PATRICIA GONÇALVES DE OLIVEIRA HIPERTENSÃO ARTERIAL E PERCEPÇÃO DO CONHECIMENTO ENTRE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JABORANDI-SP, 2005 Araraquara 2005 PATRICIA GONÇALVES DE OLIVEIRA HIPERTENSÃO ARTERIAL E PERCEPÇÃO DO CONHECIMENTO ENTRE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE JABORANDI-SP, 2005 Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Pública da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” Campus de Araraquara para obtenção do título de Especialista em Saúde Pública. ORIENTADORA: PROF. DRA. MARIA JACIRA SILVA SIMÕES Araraquara 2005 Aos que têm fé e esperança, tudo é possível. DEDICATÓRIA Aos meus pais, Jairo e Ana Lídia, que me deram a vida e formaram meu caráter e personalidade. A Isabela, minha filha, uma das grandes razões do meu viver. A Karine, minha irmã, que o destino nos fez irmãs e a confiança nos fez amigas. Ao Rodrigo, meu amor, pelo auxílio, dedicação e carinho com que me faz feliz. Aos idosos, motivo do meu trabalho, que muito me ensinam a respeito da vida. AGRADECIMENTO ESPECIAL A professora Maria Jacira. Obrigada pela compreensão e pelo auxílio que deu qualidade ao trabalho. Ao professor Adalberto. Obrigada pela paciência, apoio e amizade. A funcionária Joselma. Eternamente grata por ter sido uma mãe para mim. AGRADECIMENTOS A Deus, por me iluminar em todos os meus caminhos. A minha querida família. Eterna gratidão pela paciência, carinho, suporte e espera. A Secretaria de Saúde e Prefeitura Municipal de Jaborandi. Obrigada pela compreensão para que eu pudesse fazer este curso. Aos professores. Muito obrigada pelo carinho e conhecimento que nos foi destinado. Aos colegas e amigos. Agradeço a Deus por tê-los conhecido. SUMÁRIO Página Lista de Ilustrações------------------------------------------------------------------------08 Lista de Tabelas----------------------------------------------------------------------------09 Resumo--------------------------------------------------------------------------------------10 Abstract--------------------------------------------------------------------------------------11 Apresentação--------------------------------------------------------------------------------12 1.Introdução---------------------------------------------------------------------------------15 1.1. Fisiopatologia------------------------------------------------------------------------18 1.2. Classificação da Hipertensão Arterial---------------------------------------------20 1.3. Diagnóstico---------------------------------------------------------------------------22 1.4. Prognóstico---------------------------------------------------------------------------24 1.5. Terapêutica Anti-hipertensiva------------------------------------------------------24 2. Objetivos----------------------------------------------------------------------------------29 3. Metodologia------------------------------------------------------------------------------30 3.1. Local do Estudo---------------------------------------------------------------------30 3.2. População e Período do Estudo---------------------------------------------------30 3.3. Medidas de Pressão Arterial e Antropometria-----------------------------------30 3.4. Levantamento dos Dados----------------------------------------------------------31 4. Resultados e Discussão-----------------------------------------------------------------32 5. Conclusão---------------------------------------------------------------------------------41 6. Referências ------------------------------------------------------------------------------ 43 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Página QUADRO 1-----------------------------------------------------------------------------20 GRÁFICO 1-----------------------------------------------------------------------------32 GRÁFICO 2-----------------------------------------------------------------------------33 GRÁFICO 3-----------------------------------------------------------------------------34 GRÁFICO 4-----------------------------------------------------------------------------35 GRÁFICO 5-----------------------------------------------------------------------------36 LISTA DE TABELAS Página TABELA 1------------------------------------------------------------------------------37 TABELA 2------------------------------------------------------------------------------38 TABELA 3------------------------------------------------------------------------------39 TABELA 4------------------------------------------------------------------------------40 RESUMO A Hipertensão Arterial é uma doença de elevada prevalência em nosso país, atingindo cerca de 20% da população adulta jovem e 50% da população idosa. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da Hipertensão Arterial e a percepção do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos que participam do Programa de saúde da família do município de Jaborandi, S.P. Participaram do estudo 33 idosos (> 60 anos). Entre eles, 63,6% foram classificados como hipertensos, sendo que destes, 72,2% sabiam ter hipertensão. Dos hipertensos, 66,7% não apresentaram controle eficaz dos níveis pressóricos e 38,1 % não estavam sendo tratados. As variáveis que apresentaram associações positivas com o saber ter hipertensão foram: gênero feminino (75%), percepção da saúde como ruim (93,7%), maior número de consultas médicas (93,8%), medir a pressão arterial com mais frequencia (87,5%), não fumar (87,5), não beber (75%), não ter deixado de realizar alguma atividade habitual por problemas de saúde (75%), não ter diagnóstico médico anterior de Diabetes (87,5%) e de Angina e/ou Infarto (81,3%)], história familiar de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade (56,2%), menor número de internações hospitalares nos últimos 12 meses (75%). Encontrou-se associação negativa entre o saber ter hipertensão com: maior faixa etária (7,3%), obesidade (18,8%), falta de atividade física (25%), morar só (19,7%), maior número internações hospitalares nos últimos 12 meses (75%) e ter plano privado de saúde (81,3%). Concluiu-se que é importante o acesso dos idosos aos serviços de saúde para que a sua condição de hipertenso possa ser diagnosticada e tratada e tenha informação sobre a hipertensão, fazendo com o idoso possa aderir satisfatoriamente ao tratamento. Palavras chaves: Hipertensão Arterial; Idosos; Serviço de saúde. ABSTRACT The Arterial Hypertension is an illness of high prevalence in our country, reaching about 20% of adult young population e 50% of the aged population. The objective of this study was to determine the prevalence of the Arterial Hipertension and the perception of the awareness of hypertension between aged residents in the community. They had participated of the study 33 aged (≥ 60 years) of the city of Jaborandi, São Paulo. Between them, 63.6% had been classified as hypertensive, being that of these, 72.2% only knew to be hypertensive. Of the aged hipertensive, 66.7% had not presented efficient control of the pressuric levels and 38.1 % was not being treated. The following variables have presented positive associations with knowing to be hypertensive: feminine sex (75%), perception of the health as bad (93,7%), number of medical consultations (93,8%), minor time of the last measure of the arterial pressure (87,5%), not to smoke (87,5), not to drink (75%), not to have left to carry through some habitual activity for health problems (75%), not to have previous medical diagnosis of Diabetes (87,5%) and Angina and/or Stroke (81,3%), familiar history of cardiovascular illnesses before the 50 years of age (56,2%), minor number of hospital internments in last the 12 months (75%) Negative association between knowing met to be hypertensive with: bigger age band (7,3%), obesity (18,8%), physical activity (25%), to live alone (19,7%), greater number hospital internments in last the 12 months (75%) and have private plan of health (81,3%). Was concluded that is very important the access to health services by senior citizens, so that their hypertension is diagnosed and treated and information provided by the health care service, so that individuals are aware of being hypertensive and can receive satisfactory treatment. Key words: Arterial hypertension; Elderly; Health service. APRESENTAÇÃO “É bom, quando se é jovem. Depois que fica velho, as doenças aparecem” (J.S.S. - 87 anos; portadora de hipertensão arterial, diabetes mellitus e deficiência física; parcialmente dependente; viúva; aposentada; mora sozinha) “Nunca tive doença nenhuma. Depois de velho, a pressão começou a ficar alta” (N.C. – 70 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente independente; casado; aposentado) “Às vezes sinto dor de cabeça e tontura. Tomo o remédio todos os dias. O que sinto medo mesmo, é de ficar na cama e depender dos outros” (A.C.L. - 72 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; casada; dona-decasa) “Eu só tomo o remédio, quando a pressão está alta. E me sinto bem melhor” (A.F.L. - 76 anos; portador de hipertensão arterial e deficiência visual; independente; casado; aposentado) “Descobri por acaso quando fui ao médico. Ele falou, que minha pressão estava um pouco alta, mas eu não sinto nada não” (E.R.C. - 61 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; casada; do lar. “Eles falam que infarto e derrame, dá por causa de pressão alta” (T.P.C. - 68 anos; portadora de hipertensão arterial; totalmente independente; viúva; aposentada; mora com o filho) “Com pressão alta não se brinca não. Vê quantas pessoas que a pressão sobe e elas morrem de repente!” (J.B.G. - 74 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente dependente; casado; aposentado) “A vida é boa, quando se tem saúde. Com a minha idade, tomo remédio pra pressão todo dia” (A.G. - 79 anos; portador de hipertensão arterial; totalmente independente; viúvo; aposentado; mora com a filha) Em nossa sociedade, os idosos, sendo considerados os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, têm possibilidades menores de vida digna, visto, não apenas, a imagem social da velhice entre nós, vista como época de perdas, incapacidades, decrepitudes, mas pela situação objetiva de aposentadoria insuficiente, oportunidades negadas, exclusão social, pelo menos, da maior parte dessa população. O envelhecimento é um fator de risco em várias doenças crônico-degenerativas, fazendo da velhice uma época em que as doenças se apresentam de formas variáveis e com maior intensidade. As doenças do aparelho circulatório constituem a principal causa de morte entre os idosos, correspondendo a cerca de 40% dos óbitos desta população. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), sendo o mais comum e importante fator de risco para a doença cardiovascular tem, com esta, uma relação contínua e progressiva. (FUCHS, 2004). Trabalhando numa Unidade de Saúde da Família, durante uma campanha de cadastramento de pessoas portadoras de hipertensão arterial, iniciada no ano de 2004, pude perceber o elevado número de idosos que foram cadastrados. O que mais despertou minha atenção, foi a constatação de que muitos deles não sabiam que seus níveis de pressão arterial eram elevados, uns não apresentavam boa adesão ao tratamento e outros, tinham dificuldades, em manter o controle adequado dos níveis de pressão arterial, mesmo seguindo a terapêutica prescrita pelo médico. Foi então, que em 2005, durante o Curso de Especialização em Saúde Pública, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, tive a oportunidade de investigar a prevalência da hipertensão arterial e a percepção da morbidade entre os idosos usuários do serviço de saúde, onde trabalho como enfermeira, no município de Jaborandi-SP. Entender os motivos de sensações e posturas tão díspares, frente à morbidade é fundamental, se o motivo for o de propor condutas e políticas que favoreçam terapêutica eficaz, adesão ao tratamento, um caminho feliz para a velhice, para que seja uma etapa de vida repleta de significado. 1. INTRODUÇÃO Hipertensão Arterial é uma síndrome clínica, caracterizada pela elevação da pressão arterial a níveis iguais ou superiores a 140 mmHg de pressão sistólica e/ ou 90 mmHg de diastólica – em pelo menos duas aferições subseqüentes – obtidas em dias diferentes, ou em condições de repouso e ambiente tranqüilo. Quase sempre, acompanham esses achados de forma progressiva, lesões nos vasos sanguíneos com subseqüentes alterações de órgãos alvos como cérebro, coração, rins e retina. Geralmente, é uma doença silenciosa: não dói, não provoca sintomas, entretanto, pode matar. Quando ocorrem sintomas, já decorrem de complicações. (SILVA; SOUZA, 2004). A pressão ideal é aquela menor que 120 sistólica e 80 diastólica. O Ministério da Saúde (MS), considera este valor ideal, porque há menos riscos para o aparelho cardiovascular. (SILVA; SOUZA, 2004). A Hipertensão Arterial é uma doença de alta prevalência em nosso país, atingindo cerca de 20% da população adulta jovem e 50% da população idosa. Dos casos de hipertensão, aproximadamente, 90% são do tipo primário, cuja etiologia é desconhecida. Se não detectada precocemente, poderá ocasionar uma série de distúrbios, levando a lesões de órgãos vitais como coração, cérebro e rins. (OLIVEIRA; ARAÚJO; MELO et al., 2002). A Hipertensão Arterial Sistêmica é o principal fator de risco para doenças decorrentes de aterosclerose e trombose, que se exteriorizam, predominantemente, por acometimento isquêmico cardíaco, cerebral, vascular periférico e renal, sendo a causa modificável mais importante para a morbidade e a mortalidade cardiovascular. Permanece como um dos grandes desafios contemporâneos e vem se transformando, progressivamente, num dos mais graves problemas de saúde pública, atingindo em especial, os mais idosos. (FUCHS, 2004). A Hipertensão Arterial é responsável por aproximadamente, 25% da etiologia multifatorial da cardiopatia isquêmica e por 40% da etiologia dos acidentes vasculares cerebrais, sendo a causa da cardiopatia hipertensiva. Como fator de risco para cardiopatia isquêmica e fator etiológico da cardiopatia hipertensiva, a HAS está freqüentemente na linha causal de insuficiência cardíaca. De forma similar, o acometimento isquêmico e as alterações glomerulares diretas tornam a hipertensão arterial uma das mais freqüentes causas de insuficiência renal crônica. Essa multiplicidade de conseqüências, coloca a hipertensão arterial na origem das doenças crônico-degenerativas e, portanto, a caracteriza como uma das causas de maior redução da expectativa e da qualidade de vida dos indivíduos. (FUCHS, 2004). A prevalência da hipertensão aumenta com a idade e sua magnitude, depende dos atributos biológicos/demográficos das populações, do estilo de vida predominante em cada uma delas, do ambiente físico e psicossocial, das características da organização dos serviços e das respectivas interações entre esses vários elementos. (BARRETO; CARMO, 1998). A Hipertensão Arterial exige tratamento contínuo e controle durante toda a vida e a baixa adesão ao seu tratamento, representa um importante problema de saúde pública. (KOHLMANN JR; PLAVNIK, 2002). O conhecimento sobre a doença e o tratamento é uma variável a ser considerada no contexto da adesão ao tratamento. De um modo geral os hipertensos possuem a informação sobre sua problemática de saúde, porém não estão devidamente controlados. A discrepância entre ter informação a respeito da doença e o tratamento e conseguir controlar a pressão arterial, aponta para a diferença essencial entre o conhecimento e a adesão. Enquanto o conhecimento é racional, a adesão é um processo complexo, que envolve fatores emocionais e barreiras concretas, de ordem prática e logística. