Volume I - Intranet UEMG

Propaganda
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
Banco de
Desenvolvimento de
Minas Gerais
Introdução
1
2
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
Conselho de Administração
José Augusto Trópia Reis - Presidente
Murilo Paulino Badaró - Vice-Presidente
Edgard Martins Maneira
Elvira Fonseca Garcia
Fábio Proença Doyle
José Pedro Rodrigues de Oliveira
Diretoria
Murilo Paulino Badaró - Presidente
Francisco José de Oliveira - Vice-Presidente
José Lana Raposo
Ignácio Gabriel Prata Neto
Júlio Onofre Mendes de Oliveira
Coordenação do Projeto
Tadeu Barreto Guimarães - Coordenação Geral
Marco Antônio Rodrigues da Cunha - Coordenação Executiva
Marilena Chaves - Coordenação Técnica
Equipe Técnica do Departamento de Planejamento,
Programas e Estudos Econômicos – D.PE
Bernardo Tavares de Almeida
Frederico Mário Marques
Gislaine Ângela do Prado
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
Marco Antônio Rodrigues da Cunha
Marilena Chaves
Tadeu Barreto Guimarães - Gerente
Apoio Administrativo
Cristiane de Lima Caputo
Diully Soares Cândido Gonçalves
Henrique Naves Pinheiro
Hiram Silveira Assunção
Marta Maria Campos
Introdução
3
As idéias expostas nos textos assinados são de responsabilidade dos autores,
não refletindo necessariamente a opinião do BDMG.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
Rua da Bahia, 1600, Lourdes
30160.907 Caixa Postal 1.026
Belo Horizonte - Minas Gerais
Tel : (031) 3219.8000
http://www.bdmg.mg.gov.br
e-mail: [email protected]
Editoração de Textos
IDM / Técnica Composição e Arte
Criação da Capa
Fernando Fiúza de Filgueiras
Projeto e Produção Gráfica
Fernando Fiúza de Filgueiras
Otávio Luiz Ribeiro Bretas
Rona Editora Ltda
Avenida Mem de Sá, 801
Santa Efigênia
30260-270 Belo Horizonte/ MG
Telefax: (31) 3283-2123
Revisão e Normalização
Dila Bragança de Mendonça
Elzira Divina Perpétua (Coordenação)
Marlene de Paula Fraga
Raquel Beatriz Junqueira Guimarães
Vicente de Paula Assunção
Virgínia Novais da Mata Machado
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
B213m
2002
Minas Gerais do Século XXI / Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
Belo Horizonte: Rona Editora, 2002.
10 v. : il. Conteúdo: v.1 - O Ponto de Partida. v. 2 - Reinterpretando o Espaço Mineiro.
v. 3 - Infra-Estrutura: sustentando o desenvolvimento. v. 4 - Transformando o
Desenvolvimento na Agropecuária. v. 5 - Consolidando Posições na
Mineração. v. 6 - Integrando a Indústria para o Futuro. v. 7 - Desenvolvimento
Sustentável: apostando no futuro. v. 8 - Investindo em Políticas Sociais. v. 9 Transformando o Poder Público: a busca da eficácia. v. Especial – Uma Visão do Novo
Desenvolvimento
1. Condições econômicas – Minas Gerais. 2. Desenvolvimento econômico –
Minas Gerais. I. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. II. BDMG. III. Título
CDU: 338.92(815.1)
Catalogação na publicação: Biblioteca BDMG
4
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
VOLUME 1
PONTO DE PARTIDA
Coordenação do Projeto
Tadeu Barreto Guimarães – Coordenação Geral
Marco Antônio Rodrigues da Cunha – Coordenação Executiva
Marilena Chaves – Coordenação Técnica
Coordenador Técnico do Volume
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
Introdução
5
6
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
SUMÁRIO
1.
A CONSTRUÇÃO ECONÔMICA RECENTE .....................................................................................................
9
2.
AS TRANSFORMAÇÕES EM CURSO ..................................................................................................................
57
3.
AS CONDIÇÕES DE VIDA ........................................................................................................................................ 135
4.
O QUADRO INTERNACIONAL E A EVOLUÇÃO RECENTE
DA ECONOMIA BRASILEIRA .............................................................................................................................. 181
5.
MINAS GERAIS NO PAÍS E NO MUNDO ........................................................................................................ 223
Introdução
7
8
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 1
A CONSTRUÇÃO
ECONÔMICA RECENTE
Fabiana Borges Teixeira dos Santos
(PhD Candidate e Pesquisadora Associada do CEDEPLAR/UFMG)
A autora agradece:
Aos comentários de Mauro Borges Lemos, Clélio Campolina Diniz e Frederico Gonzaga
Jayme Júnior, professores do CEDEPLAR/UFMG, que muito contribuíram para a
realização deste capítulo; ao trabalho realizado pelos assistentes de pesquisa Bruno Campos
e Rangel Galinari e pela estagiária Paula Souto; ao Dr. João Camilo Pena, consultor
especial do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, pelos seus comentários; naturalmente
eximindo-os de quaisquer erros ou omissões porventura presentes neste texto.
SUMÁRIO
1.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 15
1.2. FORMAÇÃO ECONÔMICA DE MINAS GERAIS E INDUSTRIALIZAÇÃO ...................................... 16
1.2.1. Década dos 40 e 50 – dependência e atraso da economia mineira ............................................................... 16
1.2.2. Década dos 60 – a natureza da especialização produtiva e a consolidação
do aparato institucional de apoio à industrialização ....................................................................................... 18
1.3. O SURTO DE INVESTIMENTOS DOS ANOS 70:
INDUSTRIALIZAÇÃO E DIVERSIFICAÇÃO .................................................................................................... 20
1.4. OS ANOS DA “DÉCADA PERDIDA”: INFLEXÃO E CRISE DA ECONOMIA MINEIRA ........... 34
1.5. LIBERALIZAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO: MINAS GERAIS NOS ANOS 90 ............................................ 42
1.6. REFLEXÕES FINAIS .................................................................................................................................................... 54
1.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................ 55
BDMG
40 anos
1.1. Introdução
Apresenta-se, a seguir, uma visão geral das principais transformações ocorridas na economia
mineira ao longo de sua formação econômica, com especial ênfase nos últimos 30 anos. Analisamse as origens da formação econômica do Estado e a subseqüente especialização na produção de
bens intermediários; o grande surto de investimentos dos anos 70, que veio alterar a estrutura
industrial mineira dando início a um processo de diversificação do parque industrial; a emergência
de novos setores industriais (bens de capital, consumo durável e intermediário), provocando o
adensamento das relações interindustriais dentro da própria economia regional e ampliando a sua
inserção nacional e internacional. Pretende-se, além disso, situar a economia mineira no contexto
nacional e em relação aos principais estados da federação concorrentes, destacando aquelas
características que a diferenciam do restante do Brasil.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
15
BDMG
40 anos
1.2. Formação econômica de Minas Gerais e
industrialização
O processo histórico do desenvolvimento econômico mineiro foi marcado pela sua forte
sustentação sobre a rica base de recursos naturais e sua integração à divisão inter-regional do
trabalho. Não só a história econômica de Minas decorreu sob o signo da exploração de seus recursos
naturais, mas também, graças à sua proximidade com São Paulo e Rio de Janeiro, evoluiu de
maneira complementar e conexa ao centro industrializado. Não raro, essa relação foi interpretada
como reproduzindo, em nível nacional, as relações centro-periferia observadas na escala mundial.
1.2.1. Década dos 40 e 50 – dependência e atraso da economia mineira
A desvantajosa posição de Minas em relação ao centro industrializado do país foi enfatizada,
em 1947, pelo primeiro Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. Este Plano ressaltou a
excessiva dependência da economia mineira sobre sua base mineradora e o limitado avanço da
industrialização, destacando a sua especialização na produção de matérias-primas e produtos
industrialmente pouco elaborados. Mais importante, o Plano identificava a relação de dependência
da indústria de base mineira com a indústria dinâmica do Rio de Janeiro e São Paulo e a sua
pequena interligação com os demais ramos industriais do Estado. Essa percepção era, em parte,
resultante do verdadeiro isolamento inter-regional. As transações comerciais nos estados da
Federação se davam, essencialmente, intra-regionalmente. De fato, a visão prevalecente, nos anos
40, retratava o país como “um imenso ‘arquipélago’ de ilhas econômicas relativamente isoladas”
(Galvão, 1993, p. 260), no qual fortes vínculos econômicos se realizavam intra-regionalmente. A
matriz de comércio interno interestadual de 1947, apresentada por Galvão (1993), mostra
claramente a grande importância do comércio entre Minas Gerais, Rio de Janeiro (inclusive
Guanabara) e São Paulo, o qual representou 88% do comércio interno interestadual total realizado
naquele ano. As exportações de Minas Gerais para os demais estados da região Sudeste
representaram, em 1947, 95% das exportações totais do Estado, enquanto para as demais regiões
do país apenas 5%. A participação de Minas nas exportações interestaduais totais naquele ano
representou 21,6%.
Apesar de não realizar um diagnóstico exaustivo da economia mineira, o Plano de Recuperação
de 1947 apontou as deficiências de infra-estrutura, ou “capital social básico” , como o mais sério
entrave à “decolagem” industrial do Estado e ressaltou a pequena diversificação produtiva,
essencialmente baseada em setores tradicionais1 (agropecuária, produtos alimentares e têxteis) e
produção de matérias-primas e insumos pouco elaborados para as regiões centrais. Na solução da
“fragilidade, subdesenvolvimento e dependência” da economia de Minas, o Plano sugeria a criação
de uma “taxa de recuperação econômica” para financiar empreendimentos, implementação de
programas sob a égide estatal para construção de infra-estrutura, e desenvolvimento de programas
destinados a complementar e sustentar novos investimentos no setor industrial2 . Nesse sentido,
foi de fundamental importância para a industrialização de Minas, o uso do poder de acumulação
1
2
16
Estimativas mostram que a base produtiva da economia mineira era essencialmente agrícola, com esse setor contribuindo com um
pouco menos de um terço do PIB estadual em 1953. Adicionalmente, os setores industriais tradicionais como alimentos e têxteis
contribuíam com aproximadamente 10% do PIB estadual, com claro predomínio dos alimentos (7,3%). Haddad et al. (2002).
Cintra e Andrade (1978).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
do Estado. Um dos resultados do Plano foi a elaboração do Plano de Eletrificação, em 1951,
voltado para a solução do problema energético. Adicionalmente, a “taxa de recuperação econômica”
forneceu recursos para investimentos e foram criadas empresas sob controle estatal, destacandose a CEMIG na geração de energia hidrelétrica e na área de planejamento.
Ao longo dos anos 50, o setor industrial do Estado cresceu a elevada taxas (147%),
comparativamente aos demais setores (primário – 46% - e terciário – 74%), aumentando sua
participação na formação do PIB mineiro. Esse crescimento foi liderado pelas indústrias extrativa
mineral (13,7% a.a.), de minerais não-metálicos (16,2% a.a.) e metalúrgica (11,8% a.a.), associado
à maturação dos investimentos nos grandes projetos nas áreas de siderurgia (Acesita, Usiminas e
Mannesmann); mineração (Cia Vale do Rio Doce); cimento (Cia. Portland Itaú) e energia elétrica
(Cemig) realizados no transcorrer dos anos 40 e 50. Como resultado, a participação relativa
agregada desses três ramos no valor da produção da indústria de transformação, entre 1949 e
1962, pulou de 19,8 para 36,3%. Em contraste, os ramos tradicionais da indústria de transformação
(produtos alimentares e têxtil), que, em 1949, representavam quase dois terços do valor da produção
manufatureira, viram sua participação relativa reduzir acentuadamente ao longo dos anos 50. No
início da década dos 60, a participação relativa desses ramos havia declinado pela metade, resultado
da substancial contração da indústria de alimentos (caiu de 48,9% para 29% do valor da produção
manufatureira entre 1949 e 1962) e da estagnação da indústria têxtil (manteve sua participação
relativa no mesmo período em torno de 15,5%).
Não obstante os esforços para o avanço da industrialização, Minas continuou perdendo
posição relativa no setor industrial em nível nacional. De acordo com algumas estimativas3 , entre
1950 e 1959, a participação de Minas na renda industrial brasileira declinou de 7,2% para 6,8%,
resultado da menor taxa de crescimento da indústria mineira (147%) relativamente à nacional
(195%) no período. As razões apontadas para essa perda de posição relativa foram: (a) a ausência
de um aparato institucional que sustentasse e articulasse os mecanismos necessários para a promoção
da industrialização; (b) a falta de um “centro que permitisse captar os benefícios de suas atividades
econômicas e interligar seu espaço econômico” (Cintra e Andrade, 1978, p. 23); (c) deficiência no
fornecimento de insumos básicos e infra-estrutura viária; (d) ausência de empresários
empreendedores4 ; (e) a concentração da industrialização em São Paulo e Rio de Janeiro, onde a
presença de significativas economias externas e o mais alto nível de renda propiciavam condições
mais favoráveis vis-à-vis Minas Gerais; e (f) forte concorrência no mercado interno mineiro de
manufaturas produzidas nos centros industriais primazes.
O desempenho do setor primário foi também decepcionante ao longo dos anos 50, tanto
quando comparado ao dos demais setores da atividade econômica estadual, como em relação ao
setor primário dos demais Estados e à média brasileira5 . Observou-se, além disso, uma mudança
intra-setorial, com a pecuária crescendo, em termos reais, mais rapidamente que a agricultura. Isto
se deveu a uma combinação de fatores, dentro dos quais se destacam: (a) evolução adversa dos
preços relativos da agricultura em relação à pecuária; (b) rápido crescimento da pecuária,
influenciado pelo desenvolvimento da indústria de laticínios no Estado; pela implantação de
cooperativas de produtores de leite; e pela grande demanda por carne, leite e derivados pelos
centros urbanos; (c) preponderância das lavouras em estabelecimentos de tamanho reduzido,
caracterizados por práticas familiares e baixa produtividade; enquanto os estabelecimentos se
3
4
5
Contas Nacionais do Brasil, Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, ano XVI, n.1, mar. 1962.
Diagnóstico de 1968.
Enquanto o setor agropecuário de Minas Gerais cresceu 46% no período 1949/60; no Paraná ele cresceu 379%; no Rio Grande
do Sul, 59%; e no Brasil, 67%.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
17
BDMG
40 anos
convertiam crescentemente à bovinocultura6 ; e (d) o cultivo dos principais produtos agrícolas do
Estado (milho, cana, arroz, feijão e café) apresentou um desempenho decepcionante em relação à
média brasileira, tanto em termos de área colhida, como de produtividade e volume físico de
produção7 . Somente o cultivo do algodão mostrou certo dinamismo, crescendo muito acima da
média brasileira. Vale notar que no caso do café, as baixas taxas de crescimento da área colhida se
deveu à política de erradicação do café, que eliminou plantações antieconômicas e reverteu a
utilização destas áreas para outras culturas.
1.2.2. Década dos 60 – a natureza da especialização produtiva e a
consolidação do aparato institucional de apoio à industrialização
Na primeira metade dos anos 60, a performance da economia mineira continuou aquém da
nacional. De um lado, tornou-se clara a defasagem temporal entre os ciclos da economia mineira
e nacional, por aquela ter seu dinamismo atrelado à expansão da indústria de produtos
intermediários, que acompanha, com um hiato temporal, o desempenho das demais categorias de
uso industriais. De outro, a perda de participação relativa de Minas Gerais no PIB brasileiro se
deveu à relativa estagnação do setor agropecuário no Estado8 , enquanto as Regiões Sul e CentroOeste expandiam fortemente, levando Minas Gerais a contribuir com apenas 8,9% do valor bruto
da produção agropecuária brasileira em 1970.
A partir do final dos anos 60, o dinamismo da economia mineira, liderado pelos setores de
mineração e indústria de transformação, passou a superar o da economia nacional como um todo,
época em que se observa a consolidação do aparato institucional de apoio e promoção industrial
do Estado. Esse aparato, que viria a servir de modelo para outros Estados da Federação, se
sustentava sobre três instituições, que deveriam desempenhar funções complementares na promoção
ao desenvolvimento industrial: o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), o Instituto
de Desenvolvimento Industrial (INDI) e a Companhia de Distritos Industriais (CDI).
Não obstante o rápido crescimento e as transformações na estrutura industrial ao longo
dos anos 60, o Diagnóstico da Economia Mineira (BDMG, 1968) sistematizou, de forma elaborada,
os argumentos de que o Estado vinha sendo prejudicado desde a fase de exploração do ouro,
prevendo perspectivas sombrias para o futuro da economia mineira. No Diagnóstico, ressaltou-se o
tardio avanço do desenvolvimento econômico de Minas no marco nacional e responsabilizou-se,
mais uma vez, a especialização na produção de bens intermediários pela fragilidade e dependência
de Minas em relação aos principais centros industrializados do país. A partir dessa avaliação,
propagou-se a idéia da necessidade de um projeto modernizador e industrializante. De fato, o
Diagnóstico serviu de base tanto para a criação do INDI, do CDI e da Fundação João Pinheiro,
como para a elaboração do I Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social (I PMDES). Sem
dúvida, o Diagnóstico foi peça importante na disseminação da idéia de que era essencial aprofundar
e diversificar a industrialização mineira. Entretanto, ao generalizar a “concepção do
empobrecimento” de Minas (Locatelli & Chiari, 1992), o Diagnóstico acabou por subestimar não só
6
7
8
18
De acordo com o Diagnóstico de 1968, os minifúndios comercializavam apenas 36% do valor da produção, o que representava
aproximadamente 19% do total comercializado.
Os casos mais dramáticos foram os do arroz e feijão. De acordo com o Diagnóstico de 1968, a participação relativa de Minas
Gerais na área colhida brasileira declinou de 21% para 16%, resultado de seu baixo crescimento em relação à média brasileira
(26% em Minas contra 212% no Brasil) no período 1949-60. No caso do feijão, a área colhida em Minas Gerais cresceu apenas
20% no período, enquanto no Brasil, ela aumentou 73%, levando a participação relativa do Estado na área colhida nacional a
declinar de 23% para 13% entre 1949-60.
Entre 1960 e 1970, o PIB agropecuário mineiro cresceu a taxas anuais médias de 1,6%.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
a incipiente transformação da economia mineira, a partir da segunda metade da década dos 60,
mas também a importância da indústria de bens intermediários como base para o desenvolvimento
industrial futuro.
No início dos anos 60, a estrutura industrial de Minas Gerais encontrava-se excessivamente
concentrada em atividades industriais como a alimentar, a têxtil e a metalúrgica (elas representavam,
em 1962, quase 70% do valor da produção da indústria de transformação), sem processar mais
intensamente os produtos da indústria extrativa mineral e agropecuária e sem utilizar os insumos
intermediários que produzia. No entanto, já em fins dos anos 60, era possível constatar que Minas
experimentava um processo de transformação, evidenciado pelo fato de que o setor secundário
(indústria, construção civil e serviços de utilidade pública) passou, pela primeira vez na história
do Estado, a ocupar a segunda posição na distribuição setorial do PIB. Além disso, os dados dos
Censos Industriais do IBGE de 1960 e 1970 mostraram como algumas tendências, internamente
ao setor manufatureiro, se acentuaram. Os ramos tradicionais de bens de consumo não duráveis
continuaram a perder posição para os demais ramos (caíram de 52,1% do valor da transformação
industrial, em 1959, para 38,2% em 1970)9 . Em contraste, os setores produtores de bens de
consumo intermediário e de bens de consumo durável e de capital consolidaram e expandiram a
sua importância na indústria de transformação mineira, passando de 43,9% e 3,3% do valor da
transformação industrial (VTI), em 1959, para, respectivamente, 51,7% e 8,9% do VTI do Estado
em 1970. Vale ressaltar ainda o rápido crescimento, nesse período, da participação da indústria
química (pulou de 2,3% para 6,0% do VTI entre 1959 e 1970); da mecânica (saltou de 0,9% para
6,0% do VTI) e da metalurgia (cresceu de 29,6% para 33,6% do VTI).
Essas mudanças apontavam para uma transição do desenvolvimento do Estado para um
modelo mais integrado nacional e internacionalmente, que viria a se consolidar nos anos 70.
Como aponta Guimarães Neto (1986), com a acelerada integração do mercado nacional ao longo
dos anos 50 e 60, ficou superada a idéia de integração intra-regional, em bases essencialmente
comerciais. Essa foi sendo progressivamente substituída pela integração produtiva nacional (inter-regional),
através da incorporação de vários Estados da Federação nos fluxos inter-regionais de comércio, a
partir de suas especializações regionais, sob a clara dominância da indústria primaz paulista
(especialmente de seu complexo metal-mecânico). São Paulo passa, assim, a exercer definitivamente
(em substituição ao Rio de Janeiro) a função de centro articulador das trocas inter-regionais10 .
Nesse novo contexto, a industrialização mineira nos anos 70, como se verá a seguir, passou a
caminhar de forma complementar e conexa à economia paulista e, em menor medida, à fluminense,
integrando-se a partir de sua especialização regional em bens intermediários, bens de capital
(articulados com a indústria básica) e em bens de consumo duráveis. Como destaca Diniz (1986),
“esta característica estrutural da economia mineira, se, por um lado, criticada por se tratar da
indústria de bens intermediários e de bens de capital a ela ligada, com pequena sofisticação
comparativamente à fronteira tecnológica, por outro, assegura vantagens à indústria mineira qualquer
que seja a orientação estrutural da política econômica brasileira, por se tratar de indústria básica”.
9
10
A crise experimentada por estes setores, na segunda metade dos 60, só seria revertida com a ajuda financeira do BDMG, voltada
para o reequipamento e modernização das empresas.
Capítulo 2, seção 2.3.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
19
BDMG
40 anos
1.3. O surto de investimentos dos anos 70:
industrialização e diversificação
Minas Gerais, nos anos 70, será lembrada como uma das experiências estaduais de
industrialização mais exitosas do país. Essa foi uma época de dramáticas mudanças estruturais,
quando um grande surto de investimentos veio reverter a perda de posição relativa do Estado no
contexto nacional, dando início a um processo de diversificação e adensamento da estrutura
industrial, de consolidação de novos setores industriais, e de ampliação da inserção nacional e
internacional da economia mineira. Simultaneamente, a decadência histórica da agricultura mineira
foi revertida, com a expansão e incorporação de novas áreas de cultivo. Atrelado ao crescimento
industrial e agrícola, houve grande expansão dos serviços produtivos.
Como conseqüência, Minas Gerais teve um dos maiores ganhos relativo do crescimento do
PIB entre 1970 e 1980. Como mostra a TAB. 1, Minas Gerais elevou a sua participação relativa
no PIB nacional mais acentuadamente do que o Paraná, enquanto os Estados de São Paulo, Rio
de Janeiro e Rio Grande do Sul viram as suas participações relativas se contraírem.
TABELA 1
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO NO PIB DO BRASIL A PREÇOS DE MERCADO (%)
Unidade da Federação
1970
1980
8,34
9,44
São Paulo
39,36
37,66
Rio de Janeiro
16,07
13,55
Paraná
5,53
5,94
Rio Grande do Sul
8,73
8,07
100,00
100,00
Minas Gerais
BRASIL
FONTE: IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil.
Tal fato se deveu à excepcional taxa de crescimento do PIB estadual, muito superior à média
nacional e dos demais Estados concorrentes (TAB. 2), associada ao extraordinário desempenho dos
setores industrial e agropecuário. Note-se também o rápido crescimento da produtividade do trabalho
nesse período, muito superior à média nacional e equiparada somente ao ocorrido no Paraná (TAB. 3).
TABELA 2
PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CONSTANTES DE 2001 E TAXA DE CRESCIMENTO
MÉDIA ANUAL - 1970-1980 - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da
Federação
R$ Milhões de 2001
1980
1970-1980
21.848,17
65.868,04
11,67
104.051,90
262.733,08
9,71
Rio de Janeiro
43.990,16
96.010,42
8,12
Paraná
14.330,19
40.259,45
10,88
Rio Grande do Sul
22.705,03
55.376,15
9,33
318.968,37
725.495,02
8,56
Minas Gerais
São Paulo
BRASIL
1970
FONTE: IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil.
20
Taxa de Crescimento
média anual (%)
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PRODUTIVIDADE (PIB/PEA): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS - R$ DE 2001
Unidade da Federação
1970
1980
TX. DE VARIAÇÃO
Minas Gerais
6.313,38
13.907,39
120,28
São Paulo
16.327,39
25.234,34
54,55
Rio de Janeiro
31.600,70
22.238,16
-29,63
Paraná
6.294,13
14.061,77
123,41
Rio Grande do Sul
10.006,91
17.282,81
72,71
BRASIL
10.791,55
16.779,99
55,49
BDMG
40 anos
TABELA 3
FONTE: Elaboração própria a partir de dados do Censo Demográfico e TAB. 2.
Não obstante, os frutos desse desenvolvimento não foram suficientes para reverter o baixo
nível do PIB per capita estadual relativamente à média brasileira. Em que pese a redução da
desigualdade de renda entre os Estados, resultado da grande discrepância entre as taxas de
crescimento do PIB per capta ao longo dos anos 70, Minas Gerais continuou a apresentar, em
1980, o menor PIB per capita dentre os Estados mais desenvolvidos do país (TAB. 4). Tal fato
parece estar vinculado à manutenção de grandes bolsões de pobreza em algumas microrregiões
mineiras, notadamente naquelas localizadas no norte/nordeste do Estado, que não se beneficiaram
dos efeitos de transbordamento do crescimento industrial de São Paulo.
TABELA 4
PRODUTO INTERNO BRUTO PER CAPITA: BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da
Federação
1970
R$ de 2001
1980
Brasil = 100
R$ de 2001
Tx. Média
Brasil = 100
Cresc. Anual (%)
Minas Gerais
1.902,21
55,54
4.922,83
80,75
9,98
São Paulo
Rio de Janeiro
5.855,16
9.274,98
170,96
270,82
10.491,67
8.502,79
172,11
139,48
6,01
-0,87
Paraná
2.067,90
60,38
5.76,57
86,56
9,82
Rio Grande do Sul
3.406,69
99,47
7.123,39
116,85
7,66
BRASIL
3.424,80
100,00
6.096,03
100,00
5,94
FONTE: Fundação Getúlio Vargas e IBGE.
Existe um virtual consenso na literatura econômica que analisa o período em questão sobre
as razões da rápida expansão econômica da economia mineira. Nessa literatura (Andrade, 1980;
Diniz, 1981; Lemos e Diniz, 1986; Fernandes, 1997 entre outras) são elencados vários fatores
que, combinada ou isoladamente, contribuíram para tornar a economia mineira particularmente
atrativa aos investidores. A existência de recursos naturais abundantes; a disponibilidade de infraestrutura econômica; a existência de indústria básica (metalurgia e cimento) e extrativa mineral,
gerando externalidades e mercado para a indústria de bens de capital; a privilegiada posição
geográfica do Estado; o esquema de incentivos fiscais e o aparato institucional de apoio à
industrialização aliados a uma ativa liderança política são apontados como os principais fatores
responsáveis pelo surto de investimentos da década dos 70.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
21
BDMG
40 anos
Além disso, dois outros fatores merecem ser considerados. Em primeiro lugar, o processo
de desconcentração industrial de São Paulo, conjugado com o aprofundamento da decadência
econômica do Rio de Janeiro, abriu espaço para Minas Gerais se firmar no contexto nacional. De
fato, como mostra a TAB. 5, tanto São Paulo como o Rio de Janeiro tiveram as suas participações
relativas no produto industrial nacional reduzidas nos anos 70, destacando-se a significativa perda
apresentada pela atividade industrial paulista (que caiu de 56,35% do PIB industrial nacional em
1970 para 47,23% em 1980). De um lado, como destacam Diniz e Santos (1995), a proximidade
geográfica do Sul de Minas e do Triângulo Mineiro com São Paulo e a existência de uma rede
urbana já estruturada transformaram estas regiões em alternativas locacionais para o processo de
desconcentração industrial de São Paulo. De outro, ainda de acordo com estes autores, os incentivos
fiscais, a desconcentração da produção e a busca de recursos naturais fizeram com que os grandes
grupos econômicos se movessem no espaço nacional, procurando obter vantagens do processo de
desconcentração e de integração produtiva.
Em segundo lugar, Minas Gerais ocupava uma posição privilegiada dentro das grandes
metas do II PND, em função das vantagens comparativas que detinha naqueles setores considerados
prioritários à reestruturação industrial implícita no Plano. De acordo com estimativas de Diniz
(1981), Minas Gerais recebeu, em média, 25% do montante de investimentos aprovados pelo
CDI/MIC no período 1971/1979.
Finalmente, Minas se beneficiou do fato de ter uma infra-estrutura física (energia e malha
rodoviária) mais desenvolvida em relação aos seus potenciais concorrentes. Comparativamente
aos Estados da Região Sul, Minas se colocava em uma posição privilegiada em termos de infraestrutura, exercendo assim, um forte efeito de atração sobre os novos investimentos.
TABELA 5
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO INDUSTRIAL*
A CUSTO DE FATORES (PREÇOS CORRENTES)
Unidade da Federação
1970
1975
Minas Gerais
6,93
6,62
8,66
Rio de Janeiro
15,34
12,95
11,92
São paulo
56,35
55,03
47,23
2,96
3,99
4,93
Paraná
Rio Grande do Sul
BRASIL
1980
6,26
7,46
7,40
100,00
100,00
100,00
FONTE: IBGE. Séries Históricas do Brasil.
* Produto Industrial inclui o produto das indústrias extrativa mineral e de transformação, serviços de utilidade pública e
construção
Mesmo reconhecendo que o surto industrial dos anos 70 não possa ser exclusivamente
creditado aos diversos planos adotados pelo governo de Minas, não se pode deixar de enfatizar a
crucial importância do governo estadual e de suas agências de fomento no grande impulso
experimentado pela industrialização mineira no período. Sob a vigência do I PMDES e, em menor
medida, durante os demais planos que o seguiram, a industrialização assumiu lugar central na
política econômica. Incentivos fiscais e creditícios, criação e consolidação de infra-estrutura física
e geração de grandes oportunidades de investimentos, conjugados com o desenvolvimento e
consolidação de um amplo e articulado aparato institucional de suporte à promoção industrial
22
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
(BDMG, CEMIG, INDI, CDI, FJP) e fortes pressões políticas junto ao governo federal para a
implantação daqueles empreendimentos que se beneficiariam das vantagens comparativas do
Estado constituíram as bases sobre as quais se assentou a política econômica estadual dos anos
70. De acordo com estimativa de Diniz (1981), 295 projetos, aprovados entre 1970-74, foram
beneficiados pelos incentivos fiscais da Lei 5261/6911 . Esses projetos foram responsáveis por
investimentos da ordem de Cr$ 40,8 bilhões e geração de 72,8 mil empregos. Esses projetos
orientaram-se, principalmente, para a indústria metalúrgica (72,7% do total dos investimentos) e,
em menor medida, para o setor de bens de capital e de consumo duráveis (9,3% do total dos
investimentos). De fato, a presença do Estado, não só na criação de oportunidades de investimentos
no período, mas também na atuação direta através de investimentos públicos foi de importância
destacada nos anos setenta. Como mostra Diniz (1981), em 1976, 57% das 185 maiores empresas
que operavam no Estado eram públicas; 23% privadas nacionais e 20% estrangeiras. Além disso,
como mostrado no Cap. 2, os investimentos estatais nesse período cresceram 15% ao ano. Esses
foram ainda mais significativos se se considera o período 1970-1978, quando as despesas do
governo estadual com investimentos cresceram a uma taxa de quase 22% ao ano.
Merece destaque, nesse contexto, o papel decisivo do governo e das agências de fomento
estaduais na definição locacional e instalação da Fiat Automóveis, Krupp, White Martins e outras
empresas multinacionais principalmente ligadas ao setor mínero-metalúrgico. De fato, como apontam
Diniz (1981) e Brant (1983), o sistema BDMG-INDI transformou Minas em um “paraíso de
multinacionais”, resultado da absorção de aproximadamente 25% de todo o investimento
estrangeiro direto que entrou no Brasil entre 1971-1977.
O caso da Fiat Automóveis é exemplar acerca do esforço empreendido pelo Estado na
atração de novos investimentos industriais estrangeiros. O governo estadual não somente forneceu
um conjunto de incentivos fiscais, financeiros e de infra-estrutura para a Fiat, mas também se
tornou sócio minoritário da subsidiária naquele momento. Assim, além da provisão de vários
serviços, o governo participou com 46% do capital de US$155 milhões, assegurou a concessão de
todos os benefícios e incentivos máximos previstos pelas leis estaduais, garantiu financiamento
junto a sua rede bancária de US$20 milhões para capital de giro, a construção de conjuntos
habitacionais nas imediações da empresa, entre outros. Posteriormente, foram realizados aumentos
de capital com o Estado subscrevendo de 40 a 50% do valor. Ao mesmo tempo, o Estado
estabeleceu outro acordo com o grupo Fiat para a constituição da FMB S.A., empresa de fundição
para fornecimento à Fiat, participando também do capital e concedendo incentivos fiscais e de
infra-estrutura. Sem dúvida, os incentivos estaduais foram suficientes para compensar as forças
centrípetas da área metropolitana de São Paulo12 .
A instalação da Fiat, em particular, e de outras empresas nacionais e estrangeiras nos setores
de bens de capital e duráveis de consumo viriam alterar definitivamente a inserção da economia
mineira no contexto nacional e internacional. Chama atenção, nesse sentido, o impressionante
crescimento do segmento de bens de capital mineiro, que passou a ser responsável, em 1980, por
aproximadamente 20% da produção nacional. A Fiat, por sua vez, não somente serviu de base
para a aceleração do desenvolvimento do complexo metal-mecânico, mas também contribuiu
para a diversificação e estabilidade da pauta exportadora do Estado, até então altamente vulnerável
às oscilações nos preços das commodities nos mercados internacionais. Tais investimentos, além
disso, contribuíram para criar uma imagem positiva e de confiança na economia mineira.
11
12
A Lei 5261/69 beneficiava as empresas que implantassem ou ampliassem sua capacidade produtiva, ou que introduzissem novas
linhas de produção e produtos. Vinculava-se 25,6% do ICM devido como compensação de investimentos realizados pela empresa
de projetos beneficiados. Em face da generalização de esquemas semelhantes no país, o que configurou uma guerra fiscal, o
governo federal proibiu a concessão de incentivos fiscais, extinguindo-se a Lei em 1973.
Diniz et al (2000).
