraste da moralidade hoje reflete no pecado cometido desde o início dos tempos. A Ética foi abordada inicialmente por Sócrates (470 a.C. – 339 a.C.), fundador da ciência, em geral, ao questionar as leis da época, ou seja, as mesmas foram estabelecidas para serem obedecidas e não justificadas; tanto que fora consagrado como o “fundador da moral”. Em seguida, Platão (427 a.C. – 347a.C.), discípulo de Sócrates, considera a doutrina da eticidade que significara racionalidade, ou seja, ação racional. Logo, virtude para o filósofo, expressara inteligência não sentimento, rotina, costume, tradição e opinião comum. Seguidor dos pensamentos de seu mestre, Platão percebera a Ética voltada para as grandezas das virtudes da pessoa e não pela elevação dos seus conhecimentos teóricos. Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.), discípulo de Platão, enfocara a ética de acordo com os filósofos, anteriormente, citados, pois sustentara o primado do conhecimento, do intelecto, sobre a vontade e a política. Mas, se diferenciara de Platão, segundo a razão, em relação à paixão, pois a razão aristotélica governa e domina a paixão, não aniquila e destrói como acreditara o ascetismo platônico. Para Aristóteles a característica fundamental da moral é o racionalismo, visto por ele como virtude, ação da razão na relação entre o Ser e o Bem, porém entre os vários bens, ele destacara a virtude como ação consciente que exige o conhecimento absoluto da natureza e do universo, cuja natureza segundo a qual e na qual o Homem2 deve operar. Dando um grande pulo no tempo, verificamos que a ética sempre estivera em pauta, nas discussões de diversos filósofos contemporâneos, entre eles citaremos os que mais se destacaram sobre o tema. Rosseau (1712 – 1778) considerara a Ética diferentemente da cultura grega, pois para o filósofo, a ética se estabelece no interior de cada um, por considerar que o ser humano pode encontrar Deus em seu próprio coração, consequentemente, a bondade era natural no ser humano e de como a sociedade acaba destruindo essa bondade, tornandoo defensor da moral e da justiça divina. Dessa forma, a partir do cristianismo, as ações humanas foram norteadas na divindade de um único Deus, não mais no politeísmo como na cultura grega; encerra-se o papel da filosofia moral enquanto determinante do que é ou não ético. Assim sendo, iniciara-se a argumentação de que moral é obra divina. Mais adiante, verificamos em Rousseau (op.cit) a procura de um Estado social legítimo, ou seja, próximo da vontade geral e distante da corrupção. No final do século XVII, Rosseau clamara a população, bastante cuidado ao transformar seus direitos naturais em direitos civis, pois afinal “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe” (MESQUITA, 2007, p.2). Para Rousseau (op.cit) a felicidade e o bem-estar são direitos naturais de todas as pessoas e não privilégios especiais de uma classe, como ocorreram na época do Absolutismo. Nesse sentido, Rosseau participara do movimento chamado Iluminista, pregando a supremacia da razão humana, por serem favoráveis à liberdade intelectual e à independência do Homem. É o estudo do Homem em um enfoque stricto sensu da ontologia, em uma perspectiva de um “ser” ou de um “dever ser” por meio da visão “ôntica” (BERESFORD, 2000). 2 25 Em contrapartida, o filósofo Kant (1724 – 1808), no final do século, não seguira a concepção de Rosseau, por não considerar a existência da bondade natural. Isto porque, Kant (op.cit) acreditara que no coração do Homem só existia sentimentos negativos, logo para superar todos os males, o ser humano necessita almejar uma Ética racional e universal, identificada no dever moral. Friedrich Hegel (1770 – 1831) vai contrapor as idéias de Rosseau (op.cit) ao argumentar que o coração é determinante da vontade individual, por considerar a moral racional. Hegel (op.cit) apreciara o Homem como ser histórico que vive suas ações coletivamente, portanto, a vontade coletiva é que guia as ações e comportamentos humanos. Nesse sentido, a família, o trabalho, a escola, as artes, a religião etc. norteiam os atos morais e determinam o cumprimento do dever. A partir desta concepção, procuraremos direcionar nosso raciocínio