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2003). Diversas razões podem ser implicadas nas baixas taxas de controle da pressão arterial. A primeira delas é o indivíduo desconhecer sua condição de hipertenso, o que certamente, retrata o caráter assintomático da doença. A segunda, está relacionada ao paciente que não adere ao tratamento: vários levantamentos têm mostrado que 25% a 50% dos pacientes hipertensos, abandonam o tratamento, após um ano. A terceira, refere-se ao médico, que não prescreve modificações no estilo de vida, doses adequadas ou combinadas apropriadas das medicações antihipertensivas. Em diversos países, tais como Estados Unidos, França e Inglaterra, esta realidade tem sido flagrada, especialmente, entre os médicos do atendimento primário de saúde. (POZZAN et al., 2002). A dificuldade, está em conscientizar o indivíduo de que o tratamento é para a vida inteira, uma vez que, na maioria dos casos, a hipertensão arterial não tem cura. Às vezes o medicamento pode apresentar algum efeito colateral, fazendo com que a pessoa abandone o tratamento. Outras vezes, ela começa o tratamento e após certo tempo, acha que se curou e o abandona. Isso acontece se o paciente não for orientado adequadamente. Então, a maior dificuldade é estimular esse paciente, a aderir ao tratamento. Existem maneiras diferentes de se tratar o indivíduo hipertenso, como uma grande quantidade de medicamentos e de medidas a serem feitas, mas é preciso que ele seja orientado nesse sentido. (KOHLMANN JR, 2002). Para haver adesão ao tratamento, o paciente deve conhecer a sua condição de saúde, a importância do controle da pressão arterial, ter acesso aos serviços de saúde e esses serviços devem ser capazes de manter o tratamento por toda a vida do paciente. Os idosos abandonam o tratamento mais frequentemente e, entre as causas, o uso de um grande número de medicações está relacionado à menor adesão ao tratamento (analgésicos, anti-anginosos, anti-hipertensivos etc), além da dificuldade em conseguir os medicamentos e atender às consultas já agendadas. (GIORGI, 2001). Os fatores psicossociais, como percepção individual ou crenças, auto-eficácia, automotivação, autoestima, sentimento de bem-estar, ansiedade e depressão, também interferem no processo. Dentro do suporte social, a participação da família do idoso é altamente relevante na aquisição de hábitos e mudanças no estilo de vida, bem como a ajuda, no seguimento da proposta medicamentosa. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2003). Sendo a Hipertensão Arterial a doença mais frequentemente observada entre os idosos e o principal fator de risco para a morbidade e mortalidade cardiovascular, justifica-se a importância deste estudo, que pretende identificar a percepção dos idosos sobre a morbidade e os fatores associados ao seu tratamento. 1.1 FISIOPATOLOGIA Alterações cardiovasculares A sobrecarga do sistema cardiovascular causada pelo aumento da pressão arterial e pela ativação de fatores de crescimento, leva a alterações estruturais de adaptação, com estreitamento do lúmen arteriolar e aumento da relação entre a espessura da média e da parede arterial. Isso, aumenta a resistência ao fluxo e a resposta aos estímulos vasoconstrictores. A adaptação vascular, instala-se rapidamente. Adaptações estruturais cardíacas, consistem na hipertrofia da parede ventricular esquerda, em resposta ao aumento na pós-carga (hipertrofia concêntrica), e no aumento do diâmetro da cavidade ventricular com o aumento, correspondente na espessura da parede ventricular (hipertrofia excêntrica), em resposta ao aumento da pré-carga. Tanto as adaptações vasculares, quanto às cardíacas, atuam como amplificadores das alterações hemodinâmicas da hipertensão e como início de várias das complicações dela decorrentes. (BATLOUNI; FREITAS, 2002). Na presença de hipertensão ou aterosclerose, a função endotelial está alterada e as respostas pressóricas aos estímulos locais e endógenos, passam a se tornar dominantes. Ainda é muito cedo para determinar se a hipertensão de uma forma geral, está associada à disfunção endotelial. Também, ainda não está claro se a disfunção endotelial seria secundária à hipertensão arterial ou se seria uma expressão primária de uma predisposição genética. Estudos recentes, identificaram de forma mais clara, vários mecanismos fisiopatológicos envolvidos na hipertensão arterial, no entanto, ainda não está claro quais os fatores são iniciadores da hipertensão e quais são seus perpetuadores. (BATLOUNI; FREITAS, 2002). Alterações renais e hidroeletrolíticas Mecanismos renais estão envolvidos na patogênese da hipertensão, tanto através de uma natriurese alterada, levando à retenção de sódio e água, quanto pela liberação alterada de fatores que aumentam a pressão arterial como a renina ou de fatores depressores da pressão arterial como prostaglandinas. O sistema renina-angiotensina está envolvido no controle fisiológico da pressão arterial e no controle do sódio. Tem importantes implicações, no desenvolvimento da hipertensão renal e deve estar envolvido, na patogênese da hipertensão arterial essencial. O papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona a nível cardíaco, vascular e renal é mediado pela produção ou ativação de diversos fatores de crescimento e substâncias vaso-ativas, induzindo vasoconstricção e hipertrofia celular. A lesão mais característica, é a endoteliose capilar glomerular, causando o espessamento das membranas glomerulares, que reduz a taxa de filtração de líquido dos glomérulos para os túbulos renais. Assim, o nível de pressão arterial para produzir uma formação normal de urina apresenta-se elevado, e o nível de pressão arterial a longo prazo, torna-se correspondentemente elevado. (GUYTON; HALL, 1997). A função renal, em pacientes idosos, deve receber especial atenção, tendo-se em conta que com a idade a taxa de filtração glomerular diminui, interferindo na eliminação de certos fármacos. A redução da massa muscular corporal, em cerca de 30%, se reflete em uma menor produção de creatinina sérica, que assim, não expressa a real filtração glomerular, determinando a necessidade de ajuste na dose dos fármacos através do clearence creatinina (BRANDÃO et al., 2002). Alterações pulmonares Frequentemente, a redução do compliance ventricular leva a sintoma de dispnéia, mesmo aos pequenos e médios esforços. A alta incidência de processos infecciosos pulmonares em idosos, principalmente em curso de doenças crônicas como a insuficiência cardíaca, indica a vacinação contra o pneumococo e a antigripal, principalmente, nos locais de clima mais frio. (BATLOUNI; FREITAS, 2002). 1.2. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL A classificação utilizada, mais recente, é preconizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, baseada em parâmetros norte-americanos. Houve uma simplificação das faixas pressóricas e a categorização de uma situação dita “pré-hipertensão”, onde as modificações no estilo de vida devem ser mais incentivadas, tendo em vista, a grande possibilidade de evolução futura para o estado de hipertensão arterial com o avançar da idade. Nesta classificação atual, a pressão ideal é aquela menor que 120 sistólica e 80 diastólica. (SILVA; SOUZA, 2004). QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Classificação Ótima Normal Limítrofe PAS (mmHg) < 120 < 130 130-139 PAD (mmHg) < 80 < 85 85-89 Hipertensão Estágio I (leve) Estágio II (moderado) Estágio III (grave) Sistólica isolada 140-159 160-179 > 180 > 140 90-99 100-109 > 110 > 90 O valor mais alto de sistólica ou diastólica estabelece o estágio do quadro hipertensivo. Quando as pressões sistólica e diastólica, situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação do estágio. Fonte: www.sbh.org.br IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2002. Com o envelhecimento, ocorre a perda da elasticidade nos grandes vasos com tendência ao aumento da pressão arterial sistólica, propiciando maior prevalência de pressão arterial sistólica entre os idosos, constituindo um fator preditivo positivo, para o desenvolvimento de eventos cardiovasculares. Por outro lado, a pressão diastólica, configura-se como um preditor negativo, enquanto a pressão de pulso, a diferença da leitura da pressão arterial sistólica e diastólica, assume um grande papel. (BATLOUNI; FREITAS, 2002). Blacher et al. mostraram, em recente estudo de metanálise, com cerca de 8000 pacientes, que a pressão de pulso é o índice de risco cardiovascular mais importante entre os idosos. Neste estudo, foi observado que, com 10 mmHg acima do valor normal da pressão de pulso, situado ao redor de 40 mmHg, há um aumento de 13% para eventos cardiovasculares e de 20%, para a mortalidade cardiovascular. (FREITAS, 2003). Métodos não-invasivos, têm possibilitado avaliação mais precisa da pressão de pulso, do contorno e da velocidade da onda de pulso, que permitem a determinação de vários índices de rigidez arterial. Em recentes estudos, o aumento da velocidade da onda de pulso, tem sido relacionado com o envelhecimento, hipertensão arterial e aterosclerose, além de ter se mostrado um marcador de doenças cardiovasculares. (FREITAS, 2003). A insuficiência cardíaca, pode ser causada por disfunção sistólica, diastólica, ou pela associação de ambas. O diagnóstico diferencial entre essas entidades clínicas, com a determinação do predomínio de uma sobre a outra, é indispensável para o sucesso terapêutico. Em 50% dos pacientes idosos, principalmente naqueles com 70 anos ou mais, a insuficiência cardíaca é causada por alteração na função diastólica. Quando a insuficiência cardíaca é causada por disfunção diastólica isolada, os sintomas congestivos, resultam de hipertensão venosa pulmonar, sendo a função sistólica normal e sem ocorrência de aumento da área cardíaca. A taxa de mortalidade nesses casos é acompanhada à da insuficiência cardíaca sistólica, alcançando cerca de 50%, em cinco anos. A hipertensão arterial sistólica, tem importante papel no desenvolvimento da insuficiência cardíaca diastólica, nos idosos. (FREITAS, 2003). 1.3. DIAGNÓSTICO A medida da pressão arterial é comprovadamente, o elemento chave para estabelecer o diagnóstico da hipertensão arterial. Alguns estudos têm mostrado que na prática clínica, nem sempre a medida da pressão arterial é realizada de forma adequada. Os erros, no entanto, podem ser evitados com o preparo apropriado do paciente, uso de técnica padronizada de medida da pressão arterial e equipamento calibrado. O método mais utilizado é o indireto, com técnica auscultatória, com esfigmomanômetro aneróide ou de coluna de mercúrio e estetoscópio (IV DIRETRIZES, 2002a). Na primeira avaliação, as medições devem ser obtidas em ambos os membros superiores. A posição recomendada para a medida da pressão arterial, é a sentada. Em caso de diferença, utilizar sempre o braço de maior pressão. Entretanto, a medida na posição ortostática deve ser feita pelo menos, na primeira avaliação, especialmente em idosos, diabéticos, pacientes com disautonomias, alcoólicos e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva (IV DIRETRIZES, 2002a). A medida ambulatorial da pressão arterial, (MAPA) é um método automático de medida indireta e intermitente, da pressão arterial, durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono. Afasta-se, portanto, a possibilidade de influência do observador e do ambiente de consultório, na medida da pressão arterial. Além disso, tem sido demonstrado que esse método apresenta uma melhor correlação com o risco cardiovascular, do que a medida da pressão arterial de consultório. As principais indicações para esse método são: hipertensão de consultório ou do avental branco; avaliação da hipertensão arterial resistente; hipertensão arterial episódica; suspeita de episódios de hipertensão arterial sintomática; e avaliação da eficácia da terapêutica anti-hipertensiva (IV DIRETRIZES, 2002a). Segundo, Sgambatti; Pierin e Mion JR (2000), no idoso, há dois aspectos importantes: • maior freqüência de hiato auscultatório, que consiste no desaparecimento dos sons, na ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II dos sons de Korotkoff. Tal achado, pode subestimar a verdadeira pressão sistólica ou superestimar, a pressão diastólica; • pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pressão arterial falsamente elevado, em decorrência do enrijecimento da parede da artéria. Pode ser detectada por meio da manobra de Osler, que consiste na inflação do manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial. Se a artéria for palpável após esse procedimento, sugerindo enrijecimento, o paciente é considerado Oster-positivo. A avaliação complementar mínima, de um paciente hipertenso, inclui a glicemia, o colesterol total, uréia, creatinina, potássio e eletrocardiograma. O objetivo dessa investigação, é basicamente, a detecção de co-morbidades como: diabetes, alteração da função renal, dislipidemia, hipertensão ventricular esquerda e doença coronariana associada. É importante ter em mente, que o objetivo do seguimento do paciente hipertenso é impedir um aumento do risco de redução da expectativa de vida ou de doenças de potencial mórbido elevado. Como existe uma população hipertensa muito grande é inviável estudá-la na sua totalidade, sem uma elevação muito grande do custo do tratamento. A população portadora de hipertensão sem outros fatores de risco possui um risco muito menor de eventos, do que os portadores de outros fatores de risco. (MION JR; PIERIN; NOBRE, 1998). O uso rotineiro da ecocardiografia é extremamente discutível, tendo em vista, a limitação técnica em relação à reprodutibilidade dos resultados, quanto à avaliação da massa ventricular e hipertensão ventricular esquerda, em um mesmo paciente. Apesar de não ser um exame caro, a relação custo benefício desse estudo, de forma rotineira, não tem base, no hipertenso não complicado. Exames mais sofisticados, como para pesquisa de hipertensão secundária devem ser reservados para pacientes com um potencial mórbido mais elevado e com indicação precisa, através de sinais clínicos sugestivos (MION JR; PIERIN; NOBRE, 1998). 1.4. PROGNÓSTICO A Hipertensão Arterial Sistêmica representa a doença tratável mais comum entre os idosos, com expressivo aumento, após os 70 anos, atingindo mais de 50% desses indivíduos, em ambos os sexos, com maior prevalência, no sexo feminino, após os 60 anos. Representa não apenas, uma enfermidade por si só, mas um importante fator de risco para o aparecimento de outras, como a doença arterial periférica, o acidente vascular cerebral, constituindo também, importante causa de insuficiência cardíaca entre os idosos. (BRANDÃO et al., 2002). O papel da Hipertensão Arterial, no desenvolvimento da insuficiência cardíaca encontrase bem estabelecido. Atualmente, há inúmeros dados disponíveis mostrando que a mortalidade total por doenças cardiovasculares é bem maior entre os idosos hipertensos do que entre os normotensos. A presença de hipertensão arterial, de acordo com os estudos de Framingham, aumenta de duas a três vezes, o risco do desenvolvimento de insuficiência cardíaca. (FREITAS, 2003). 