Capítulo 1 - A construção econômica recente
23
BDMG
40 anos
Vale ressaltar ainda que, a indústria extrativa mineral deu importante contribuição para o
posicionamento de Minas no contexto industrial nacional. Isto se deveu, em primeiro lugar, ao
peso de Minas Gerais na produção mineral brasileira. Como apontado por BDMG (1989, p. 104),
“[e]ntre 1975 e 1976 a situação relativa do Estado no País atingiu o seu ápice, quando sua produção
[mineral] participava com cerca de 60% do total nacional, exclusive os energéticos”13 . No decorrer
da década dos 70, o Estado se tornou o maior fornecedor nacional de bauxita, fosfato, calcário,
quartzo, argila, nióbio, zinco, caulim, feldspato e vanádio, entre outros. Em segundo lugar, essa
indústria exerceu um forte efeito de atração locacional sobre algumas atividades industriais, tornando
o Estado uma localização privilegiada para indústrias beneficiadoras e processadoras (siderurgia,
alumínio, cimento, fosfato, zinco e níquel). Finalmente, essa indústria foi beneficiada pelo
incremento da demanda interna de matérias-primas minerais representada pelo crescimento da
indústria paulista. Como resultado, ao longo da década, o PIB setorial apresentou uma tendência
nitidamente ascendente, com taxas médias de crescimento anual de 14,3% (BDMG, 1989, p. 12).
As condições descritas anteriormente levaram à atração de uma grande massa de
investimentos na atividade industrial (indústria extrativa, indústria de transformação, serviços de
utilidade pública e construção). Como mostra a TAB. 6, a taxa de crescimento da formação bruta
de capital na atividade industrial no decorrer da década foi surpreendente.
TABELA 6
TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
(PREÇOS CONSTANTES) ATIVIDADE INDUSTRIAL (%)
ANO
1971
EM
84,90
IT
37,70
SUP
-9,50
CTR
-5,30
TOTAL MG
3,20
1972
77,90
37,90
38,30
24,50
12,80
1973
84,20
36,70
22,80
53,00
29,00
1974
21,90
30,10
-8,20
16,80
21,80
1975
-28,70
44,80
60,30
85,50
35,50
1976
35,40
44,20
6,40
1,50
28,70
1977
23,00
-11,90
18,50
3,00
14,80
1978
-52,10
59,70
-13,30
0,40
2,90
1979
-39,40
21,90
-16,40
-1,30
1,40
1980
33,00
-14,10
6,00
2,90
-4,30
TAXA ACUMULADA
238,59
938,86
119,10
316,65
265,64
FONTE: Secretaria de Estado do Planejamento . Agregados Regionais: Formação Bruta de Capital Fixo, 1970-1985.
Obs.: EM: Extrativa Mineral; IT: Indústria de Transformação; SUP: Eletricidade, Gás e Água; e CTR: Construção
Ao serem ativados, esses investimentos não só sustentaram o crescimento industrial a
elevadíssimas taxas entre 1970-80, mas também promoveram uma radical mudança na estrutura
ocupacional e da estrutura produtiva da indústria. Como mostra a TAB. 7, o produto industrial
mineiro14 , entre 1970 e 1980, cresceu a taxas médias anuais de 12%15 . Somente o Paraná apresentou
uma taxa de crescimento da atividade industrial superior à de Minas, enquanto as de São Paulo,
13
14
15
24
A partir de então, a participação de Minas na produção mineral brasileira começou a declinar, atingindo 50% em 1980. Este decréscimo
decorreu tanto da queda nas vendas internacionais de minério de ferro, quanto da expansão da mineração para outras regiões do país
(particularmente, para o Pará, Bahia e Goiás).
Inclui extrativa mineral, indústria de transformação, serviços de utilidade pública e construção.
Os dados da TAB. 8 devem ser analisados com cuidado, dada a grande dificuldade em se trabalhar com séries históricas de PIB setoriais
por Unidade da Federação. Essa tabela pretende apenas ilustrar a dinâmica geral da atividade industrial dos Estados selecionados.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul cresceram a taxas inferiores à média brasileira. Como resultado,
Minas Gerais viu a sua participação no PIB industrial brasileiro crescer de 6,9 % para quase 9%
(TAB. 5). Esse crescimento levou à duplicação da população ocupada na indústria, sendo que a
indústria de transformação e a construção foram as atividades que mais absorveram mão-deobra, apresentando uma taxa de variação, entre 1970 e 1980, de 129,4% e 132%, respectivamente
(TAB. 8).
TABELA 7
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE INDUSTRIAL (PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação
Minas Gerais
Rio de Janeiro
1970-1975
10,35
1975-1980
13,41
1970-1980
11,87
7,65
5,63
6,64
São Paulo
10,60
4,24
7,37
Paraná
17,73
12,12
14,89
Rio Grande do Sul
15,25
7,08
11,09
BRASIL
11,19
7,45
9,30
FONTE: IBGE. Séries Históricas do Brasil e Conjuntura Econômica, vários números
TABELA 8
POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO SETORES DE ATIVIDADE MINAS GERAIS (%)
1970
Setor de Atividade
Agropecuária
Indústria
Número de
Pessoas
1980
Participação
Relativa
Número de
Pessoas
1.714.109
50,48
1.518.442
Taxa
Participação
Relativa
32,82
de
Variação
-11,42
517.640
15,24
1.115.624
24,12
115,52
Indústria de Transformação
245.324
7,22
562.858
12,17
129,43
Construção
197.078
5,80
457.310
9,89
132,05
75.238
2,22
95.456
2,06
26,87
1.164.179
3.395.928
34,28
100,00
1.991.950
4.626.016
43,06
100,00
71,10
36,22
Outras Atividades Industriais
Serviços
TOTAL
FONTE: IBGE - Censos Demográficos, 1970 e 1980
Apesar de a especialização da economia mineira na produção de bens intermediários não
ter sido alterada substancialmente com os investimentos dos anos 70, a estrutura industrial
experimentou uma significativa diversificação, com a incorporação de novos produtos
intermediários e com o rápido crescimento da indústria de bens de capital - articulada com a
indústria básica (produção de equipamentos para mineração, siderurgia e cimento) - e de bens de
consumo duráveis – fundamentalmente associada com a instalação da Fiat. Ocorreu também
relativa modernização das indústrias tradicionais, especialmente têxtil e alimentos. Em particular,
como mostra a TAB. 9, entre 1970 e 1980, observou-se: (i) o aumento substancial da participação
das categorias de bens de capital e de bens de consumo durável, que passou de 5% para 19,8%;
(ii) a redução da participação da categoria de bens intermediários de 60,8% para 47,6%; e (iii) a
Capítulo 1 - A construção econômica recente
25
BDMG
40 anos
relativa estabilidade da participação de bens de consumo não duráveis (manteve-se em 29%
aproximadamente). A categoria que liderou o crescimento industrial nesse período foi o de bens
de capital e duráveis, com uma taxa média anual de quase 22%, impulsionados pelos gêneros
material de transporte (27,5%) e mecânica (21,8%).
TABELA 9
ESTRUTURA DO VALOR AGREGADO BRUTO A CUSTO DE FATORES NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
POR CATEGORIA DE USO A PREÇOS CONSTANTES DE 1980 - (%)
Bens de Consumo Não Duráveis
Têxtil
Produtos Alimentares
Outros
Tx. de Cresc.
Média Anual
Participação Relativa
Categoria de uso
1970
1975
1980
1970 - 1980
28,6
34,1
28,7
12,7
6,2
10,9
7,4
11,7
14,9
15,5
11,4
8,8
7,5
7,7
9,9
-
Bens de Consumo Intermediário
60,8
49,4
47,6
11,4
Metalurgia
Minerais Não-Metálicos
29,1
13,7
21,7
16,4
23,9
11,9
11,6
10,4
0,8
1,0
2,6
21,4
Papel e Papelão
Química
17,0
9,9
8,8
8,1
Borracha
0,2
0,4
0,4
21,9
Bens de Consumo Duráveis e
de Capital
5,0
10,8
19,8
21,8
Material Elétrico e de Comunicação
0,8
2,2
2,9
7,8
Material de Transporte
Mecânica
0,8
3,4
1,7
6,9
7,3
9,6
27,5
21,8
Diversos
TOTAL
5,6
5,7
3,9
32,7
100,0
100,0
100,0
14,0
FONTE: FERNANDES, C. L. A Inserção de Minas na Economia Nacional. 1997, p. 26 e 27
A evolução da produtividade do trabalho no setor industrial mineiro neste período foi
impressionante, comparando-se somente ao observado na indústria paranaense. Como se pode
observar pela TAB. 10, em 1970, a produtividade da indústria mineira era bastante inferior as dos
demais estados analisados, situando-se bem abaixo da produtividade média brasileira do setor.
Em 1980, a produtividade da indústria mineira se aproxima dos níveis apresentados pela média
brasileira, denotando um rápido crescimento nos anos 70.
TABELA 10
PRODUTIVIDADE* DA INDÚSTRIA EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação
Minas Gerais
1970
71,01
99,95
Rio de Janeiro
107,90
107,72
São Paulo
149,18
112,09
68,17
107,59
88,13
100,00
94,81
100,00
Paraná
R. Grande do Sul
BRASIL
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores da indústria a preços correntes/população ocupada
26
1980
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Desempenho semelhante apresentou a indústria paranaense que, em 1980, apresentou um
nível de produtividade do trabalho superior ao da média brasileira. A indústria gaúcha também
apresentou certo dinamismo, mas que não foi suficiente para reduzir o hiato de produtividade em
relação à média brasileira. Em contraste, o Rio de Janeiro e São Paulo mantiveram ou até mesmo
tiveram a produtividade reduzida.
No que se refere ao setor primário, deve-se destacar o processo de diferenciação e
modernização da estrutura produtiva do setor agropecuário mineiro ao longo dos anos 70, que se
“... realiza através de sua vinculação crescente ao setor industrial, expressa no uso intensivo de
insumos e maquinário e na transformação industrial, cada vez mais elaborada, dos seus produtos”
(BDMG, 1989). Como destacado por Nabuco (1984), este processo foi resultado tanto de uma
reorganização geográfica da produção agrícola no Estado, quanto de uma redefinição da composição
intersetorial (pecuária versus agricultura) e intra-atividades (pecuária de corte versus pecuária leiteira;
produtos de mercado interno versus mercado externo e agroindustrial) do setor. Em decorrência,
a produção primária do Estado cresceu 119% na década ou 8,16% ao ano16 (TAB. 11). Este
desempenho não foi observado em nenhum dos outros estados analisados, levando Minas Gerais
a ocupar a primeira posição no PIB agropecuário brasileiro (TAB. 12).
TABELA 11
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA A CUSTO DE FATORES
(PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação
1970-75
1975-80
1970-80
Minas Gerais
5,17
11,25
8,16
Rio de Janeiro
2,75
2,54
2,65
São Paulo
3,85
2,95
3,40
Paraná
11,59
-2,39
4,37
Rio Grande do Sul
2,11
2,46
2,29
BRASIL
4,40
5,09
4,75
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
TABELA 12
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO AGROPECUÁRIO
A CUSTO DE FATORES (PREÇOS CORRENTES) (%)
Unidade da Federação
1970
1975
1980
Minas Gerais
11,86
12,30
16,35
Rio de Janeiro
2,42
2,24
1,98
São paulo
16,21
15,79
14,25
Paraná
12,11
16,90
11,68
Rio Grande do Sul
BRASIL
15,93
14,26
12,56
100,00
100,00
100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
16
Como destacado anteriormente, esses dados devem ser tomados com cautela, em razão da grande dificuldade em se trabalhar com
séries históricas de PIB setoriais por Unidade da Federação.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
27
BDMG
40 anos
Além disso, deve-se destacar que, a exemplo do ocorrido no setor industrial, o setor
agropecuário apresentou significativos ganhos de produtividade, ao longo década, muito superiores
aos dos demais estados analisados e do Brasil (TAB. 13).
TABELA 13
PRODUTIVIDADE* DA AGROPECUÁRIA EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação
1970
1980
Minas Gerais
Rio de Janeiro
90,38
163,05
136,31
128,15
São Paulo
123,87
153,55
Paraná
110,21
125,15
Rio Grande do Sul
199,61
176,01
BRASIL
100,00
100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores da agropecuária a preços correntes/população ocupada
Sem dúvida, esse expressivo crescimento da produção e da produtividade esteve vinculado
ao rápido crescimento dos investimentos no setor ao longo da década (TAB. 14). Esses
investimentos foram propiciados pela expansão do crédito rural e trouxeram consigo mudanças
nas práticas produtivas, com a utilização intensiva de insumos modernos e introdução de inovações,
principalmente mecânicas. De acordo com algumas estimativas, o número de estabelecimentos
rurais que faziam uso de fertilizantes orgânicos e químicos mais que dobrou (crescimento de
155%) entre 1970 e 1980. Todas essas transformações levaram a uma dramática contração da
população ocupada no setor. Como mostra a TAB. 8, a participação relativa da agropecuária na
população ocupada total do Estado caiu de 50,5% para 32,8% entre 1970 e 1980.
TABELA 14
TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
(PREÇOS CONSTANTES) ATIVIDADE AGROPECUÁRIA (%)
ANO
Agropecuária
TOTAL MG
1971
25,40
3,20
1972
9,90
12,80
1973
17,40
29,00
1974
18,30
21,80
1975
17,10
35,50
1976
52,40
28,70
1977
26,80
14,80
1978
-29,00
2,90
1979
26,00
1,40
1980
-22,40
-4,30
TAXA ACUMULADA
200,68
265,64
FONTE: Secretaria de Estado do Planejamento - Agregados Regionais: Formação Bruta de Capital Fixo, 1970-1985
* Inclui: Agricultura, Silvicultura, Caça e Pesca
28
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
No que se refere à agricultura, dois fatores podem ser apontados como determinantes
para a sua modernização. De um lado, no bojo de substanciais mudanças tecnológicas e
inúmeros programas governamentais (com especial destaque para o crédito rural e programas
de irrigação), foi possível incorporar produtivamente os cerrados e o Noroeste/Oeste do
Estado (principalmente através de programas de irrigação e ocupação da fronteira), bem
como conduzir a cultura cafeeira no Sul de Minas e no cerrado em bases modernas
(principalmente através do Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais). De outro
lado, observou-se a expansão de culturas com maior potencial de absorção tecnológica,
ligadas à exportação (como soja e café), aos programas específicos (como cana-de-açúcar/
PRÓ-ÁLCOOL) e ao processamento agroindustrial (como frutas, farelo e ração para a
pecuária).
Igualmente importante para o excepcional desempenho da agropecuária mineira foi o
dinamismo da pecuária, cujo valor bruto da produção cresceu a elevadas taxas até fins dos
anos 70. A expansão da atividade leiteira foi fundamentalmente estimulada pela considerável
elevação dos preços do leite e ganhos de produtividade. Em geral, esta atividade
desenvolveu-se combinada com atividades essencialmente agrícolas, já que se constituía
em garantia de capital de giro aos produtores ao longo do ano agrícola (veja-se, por exemplo,
o caso do Sul/Sudoeste de Minas, onde as propriedades rurais combinavam o plantio do
café com a produção de leite). Ou seja, a reprodução ampliada da economia primária e a
sustentação do crescimento com relativa estabilidade tornaram-se possíveis, em certa
medida, pela combinação de uma atividade geradora de recursos para investimento em
capital fixo e uma atividade geradora de fluxo contínuo de recursos de capital circulante.
No entanto, ao lado da modernização agrícola do Sul, Triângulo e Noroeste do Estado
continuou a subsistir uma agricultura atrasada do Jequitinhonha, Rio Doce e Zona da Mata.
Além disso, e mais importante, a dificuldade em avançar na incorporação e internalização
dos elos industriais e comerciais a jusante ao longo da cadeia produtiva agropecuária tornou
a economia estadual vulnerável às oscilações dos preços (nacionais e internacionais) de
seus principais produtos (notadamente café, soja e leite) e extremamente dependente da
indústria processadora paulista. De fato, boa parte da produção continuou a ser exportada
in natura para o exterior e para outros estados do País, onde era industrializada.
Em que pesem a heterogeneidade espacial e a pequena agregação de valor intraestadual da produção agropecuária mineira ao longo da década, a produção primária de
Minas experimentou significativo dinamismo econômico, com a participação de Minas Gerais
na produção agropecuária nacional subindo de 11,9% para 16,4% entre 1970 e 1980 (TAB.
12). Minas passou a liderar a produção nacional de café e tornou-se o maior exportador do
produto. A produção agrícola do cerrado expandiu-se rapidamente, associada aos vários
programas de apoio à agricultura do cerrado e à montagem de infra-estrutura para
escoamento da produção (Corredor de exportação ES-MG-GO), e o Noroeste do Estado
viu crescer a produção de produtos irrigados.
Vinculado ao rápido crescimento industrial e agrícola, ocorreu uma rápida expansão
do setor terciário mineiro, que cresceu a taxas próximas a 9% anuais (TAB. 15). A baixa
produtividade do setor ajuda a explicar o incremento da participação relativa do setor na
população ocupada total do Estado, que passou de 34,3% para 43% entre 1970 e 1980
(TAB. 8).
Capítulo 1 - A construção econômica recente
29
BDMG
40 anos
TABELA 15
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE TERCIÁRIA A CUSTO DE FATORES
(PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação
1970-1975
1975-1980
1970-1980
Minas Gerais
12,56
5,96
9,21
Rio de Janeiro
9,85
5,68
7,75
São Paulo
11,20
6,81
8,98
Paraná
13,80
4,83
9,23
Rio Grande do Sul
BRASIL
10,20
10,89
5,97
7,23
8,07
9,04
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
O dinamismo do terciário mineiro não se mostrou particularmente distinto daquele
observado na economia brasileira e foi similar ao apresentado pelo Estado do Paraná. Este fato
levou a um pequeno ganho na participação relativa de Minas Gerais no produto do setor terciário
nacional de 8,25% em 1970 para 8,37% em 1980 (TAB. 16). Há que se notar, contudo, que este
pequeno crescimento foi acompanhado não somente por uma diversificação e diferenciação da
estrutura setorial dos serviços, mas também por dinâmicas espaciais intra-estado bastante distintas.
Observa-se que, em contraste, com o ocorrido em nível nacional, os serviços produtivos
aumentaram a sua participação na estrutura do terciário mineiro. Além disso, a exemplo do ocorrido
em nível nacional, o crescimento do terciário nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e
Rio Grande do Sul ocorreu naqueles segmentos mais ligados a uma estrutura de inchamento do
terciário, em detrimento do segmento produtivo (TAB. 17).
TABELA 16
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO AGROPECUÁRIO A CUSTO
DE FATORES (PREÇOS CORRENTES) (%)
1970
1975
1980
Minas Gerais
Unidade da Federação
8,25
8,89
8,37
Rio de Janeiro
20,57
19,62
18,25
São Paulo
34,98
35,46
34,79
Paraná
5,27
6,00
5,36
Rio Grande do Sul
8,23
7,98
7,52
100,00
100,00
100,00
BRASIL
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
30
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 17
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS SERVIÇOS PRODUTIVOS* (%):
BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação
1970
1980
%
Brasil = 100
%
Brasil = 100
Minas Gerais
42,78
95,46
44,62
103,74
São Paulo
46,22
103,13
43,43
100,96
Rio de Janeiro
47,90
106,88
39,49
91,81
Paraná
Rio Grande do Sul
47,04
44,71
104,97
99,76
44,83
42,91
104,23
99,75
BRASIL
44,81
100,00
43,02
100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Pessoal Ocupado em Serviços Produtivos / Pessoal Ocupado no Setor Serviços
Em que pese o relativo dinamismo do segmento de serviços produtivos em Minas Gerais,
este não foi capaz de reverter a sua significativa atrofia em relação à base produtiva (agropecuária
e indústria) do Estado (TAB. 18).
TABELA 18
ÍNDICE DE TERCEIRIZAÇÃO* (%): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação
1970
%
1980
Brasil=100
%
Brasil = 100
Minas Gerais
27,48
87,45
48,00
107,96
São Paulo
49,32
156,97
54,46
122,48
Rio de Janeiro
43,55
138,58
113,76
255,86
Paraná
25,68
81,72
43,87
98,68
Rio Grande do Sul
22,66
72,11
36,61
82,33
BRASIL
31,42
100,00
44,46
100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Índice de Terceirização = PO Serv. Produtivos /(PO Agricultura + PO Indústria)
A produtividade do trabalho do setor terciário de Minas apresentou uma leve melhora, que
não foi suficiente para igualar a média brasileira. Somente o Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram
ganhos de produtividade maiores. Em contraste, Paraná e Rio Grande do Sul pioraram relativamente
à média brasileira. (TAB. 19).
Capítulo 1 - A construção econômica recente
31
BDMG
40 anos
TABELA 19
PRODUTIVIDADE* DOS SERVIÇOS EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação
1970
1980
Minas Gerais
74,86
75,25
Rio de Janeiro
120,24
127,26
São Paulo
127,40
130,70
97,25
91,44
108,68
100,00
99,89
100,00
Paraná
Rio Grande do Sul
BRASIL
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores dos serviços a preços correntes/população ocupada
Do ponto de vista locacional, três regiões foram capazes de capturar os benefícios da
dinâmica da economia estadual e nacional no período. O aglomerado urbano de Belo
Horizonte consolidou-se como alternativa locacional a São Paulo. Tornou-se centro produtor
e irradiador de serviços de qualidade diferenciados e diversificados (especialmente de
serviços produtivos), exercendo um crescente efeito polarizador sobre a região central do
Estado. O terciário do Sul do Estado, a exemplo do ocorrido com o setor industrial, teve
seu dinamismo modificado pelo efeito de transbordamento da atividade industrial de São
Paulo. Se, por um lado, o transbordamento de São Paulo ajudou no desenvolvimento e
diversificação do terciário; por outro, a proximidade geográfica dessa região ao centro da
economia brasileira deter minou que a capacidade expansiva do setor terciário não
acompanhasse a de sua base produtiva industrial e agropecuária, indicando um terciário
atrofiado em relação à base produtiva da região. Finalmente, no Triângulo, o crescimento
do terciário esteve vinculado à rápida expansão da base agropecuária e agroindustrial
resultante do deslocamento da fronteira agrícola em direção aos cerrados e da modernização
tecnológica da produção.
Em vista do que foi discutido anteriormente, constata-se que a década dos 70 foi
excepcional quanto ao desempenho econômico do Estado. A economia mineira tornou-se
mais integrada intra e intersetorialmente, aumentando o valor agregado realizado no Estado.
Igualmente importante foi o aumento da abertura da economia para o exterior, vinculada
ao sucesso exportador de várias atividades industriais, com destaque para as produções
metalúrgica, de automóveis e motores. A histórica decadência econômica da agricultura do
Estado foi revertida, com a incorporação dos cerrados e áreas irrigadas do norte e a
introdução do plantio do café no Sul de Minas e cerrados. O setor terciário foi puxado por
essas transformações, passando a contar com serviços modernos de apoio à indústria e
atividades urbanas em geral.
Não obstante, a industrialização do período foi marcada por uma crescente
concentração espacial, notadamente na Região Metropolitana de Belo Horizonte e seu
entorno, cuja participação no PIB estadual passou de 45,3%, em 1970, para 52,5% em
1980 (Fernandes, 1997). O desequilíbrio intra-estadual foi aprofundado com as regiões
localizadas ao norte do Estado passando a contribuir com apenas 11% do PIB estadual, em
32
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
17
BDMG
40 anos
1980, após terem representado 17,6% deste em 1970. Ademais, chama atenção o fato,
como destacado por Fernandes (1997), de que apenas 52 dos 772 municípios do Estado
detinham, em 1980, 78,3% do valor da transformação industrial do Estado17 . Outro aspecto
que deve ser mencionado refere-se ao aumento da concentração econômica no Estado, vinculada
aos grandes projetos industriais implementados no período. De acordo com dados da Secretaria
de Estado da Fazenda sobre o recolhimento de ICM industrial, apresentados por Fernandes (1997),
72% do total recolhido foi gerado por 173 empresas, sendo que as 10 maiores empresas foram
responsáveis por 30% do total.
O agravamento dos desequilíbrios intra-estaduais levou à introdução da dimensão espacial na formulação do II Plano Mineiro de
Desenvolvimento Econômico e Social (1976/79). Logo depois, seriam os problemas de desigualdade social que viriam a ocupar a
agenda de planejamento do Estado. Nasce, assim, o III Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social (1979-83). Tal como os
anteriores, seus resultados foram limitados, mas pela primeira vez, procurou-se envolver a sociedade na definição das diretrizes
de planejamento estadual.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
33
BDMG
40 anos
1.4. Os anos da “década perdida”: inflexão e
crise da economia mineira
O desempenho da economia mineira ao longo dos anos 80 tem como pano de fundo as
dramáticas transformações ocorridas na economia nacional como resposta aos choques externos
e ao esgotamento do modelo de substituição de importações. De fato, os anos 80 constituem um
ponto de inflexão do processo de industrialização tanto brasileiro como mineiro. Embora a economia
mineira sofra uma inequívoca descontinuidade no crescimento do PIB e dos investimentos, em
relação aos anos 70, ela acabou por se beneficiar das alterações na estratégia econômica adotada
pelo país, participando da opção pelo drive-exportador.
Em nível nacional, os programas de ajustamento e estabilização, implementados durante
os anos 80 em resposta aos choques externos do petróleo, de juros e capital e à galopante espiral
inflacionária, alteraram substancialmente o sistema de incentivos macroeconômicos e o ambiente
regulatório no qual os agentes econômicos operavam, induzindo a uma série de mudanças na
forma como os mercados e as empresas funcionavam. O Estado, imerso em sua mais séria crise,
viu a sua capacidade de coordenação se esvair. Tornou-se crescentemente incapaz de fornecer
liderança em relação à trajetória de crescimento de médio e longo prazo e, conseqüentemente,
abandonou sua função histórica de promover a industrialização. Em particular, o estreito
relacionamento entre empresas e Estado, forjado ao longo dos anos de rápido crescimento, viu-se
enfraquecido pela erosão da capacidade de investimentos e de liderança do Estado. A escassez de
recursos e a falta de continuidade nas políticas públicas e no planejamento estratégico
comprometeram a coerência e eficiência das intervenções estatais. Finalmente, a postura financeira
Ponzi18 do governo nutriu os canais de acumulação de riqueza financeira, dando lugar à chamada
ciranda financeira. A assimetria, em termos de rentabilidade e risco, entre a acumulação financeira
e produtiva levou as empresas a se preocuparem, de um lado, com aspectos financeiros e
especulativos em detrimento da realização de investimentos produtivos e incorporação de novas
tecnologias e, de outro lado, a contrair o horizonte de planejamento de suas decisões, comportandose de forma míope. O divórcio entre os objetivos macroeconômicos e o desenvolvimento industrial
tornou-se, portanto, patente.
Não se pode deixar de reconhecer, entretanto, como sustentado pelo próprio governo à
época, que a estratégia de ajustamento adotada pretendeu deliberadamente implementar um modelo
de crescimento liderado pelas exportações após a recessão de 1981-83, através da modificação na
estrutura dos preços relativos entre tradables e non-tradables. O instrumento central dessa estratégia
foi a política de mini-desvalorizações. Apesar da estratégia perseguida ter sido bem-sucedida na
geração de superávits comerciais, os benefícios econômicos esperados (tais como estímulo aos
investimentos, retomada do crescimento econômico, geração de externalidades tecnológicas e de
aprendizagem, e maior eficiência econômica) não se realizaram. De um lado, prevaleceu, ao longo
de toda a década, um trade-off entre substanciais superávits comerciais e crescimento sustentável
dos investimentos. De outro, a estratégia adotada privilegiou setores tecnologicamente menos
dinâmicos, nos quais o país detinha vantagens comparativas estáticas. De fato, os setores
processadores de recursos naturais ou produtores de commodities industriais de uso difundido, que
18
34
Uma postura financeira Ponzi significa que os custos financeiros da dívida acumulada são superiores à capacidade de pagamento
da unidade devedora e, portanto, esta dívida continua a crescer pela capitalização dos juros na estrutura dos pagamentos devidos.
Neste caso, o pagamento de compromissos sobre a dívida é realizado através de constante refinanciamento e/ou crescimento da
dívida. (Minsky, 1986, p. 207).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
detinham vantagens comparativas estáticas e se beneficiaram de energia e insumos fornecidos
pelas estatais a preços subsidiados, se colocavam numa posição mais vantajosa para uma inserção
mais ativa no mercado internacional.
Nesse contexto, apesar da intensa crise econômica dos anos 80, a economia mineira conseguiu
crescer acima da média brasileira, reflexo de sua participação no drive-exportador. Entretanto,
como se pode ver pelas TAB. 20 e 21, Minas apresentou uma leve redução de sua participação no
PIB brasileiro, resultado, em parte, do maior dinamismo das economias sulinas. Comparativamente
aos demais estados concorrentes, o dinamismo de Minas foi inferior ao apresentado pelo Paraná e
Rio Grande do Sul e similar ao de São Paulo.
TABELA 20
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO NO PIB DO BRASIL A PREÇOS DE MERCADO
Unidade da Federação
1980
1990
9,44
9,29
São Paulo
37,66
37,02
Rio de Janeiro
13,55
10,86
Paraná
5,94
6,35
Rio Grande do Sul
8,07
8,13
100,00
100,00
Minas Gerais
BRASIL
Fonte: FGV e IBGE - Contas Regionais
TABELA 21
PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CONSTANTES DE 2001 E TAXA DE CRESCIMENTO
MÉDIA ANUAL - 1980-1990 BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da Federação
1980
Minas Gerais
Taxa de Crescimento
média anual (%)
R$ Milhões de 2001
1990
1980-1990
65.868,04
83.503,83
2,40
262.733,08
332.587,80
2,39
Rio de Janeiro
Paraná
96.010,42
40.259,45
97.548,72
57.006,49
0,16
3,54
Rio Grande do Sul
55.376,15
73.076,59
2,81
725.495,02
898.440,21
2,16
São Paulo
BRASIL
Fonte: FGVDADOS
Minas apresentou uma leve melhora na renda per capita (TAB. 22), que foi insuficiente,
entretanto, para modificar a sua posição em relação à média brasileira. O Paraná, em contraste,
mostrou capacidade de transferir os frutos de seu crescimento para a população, passando a
apresentar um PIB per capita superior à média brasileira em 1990.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
35
BDMG
40 anos
TABELA 22
PRODUTO INTERNO BRUTO PER CAPITA: BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da Federação
1980
R$ de 2001
Minas Gerais
1990
Brasil = 100
R$ de 2001
Tx. Média
Brasil = 100
Cresc. Anual (%)
4.922,83
80,75
5.383,14
86,31
0,90
10.491,67
172,11
10.753,28
172,41
0,25
Rio de Janeiro
8.502,79
139,48
7.704,14
123,52
-0,98
Paraná
Rio Grande do Sul
5.276,57
7.123,39
86,56
116,85
6.810,18
8.114,87
109,19
130,11
2,58
1,31
BRASIL
6.096,03
100,00
6.237,06
100,00
0,23
São Paulo
FONTE: FGVDADOS - PIB; IBGE - População
Todavia, a performance da economia mineira, a exemplo do ocorrido em nível nacional,
não foi capaz de induzir à realização de novos investimentos. Ao contrário, os níveis de investimento
permaneceram baixos ao longo de toda a década, incapazes até mesmo de sustentar a reposição
do capital depreciado. Como mostra a TAB. 23, a contração da formação bruta de capital fixo na
primeira metade da década dos 80, período para o qual se dispõe de dados desagregados por setor,
foi dramática. A indústria de transformação, dentre os setores selecionados, apresentou uma taxa
acumulada de queda nos investimentos na primeira metade dos anos 80 de 81,5%. Apenas a
indústria extrativa mineral apresentou crescimento positivo.
TABELA 23
MINAS GERAIS - TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO A PREÇOS
CONSTANTES, POR SETOR DE ATIVIDADE SELECIONADOS (%)
Setor de Atividade
1980
Agropecuária
Extrativa Mineral
Indústria de Transformação
1982
1983
1984
19,60
-27,30
34,70
-24,50
5,30
33,00
47,80
-12,10
-63,50
-29,70
191,70
29,33
-14,10
-37,30
-15,80
-16,80
-34,20
-25,40
-81,48
-22,40
1985
GANHO/
PERDA
1981
-27,74
Eletricidade, Gás e Água
6,00
-12,00
-19,20
9,10
-53,50
68,40
-35,61
Construção
2,90
-12,70
-2,60
-20,80
-19,90
1,00
-43,94
-4,30
-6,20
-2,60
-8,30
-22,80
-2,70
-39,78
TOTAL
FONTE: Secretaria de Estado do Planejamento - Agregados Regionais: Formação Bruta de Capital Fixo, 1970-1985
Em decorrência, os níveis de produtividade apresentaram uma considerável piora, apesar
do decréscimo ter sido inferior àquele apresentado pela economia brasileira, ao longo dos anos 80
(TAB. 24). Chama atenção o fato de que as economias paranaense e gaúcha apresentarem ganhos
de produtividade no período, com destaque para a primeira.
Não fora, portanto, a elevada capacidade ociosa disponível do parque industrial mineiro, o
desempenho da década dos 80 teria sido ainda pior. A economia mineira, sem dúvida, se beneficiou
do fato de contar com um parque industrial relativamente moderno, atualizado tecnologicamente
e com elevada capacidade ociosa naqueles setores com vantagens comparativas estáticas (como
no caso dos bens intermediários) e de recente instalação no Estado (como no caso da
automobilística). Como resultado, observa-se, ao longo deste período, um intenso esforço exportador
por parte desses setores na ocupação dos mercados internacionais, como uma forma de atenuar os
36
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
efeitos adversos da deterioração do cenário doméstico. De fato, segundo BDMG (1989, p. 34), o
dinamismo da economia mineira se apoiou sobre a notável expansão das exportações: “as
exportações de produtos industriais que representavam 13% da produção total da indústria mineira,
em 1980, responderam por 23% desse valor em 1986”. Em contraste, os setores voltados para o
atendimento do mercado interno incorreram em pesadas perdas. Exemplo disso foi o desempenho
do relativamente moderno setor de bens de capital, dependente das demandas do Estado, que amargou
uma profunda crise: o grau de ociosidade chegou a mais de 50% da capacidade instalada; não se
verificou nenhum investimento de peso durante toda a década; ocorreu o fechamento e paralisação
de duas importantes empresas e o faturamento real do setor caiu acentuadamente (BDMG, 1989).
TABELA 24
PRODUTIVIDADE (PIB/PEA): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS R$ DE 2001
Unidade da Federação
1980
R$ de 2001
1990
R$ de 2001
TAXA DE
VARIAÇÃO
Minas Gerais
13.907,39
13.480,20
-3,07
São Paulo
25.234,34
24.546,33
-2,73
Rio de Janeiro
22.238,16
18.492,84
-16,84
Paraná
14.061,77
16.116,85
14,61
Rio Grande do Sul
17.282,81
18.095,81
4,70
BRASIL
16.779,99
15.796,73
-5,86
FONTE: Elaboração própria a partir de dados do Censo Demográfico.
