Trabalho - SOVERGS

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MELANOMA INTRAOCULAR EM CÃO – RELATO DE CASO
INTRAOCULAR MELANOMA IN A DOG - CASE REPORT
Fernando Yoiti Kitamura Kawamoto1; Gabriela Rodrigues Sampaio2; Lenara Gonçalves e
Souza3; Luciane dos Reis Mesquita4; Flademir Wouters5; Luís Guilherme de Faria1; Filipe
Curti1; Rodrigo Barros1
Resumo:
O melanoma é a neoplasia ocular mais comum no cão, podendo ser focal ou intraocular. É
classificado como benigno ou maligno de acordo com suas características histológicas. O
melanoma de limbo surge a partir do limbo córneo-escleral e apresenta predileção para
aparecimento no quadrante dorsolateral do olho. Atendeu-se um cão com melanoma
intraocular, o qual foi submetido à enucleação.
Palavras-chave: melanoma, cão, intraocular, limbo.
Summary:
Melanoma is the most common ocular neoplasia in dogs, it can be focal or intraocular. It is
classified as benign or malignant neoplasia according to histological characteristics.
Melanoma in limbo arises from the corneoscleral limbus and shows predilection for
localization in the dorsallateral quadrant of the eye. A dog was assisted with intraocular
melanoma, it was treated with enucleation.
Keywords: melanoma, dog, intraocular, limbo.
Melanomas são neoplasias cutâneas primárias, mas podem ser encontrados em
qualquer localização anatômica em que haja acúmulo de melanócitos (SANTOS et al., 2005).
Melanomas oculares são comuns nos cães, podendo ser focais (quando se originam do tecido
epibulbar), ou intraoculares (quando oriundos da úvea anterior, íris e corpo ciliar) (BISTNER,
2007). Surgem, na maioria das vezes, na úvea anterior, sendo classificados como benigno ou
potencialmente maligno, de acordo com suas características histológicas (GIULIANO et al.,
1999; RANZANI et al., 2007). Os sinais clínicos variam de acordo com a localização, mas
grande parte é diagnosticada após causar alterações como uveíte não responsiva a tratamentos,
pupila irregular, dor ocular, edema corneano, hifema, endoftalmite por necrose tumoral, massa
tumoral visível e glaucoma secundário (KLEINER et al., 2003). Além disso, ainda pode
ocorrer ceratite, hemorragia intraocular, bulftalmia, descolamento de retina, infiltração para o
nervo óptico e, consequentemente, cegueira (KLEINER et al., 2003).
Exames auxiliares como a oftalmoscopia indireta e a ultrassonografia são de grande
valia no diagnóstico de neoplasia intraocular, sendo esta última eficaz nos casos onde há
opacidade ocular que impossibilite a oftalmoscopia, além de proporcionar o exame
retrobulbar e de estruturas extraoculares (KLEINER et al., 2003).
_______________________
1
Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – Universidade Federal de Lavras UFLA, Lavras (MG);
2
MV, MSc, DSc - Professora Adjunta – Departamento de Medicina Veterinária – Universidade Federal de
Lavras - UFLA, Lavras (MG);
3
Médica Veterinária Autônoma, Florianópolis (SC);
4
MV, Mestranda em Ciências Veterinárias – Universidade Federal de Lavras - UFLA, Lavras (MG);
5
MV, MSc – Professor Assistente - Departamento de Medicina Veterinária – Universidade Federal de Lavras UFLA, Lavras (MG).
Fernando Yoiti Kitamura Kawamoto1 – Av. Trevo de Santa Maria, 538 – Parque Guarani, São Paulo (SP) – CEP
08235-560 / [email protected]
Os melanomas de limbo ou epibulbares podem se originar da esclera ou episclera.