1.4. TERAPÊUTICA ANTI-HIPERTENSIVA De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 1998 houve 1.500.000 internações por doenças cardiovasculares, com custo de 475 milhões de reais, que na época equivalia a cerca de 400 milhões de dólares. (PIERIN; GUSMÃO; CARVALHO, 2004). O principal objetivo do tratamento anti-hipertensivo é a redução dos níveis pressóricos para valores inferiores a pelo menos, 140 mmHg de pressão sistólica e a 90 mmHg de pressão diastólica, para diminuir a morbidade e mortalidade das doenças cardiovasculares, associadas ao valores elevados de hipertensão arterial, respeitando-se as características individuais, a presença de comorbidade e a qualidade de vida dos pacientes. (IV DIRETRIZES, 2002b). No paciente idoso deve-se sempre usar doses menores das medicações, que na população, não idosa. As reduções da pressão arterial devem ser leves e progressivas, com ajustes de doses menores e mais graduais. (IV DIRETRIZES, 2002b). As medicações preferenciais indicadas à terapia anti-hipertensiva, em pacientes idosos são os antagonistas dos canais de cálcio, os diuréticos, em doses baixas (12,5mg de hidroclorotiazida ou clortalidona) e os inibidores da enzima conversora de angiotensina. Os beta-bloqueadores e simpatolíticos de ação central podem ser usados, conforme o caso e as co-morbidades associadas. Deve ser evitado o uso de inibidores adrenérgicos centrais, alfa-bloqueadores e diuréticos em altas doses. O tratamento deve ser iniciado com a metade da dose recomendada e aumentado lentamente, até a dose terapêutica. (BRANDÃO et al. 2002). A maioria dos estudos clínicos controlados com idosos, tem mostrado que a redução da pressão arterial com diuréticos e betabloqueadores, diminui a incidência de eventos cardiovasculares (acidente vascular encefálico e insuficiência cardíaca em particular) e a mortalidade geral, mesmo em casos de hipertensão sistólica isolada e de pacientes com mais de 80 anos, portadores de cardiopatia. Estudo recente, utilizando o antagonista dos canais de cálcio nitrendipina e o inibidor da enzima conversora da angiotensina - enalapril para o tratamento da hipertensão arterial sistólica isolada do idoso, também demonstrou uma diminuição da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. (IV DIRETRIZES, 2002b). Drogas que exacerbam alterações posturais da pressão arterial (como bloqueadores adrenérgicos periféricos, alfabloqueadores e diuréticos, em altas doses), ou que possam causar alterações cognitivas (alfametildopa), devem ser utilizadas com cautela, no idoso. O risco de interações medicamentosas deve ser sempre lembrado, devido à alta prevalência de co-morbidade no idoso. (BRANDÃO et al. 2002). Antagonistas dos canais de cálcio A ação anti-hipertensiva desses fármacos decorre da redução da resistência vascular periférica por diminuição da concentração de cálcio, nas células musculares lisas vasculares. Apesar do mecanismo final comum, esse subgrupo é dividido em três subgrupos, com características químicas e farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas, benzotiazepinas e diidropiridinas. São anti-hipertensivos eficazes e reduzem a morbidade e mortalidade cardiovasculares, em idosos. Em comparação com outros antihipertensivos, levam a menor redução nas taxas de hospitalização por insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio (IV DIRETRIZES, 2002b). Os eventos adversos mais comuns são: cefaléia, rubor facial mais freqüentes, com diidropiridínicos de ação de curta duração, e edema periférico. Os diidropiridínicos de ação de curta duração, provocam importante estimulação simpática reflexa, sabidamente deletéria para o sistema cardiovascular. Verapamil e diltiazem podem provocar depressão miocárdica e bloqueio atrioventricular. Obstipação intestinal é observada, sobretudo, com o verapamil. (IV DIRETRIZES, 2002b). Diuréticos O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacionado, numa primeira fase, à depleção de volume e, a seguir, à redução da resistência vascular periférica decorrente de mecanismos diversos. São eficazes na hipertensão arterial, tendo sido comprovada sua eficácia, na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. (IV DIRETRIZES, 2002b). Como anti-hipertensivos, são preferidos os diuréticos tiazídicos e similares, em baixas doses. Os diuréticos de alça, são reservados para as situações de hipertensão associada a insuficiências renal e cardíaca. Os diuréticos poupadores de potássio, apresentam pequena potência diurética, mas quando associados a tiazídicos e a diuréticos de alça, são úteis na prevenção e no tratamento de hipopotassemia. Seu uso em pacientes com redução da função renal, pode acarretar hiperpotassemia. (IV DIRETRIZES, 2002b). Entre os efeitos adversos dos diuréticos, destaca-se a hipopotassemia, por vezes acompanhada de hipomagnesemia, que pode induzir arrítmias ventriculares, e a hiperuricemia. O emprego de baixas doses, diminui o risco de efeitos adversos, sem prejuízo da eficácia antihipertensiva. Os diuréticos também podem provocar intolerância à glicose, além de promover aumento da trigliceridemia, em geral dependente da dose. Trata-se de um evento transitório e de importância clínica ainda não comprovada. (IV DIRETRIZES, 2002b). Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA) Agem fundalmentalmente, pela inibição da enzima conversora, bloqueando a transformação da angiotensina I em II, no sangue e nos tecidos. Existem, no entanto, evidências de que outros fatores podem estar envolvidos no mecanismo de ação dessas substâncias. (IV DIRETRIZES, 2002b). São eficazes no tratamento da hipertensão arterial e também reduzem a morbidade e a mortalidade das doenças cardiovasculares entre os hipertensos, pacientes com insuficiência cardíaca, com infarto agudo do miocárdio, em especial quando apresentam baixa fração de ejeção, pacientes de alto risco para doença aterosclerótica e são úteis na prevenção secundária, do acidente vascular cerebral. Quando administrados a longo prazo, os inibidores da enzima conversora de angiotensina, retardam o declínio da função renal, em pacientes com nefropatia diabética ou de outras etiologias (IV DIRETRIZES, 2002b). Em indivíduos com insuficiência renal crônica, podem induzir hiperpotassemia. Em pacientes com hipertensão renovascular bilateral ou com um rim único, podem promover redução da filtração glomerular com aumento dos níveis séricos de uréia e creatinina. Em associação com diurético, a ação anti-hipertensiva dos inibidores da enzima conversora de angiotensina é magnificada, podendo ocorrer hipotensão postural. Entre as reações adversas, destacam-se: tosse seca, alteração do paladar, e mais ramamente, reações de hipersensibilidade com erupção cutânea e edema angioneurótico. (IV DIRETRIZES, 2002b). Betabloqueadores Seu mecanismo anti-hipertensivo, envolve diminuição inicial do débito cardíaco, redução da secreção de renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas, nas sinapses nervosas. São eficazes no tratamento da hipertensão arterial e têm eficácia também, na redução da morbimortalidade cardiovascular. Constituem a primeira opção, na hipertensão arterial associada à doença arterial coronária ou à arritmias cardíacas, mostrando-se igualmente úteis, em pacientes