Dinâmicas tão díspares de desempenho levaram a um modesto crescimento do produto
industrial mineiro nesse período, que, mesmo assim, se mostrou superior ao brasileiro e a São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul, como demonstrado pelo ganho de participação relativa do Estado no
produto industrial brasileiro (TAB. 25). No caso do Rio de Janeiro, a excepcional elevação na sua
participação relativa se deveu ao crescimento da indústria extrativa mineral (petróleo) no período.
TABELA 25
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO INDUSTRIAL BRASILEIRO
A CUSTO DE FATORES (A PREÇOS CORRENTES)
Unidade da Federação
Minas Gerais
1980
(A)
1990
(B)
Ganho/Perda
(B/A)
9,44
10,84
1,15
São Paulo
37,66
29,04
0,77
Rio de Janeiro
13,55
22,21
1,64
Paraná
5,94
6,43
1,08
Rio Grande do Sul
8,07
5,29
0,66
100,00
100,00
1,00
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais; Séries Históricas do Brasil
Ao longo da década dos 80, a estrutura industrial mineira permaneceu praticamente
inalterada, com o setor de bens intermediários mantendo a sua hegemonia, com uma participação
de 45% do produto bruto industrial de Minas em 1990. A metalurgia continuou sendo o setor
de maior participação relativa (em torno de 25% do PIB industrial mineiro), enquanto a química
Capítulo 1 - A construção econômica recente
37
BDMG
40 anos
expandiu a sua participação e minerais não metálicos teve sua participação reduzida.O setor de
bens de consumo não-duráveis apresentou uma queda de 3 pontos percentuais na sua participação
relativa, chegando a apresentar praticamente a mesma participação relativa da metalurgia (25%).
No caso dos duráveis e bens de capital, destaca-se o crescimento do segmento de material de
transporte (de 6,96%, em 1981, para 8,9% em 1990), associado ao amadurecimento dos
investimentos da Fiat e das indústrias de autopeças (TAB. 26).
TABELA 26
ESTRUTURA DO VALOR AGREGADO BRUTO A CUSTO DE FATORES NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
POR CATEGORIA DE USO A PREÇOS CONSTANTES DE 1980 - (%)
Categoria de uso
1981
1985
1990
Bens de Consumo Não Duráveis
Têxtil
29,14
8,18
26,28
7,81
26,13
7,49
Produtos Alimentares
12,44
10,66
10,44
Outros
8,52
7,81
8,2
Bens de Consumo Intermediário
45,52
47,13
45,07
Metalurgia
25,12
25,29
24,96
Minerais Não-Metálicos
10,19
8,21
7,02
1,69
2,09
2,13
Papel e Papelão
Química
8,52
11,54
10,96
10,19
10,94
13,94
3,23
3,06
5,08
Material de Transporte
Outras (1)
6,96
15,10
7,88
15,65
8,86
14,86
TOTAL
100,0
100,00
100,00
Bens de Consumo Duráveis e de Capital
Material Elétrico e de Comunicação
FONTE: FERNANDES, C. A Inserção de Minas na Economia Nacional. 1997, p. 152 e 154
(1)
Incluem: Mecânica, Madeira, Borracha, Produtos Farmacêuticos e Veterinários, Editorial e Gráfica e Diversas
Tal conformação estrutural da indústria suscita alguns comentários. Viu-se anteriormente
que a especialização na produção de bens intermediários era apontada como uma “peculiaridade
perversa” da estrutura industrial mineira, perpetuando a “inferioridade, vulnerabilidade e
dependência” em relação às economias paulista e fluminense. No Diagnóstico da Economia Mineira de
1989, realizado pelo BDMG, observa-se uma clara mudança de perspectiva. Reconhece-se, antes de
mais nada, o “conteúdo substancialmente diferente” da especialização de Minas daquele observado
décadas atrás, quando era significativa a produção de matérias-primas e produtos semi-manufaturados:
No contexto atual, ao contrário, percebe-se elevado grau de elaboração industrial na produção
mineira de intermediários. Percebe-se também que a especialização está criando condições
efetivas de diversificação no sentido dos setores demandantes (material de transporte, máquinas
e equipamentos). (BDMG, 1989, p. 39)
Reconhece-se, além disso, a impossibilidade (e a inutilidade) de se reproduzir, em Minas
Gerais, a experiência paulista de industrialização, que viabilizou um parque produtivo amplo,
integrado e completo, haja vista os distintos requisitos locacionais das diferentes indústrias. Assim,
descarta-se, de imediato, a possibilidade de “autarquização” do Estado e sugere-se a sua integração
dinâmica ao processo de industrialização do país, através do atendimento ao mercado interno e
expansão da inserção no mercado externo. De fato, a trajetória da economia mineira, ao longo dos
anos 80, demonstra certa consistência econômica no curto e médio/longo prazo. No curto prazo,
38
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
porque os setores com vantagens comparativas em Minas foram os que conseguiram uma inserção
ativa no comércio exterior, num momento em que os setores ligados à demanda interna mostraramse altamente fragilizados. No médio e longo prazos, a crescente integração inter e intra-setorial,
com ampliação dos efeitos de encadeamento a jusante, demonstra ser possível capitalizar essas
vantagens comparativas dinamicamente e explorar a complementaridade produtiva em relação ao
centro dinâmico da economia brasileira, São Paulo.
A produção mineral (exclusive energéticos) de Minas Gerais experimentou um rápido declínio,
ao longo dos anos 80, de aproximadamente 50% da produção nacional, em 1980, para 31% em
1987. Essa queda se deveu, de um lado, à expansão da fronteira mineral em direção aos estados do
Pará, Goiás e Bahia. Como notado no Diagnóstico do BDMG (1989) sobre mineração, o Projeto
Carajás entrou em operação, em nível comercial, em 1986/87, o que levou a uma redução considerável
da participação do Estado na produção brasileira de minério de ferro (caiu de 99,6%, em 1980, para
66,6% em 1987). De outro lado, a conjuntura adversa desses anos levou a um arrefecimento da
demanda interna por produtos minerais. Vale notar, entretanto, que na primeira metade da década, a
indústria extrativa mineral apresentou uma taxa acumulada de investimentos positiva (TAB. 23).
Isso se deveu, em grande medida, à entrada em operação das minas Serra Geral e Timbopepa, da
CVDR; da expansão produtiva da Sociedade Mineira de Mineração, a partir de 1984; da entrada em
operação da SAMITRI, em 1985; e das expansões verificadas nas três grandes produtoras de alumínio
(CBA, ALCOA e ALCAN), a partir de 1983; para citar alguns exemplos.
Já o desempenho do setor agropecuário ao longo da década foi frustrante. Como mostra a
TAB. 27, comparativamente ao país e às outras economias selecionadas, seu desempenho foi um
dos piores, apresentando uma das maiores perdas de posição relativa na década. Note-se que
somente São Paulo apresentou ganho relativo de participação, determinado, principalmente, pelo
avanço da agroindustrialização da cana e laranja.
TABELA 27
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO AGROPECUÁRIO BRASILEIRO
A CUSTO DE FATORES (A PREÇOS CORRENTES)
Unidade da Federação
1980
(A)
1990
(B)
Ganho/Perda
(B/A)
Minas Gerais
16,35
12,48
0,76
São Paulo
14,25
20,25
1,42
1,98
1,49
0,75
Rio de Janeiro
Paraná
11,68
8,97
0,77
Rio Grande do Sul
12,56
11,72
0,93
100,00
100,00
1,00
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais; Séries Históricas do Brasil
De modo geral, as razões dos problemas enfrentados pelo setor em Minas Gerais devem ser
buscadas no refluxo dos recursos destinados ao crédito rural, na paralisação dos programas
governamentais de apoio ao setor, nas políticas de preços agrícolas desfavoráveis - em um ambiente
recessivo e inflacionário -, e na limitada expansão da agroindustrialização. Em particular, esse desempenho
foi influenciado, de um lado, pela crise da pecuária leiteira e pelos problemas de reprodução capitalista na
agricultura do cerrado mineiro e nas áreas de produção de subsistência, associados à escassez de crédito e
à baixa rentabilidade. Soma-se a essas restrições de ordem interna ao seu crescimento, o aumento da
competição da nova fronteira do cerrado no Centro-Oeste, de fácil acessibilidade e baixo preço da terra,
Capítulo 1 - A construção econômica recente
39
BDMG
40 anos
que viabilizam significativos ganhos de escala pela ampliação da área média de exploração. De
outro, a trajetória descendente dos preços do café, nos mercados internacionais, e do leite, no
mercado nacional, comprometeram a capacidade de acumulação do setor primário mineiro.
Analisando separadamente as atividades agrícola e pecuária, nota-se que no caso da produção
agrícola, a exemplo do que ocorreu no setor industrial, as culturas que demonstraram maior
dinamismo ao longo da década, em termos de área colhida, foram soja, cana-de-açúcar e café,
sugerindo a crescente especialização do Estado em culturas de exportação. De fato, Minas Gerais
consolidou a sua posição de maior produtor e exportador de café do país no primeiro qüinqüênio
da década, quando a produção cresceu a elevadas taxas (aproximadamente 20% a.a.). No caso da
produção pecuária, Minas continuou a deter o maior rebanho bovino e a primeira posição na
produção de leite nacional. Entretanto, observa-se uma estagnação do rebanho bovino mineiro e
o decréscimo da produção pecuária. Sem dúvida, como apontado em BDMG (1989), essa situação
se deveu essencialmente à falta de programas governamentais de apoio à pecuária (inclusive
creditícia), às políticas de preços desfavoráveis ao segmento, incluindo-se aí o tabelamento dos
preços do leite em níveis insatisfatórios, e à prolongada recessão. Assim, o crescimento assimétrico
das produções agrícola e pecuária no Estado determinou uma perda de posição relativa da segunda
em relação à primeira no PIB setorial estadual.
Entretanto, não se pode deixar de reconhecer que todas essas dificuldades e a vulnerabilidade
da agropecuária mineira estiveram intrinsecamente associadas à deficiência estrutural da
agroindustrialização do Estado.
Finalmente, resta-nos tecer algumas considerações sobre a evolução do setor terciário ao
longo desses anos. O terciário mineiro cresceu a taxas mais elevadas do que os demais grandes
setores da economia mineira, elevando a sua participação no PIB mineiro (de 43,3%, em 1980,
para 47,2% em 1990) e no PIB nacional setorial (de 8,37% para 9,15% no mesmo período).
Comparativamente aos estados selecionados, apenas o Paraná demonstrou dinamismo semelhante
ao de Minas. Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul viram as suas participações relativas
no terciário nacional decrescerem (TAB. 28).
TABELA 28
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO DO TERCIÁRIO BRASILEIRO A
CUSTO DE FATORES (A PREÇOS CORRENTES)
Unidade da Federação
Minas Gerais
1980
(A)
1990
(B)
Ganho/Perda
(B/A)
8,37
9,15
1,09
São Paulo
34,78
29,62
0,85
Rio de Janeiro
18,25
16,04
0,88
Paraná
5,36
5,59
1,04
Rio Grande do Sul
7,52
6,88
0,91
100,00
100,00
1,00
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais; Séries Históricas do Brasil
Além disso, contrariamente ao observado na década anterior, o crescimento do setor serviços
em Minas Gerais foi mais ligado ao inchamento do terciário do que à ampliação da parcela dos
serviços produtivos (TAB. 29 e 30). Esse comportamento mostrou-se diametralmente oposto
àquele verificado nos estados concorrentes, pois, enquanto nos anos 70, as atividades de serviços
ligados às famílias responderam pelo maior crescimento do terciário nesses estados, na década
dos 80 observa-se uma gradual expansão dos serviços produtivos.
40
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 29
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS SERVIÇOS PRODUTIVOS* (%): BRASIL E
UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação
1980
%
1991
BRASIL=100
%
BRASIL=100
Minas Gerais
44,62
103,74
44,17
101,09
São Paulo
43,43
100,96
45,75
104,72
Rio de Janeiro
Paraná
39,49
44,83
91,81
104,23
41,34
46,80
94,61
107,10
Rio Grande do Sul
42,91
99,75
44,52
101,91
Brasil
43,02
100,00
43,69
100,00
FONTE: FIBGE. Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000.
* Pessoal Ocupado em Serviços Produtivos / Pessoal Ocupado nos Serviços
TABELA 30
ÍNDICE DE TERCEIRIZAÇÃO* (%): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação
Minas Gerais
São Paulo
Rio de Janeiro
Paraná
Rio Grande do Sul
Brasil
1980
%
48,00
54,46
113,76
43,87
36,61
44,46
1991
BRASIL=100
107,96
122,48
255,86
98,68
82,33
100,00
%
63,35
86,84
158,55
67,07
53,76
66,61
BRASIL=100
95,11
130,37
238,03
100,69
80,71
100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Índice de Terceirização = PO Serv. Produtivos / PO Agricultura + PO Indústria (PO = Pessoal Ocupado)
As tendências de desempenho setorial apontadas anteriormente se refletiram na estrutura
ocupacional do Estado. Como se pode observar pela TAB. 31, a população ocupada na agropecuária
manteve-se praticamente inalterada, em termos absolutos, ao longo da década, enquanto o setor
de serviços e, em menor medida, o setor industrial elevaram o nível absoluto de ocupação.
Dinâmicas tão díspares levaram a uma forte contração da participação relativa da população
ocupada na agropecuária e a uma pequena diminuição na participação relativa da indústria. O
setor de serviços, coerentemente com desempenho esperado em épocas de crise, foi o principal
absorvedor de mão de obra, passando a ocupar mais de 50% da população mineira.
TABELA 31
POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO SETORES DE ATIVIDADE - MINAS GERAIS (%)
Setor de Atividade
Agropecuária
Indústria
Indústria de Transformação
Construção
Outras Atividades Industriais
Serviços
TOTAL
1980
N. Pessoas
1.518.442
1.115.624
562.858
457.310
95.456
1.991.950
4.626.016
Part. Relativa
32,82
24,12
12,17
9,89
2,06
43,06
100,00
1991
N. Pessoas
1.581.653
1.400.862
775.581
474.966
150.315
3.121.883
6.104.398
Part. Relativa Tx de Variação
25,91
4,16
22,95
25,57
12,71
37,79
7,78
3,86
2,46
57,47
51,14
56,72
100,00
31,96
FONTE: IBGE - Censos Demográficos, 1970 e 1980
Capítulo 1 - A construção econômica recente
41
BDMG
40 anos
1.5. Liberalização e estabilização: Minas Gerais
nos anos 90
As profundas transformações pelas quais a economia mundial vem passando têm
condicionado a própria direção das mudanças em nível nacional. A revolução tecnológica em
curso tem levado a uma alteração no padrão de localização industrial, associado com os movimentos
de concentração e dispersão dos diferentes segmentos da cadeia de valor no espaço19 . O mundo
foi engolfado por uma onda liberalizante que alterou substancialmente o regime de incentivos e
regulação da economia. Essas mudanças no marco institucional, de um lado, possibilitaram que a
força microeconômica da revolução tecnológica se fizesse sentir em toda a sua dimensão; e de
outro, permitiram que a economia de “livre-mercado” – como forma de organização da produção,
da distribuição e da alocação de recursos – se fortalecesse. Finalmente, alteraram-se
qualitativamente as inter-conexões entre as economias nacionais, internacionais e transnacionais,
consolidando-se a chamada “globalização produtiva, financeira e comercial”. Nesse contexto, as
economias nacionais e empresas tendem a se confrontar com novas regras e condições de
concorrência, nem sempre coerentes. De fato, economias nacionais e empresas são empurradas a
competir simultaneamente em condições de liberalização, abertura e desregulamentação de caráter
universal e, contraditoriamente, de crescente regionalização dos mercados.
No Brasil, essas transformações têm se refletido em profundas transformações do modelo
de desenvolvimento econômico. Liberalização comercial e financeira, privatização e
desregulamentação dos mercados constituíram partes essenciais de uma estratégia de “ajustamento
estrutural” orientada para remover a intervenção do estado na economia e se instituir as regras do
“livre-mercado”. A captação de poupança externa para financiar os recorrentes saldos negativos
nas contas correntes tornou-se sine qua non para a sustentação do novo modelo. Em conseqüência,
não somente o “gerenciamento” macroeconômico da economia mudou – em direção a uma
excessiva preocupação com os “fundamentos macroeconômicos” – mas também a estrutura
produtiva e o relacionamento entre os diferentes agentes econômicos (tanto dentro do país como
além fronteiras) alteraram-se qualitativamente, a exemplo do ocorrido no nível mundial.
Simultaneamente ao desmonte do aparato institucional mineiro de apoio à industrialização, observase uma crescente imposição, sobre os agentes locais (privado e público), de assumir a
responsabilidade pelo desenvolvimento econômico. Emerge, nesse contexto, uma grande disputa
pelos novos investimentos estrangeiros e nacionais, estabelecendo-se uma verdadeira guerra fiscal
entre os estados. Certamente, esse tipo de arranjo beneficia as áreas mais desenvolvidas do País e
cria dificuldades para a adoção de políticas compensatórias direcionadas para as regiões mais
pobres e populosas. Um exemplo disso está refletido nas estatísticas dos Censos de Capitais
Estrangeiros do Banco Central de 1995 e 2000. Elas apontam para uma elevada concentração dos
investimentos estrangeiros em São Paulo, que absorveu em 1995 e 2000, respectivamente, 61% e
55% do total. Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul
responderam conjuntamente por quase 90% do total, explicitando a clara desvantagem das demais
regiões brasileiras na atração destes capitais.
Essas mudanças se expressam, portanto, em fortes pressões sobre os espaços regionais,
observando-se um movimento de reorganização da divisão inter-regional do trabalho em nível
nacional, mas vinculado essencialmente ao novo modelo de acumulação capitalista em escala
19
42
No caso de Minas Gerais, esse aspecto é particularmente relevante, pois influenciou não somente a consolidação do arranjo da
Fiat, mas também a instalação das plantas da Mercedes Benz e da Iveco no Estado.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
mundial. Esse movimento de reorganização do capital no espaço assume características complexas,
às vezes até mesmo contraditórias, levando simultaneamente à concentração e desconcentração
relativa dos investimentos, tal como explicitado por Diniz (1993) em sua tese da reconcentração
poligonal. Verifica-se um movimento de desconcentração relativa das indústrias tradicionais - em
busca de salários mais baixos e incentivos fiscais - e da de bens duráveis, especialmente
automobilística - em busca da apropriação de fartos benefícios fiscais20 . Vale observar que, nesse
contexto, a guerra fiscal empreendida pelos estados da Federação na atração de novos investimentos
acabou, eventualmente, por equalizar as vantagens fiscais que porventura existissem entre eles.
Em paralelo, também se identifica um processo de reconcentração das atividades tecnologicamente
mais modernas. Nas áreas conurbadas, que conformam o polígono de transbordamento do Sudeste
e Sul, no espaço que vai da Região Metropolitana de Belo Horizonte à de Porto Alegre, os efeitos
aglomerativos e novas externalidades – associadas à presença de serviços modernos de apoio à
atividade industrial; de sistema acadêmico-universitário e de instituições de pesquisa; de uma
rede de fornecedores desenvolvida; e relações inter-industriais articuladas geograficamente –
reforçam o poder de atração sobre os investimentos em setores de maior conteúdo tecnológico.
Ainda, as privatizações e a crise fiscal do estado levam a uma redução significativa dos investimentos
públicos diretos e em infra-estrutura física e subsídios públicos federais à indústria, que até meados
dos 80, haviam se constituído nos instrumentos principais de promoção da desconcentração
industrial. Em particular, pode-se verificar que Minas Gerais e Paraná, respectivamente, foram os
grandes beneficiados pelo movimento de reconcentração poligonal das atividades econômicas
(TAB. 32).
TABELA 32
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS REGIÕES E UNIDADES DA FEDERAÇÃO NO VALOR ADICIONADO
BRUTO DO BRASIL A PREÇOS BÁSICOS (%)
REGIÃO / UF
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
1990
1999
GANHO/PERDA
-4,08
4,66
4,47
12,56
13,06
3,98
8,66
6,80
-21,48
Sub-total
25,88
24,33
-5,99
Sudeste
57,00
57,81
1,42
8,88
9,60
8,11
São Paulo
35,33
34,68
-1,84
Rio de Janeiro
11,39
11,77
3,34
Sul
Minas Gerais
17,12
17,85
4,26
Paraná
6,01
6,39
6,32
Rio Grande do Sul
7,74
7,83
1,16
74,12
100,00
75,66
100,00
2,08
Sudeste + Sul
BRASIL
Fonte: IBGE - Contas Regionais
Como mostram as TAB. 33, 34 e 35, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro apresentaram taxas
de crescimento do PIB, do PIB per capita e da produtividade superiores à média nacional e à paulista.
20
Como mostrado no Capítulo I do Volume VI, os Estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste tiveram maiores ganhos
líquidos de participação relativa no valor da transformação industrial, entre 1980 e 1999, nos gêneros industriais metalurgia,
papel e papelão, têxtil, vestuário, calçados e bebidas.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
43
BDMG
40 anos
TABELA 33
PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CONSTANTES DE 2001 E TAXA DE CRESCIMENTO - MÉDIA ANUAL 1990-1999 - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da Federação
Minas Gerais
São Paulo
Taxa de
Crescimento média anual (%)
1990-1999
R$ Milhões de 2001
1990
1999
83.503,83
107.662,57
2,86
1,81
332.587,80
390.835,50
Rio de Janeiro
97.548,72
131.396,65
3,37
Paraná
57.006,49
70.876,19
2,45
73.076,59
86.635,48
1,91
898.440,21
1.118.383,95
2,46
Rio Grande do Sul
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais e FGVdados
TABELA 34
PRODUTO INTERNO BRUTO PER CAPITA: BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da Federação
Minas Gerais
São Paulo
1990
1999
Tx. Média
R$ de 2001
Brasil=100
R$ de 2001
5.383,14
10.753,28
86,31
172,41
6.103,67
10.741,97
Brasil=100
91,18
160,48
Cresc. Anual (%)
1,41
-0,01
Rio de Janeiro
7.704,14
123,52
9.249,33
138,18
2,05
Paraná
6.810,18
109,19
7.513,91
112,25
1,10
Rio Grande do Sul
8.114,87
130,11
8.607,15
128,58
0,66
BRASIL
6.237,06
100,00
6.693,76
100,00
0,79
FONTE: IBGE - Contas Regionais e Censo Demográfico
TABELA 35
PRODUTIVIDADE (PIB/PEA): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS - R$ DE 2001
Unidade da Federação
1990
1999
TX DE VARIAÇÃO
Minas Gerais
13.480,20
15.567,56
15,48
São Paulo
Rio de Janeiro
24.546,33
18.492,84
26.630,84
23.899,69
8,49
29,24
Paraná
16.116,85
17.962,62
11,45
Rio Grande do Sul
18.095,81
19.660,18
8,64
BRASIL
15.796,73
17.639,04
11,66
FONTE: Elaboração própria a partir de dados do Censo Demográfico e Contas Regionais do IBGE
Não obstante a melhora observada nos indicadores citados, a economia mineira, no final
dos anos 90, ainda continuava a se colocar em uma posição desvantajosa em relação aos demais
Estados concorrentes, e mesmo em relação à média brasileira, no que se refere aos níveis absolutos
44
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
do PIB per capita e produtividade. Sem dúvida, esses indicadores são preocupantes, pois refletem
as dificuldades da economia mineira em manter o seu processo de “alcançamento” (catching up) visà-vis as economias líderes, resultando em perda de competitividade relativa.
No caso da indústria de transformação, os dados parecem indicar que os estados do Sul e
Sudeste foram beneficiários da desconcentração industrial de São Paulo, alguns deles claramente
demonstrando ganhos líquidos de participação relativa no valor adicionado bruto brasileiro da
indústria de transformação21 (TAB. 36).
TABELA 36
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADAS NO VALOR ADICIONADO BRUTO A PREÇOS
BÁSICOS DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO (%)
Unidade da Federação
1990
1999
Minas Gerais
8,08
9,03
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
R. Grande do Sul
BRASIL
TX DE VARIAÇÃO
11,76
7,69
9,31
21,07
48,25
41,79
-13,39
6,38
5,73
-10,19
9,54
10,04
5,24
100,00
100,00
100,00
FONTE: IBGE - Contas Regionais
Entretanto, os dados da Tabela 36 devem ser analisados com cautela. Isso se deve
principalmente às inconsistências verificadas entre estes dados e aqueles obtidos através da Pesquisa
Industrial Anual, também do IBGE22 . Da comparação entre estas duas fontes de dados (Contas
Regionais do IBGE e PIA/IBGE), observa-se considerável divergência nas tendências apontadas.
Um primeiro aspecto que chama atenção é a dramática perda de participação relativa de São
Paulo, ao longo dos anos 90, na série de Contas Regionais (TAB. 36), de quase 7 pontos percentuais.
De acordo com a PIA, essa perda foi de apenas 4 pontos percentuais, indicando que São Paulo
ainda deteria, em 1999, quase 50% do valor da transformação industrial do país (exclusive indústria
extrativa mineral). Em segundo lugar, as duas fontes de dados apresentam tendências
completamente divergentes quanto ao comportamento da indústria de transformação paranaense.
Enquanto na série das Contas Regionais (TAB. 36), a indústria paranaense demonstra uma perda
de participação relativa, na PIA, este Estado apresenta ganhos de participação, ao longo dos anos
90, de 4,82% para 5,92%. De fato, quando se leva em conta a consolidação do complexo
agroindustrial no Paraná e sua posição competitiva privilegiada nesse setor, e a atração de indústrias
importantes de material de transporte para o Estado, era de se esperar que a sua participação
crescesse e não declinasse como indicado na TAB. 36. Em terceiro lugar, é clara a divergência
entre os dados da PIA e Contas Regionais no que se refere à evolução do Rio Grande do Sul.
Enquanto a primeira indica queda na participação relativa na indústria de transformação brasileira
(de 8,79% para 7,90%), a segunda apresenta um crescimento de 9,54% para 10,04%, indicando
que o Estado consolidou a terceira posição dentre os estados mais industrializados, acima de
Minas Gerais. Esses dados estão em clara divergência com os da PIA, que aponta Minas Gerais
em terceira posição e o Rio Grande do Sul perdendo posição relativa. Finalmente, ambos os dados
21
22
Vale notar que a Região Centro-Oeste também apresentou significativo ganho líquido de participação relativa, resultado do
deslocamento da agroindústria para essa região.
Para uma discussão detalhada dos dados da PIA, ver Capítulo 1 do Volume VI.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
45
BDMG
40 anos
mostram que Minas Gerais apresentou ganhos de participação relativa na indústria manufatureira
nacional. Entretanto, de acordo com as Contas Regionais, os elevados ganhos de participação não
foram suficientes para alterar a posição de Minas em relação aos demais estados concorrentes. Em
contraste, a PIA mostra que a indústria manufatureira mineira apresentou pequeno ganho de
participação relativa, mas que este foi suficiente para mantê-la como a terceira mais importante
do País.
Apesar das inconsistências entre essas duas fontes de dados não permitirem que se tirem
conclusões sobre os movimentos de reorganização do capital industrial no espaço nacional, podese dizer que ambos os dados apontam para a posição favorável de Minas Gerais nesse movimento.
Minas Gerais se beneficiou mais diretamente da desconcentração da indústria paulista, observandose tanto uma relocalização substitutiva de ramos tradicionais bem como o surgimento de novas
localidades complementares à indústria paulista, notadamente no Sul/ Sudoeste e Triângulo. Além
disso, o rápido crescimento do setor de autopeças, ligado ao Projeto de “mineirização” da FIAT, e
a instalação da MERCENDES BENZ reforçaram a participação relativa do Estado no valor da
transformação industrial do País. Em outras palavras, Minas tem desfrutado dos benefícios de sua
inserção geográfica privilegiada, fortalecendo a sua posição como elo de integração do Estado de
São Paulo com o Norte e Nordeste brasileiro. Simultaneamente, a reconcentração poligonal reforçou
a integração produtiva de Minas com o pólo industrial paulista. A natureza desta integração,
entretanto, alterou-se consideravelmente. Atualmente, as estruturas produtivas de Minas e São
Paulo apresentam um maior nível de complementaridade horizontal, notadamente no complexo
metal-mecânico.
A partir de 1999, entretanto, um fato tem despertado preocupação entre os especialistas e
técnicos de instituições governamentais, qual seja, o substancial declínio das intenções de
investimento anunciadas no Estado, apontando para um arrefecimento da tendência observada
desde 1996. De fato, em 1998, os investimentos anunciados declinaram fortemente até atingir,
em 2000, patamar inferior a 1/3 do anunciado em 1996. Esse aspecto é de fundamental relevância
para as perspectivas futuras de Minas. Ele aponta para a crescente dificuldade do Estado em
manter um ambiente de atratividade para os novos investimentos. Os fatores que parecem estar
determinando essa dificuldade se relacionam à deterioração da infra-estrutura física e à
desarticulação e o esgotamento do aparato institucional do Estado (associado à crise financeira
do Estado) que, em outras épocas, foi capaz de exercer um forte poder de atração sobre os novos
investimentos23 .
O movimento de reorganização da indústria manufatureira foi acompanhado, na esfera
estadual, por algumas importantes mudanças. Ocorreu, ao longo da última década, uma relativa
estagnação do adensamento das cadeias do complexo metal-mecânico, com exceção da cadeia
automotiva. Considerando-se que a indústria automobilística e o setor metalúrgico mineiro
mantiveram e, até mesmo, ampliaram a sua inserção nacional, os condicionantes desta estagnação
parecem ser os demais elos do complexo, notadamente o desenvolvimento restringido da indústria
de bens de capital. De fato, observa-se, ao longo dos anos 90, a consolidação de seu direcionamento
para a diversificação do complexo metal-mecânico, cuja participação atinge, em 1999, 51% do
produto industrial do Estado24 . Entretanto, este crescimento da importância do complexo foi
acompanhado da perda de participação relativa da indústria mecânica estadual (cai de 7% em
1990 para 5% em 1999). Além disso, a mecânica mineira se mostra altamente especializada nos
segmentos de menor conteúdo tecnológico (divisão de produtos de metal) e voltados para o
atendimento da demanda das indústrias extrativa mineral, metalúrgica, automotiva e construção
civil. Tal aspecto indica, de um lado, a crescente fragilidade da estrutura industrial mineira, já que
23
24
46
Ver a este respeito os Volumes III e IX, respectivamente, sobre infra-estrutura e aparato estatal.
Para uma discussão mais detalhada, ver Capítulo 1 do Volume VI.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
a integração inter-setorial do complexo metal-mecânico em Minas vem sendo crescentemente
comprometida, em vista da importância estratégica desses segmentos nessa integração. De outro
lado, a ausência quase completa do segmento de máquinas-ferramentas no Estado significa dizer
que a indústria mineira não possui um núcleo endógeno de geração de progresso tecnológico e
que, por isso, a construção de um sistema estadual de inovação está comprometida.
Da mesma forma, o Estado se coloca em uma posição desvantajosa frente ao processo de
substituição de importações competitivas em curso no Brasil nas cadeias químicas e de
eletroeletrônicos, já que possui uma participação pequena nessas cadeias. Isto coloca, sem dúvida,
a economia mineira em relativa desvantagem nesses setores potencialmente dinâmicos. Exemplo
disso é a posição de Minas no setor de fabricação de aparelhos e equipamentos de material
eletrônico. No Estado, este setor responde por apenas por 0,1% do valor agregado pelo conjunto
de cadeias produtivas. Em comparação, o mesmo setor, no Rio de Janeiro, detém 6,3% de
participação no valor agregado das cadeias produtivas no Estado e, em São Paulo, 12,5%. O
pequeno tamanho do setor em Minas Gerais dificulta a geração de externalidades e o acúmulo de
conhecimento e, conseqüentemente, diminui a atratividade de investimentos nesse setor industrial,
onde, deve-se reconhecer, se verifica o mais importante segmento industrial da atualidade25 .
Chama atenção, também, a incapacidade do Estado em utilizar a vantagem comparativa da
produção agropecuária estadual na consolidação de uma indústria de alimentos de liderança no
País. Essa indústria continua a apresentar problemas graves de adensamento da cadeia produtiva
em nível estadual. Mesmo assim, o Estado tem mantido a sua participação relativa nesse segmento
no valor da transformação industrial nacional (aproximadamente 8%).
Paralelamente, tem-se articulado, em Minas Gerais, uma estratégia industrial sustentada na
conjugação do sucesso de iniciativas locais e na adoção de políticas voltadas para “arranjos
produtivos locais” em setores tradicionais (como, por exemplo, nos casos de Nova Serrana, Montes
Claros e Ubá). Em decorrência, observa-se uma certa recuperação da produção dos setores
tradicionais combinada com a emergência de novas localidades. Entretanto, a própria natureza
desses arranjos – isto é, serem inseridos em um entorno de subsistência (Santos et al., 2002); não
apresentarem vínculos relevantes com as respectivas cadeias internacionais de commodities
industriais; e apresentarem pequena capacidade de arraste (pequenos encadeamentos para frente
e para trás) sobre a economia estadual - têm restringido a sua capacidade em gerar um novo ciclo
virtuoso de crescimento da indústria estadual.
Entretanto, o Estado tem a possibilidade de explorar outras alternativas de forma a
potencializar o seu crescimento. Nesse sentido, deve explorar a vocação em setores de maior
densidade tecnológica, que já se encontram presentes no Estado. Exemplos importantes são os
casos de sucesso da biotecnologia e do setor de tecnologia da informação e serviços complementares
(software, processamento de dados, etc.). Atualmente, o maior centro de biotecnologia da América
Latina está localizado na região de Belo Horizonte e as incubadoras de empresas de informática
de Belo Horizonte também se colocam entre as mais importantes da América Latina.