Normalmente eles não invadem os tecidos intraoculares mais profundos; contudo, há a
possibilidade de atingir o corpo ciliar ou a íris. Caracterizam-se como massas pigmentares
focais e normalmente superficiais, estendendo-se tanto sobre a córnea quanto em direção ao
equador do bulbo ocular (GIULIANO et al.,1999; WHITLEY & GILGER, 2003;
DONALDSON et al., 2006; RANZANI et al., 2007).
O tratamento a ser escolhido e o prognóstico são variáveis e dependem da localização
do tumor melanocítico, do comportamento dessas células e do grau de comprometimento das
estruturas envolvidas (BISTNER, 2007). A enucleação é sugerida quando há presença de
glaucoma, uveíte e hifema (RANZANI et al., 2007).
Pretende-se, no presente trabalho, relatar um caso de melanoma intraocular, com
diagnóstico histopatológico de melanoma de limbo.
Um cão da raça Poodle, com seis anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário
para avaliação oftálmica. O proprietário relatou que o animal já havia sido submetido a uma
cirurgia por outro veterinário para excisão de uma massa escurecida no olho direito e, após
isso, a mesma apresentou crescimento progressivo associado com opacidade corneana. Ao
exame oftálmico, observou-se a presença de uma massa pigmentada na posição dorsal do
limbo do olho direito, com superfície irregular e vascularizada, estendendo-se em direção à
córnea/esclera e com aparente infiltração na câmara anterior. Além disso, apresentava os
vasos episclerais ingurgitados, conjuntiva hiperêmica, pupila não responsiva à luz e opacidade
na porção central da córnea. O teste de produção lacrimal de Schirmer não apresentou
alterações, considerando-se os valores de referência para a espécie, e a coloração pela
fluoresceína sódica 2% não corou a córnea, descartando a presença de ceratite ulcerativa. O
exame de fundo de olho não foi possível devido à opacidade corneana. O olho esquerdo não
apresentava alterações.
Optou-se pela enucleação devido à evidente deformidade do bulbo ocular. Realizou-se
cantotomia lateral de 0,5cm de comprimento no olho direito e excisão das rimas palpebral
superior e palpebral inferior, para remoção das glândulas lacrimais. Procedeu-se a incisão
perilímbica da conjuntiva, com excisão da conjuntiva e da fáscia bulbares, excisão da terceira
pálpebra e secção dos músculos extraoculares e retrator do bulbo. Ligaram-se os vasos e
nervo óptico com fio de sutura absorvível sintético no0. Conjuntiva, cápsula de Tenon e tecido
subcutâneo foram suturados com fio de sutura absorvível no 3-0 em padrão tipo “Sultan”. As
margens palpebrais foram suturadas com fio de sutura não absorvível sintético no 2-0 em
padrão simples separado. Os pontos de pele foram retirados após 10 dias da cirurgia. Ao
exame histopatológico confirmou-se o diagnóstico de melanoma benigno (melanocitoma),
com presença de células redondas a ovóides, possuindo citoplasma escasso formando ninhos
celulares, pigmento escuro granular (melanina) presente no citoplasma de algumas destas
células, discreta infiltração destas células no sentido da esclera, da córnea e da câmara
anterior.
O melanoma relatado neste animal estava visível macroscopicamente, o que facilitou o
diagnóstico clínico, conforme citado por Kleiner et al. (2003). Diferentemente do citado pela
literatura, não se observou uveíte, glaucoma, dor ocular ou hifema, apenas edema corneano e
pupila não responsiva (KLEINER et al., 2003).
A localização do tumor apresentava uma extensão epibulbar, atingindo esclera, limbo e
córnea, sendo possível sua classificação como melanoma de limbo (GIULIANO et al., 1999).
Os melanomas de limbo geralmente aparecem como massas bem circunscritas, fortemente
pigmentadas, elevadas, que invadem a córnea, conjuntiva e esclera, conforme o observado
neste caso. A literatura sugere uma predileção para o surgimento no quadrante dorsolateral do
olho. Estudos relatam que as raças Pastor Alemão, Golden Retriever e Retriever do Labrador
são as mais predispostas, o que não condiz com a raça observada no presente relato
2
(WHITLEY & GILGER, 2003).