com cefaléia de origem vascular. (IV DIRETRIZES, 2002b). As principais reações adversas são: broncoespasmo, bradicardia excessiva (inferior a 50 bat/min), distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíquica, astenia e disfunção sexual. A suspensão brusca de betabloqueadores pode provocar hiperatividade simpática, com hipertensão rebote e/ou manifestações de isquemia miocárdica, sobretudo em hipertensos com cifras pressóricas prévias muito elevadas (IV DIRETRIZES, 2002b). Os betabloqueadores são formalmente, contra-indicados para pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus. Devem ser utilizados com cautela em pacientes com doença vascular de extremidades (IV DIRETRIZES, 2002b). A ngiotensina II Antagonizam a ação da angiotensina II, por meio do bloqueio específico de seus . Estudos recentes, comprovam seu efeito benéfico em insuficiência cardíaca congestiva. (IV DIRETRIZES, 2002b). Em hipertensos com hipertrofia ventricular esquerda, tanto de baixo (sem lesão vascular) como de alto risco (diabete/lesão vascular), estudo recente demonstrou que o losartan proporciona redução da morbimortalidade cardiovascular, superior à observada com o betabloqueador atenolol, com eficácia especialmente maior, na incidência de redução de acidente vascular cerebral. (IV DIRETRIZES, 2002b). Os antagonistas do receptor AT da angiotensina II, apresentam bom perfil de tolerabilidade. Seus efeitos adversos são representados por tontura e, raramente, por reação de hipersensibilidade cutânea (“rash”). (IV DIRETRIZES, 2002b). 2 OBJETIVOS - Determinar a prevalência da Hipertensão Arterial e a percepção do conhecimento da condição de ser hipertenso, entre os idosos atendidos pela equipe 2 do Programa de Saúde da Família, do município de Jaborandi – SP, no período de julho a dezembro de 2005. - Verificar a associação da Hipertensão Arterial nos idosos, segundo as seguintes variáveis: - Conhecimento da condição de ser hipertenso (Irá se considerar que sabe ser hipertenso, aquele que responder afirmativamente à pergunta: "algum médico ou profissional de saúde, já disse que o(a) senhor(a) tem pressão alta ou hipertensão?"); - Características sócio-demográficas (idade, sexo e viver só); - Hábitos de vida (consumo atual de cigarros, freqüência de consumo atual de bebidas alcoólicas e prática de atividades físicas frequentes); - Indicadores da condição de saúde (relato de diagnóstico médico de diabetes, de infarto do miocárdio, história familiar de doenças cardiovasculares, antes dos cinqüenta anos de idade, ter deixado de realizar atividade habitual por problemas de saúde, nas últimas duas semanas e percepção da própria saúde, nos últimos seis meses); - Uso de medicamentos (número de medicamentos, prescritos e não prescritos utilizados nos últimos 15 dias, excluindo-se os medicamentos para hipertensão); - Uso dos serviços de saúde (tempo decorrido após a última medida de pressão arterial, número de consultas médicas nos últimos 12 meses, número de internações hospitalares nos últimos 12 meses); - Outros (filiação a plano privado de saúde). 3. METODOLOGIA 3.1. Local do Estudo A cidade de Jaborandi está localizada ao norte do Estado de São Paulo. O nome Jaborandi se deve a enorme quantidade da planta Pilocarpus Jaborandi Holmes, popularmente conhecida como jaborandi que existiam as margens do córrego, onde o minicípio teve origem. Em 26 de dezembro de 1924, foi criado o Distrito de Paz de Jaborandi. Mais tarde, em 14 de dezembro de 1925, foi incorporado ao município de Colina e em 24 de dezembro de 1948, teve a sua emancipação política e administrativa. O município de Jaborandi possui duas Unidades Básicas de Saúde, sendo um Centro Municipal de Saúde e outro composto por duas equipes de Programa de Saúde da Família. No Programa de Saúde da Família, foi cadastrada toda a população do município (6243 pessoas), tanto a residente na zona urbana, quanto a da zona rural, totalizando 1837 famílias atendidas, segundo dados obtidos do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica). O estudo foi realizado junto a equipe 2 do Programa de Saúde da Família, que abrange apenas, a zona urbana e atende, 946 famílias. 3.2. População e Período do Estudo O estudo foi realizado com 33 idosos, moradores na área de abrangência da equipe 2 do Programa de Saúde da Família, no período de agosto a dezembro de 2005. 3.3. Medidas de Pressão Arterial e Antropometria As medidas de pressão arterial foram realizadas com cada participante do estudo, durante as visitas domiciliares, após cinco minutos de descanso, a intervalos de dois minutos, com o indivíduo sentado e com o braço em repouso, na altura do coração. Estas medidas foram obtidas em recinto isolado, silencioso e em ambiente arejado. A primeira medida, foi realizada após pelo menos, trinta minutos sem ingestão de café e/ou uso de cigarro. A pressão arterial considerada foi a média da primeira e segunda medidas. O método utilizado foi o indireto, com técnica auscultatória, estetoscópio e esfigmomanômetro aneróide, periodicamente testado e devidamente calibrado, a cada seis meses, seguindo as normas de aferição da pressão arterial segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (BRASIL, 2001). Foram considerados hipertensos, aqueles que: apresentaram pressão sistólica > 140 mmHg e/ou pressão diastólica > 90mmHg e/ou relataram o uso de medicamentos para hipertensão, nos últimos noventa dias. As medidas antropométricas foram realizadas na unidade de saúde da família pela enfermeira, com os indivíduos usando roupas leves, utilizando-se balança e antropômetro padronizados. Foram considerados o peso e a altura para a determinação do índice de massa corporal (peso/altura2). 3.4 Levantamento dos Dados Foi feito o levantamento dos dados através de entrevistas realizadas nos domicílios dos idosos, fazendo-se perguntas estruturadas e pré-codificadas, baseadas nas variáveis citadas. Quando o entrevistado estava impossibilitado de responder à entrevista, devido a déficit cognitivo ou a algum problema de saúde, um respondente próximo adequado respondia por ele. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Temos a seguir, os dados apresentados sob forma de Gráficos e Tabelas de acordo com as variáveis estudadas. Podemos observar no Gráfico 1, que a ocorrência da Hipertensão Arterial entre os 33 idosos que participaram deste estudo foi de 63,6%. Segundo a IV DIRETRIZES (2002a), pelo menos, 65% dos idosos brasileiros eramo hipertensos, mostrando assim que os resultados estão de acordo com a literatura. Estudos populacionais brasileiros, mostram uma prevalência de 11% de Hipertensão Arterial Sistêmica, entre os adultos de Porto Alegre, RS e Volta Redonda, RJ e de 25%, nos de Araraquara, SP. (SOUZA et al., 2005) 100% 80% 63, 6% 60% 36, 4% 40% 20% 0% com H.A. sem H.A. GRÁFICO 1: Distribuição dos idosos, segundo a prevalência da Hipertensão Arterial, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 A proporção dos idosos classificados como hipertensos, que desconheciam ter a doença foi de 23,8%. (Gráfico 2) Segundo os autores, FUCHS; CASTRO e FUCHS (2004), apesar dos esforços para diagnosticar e tratar a doença, cerca de 35% a 83% dos portadores de hipertensão, desconheciam sua condição. 100% 80% 76, 2% 60% 40% 23, 8% 20% 0% Sabia ter hipertensão Não sabia ter hipertensão GRÁFICO 2: Proporção dos idosos hipertensos, em relação ao conhecimento de sua doença, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 No Gráfico 3, pode-se observar que, 66,7% dos idosos com Hipertensão Arterial apresentaram pressão sistólica >140mmHg e pressão diastólica > 90mmHg. O percentual de pacientes hipertensos que sabe da sua condição, que estão tratados e que estão com os níveis de pressão arterial controlados ainda é muito baixo, mesmo nos países desenvolvidos (POZZAN et al., 2003). 