A indústria extrativa mineral do Estado, por sua vez, se beneficiou do tênue crescimento,
ao longo dos anos 90, da produção mineral (6%, em termos reais), ao passo que a produção
brasileira declinou 8%. Em decorrência, o Estado elevou a sua participação relativa na produção
mineral brasileira (exclusive energéticos) de 30%, em 1990, para 34% em 1999. Em contraste,
quando se considera a evolução do valor adicionado bruto a preços básicos (correntes) da
indústria extrativa mineral brasileira por Estado, Minas Gerais apresenta um dramático declínio
em sua participação. Isso se deve, fundamentalmente, ao crescente peso da extração de petróleo
25
Ver a este respeito a análise sobre cadeias produtivas realizada no Volume VI.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
47
BDMG
40 anos
no Rio de Janeiro no valor adicionado dessa indústria. Quando se exclui do valor adicionado
bruto da indústria extrativa brasileira a participação relativa do Rio de Janeiro, Minas passa a
representar aproximadamente 25% do total brasileiro em 1999, enquanto Bahia e Goiás se situam
em torno de 10% (IBGE, 2001). A hegemonia do Estado no setor mineral brasileiro tem sido
reflexo da elevada concentração dos investimentos do setor no Estado. Tal como discutido no
Volume V, o Estado foi responsável por 47% do total investido na mineração do país ao longo do
período 1997-2000. Em seguida, aparecem os estados de Goiás (17%), Pará (12%) e Amazonas
(5%). Tal dinamismo parece estar, em certa medida, associado ao recente levantamento geológico
realizado pela COMIG, um dos mais completos do país. Esse mapeamento permite prever a
continuidade da expansão da indústria extrativa mineral do Estado nos próximos anos.
A produtividade do trabalho da indústria mineira, entretanto, não foi capaz de acompanhar
a evolução da produtividade em nível nacional. Como se pode observar pelas TAB. 37a e 37b, a
produtividade do trabalho da indústria do Estado, ao longo da década dos 90, continuou inferior
à média brasileira, tanto em termos relativos quanto absolutos. Mesmo comparativamente aos
estados concorrentes, a indústria mineira se mostrou pouco dinâmica, sendo incapaz de acompanhar
a evolução das demais unidades da Federação.
TABELA 37a
NÍVEL DE PRODUTIVIDADE* DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA
ESTADOS SELECIONADOS (BRASIL = 100)
Unidade da
Federação
Minas Gerais
São Paulo
Rio de Janeiro
1990
Agropecuária
Indústria**
1999
Serviços
Agropecuária
Indústria**
Serviços
99,51
83,65
81,12
96,57
81,04
129,49
240,11
123,62
121,79
277,76
125,17
195,40
96,33
100,79
114,54
79,94
193,48
142,28
Paraná
109,99
118,06
93,49
165,69
81,57
157,20
Rio Grande do Sul
BRASIL
156,56
100,00
111,69
100,00
93,97
100,00
175,77
100,00
111,09
100,00
166,44
100,00
FONTE: IBGE - Contas Regionais e Censo Demográfico
* Produtividade = Valor Adicionado Bruto a preços básicos correntes/população ocupada
** Indústria: exclui serviços de utilidade pública e construção
TABELA 37b
NÍVEL DE PRODUTIVIDADE* DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS EM REAIS CORRENTES BRASIL
E ESTADOS SELECIONADOS
Unidade da Federação
1999
Agropecuária
Minas Gerais
Indústria**
6.073,91
16.862,15
23.717,37
17.469,54
26.042,41
35.788,78
5.027,72
40.256,41
26.058,89
Paraná
10.420,70
16.972,24
28.792,75
Rio Grande do Sul
11.054,99
23.112,77
30.484,05
6.289,35
20.806,12
18.315,73
São Paulo
Rio de Janeiro
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais e Censo Demográfico
* Produtividade = Valor Adicionado Bruto a preços básicos correntes/população ocupada
** Indústria: exclui serviços de utilidade pública e construção
48
Serviços
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Finalmente, é conveniente tecer breves considerações sobre a dinâmica macroespacial da
indústria mineira nos anos 90 associada com as grandes tendências apontadas anteriormente. O
padrão de crescimento observado nos anos 90 acentuou uma concentração macroespacial nas
regiões Central, Sul e Triângulo. Nessas regiões predominam as áreas industriais e urbanas de
maior expansão recente, quais sejam, a Região Metropolitana de Belo Horizonte e seu entorno e
um conjunto de cidades médias. Dentre estas destacam-se Divinópolis, Sete Lagoas e Conselheiro
Lafaiete, na região Central, próximas a Belo Horizonte; Uberaba e Uberlândia no Triângulo; e um
conjunto disperso de áreas industriais em cidades do Sul de Minas (Pouso Alegre, Três Corações e
Guaxupé).
A especialização produtiva das aglomerações polarizadas por Belo Horizonte decorrem
tanto de vantagens locacionais weberianas, especialmente pela forte base mineral, e fatores de
transbordamento da indústria de Belo Horizonte. À exceção da RM de Belo Horizonte, a base de
especialização produtiva nessas aglomerações não favorece o adensamento econômico do entorno,
que permanece fundamentalmente de subsistência.
O Triângulo e o Sul de Minas, por sua vez, possuem especializações decorrentes tanto de
vantagens locacionais weberianas, especialmente pela forte base agrícola, como pelo efeito líquido
de transbordamento do pólo industrial paulista. Isso propicia uma estrutura industrial diversificada,
pois essas áreas acabam se tornando plataformas de produção, enquanto o centro decisório e de
P&D continua estabelecido em São Paulo.
Em contraste, as regiões do Leste e Norte do Estado e dos Vales do Rio Doce, Mucuri e
Jequitinhonha não tiveram expansão industrial significativa, à exceção daquelas cidades
beneficiadas por incentivos fiscais (Montes Claros e Pirapora). Essas cidades não alcançaram
gerar uma integração produtiva mesorregional, assumindo, portanto, características de “enclaves”
produtivos regionais.
O desempenho do setor agropecuário de Minas Gerais foi decepcionante relativamente
ao dos demais estados concorrentes, com a evidente exceção do Rio de Janeiro (TAB. 38).
Como se pode observar, a perda de participação relativa de Minas no valor adicionado bruto da
agropecuária brasileira se concentrou no período pós-Real, com declínio de 19%. Em contraste,
os estados do Paraná e Rio Grande do Sul apresentaram ganhos de participação ao longo de
toda a década, não havendo a descontinuidade no crescimento da agropecuária tal como
observada em Minas Gerais.
TABELA 38
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO VALOR ADICIONADO BRUTO DA
AGROPECUÁRIA BRASILEIRA A PREÇOS BÁSICOS (CORRENTES) (%)
Unidade da Federação
Minas Gerais
Tx de Variação
1990
1994
1999
1994/1990
1999/1994
1999/1990
12,48
14,12
11,45
13,14
-18,91
-8,25
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Rio Grande do Sul
BRASIL
1,49
1,01
1,17
-32,21
15,84
-21,48
20,25
8,97
19,88
9,41
20,79
11,47
-1,83
4,91
4,58
21,89
2,67
27,87
7,68
4,83
12,88
11,72
12,62
13,23
100,00
100,00
100,00
FONTE: IBGE - Contas Regionais
Capítulo 1 - A construção econômica recente
49
BDMG
40 anos
Uma das causas desse desempenho parece ter sido a excessiva dependência do Estado
em relação à atividade primária do complexo cafeeiro e lácteo26 . A crise do setor cafeicultor
mineiro esteve associada, de um lado, à evolução dos preços internacionais e entrada de novos
concorrentes mundiais (como, por exemplo, o Vietnã) no mercado externo e, de outro, à limitada
incorporação dos elos industriais a jusante ao longo da cadeia produtiva. A principal conseqüência
desse limitado avanço na internalização da cadeia produtiva foi a crescente vulnerabilidade da
economia estadual frente às oscilações dos preços internacionais do café, que foram bem
significativas no período. De fato, observa-se uma dinâmica perversa dos preços internacionais,
que a partir da segunda metade da década dos 80 entram em trajetória de queda acentuada, com
picos transitórios de alta.
A pecuária leiteira de Minas Gerais, a exemplo do que vem ocorrendo em nível nacional,
vem passando por profundas transformações. Tais mudanças podem ser atribuídas aos impactos
advindos da estabilização monetária; da desregulamentação do mercado, com o fim do controle
estatal sobre os preços; da abertura econômica e crescente integração econômica com o Mercosul
– que levou a uma grande penetração de leite importado no mercado brasileiro – e da concentração
econômica a jusante na cadeia. Os produtores de leite foram os grandes perdedores do processo.
De um lado, a crise do sistema cooperativista, associada com a pressão para a modernização e
especialização dos produtores, expulsou um sem número de produtores não-especializados do
mercado. De outro, a pressão competitiva exercida pelas importações massivas, aliada ao pequeno
poder de barganha dos produtores em relação à indústria de laticínios cada vez mais concentrada,
levou a uma dramática queda nos preços aos produtores. Considerando que o Estado continua
sendo o principal produtor de leite do Brasil, com 30% da produção total e, ainda que os efeitos
de encadeamento intra-estadual do setor de “resfriamento e preparação do leite e laticínios”
são importantes, pode-se afirmar que estas mudanças têm tido uma influência perversa sobre a
geração de renda e produto no Estado.
Deve-se ressaltar, todavia, que os efeitos dessa crise dos setores cafeeiro e lácteo sobre a
produção primária do Estado parecem ter sido atenuados pelo desempenho da pecuária de
corte e do complexo de grãos-aves do Triângulo Mineiro. É importante notar que o complexo
de grãos-aves do Triângulo, apesar de virtuoso, não é capaz ainda de sustentar sozinho a dinâmica
do setor primário mineiro. Isso porque parte substancial da matéria-prima processada pela
agroindústria do Triângulo é proveniente de áreas contíguas do Centro-Oeste.
Uma outra causa do declínio da importância de Minas no cenário da agropecuária nacional
tem sido o rápido crescimento da produção em outros estados, notadamente do Centro-Oeste.
De fato, essa região deu um salto em sua participação relativa no valor adicionado bruto de
7,54%, em 1990, para 11,26% em 1999.
Reflexo dos problemas experimentados pela agropecuária mineira e de sua baixa
capacidade de agregação de valor aos produtos, a produtividade do trabalho na agropecuária do
Estado mostrou-se pouco dinâmica relativamente à apresentada pelo país e pelos estados
concorrentes. De fato, como mostram as TAB. 37a e 37b, a produtividade do trabalho da
26
50
Tal como discutido no Volume IV, o café representa 24,9% do valor bruto da produção, vindo a pecuária bovina de corte em
segundo lugar, com 17,4% e o leite em terceiro, com 15,4%. Vale notar, entretanto, que a produção de leite de Minas Gerais
representa 30% da produção nacional, demonstrando a sua relevância na geração de renda do Estado. Esses três produtos, no seu
conjunto, representam 57,4% do valor bruto da produção agropecuária mineira, explicitando a elevada concentração da pauta
produtiva agropecuária estadual.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
agropecuária mineira declinou, ao longo dos anos 90, em relação à média brasileira, enquanto
os demais estados concorrentes (a exceção do Rio de Janeiro) apresentaram substanciais ganhos.
A combinação das diversas tendências apontadas na agropecuária mineira permite concluir
que o setor tem passado por um processo de “modernização conservadora”. Isto quer dizer que
apesar de se poder identificar ganhos absolutos em determinados segmentos, a participação
relativa do Estado no setor tem-se deteriorado ao longo dos últimos anos.
Finalmente, resta avaliar o desempenho do setor terciário mineiro nos anos recentes.
Como se pode observar pela TAB. 39, o desempenho do setor terciário nacional foi influenciado
pela sua rápida expansão em São Paulo. Como discutido anteriormente, uma das características
do processo de reconcentração poligonal foi o significativo desenvolvimento dos serviços
modernos, em particular, em São Paulo. Note-se que o Paraná apresentou uma baixa taxa de
crescimento do setor serviços. Isso pode estar refletindo o lado perverso da proximidade de
Curitiba em relação à metrópole paulista, que tende a polarizar a demanda de serviços produtivos
especializados da indústria paranaense.
TABELA 39
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO DO TERCIÁRIO* BRASILEIRO A
PREÇOS BÁSICOS ( PREÇOS CORRENTES) (%)
Unidade da Federação
1990
(A)
1999
(B)
Ganho/Perda
(B/A)
Minas Gerais
9,15
9,33
1,97
Rio de Janeiro
16,04
13,49
-15,90
São Paulo
29,62
32,89
11,04
5,59
6,88
5,64
6,96
0,89
1,16
100,00
100,00
-
Paraná
Rio Grande do Sul
BRASIL
FONTE: IBGE - Contas Regionais
* Exclui: Serviços de Utilidade Pública e Construção
Em Minas Gerais, em contraste, o setor apresentou certo dinamismo, a despeito do forte
efeito reconcentrador de São Paulo (TAB. 39). Entretanto, uma análise da composição do setor
mostra que Minas, apesar do aumento da participação relativa dos serviços produtivos no total
dos serviços, viu a sua posição nos serviços produtivos em relação à média brasileira declinar
(TAB. 40). Um exemplo importante do que vem ocorrendo nesse setor em Minas Gerais, foi a
transferência de toda a estrutura de serviços de telecomunicações da Telemig, inclusive pessoal
técnico especializado, para o Rio de Janeiro, após a sua privatização e incorporação à TELEMAR.
Esses fatos apontam para a necessidade de se criar condições que não só promovam o
desenvolvimento do segmento, mas também que atraiam outros agentes fornecedores de serviços
modernos para o Estado e sustentem a sua competitividade no longo prazo vis-à-vis as demais
economias líderes do país.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
51
BDMG
40 anos
TABELA 40
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS SERVIÇOS PRODUTIVOS*: BRASIL E ESTADOS SELECIONADOS (%)
Unidade da Federação
1991
%
2000
Brasil=100
%
Brasil=100
Minas Gerais
44,17
101,09
53,09
99,64
São Paulo
45,75
104,72
55,93
104,96
Rio de Janeiro
41,34
94,61
52,21
97,98
Paraná
Rio Grande do Sul
46,80
44,52
107,10
101,91
55,63
55,86
104,40
104,85
BRASIL
43,69
100,00
53,28
100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Pessoal Ocupado em Serviços Produtivos / Pessoal Ocupado no Setor Serviços
Os índices de terceirização, por sua vez, mostram que Minas Gerais e Rio Grande do Sul
apresentaram um considerável salto, denotando a superação da atrofia entre a pequenez do terciário
moderno e a base produtiva dos respectivos estados (TAB. 41). Esse fato parece ter se refletido
em ganhos de produtividade em relação à média brasileira, já que esses dois estados apresentaram
um aumento da produtividade do trabalho dos serviços em relação àquele experimentado pelo
país (TAB. 37a). Em termos absolutos (TAB. 37b), o setor serviços do Estado se coloca em uma
posição desvantajosa em relação aos estados concorrentes, mas melhor do que a média brasileira.
TABELA 41
ÍNDICE DE TERCEIRIZAÇÃO*: BRASIL E ESTADOS SELECIONADOS (%)
Unidade da Federação
1991
2000
%
Brasil = 100
%
Brasil = 100
Minas Gerais
63,35
95,11
103,15
92,48
São Paulo
Rio de Janeiro
86,84
158,55
130,37
238,03
165,67
293,44
148,53
263,08
Paraná
67,07
100,69
95,70
85,79
R. Grande do Sul
53,76
80,71
103,19
92,51
BRASIL
66,61
100,00
111,54
100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Índice de Terceirização = PO Serv. Produtivos/PO na Agropec.+ PO Ind. (PO = pessoal ocupado)
A análise da evolução dos grandes setores da economia mineira sugere que ocorreram
mudanças no perfil da ocupação. Como mostra a TAB. 42, a agropecuária continuou a reduzir o
nível de absorção de mão de obra, enquanto os serviços e, em menor medida, a indústria
continuaram a ocupar, em termos absolutos, um contingente maior de pessoas. Todavia, em termos
relativos, tanto a agropecuária quanto a indústria têm tido suas participações reduzidas. Mas, o
crescimento, em termos absolutos, da população ocupada na indústria de transformação (16,75%
na década) reforça as conclusões anteriores sobre a capacidade do Estado em aproveitar as
oportunidades abertas pela desconcentração industrial de São Paulo.
52
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 42
POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO SETORES DE ATIVIDADE - MINAS GERAIS (%)
Setor de atividade
1991
N. Pessoas
1999
Part. Relativa
N. Pessoas
Part. Relativa Tx de Variação
Agropecuária
1.581.653
25,91
1.539.843
21,52
-2,64
Indústria
1.400.862
22,95
1.499.859
20,96
7,07
Indústria de Transformação
775.581
12,71
905.501
12,65
16,75
Construção
Outras Atividades Industriais
474.966
150.315
7,78
2,46
453.055
141.303
6,33
1,97
-4,61
-6,00
Serviços
3.121.883
51,14
4.116.002
57,52
31,84
TOTAL
6.104.398
100,00
7.155.704
100,00
17,22
FONTE: IBGE - Censo Demográfico 1991 e PNAD
Capítulo 1 - A construção econômica recente
53
BDMG
40 anos
1.6.
Reflexões finais
Nas últimas quatro décadas, as transformações estruturais ocorridas consolidaram a
tendência de integração produtiva nacional com especialização regional, em detrimento das
articulações essencialmente comerciais de bens finais. Nesse contexto, Minas Gerais passou a se
inserir de uma maneira mais ativa, crescentemente se integrando aos fluxos inter-regionais através
de produtos de maior valor agregado. As mudanças estruturais na indústria de transformação de
Minas, nesse período, foram substanciais, levando à superação de seu atraso em relação às grandes
economias estaduais. Entretanto, um dos mais sérios problemas da economia mineira atualmente
é o baixo nível da produtividade do trabalho, inferior à média brasileira.
Diferentemente das visões pessimistas sobre a evolução da especialização econômica de
Minas, o complexo metal-mecânico não somente manteve uma elevada capacidade de arraste
sobre a economia mineira, mas também forneceu as bases para uma maior integração à jusante na
cadeia produtiva no interior do Estado e para uma maior resistência às transformações recentes
no modelo de desenvolvimento econômico nacional. De fato, a indústria mineira tem sido capaz
de absorver os impactos da abertura externa sem maiores dificuldades. De um lado, os setores
sobre os quais se assenta a especialização industrial de Minas Gerais não sofreram grande pressão
competitiva das novas importações. De outro lado, as exportações mineiras se beneficiaram de
setores tecnologicamente atualizados, com expressivas vantagens competitivas estáticas, capazes,
portanto, de enfrentar a competição externa.
Em contraste, o setor agroindustrial tem demonstrado menor capacidade de arraste sobre a
produção do Estado, não obstante a sua considerável importância nas exportações mineiras
(notadamente café). Isso se deve, principalmente, ao limitado avanço na internalização dos elos
faltantes da cadeia produtiva desse complexo relativamente ao que tem sido observado no complexo
metal-mecânico. Nesse caso, Minas continua a demonstrar certa assimetria entre a sua base
produtiva agropecuária e sua capacidade de processamento industrial, inserindo-se nacionalmente
como importante fornecedora de produtos “in natura” para o resto do Brasil.
Como resultado de tais mudanças, a estrutura produtiva mineira passou a se relacionar de
maneira complementar e conexa com o grande centro industrial do país, explicitando uma mudança
qualitativa importante na interdependência entre essas duas economias. A natureza desta integração
superou definitivamente as características de relações de dependência clássica, do tipo centroperiferia. Atualmente, as estruturas produtivas de Minas e São Paulo apresentam um maior nível
de complementaridade horizontal, notadamente no complexo metal-mecânico. Tal vantagem,
entretanto, pode vir a se esvair no futuro, caso Minas Gerais continue perdendo poder de atração
sobre os novos investimentos e continue a se colocar em uma posição subordinada nas decisões
de investimento estratégicas a serem realizadas no futuro. Nesse último caso, o fato de grande
parte da produção mineira estar nas mãos de capitais forâneos (nacionais ou internacionais) desloca
o centro de tomada de decisões para outras esferas que não a estadual. Isto significa que o Estado
tem se tornado crescentemente incapaz de influenciar o destino da economia mineira.
Assim, a economia mineira tem grandes desafios a enfrentar. Dentre eles, destacam-se: avançar
na definição de “visões de futuro”, que alicercem as decisões estratégicas dos agentes econômicos e
atrair novos atores e investimentos; mapear as potencialidades sub-regionais para a formulação das
respectivas estratégias de desenvolvimento; e revitalizar e redirecionar o aparato institucional do
Estado, tornando-o capaz de exercer suas novas funções determinadas por esta “visão de futuro”.
54
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
1.7.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, T. Industrialização e incentivo fiscal em Minas Gerais no período 1970/77.
Fundação João Pinheiro: análise e conjuntura, Belo Horizonte, v. 10, n. 11/12, nov./dez., 1980.
AZZONI, Carlos R.; KADOTA, Décio K.; HADDAD, Eduardo A. Macroeconomia de
Minas Gerais: uma estimativa dos componentes da demanda final. Cadernos BDMG, Belo
Horizonte, n. 4, p. 46-67, jan. 2002.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS. Diagnóstico da economia mineira.
Belo Horizonte, BDMG: 1968. v. 1.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS. Economia Mineira 1989:
diagnóstico e perspectivas. Belo Horizonte: BDMG, 1989. v. 1.
BRANT, Paulo E. R. O setor industrial em Minas Gerais: características, desempenho
recente e perspectivas. In: SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA MINEIRA, 2, 1983,
Diamantina. Anais... Belo Horizonte: CEDEPLAR/FACE-UFMG, 1983.
CHIARI, Juliana Rodrigues de Paula; DUARTE FILHO, Francisco Carvalho. Características
estruturais da economia mineira: uma análise inter-regional de insumo produto. Cadernos
BDMG, Belo Horizonte, n. 4, p. 8-43, jan. 2002.
CINTRA, A. O.; ANDRADE, L. A. G. Planejamento: reflexões sobre uma experiência
estadual. In: CINTRA, A. O.; HADDAD, Paulo R. (Orgs.). Dilemas do planejamento urbano e
regional no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
CONTAS NACIONAIS DO BRASIL. Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, v. 16,
n. 1, mar. 1962.
DINIZ, Clélio C. Estado e capital estrangeiro na industrialização mineira. Belo Horizonte: UFMG/
PROED, 1981.
DINIZ, Clélio C.; SANTOS, Fabiana B. T. Sudeste: heterogeneidade estrutural e
perspectivas. In: AFFONSO, Rui; SILVA, P. (Org.). Federalismo no Brasil: desigualdades
regionais e desenvolvimento. São Paulo: Fundap/Unesp, 1995. cap. 6, p. 195-223.
DINIZ, Clélio C.; LEMOS, Mauro B.; SANTOS, Fabiana B. T.; CROCCO, Marco A.;
CAMARGO, Otávio. Fiat Vertical Chain of Supply. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL
DE ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS LOCAIS E AS NOVAS POLÍTICAS DE
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E TECNOLÓGICO, 2000, Rio de Janeiro.
Anais..., vol. 2, 2000.
FERNANDES, Cândido Luiz L. A Inserção de Minas na economia nacional: uma análise de
insumo-produto inter-regional. 1997. 200 f. Dissertação (Doutorado em Economia) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
GALVÃO, Olímpio J. A. Comércio interestadual por vias internas e integração regional no
Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 21, 1993, Belo Horizonte. Anais...
Niterói: ANPEC, 1993, p. 257-280.
Capítulo 1 - A construção econômica recente
55
BDMG
40 anos
GUIMARÃES NETO, Leonardo. Nordeste: da articulação comercial à integração econômica.
Campinas: UNICAMP, 1986.
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Plano de recuperação econômica e fomento da
produção. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1947
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS-GOVERNO RONDON PACHECO.
I Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social 1972-1976. Belo Horizonte: Governo do
Estado de Minas Gerais, 1971.
HADDAD, Eduardo A.; HEWINGS, G. J. D.; LEON, F. L. L. Building-up influence: postwar industrialization in the State of Minas Gerais, Brazil. In: SEMINÁRIO SOBRE A
ECONOMIA MINEIRA, 2002, Diamantina. Anais... Belo Horizonte: Faculdade de Ciências
Econômicas/Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, 2002.
______. A estrutura econômica de Minas Gerais: uma análise de insumo-produto. Nova
Economia, Belo Horizonte, n. esp., p. 11-58, 1995. (VIII Prêmio Minas de Economia).
JAYME Jr., Frederico Gonzaga et al. Minas Gerais: perfil e dinâmica da economia e sociedade.
1993. 156 f. Relatório de Pesquisa – Escola Sindical 7 de Outubro/Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional, Belo Horizonte.
LEMOS, Maurício B. e DINIZ, Clélio C. Mudanças no padrão regional brasileiro:
determinantes e implicações. Análise Conjuntural, Curitiba, v. 8, n. 2, p. 32-42, fev. 1986.
LEMOS, Mauro Borges et al. O arranjo produtivo da Rede Fiat de Fornecedores. 2000. 64 f.
Relatório Final da Pesquisa “Arranjos e sistemas produtivos locais e novas políticas de
desenvolvimento industrial e tecnológico” – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro.
LOCATELLI, Ronaldo L.; CHIARI, Juliana R. P. As relações setoriais e a industrialização
mineira da década de 70: uma avaliação. In: SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA
MINEIRA, 1992, Diamantina. Anais... Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas/
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, 1992.
MINSKY, Hyman P. Stabilizing an unstable economy. New Haven: Yale University Press, 1986.
353 p.
NABUCO, Maria Regina. Agricultura, Estado e desenvolvimento regional em Minas Gerais
– 1950/1980. Revista de Estudos Políticos, n. 58, p. 165-239, Belo Horizonte, jan. 1984.
SILVA, Carlos Eduardo Lobo e. Como as economias de São Paulo e de Minas Gerais se comparam
à do resto do Brasil: uma análise de suas estruturas produtivas. 2001. 108 f. Dissertação
(Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz/
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
VASCONCELOS, José Romeu de. Matriz do Fluxo de Comércio Interestadual de Bens e
Serviços no Brasil – 1999. Texto para Discussão/IPEA, n. 817, Brasília: IPEA, ago. 2001.
56
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 2
AS TRANSFORMAÇÕES EM CURSO
Fundação João Pinheiro
Fernando Martins Prates (Coordenador)
Elisa Maria Pinto da Rocha
(Pesquisadores da Fundação João Pinheiro)
CEDEPLAR/UFMG
Fabiana Borges Teixeira dos Santos
(PhD Candidate e Pesquisadora Associada do CEDEPLAR FACE/UFMG)
Frederico Gonzaga Jayme Júnior
(PhD e Professor do CEDEPLAR FACE/UFMG)
Mauro Borges Lemos
(PhD e Professor do CEDEPLAR FACE/UFMG)
Phorum Consultoria e Pesquisas em Economia Ltda
Paulo R. Haddad
(Diretor-Presidente da Phorum Consultoria e Pesquisas em Economia Ltda)
SUMÁRIO
2.
AS TRANSFORMAÇÕES EM CURSO ................................................................................................................... 61
2.1. CRESCIMENTO ECONÔMICO ............................................................................................................................. 62
2.1.1. Evolução do PIB e do PIB per capita ................................................................................................................. 63
2.1.2. Evolução do PIB setorial .................................................................................................................................... 70
2.2. A EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS PRIVADOS E PÚBLICOS ........................................................ 93
2.2.1. Investimentos privados e públicos em perspectiva histórica ........................................................................ 93
2.2.2. Investimentos privados nos anos 90 ................................................................................................................. 95
2.2.3. Investimento Direto Estrangeiro (IDE) ........................................................................................................... 97
2.2.4. Investimentos públicos nos anos 90 .................................................................................................................. 98
2.3. FLUXOS DE COMÉRCIO INTERESTADUAIS: A BALANÇA COMERCIAL
DE MINAS GERAIS COM OS DEMAIS ESTADOS DA FEDERAÇÃO ................................................... 100
2.3.1. Os fluxos de comércio interestaduais em perspectiva histórica ................................................................... 100
2.3.2. Fluxos de comércio interestaduais nos anos 90 .............................................................................................. 102
2.4. FLUXOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ................................................................................................. 106
2.4.1. Comércio exterior de Minas Gerais em uma perspectiva histórica: dos anos 60 aos anos 80 ................ 106
2.4.2. Fluxos de comércio internacional nos anos 90: a inserção recente da economia mineira ....................... 107
2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 128
2.6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... 132
ANEXO I ............................................................................................................................................................................. 134
BDMG
40 anos
2. As transformações em curso
Este capítulo dedica-se à análise pormenorizada de importantes aspectos da trajetória recente
da economia mineira, sua inserção na economia nacional e seu relacionamento com as demais
unidades da Federação. A motivação básica da estrutura do texto vincula-se à investigação de
como o Estado, após atravessar um significativo processo de histórico de (re)construção de sua
estrutura produtiva, a partir da década de 60, abordado pelo Capítulo 1 deste volume, encontrase posicionado nos dias atuais.
A primeira seção fornece um panorama geral da evolução recente da economia de Minas Gerais,
destacando o desempenho de seu PIB comparativamente ao Brasil e estados de maior representatividade.
Destaca os eventos e processos cuja ocorrência determinou a posição, hoje, desfrutada por Minas
Gerais no cenário nacional e internacional. Essa abordagem acaba por desenhar um quadro por vezes
positivo, como a confirmação de Minas Gerais como a terceira economia industrial do País, após um
período no qual esse posicionamento foi ameaçado pelo Rio Grande do Sul. E em outras vezes negativo,
como a significativa deterioração dos preços dos produtos agropecuários mineiros vis-à-vis a média
nacional entre 1989-1999, que se traduziu numa redução da participação do Estado no PIB agropecuário
nacional no período, apesar do crescimento da sua produção.
A segunda seção trata da evolução dos investimentos privados e públicos no Estado desde
os anos 70 até 2000. Essa seção analisa o comportamento do investimento em Minas Gerais, sua
elaboração exigiu um grande esforço para a superação de uma dificuldade básica: o fato de desde
1985, não ser calculada a taxa de formação bruta de capital fixo para o Estado de Minas Gerais.
São 17 anos sem uma informação crucial para a análise do desempenho atual e principalmente,
das perspectivas futuras da economia estadual. Situação que deve ser corrigida com urgência. Na
ausência de informações sistematizadas, procedeu-se à análise com base em séries de investimentos
anunciados compilados por diversas fontes, entre as quais destacam-se o BDMG, o INDI, o BNDES
e a Secretaria da Fazenda. Entretanto, ressalta-se a parcialidade dessas informações, que devem
ser tomadas apenas como indicativos das principais tendências. Finalmente, ainda são analisados
nessa seção, os investimentos diretos estrangeiros e os investimentos públicos nos anos 90.
A terceira seção aborda os fluxos de comércio interestaduais, verifica a balança comercial
de Minas com os demais Estados da Federação desde os anos 70 até os anos 90. Verifica-se que,
apesar das fortes transformações ocorridas na estrutura industrial do Estado, nos anos 70 e 80,
Minas Gerais ainda apresenta consideráveis vazamentos inter-regionais em alguns setores. Outra
característica marcante é a grande complementariedade entre os parques industriais metalmecânicos de Minas e de São Paulo.
A quarta seção dedica-se aos fluxos de comércio internacionais de Minas Gerais vis-à-vis os
principais estados brasileiros. Neste documento, optou-se pela a adoção de uma metodologia
diferenciada onde foram reestimadas as importações por unidade da Federação (ver Anexo I) com
vistas a eliminar a distorção existente no registro das importações, devido ao fato de muitas vezes as
mercadorias são registradas na unidade da Federação de desembarque ao invés da de destino. Deste
modo foram investigadas a evolução da balança comercial de diversos estados, a estrutura da pauta
de exportações de Minas Gerais, a estrutura setorial do comércio exterior de bens industrializados, o
grau de competitividade das exportações de Minas Gerais, a evolução dos termos de troca, os principais
parceiros comerciais e a pauta de exportações por produto e origem da demanda externa.
Finalmente, ao término do capítulo são apresentadas as considerações finais do trabalho.
Capítulo 2 - As transformações em curso
61
BDMG
40 anos
2.1. Crescimento econômico
Esta seção visa fornecer um quadro geral das atividades produtivas em Minas Gerais,
destacando sua participação relativa no PIB mineiro e sua evolução recente, comparativamente
ao Brasil, regiões e aos estados de maior representatividade.
A análise é desenvolvida em níveis crescentes de desagregação, partindo do PIB total e
chegando ao nível de gêneros da indústria de transformação e mesmo de alguns produtos industriais
e agropecuários. A fonte básica de informações são as Contas Regionais do IBGE (1985-1999) e,
apenas no caso de Minas Gerais, as estimativas do PIB realizadas pelo Centro de Estatística e
Informações da Fundação João Pinheiro (1985-2000), que atua em convênio com o IBGE.
De acordo com a nova metodologia adotada pelo IBGE no cálculo das contas regionais, as
alterações na participação dos estados no PIB brasileiro (calculada aqui sempre com base nos
valores correntes do PIB) resultam do crescimento diferenciado do PIB (entendido aqui como
crescimento do “volume físico” do PIB ou crescimento real do PIB ou crescimento do PIB a
preços constantes) e dos preços ou deflatores implícitos. Dessa forma, um estado pode ganhar
participação no PIB brasileiro se: a) seu PIB crescer acima da média e seu deflator implícito
também ficar acima da média; b) se seu PIB crescer acima da média, mais que compensando seu
deflator implícito abaixo da média; c) se seu deflator implícito for superior à média, mais que
compensando um crescimento do PIB abaixo da média.
Assim, a abordagem adotada nesta seção busca, inicialmente, verificar as modificações
ocorridas na participação dos diversos setores no PIB estadual e no PIB setorial nacional e,
posteriormente, essas modificações são explicadas em termos de crescimento real e crescimento
dos preços 1 .
1
62
Sendo uma primeira aproximação ao entendimento da estrutura produtiva da economia mineira e de sua evolução recente, essa
abordagem é, certamente, restrita, em diversos sentidos, entre os quais: a) é setorial, não analisando as relações intersetoriais e
inter-regionais; b) não analisa a inserção dos setores em complexos e cadeias produtivas, cuja dinâmica transcende, muitas vezes,
as fronteiras estaduais e mesmo nacionais; c) não busca relacionar as tendências de crescimento observadas ao contexto políticoeconômico internacional e nacional e às injunções e impactos da política econômica dos governos federal e estadual; d) não há
também maior referência às mudanças estruturais ocorridas nos setores, num período de privatizações, fusões, aquisições,
terceirizações, reestruturação produtiva, tecnológica e organizacional, com impactos diferenciados sobre as regiões e estados
brasileiros, em termos de localização espacial das atividades produtivas; e) restringe-se ao período pós-1985, não resgatando a
evolução anterior a esse período; f) não explora ou explora pouco outras fontes importantes e específicas (como é o caso da PIA,
da PAM, da PPM, do Censo Agropecuário, da RAIS, entre outras) e as discrepâncias e divergências entre suas informações; g) não
aborda o crescimento da produtividade e as condições de competitividade setorial; h) não analisa os investimentos recentes,
fundamentais para a projeção do crescimento nos próximos anos; i) não considera os impactos e conseqüências do ritmo de
crescimento e das mudanças estruturais ocorridas sobre o mercado de trabalho, sobre as taxas de desemprego e sobre as condições
de vida em geral das populações. Todos esses temas, essenciais ao entendimento mais compreensivo da economia mineira, de seus
dilemas e perspectivas, encontram-se, no entanto, desenvolvidos em outras seções e capítulos deste diagnóstico.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Em 2000, o PIB de Minas Gerais, segundo estimativas preliminares2 , atingiu R$ 100,8 bilhões,
equivalentes a 10,01% do PIB brasileiro. Considerando a população do Estado de 17,5 milhões de
habitantes3 , esse valor se traduz em um PIB per capita de R$ 5.760,91, correspondente a 95,1% do
PIB per capita do País.