enfocando as relações éticas no contexto político-social, expondo a relativização do comportamento ético nos últimos tempos. Notamos, em relação à Ética, que a mesma permite a reflexão sobre os valores e as normas que regem as condutas humanas de maneira antropológica e social. Isto porque, se fizermos o percurso histórico desde a Grécia antiga até os dias atuais, encontraremos diversidades em relação às virtudes e aos comportamentos, ao ponto de colocarmos em “cheque” a virtude tão sonhada para todos. Percebemos que até o século XVIII nos deparamos com as injustiças sociais, no qual o dever moral dos submissos não atendia e nem atende o interesse dos dominadores. Hoje, em pleno século XXI, ainda, deparamos com situações que fogem dos anseios de uma ética universal, cujas pessoas injustiçadas perdem a vida, morrem de fome, passam as piores necessidades e situações de constrangimento. Consequentemente, por falta de conhecimento não desenvolvem a consciência crítica e perpetuam a ideologia dominante (CHAUÍ, 2000). Atualmente, em prol da decadência moral, em apoio e como cúmplice deste processo, está o meio de comunicação que mais influência, a televisão. Isto porque, a mesma atinge, em maior proporção, a população em todas as camadas sociais. Ela vem na frente como meio que mais distorce a realidade e infiltra a ideologia dominante, quando ao contrário poderia utilizar tal poder no sentido de esclarecer, educar e conscientizar a população, a fim de almejar uma sociedade igualitária, cujo branco e negro, o rico e o pobre tenham direitos iguais (MESQUITA, 2007). O assunto, em pauta, está perdendo o rumo, tanto que atualmente a Lei de Diretrizes Nacionais 9394/96 inclui como obrigatoriedade, no currículo de qualquer curso em nível médio e universitário, a disciplina Ética, para que os discentes ao enfrentarem o mercado de trabalho não se esqueçam de utilizar o Código de Ética no seu dia-a-dia tanto pessoal quanto profissional. 2.3. DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL. Várias pessoas ressaltam a diferença entre a Ética e a Moral de diversos modos. Segundo Rios (2001, p. 24): “a moral, numa determinada sociedade indica o comportamento que deve ser considerado bom e mau. A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento, partindo da historicidade presente nos valores”. De acordo com Valls (1993, p. 25): Ética é princípio enquanto moral são aspectos de condutas específicas; a Ética é permanente enquanto moral é cultural; Ética é regra enquanto 26 moral é conduta da regra; Ética é teoria e moral são aspectos de conduta. Etimologicamente falando, Ética vem do grego “ethos” e tem seu correlato no latim morale. Com o mesmo significado: conduta ou relativo aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral são sinônimos. Nesse caso, notamos que a moral pressupõe responsabilidade e racionalidade. Na racionalidade é o juízo e a reflexão dos valores e normas, ou seja, condição necessária à vida moral, enquanto moral pressupõe responsabilidade, liberdade de juízo de valor em que se encontra a reflexão do conjunto de normas e regras. Valor é tudo aquilo que for apropriado a satisfazer determinadas necessidades humanas, “criados pelos sujeitos em suas relações entre si e com a natureza” (RIOS, 2001, p. 2). Entretanto, não é algo meramente subjetivo e sim objetivo, isto é, não é o sujeito individual quem julga, mas sim o sujeito geral abstrato comum a todos os seres humanos. Trata-se de algo que se revela na experiência humana, através da história e reconhecida, justamente, na cultura (BERESFORD, 2000). Assim: Os valores não são na realidade ideal que o homem contemple como se fosse um modelo definitivo, ou que possa realizar de maneira indireta como quem faz uma cópia. Os valores são, ao contrário, algo que o Homem realiza em sua própria experiência e que vai assumindo expressões diversas e exemplares, projetando-se através do tempo, numa incessante constituição de entes valiosos (op.cit, p. 133). De acordo com autor, acima citado, considera-se que o termo valor, assim expresso literalmente, só veio ser inserido na filosofia moderna, pois nos períodos anteriores, ou seja, na fase mitológica, antiga e medieval, o referido