A observação neste caso de uma rede vascular bem desenvolvida na esclera pode
sugerir o já observado por Bistner (2007), ou seja, que a massa visível externamente é uma
extensão de um melanoma intraocular. Pode-se, ainda, suspeitar que a massa anteriormente
excisada por outro veterinário não tenha sido retirada completamente, ficando presente a
porção intraocular, o que permitiu novo crescimento da lesão.
De acordo com Bistner (2007) e Whitley & Gilger (2003), melanomas límbicos
acometem dois grupos etários. Em cães jovens (dois a quatro anos), os tumores têm padrão de
crescimento rápido e são invasivos. Já em cães mais idosos (oito a onze anos), os tumores são
estacionários. O paciente relatado, apesar de se incluir no segundo grupo, ainda apresentou
um tumor com comportamento mais agressivo e semelhante ao descrito em animais novos.
Diversos tratamentos são propostos na literatura, como a terapia com laser ítrioalumínio-granada ou de diodo, que destrói as células anormais (BISTNER, 2007); os enxertos
córneo-esclerais para manter o olho funcional no cão jovem com melanoma límbico
progressivo; o enxerto de cartilagem da terceira pálpebra com cobertura de conjuntiva, para
preencher os defeitos corneanos e esclerais após a remoção dos melanomas límbicos
(WHITLEY & GILGER 2003). Porém, para o caso em questão, devido ao crescimento
progressivo e às complicações secundárias observadas com deformidade do bulbo ocular, o
tratamento escolhido foi a enucleação. Apesar de os melanocitomas apresentarem um
comportamento biológico tipicamente benigno, a expansão do tumor em direção intraocular
pode resultar em perda de visão, e até mesmo do bulbo ocular. O prognóstico para esse tipo de
tumor é favorável.
Dessa forma, conclui-se que o tratamento escolhido foi efetivo, não apresentando
complicações e, após três anos de realizado o procedimento de enucleação, o animal não
apresentou sinais de metástase.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.
SANTOS, P.C.G.; COSTA, J.L.O.; MIYAZAWA, C.R.; SHIMIZU, F.A. Melanoma
canino. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 5, 2005.
2.
KLEINER, J.A.; SILVA, E.G.; MASUDA, E.K. Melanoma intra-ocular primário de
coróide em um cão da raça Rottweiller – Relato de caso. In: Conferência Sul-Americana de
Medicina Veterinária, 3., 2003, rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2003.
3.
DONALDSON, D.; SANSOM, J.; SCASE, T.; ADAMS, V.; MELLERSH, C. Canine
limbal melanoma: 30 cases (1992–2004). Part 1. Signalment, clinical and histological features
and pedigree analysis. Veterinary Ophthalmology, v. 9, p. 115-119, 2006.
4.
RANZANI, J.J.T.; CREMONINI, D.N.; FABRIS, V.E.; BRANDÃO, C.V.S.;
CHIURCIU, J.L.V.; PEIXOTO, T.P.; SERENO, M.G. Melanoma intra-ocular em cão. Acta
Scientiae Veterinariae, v. 35, p. 631-632, 2007.ll
5.
GIULIANO, E.A.; CHAPPELL, R.; FISCHER, B.; DUBIELZIG, R.R. A matched
observational study of canine survival with primary intraocular melanocytic neoplasia.
Veterinary Ophthalmology, v. 2, p. 185-190, 1999.
6.
WHITLEY, R.D.; GILGER, B.C. Doenças e cirurgia da córnea e esclera do cão. IN:
GELATT, K.N. Manual de oftalmologia veterinária. Barueri: SP, 2003. cap. 7, p. 151.
7.
BISTNER, S.I. Olho e órbita. IN: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos
animais. Barueri: SP, 2007. cap. 171, p. 2430-2432.
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