BDMG
40 anos
2.1.1. Evolução do PIB e do PIB FAH ?=FEJ=
TABELA 1
PIB, POPULAÇÃO E PIB PER CAPITA - PAÍSES SELECIONADOS E MINAS GERAIS - 2000
PAÍS
US$bi
EUA
Japão
Alemanha
Reino Unido
França
China
Itália
Canadá
Brasil
México
Espanha
Coréia
Índia
Austrália
Holanda
Argentina
Rússia
Turquia
Indonésia
Venezuela
Israel
Portugal
Colômbia
Chile
Paquistão
Minas Gerais (1)
Peru
Hungria
Uruguai
PIB-PPP (2)
PIB
9.837,4
4.841,6
1.873,0
1.414,6
1.294,2
1.079,9
1.074,0
687,9
595,5
574,5
558,6
457,2
457,0
390,1
364,8
285,0
251,1
199,9
153,3
120,5
110,4
105,1
81,3
70,5
61,6
59,6
53,5
45,6
19,7
Ranking
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
21
28
32
34
35
41
43
44
45
45
51
59
(3)
US$bi
9.612,7
3.394,4
2.062,2
1.404,4
1.426,5
5.019,4
1.363,0
856,1
1.299,4
884,0
768,5
821,7
2.395,4
492,9
408,4
458,3
1.219,4
455,3
640,3
140,0
125,5
173,0
264,3
143,2
266,2
129,9
123,2
124,4
30,2
POPULAÇÃO
PIB per capita
PIB per capita-PPP
Ranking (milhões) Ranking US$mil Ranking US$ mil
1
3
5
7
6
2
8
12
9
11
14
13
4
16
19
17
10
18
15
45
48
37
27
44
26
47
50
49
79
281,6
126,9
82,2
59,7
58,9
1.262,5
57,7
30,8
170,4
98,0
39,5
47,3
1.015,9
19,2
15,9
37,0
145,6
65,3
210,4
24,2
6,2
10,0
42,3
15,2
138,1
17,9
25,7
10,0
3,3
3
10
12
20
21
1
22
34
5
11
29
26
2
51
56
31
6
15
4
41
98
77
28
58
7
52
39
76
129
34,9
38,2
22,8
23,7
22,0
0,9
18,6
22,4
3,5
5,9
14,2
9,7
0,4
20,3
22,9
7,7
1,7
3,1
0,7
5,0
17,7
10,5
1,9
4,6
0,4
3,3
2,1
4,6
5,9
4
2
17
12
20
120
23
18
68
50
32
40
141
21
16
44
94
72
125
52
24
37
89
54
142
71
82
55
49
34,1
26,8
25,1
23,5
24,2
4,0
23,6
27,8
7,6
9,0
19,5
17,4
2,4
25,7
25,7
12,4
8,4
7,0
3,0
5,8
20,1
17,3
6,2
9,4
1,9
7,3
4,8
12,4
9,0
Ranking
2
11
15
20
18
93
19
7
60
55
27
29
119
12
13
44
58
66
108
77
25
31
71
50
127
63
86
43
54
FONTE: Banco Mundial, 2002. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
(1)
Nota:
O PIB e o PIB-PPP de Minas Gerais foram calculados como equivalendo a 10% do PIB e do PIB-PPP do Brasil.
(2)
Refere-se ao PIB calculado segundo a paridade do poder de compra.
(3)
Para o PIB e o PIB per capita, refere-se à posição dentre 182 países; para o PIB-PPP e o PIB per capita-PPP, refere-se
à posição dentre 167 países.
2
3
Os cálculos e a divulgação do PIB são feitos em três etapas: a preliminar, a semi-definitiva e a definitiva. Entre os dados preliminares e os
definitivos transcorrem, normalmente, dois anos. Optou-se, neste texto, em trabalhar apenas com o conceito de PIB (ou valor adicionado)
a preços básicos. Somando-se ao PIB a preços básicos o valor correspondente aos impostos líquidos de subsídios e subtraindo-se o valor dos
serviços de intermediação financeira, chega-se ao PIB a preços de mercado. Em 2000, o PIB e o PIB per capita a preço de mercado situaramse, segundo dados preliminares, em R$ 108,47 bilhões e R$ 6201,02, respectivamente. A relação entre o PIB a preços básicos e o PIB a preço
de mercado é variável ao longo do tempo e entre os estados. No caso de Minas Gerais, por exemplo, essa relação variou, na década dos 90,
entre –7,1% (em 2000) e +11,4% (em 1993), estabilizando-se, a partir de 1995, em torno de –6,5%.
Esta foi a população considerada na estimativa preliminar do PIB per capita, feita pela Fundação João Pinheiro. A população de Minas Gerais,
segundo o Censo Demográfico de 2000, foi ligeiramente superior (17,89 milhões); se adotada essa população, o PIB per capita do estado cairia
para R$ 5.632,37.
Capítulo 2 - As transformações em curso
63
BDMG
40 anos
Esse valor de PIB situaria Minas Gerais na 45ª posição no ranking dos países de maior PIB
em 2000, após o Chile e o Paquistão e à frente do Peru (TAB. 1). Em termos populacionais,
Minas Gerais seria o 52º maior país e, na lista de países de maior PIB per capita, ocuparia a 71ª
posição, à frente da Turquia. Quando o PIB é calculado pela paridade do poder de compra, a
situação relativa do Estado melhora. Assim, Minas Gerais passa a ocupar a 63ª posição entre os
países de maior PIB per capita, à frente, por exemplo, da Venezuela. Aliás, note-se que Minas
Gerais seria o sétimo país de maior PIB da América Latina (incluindo-se o Brasil).
Ao longo do período 1985-2000, a participação de Minas Gerais no PIB do Brasil mantevese em torno de 9,5%, variando entre 8,86% (em 1989) e 10,07% (em 1996). Com isso, o Estado
assegurou, em todo o período, a posição de terceiro maior PIB do País.
TABELA 2
PARTICIPAÇÃO DAS REGIÕES E DOS ESTADOS NO PIB BRASILEIRO (1) - (%)
Regiões/Estados
1989
1999
1999-1989
SUDESTE
59,54
57,81
-1,73
Pará
1,79
1,76
-0,02
SUL
17,13
17,85
0,73
Espírito Santo
1,41
1,76
0,35
NORDESTE
Amazonas
1,54
1,57
0,03
Mato Grosso
0,74
1,17
0,44
Mato Grosso do Sul
0,83
1,12
0,29
Maranhão
0,73
0,82
0,08
Paraíba
0,60
0,80
0,20
Rio Grande do Norte
Alagoas
0,68
0,51
0,78
0,66
0,10
0,16
11,26
13,06
1,80
CENTRO OESTE
7,81
6,80
-1,00
NORTE
4,27
4,47
0,21
São Paulo
37,62
34,68
-2,94
Rio de Janeiro
Minas Gerais
11,65
8,86
11,77
9,60
0,12
0,74
Estados
1989
1999
1999-1989
Rio Grande do Sul
7,53
7,83
0,30
Sergipe
0,47
0,55
0,08
Paraná
5,98
6,39
0,41
Rondônia
0,45
0,51
0,06
Bahia
4,03
4,32
0,29
Piauí
0,34
0,48
0,15
Santa Catarina
3,62
3,64
0,02
Tocantins
0,12
0,21
0,09
Distrito Federal
4,94
2,73
-2,21
Amapá
0,15
0,17
0,01
Pernambuco
2,30
2,65
0,35
Acre
0,12
0,16
0,04
Ceará
1,60
2,00
0,40
Roraima
0,09
0,08
-0,01
Goiás
1,31
1,79
0,48
BRASIL
100,00 100,00
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Nota: (1) Participação no PIB a preços básicos do Brasil, que, em 1999, foi de R$ 901.975,59.
A TAB. 2 mostra a participação das grandes regiões e dos estados no PIB nacional em 1989
e 19994 . Verifica-se que, nos anos 90, as regiões Sudeste e Centro-Oeste perdem participação no
PIB nacional, em favor, principalmente, das regiões Nordeste e Sul. Na verdade, a perda de
participação do Sudeste e Centro-Oeste deve-se, exclusivamente, à queda na participação do
Estado de São Paulo e do Distrito Federal, únicos estados com perda significativa de participação.
Cabe destacar ainda que Minas Gerais foi o Estado com maior ganho de participação em pontos
percentuais e que todos os estados do Nordeste aumentaram sua participação, especialmente os
4
64
1999 é o último ano da série de PIB por unidade da federação, divulgada pelo IBGE.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
três principais (Bahia, Pernambuco e Ceará). Destaca-se ainda que, à exceção do Distrito Federal,
os demais estados do Centro-Oeste obtiveram ganhos que, apesar de menores que o de Minas
Gerais quando medidos em pontos percentuais, foram mais significativos em relação à sua
participação em 1989.
Seis estados concentram três quartos do PIB total do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia. A TAB. 3 mostra a participação do PIB desses
seis estados em anos selecionados do período 1985-1999. No último qüinqüênio da década de 80,
apenas São Paulo ganha participação, enquanto cai a participação do Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Bahia e mantém-se a participação do Paraná e do Rio Grande do Sul. Já nos anos 90, São Paulo
perde, Rio de Janeiro mantém e os demais estados ganham participação. Destaca-se que o ganho
de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, nos anos 90, concentra-se na primeira metade da década,
ao contrário do que ocorre com o estado do Paraná. Na verdade, enquanto a participação de
Minas Gerais atinge 10,1% em 1996 e 10% em 1997, recuando em 1998 e 1999, a do Rio Grande
do Sul atinge seu máximo em 1994, iniciando tendência de queda já a partir desse ano.
TABELA 3
PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS BRASILEIROS DE MAIOR PIB NO PIB BRASILEIRO
1985, 1989, 1994 E 1999 (EM %)
ESTADOS
1985
1989
1994
1999
São Paulo
36,1
37,6
35,0
34,7
Rio de Janeiro
13,4
11,7
11,2
11,8
Minas Gerais
9,3
8,9
9,9
9,6
Rio Grande do Sul
7,5
7,5
8,6
7,8
Paraná
6,0
6,0
6,0
6,4
Bahia
5,1
4,0
4,2
4,3
77,2
75,7
74,9
74,6
TOTAL DOS SEIS
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Considerando os mesmos seis estados, a TAB. 4 mostra a taxa média anual de crescimento
do PIB em cinco períodos selecionados e o GRAF. 1, sua evolução anual. A evolução do PIB de
Minas Gerais segue uma trajetória semelhante à do PIB brasileiro. A taxa média de crescimento,
nos anos 90, foi inferior à da segunda metade da década anterior. Mas, nos dois subperíodos da
década de 90, o ritmo de crescimento foi bastante desigual, com a taxa média anual quase dobrando
no segundo qüinqüênio (1995-1999)5 . A baixa taxa média de crescimento na primeira metade da
década se explica pelas quedas no PIB ocorridas em 1990 e em 1992, os dois únicos anos em que
o PIB não cresceu em Minas Gerais.
Dentre os seis estados de maior PIB, apenas o Paraná apresentou, no período 1985-1999,
crescimento do PIB superior ao de Minas Gerais que, por sua vez, praticamente igualou o do país.
Considerando-se apenas os anos 90, esses dois estados foram também, entre os seis citados, os
únicos com taxas de crescimento do PIB acima da média nacional. O Estado que cresceu menos
(não só entre os seis considerados, mas entre todos os estados brasileiros) foi o Rio de Janeiro. No
período 1990-1999, seu PIB elevou-se em apenas 8,5%, ou seja, 0,8% ao ano, em média.
5
Segundo estimativas preliminares, o PIB de Minas Gerais cresceu 4,12%, em 2000, e apenas 0,15% em 2001.
Capítulo 2 - As transformações em curso
65
BDMG
40 anos
TABELA 4
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB, POR PERÍODO - ESTADOS BRASILEIROS
DE MAIOR PIB - (EM %)
ESTADOS
1986-1989
1990-1994
1995-1999
1986-1999
1990-1999
São Paulo
Rio de Janeiro
2,8
0,7
2,4
1,9
1,5
3,0
-0,3
2,0
1,5
0,8
Minas Gerais
3,1
1,6
2,9
2,5
2,2
Rio Grande do Sul
2,7
2,9
0,7
2,1
1,8
Paraná
Bahia
5,9
2,2
3,0
1,3
3,5
2,8
4,0
2,1
3,2
2,1
BRASIL
3,4
1,6
2,6
2,5
2,1
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Observe-se que, se o PIB de Minas Gerais cresce ligeiramente à frente do PIB brasileiro
nos anos 90, isso se deve ao seu maior crescimento no período 1995-1999, já que, na primeira
metade da década, os dois evoluíram a taxas idênticas. No entanto, como visto anteriormente, o
Estado ganha participação no PIB nacional no período 1990-1994 e perde no período 1995-1999.
Essa aparente contradição resulta do comportamento diferenciado dos preços relativos dos estados,
como mostra a TAB. 5. De fato, enquanto na primeira metade dos anos 90 o deflator implícito de
Minas Gerais cresceu bem à frente da média nacional, na segunda metade seu crescimento ficou
abaixo da média, mais que contrabalançando o maior crescimento de seu PIB. Entretanto,
66
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
considerando-se toda a década, verifica-se que Minas Gerais ganha participação no PIB nacional
não só pelo maior crescimento do PIB, mas também pelo maior crescimento de seu deflator implícito.
O mesmo não pode ser dito do Paraná, cuja participação cresce na década a despeito da perda de
preços relativos ocorrida na primeira metade dela; do Rio de Janeiro, cuja participação se mantém
apenas pelo maior crescimento do deflator, e do Rio Grande do Sul, cuja participação cresce
também devido ao maior crescimento dos preços, já que seu PIB evolui abaixo da média. Quanto
a São Paulo, a queda de sua participação deve ser atribuída ao menor crescimento tanto do PIB
quanto de seu deflator implícito.
TABELA 5
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO DEFLATOR IMPLÍCITO DO PIB, POR PERÍODO
ESTADOS BRASILEIROS DE MAIOR PIB - (EM %)
ESTADOS
1986-1989
1990-1994
1995-1999
1986-1999
1990-1999
São Paulo
Rio de Janeiro
463,6
437,8
1.335,4
1.360,5
17,7
19,4
349,8
348,9
311,0
317,6
Minas Gerais
449,8
1.374,8
16,6
349,5
314,8
Rio Grande do Sul
459,2
1.362,2
17,6
351,7
314,7
Paraná
441,8
1.326,4
17,9
344,1
310,1
Bahia
429,8
1.358,8
18,0
344,9
314,9
BRASIL
454,3
1.343,7
17,6
348,5
312,0
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
No que se refere ao PIB per capita de Minas Gerais, seu valor situou-se, desde 1985,
sistematicamente abaixo da média nacional, variando entre 82,4% (em 1989) e 95,0% (em 1996).
Há uma mudança de patamar na segunda metade da década de 90: enquanto nos períodos 19851989 e 1990-1994 o PIB per capita mineiro equivaleu, em média, a 85% e 86% do nacional,
respectivamente, no período 1995-99 esse percentual sobe para 93%.
Em 1999, como mostra a TAB. 6, Minas Gerais, com o terceiro PIB do País, situava-se
apenas na décima colocação no ranking dos estados brasileiros de maior PIB per capita, entre o
Mato Grosso do Sul (9º) e o Mato Grosso (11º). Nesse ano, o PIB per capita de Minas correspondia
a apenas 57,2% do de São Paulo (e a 39,9% do PIB per capita do Distrito Federal, maior do país).
Vale notar que, ao longo dos anos 90, apesar do PIB per capita de Minas Gerais ter se aproximado
da média brasileira, o Estado perde posição relativa no ranking nacional, caindo da oitava para a
décima colocação entre os estados de maior PIB per capita, sendo ultrapassado pelo Espírito Santo
e pelo Mato Grosso do Sul.
De fato, nos anos 90, à exceção de quatro estados da região Norte, todos os demais estados
brasileiros com PIB per capita abaixo da média aproximaram-se desta, mas alguns em um ritmo
bem superior ao de Minas Gerais, destacando-se o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso. Por outro
lado, dos estados com PIB per capita acima da média brasileira, aproximam-se desta o Distrito
Federal e São Paulo, Amazonas e Santa Catarina, mas o Paraná, o Rio Grande do Sul e o Rio de
Janeiro ampliam sua distância à média. Apesar disso, reduz-se a diferença, em termos de PIB per
capita, entre Minas Gerais e os estados mais ricos da Federação (no caso do Paraná, essa diferença
praticamente se mantém).
Capítulo 2 - As transformações em curso
67
BDMG
40 anos
TABELA 6
PIB PER CAPITA DOS ESTADOS EM RELAÇÃO AO PIB PER CAPITA DO BRASIL- 1989 E 1999 - (%)
Regiões/Estados
1989
1999
SUDESTE
139,2
135,6
1999-1989
SUL
113,3
120,5
7,2
CENTRO-OESTE
122,2
99,7
-22,5
NORTE
63,0
59,2
-3,8
NORDESTE
38,9
46,3
7,5
-3,6
Estados
Rondônia
1989
59,9
1999
63,5
1999-1989
3,6
Goiás
47,9
60,9
13,0
Amapá
78,1
60,7
-17,5
Pernambuco
47,2
56,7
9,5
Bahia
Sergipe
49,9
46,8
55,9
52,4
5,9
5,7
Distrito Federal
454,8
227,8
-227,1
Acre
42,4
50,2
7,8
São Paulo
175,0
159,2
-15,8
Pará
53,3
48,6
-4,8
Rio de Janeiro
133,1
138,7
5,7
Rio Grande do Norte
41,4
48,0
6,5
Rio Grande do Sul
120,6
130,0
9,4
Ceará
36,8
45,7
8,8
Santa Catarina
117,1
115,4
-1,7
Roraima
63,7
43,5
-20,2
Paraná
103,4
113,3
9,9
Alagoas
29,6
39,8
10,2
79,6
96,6
17,0
Paraíba
27,4
39,2
11,7
108,4
95,6
-12,9
Tocantins
19,9
31,0
11,1
Mato Grosso do Sul
68,3
91,4
23,1
Piauí
19,1
28,6
9,6
Minas Gerais
82,4
91,0
8,6
Maranhão
21,9
24,5
2,7
Mato Grosso
54,1
79,9
25,8
100,0
100,0
Espírito Santo
Amazonas
BRASIL
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
O GRAF. 2 mostra que, dos seis estados de maior PIB, apenas o Paraná apresentou, no
período 1985-1999, crescimento do PIB per capita superior ao de Minas Gerais, a exemplo do que
se observou quanto à evolução do PIB. Esses dois estados foram também os únicos com
crescimento do PIB per capita superior à média nacional. No entanto, considerando-se apenas os
anos 90, à exceção de São Paulo e Rio de Janeiro, todos os demais apresentaram crescimento do
PIB per capita superior à média nacional: enquanto o PIB per capita do Brasil cresceu 6,2%, o do
Paraná cresceu 21,8%, o da Bahia, 10,7%, o de Minas Gerais, 9,7% e o do Rio Grande do Sul,
7,1%. Ao mesmo tempo, o PIB per capita de São Paulo regrediu 0,9% e o do Rio de Janeiro, 3,2%.
Esse comportamento do PIB per capita dos estados vis-à-vis o do Brasil resulta, em parte, das
diferenças em termos de crescimento populacional no período. Na última década, o crescimento
populacional nos estados aqui considerados foi inferior ao do País, à exceção apenas do Estado de
São Paulo, conforme a TAB. 7 6 . Dos seis estados, a Bahia apresentou o menor crescimento
populacional e Minas Gerais, a segunda maior taxa, após São Paulo, o que explica o fato do PIB
per capita mineiro crescer menos que o da Bahia, apesar do menor crescimento do PIB desse último
Estado.
6
68
No cálculo do PIB per capita, foram utilizados os dados de população estimados pelo IBGE antes da realização do Censo
Demográfico de 2000. Por esses dados, a população de Minas Gerais cresce a uma taxa média anual de 1,27% ao ano entre 1989
e 1999. Essa taxa parece estar subestimada, já que, conforme os dois últimos Censos Demográficos, a taxa de crescimento
populacional em Minas, entre 1991 e 2000, foi de 1,43% ao ano (para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Paraná e Bahia, essa taxa foi, respectivamente, de 1,78%, 1,30%, 1,22%, 1,41% e 1,08%).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
FONTE: IBGE. Contas Regionais, 1985-1999.
TABELA 7
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO POPULACIONAL - BRASIL E ESTADOS DE MAIOR PIB - (EM %)
São Paulo
Rio de Janeiro
MINAS GERAIS
Rio Grande do Sul
1,60
1,14
1,27
1,10
Paraná
1,21
Bahia
BRASIL
1,02
1,46
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Refletindo o comportamento do PIB, a evolução do PIB per capita se deu de forma bastante
diferenciada ao longo dos três subperíodos considerados. Conforme a TAB. 8, sua taxa de
crescimento foi, de forma geral, mais elevada na segunda metade da década de 80 do que nos anos
90 (com exceção da Bahia) e, nos anos 90, foi substancialmente mais elevada na segunda metade
da década do que na primeira, à exceção do Rio Grande do Sul, onde se observa o inverso.
Capítulo 2 - As transformações em curso
69
BDMG
40 anos
TABELA 8
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB PER CAPITA, POR PERÍODO - ESTADOS BRASILEIROS
DE MAIOR PIB - (EM %)
ESTADOS
1986-1989
1990-1994
1995-1999
1990-1999
São Paulo
0,0
-1,0
0,8
-0,1
Rio de Janeiro
1,5
-1,5
0,9
-0,3
Minas Gerais
1,2
0,2
1,6
0,9
Rio Grande do Sul
0,8
1,7
-0,3
0,7
Paraná
Bahia
4,7
-0,5
1,7
0,2
2,3
1,9
2,0
1,0
BRASIL
0,9
0,0
1,2
0,6
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Focalizando-se o caso específico de Minas Gerais, seu PIB per capita cresceu, em média,
menos, nos anos 90, (0,9% ao ano) do que no último qüinqüênio dos anos 80 (1,2% ao ano). Mas,
enquanto a taxa anual média de crescimento, na primeira metade da década de 90, foi de apenas
0,2%, na segunda metade dela ficou em torno de 1,6%.
2.1.2. Evolução do PIB setorial
O GRAF. 3 mostra a evolução da composição setorial do PIB de Minas Gerais. Ao longo
dos anos 90, o setor Serviços consolida-se como o de maior peso no Estado, respondendo por
aproximadamente 50% do PIB total, enquanto a Indústria reduz sua participação para o patamar
de 40%, com ligeira tendência de recuperação na segunda metade da década. O setor Agropecuária,
por sua vez, segue tendência de perda gradativa de participação: esta cai de 16% em média, na
última metade da década de 80, para 9% na última metade da década de 90.
A TAB. 9 compara a estrutura setorial do PIB dos seis maiores estados brasileiros. Note-se
que a perda de participação do setor agropecuário não é unânime entre eles. Entre 1989 e 1999,
esse setor ganha peso em São Paulo e no Paraná. O mesmo pode-se dizer em relação ao setor
Serviços, que aumenta sua participação em todos os estados, à exceção do Rio de Janeiro. Quanto
ao setor industrial, que mantém sua participação em Minas Gerais no período, perde peso em São
Paulo, no Rio Grande do Sul e no Paraná. Note-se ainda o maior peso do setor agropecuário
nesses dois últimos estados em relação a Minas Gerais. É interessante destacar que a agropecuária
em Minas, a despeito da queda de sua participação no PIB estadual, ainda tem um peso maior que
no Brasil. Inversamente, o peso do setor Serviços no PIB mineiro, mesmo com o ganho de
participação observado nos anos 90, ainda é menor que no Brasil.
70
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
FONTE: Fundação João Pinheiro.
TABELA 9
ESTRUTURA SETORIAL DO PIB - BRASIL E MAIORES ESTADOS - 1989 E 1999
AGROPECUÁRIA
ESTADOS\SETORES
INDÚSTRIA
SERVIÇOS
1989
1999
1989
1999
1989
1999
São Paulo
3,5
4,7
48,3
39,9
48,2
55,4
Rio de Janeiro
1,3
0,8
36,1
41,7
62,6
57,5
Minas Gerais
15,4
9,4
41,4
41,4
43,2
49,2
Rio Grande do Sul
16,3
13,3
42,7
37,5
41,0
49,2
Paraná
13,0
14,1
43,7
39,7
43,3
46,2
Bahia
17,3
9,4
36,1
39,6
46,5
51,0
9,1
7,9
40,6
38,0
50,2
54,1
BRASIL
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Capítulo 2 - As transformações em curso
71
BDMG
40 anos
Embora a Agropecuária tenha perdido participação no PIB de Minas Gerais, foi esse o setor
que mais cresceu no período 1985-2000 e na década de 90 (GRAF. 4 e TAB. 10). Portanto, a queda
da participação desse setor decorreu do menor crescimento de seus preços em relação à média dos
setores, principalmente na última década. O inverso ocorreu com o setor Serviços. Quanto à Indústria,
perde em preços relativos até 1994, apresentando pequeno ganho no período 1995-2000.
No período 1985-2000, enquanto o PIB do estado cresceu 46,6% (equivalentes a uma taxa
anual média de 2,6%), a Agropecuária cresceu 53,1% (2,9% ao ano), o setor Serviços cresceu
bem próximo ao PIB total (46% ou 2,6% ao ano) e a Indústria foi o único setor que cresceu abaixo
da média (42,2% ou 2,4% ao ano). Note-se que a menor taxa de crescimento do PIB, nos anos 90,
em relação à segunda metade da década de 80, deve-se exclusivamente ao comportamento do
setor Serviços, já que Agropecuária e Indústria apresentaram maior taxa de crescimento na década
de 90, principalmente a Agropecuária.
FONTE: Fundação João Pinheiro.
TABELA 10
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB E DOS PREÇOS SETORIAIS MINAS GERAIS PERÍODOS SELECIONADOS - (%)
Taxa de crescimento anual do PIB
SETORES
1986-1989
Agropecuária
1990-1994
1995-2000
Taxa de crescimento anual dos preços
1986-1989 1990-1994
1995-2000 1990-2000
-0,4
3,6
4,5
4,1
449
1318
5
243
Indústria
2,3
1,0
3,6
2,4
447
1368
16
268
Serviços
3,8
1,6
2,6
2,1
463
1397
17
272
PIB Total
3,1
1,6
3,1
2,4
450
1375
15
267
FONTE: Fundação João Pinheiro
72
1990-2000
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Nos anos 90, a taxa de crescimento de todos os setores foi mais elevada no segundo
qüinqüênio, destacadamente no caso da Indústria, que cresceu apenas 1% ao ano de 1990 a 1994
e 3,6% ao ano no período 1995-2000. Na verdade, o PIB da Indústria, após cair em 1990 e 1992,
cresce aceleradamente até 1997 (taxa média anual de 6,2%), quando se destacava como o setor de
maior crescimento na década. Com a queda do PIB industrial, em 1998, e seu baixo crescimento,
em 1999, apenas com a recuperação ocorrida, em 2000, o setor conseguiu ultrapassar o nível
atingido em 1997.
Pela TAB. 11, constata-se que também no Brasil o setor agropecuário cresce, nos anos 90,
acima dos demais setores e, assim, sua perda de participação decorre também do menor crescimento
de seus preços relativos, o inverso do que se verifica para o setor Serviços. Diversamente, o ganho
de participação do setor agropecuário em São Paulo se explica por um crescimento acima da
média tanto do PIB desse setor quanto de seus preços. Já no Paraná, o elevado crescimento do
PIB do setor agropecuário mais que contrabalançou o menor crescimento de seus preços em
relação aos demais setores, assegurando a esse setor um ganho de participação no PIB do Estado.
Quanto ao setor industrial, é interessante observar que sua perda de participação em São Paulo,
no Paraná, no Rio Grande do Sul e no Brasil devem ser atribuídos tanto ao menor crescimento do
PIB quanto dos preços desse setor em relação aos demais. Já no caso do Rio de Janeiro e da Bahia,
o setor industrial ganha participação no PIB estadual, devido exclusivamente, ao maior crescimento
de seus preços. Finalmente, quanto ao setor Serviços, seu ganho de participação em todos os
estados, exceto no Rio de Janeiro, deve-se também exclusivamente à evolução favorável de seus
preços em relação aos demais setores.
TABELA 11
TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB E DOS PREÇOS SETORIAIS - BRASIL E MAIORES ESTADOS PERÍODO 1990-1999 - (%)
SETORES/
ESTADOS
Taxa de crescimento anual do PIB
Agropec.
Indústria
Taxa de crescimento anual dos preços
Serviços
Total
Agropec.
Indústria
Serviços
Total
São Paulo
3,4
0,3
1,7
1,5
316
308
329
311
Rio de Janeiro
0,3
0,3
0,9
0,8
298
326
333
318
Minas Gerais
3,9
2,1
1,4
2,2
288
315
335
315
Rio Grande do Sul
1,7
1,7
1,2
1,8
307
310
333
315
Paraná
5,7
2,9
1,2
3,2
304
307
336
310
Bahia
0,9
2,1
1,4
2,1
295
319
329
315
BRASIL
3,1
1,6
1,6
2,1
302
311
332
312
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
A seguir, será feita uma análise sucinta da evolução dos três setores, destacando-se seus
principais subsetores e, no caso da Agropecuária, seus produtos.
2.1.2.1. Indústria
Os dados indicam uma certa desconcentração industrial na década de 90, com perda de
participação da região Sudeste no PIB industrial nacional e ganho para as demais regiões,
principalmente o Nordeste e o Centro-Oeste. Mas, na região Sudeste, o grande perdedor foi o
estado de São Paulo, que perde mais de oito pontos percentuais de participação (TAB. 12). Metade
Capítulo 2 - As transformações em curso
73
BDMG
40 anos
dessa perda é compensada, internamente à região, pelo ganho obtido pelo Rio de Janeiro e por
Minas Gerais. Na região Sul, apresentam ligeiros ganhos de participação os estados do Paraná e
Santa Catarina, quase que compensados pela perda do Rio Grande do Sul. A Bahia e a região
Nordeste como um todo ganharam pequena participação na indústria nacional nesse período.
Cabe ressaltar também que, tomando-se como medida de concentração a participação dos sete
principais estados, praticamente não houve desconcentração no período pós-Real, ao contrário
do anterior.
TABELA 12
PARTICIPAÇÃO DOS PRINCIPAIS ESTADOS NO PIB INDUSTRIAL DO BRASIL - 1985, 1989, 1994 e 1999 - (%)
ESTADOS
1985
1989
1994
1999
São Paulo
43,6
44,7
39,3
36,4
Rio de Janeiro
13,2
10,4
10,6
12,9
Minas Gerais
9,3
9,0
10,0
10,4
Rio Grande do Sul
7,0
7,9
9,8
7,7
Paraná
Bahia
4,8
4,9
6,4
3,6
6,3
4,0
6,7
4,5
Santa Catarina
3,3
4,3
3,9
4,5
86,1
86,3
83,9
83,1
Total dos 7 estados
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Minas Gerais inicia e termina o período 1985-1999 com o terceiro maior PIB industrial do
país. Em 1993, chega a ser suplantado pelo Rio Grande do Sul, mas, a partir daí, com o declínio da
indústria gaúcha (decréscimo em volume físico e perda relativa de preços), abre-se novamente
uma diferença entre os dois.
Nos anos 90, dentre os principais estados, Minas Gerais foi o único cuja evolução da
participação no PIB industrial do País decorreu de um crescimento acima da média tanto do
volume físico do PIB industrial quanto de seus preços (TAB. 11). De fato, a indústria paulista
cresce abaixo da média em volume e em preços, a do Rio de Janeiro ganha em preços relativos,
mas cresce abaixo da média, a do Rio Grande do Sul cresce pouco acima da média, mas perde em
preços e a do Paraná cresce bem acima da média, mas também perde em preços.
a) Indústria de transformação
Em Minas Gerais, dos quatro subsetores que integram o setor industrial, o mais importante
é a Indústria de Transformação que, em 2000, respondia por pouco mais da metade do PIB industrial
e por pouco menos de um quarto do PIB total do estado (TAB. 13). Essa participação, que já
apresentara ligeiro decrescimento de 1985 a 1989, caiu continuamente nos anos 90 até 1998, com
ligeira recuperação em 1999 e 2000, o que deve ser atribuído não só a um crescimento em volume
abaixo da média setorial como também à evolução desfavorável de seus preços. Em termos físicos,
após cair em 1990 e 1992, a Indústria de Transformação sustenta elevadas taxas de crescimento
de 1993 a 1997, sofrendo grande queda em 1998 (6,4%). O crescimento ocorrido, em 1999 e
2000, conseguiu apenas recuperar os níveis de 1997.
74
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PARTICIPAÇÃO NO PIB E TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB E DOS PREÇOS - INDÚSTRIA
E SEUS SUBSETORES - MINAS GERAIS - 1989-2000 - (%)
SETOR/
Partic.no PIB total
SUBSETORES
1989
2000
1989
2000
1990-2000
1990-2000
INDÚSTRIA
41,4
42,8
100,0
100,0
2,4
268
EXTRATIVA MINERAL
TRANSFORMAÇÃO
SIUP
CONSTRUÇÃO CIVIL
Partic.no PIB setorial
Tx.cresc. PIB
BDMG
40 anos
TABELA 13
Tx.cresc. preços
2,8
1,6
6,8
3,6
1,0
253
27,2
23,4
65,6
54,7
2,2
264
3,0
8,5
4,5
13,3
7,2
20,4
10,6
31,2
2,9
2,7
280
279
FONTE:Fundação João Pinheiro
Se a Indústria de Transformação perde participação no PIB estadual (o que, aliás, acontece no
Brasil e em todos os principais estados, à exceção do Paraná 7 ), sua participação na Indústria de
Transformação do País, após cair na segunda metade da década de 80, eleva-se nos anos 90 (TAB.
14). No entanto, Minas Gerais, que despontava, em 1985, como o segundo Estado mais importante
nesse subsetor, passa para a quarta posição em 1999, sendo ultrapassado pelo Rio Grande do Sul e,
nesse último ano, pelo Rio de Janeiro. A distância que separa Minas Gerais do Rio Grande do Sul
ampliou-se muito na primeira metade da década de 90, quando a Indústria de Transformação
fluminense apresentou as mais elevadas taxas de crescimento, mas, com a queda dramática da Indústria
de Transformação gaúcha no biênio 1995-96, essa distância vem se estreitando.