termo ainda não era explícito como tal, muito embora, já houvesse como conotações implícitas, até mesmo divergentes. Podemos considerar que desde o período da mitologia até o início da contemporeidade, o termo surge quase, exclusivamente, como conotação da ética, da moral e da justiça. Mais tarde sim, aparecem outras referências, ou seja, tipos de valor. Assim sendo, Beresford (op.cit.) afirma que “Sócrates vai opor-se à ética e à moral de alguns dos pré-sócraticos, conhecidos como “os sofistas”, mestre da retórica e da oratória, como entre outros [...]” (2000, p.41). Beresford (op.cit, 41) assevera que: o respeito e a justiça são valores indispensáveis à sobrevivência humana, ou seja, o respeito, enquanto reconhecimento pela existência do outro, e a justiça, enquanto reconhecimento que se deve dar ao outro o que lhe é devido. Em outras palavras, isso representou os critérios, ou princípios éticos, para fundamentação de uma moralidade social e, com isso, viabilizar a conveniência e a existência humana. A natureza impõe ao Homem, uma série de obstáculos e problemas, cujo Homem vai tentar resolvê-los; e ao fazer isso, passa a transformar o mundo da natureza, em um mundo humanizado. Esse processo de humanização do mundo é a cultura, fazendo com que o Homem imprima no mundo da natureza, uma escala de valores humanos, ou em outras palavras, faz com que o Homem “rearrume” a natureza, através do trabalho. 27 Assim, de acordo com suas carências, o Homem tenta encontrar no mundo, aquilo que representa valores, ou seja, moralidade humana. Nesse sentido, podemos afirmar que a intervenção humana faz o mundo da cultura. Além disso, o Homem é a única criatura que sabe, além de criar, apreciar a beleza da criação, por ser moral, porém muda de acordo com as culturas e as épocas (RIOS, 2005). Nos dias atuais, como as modificações ocorrem em uma velocidade acelerada, aumenta a competição entre as pessoas. Neste movimento, surge um novo estilo de vida, de trabalho e de pessoas. Podemos afirmar, pelo exposto acima, que a essência do Homem é eterna, entretanto a ética refere-se a uma essência que precede qualquer valoração, por isso, de certa forma, é permanente, eterna e imutável. Nessa ótica, os países assim como o Brasil, entendem que neste mundo globalizado, cuja informação a cada dia é mais veloz e democrática, com os mercados mais interdependentes e o capital mais internacional, a ética em negócios está se tornando questão de sobrevivência. Isto porque, são os valores eternos que nos levam para uma ação responsável. Mesmo em uma época em que a honestidade, a sinceridade, a lealdade e o respeito parecem valores deixados de lado, nós ainda os percebemos como valores presentes em nossa consciência, porque vamos nos sentir culpados em nosso inconsciente, quando os infringimos. O Homem é o único “animal ético”, porque tem a capacidade de valorar, contudo não pode deter a verdade absoluta. Isto porque, exige normas e valores, que dirijam a sua vida, o seu relacionamento com os semelhantes e que lhe dêem equilíbrio. Assim, “a consciência ética é a conquista da iluminação, da lucidez intelectomoral, do dever solidário” (RIOS, 2005, p.25). 2.3. A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA CONTEMPOREIDADE. O tema Ética nos permite à reflexão sobre os valores e normas que regem as condutas humanas de maneira antropológica e social, podendo significar Filosofia Moral. Em outro sentido, Ética pode-se referir a um conjunto de princípios e normas que um grupo estabelece para o exercício profissional, como exemplo: os códigos da ética dos médicos, dos advogados, dos psicólogos, dos administradores etc. Ou ainda, pode-se referir a uma distinção entre princípios que dão rumo ao pensar sem, antemão, prescrever formas precisas de conduta (ética) e regras precisas e fechadas (moral). Ao nos referirmos à Ética é preciso que ela esteja atrelada em três pontos: NÚCLEO MORAL - valores eleitos como necessários ao convívio entre os membros da sociedade. DEMOCRÁTICO - permite a expressão das diferenças, de conflitos, a sabedoria de conviver com o diferente, a diversidade, seja do ponto de vista de valores, como de costumes, crenças, religiosas etc. CARÁTER ABSTRATO DE VALORES - trata-se de princípios e não de mandamentos, portanto não existem normas acabadas, regras, definitivamente, consagradas, portanto é um eterno pensar, refletir e construir. Reconhecer a diversidade de valores, presentes na sociedade brasileira, é refletir sobre mudanças das sociedades e dos homens que compõem o passar do tempo. 