100% 80% 66, 7% 60% 33, 3% 40% 20% 0% PA ≥140/90 mmHg PA ≤140/90 mmHg GRÁFICO 3: Prevalência dos idosos (hipertensos) com pressão arterial ≥ 140/90 mmHg, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 No Gráfico 4, têm-se a distribuição dos idosos hipertensos, segundo o tratamento da Hipertensão Arterial. Observa-se que, 38,1% não estavam sendo tratados para Hipertensão Arterial, ou seja, cerca de, aproximadamente, 1/3 deles. A falta de adesão ao tratamento, constitui-se em um dos maiores problemas no controle da hipertensão arterial, ocorrendo em até, 40% dos pacientes, por diversos motivos, entre eles temos: característica assintomática da doença, tratamento prolongado, custo alto dos medicamentos e seus efeitos colaterais, relação médico-paciente insatisfatória. (SIMONETTI; BATISTA; CARVALHO, 2002; FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004). Diminuir essa proporção, constitui-se em um dos maiores desafios, no tratamento do hipertenso. (SIMONETTI; BATISTA; CARVALHO, 2002). A ausência de sintomas e o fato da hipertensão ser uma doença crônica são dois aspectos que contribuem fortemente, para a baixa adesão ao tratamento (FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004). 100% 80% 61, 9% 60% 38, 1% 40% 20% 0% sem tratamento com tratamento GRÁFICO 4: Distribuição dos idosos hipertensos, segundo o tratamento da Hipertensão Arterial, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 Dos idosos hipertensos que não estavam em tratamento para a doença, 41,7% sabiam ter hipertensão e 58,3%, não sabiam ser esta a sua condição. (Gráfico, 5) Segundo Simonetti; Batista; Carvalho, 2002 mesmo se evidenciando que a hipertensão arterial constitui um dos principais problemas de saúde, o número de hipertensos tratados é pequeno. Cerca de 50%, desconheciam sua condição. Dos que sabiam ter hipertensão, 50% não se tratavam, e destes, 50% não tinham sua pressão sob controle. Portanto, apenas, 10% dos hipertensos eram tratados, efetivamente. 100% 80% 58, 3% 60% 41, 7% 40% 20% 0% Não sabia ter hipertensãp Sabia ter hipertensão GRÁGICO 5: Distribuição dos idosos hipertensos, sem tratamento da Hipertensão Arterial, segundo o conhecimento da doença, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 A distribuição do conhecimento da condição de ter hipertensão entre os idosos, de acordo com as características sócio-demográficas está apresentada na Tabela 1. Gênero feminino, menor faixa etária e morar só apresentaram associações positivas com saber ter hipertensão. TABELA 1 – Distribuição percentual do conhecimento da condição de ter hipertensão, entre os idosos, segundo as características sócio-demográficas selecionadas, Jaborandi, PSF II, SP. 2005 Variáveis Sabia ter hipertensão (%) Sim (16) Não (05) Gênero Masculino Feminino 25,0 75,0 40,0 60,0 Faixa etária (em anos) 60-69 70-79 ≥ 80 50,0 43,7 07,3 40,0 40,0 20,0 Morar só Não Sim 81,3 18,7 20,0 80,0 Em relação a variável gênero, as mulheres, em comparação aos homens, apresentaram maior probabilidade de estar em tratamento e de ter a sua pressão arterial melhor controlada, pois 75% dos idosos que sabiam ter hipertensão, eram do gênero feminino. A hipertensão arterial, ocorreu com maior freqüência no gênero masculino, porém, devido às mudanças de hábitos das mulheres, essa freqüência tem diminuído. As mulheres que fumam e fazem uso de anticoncepcional, com mais de 30 anos, são as mais atingidas. No homem, aparece depois dos 30 anos e na mulher, após a menopausa. Em ambos os gêneros, a freqüência da hipertensão, cresce com o aumento da idade, sendo que, os homens jovens, têm pressão arterial mais elevada que as mulheres, porém após a meia idade, este quadro se reverte. (PESSUTO; CARVALHO, 1996) Tratando-se da variável idade, vários trabalhos a consideram como um fator de risco importante que contribui para o aparecimento da hipertensão arterial, devido a alterações na musculatura lisa e no tecido conjuntivo dos vasos, como conseqüência do processo de envelhecimento (PESSUTO; CARVALHO, 1996) Duas hipóteses poderiam ser levantadas para explicar a menor freqüência (7,3%) de conhecimento da condição de hipertenso entre idosos mais velhos: menor uso de serviços de saúde e imprecisão da informação, principalmente os que necessitam de respondente próximo. Geralmente, as consultas médicas diminuem com a idade, devido à diminuição da mobilidade física e capacidade de locomoção entre os idosos. A presença da família ou de um cuidador informal junto ao idoso, apresentou associação positiva com o saber ter hipertensão, ou seja, 81,3% entre os idosos que não moravam sozinhos. A rede de apoio familiar e social, além de auxiliar no cuidado à saúde do idoso, propicia uma maior probabilidade de adesão ao tratamento e controle dos níveis pressóricos. Com relação aos hábitos de vida, o saber ter hipertensão, teve relação positiva e elevada com o hábito de fumar e com a freqüência de consumo de bebida alcoólica. (Tabela 2). TABELA 2: Distribuição do conhecimento da condição de ter hipertensão, entre os idosos, segundo os hábitos de vida selecionados, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 Variáveis Sabia ter hipertensão (%) Sim (16) Não (05) Fuma atualmente Não Sim 87,5 12,5 80,0 20,0 Consumo ≥ 5 doses diárias de bebida alcoólica nos últimos 12 meses Não bebeu nos últimos 12 meses < 1 vez/semestre - < 1 vez/mês 3 vezes/mês - 2 vezes/semana ≥ 3 vezes/semana 75,0 12,5 6,25 6,25 40,0 20,0 20,0 20,0 Prática de atividades físicas Não Sim 75,0 25,0 80,0 20,0 A nicotina é prejudicial ao organismo, pois promove a liberação de catecolaminas, que aumentam a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a resistência periférica. Aumenta também, a capacidade orgânica em formar coágulos e diminui sua função de destruí-los. Há redução de oxigênio nos glóbulos vermelhos, em cerca de 15 a 20%, pois o monóxido de carbono que resulta da queima do fumo e do papel, se liga à hemoglobina. Este último, também lesa a parede interna dos vasos, propiciando a deposição de gorduras. (PESSUTO; CARVALHO, 1996). Entre os idosos hipertensos, não fumantes, o conhecimento da condição de hipertenso foi de 87,5%. O álcool é outro fator de risco, comentado na literatura, que contribui para o agravamento da patologia. O aumento das taxas de álcool no sangue, eleva a pressão arterial lenta e progressivamente, na proporção de 2 mmHg para cada 30 ml de álcool etílico ingeridos diariamente, sendo que quando suspenso, as cifras revertem. (PESSUTO; CARVALHO, 1996). O conhecimento da condição de ser um hipertenso entre os idosos que não consumiram bebida alcoólica nos últimos 6 meses, foi de 75%. Um dado interessante é que quando há redução no consumo de álcool, ocorre também redução no abandono do tratamento farmacológico. (PESSUTO; CARVALHO, 1996). A prática do exercício físico, contribui na redução da obesidade e para a prevenção de doenças coronárias. Também, auxilia na preservação da independência de pessoas idosas, melhorando o funcionamento do organismo, reforçando o coração, músculos, pulmões, ossos e articulação. A atividade física, realizada regularmente, melhora a condição física e a saúde do coração, devendo o exercício ser realizado, no mínimo, três vezes por semana, com duração de pelo menos vinte minutos, ser uma atividade regular, pois quando a mesma é interrompida a condição física deteriora-se, rapidamente (PESSUTO; CARVALHO, 1996). Neste estudo, foi constatado que, em