TABELA 14
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO DO BRASIL E DOS PRINCIPAIS ESTADOS - ANOS E
PERÍODOS SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
Tx. crescim. do PIB (média anual)
ESTADOS
1985
1989
1994
São Paulo
51,6
49,9
44,5
41,8
2,1
Tx.crescim.dos preços (média anual)
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
-0,7
0,3
-0,2
450,4
1300,8
16,2
303,5
Rio G. do Sul
8,1
8,7
12,2
10,0
2,6
4,5
-1,8
1,3
462,9
1355,9
15,6
310,3
Rio de Janeiro
7,9
8,0
7,8
9,3
4,9
-3,1
-1,8
-2,4
441,8
1361,8
24,4
326,4
Minas Gerais
8,3
7,8
8,6
9,0
2,4
1,1
2,2
1,6
445,3
1335,6
16,6
309,2
Santa Catarina
3,9
5,0
4,9
5,8
4,4
1,7
3,9
2,8
477,0
1294,7
17,1
304,1
Paraná
5,0
5,8
5,5
5,7
4,1
2,6
1,6
2,1
463,9
1273,7
17,1
301,1
Bahia
4,0
3,1
3,4
4,3
2,4
0,7
3,2
2,0
420,1
1337,1
19,7
314,8
88,3
86,9
85,9
2,9
0,7
1,2
0,9
450,7
1313,7
16,6
306,0
TOTAL dos 7
BRASIL
88,8
100,0
100,0 100,0 100,0
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
7
No período 1989-1999, a participação da Indústria de Transformação no PIB total do Estado recuou de 40,9% para 28,7%, em
São Paulo; de 21,2% para 18,8%, no Rio de Janeiro; de 35,7% para 30,5%, no Rio Grande do Sul; de 29,7% para 21,3%, no
Paraná, de 42,7% para 37,7%, em Santa Catarina; de 23,9% para 23,7%, na Bahia, e de 30,9% para 23,8% no Brasil.
Capítulo 2 - As transformações em curso
75
BDMG
40 anos
São Paulo tem grande perda de participação na Indústria de Transformação nacional
nos anos 90, mantendo tendência anterior. Os seis outros maiores estados ganham participação,
exceto Paraná, com pequena perda, apesar da recuperação no segundo qüinqüênio da década.
Apenas Minas Gerais e Bahia apresentam ganhos nos dois qüinqüênios. Rio Grande do Sul
perde no segundo, Rio de Janeiro e Santa Catarina perdem no primeiro.
O GRAF. 5 e a TAB. 14 mostram a evolução recente do PIB da Indústria de
Transformação dos principais estados. Antes de mais nada, destaca-se seu baixo crescimento
na década de 90, principalmente na primeira metade dela, bem menor que o ocorrido no
qüinqüênio anterior.
FONTE: IBGE. Contas Regionais, 1985-1999.
Considerando-se apenas os anos 90, o PIB da Indústria de Transformação de Minas Gerais
apresentou um crescimento de 17,5%, à frente da média nacional (9,8%), do Rio Grande do Sul
(14,0%), de São Paulo (-2,1%) e do Rio de Janeiro (-21,9%). Com isso, dos sete estados com
maior participação nacional, apenas Santa Catarina (32,2%), Paraná (23,1%) e Bahia (21,7%)
apresentaram crescimento dessa indústria superior ao de Minas Gerais Gerais. Apesar da queda
observada para o Rio de Janeiro ter sido superior à de São Paulo, neste último Estado os preços da
indústria de transformação cresceram substancialmente abaixo da média brasileira. No Rio de
Janeiro, ao contrário, a evolução bastante favorável de seus preços compensou a queda do volume
físico, assegurando a esse Estado ganho de participação. No Paraná e em Santa Catarina, dá-se o
inverso, ou seja, o ganho de participação decorreu do crescimento em volume físico bem acima da
média, apesar da perda relativa em preços. Assim, apenas Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Bahia apresentaram crescimento acima da média brasileira em volume físico e em preços.
76
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
O comportamento do subsetor Indústria de Transformação de Minas Gerais merece maiores
considerações. Conforme a TAB. 15, a produção de bens de consumo intermediário responde por
metade do PIB dessa indústria, destacando-se o gênero Metalurgia, responsável, sozinho, pela quarta
parte dele. Os bens de consumo não duráveis vêm em segundo lugar, com um quarto do PIB da
Indústria de Transformação, a maior parte proveniente do gênero Produtos Alimentares, cujo peso é
crescente. O segmento de bens de consumo duráveis e bens de capital, por sua vez, foi responsável, em
2000, por 12% do PIB da indústria de transformação, com predomínio absoluto do gênero Material de
Transporte, dado o decréscimo da participação do gênero Material Elétrico e de Comunicações.
BDMG
40 anos
Gêneros da indústria de transformação de Minas Gerais8
TABELA 15
PARTICIPAÇÃO DOS GÊNEROS NO PIB DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO DE MINAS GERAIS
1985,1989, 1994 E 2000 - (%)
ESPECIFICAÇÃO
1985
1989
1994
2000 (1)
Bens de Consumo Não Duráveis
24,8
26,8
23,0
25,2
Produtos alimentares
10,1
8,1
9,4
15,9
Bebidas
0,8
1,2
3,3
3,7
Fumo
1,6
3,4
4,1
1,7
Têxtil
7,5
6,1
3,0
1,6
Perfumaria, sabões, velas
0,2
0,3
0,5
1,3
Mobiliário
1,0
2,1
1,8
0,9
Vestuário, calçados e artefatos de tecidos
3,6
5,5
0,9
0,1
Bens de Consumo Intermediário
54,6
49,3
47,7
49,5
Metalurgia
Quimica
32,0
14,3
27,0
8,9
24,7
11,8
24,7
13,2
Minerais não-metálicos
6,6
11,7
10,3
10,1
Papel e papelão
1,7
1,6
0,9
1,5
Produtos de matéria plástica
1,0
0,5
0,3
0,2
Bens de Consumo Duráveis e de Capital
7,0
9,7
17,5
12,0
Material de transporte
4,7
7,1
16,2
11,6
Material elétrico e de comunicação
Outras (2)
Autônomos
Indústria de Transformação
2,4
2,6
1,3
0,4
10,6
10,9
9,4
10,3
1,9
2,8
2,1
2,8
100,0
100,0
100,0
100,0
FONTE: IBGE/DECNA e FJP/CEI - Elaboração: Fundação João Pinheiro
Notas: (1) Resultados preliminares; (2) Inclui Mecânica, Madeira, Borracha, Couros e peles, Produtos farmacêuticos e veterinários,
Editorial e gráfica e diversos.
Dos gêneros que integram a Indústria de Transformação, cinco deles respondiam, em 2000,
por três quartos do seu valor adicionado: Metalurgia (24,7%), Produtos alimentares (15,9%), Química
(13,2%), Material de Transporte (11,6%) e Minerais não metálicos (10,1%). Ao longo da década
8
Neste item será analisada a estrutura da Indústria de Transformação apenas de Minas Gerais, a partir da divisão dessa indústria por
gêneros. No Volume VI deste estudo, no entanto, é feita uma análise comparativa com outros estados, com base nos dados de
outra pesquisa do IBGE, a PIA (Pesquisa Industrial Anual), que, diga-se de passagem, apresentam divergências bastante significativas
para alguns setores. Cabe aqui apenas destacar, segundo os dados da PIA de 1999, o peso relativamente elevado de alguns gêneros
da Indústria de Transformação de Minas Gerais no valor da transformação dessa indústria em nível nacional: têxtil (13,6%), fumo
(12,3%), metalurgia (22,4%), minerais não-metálicos (15,2%) e material de transporte (12,3%).
Capítulo 2 - As transformações em curso
77
BDMG
40 anos
de 90, o gênero Metalurgia perde peso, com ligeira recuperação após1998. O inverso ocorre com os
gêneros Produtos alimentares e Material de transporte, cuja participação eleva-se muito no período
1985-2000, cabendo notar que a participação do gênero Material de transporte, que era de apenas
4,7% em 1985, chegou a atingir 16,7% em 1997, caindo significativamente a partir de 1998 (ao
contrário do gênero Produtos Alimentares, cuja participação, que vinha se mantendo em torno de
10%, eleva-se a partir desse ano). Quanto aos gêneros Química e Minerais não metálicos, seu
comportamento foi diverso: enquanto o primeiro perde participação no último qüinqüênio da década
de 80, recuperando-a na década seguinte, o segundo teve substantivo ganho de participação entre
1985 e 1989, mantendo-a nos anos 90. Cabe destacar a grande perda de participação dos gêneros
Têxtil e Vestuário, Calçados e Artefatos de tecidos no PIB da Indústria de Transformação: de mais
de 10%, no período 1985-1989, recua para apenas 2,4% no período 1995-2000.
A TAB. 16 e o GRAF. 6 permitem avaliar melhor a evolução recente dos gêneros da Indústria
de Transformação de Minas Gerais. Assim, dos cinco principais gêneros, apenas Material de
transporte e Produtos alimentares apresentaram, nos anos 90, crescimento do PIB em termos de
volume físico superior à média da Indústria de Transformação, o que, no caso de Material de
transporte, explica a elevação de sua participação, uma vez que seus preços apresentaram
crescimento em torno da média. Já no caso de Produtos alimentares, a evolução de sua participação
se deve tanto ao crescimento físico quanto ao de seus preços, ambos acima da média. Quanto aos
gêneros Metalurgia, Minerais não metálicos e Química, seu crescimento ficou abaixo da média da
Indústria de Transformação, mas, à exceção do primeiro, seus preços evoluíram acima da média.
TABELA 16
CRESCIMENTO DO PIB E DOS DEFLATORES DOS GÊNEROS DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO, POR
PERÍODO - MINAS GERAIS - 1985-2000 (1)
Tx. média anual de crescim. do PIB (%)
GÊNEROS
Metalurgia
Produtos Alimentares
Tx.média anual de crescim.dos preços (%)
1986-1989 1990-1994 1995-2000 1990-2000 1986-1989 1990-1994 1995-2000 1990-2000
3,6
1,0
1,9
1,5
417
1.311
17,7
264
-0,3
-1,4
14,3
6,9
430
1.416
14,4
270
Química
1,5
0,5
0,6
0,6
388
1.428
19,5
281
Material de Transporte
4,6
14,2
1,4
7,0
493
1.396
11,9
264
Minerais Não Metálicos
1,7
-2,2
2,1
0,1
535
1.345
16,9
267
Bebidas
12,6
0,5
4,0
2,4
446
1.670
17,8
304
Fumo
2,8
6,1
-3,9
0,5
558
1.325
7,8
249
Têxtil
2,5
-3,7
-2,9
-3,2
418
1.201
11,5
241
Papel e Papelão
1,5
0,4
11,9
6,5
447
1.178
16,0
245
Perfumaria, Sabões, Velas
2,6
10,1
21,4
16,1
520
1.369
14,0
264
Mobiliário
2,6
0,8
-9,1
-4,8
557
1.288
17,9
262
Mat. Elétrico e
Comunicação
5,9
9,4
1,6
5,1
439
1.057
-2,0
201
Produtos de Matéria
Plástica
-6,5
-7,1
-4,0
-5,4
412
1.305
12,1
254
Vestuário,Calçados,
Artef. Tecidos
1,9
-13,0
-10,2
-11,4
508
1.052
-2,7
199
2,4
1,4
3,6
2,6
449
1.289
17,3
261
Autônomos
6,1
1,7
0,5
1,1
480
1.251
22,9
265
Indústria de
Transformação
2,4
1,1
3,2
2,2
445
1.336
15,9
264
Outras
(2)
FONTE: IBGE/DECNA e FJP/CEI - Elaboração: Fundação João Pinheiro
Notas: (1) Resultados preliminares para 2000.
(2)
Inclui Mecânica, Madeira, Borracha, Couros e peles, Produtos farmacêuticos e veterinários, Editorial e gráfica e Diversos.
78
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
FONTE: Fundação João Pinheiro.
Destacam-se, mais uma vez, os gêneros Têxtil e Vestuário, Calçados e Artefatos de tecidos,
que, além de taxas negativas de crescimento na década, apresentaram uma evolução de preços
bem abaixo da média. O mesmo ocorreu com os gêneros Mobiliário e Produtos de matéria plástica,
como pode ser constatado na TAB. 16.
Cabem aqui algumas informações e considerações adicionais sobre o crescimento de alguns
produtos importantes dos principais gêneros da Indústria de Transformação mineira (TAB. 17 e
GRAF. 7). A produção de automóveis, em Minas Gerais, que já vinha crescendo e aumentando sua
participação na produção nacional, na segunda metade da década de 80, teve grande impulso na
década de 90, dobrando a produção entre 1990 e 2000. O pico de produção foi atingido em 1997,
quando foram produzidos meio milhão de unidades, ou seja, mais do triplo da quantidade produzida
em 1985. Em 1998, no entanto, há uma grande queda e só em 2000 observa-se uma pequena
recuperação. A participação de Minas Gerais na produção nacional de automóveis e comerciais
leves sobe de patamar na década de 909 , mostrando que o Estado inseriu-se com vantagem no
movimento de recuperação e modernização da Indústria Automobilística brasileira nessa década10 .
9
10
A maior parte da produção de veículos no Brasil é de automóveis: em 2000, foram produzidos 1671 mil veículos, distribuídos em
1343 mil automóveis, 234 mil comerciais leves, 71 mil caminhões e 22 mil ônibus.
De fato, ao longo dos anos 90, o complexo automobilístico, no Brasil, passa por profundas transformações, com intensa
reestruturação e modernização, grande crescimento da produção e entrada de novas montadoras, fazendo surgir novos pólos de
produção no país. Diversos fatores contribuíram para a retomada, destacando-se: a abertura da economia, com a entrada de novos
competidores; a ampliação do mercado, com a consolidação do Mercosul; a estabilização dos preços e o lançamento dos carros
populares; as políticas acordadas na Câmara Setorial e no Regime Automotivo; e a própria situação de saturação dos mercados dos
países desenvolvidos. Assim, a produção nacional cresce ininterruptamente, até 1997, aproximando-se, em termos de qualidade
e produtividade, dos padrões internacionais. A partir de 1997, com a crise internacional levando à elevação das taxas de juros, à
redução do ritmo de crescimento da economia brasileira e à restrição dos mecanismos de financiamento locais, além do fato das
exportações estarem preponderantemente direcionadas ao Mercosul, a demanda interna, a produção e a exportação de veículos
caem significativamente. Em 2000, no entanto, a redução da taxa de juros e os planos de financiamento dos bancos das
montadoras contribuíram para o desempenho positivo da produção, das vendas e das exportações.
Capítulo 2 - As transformações em curso
79
BDMG
40 anos
TABELA 17
PRODUTOS INDUSTRIAIS SELECIONADOS: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E DA PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO
NACIONAL - MINAS GERAIS - 1985-2000
Automóveis e
comerciais leves
(mil unidades) (1)
Cimento
(mil tonel.)
Aço bruto
(mil tonel.)
ANO
MG
MG/BR(%)
MG
MG/BR(%)
1985
151,0
16,9
5820
-
1986
167,4
17,4
6925
-
1987
213,6
25,7
6827
1988
213,6
21,8
6806
1989
217,8
23,3
1990
223,7
26,4
1991
255,6
1992
1993
MG
Laminados (planos
e não planos)
(mil tonel.) (2)
Ferro gusa
(mil tonel.)
MG/BR(%)
MG
MG/BR(%)
MG
MG/BR(%)
6675
32,6
5752,8
39,6
9363
49,4
7208
33,9
5898,0
37,7
10450
51,6
-
8017
36,1
5964,5
38,4
11366
53,3
-
9728
39,5
6606,0
40,9
12770
54,4
6780
-
9675
38,6
6493,1
39,9
13048
53,6
6619
25,6
8435
41,0
6128,9
41,6
12348
58,4
28,8
7380
26,8
9285
41,1
6343,3
42,4
12528
55,2
310,3
393,6
30,5
29,7
6185
6165
25,9
24,8
9427
10048
39,4
39,9
6519,1
6620,2
41,1
40,1
12052
12787
52,1
53,3
1994
500,7
33,4
6128
24,3
9719
37,7
7020,2
40,7
13083
52,0
1995
463,7
31,2
7075
25,0
9605
38,3
6192,1
38,6
13246
52,9
1996
539,7
31,0
9079
26,2
9776
38,7
6423,6
38,5
12395
51,7
1997
619,2
31,2
9275
24,3
9664
37,0
6680,3
38,3
12413
49,8
1998
414,1
27,6
9223
23,1
9433
36,6
8342,7
50,8
12920
51,2
1999
414,1
32,2
9431
23,4
8661
34,6
8516,3
50,7
12535
51,4
2000
451,1
28,3
9001
22,8
10752
38,7
9458,3
52,9
15582
56,0
FONTE: Anfavea - Anuário Estatístico da Indústria Automobilística; Sindicato Nacional da Indústria do Cimento;
Instituto Brasileiro de Siderurgia.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Notas: (1) Os dados de Minas Gerais a partir de 1999 incluem a produção da Daimler Chrysler e, a partir de 2000, incluem
também a Iveco-Fiat; a produção da Fiat em 1999 foi de 391.582 unidades, em 2000, de 442.390 e, em 2001, de
431.784;
(2)
os dados de Minas Gerais incluem, a partir de 1998, a produção de laminados e semi-acabados.
As quatro grandes montadoras – FIAT, GM, Ford e Volkswagen – dominam o mercado
nacional, embora sua participação seja decrescente, principalmente pela perda de mercado da
Ford. Assim, sua participação conjunta no mercado de automóveis cai de 95%, em 1998, para
88%, em 2000, sendo que a participação da Ford cai de 12% para 7% e a das demais praticamente
se mantêm. A participação da FIAT situou-se em 28% em 2000.
O segmento mais importante da indústria automobilística brasileira é o de carros populares,
que responde por cerca de 70% das vendas. A FIAT é a maior ofertante nesse mercado, seguida da
VW. No segmento de carros médios, a posição se inverte, com a VW em primeiro lugar e a FIAT
em segundo. Já no segmento dos automóveis top de linha, a GM é dominante, com 45,6% do
mercado; nesse segmento, a FIAT vem buscando aumentar sua participação, ainda relativamente
pequena (9,9% em 1998).
80
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
FONTES: Anfavea - Anuário Estatístico da Indústria Automobilística; Sindicato Nacional da Indústria do Cimento; Instituto Brasileiro
de Siderurgia.
Em Minas Gerais, desde a inauguração da fábrica da FIAT, em 1976, e até meados da
década de 90, o setor automobilístico se restringia praticamente a essa montadora, podendo-se
citar ainda a fábrica de jipes e caminhonetas da JPX, em Pouso Alegre, sul de Minas, já desativada.
No final da década, o estado conseguiu atrair a montadora de automóveis da MERCEDES BENZ
(agora DAIMLER CHRYSLER) para Juiz de Fora, a IVECO, pertencente ao grupo Fiat/Spa, instalou sua
fábrica de caminhões e comerciais leves em Sete Lagoas e a STOLA, também do GRUPO FIAT, foi
implantada para fazer a estamparia e o fechamento da carroceria da picape da FIAT.
Quanto ao setor de autopeças, seu crescimento, na década de 90, foi impulsionado a partir do
programa da FIAT de atração de seus fornecedores para Minas Gerais11 . Até então, a Fiat era uma
empresa muito verticalizada e grande parte de seus fornecedores estavam localizados em São Paulo.
Já em 1989, a Fiat lança seu “PROJETO J”, composto de cinco subprojetos: “mineirização”, terceirização,
sistema de peças, nacionalização e racionalização do parque. Como resultado, a empresa avançou
aceleradamente no processo de desverticalização, terceirizando a produção de partes e componentes
para os sistemistas, de tal forma que, atualmente, a montadora se relaciona com um pequeno número
de fornecedores de sistemas integrados. Além disso, o programa de “MINEIRIZAÇÃO” conseguiu atrair
para o Estado a maior parte de seus fornecedores, cabendo destacar o processo de “ITALIANIZAÇÃO” a
partir de meados da década de 90, com a entrada de fornecedores mundiais já parceiros da empresa
11
A importância e a responsabilidade do setor de autopeças dentro do complexo automotivo cresce bastante e cada vez mais a
competitividade do setor automobilístico depende da própria produtividade, qualidade e competitividade das empresas de
autopeças. O setor passa por um intenso processo de reestruturação, concentração e internacionalização, em função da adoção da
produção enxuta pelas montadoras e do estabelecimento de um tratamento tributário diferenciado entre as montadoras e as
empresas de autopeças.
Capítulo 2 - As transformações em curso
81
BDMG
40 anos
em sua produção na Europa, de forma que atualmente a maioria dos fornecedores de sistemas
integrados da FIAT em Minas é subsidiária de grandes grupos multinacionais.
Mais recentemente, a implantação das fábricas da MERCEDES e da IVECO têm atraído dezenas
de novos fornecedores para o Estado, consolidando-o como segundo maior pólo de empresas
de autopeças do país.
Comparado ao extraordinário crescimento da produção automobilística, a evolução dos
demais produtos industriais mineiros contemplados na TAB. 17 – cimento, ferro gusa, aço bruto
e laminados – foi bem mais modesta.
Minas Gerais destaca-se como o maior produtor de produtos siderúrgicos do país. É o
primeiro produtor de ferro gusa, mantendo, ao longo dos últimos quinze anos, uma participação
na produção nacional variando em torno de 53%. A quantidade produzida, como mostra o
GRAF. 7, após crescer entre 1985 e 1989, praticamente estacionou, ao longo dos anos 90,
elevando-se apenas em 2000.
Quanto à produção de aço bruto, a participação de Minas Gerais no total nacional, de
40% em média, na primeira metade da década de 90, situou-se em torno de 37% no último
qüinqüênio. A quantidade produzida no estado ao longo dos últimos quinze anos, como se pode
constatar no GRAF. 9, seguiu a mesma tendência observada para o ferro gusa: crescimento até
1989, estagnação até 1999, e crescimento em 2000. Já no tocante à produção de laminados, a
participação de Minas Gerais vem se mantendo em torno de 40% do total nacional. Entre 1985
e 1994, verifica-se uma ligeira tendência de crescimento da quantidade produzida, seguida de
uma queda, em 1995, e uma retomada do crescimento no final da década12 .
A indústria siderúrgica sofreu fortemente o impacto das privatizações, fusões, aquisições
e da desregulamentação do setor, ocorridos no período recente. A privatização deu maior
flexibilidade às empresas, permitiu uma liquidação de passivos e aumentou a capacidade e a
agilidade para investimentos e modernização. Além disso, o fim do controle dos preços e as
facilidades de importar aumentaram a autonomia das firmas e viabilizaram a importação de
equipamentos e tecnologias necessárias à modernização. Cabe ressaltar que, nas últimas décadas,
os países desenvolvidos passaram a concentrar sua produção em bens mais nobres, descartando
plantas com alto consumo de combustíveis e elevado grau de poluição. Essa política abriu
grande espaço para os países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, que atingiu posição de
destaque nas exportações mundiais de produtos semi-acabados e bobinas a quente. Um último
ponto a se destacar é que, após as privatizações, o investimento em ampliação de capacidade e
enobrecimento de produtos pelas siderúrgicas foi bastante reduzido e, com isso, o Brasil passou
a perder clientes e posição no mercado internacional, processo que, por se tratar de commodities,
não é tão fácil de se reverter.
Também no caso da produção de cimento verifica-se uma queda da participação do Estado
na produção nacional. Em 2000, Minas Gerais respondia por 22,8% da produção do país. A
quantidade produzida praticamente manteve-se estabilizada até 1994, mas em 1995 e 1996
houve um substancial aumento, elevando a produção a um novo patamar, o que pode-se atribuir,
em grande parte, à retomada da construção civil na segunda metade da década de 90.
12
82
A série de produção de laminados em Minas Gerais tem como fonte o INSTITUTO BRASILEIRO DE SIDERURGIA e registra um
significativo crescimento da produção e da participação do Estado no País a partir de 1998. Desconfia-se, no entanto, que isso
pode ser efeito da inclusão, a partir desse ano, de semi-acabados na série referente a Minas Gerais, o mesmo não tendo sido feito
com a série para o Brasil.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
O segundo subsetor de maior peso na indústria do Estado é o da Construção Civil. Sua
participação no PIB industrial elevou-se de 8,5%, em 1989, para 13,4%, em 2000, refletindo um
crescimento em volume e em preços acima da média do setor. Assim, enquanto a indústria como
um todo cresceu 27,1%, a Construção Civil cresceu 36,9%. Além disso, a participação de Minas
Gerais no PIB nacional da Construção Civil também elevou-se, com o Estado passando da terceira
para a segunda posição, ultrapassando, desde 1990, o Rio de Janeiro (TAB. 18).
BDMG
40 anos
b) Indústria da construção civil
TABELA 18
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL DO BRASIL E DOS PRINCIPAIS ESTADOS
ANOS E PERÍODOS SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
Tx. crescim. do PIB (média anual)
Tx.crescim.dos preços (média anual)
ESTADOS
1985
1989
1994
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
São Paulo
30,3
29,5
27,9
28,3
3,6
-0,8
3,8
1,5
468
1426
19,4
Minas Gerais
10,9
11,9
12,6
13,9
6,2
0,6
5,5
3,1
469
1440
19,5
329
Rio de Janeiro
12,6
13,3
11,8
10,6
1,3
-0,1
2,1
1,0
491
1399
18,5
321
327
Paraná
6,6
9,6
8,6
9,0
9,7
-1,1
3,9
1,3
493
1414
20,1
326
Bahia
6,1
4,0
4,5
5,3
0,8
1,0
5,3
3,1
428
1458
20,9
334
Ceará
2,4
2,6
4,1
4,5
15,6
8,9
4,1
6,5
420
1442
21,1
332
Rio G. do Sul
5,6
6,7
5,4
4,2
5,7
-1,7
5,4
1,7
485
1390
11,6
308
TOTAL dos 7
74,5
77,6
74,9
75,8
4,5
0,5
4,0
2,2
466
1425
18,9
326
BRASIL
100,0
100,0 100,0 100,0
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Cabe ressaltar que, dos sete principais estados, apenas Minas Gerais, Bahia e, destacadamente,
o Ceará apresentaram crescimento do PIB da Construção Civil superior à média nacional. Note-se
que, com exceção do Ceará, esse crescimento foi bem maior na segunda do que na primeira metade
da década de 90.
Tanto no Brasil quanto em todos os principais estados, a indústria da Construção Civil vem
ganhando participação no PIB da indústria. Mas Minas Gerais, juntamente com o Paraná e a
Bahia, destacam-se com peso desse subsetor superior à média nacional.
c) Indústria extrativa mineral
Embora os minérios tenham grande importância na pauta de exportações de Minas Gerais, o
peso da indústria extrativa mineral no PIB do Estado é bem pequeno e caiu de 2,8% para 1,6% entre
1989 e 2000. Nesse período, esse subsetor foi, entre os demais subsetores da Indústria, o que apresentou
o menor crescimento, tanto em volume físico quanto em preços. Ademais, Minas Gerais perde
participação na indústria extrativa mineral do país (de 23,5%, em 1989, para 17,6% em 1998 e para
7,6% em 1999), embora mantendo a segunda posição, atrás do Rio de Janeiro, Estado de grande peso
na indústria extrativa de petróleo, e bem à frente da Bahia, terceiro colocado (TAB. 19)13 .
13
Há uma grande discordância desses dados de participação de Minas Gerais na indústria extrativa mineral com os dados da PIA,
que mostram um percentual bem maior para o Estado (e bem menor para o Estado do Rio de Janeiro). Ver seção sobre Indústria
no volume VI deste diagnóstico e observações sobre divergências entre os dados do PIB e da PIA no tocante à indústria de
transformação na seção anterior deste volume.
Capítulo 2 - As transformações em curso
83
BDMG
40 anos
TABELA 19
EVOLUÇÃO DO PIB DA INDÚSTRIA EXTRATIVA MINERAL DO BRASIL E DOS PRINCIPAIS ESTADOS
ANOS E PERÍODOS SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
ESTADOS
1985
1989
1994
Tx. crescim. do PIB (média anual)
Tx.crescim.dos preços (média anual)
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
Rio de Janeiro
50,5
40,2
50,8
70,3
1,9
5,3
13,1
9,1
301
1414
Minas Gerais
12,6
23,5
18,1
7,6
-1,6
-1,5
2,0
0,3
413
Rio G. do Norte
6,0
4,4
5,7
4,7
9,7
0,8
3,7
2,2
264
Bahia
9,9
9,0
7,8
3,4
-1,5
-1,3
-5,5
-3,4
Pará
2,0
5,2
5,7
3,2
25,0
3,1
5,0
4,0
Sergipe
5,9
4,1
4,4
3,1
4,5
0,4
5,9
3,1
10,5
2,8
2,1
2,2
2,2
7,7
Amazonas
TOTAL dos 7
BRASIL
2,7
5,2
0,3
2,0
89,7
91,6
92,9
94,3
100,0
100,0 100,0 100,0
22,2
330
1367
6,8
296
1490
20,5
338
329
1399
15,8
317
338
1403
9,9
306
278
1435
14,0
318
2,4
361
748
83,7
295
4,9
323
1389
20,3
323
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Note-se que o crescimento do PIB da indústria extrativa mineral em Minas Gerais foi, nos
anos 90, bem inferior à média nacional, puxada pelas elevadas taxas de crescimento no Rio de
Janeiro (decorrentes da extração de petróleo), e às taxas verificadas para todos os principais estados,
à exceção da Bahia, que apresentou, em todos os períodos analisados, taxas negativas. Além disso,
esse subsetor perde em preços relativos em Minas Gerais, ao contrário do Rio de Janeiro e do Rio
Grande do Norte.
Entre os diversos minerais metálicos e não metálicos produzidos em Minas Gerais, o ferro
é, de longe, o mais importante em termos de valor da produção14 . Segundo dados do DNPM,
Minas Gerais detém 72% das reservas nacionais de minério de ferro (o Pará tem a segunda maior
reserva, com 22,3%) e é, de longe, o maior produtor, tanto de ferro bruto quanto beneficiado,
com pouco mais de três quartos da produção nacional15 . Apesar disso, sua participação no total
nacional, que atingia 98,8%, em 1985, caiu acentuadamente até o início da década de 90,
estabilizando-se a partir daí (TAB. 20). Com o crescimento da produção praticamente estagnado,
até meados da década, nota-se, a partir de 1994, uma significativa recuperação.
TABELA 20
PRODUÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO - MINAS GERAIS - 1985-2000 (EM MILHÕES DE TONELADAS)
ANOS
1985
MG
126,3 114,4 109,0 118,6 124,5 118,7 118,6 116,9 118,2 137,1 139,7 131,3 139,2 150,3 148,1 163,1
MG/BR(%)
98,8
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
88,7
81,3
81,2
78,8
77,9
78,1
77,7
76,8
1994 1995 1996 1997 1998
77,3
76,0
75,4
75,3
75,5
1999 2000
76,2
76,8
Fonte: DNPM, Anuário Mineral Brasileiro. Elaboração: Fundação João Pinheiro
14
15
84
O minério de ferro era responsável, em 1999, por dois terços do valor da produção mineral de Minas e por mais de 80% do valor
da produção de minerais metálicos do Estado (quase todo o restante advindo da produção de outros cinco minerais – ouro, zinco,
bauxita, níquel e manganês). Ver capítulo específico sobre a Mineração em Minas Gerais, neste diagnóstico.
A produção mundial de minério de ferro foi de cerca de um bilhão de toneladas em 2000. O Brasil ocupa o segundo lugar entre os maiores
produtores e provavelmente é o maior produtor de minério beneficiado. Em 2000, segundo dados do DNPM, três países foram
responsáveis por mais da metade da produção mundial de minério de ferro bruto: China (21%), Brasil (20,5%) e Austrália (15%).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Englobando os serviços de água, eletricidade e gás, o SIUP elevou sua participação no PIB
industrial de Minas Gerais ao longo dos anos 90. Entre 1989 e 2000, essa participação passou de
7,2% para 10,6%. O subsetor cresceu acima da média da indústria, tanto em volume físico quanto
em preços (TAB. 13)16 .
BDMG
40 anos
d) Serviços industriais de utilidade pública (SIUP)
TABELA 21
EVOLUÇÃO DO PIB DOS SERVIÇOS INDUSTRIAIS DE UTILIDADE PÚBLICA (SIUP) - BRASIL E PRINCIPAIS
ESTADOS - ANOS E PERÍODOS SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
1994
Tx. crescim. do PIB (média anual)
Tx.crescim.dos preços (média anual)
ESTADOS
1985
1989
São Paulo
27,11
38,05 39,85 38,85
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
Rio de Janeiro
32,72
19,65 14,32 13,31
3,5
0,5
4,1
2,2
377
1348
16,8
311
Minas Gerais 13,58
11,02 11,92 12,59
-0,4
2,7
3,0
2,8
435
1433
21,1
331
307
11,2
2,4
3,7
3,0
450
1428
18,3
325
Paraná
4,57
9,31 10,52 10,61
18,5
10,3
7,2
8,7
466
1340
15,2
Rio G. do Sul
4,58
4,07
4,37
4,69
4,4
3,8
4,9
4,3
422
1415
19,2
325
Bahia
7,14
6,09
5,78
4,55
-2,9
4,6
-0,4
2,1
455
1366
18,0
316
10,5
2,7
5,2
4,0
407
1393
20,7
325
6,4
3,6
4,2
3,9
428
1395
18,4
321
Amazonas
2,14
2,12
2,01
2,34
TOTAL dos 7
91,8
90,3
88,8
86,9
BRASIL
100,0
100,0 100,0 100,0
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Conforme a TAB. 21, Minas Gerais manteve-se com a terceira maior participação no
PIB nacional desse subsetor, apesar de apresentar crescimento abaixo da média. São Paulo
tem um peso preponderante, conseguindo inclusive aumentar sua participação na década
(pelo ganho em preços relativos), enquanto o Rio de Janeiro, primeiro colocado em 1985,
perde participação desde então, de forma acelerada. O Paraná é o grande destaque, com
crescimento desse subsetor bem acima da média e, não fosse a perda relativa de preços, teria
ultrapassado Minas Gerais.
2.1.2.2. Serviços
Como visto anteriormente, o setor Serviços ganha participação no PIB estadual ao longo
dos anos 90, não tanto pelo seu crescimento, que ficou abaixo da média, mas pelo seu ganho
relativo de preços. Isso ocorreu não só em Minas Gerais como nos principais estados (em termos
de PIB), à exceção do Rio de Janeiro.