28 Não podemos perder de vista que as pessoas são educadas moralmente pela sociedade, embora a família, os meios de comunicação e o convívio com outras pessoas têm influência marcante no comportamento do indivíduo. E naturalmente, também a escola, mesmo com limitações. Os valores e as regras são transmitidos pela família e arraigadas na instituição escolar pelos: Professores; Livros didáticos; Organização institucional; Formas de avaliação; Comportamentos dos próprios alunos. Primeiramente, saber o que a ciência psicológica tem a dizer sobre o processo de legitimação, por parte do indivíduo, de valores e regras morais, é imprescindível. Nesse caso, devemos seguir as considerações norteadoras: Afetividade e Racionalidade. Êxito nos projetos de vida. Afetividade Esfera moral (legitimação de valores e normas morais). Autorespeito Papel do juízo alheio (imagem que cada tem de si, perante o outro). Racionalidade O juízo e a reflexão dos valores e normas. (condição necessária à vida moral) Moral Pressupõe responsabilidade Liberdade de juízo de valor. (conjunto de normas e regras) O quê? Como? (valor). Valor é tudo aquilo que for apropriado a satisfazer determinadas necessidades humanas, “criados pelos sujeitos em suas relações entre si e com a natureza” (RIOS, 2001, p.2). Entretanto, não é algo meramente subjetivo, mas objetivo, isto é, não é o sujeito individual que julga, mas sim, o sujeito geral abstrato comum a todos os seres humanos. Trata-se de algo que se revela na experiência humana, através da história e reconhecida justamente na cultura (BERESFORD, 2000). Assim, prossegue o autor: Os valores não são realidades ideais que o Homem contemple como se fosse um modelo definitivo, ou que possa realizar de maneira indireta com quem faz uma cópia. Os valores são, ao contrário, algo que o homem realiza em sua própria experiência e que vai assumindo expressões diversas e exemplares, projetando-se através do tempo, numa incessante constituição de entes valiosos (op. cit, p. 133). 29 Hassen (1980), por exemplo, nos diz que todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível à vida sem proferir constantemente juízos de valor. É da essência do ser humano conhecer e querer tanto como valorar. Mendes (1992) nos aponta para a mesma direção ao dizer: “Se fizermos uma estatística do que pensamos em doze horas, veremos que os nossos juízos são em grande maioria axiológicos e não de outra qualidade”. Segundo Beresford (2000), um juízo de valor ou de compreensão de um Ser se constitui, básica e essencialmente, em um ato de valor. Em outras palavras, em um processo de atribuir valor aos seres ou entes. É o resultado de uma apreciação subjetiva, entendendo o termo subjetivo como a participação da intencionalidade da consciência de quem valora no ato de realizar-se o liame. Processo de legitimação das normas e valores se dá: Através da discussão, do debate e da reflexão; Pela capacidade do diálogo, por ser essencial à convivência humana; Saber viver em democracia – explicitar-se e se possível, resolver conflitos por meio da palavra, da comunicação e do diálogo. A afetividade e a racionalidade desenvolvem-se a partir das em interações desde o Quais os objetivos a serem alcançados torno sociais, do tema Ética nascimento até a morte do indivíduo. Sendo assim, o trabalho a ser realizado em torno do tema Ética deve organizarse de forma a possibilitar que os indivíduos sejam capazes de: Compreender o conceito de justiça, baseado na eqüidade e sensibilizar-se pela necessidade da construção de uma sociedade justa; Tomar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas, respeito esse necessário ao convívio em uma sociedade democrática e pluralista; Compreender a vida escolar como participação no espaço público, utilizando e aplicando conhecimentos adquiridos na construção de uma sociedade democrática e solidária; Adotar