relação aos hábitos de vida, apenas os idosos hipertensos que não praticam atividade física tinham um conhecimento positivo da sua condição de hipertenso (75%), pois a probabilidade deste conhecimento foi mais elevada entre os que cuidavam de sua saúde. A associação entre a distribuição do conhecimento da condição de hipertenso e alguns indicadores da condição de saúde, pode ser observada na Tabela 3. Todos os indicadores da condição de saúde apresentaram elevada associação com o saber se tinha hipertensão. TABELA 3: Distribuição do conhecimento da condição de hipertensos entre os idosos, segundo alguns indicadores de condição de saúde, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 Variáveis Sabia ter hipertensão (%) Sim (16) Não (05) Percepção da própria saúde Muito boa/ boa Razoável Ruim/ muito ruim 25,0 31,3 43,7 25,0 50,0 25,0 Ter deixado de realizar alguma atividade habitual por problemas de saúde nas 2 últimas semanas Não Sim 75,0 25,0 60,0 40,0 Diagnóstico médico anterior de Diabetes Não Sim 87,5 12,5 80,0 20,0 81,3 18,7 80,0 20,0 Diagnóstico médico anterior de Angina e/ou Infarto Não Sim História familiar de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade Não Sim 43,8 56,2 60,0 40,0 Índice de massa corporal (Kg/m²) ≤ 24 25-29 ≥ 30 31,2 50,0 18,8 40,0 40,0 20,0 Os idosos hipertensos, que apresentaram a percepção da sua própria saúde como ruim eram os que mais sabiam da sua condição (43,7%), pois são eles os clientes mais presentes nos serviços de saúde, tendo maiores chances de terem sua pressão arterial aferida e diagnosticada. Os idosos que apresentavam melhores condições de saúde (não ter deixado de realizar alguma atividade habitual por problemas de saúde nas duas últimas semanas, não ter diagnóstico médico anterior de Diabetes e não ter diagnóstico médico anterior de Angina e/ou Infarto) foram os que tiveram maior conhecimento da hipertensão arterial, sendo, respectivamente, na proporção de 75%, 87,5% e 81,3%. O caráter hereditário da doença também pode ser constatado com a maior probabilidade do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos que apresentaram história familiar positiva de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade (56,2%). A associação negativa encontrada no presente trabalho entre a obesidade e o conhecimento da condição de hipertenso (18,8%) pode estar refletindo a adesão a métodos complementares de tratamento da hipertensão, como dieta e prática de exercícios físicos. A Tabela 4, apresenta a distribuição do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos, segundo o uso de serviços de saúde, de medicamentos e filiação a plano privado de saúde. O número de consultas médicas, nos últimos 12 meses, o número de medicamentos (exceto antihipertensivos) usados nos últimos 15 dias, o tempo decorrido após a última medida de pressão arterial e a filiação a plano privado de saúde, apresentaram associações positivas com o saber ser um hipertenso. TABELA 4: Distribuição do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos, segundo o uso dos serviços de saúde, uso de medicamentos e uso de plano privado se saúde, PSF II, Jaborandi, SP. 2005 Variáveis Número de consultas médicas nos últimos 12 meses nenhuma 1-3 ≥4 Sabia ser hipertenso (%) Sim (16) Não (05) 06,2 56,3 37,5 60,0 20,0 20,0 Número de internações hospitalares nos últimos 12 meses nenhuma 75,0 1 18,8 ≥2 14,2 60,0 20,0 20,0 Número de medicamentos usados nos últimos 3 meses, prescritos e não-prescritos (exceto anti-hipertensivos) nenhum 18,8 1-2 37,5 3-4 31,3 ≥5 12,4 40,0 20,0 20,0 20,0 Tempo decorrido após a última medida de pressão arterial (em anos) ≥1 <1 12,5 87,5 40,0 60,0 Filiação a plano privado de saúde Não Sim 81,3 18,7 80,0 20,0 O conhecimento da condição de hipertenso foi mais freqüente, entre aqueles que usaram mais, os serviços de saúde (mais consultas medicas (93,8%) e menor tempo decorrido, após a última medida de pressão arterial (87,5%)], sendo o fator mais fortemente associado a este conhecimento. A proporção do conhecimento da condição de hipertenso foi positiva entre os idosos que não tiveram internações hospitalares nos últimos 12 meses (75%) e entre os que fizeram uso de 1 a 4 medicamentos, nos últimos 15 dias, prescritos e não-prescritos (exceto anti-hipertensivos) (68,8%). A filiação a plano privado de saúde, apresentou associação negativa e elevada, com o saber ser hipertenso, pois os idosos usuários do SUS apresentaram um maior conhecimento de sua condição (81,3%) em relação aos usuários de planos privados de saúde. Estes resultados chamam a atenção para a importância do acesso do idoso aos serviços de saúde, para que a sua condição de hipertenso possa ser diagnosticada e tratada e da informação prestada por este serviço, ao idoso para que este, sabendo ser um hipertenso, possa aderir satisfatoriamente ao tratamento. 5. CONCLUSÃO Baseado nos resultados obtidos este trabalho mostra uma elevada prevalência, da hipertensão arterial entre os idosos, na comunidade estudada (63,6%), como também, daqueles que não sabiam, ser hipertensos (23,8%). O conhecimento da condição de hipertenso foi mais freqüente entre as mulheres (75%), entre aqueles que usaram mais, os serviços de saúde (mais consultas médicas, (93,8%) e menor tempo decorrido após a última medida de pressão arterial (87,5%), e entre os que percebiam a sua saúde, como ruim (93,7%). Além desses, encontrou-se uma associação negativa, entre o saber ser hipertenso com a obesidade (18,8%) e ter mais idade. (7,3%). A presença da família ou de um cuidador informal, junto ao idoso, apresentou uma associação positiva com o saber ser hipertenso, ou seja, encontrou-se, 81,3% de idosos que não moravam sozinhos. Entre os idosos hipertensos não fumantes, não alcoólicos, que praticavam atividades físicas, o conhecimento da condição de hipertenso, foi mais elevado. Os idosos que apresentam melhores condições de saúde, não tinham diagnóstico médico anterior de Diabetes, Angina e/ou Infarto, tiveram maior conhecimento da hipertensão arterial. Constatou-se maior probabilidade do conhecimento da condição de hipertenso entre os idosos que apresentaram história familiar positiva de doenças cardiovasculares antes dos 50 anos de idade (56,2%). A proporção do conhecimento de ser um hipertenso, foi maior também entre os idosos que não tiveram internações hospitalares nos últimos 12 meses. A filiação ao plano privado de saúde, apresentou uma associação negativa e elevada, com o saber ser hipertenso, pois os idosos usuários do SUS apresentaram um maior conhecimento de sua condição (81,3%) em relação aos usuários de planos privados de saúde. Na comunidade estudada, fazer uso de serviços públicos de saúde mostrou que aumenta a chance de tratamento da hipertensão arterial. 6. REFERÊNCIAS BARRETO, M.L.; CARMO, E.H. Tendências recentes das doenças crônicas no Brasil. In: LESSA, L. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade: epidemiologia das doenças crônicas não-transmissíveis. São Paulo: Hucitec Abrasco, 1998. cap.1. BATLOUNI, M.; FREITAS, E.V. Insuficiência cardíaca no idoso. In: FREITAS, E.V.; PY, L.; NERY, A.L.; CANÇADO, F.A.X.; GORZONI, M.L.; ROCHA, S. (Ed.). Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002. p.249-262. BRANDÃO, A.P.; BRANDÃO, A.A.; FREITAS, E.V.; MAGALHÃES, M.E.C.; POZZAN, R. Hipertensão arterial no idoso. In: FREITAS, E.V.; PY, L.; NERY, A.L.; CANÇADO, F.A.X.; GORZONI, M.L.; ROCHA, S. (Ed.) Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002. p.249-262. DÓREA, E.L.; LOTUFO, P.A. Epidemiologia da hipertensão arterial sistêmica. Rev. 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