Ao contrário da Agropecuária e da Indústria, o crescimento do setor Serviços, em Minas
Gerais, no período 1985-2000, foi mais constante, com queda apenas em 1992. Em 2000, três
subsetores respondiam por mais de dois terços do PIB setorial: Administração pública, Aluguéis
e Comércio (TAB. 22). Desses, apenas o Comércio perde participação relativa entre 1989 e
16
O peso do SIUP no PIB mineiro é um pouco maior que no PIB brasileiro. A importância relativa desse subsetor vem crescendo
não só em Minas Gerais como no Brasil e nos maiores estados, à exceção do Rio de Janeiro.
Capítulo 2 - As transformações em curso
85
BDMG
40 anos
2000, devido não só ao baixo crescimento de seu PIB como também à evolução de seus preços
abaixo da média do setor. O inverso ocorre com o subsetor Aluguéis: tanto o PIB quanto os
preços desse subsetor cresceram acima da média setorial, fazendo com que sua participação no
PIB do setor Serviços passasse de 9,4%, em 1989, para 24% em 2000. No caso da Administração
pública, o aumento de sua participação decorre da evolução favorável de seus preços, uma vez
que a taxa de crescimento desse subsetor ficou abaixo da média setorial. Cabe destacar o
comportamento do subsetor Intermediação Financeira, pela enorme perda de participação no PIB
setorial após 1994, devido à evolução de seus preços bem abaixo da média, e os subsetores
Comunicações e Transporte e armazenagem, pelas elevadas taxas de crescimento. Note-se também
que o setor e quase todos seus subsetores cresceram mais no período pós-Real do que na primeira
metade da década de 90.
TABELA 22
PARTICIPAÇÃO NO PIB, TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB E DE SEUS PREÇOS
SERVIÇOS E SEUS SUBSETORES - MINAS GERAIS - 1989-2000 - (%)
Partic. no PIB total Partic. no PIB setorial Tx. cresc. do PIB
SUBSETORES
1989
SERVIÇOS
2000
1989
2000
Tx. cresc. dos preços
1990-2000 1995-2000 1990-2000 1995-2000
43,2
48,7
100,0
100,0
2,1
2,6
272
Administração pública (1)
9,4
13,8
21,8
28,3
1,2
1,2
285
21,7
Aluguéis (2)
4,1
11,7
9,4
24,0
2,6
3,1
303
28,2
Comércio (3)
16,5
8,8
8,1
20,3
16,6
1,0
1,8
270
16,4
Intermediação financeira
11,8
3,6
27,3
7,3
2,4
3,2
231
-3,2
Alojamento e alimentação
2,1
2,7
4,7
5,6
1,4
0,8
265
7,6
Educação e saúde mercantis
2,0
2,6
4,7
5,3
1,3
1,4
278
17,3
Transporte e armazenagem
2,6
2,5
6,0
5,2
4,2
4,9
260
14,9
Comunicações
Outros serviços
(4)
Serviços domésticos
1,1
1,9
2,5
3,9
9,2
11,9
266
13,4
1,0
1,4
2,3
2,9
1,8
4,9
283
30,5
0,4
0,5
0,9
1,0
3,7
2,5
270
20,4
FONTE: IBGE/DECNA e FJP/CEI
Elaboração: Fundação João Pinheiro
Notas: (1) Administração pública, defesa e seguridade social;
(2)
Atividades imobiliárias, aluguéis (incluindo aluguéis imputados) e serviços prestados às empresas;
(3)
Comércio e reparação de veículos e de objetos pessoais e de uso doméstico;
(4)
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais.
Minas Gerais é o terceiro Estado de maior peso no PIB setorial do País, após São Paulo
e Rio de Janeiro. Os dados da TAB. 23 indicam uma certa desconcentração do PIB do setor
Serviços no Brasil nos anos 90. De fato, o peso dos sete principais estados nesse setor reduziuse nesse período. Minas Gerais, no entanto, aumenta ligeiramente sua participação, devido à
evolução favorável de seus preços, já que o crescimento de seu PIB ficou abaixo da média do
país. O inverso ocorre com São Paulo: perde participação, apesar do crescimento real acima da
média. O Rio de Janeiro também perde participação, com crescimento bem inferior à média do
país.
86
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 23
EVOLUÇÃO DO PIB DO SETOR SERVIÇOS BRASIL E PRINCIPAIS ESTADOS - ANOS E PERÍODOS
SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
Tx. crescim. do PIB (média anual)
Tx.crescim.dos preços (média anual)
ESTADOS
1985
1989
1994
São Paulo
25,3
29,4
24,8
27,9
Rio de Janeiro
19,5
13,8
16,4
13,1
1,8
0,8
1,0
0,9
426
1490
18,0
333
Minas Gerais
7,6
8,7
8,6
9,0
1,9
1,2
1,5
1,4
492
1426
23,8
335
Rio G. do Sul
7,5
6,8
7,5
6,7
1,4
1,2
1,1
1,2
460
1463
20,2
333
Distr. Federal
5,6
6,9
4,7
5,9
2,8
2,7
2,6
2,7
499
1298
27,0
321
Paraná
4,4
4,6
4,6
4,8
2,1
1,6
1,2
1,4
481
1432
24,1
336
1,4
1,0
1,4
1,2
466
1405
22,6
329
2,1
1,6
1,5
1,6
472
1423
22,6
332
Bahia
TOTAL dos 7
BRASIL
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
4,7
4,5
4,2
4,1
74,7
74,6
70,8
71,7
100,0
100,0 100,0 100,0
2,0
1,8
1,6
1,7
494
1369
25,5
329
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
TABELA 24
PARTICIPAÇÃO DO SETOR SERVIÇOS E DE SEUS SUBSETORES NO PIB TOTAL BRASIL E ESTADOS
SELECIONADOS - 1989 E 1999 - (EM %)
São Paulo
SUBSETORES
SERVIÇOS
Rio de Janeiro Minas Gerais
Rio G. do Sul
BRASIL
1989
1999
1989
1999
1989
1999
1989
1999
1989
1999
48,2
55,4
62,6
57,5
43,2
49,2
41,0
49,2
50,2
54,1
Administração pública (1)
7,4
12,1
11,1
16,7
9,4
14,1
8,9
12,8
9,8
15,3
Aluguéis (2)
Comércio (3)
6,4
7,0
17,8
7,6
7,5
4,5
16,1
5,2
4,1
8,8
12,4
7,8
3,8
10,2
12,9
9,8
5,4
7,4
14,1
7,5
21,3
8,0
28,1
5,5
11,8
3,7
10,4
4,6
19,5
5,9
Transporte e armazenagem
1,4
1,2
2,1
1,9
2,6
2,7
2,9
1,8
2,2
2,0
Educação e saúde mercantis
2,1
2,8
2,0
2,7
2,0
2,7
1,8
2,7
2,0
2,9
Comunicações
1,0
3,2
2,3
4,4
1,1
1,9
0,6
1,7
1,0
2,8
Intermediação financeira
Alojamento e alimentação
0,9
1,5
2,6
2,2
2,1
1,8
1,3
1,3
1,6
1,7
Outros serviços (4)
0,5
0,8
1,9
2,4
1,0
1,6
0,7
1,1
0,8
1,5
Serviços domésticos
0,3
0,4
0,5
0,5
0,4
0,5
0,4
0,5
0,4
0,5
FONTE: IBGE/DECNA e FJP/CEI
Elaboração: Fundação João Pinheiro
(1)
Notas:
Administração pública, defesa e seguridade social;
(2)
Atividades imobiliárias, aluguéis (incluindo aluguéis imputados) e serviços prestados às empresas;
(3)
Comércio e reparação de veículos e de objetos pessoais e de uso doméstico;
(4)
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais.
A TAB. 24 mostra a participação do setor Serviços e de seus subsetores no PIB do Brasil e
dos principais estados. Constata-se que, à semelhança do observado para Minas Gerais, os dois
subsetores de maior peso são Administração pública e Aluguéis e que sua participação cresceu
fortemente nos anos 90. Quanto ao Comércio, é o terceiro subsetor em Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e Brasil, mas, em São Paulo e Rio de Janeiro, perde em importância para a Intermediação
financeira. Cabe destacar que este último, tendo crescido muito nos anos 80, era o principal
subsetor, em 1989, tanto no Brasil quanto em todos os estados considerados, mas, na década de
90, cai enormemente sua participação, principalmente após o Plano Real. Vale ressaltar também o
crescimento generalizado do subsetor Comunicações. Seu peso no PIB mineiro é bem inferior ao
observado para São Paulo e Rio de Janeiro e inferior mesmo à média nacional.
Capítulo 2 - As transformações em curso
87
BDMG
40 anos
2.1.2.3. Agropecuária
Com relação à Agropecuária, seu crescimento em Minas Gerais só não foi maior devido às
quedas ocorridas em 1990, 1995 e 1997: o PIB do setor cresceu a 5,3% ao ano, de 1991 a 1994,
e a 8,3% ao ano de 1998 a 2000. Cabe notar, no entanto, que, apesar desse elevado crescimento,
o Estado reduz sua participação no PIB agropecuário nacional de 14,9%, em 1989, para 11,4%
em 1999, caindo do primeiro para o quarto lugar entre os principais estados produtores, sobrepujado
por São Paulo e pelo Rio Grande do Sul e alcançado pelo Paraná (TAB. 25). Como nesse período
o PIB agropecuário de Minas Gerais cresceu mais do que o do Brasil e o de São Paulo e bem mais
do que o do Rio Grande do Sul (47,0%, 35,1%, 39,8% e 18,9%, respectivamente, conforme o
GRAF. 8), pode-se concluir que os preços do setor no Estado sofreram uma deterioração relativa
na década. Nesse sentido, a comparação com São Paulo impressiona: sua participação no PIB
agropecuário do país eleva-se de 14,4%, em 1989, para 20,8% em 1999, apesar do crescimento do
setor nesse estado ter ficado apenas ligeiramente superior ao nacional. É que seus preços cresceram
substancialmente acima da média, enquanto os do Paraná e do Rio Grande do Sul ficaram pouco
acima da média e os de Minas Gerais significativamente abaixo dela.
TABELA 25
EVOLUÇÃO DO PIB DA AGROPECUÁRIA BRASIL, GRANDES REGIÕES E PRINCIPAIS ESTADOS - ANOS E
PERÍODOS SELECIONADOS - (EM %)
Participação no Brasil
Tx. crescim. do PIB (média anual)
Tx.crescim.dos preços (média anual)
ESTADOS
1985
1989
1994
1999 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99 1986-89 1990-94 1995-99 1990-99
São Paulo
18,0
14,4
19,9
20,8
2,5
1,4
5,5
3,4
402,2
1463,5
10,6
315,8
Rio G. do Sul
11,3
13,4
12,6
13,2
0,9
0,6
2,9
1,7
463,6
1357,7
13,4
306,6
Paraná
12,7
8,5
9,4
11,5
6,0
3,7
7,8
5,7
365,4
1360,2
11,6
303,6
Minas Gerais
14,7
14,9
14,1
11,4
-0,4
3,6
4,2
3,9
448,6
1317,7
6,3
288,3
Santa Catarina
5,2
8,1
6,3
6,4
5,3
4,3
3,9
4,1
476,4
1254,2
11,7
289,0
Pará
3,5
8,0
6,8
5,5
11,2
3,6
0,3
1,9
501,9
1289,3
10,2
291,4
Bahia
8,5
7,6
5,8
5,2
-0,7
-0,1
1,9
0,9
434,5
1305,2
10,9
294,8
73,8
74,9
74,9
74,0
TOTAL dos 7
NORTE
5,8
10,9
8,8
7,9
6,1
3,1
0,5
1,8
500,7
1280,0
12,6
294,2
NORDESTE
20,4
19,4
16,8
14,6
2,1
1,8
-1,4
0,2
426,9
1318,7
13,9
302,0
SUDESTE
37,1
33,5
36,9
35,1
0,6
2,0
4,8
3,4
427,2
1384,3
9,2
302,6
SUL
29,1
30,0
28,3
31,1
3,7
2,9
4,6
3,7
428,9
1326,1
12,6
300,8
7,5
6,2
9,1
11,3
8,3
6,1
7,5
6,8
379,0
1412,0
12,2
311,9
100,0 100,0 100,0
3,3
2,5
3,6
3,1
427,1
1349,2
11,5
302,0
CENTRO-OESTE
BRASIL
100,0
FONTE: IBGE, Contas Regionais do Brasil, 1985-1999. Elaboração: Fundação João Pinheiro.
88
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
ONTE: IBGE. Contas Regionais, 1985-1999.
Note-se que, nos anos 90, há uma grande mudança na distribuição do PIB agropecuário do
Brasil entre as grandes regiões, com grande queda da região Nordeste, boa parte em função da
perda de participação da Bahia. O mesmo acontece com a região Norte, explicado em grande
parte pela queda na participação do estado do Pará. Ganham peso os setores agropecuários do
Sudeste, em função de São Paulo, e do Centro Oeste, que quase dobra sua participação, com
crescimento bem acima da média tanto em volume físico quanto em preços. A região Sul também
ganha participação, em menor escala e, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina perdem peso,
totalmente em função da expansão ocorrida no Paraná. De fato, o Paraná apresentou, principalmente
no período pós-Real, taxas de crescimento de seu PIB agropecuário bem mais elevadas que as dos
demais grandes estados produtores e que a média brasileira, sem apresentar deterioração relativa
de preços.
A TAB. 26 reúne algumas informações sobre o peso e a evolução recente da produção e do
rendimento dos principais produtos da agricultura de Minas Gerais. Os oito produtos contemplados
nessa tabela respondiam, em 2000, por 85% do valor bruto da produção agrícola do Estado.
O café desponta como o principal produto, responsável por 46% do valor da produção da
agricultura mineira. O Estado é o primeiro produtor de café do País e sua participação na produção
nacional tem crescido, atingindo quase metade no final da década de 90. A quantidade produzida
no Estado permaneceu relativamente estagnada, em termos médios, nos períodos 1985-1989 e
1990-1994, mas no qüinqüênio seguinte observa-se uma sensível tendência de crescimento da
produção e do rendimento desta lavoura.
Capítulo 2 - As transformações em curso
89
90
BDMG
40 anos
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TABELA 26
PRINCIPAIS PRODUTOS DA AGRICULTURA DE MINAS GERAIS - INDICADORES E PERÍODOS SELECIONADOS
% do VBP da
agricultura
PRODUTOS
% da produção brasileira
(média do período)
de MG (2000)
1985-1989
Café (em côco)
Milho (em grão)
46,2
12,2
35,6
13,5
41,9
12,5
Cana-de-açúcar
7,6
6,8
6,4
Soja (em grão)
5,6
5,1
Feijão (em grão)
5,3
10,9
Classif.
de MG
1990-1994 1995-2000
Índice de produção (média
do período) (1985=100)
Rendimento médio, por
período (kg/ha e frutos/ha)
2000
1985-1989
1990-1994
1995-2000
1985-1989
1990-1994 1995-2000
47,9
11,9
1
2
90,2
107,6
89,5
114,5
108,2
126,5
1442
2105
1234
2306
1528
2902
5,1
4
106,8
104,4
102,5
57608
61706
60358
5,1
4,3
7
103,7
115,6
137,3
1924
1929
2186
12,3
12,9
3
108,7
140,0
146,9
460
625
761
Tomate
3,5
8,3
11,9
15,7
3
108,4
176,8
288,6
40192
46451
45618
Batata - inglesa
2,8
26,5
23,7
30,1
1
112,1
112,1
162,2
17987
19891
21314
Laranja
2,2
2,8
2,4
2,8
4
107,4
113,6
153,6
65075
60061
63372
FONTE: Dados básicos: Produção Agrícola Municipal (PAM/IBGE) - Elaboração: Fundação Joaõ Pinheiro
BDMG
40 anos
A queda da produção do café no período foi conseqüência da diminuição da área plantada,
em boa medida devido aos preços descendentes do produto no mercado internacional, a partir de
1987, tendência que só se reverteu em 1993. A partir desse ano, com a criação da Associação dos
Países Produtores de Café, liderada pelo Brasil, e com a instituição do sistema de contingenciamento
das exportações, as cotações iniciaram processo de elevação, impulsionado, em 1994, pela ocorrência
das duas geadas em junho, seguidas de estiagem. Em 1997, as cotações atingiram um dos mais
altos patamares dos últimos 20 anos. A partir daí, os plantios de café proliferam-se no Estado, no
Brasil e nos demais países produtores. As conseqüências foram o aviltamento dos preços já em
1999 (que se mantém até hoje), o aumento da concorrência (com a entrada de um grande produtor,
o Vietnã) e o aumento dos estoques nos países consumidores.
O milho é o segundo produto agrícola mais importante de Minas Gerais, respondendo por
12% do valor bruto de sua produção agrícola. Com 12% da produção nacional, o Estado colocase na segunda posição no ranking dos maiores estados produtores. A quantidade produzida
internamente e o rendimento por hectare têm crescido nos últimos qüinqüênios, mas a participação
de Minas Gerais no total nacional vem caindo.
O terceiro principal produto agrícola do estado é a cana-de-açúcar. Sua produção apresentou
tendência ligeiramente declinante nos três últimos qüinqüênios, apesar da recuperação observada
no período 1997-2000. Em 2000, Minas Gerais foi o quarto maior produtor nacional de cana-deaçúcar, mas a participação do Estado vem caindo gradativamente. Quanto ao rendimento médio
dessa cultura, observa-se uma relativa estagnação.
Dos demais produtos agrícolas do Estado, destacam-se, em ordem decrescente do valor
bruto de produção, a soja, o feijão, o tomate, a batata-inglesa e a laranja. Para todos eles, verificase crescimento da produção na década de 90, com destaque para o tomate, cuja quantidade
produzida na média do qüinqüênio 1995-2000 atingiu quase o triplo da verificada para a última
metade da década de 80. Verifica-se também crescimento do rendimento médio dessas culturas, à
exceção da laranja. Quanto à posição de Minas Gerais no ranking dos maiores produtores nacionais,
o Estado ocupa a primeira posição na produção de batata-inglesa, com participação crescente, e o
terceiro lugar na produção de tomate e feijão, também com participação crescente. Minas destacase ainda como o maior produtor nacional de abacaxi e o terceiro maior produtor de alho.
Resta dizer que, em conseqüência das recentes modificações na agricultura e na economia
brasileira, diminuindo significativamente a capacidade de competir de um grupo expressivo de
lavouras, a agricultura mineira passou a concentrar-se no cultivo de lavouras para as quais o
Estado oferece vantagens competitivas – soja, milho e café. As lavouras tradicionais evidentemente
sobrevivem em menor escala. Destaca-se o declínio da rizicultura mineira, totalmente incapaz de
competir, em termos de qualidade e valor, com o arroz do Sul e do Centro-Oeste do País.
No tocante à produção de origem animal, 96% do valor bruto da produção animal de Minas
Gerais provinha, em 2000, da criação de bovinos (37,7%), suínos (14,8%) e aves (10,3%) e da
produção de leite (33,4%). Em 1999, o Estado despontava como o maior produtor de leite do
País e como detentor do segundo, quarto e quinto maiores rebanhos de bovinos, suínos e aves,
respectivamente. Possuía, também, o maior efetivo de eqüinos e o segundo maior efetivo de
muares. O GRAF. 9 permite verificar a evolução dos principais rebanhos e da produção de leite
no período 1985-1999, assim como da participação de Minas Gerais no Brasil. A produção de
leite e os efetivos avícolas apresentaram crescimento significativo, mas como tal crescimento
acompanhou de perto o crescimento em nível nacional, sua participação no total nacional
permaneceu em torno de 30% e de 10%, respectivamente. Quanto ao rebanho bovino, observa-se
uma ligeira tendência de crescimento até 1993, que se reverte a partir desse ano, de forma que,
Capítulo 2 - As transformações em curso
91
BDMG
40 anos
considerando-se o período como um todo, pode-se falar em estagnação. Note-se que a participação
de Minas Gerais no rebanho bovino nacional decresce continuamente, passando de 15% em 1985
para 12% em 1999. Já o efetivo suíno, que apresentou pequeno crescimento até meados dos anos
90, sofreu grande redução em 1996 e, apesar da recuperação nos anos seguintes, não conseguiu
atingir, em 1999, os níveis de 1985. Com isso, a participação do estado no rebanho suíno do país,
que era de 9,6% em 1985, cai a 8,6% em 1996, mas retorna a 9,6% em 1999.
FONTES: IBGE, Produção Agrícola Municipal (PAM) e Produção Pecuária Municipal (PPM).
Com a abertura comercial, o setor leiteiro modernizou-se nas bacias leiteiras mais
desenvolvidas, às custas do aleijamento do pequeno e médio produtor, concentrando-se,
atualmente, nas mãos dos grandes produtores. Mas ainda convivem no Estado produtores com
plantéis de alta genética, estábulos de grande tecnologia, com ordenha mecânica, tanques de
expansão, etc., ao lado dos que sobrevivem produzindo sem qualquer técnica de manejo, com
estábulos inapropriados, produto impróprio para ser captado pela indústria e informalidade nas
vendas. Os segmentos de carne bovina, suína e de aves têm grande perspectiva de crescimento,
com o ano de 2001, já registrando, para o país e para o estado, a abertura de novos mercados.
92
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
2.2. A evolução dos investimentos privados e
públicos
2.2.1. Investimentos privados e públicos em perspectiva histórica
Os anos 70 podem ser considerados como a época áurea dos investimentos na economia
mineira. Como se pode ver pela TAB. 27, ao longo dos anos 70, os indicadores relacionados à
formação bruta de capital fixo no Estado tiveram desempenhos sempre superiores à média brasileira.
Os investimentos (público e privado) no Estado cresceram a taxas médias anuais de 14,3%, muito
superiores à observada no Brasil no mesmo período (8,7%). Minas Gerais ocupou um lugar de
destaque no cenário nacional na atração de novos investimentos, elevando a sua participação nos
investimentos totais brasileiros sensivelmente ao longo deste período. Ademais, a relação
investimento/PIB para Minas Gerais manteve-se, ao longo destes anos, em níveis substancialmente
superiores àquele observado para a economia brasileira, explicando, portanto, o maior dinamismo
da economia mineira em relação à brasileira.
TABELA 27
DADOS COMPARATIVOS DA FBKF MINAS GERAIS/BRASIL 1970-85 (%)
Participação
Relativa
MG/BR
Taxa de Crescimento
Taxa de investimento
(FBKF/PIB)
BR
MG
BR
MG
18,80
21,00
1970
9,50
1971
8,70
15,30
3,20
19,70
20,00
1972
1973
8,90
9,50
16,70
21,00
12,80
29,00
20,20
21,40
21,30
24,90
1974
9,90
13,30
21,80
22,80
26,10
1975
11,20
9,70
35,50
24,40
30,20
1976
13,10
6,80
28,70
22,50
33,00
1977
14,30
-1,40
14,80
21,30
32,70
1978
13,70
3,10
2,90
21,80
31,90
1979
12,40
4,70
1,40
22,80
29,70
Média Anual
11,12
8,69
14,34
21,57
27,08
1980
13,30
8,50
-4,30
22,00
31,20
1981
13,00
-13,30
-6,20
22,20
30,40
1982
13,10
-5,40
-2,60
20,60
27,70
1983
1984
13,50
9,80
-17,00
4,10
-8,30
-22,80
17,10
16,50
25,20
19,10
8,80
11,60
-2,70
18,00
18,10
11,92
-2,52
-8,10
19,40
25,28
1985
Média Anual
FONTE: SECRETARIA ESTADUAL DE PLANEJAMENTO - Agregados Regionais:Formação Bruta de Capital Fixo 1970-1985
A excepcional expansão dos investimentos nos anos 70 se deveu a uma combinação de fatores,
que incluem as vantagens locacionais e a dotação de recursos naturais da economia mineira, os
esquemas de incentivos fiscais e o articulado aparato institucional de apoio à industrialização e a
posição privilegiada do Estado dentro das grandes metas do II PND, para citar os mais importantes.
Capítulo 2 - As transformações em curso
93
BDMG
40 anos
Sem dúvida, esse surto de investimentos encontrou na participação indutora e promotora
do Estado elemento fundamental de seu sucesso. Seja devido à posição estratégica de Minas
Gerais nas metas do II PND, seja sob a vigência do I PMDES e, em menor medida, durante os
demais planos que o seguiram, a industrialização assumiu lugar central na política econômica
estadual. Os incentivos fiscais e os investimentos públicos, nesse sentido, representaram
papel importante na criação e na consolidação de infra-estrutura e a geração de grandes
oportunidades de investimentos. Isto, conjugado a um amplo e articulado aparato institucional
de suporte à promoção industrial (BDMG, CEMIG, INDI, CDI, FJP) e fortes pressões políticas
junto ao governo federal para atrair investimentos das estatais, constituíram as bases sobre as
quais se assentou a política econômica estadual dos anos 70. Nesse sentido, combinou-se
uma estratégia de incentivos fiscais para estimular os investimentos privados e uma elevação
dos gastos com investimentos e custeio da máquina pública para dar seqüência a esses objetivos,
que demonstrou ser crítica para a rápida expansão da economia mineira. Entre 1970 e 1980,
as despesas estaduais com o custeio elevaram-se de R$ 1,25 trilhões a quase R$ 2,5 trilhões a
preços de 1999 (BDMG, 2002). Isso representa um crescimento anual de mais de 7%. No
caso dos investimentos estatais, esse crescimento foi da ordem de quase 15% ao ano. Estes
são ainda mais significativos quando se considera o período 1970-78, quando as despesas do
governo estadual com investimentos cresceram a uma taxa de quase 22% ao ano.
Os investimentos privados, por sua vez, direcionaram-se prioritariamente para os setores
industriais, notadamente para aqueles produtores de bens intermediários e bens de consumo
duráveis, e para a agropecuária. Ao longo dos anos 70, os investimentos na indústria de
transformação mais que dobraram, chegando a representar, em 1979, quase um terço dos
investimentos totais realizados naquele ano ou 9% do PIB mineiro. A indústria extrativa
mineral também atraiu elevados investimentos, principalmente na primeira metade dos 70.
Entre 1972 e 1974, esse setor absorveu, em média, 10% dos investimentos totais, participação
que não viria a se repetir na história do Estado. Os investimentos na agropecuária mostraram
certa estabilidade ao longo do período, representando, em média, 18% do total. Entretanto, a
partir de 1978, estes investimentos entraram em trajetória declinante, vindo a se recuperar
somente após os anos recessivos do início dos anos 80. Outros setores que absorveram
elevados investimentos foram o de serviços associados à prestação de serviços às empresas,
estabelecimentos financeiros, seguros e bens imóveis.
O volume de investimentos realizados, nos anos 70, combinado com o longo período
de maturação dos projetos de investimento permitiu que a economia mineira continuasse a
crescer mesmo em um contexto recessivo e de contração dos investimentos, como o observado
na primeira metade dos anos 80. De fato, na primeira metade dos anos 80, houve uma
sistemática deterioração dos investimentos no Estado, levando a uma contração da participação
de Minas no investimento total brasileiro (TAB. 27). Apesar disso, a relação investimento
total/PIB para Minas manteve-se superior à verificada para o Brasil, denotando as vantagens
de Minas Gerais no processo de reversão da polarização de São Paulo.
Essa dramática contração dos investimentos, no início dos anos 80, esteve associada,
de um lado, com a crise da dívida que colocou em xeque a capacidade de gasto do Estado.
Nesse contexto, Minas Gerais perpassou a década dos oitenta em uma situação semelhante
ao resto do país, quando a capacidade de gasto se reduziu drasticamente e os investimentos
estatais chegaram a níveis bastante reduzidos. Entre 1980 e 1984, os investimentos públicos
caíram dramaticamente, não chegando a atingir um terço do nível de 1980. A maior parte
dessa queda pode ser atribuída à contração dos investimentos federais nas empresas estatais
não-financeiras.
94
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
De outro lado, a volatilidade do contexto institucional e macroeconômico; o processo de
reestruturação dos balanços patrimoniais das empresas privadas e os grandes ganhos especulativos
no mercado financeiro afetaram adversamente as decisões de investimento das empresas, levando
a fortes contrações. No caso de Minas Gerais, a contração dos investimentos foi particularmente
intensa, apresentando taxas médias anuais negativas de aproximadamente 8% na primeira metade
da década17 . Vale notar que o setor agropecuário apresentou o melhor desempenho nesse período,
associado com o rápido processo de modernização por que passou.
2.2.2. Investimentos privados nos anos 9018
No início da década dos 90, a retração dos investimentos se aprofundou, em meio ao caos
econômico e político do governo Collor. De acordo com dados do INDI, em 1992, o número de
projetos industriais decididos a serem implantados no Estado foi o menor de toda a década. A criação
de emprego por esses projetos foi também a menor de toda a década, resultado dos limitados recursos
para investimentos (Anuário Estatístico, 2002). Da mesma forma, a indústria extrativa mineral apresentou
os menores níveis de investimentos entre 1991-1993 (Anuário Estatístico, 2002). A despeito da forte
contração dos investimentos produtivos, a economia mineira foi capaz de resistir ao impacto da crise,
graças ao relativo dinamismo de suas exportações, notadamente café e minério de ferro.
Esse cenário seria revertido com a implementação do Plano Real, que conseguiu conter a
inflação sem induzir à recessão. Tal como em outros programas similares, o Plano Real provocou,
no curto prazo, remonetização e expansão creditícia, bem como uma expansão da demanda
associada com os efeitos renda e riqueza. Simultaneamente, a abertura comercial e a
sobrevalorização do câmbio reduziram substancialmente os preços das máquinas e equipamentos
importados. Como resultado, nos dois anos seguintes ao Plano Real ocorreu um miniboom de
investimentos, concentrado, em grande medida, nos setores produtores de bens de consumo.
Minas Gerais foi um dos Estado que mais se beneficiou neste período, ficando em segundo
lugar nos investimentos anunciados em 1996, atrás somente de São Paulo (TAB. 28). Os dados
do INDI (Anuário Estatístico, 2002), apesar de não serem compatíveis com os do BNDES, também
demonstram claramente a ocorrência de um miniboom de investimentos na economia mineira. De
acordo com esses dados, entre 1994 e 1995/1996, os investimentos na indústria de transformação
praticamente quadruplicaram.
Esse desempenho da economia mineira pode ser explicado por vários fatores, dentre eles se
destacam: (a) o Estado desfrutava de uma posição privilegiada no movimento de desconcentração
do capital a partir de São Paulo; (b) o Estado demonstrou capacidade de organizar suas instituições
(estabilidade institucional; proteção ao meio ambiente e incentivos fiscais) e promover as
articulações governo-empresa privada, de forma a constituir um ambiente favorável a novos e
existentes empreendimentos (Rodrigues, 2000); (c) o Estado dispunha de boa infra-estrutura
econômica e social; e (d) o elevado grau de institucionalização de regras de incentivo aos
investimentos privados reduzia as incertezas.
17
18
Não foi possível realizar a análise para a segunda metade da década dos 80 devido à falta de informações sistematizadas e
compatíveis com a série anterior.
A análise dos investimentos, nos anos 90, é bastante prejudicada pela falta de informações sistematizadas. Como não existem
estatísticas oficiais sobre investimentos, recorreu-se às informações de investimentos anunciados na imprensa, tal como encontrado
nos estudos do BNDES, e fontes complementares do Governo de Estado (BDMG, INDI, Secretária da Fazenda, Anuário Estatístico,
etc.). Vale ressaltar que os dados de anúncio de investimentos para os anos 90 são apenas indicativos das principais tendências. Os
dados referentes aos anúncios de investimento são levantados pelo BNDES, desde 1996, e incluem apenas aqueles investimentos
acima de US$5 milhões noticiados na imprensa. São, portanto, apenas um indicador parcial dos investimentos na economia, já que
aquele valor praticamente exclui os investimentos realizados naqueles setores dominados por pequenas e médias empresas.
Capítulo 2 - As transformações em curso
95
BDMG
40 anos
TABELA 28
ANÚCIOS DE INVESTIMENTO, POR ESTADOS, NO PERÍODO 1996/2000 - BRASIL
Anúcios de Investimentos (US$Milhões)
1998
1996
1997
Minas Gerais
12.935
11.451
6.088
4.915
-11,5
-25
-29,1
-19,3
São Paulo
23.681 24.534 19.154 19.418
22.448
3,6
-21,9
1,4
15,6
8.583
1999
2000
Taxa de Crescimento (%)
Estados
1997/96 1998/97 1999/98 2000/1999
Rio de Janeiro
7.407 10.650 12.915 10.319
9.170
43,8
21,3
-20,1
-11,1
Espírito Santo
Paraná
2.770
5.119
845
13.116
1.734
4.092
1.970
4.751
1.254
6.557
-69,5
164
105,2
-68,8
13,6
16,1
-36,3
38
Rio Grande do Sul
5.164
8.420
7.930
2.188
3.228
63,1
-5,8
-72,4
47,5
Santa Catarina
4.104
768
662
869
1.893
-81,3
-13,8
31,3
117,8
Bahia
3.858
7.270
5.791
4.883
4.941
88,4
-20,3
-15,7
1,1
Pernambuco
1.948
440
1.160
824
2.220
-77,4
163,6
-29
169,4
Alagoas, Maranhão,
Paraíba, Sergipe e
Rio Grande do Norte
1.510
569
903
792
1.749
-62,3
58,7
-12,3
110,8
Ceará
1.915
2.382
3.702
2.067
913
24,4
55,4
-44,2
-55,8
Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul
1.231
915
1.961
624
3.203
-25,7
114,3
-68,2
413,3
Goiás e Distrito Federal
1.061
1.037
1.791
698
733
-2,2
72,7
-61
5
Pará, Roraima, Acre,
Rondônia e Tocantins
3.099
219
214
3.506
7.056
-92,9
-2,2 1538,3
101,3
Amazonas
1.319
2.125
424
446
327
61,1
-80
5,2
-26,7
24.109 27.969 22.464 44.529
Vários (Simultaneos)
Não Definidos
Total (sem São Paulo)
Total
48.297
16,1
-19,7
98,2
8,5
9.649 13.497 12.583
8.923
11,6
39,9
-7
-29,1
50.957 60.207 52.262 40.025
48.768
18,1
-13,2
-17,1
21,8
107.390 122.359 107.377 116.555 127.827
13,9
-12,2
8,5
9,7
8.643
FONTE: BNDES.