no dia-a-dia, atitudes de solidariedade e de cooperação; Valorizar e empregar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e tomar decisões coletivas; Construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido pela confiança em sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida, pela legitimação das normas morais que garantam todos a sua realização; Assumir posições, segundo seu próprio juízo de valor, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação. Em síntese, Ética precisa: Tratar de princípios e não de valores, porque valores diferem de sociedade para sociedade; Não ter caráter normativo, porque reformula ou fundamenta os valores e as normas componentes de uma moral; Uma reflexão crítica da realidade, por permitir a análise constante e a reformulação de uma ação, se necessária; Estar articulada aos problemas que enfrentamos no cotidiano de nossas vidas. 30 Nesse caso, a Ética ao ser apresentada na instituição social necessita estar articulada: às relações entre os agentes que constituem a empresa, como: diretores, gerentes, funcionários etc., uma vez que o conhecimento não é neutro, nem impermeável a valores de todo tipo: de princípios, respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade em uma reflexão sobre as diversas atuações humanas. A sociedade está encharcada de valores, que se traduzem em princípios, regras, ordens e proibições. Nesse bojo, para que se instalem ações ou relações, efetivamente democráticas, é necessário encontrar espaço para a reflexão: Em que se fundamentam esses princípios; Quais as finalidades dessas regras; A quem interessa atender essas ordens; Quais os resultados pretendidos pelas proibições. Dessa forma, é necessário que a Ética contribua para que toda sociedade faça parte da construção, desenvolvendo os princípios de autonomia e de liberdade para pensar e julgar, problematizar o viver pessoal e coletivo e contemplar simultaneamente necessidades e desejos dos que estão a sua volta. Liberdade significa superar o individualismo e definir regras e normas de comportamento com a participação de todos. Nesse caso, ao falarmos sobre Ética é necessário priorizar: Respeito Mútuo - (a todo ser humano, independente, da origem social, raça, sexo, etnia, opinião, cultura, religião em respeito ao direito seu e dos outros ao dissenso). Justiça - (o critério é de eqüidade que restabelece a igualdade respeitando às diferenças: o símbolo da precisamente balança). Diálogo - (a disposição para ouvir idéias, opiniões e argumentos, de forma a ser corretamente compreendido pelas outras pessoas). Solidariedade - (doar-se a alguém, ajudar sem interesse). Cada um desses blocos de conteúdo precisa estar relacionado com os demais, assim como o princípio de dignidade do ser humano. Dessa forma, é necessário que no âmbito do trabalho seja propiciado por momentos em que permitam orientar, analisar, julgar, criticar as ações pessoais, coletivas e política na direção da democracia. Enfim, parafraseamos Newton Sucupira (1995, p. 15) que em suas palavras textuais a esse respeito nos afirma: A educação ética significa conduzir à consciência crítica da participação responsável e solidária, na construção de uma sociedade baseada na justiça social, ou seja, na realização do bem comum. 31 TEORIA DO CONHECIMENTO NA IDADE MÉDIA E CONTEMPORÂNEA RENÉ DESCARTES (1596 –1650) - pai da filosofia moderna. Seu ponto de partida se deu pela dúvida de tudo, das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade de seu próprio corpo. Ele considera o conhecimento com partida da existência do ser que pensa. Ficou ilustre pela frase “Penso, logo existo.” Estabelece o dualismo psicofísico (corpo e consciência) substancia pensante Ser humano substancia extensa corpo - é uma realidade física e fisiológica (massa, extensão no espaço e movimento), bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão etc., estando sujeito às leis deterministas da natureza. mente - não tem extensão no espaço e nem localização. As primeiras atividades da mente são consideradas por Descartes: recordar, raciocinar, conhecer e querer. FRANCIS BACON (1561 – 1626) Desenvolve um estudo pormenorizado da indução a partir do caráter estéril do silogismo e insiste na necessidade da experi6encia, da investigação segundo métodos precisos. Bacon prestigia a técnica, a experiência, a observação dos fatos e repudia a vocação medieval para os debates puramente formais e as estéreis demonstrações silogísticas. A estas contrapõe outras formas de indução, que não simples enumeração, por considerá-las mais fecundas. A parte mais original de sua obra é a que indica as possíveis ocasiões de erro devido aos preconceitos. O seu pensamento dá origem ao empirismo, corrente que se opõe ao racionalismo cartesiano. A física de Bacon não recorre à matemática. JONH LOOCK (1632 – 1704) Escolhe o caminho da psicologia e distingue duas fontes para nossas idéias: a sensação e a reflexão. Sensação - resultado da modificação feita na mente através dos sentidos. Reflexão - percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre; reduz a experiência interna do resultado da experiência externa produzida pela sensação. 32 qualidades primárias (objetivas) - solidez, extensão, configuração, movimento, repouso e o número OBJETO qualidades secundárias (subjetivas) – cor, som, odor, sabor etc., o que provoca no sujeito determinadas percepções sensíveis, portanto relativas e subjetivas. . Loocke critica as idéias inatas de Descartes, considerando a alma como uma tábua rasa, enfatizado-a como papel de objeto. RACIONALISMO - é o sistema que consiste em limitar o homem ao âmbito da própria razão, ou seja, capacidade do homem atingir verdades universais, eternas. EMPIRISMO - é o que limita ao âmbito da experiência sensível; a experiência é fundamental, portanto questiona o caráter absoluto da verdade, já que o conhecimento parte de uma realidade em transformação, sendo tudo relativo ao espaço, ao tempo e ao humano. IMMANUEL KANT (1724 – 1808) Kant faz crítica a razão pura independente da experiência, tenta superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Para o filósofo o conhecimento é constituído de matéria (nossos conhecimentos da própria coisa) e forma (somos nós mesmos). Para Kant conhecer o objeto investigado é necessário que o sujeito tenha uma experiência sensível. Entretanto, ele afirma que o conhecimento precisa ser organizado a partir da forma a priori do tempo e do espaço, pois para Kant o tempo e o espaço não existem como realidade externa, mas sim formas como o sujeito põe nas coisas. O nosso conhecimento experimental é composto do que recebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasiões de tais impressões. Portanto, é impossível conhecer a coisa em si, apenas conhecemos os fenômenos, “o que parece”. A realidade não é um dado exterior ao qual o intelecto deve se conformar, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós e, portanto, de certa forma participamos de sua construção. Idealismo transcendental conhecimento não é o reflexo do objeto exterior; é o próprio espírito que constrói o objeto de seu saber. Kant acredita na liberdade humana, na imortalidade da alma e a existência de Deus. AUGUST COMTE (1798 – 1857) A partir da Revolução Industrial inaugura-se um novo saber pela ciência moderna anterior e a técnica. Ciência e técnica tornam-se aliadas, provocando modificações no ambiente humano e uma nova concepção do conhecimento: o cientificismo. A partir desta concepção o filósofo desenvolve o pensamento positivista, ou seja, considera o único conhecimento válido, o método das ciências da natureza. Isto é, o real em oposição ao quimérico; a certeza em oposição à indecisão; o preciso em oposição ao vago, opondo-se a formas teológicas e metafísicas de explicação do mundo. Expulsam os mitos, a religião, as crenças em geral, a metafísica. Na filosofia cabe a mera sistematização das ciências, a generalização dos mais importantes resultados da física, da química, da história natural. Logo, podemos afirmar que o positivismo é o suicídio da filosofia. 33 Comte faz uma classificação das ciências; matemática, física, química, biologia, psicologia (comportamentos verificados e experimentados) e sociologia. O critério de classificação das ciências vai da mais simples e abstrata, que é a matemática, até a mais complexa e concreta que é a sociologia. A sociologia de Comte exclui a preocupação com uma teoria de Estado e com a economia e a política. A Filosofia é considerada como uma reação conservadora à revolução francesa (1789), pois institui a ordem como soberana, em hierarquia do inferior ao superior. Comte troca à teoria filosófica do conhecimento por uma ideologia, pois considera a ciência a marcha normal e regular da sociedade industrial. KARL MARX (1818 – 1883) e FREDERICH ENGELS (1820 – 1895) A teoria marxista compõe-se de uma teoria científica, o materialismo histórico, e de uma filosofia, o materialismo dialético. O materialismo dialético contrapõe ao materialismo mecanicista que grosseiramente simplifica, a ação da matéria sobre o espírito não permitindo ao homem nenhuma possibilidade de liberdade, ressaltando que a ação humana é determinada pelas condições materiais das quais não pode fugir e que os fenômenos materiais são processos, porque o mundo é uma realidade estática, é um relógio, contrapondo a realidade dinâmica e o complexo de processos. Marx e Engels não consideram a consciência do homem conseqüência passiva da ação da matéria, mas determinada pela matéria e historicamente situada. Para estes filósofos o conhecimento se dá pela ação do homem sobre o mundo. Logo, o lugar das idéias está nos fatos materiais, no lugar da explicação da história pela ação, não “dos grandes homens”, mas na luta de classes. Para Marx o mundo é um complexo de processos. As mudanças da ciência como: o calor, a eletricidade, o magnetismo, os processos químicos e a vida provam que a matéria é capaz além de movimentos mecânicos, de transformações qualitativas. A consciência, no homem, tem duplo papel: ela é determinada, mas também reage, determinando, não é pura passividade. A consciência que se tem do determinismo liberta o homem, através da ação deste sobre o mundo. As idéias são forças ativas. HUSSERL (1859 – 1958) - Merleau-Ponty, Satre, Heidegger No final do século XIX surge a fenomenologia, cujo postulado básico é a noção da intencionalidade, pela qual é tentada a superação das tendências racionalistas e empiristas, do positivismo. A fenomenologia tenta superar a dicotomia razão-experiência no processo do conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional. Portanto não existe pura consciência separada do mundo, com afirmam os racionalistas, mas que toda consciência tende para o mundo, ou s4eja, é consciência de alguma coisa. Sendo assim, não há objeto em si, já que o objeto “só existe para um sujeito que lhe dá significado”. A fenomenologia aborda os objetos do conhecimento tais como aparecem, isto é, como se apresentam à consciência. Logo, a consciência que o homem tem do mundo é mais ampla que o mero conhecimento intelectual, porque consciência é fonte de intencionalidade não só cognitiva, mas afetivas e práticas. O olhar do homem sobre o mundo é o ato pelo qual o homem experiência o mundo, percebendo, imaginando, julgando, amando, temendo etc. Nesse sentido, a fenomenologia é uma filosofia da vivência. A fenomenologia tenta superar a dicotomia corpo-consciência, desfazendo a hierarquização pela visão plâtonico-cristão, assim como as dicotomias consciência-objeto e homem-mundo para descobrir nesses pólos relações de reciprocidade. O corpo é considerado parte integrante da totalidade do ser humano, não é alguma coisa que temos, mas somos: “eu não tenho um corpo, eu sou meu corpo” 34 (MERLEAU-PONTY, 1986). Ao estabelecer contato com outras pessoas, eu me revelo pelos meus gestos, atitudes, mímica, olhar, enfim pelas manifestações corporais. Sendo assim, o corpo passa a ser o primeiro momento da experi6encia humana, é um “ser que vive e sente”, antes de ser “um ser que conhece”. O homem é considerado uma unidade que pensa-sente-quer-age, portanto, o corpo humano é a expressão dos valores sexuais, amorosos, estéticos, éticos, ligados bem de perto às características da civilização a que pertencemos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M. L. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1996. BERESFORD, H. Valor: saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape, 2000. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. BUZZIA.R. 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