Em 1997, a expansão nos investimentos anunciados passou a ser influenciada não somente
pela estabilização macroeconômica, mas também pela rápida desregulamentação do mercado e
privatização das empresas estatais. Ademais, as expectativas criadas pelo miniboom dos anos
anteriores e o esgotamento da capacidade ociosa de alguns setores estimularam o anúncio de
investimentos em infra-estrutura e insumos industriais. Como mostra a TAB. 28, os anúncios
de investimentos no país cresceram de US$ 107,4 bilhões, em 1996, para US$ 122,4 bilhões em
1997. Minas Gerais foi capaz de captar boa parte desses investimentos (aproximadamente 10%),
entretanto o Estado foi ultrapassado pelo Paraná em termos de volume de investimentos
anunciados naquele ano.
As expectativas favoráveis do triênio anterior se reverteram em 1998 e 1999. O modelo
de estabilização monetária, baseado na âncora cambial, ampliava enormemente a vulnerabilidade
externa da economia, que acabava tendo de ser compensada por maciças entradas de capital
externo, atraídos pelas elevadas taxas de juros internas. A grande volatilidade do mercado de
capitais internacionais, as crises financeiras da Ásia e da Rússia, e o ataque especulativo contra
o Real acabaram por impor uma mudança no regime cambial e na política macroeconômica
(adoção de “metas inflacionárias”). Nesse contexto de grande instabilidade e incerteza, as
decisões de investimento foram adiadas, resultando em queda nos investimentos totais anunciados
96
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
em relação a 199719 . No caso de Minas Gerais, outros fatores contribuíram para o decepcionante
volume de investimentos anunciados. Em primeiro lugar, tal como apontado por Rodrigues (2000),
a “quebra” da institucionalidade provocada pelas atitudes do novo governo estadual - decretação
de moratória aos pagamentos internacionais; polêmica com os acionistas estrangeiros da Cemig; e
tentativa de revisão do acordo com a Mercedes Benz – criou um clima de desconfiança entre o
empresariado e o governo. Em segundo lugar, a nova administração do governo estadual encontrou
uma situação fiscal bastante debilitada pelos excessivos gastos com pessoal e com a folha de
pagamento de inativos e pela pouca possibilidade de equilíbrio sem a ajuda direta do governo federal
(Rodrigues, 2000). Como resultado, entre 1997 e 1999, os investimentos anunciados em Minas Gerais
acumularam uma queda de 46%. Tendência semelhante é mostrada pelos dados do INDI (Anuário
Estatístico, 2002) para a indústria de transformação, podendo-se, portanto, concluir que Minas Gerais
se colocou em uma posição desvantajosa em relação às decisões de investimento daqueles anos.
Em 2000, o decepcionante desempenho dos investimentos em Minas Gerais voltaria a se
repetir. Conforme a TAB. 28, os investimentos anunciados não chegaram a representar um terço
daqueles anunciados em 1996. Apesar de importantes anúncios de novos investimentos – no
setor siderúrgico, alimentar, fertilizantes, infra-estrutura de energia, madeira, etc. –, Minas Gerais
continuou a perder posição relativa para outros Estados, caindo para quinto lugar nos anúncios de
investimentos. De novo, os dados do INDI corroboram as tendências apontadas pelo BNDES,
demonstrando a dificuldade do Estado em captar novos investimentos industriais.
Assim, Minas Gerais fecha os anos 90 com uma precária inserção nos fluxos de investimentos
nacionais. Como se verá a seguir, mesmo no caso do investimento estrangeiro direto, Minas não
conseguiu, ao longo dos anos 90, melhorar a sua atratividade. Esse é um dos aspectos que mais
tem suscitado preocupação entre os analistas e que requer que sejam tomadas medidas imediatas
para a sua reversão.
2.2.3. Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
Os anos 90 foram marcados pelo significativo influxo de investimentos estrangeiros diretos,
estimulados pelas mudanças liberalizantes (desregulamentação, privatização e abertura externa) e
pela estabilização econômica. Conforme apurado pelos Censos de Capitais Estrangeiros (Banco
Central, 1995, 2001), o investimento direto estrangeiro passou de R$83,8 bilhões, em 1995, para
R$351,7 bilhões, em 2000.
Contudo, os novos investimentos não se distribuíram igualmente no espaço nacional. De
fato, como a TAB. 28 (seção anterior) e o GRAF. 10 (a seguir) demonstram, o Estado de São
Paulo foi o mais beneficiado pelo “novo modelo de desenvolvimento” implantado com o Plano
Real, pelas razões já apontadas no Capítulo 1 deste volume. Vale notar, entretanto, um movimento
de desconcentração dos investimentos estrangeiros de São Paulo em direção a outros Estados,
notadamente Rio de Janeiro e Estados do Sul. Além disso, esses dados parecem confirmar a tese
de Diniz (1999) referente ao “desenvolvimento poligonal”.
19
Deve-se destacar que outro fator pode ter contribuído para a grande contração dos investimentos anunciados em 1998, qual seja,
a maturação dos investimentos realizados nos anos anteriores (ver a esse respeito Rodrigues, 2001). Entre as maiores e mais
importantes inaugurações de novas plantas destacam-se: a unidade de automóveis da Renault, na região metropolitana de
Curitiba (PR), a unidade de carrocerias da associação Fiat e Stola, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), a unidade
de motores da Volkswagen, em São Carlos (SP), a unidade farmacêutica da Glaxo Welcome na região metropolitana do Rio de
Janeiro (RJ), a unidade de centrais de comutação da Lucent em Campinas (SP) e a unidade de refrigerantes em lata da Vonpar na
região metropolitana de Porto Alegre (RS).
Capítulo 2 - As transformações em curso
97
BDMG
40 anos
Gráfico 10
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS BRASILEIROS NOS INVESTIMENTOS
ESTRANGEIROS DIRETOS, 1995 E 2000
Neste quadro, Minas Gerais continuou se situando atrás de São de Paulo e Rio de Janeiro
como destino dos investimentos em geral. Mas diferentemente do que foi mostrado na seção
anterior, o Estado foi capaz de manter a sua participação nos fluxos internacionais de investimento,
contrariando as expectativas associadas com as recentes dificuldades criadas pelo governo estadual.
Entretanto, não se pode deixar de reconhecer que os Estados do Sul vêem conseguindo capturar
fatias importantes dos novos investimentos, ambos apresentando incremento em sua participação
relativa nos IDE.
2.2.4. Investimentos públicos nos anos 9020
Nos anos noventa, as reformas estruturais - caracterizadas pela abertura comercial e pela
redução do papel do estado na atividade produtiva, combinado com rigoroso controle de gastos –
levaram a uma dramática redução no papel do Estado como propulsor e líder dos investimentos
produtivos. Isso se evidencia claramente na diminuição do gasto público estadual em investimentos,
que, ao longo desses anos, mantém-se praticamente estagnado.
Os gastos com a administração da máquina pública, no entanto, apresenta elevação
constante, demonstrando um elemento perverso nesse processo: a queda dos investimentos estatais
foi compensada pela elevação dos gastos de custeio e administração. Alguns desses gastos são
certamente fundamentais, mas o importante a ser notado é que, em geral, os gastos de custeio não
têm os mesmos efeitos multiplicadores dos investimentos e acabam sendo incapazes de produzir
uma elevação nas receitas da mesma magnitude que os investimentos e, na maioria das vezes,
tendem a se elevar com o crescimento econômico. Essa característica dos gastos públicos, no
entanto, não é particular de Minas Gerais e segue uma tendência geral no País.
20
98
A análise realizada a seguir se baseia em diferentes fontes de dados. Como essas fontes não são compatíveis entre si, optou-se por
apresentar uma avaliação qualitativa das principais tendências da evolução dos investimentos públicos.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
De acordo com estimativas da Secretaria de Estado da Fazenda, os investimentos da
administração pública estadual direta e indireta (exceto empresas) cresceram acentuadamente
entre 1996 e 1998, passando de R$ 409 milhões para R$ 1.021 milhões. A partir de então, os
investimentos declinam dramaticamente, chegando, em 2000, a representar aproximadamente 1/
5 dos valores de 1998 (i.e., R$ 299 milhões). Em 2001, os investimentos voltaram a crescer,
situando-se em R$ 638 milhões.
Outro aspecto importante a ser observado é que as despesas dos governos municipais do
Estado apresentaram elevação significativa nos anos noventa. Isto se explica fundamentalmente
pelos efeitos da Constituição de 1988 na capacidade de gastos dos municípios. De fato, o capítulo
da distribuição dos recursos tributários definiu uma maior autonomia para os municípios, bem
como transferiu diversos encargos para aquelas unidades federativas (um exemplo típico é o SUS
– SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – o qual é de responsabilidade dos municípios a manutenção do sistema).
Vale ressaltar, no entanto, que, combinado com o aumento dos gastos e da arrecadação própria e
transferida, parte de gastos que eram de responsabilidade federal ou estadual passaram para os
municípios. Não obstante, os gastos com investimentos e obras no mesmo período mantiveram-se
praticamente estagnados, revelando uma outra face perversa das dificuldades financeiras de Minas
Gerais, ao longo dos noventa, para dar continuidade às políticas indutoras do aprofundamento e
progressão da industrialização da economia estadual (para uma análise mais detalhada ver artigo
a esse respeito no volume IX deste estudo).
Capítulo 2 - As transformações em curso
99
BDMG
40 anos
2.3. Fluxos de comércio interestaduais: a
balança comercial de Minas Gerais com os
demais estados da federação
2.3.1. Os fluxos de comércio interestaduais em perspectiva histórica
A predominância da vinculação comercial das regiões brasileiras diretamente com o exterior
na fase primário-exportadora e a inexistência de um sistema de transportes de caráter
verdadeiramente nacional, em um contexto de baixos níveis de renda e produtividade, determinaram
um forte isolamento entre as regiões brasileiras até os anos 60. A integração produtiva interestadual
se resumia essencialmente a relações comerciais entre os estados de uma mesma região, justificando
aquelas análises que retratavam o país “como um imenso arquipélago de ilhas econômicas
relativamente isoladas” (Galvão, 1993, p. 260). Como mostra Galvão (1993), o comércio interregional de mercadorias representava 20% do comércio total por vias internas no Brasil em 1947.
As regiões Sudeste e Sul eram responsáveis, cada uma, por metade deste total. Minas Gerais
representou 13,5% dos fluxos de comércio por vias internas do país, sendo que 94,7% deste foi
realizado intra-regionalmente. Minas, portanto, encontrava-se articulada desde cedo, ao centro
econômico e maior mercado consumidor do país. Sua inserção, no entanto, era essencialmente
como supridora de matérias-primas para o centro econômico regional, reproduzindo assim, em
esfera nacional, as relações de dependência do tipo centro-periferia.
A partir dos anos 60, contudo, o processo de articulação inter-regional se desenvolveu de
forma extraordinária, reflexo da mudança no padrão de acumulação, de primário-exportador para
urbano-industrial, e da rápida formação de um mercado nacional unificado com a acelerada expansão
do sistema de transportes e crescente urbanização do país. Como mostra Galvão (1993), o
“isolacionismo” das décadas anteriores foi reduzido, com o fluxo de comércio inter-regional
praticamente dobrando entre 1947 e 1969, passando de 20% para 47%. No entanto, pouco foi
alterado em relação ao predomínio da região Sudeste nesse fluxo, que elevou a sua contribuição
para o comércio total por vias internas, no período, de 47% para 56,5% em 1969. Internamente à
região Sudeste, ocorreu uma significativa mudança nas posições do comércio. De um lado, a
decadência econômica do Rio de Janeiro e a concomitante concentração econômica em São Paulo
se refletiu na redução da participação do Rio de Janeiro nos fluxos intra-regionais de comércio, de
51,5%, em 1947 para 34,4% em 1969, enquanto a de São Paulo se elevou, no mesmo período, de
26,5% para 46,4%. Minas Gerais foi o Estado que menos perdeu nesse processo de concentração
econômica de São Paulo, mantendo praticamente inalterada a sua participação relativa no comércio
intra-regional (19,7%, em 1947, para 17,3% em 1969). A complementaridade entre a estrutura
produtiva mineira e paulista parece explicar a manutenção da participação de Minas Gerais no
comércio inter-regional, a despeito da concentração econômica em São Paulo.
As transformações estruturais ocorridas nos anos 70 - caracterizadas pela expansão acelerada
da economia, diversificação produtiva e desconcentração regional da produção - consolidaram a
tendência de integração inter-regional já observada na década anterior. De fato, como ressalta
Guimarães Neto (1986), com a unificação do mercado nacional, impõe-se crescentemente a
integração produtiva nacional com especialização regional, em detrimento das articulações
essencialmente comerciais de bens finais. No caso de Minas Gerais, como aponta o Documento
sobre a Economia Mineira (1979) do Governo de Estado, ocorreu uma expansão acelerada do comércio
100
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
por vias internas, motivado pelo dinamismo da economia. Em 1975/77, o volume total de
comércio de Minas Gerais com outros Estados da Federação chegou a representar 65,3% do
PIB mineiro, refletindo a crescente integração do Estado com a economia nacional. Além disso,
os dados demonstram que a economia mineira encontrava grandes estímulos exógenos para o
seu desenvolvimento econômico. Entretanto, as compras de outros Estados, notadamente de
São Paulo e Rio de Janeiro, se expandiram mais rapidamente do que as vendas, levando o
Estado a apresentar déficits em suas transações comerciais internas. O Relatório sugeria que a
situação deficitária do Estado só se resolveria através da consolidação de uma “nova estrutura
produtiva” - que alterasse a inserção da economia mineira de exportadora de bens intermediários
e matérias-primas para produtora de bens “mais sofisticados” - e da promoção da substituição
regional de “importações domésticas”. Esse tipo de análise contribuiu para a disseminação das
visões que sustentavam a perversidade da especialização produtiva de Minas Gerais nos
complexos mínero-metalúrgico e agropecuário, os quais, pela pequena agregação de valor,
inseriam-se na economia nacional como supridores de matérias-primas e insumos pouco
elaborados.
Ao contrário dessas visões, os resultados da análise dos fluxos inter-regionais entre Minas
e o resto do País, através da matriz de Insumo-Produto de 1980, mostraram que esses complexos,
notadamente através da produção metalúrgica (siderurgia, outros produtos metalúrgicos, fundidos
de ferro e aço) e agroindustrial (leite e laticínios, refino de óleos vegetais, abate de animais,
beneficiamento de arroz, abate e preparação de carnes e indústria do café), geravam significativos
efeitos difusores, respectivamente, sobre o produto e sobre a renda e o emprego, internamente
ao Estado21 .
A análise das relações inter-regionais demonstrou também que, para a grande maioria
dos setores produtivos de Minas Gerais, os impactos dos investimentos realizados em Minas
Gerais sobre o produto, renda e emprego foram maiores na economia do próprio estado do que
na economia do resto do país. Esse fato atestava a capacidade da economia mineira, já em
1980, de internalizar os benefícios de investimentos realizados em sua estrutura produtiva.
Mesmo reconhecendo o avanço do processo de diversificação e integração produtiva da
economia de Minas ao longo dos anos 70, alguns setores, em 1980, continuavam
significativamente dependentes da economia do resto do país para o suprimento de insumos,
apresentando, desse modo, “vazamentos” significativos para o resto do país. Dentre esses setores
se destacam: indústria do vidro; automóveis, caminhões e ônibus; veículos ferroviários; outros
veículos; indústria da madeira; indústria do mobiliário; fabricação de celulose; indústria da
borracha; refino de petróleo; petroquímica básica e intermediária; resinas, fibras e elastômeros;
perfumaria, sabões e velas; fabricação de laminados plásticos; fibras têxteis artificiais; moagem
de trigo e indústria do fumo. Em outras palavras, o surto de investimentos dos anos 70 não
chegou a promover o adensamento das cadeias produtivas de alguns setores (como material de
transporte, químico e papel e celulose) levando a uma dificuldade em internalizar os benefícios
do crescimento em Minas Gerais, através de consideráveis “vazamentos” inter-regionais. Por
exemplo, a instalação do setor de material de transporte, com a inauguração da Fiat em 1976,
levou, em um primeiro momento, a um crescimento das compras extra-regionais. Somente após
a implantação do Projeto J, pela Fiat em 1989, mais conhecido como “mineirização” da indústria
de autopeças, essa situação foi parcialmente revertida.
21
Ver a esse respeito as análises realizadas por Fernandes (1997) e Haddad et al (2002), baseadas em efeitos de encadeamento e
campos de influência.
Capítulo 2 - As transformações em curso
101
BDMG
40 anos
2.3.2. Fluxos de comércio interestaduais nos anos 90
2.3.2.1. As relações inter-regionais da economia mineira com o resto
do país com base na Matriz Insumo-Produto de 1996
Entre 1980/1995, as transformações experimentadas pela economia mineira foram mais
tênues, mas apontavam, de um lado, para a consolidação do processo de diversificação e integração
da economia mineira iniciado nas décadas anteriores e, de outro, para a preponderância de setores
modernos vis-à-vis os tradicionais. De fato, a análise dos resultados dos indicadores sobre as relações
inter-regionais realizada por Chiari e Duarte Filho (2002), com base na matriz de Insumo-Produto
de 1996, mostra que, em 1996, Minas Gerais obteve um saldo comercial positivo, de
aproximadamente 2,18% do PIB, em suas relações com o resto do país. Adicionalmente, os autores
demonstram que grande parte da demanda total da economia mineira (cerca de 66%) foi atendida
por produtos originários do próprio Estado.
Mesmo reconhecendo a maior diversificação e integração produtiva da economia estadual
ao longo das duas últimas décadas, alguns setores, em 1996, continuavam significativamente
dependentes da economia do resto do país para o suprimento de insumos, apresentando deste
modo “vazamentos” de renda significativos para o resto do país. Nas palavras de Chiari e Duarte
Filho (2002, p. 17),
Pela ótica do consumo intermediário, os setores localizados em Minas Gerais que mais
consomem produtos originários do próprio Estado são: fabricação de aparelhos e equipamentos
de material elétrico (50,82%), indústria do café (49,58%) e abate e preparação de carnes
(49,26%). Já a aquisição de matérias-primas originárias do resto do Brasil é baixa nos
setores non-tradables e relativamente bem distribuída por todos os setores industriais,
embora em alguns segmentos assumam proporções que podem ser consideradas elevadas.
Em contraste, a economia mineira se mostrou importante fornecedora de insumos e bens
finais para a economia brasileira em vários segmentos: fabricação de automóveis, caminhões e
ônibus; fabricação de outros veículos, peças e acessórios; fabricação de equipamentos e aparelhos
de material eletrônico, indústria têxtil e fabricação de artigos de vestuário e acessórios; fabricação
de artigos de madeira e mobiliário; indústria de celulose, papel e gráfica; abate e preparação de
carnes; indústria do café; e resfriamento e preparação de leite e laticínios, outras indústrias
alimentares e bebidas; e fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria;22 . Tal resultado
confirma, de um lado, a competitividade da economia mineira nos complexos metal-mecânico e
agroindustrial, além de indicar o surgimento de novas competências, principalmente em celulose
e papel e produtos farmacêuticos e veterinários. De outro, comparativamente aos resultados da
matriz de 1980, demonstra uma maior diversificação da pauta exportadora inter-regional de Minas.
A análise das relações inter-regionais demonstrou também que, para a grande maioria dos
setores produtivos de Minas Gerais, os impactos de alterações na demanda final estadual sobre o
produto, renda e emprego são maiores na economia do próprio Estado do que na economia do
resto do país. No caso dos multiplicadores de produto, tanto Chiari e Duarte Filho (2002) como
Silva (2001) identificam os complexos metal-mecânico e agroindustrial como aqueles capazes de
gerar os maiores efeitos de propagação sobre a economia mineira. Em especial, os dados mostram
maior capacidade do complexo metal-mecânico em internalizar os efeitos de alterações na demanda
final da própria região, evidenciando que, ao longo da última década, ocorreu um relativo
22
102
Ver Chiari e Duarte Filho (2002), tabela 3, p. 15.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
adensamento das cadeias produtivas do complexo metal-mecânico. Quando se consideram os
efeitos multiplicadores de emprego 23 , a situação anterior se inverte, aparecendo o complexo
agroindustrial, comércio e serviços como aqueles capazes de gerar os efeitos de propagação sobre
a renda estadual mais significativos. O complexo metal-mecânico, em contraste, continua gerando
efeitos de propagação limitados sobre o emprego, fato explicado pela elevada intensidade de capital
desses setores e a adoção de modernas técnicas de produção (por exemplo, adoção de processo de
automação industrial) e gestão (por exemplo, terceirização) que tem aprofundado essa característica
dos setores nos últimos anos. No caso dos multiplicadores de renda24 , o complexo agroindustrial
continua se mostrando gerador de maiores efeitos propagadores sobre a economia mineira.
Entretanto, a siderurgia volta a aparecer com importantes efeitos multiplicadores de renda na
economia mineira.
Finalmente, com base na matriz de insumo produto Minas Gerais/São Paulo/Resto do
Brasil, é possível qualificar melhor o tipo de inserção da economia mineira no complexo metalmecânico nacional. Os dados demonstram que Minas Gerais e São Paulo possuem, entre si, uma
relação inter-regional mais forte do que aquela apresentada por cada um destes estados isoladamente
com o resto do país. De fato, existe uma certa assimetria nas relações inter-regionais estabelecidas
entre essas três regiões. Em primeiro lugar, os fluxos de inter-regionais entre São Paulo e Resto do
Brasil são essencialmente unilaterais, uma vez que São Paulo se apresenta como grande supridor
de insumos para o resto do país, mas pequeno importador. Em segundo lugar, Minas Gerais também
não se mostra grande importador dos insumos do Resto do Brasil, mas atende a sua demanda
intermediária internamente ou através de importações da indústria paulista. Em contraste, o estado
se insere nacionalmente como um grande supridor de insumos da indústria de base e de peças e
veículos para o resto do país. Finalmente, São Paulo e Minas Gerais se relacionam através de
fortes relações de compra e venda naqueles setores em que demonstram maiores níveis de
especialização, denotando a existência de complementaridade horizontal entre os seus parques
industriais metal-mecânico. Nesse caso, vale ressaltar que Minas vem crescentemente se distanciando
de sua antiga inserção como fornecedora de produtos menos elaborados, passando a atuar como
fornecedora de produtos de maior valor agregado nos segmentos mais dinâmicos como material
de transporte, eletroeletrônica e fabricação de máquinas e equipamentos.
2.3.2.2. Os Fluxos de comércio interestaduais, em 1999, a partir da
Matriz de Comércio Interestadual do CONFAZ
A partir da matriz de fluxos de comércio interestadual de bens e serviços, no Brasil de
1999, elaborada por Vasconcelos (2001), com base nos dados do CONFAZ, pode-se analisar a
inserção das várias Unidades da Federação (TAB. 29). Em que pesem os problemas metodológicos,
reconhecidos pelo próprio autor, essa matriz permite fazer inferências qualitativas sobre a situação
da integração inter-regional no final dos anos 90.
23
24
Ver Silva (2001) a esse respeito, quadro 21, p. 76.
Ver Silva (2001) a esse respeito, quadro 22, p. 78.
Capítulo 2 - As transformações em curso
103
104
BDMG
40 anos
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TABELA 29
BRASIL: COMÉRCIO INTERESTADUAL POR VIAS INTERNAS - 1999 - (R$ MILHÕES)
Origem
Import. Import.
Inter-reg. Totais
(A)
(B)
Destino
Norte
Nordeste Sudeste
Minas
Gerais
Espírito Rio de
Santo Janeiro
São
Paulo
Sul
Paraná
Santa Rio Grande CentroCatarina
Sul
Oeste
Norte
1318,1
1720,1
12000,0
1127,4
144,9
1077,1
9650,6
2208,7
822,6
510,3
875,8
2239,2
18168,0 19486,1
Nordeste
2134,4
17679,0
36660,1
5887,4
1109,5
4273,1
25410,1
7163,8
2352,8
1932,2
2878,9
1785,3
47743,6 65422,6
Sudeste
13831,2
64960,6 51217,6 23893,5
11191,0
16133,1 14081,7
97158,4 232500,9
18027,9 135342,5
32816,5 10933,5 26631,9
Minas Gerais
849,3
2050,0
37958,7
Espírito Santo
143,9
772,2
10989,2
4127,1
Rio de Janeiro
1481,1
1907,8
38034,0
6076,3
11356,9
13297,8
48360,6
22613,1
Saõ Paulo
Sul
2439,9
5217,9
30300,9
6484,5
3045,3
1402,7
2036,5
3514,4
2187,5
4674,6
1250,8
591,8
305,7
353,2
307,4
2474,3 13463,5
29985,0
7867,4
3544,7
1912,9
2409,8
1081,8
12338,1 50372,1
35614,9
16711,6
7569,7
11333,5
9178,2
69447,8 117808,4
11295,6 9175578,0
7724,9
5056,7
67628,4 95824,4
5237,1
3262,7
4462,2
3125,0
1051,8
29043,9 37543,7
15153,0 27151,3
1972,7
6521,0 19226,6
1664,9
2712,0
58194,8
4488,3
952,7
6031,0
46722,8 28196,0
Paraná
Santa Catarina
710,8
289,6
901,1
913,1
24307,0
12898,5
1888,5
1023,4
570,3
166,2
1820,0
1735,0
20028,3
9974,0
8499,8
11998,3
7536,1
R.G. do Sul
664,5
897,8
20989,3
1576,3
216,2
2476,1
16720,5
7697,9
3759,5
3938,5
1230,9
959,8
29459,2
4473,9
360,8
2621,5
22003,0
6719,8
3742,6
1204,5
Export. Inter-reg. (A) 18861,4
23419,8 136314,1
15957,0
103786,5 93297,2
30811,5
Export. Totais (B)
41098,7 271656,6 48773456,0 13501,4 40634,6
168747,2 95505,9 42107,0
Centro-Oeste
A/B
20179,6
93,5
FONTE: Vasconcelos,2001,P.12-13
57,0
50,2
0,0
2567,9 14002,7
19,0
34,5
61,5
97,7
73,2
879,9
23431,5
31129,4
3144,5
38369,7 41514,2
14838,0
21660,5 23162,9
269068,1 454748,2
24013,5
29385,3 26307,5
454748,3 454748,2
61,8
1772,7
12898,2 50856,9
73,7
88,0
59,2
BDMG
40 anos
Observa-se, antes de mais nada, a extraordinária integração produtiva inter-regional, com
os fluxos de comércio inter-regional representando 61,5% do total. As regiões Sudeste e Norte
aparecem como exportadoras líquidas de recursos, enquanto as demais são absorvedoras líquidas,
denotando a posição subordinada dessas na divisão inter-regional do trabalho25 . Esse padrão se
repete quando se tomam apenas os saldos comerciais de todas as regiões com a região Sudeste.
Vale destacar que a posição superavitária da região Norte se explica pela forte integração produtiva
entre os parques industriais da Zona Franca de Manaus e de São Paulo: este Estado absorveu
63,2% do total de exportações do Estado do Amazonas. Assim, pode-se concluir que após anos de
esforços para a correção dos desequilíbrios regionais, a região Sudeste continua sendo o centro econômico
do país, detendo 60% das exportações e 51% das importações totais interestaduais em 1999.
Ademais, apesar do patente processo de desconcentração regional ocorrido nas últimas
duas décadas, as transformações estruturais em curso - como a centralização financeira, de serviços
produtivos complexos e de comando econômico - vieram a reforçar a posição do estado de São
Paulo como grande centro econômico do país e principal base nacional de integração econômica.
De fato, não somente o estado foi responsável por ¼ das importações e 1/3 das exportações totais
inter-estaduais, mas também as transações inter-regionais representaram 60% das transações interestaduais realizada pelo estado. Em contraste, Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente
segunda e terceira economias nacionais em volume de transações, apresentaram um grau de
integração inter-regional (comércio total inter-regional/comércio total inter-estadual) de 28%,
enquanto suas transações com São Paulo atingiram aproximadamente 54% das transações totais
realizadas por essas economias. Já as economias do Paraná e Rio Grande do Sul apresentaram um
forte grau de integração inter-regional, em torno de 75%, sendo que as transações com São Paulo
representaram, aproximadamente, 54% de suas transações totais.
Os dados também parecem confirmar a tese de Diniz (1993) de que os efeitos de
transbordamento e acessibilidade têm levado a uma relativa reconcentração econômica no polígono
que compreende os estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Conjuntamente, esses estados são responsáveis, respectivamente, por 58,2% e 68,8% das
importações e exportações totais interestaduais.
Interessa, finalmente, analisar mais detalhadamente a inserção de Minas Gerais nas transações
interestaduais. Minas Gerais detém, hoje, a segunda posição no volume de transações interestaduais
do Brasil, comercializando em torno de R$100 bilhões anuais com os demais estados da federação.
O Estado foi responsável por 11,2% das importações totais e 10,7% das exportações totais,
apresentando um saldo comercial interestadual negativo de R$2,1 bilhões. Esse déficit foi
determinado, sobretudo, pelo déficit comercial com São Paulo (R$ 11,7 bilhões), Paraná (R$ 1,2
bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 550 milhões). Nota-se, portanto, uma inversão de sinal na balança
comercial interestadual de Minas Gerais em relação ao ano de 1996. As razões que poderiam explicar
essa inversão de sinal foram discutidas no Capítulo 1 deste Volume, mas vale lembrar a difícil situação
que a economia mineira vem enfrentado desde meados dos 1990. Essa situação tem-se manifestado
através de significativa contração das intenções de investimento no Estado; pequena atratividade
sobre os capitais estrangeiros; da regressão do segmento produtor de bens de capital; da crise no
agribusiness do café e do leite, dentre outros. Além disso, note-se a forte dependência da economia
mineira em relação à paulista. Em 1999, aproximadamente 80% das importações totais de Minas
Gerais tiveram como origem o Estado de São Paulo e 69% das exportações totais do Estado tiveram
como destino o Estado de São Paulo. Com as demais regiões do Brasil, Minas manteve superávits
comerciais interestaduais, destacando-se o elevado saldo com a região Nordeste (R$3,8 bilhões).
25
Apenas os estados do Amazonas, Espírito Santo, Paraná e São Paulo apresentam saldos comerciais interestaduais positivos. Os
demais estados apresentam saldos comerciais negativos, sendo que o Rio de Janeiro encontra-se em pior posição, com um saldo
negativo de R$9,74 bilhões.
Capítulo 2 - As transformações em curso
105
BDMG
40 anos
2.4. Fluxos de comércio internacional
2.4.1. Comércio exterior de Minas Gerais em uma perspectiva histórica:
dos anos 60 aos anos 80
Até os anos 60, Minas Gerais se inseria nos mercados internacionais como uma economia
regional primário-exportadora, baseada nas exportações de minério de ferro. A partir dos anos
70, como resultado das transformações estruturais pelas quais passou, há uma considerável
mudança na forma de sua inserção com o exterior, principalmente através de expressiva mudança
na pauta de exportações do Estado. Em primeiro lugar, ocorre uma diversificação de sua base
primário-exportadora com a incorporação do café, que adquire crescente importância na pauta
exportadora. Em segundo lugar, os produtos industriais passam a representar uma significativa
parcela das exportações estaduais, de 20% em 1972 para 40% em 1980. Essa relativa
industrialização da pauta exportadora vai decorrer não apenas da ampliação da presença dos
insumos intermediários industriais, da base de especialização tradicional mínero-metalúrgica,
mas também da introdução de bens de consumo duráveis, através do complexo automotivo, e
em menor medida de bens de capital. Esses novos itens industriais de maior complexidade
tecnológica apresentaram um excepcional crescimento na década de 70, passando de 1,8%, em
1972, para 15%, em 1980, no total da pauta exportadora.
Assim, o relativo sucesso da industrialização da economia estadual nessa década vai
gradativamente se refletindo em uma maior competitividade de sua indústria naqueles bens
onde consolida novas vantagens comparativas, o que resultou na destinação de parcelas
crescentes da produção industrial para o exterior. Entre 1972 e 1980, a parcela da produção
industrial exportada mais que dobrou, saltando de 5,5% para 13,33% (BDMG, 1989).
Esse novo perfil da pauta foi decisivo para sustentar o viés exportador da economia
estadual, que historicamente mantém uma participação relativa nas exportações acima da sua
participação no PIB nacional. A própria continuidade da industrialização mineira via substituição
de importações, nos anos 70, tornou-se, dessa forma, sustentável regionalmente. Mesmo seguindo
a política de relativa abertura comercial da economia brasileira na primeira metade dessa década
e a retomada das importações substitutivas do II PND na segunda metade da década, o saldo
comercial manteve-se positivo durante todo o período 1970/80, representando, em média, 7%
do PIB26 .
Nos anos 80, entretanto, a tendência recessiva decorrente da crise externa reverte a pressão
importadora do período anterior enquanto as exportações expandem acentuadamente. O sucesso
do drive-exportador mineiro se materializa na obtenção de expressivos superávits comerciais,
puxados pelas exportações das indústrias de bens intermediários e automobilística e favorecidos
pela contenção das importações via redução do crescimento do produto interno.
26
106
De acordo com estimativas de Haddad et al. (2002), entre 1970 e 1980, as importações cresceram muito acima das exportações:
enquanto as exportações quase quadruplicaram, as importações quintuplicaram.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
2.4.2. Fluxos de comércio internacional nos anos 90: a inserção recente
da economia mineira
2.4.2.1. A evolução da balança comercial a partir de reestimativas das
importações
As tendências do fluxo de comércio internacional, nos anos 90, da economia mineira vão
refletir a ruptura da política comercial brasileira a partir do governo Collor, reorientada para um
rápido processo de abertura unilateral da economia brasileira, através de ampla redução tarifária e
eliminação de barreiras não-tarifárias. Essa reorientação da política comercial brasileira vai ser
reforçada pela mudança da política cambial a partir do Plano Real em 1994, que levou a uma
crescente apreciação da moeda nacional até a maxidesvalorização de 1999.
A análise do comércio externo nesse período foi facilitada pelo novo sistema de informações
da Secretaria de Comércio Exterior – SECEX27 , que disponibiliza as estatísticas de exportação e
importação por categoria de produtos e por unidade da federação. Isto permitiu analisar o
desempenho comercial de Minas Gerais vis-à-vis seus principais estados concorrentes: São Paulo,
Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Entretanto, a forma de registro das importações por
UF cria significativas distorções, tendo em vista que muitas mercadorias são registradas na UF de
desembarque do produto ao invés da UF de destino. Dessa forma, realizamos uma reestimação
das importações para as UF, conforme os procedimentos metodológicos explicitados no Anexo I.
Como se poderá ver, esse novo método de cálculo levou a significativas alterações nos dados
referentes aos volumes importados e saldos comerciais dos estados considerados.
Como se pode observar pelo gráfico de fluxos de comércio internacional (GRAF. 11), a
liberalização comercial em sua primeira fase, no início dos anos noventa, aumentou de forma
crescente as importações e resultou em saldos comerciais decrescentes do país, à medida que as
exportações cresceram a um ritmo bem inferior ao das importações. A segunda fase da liberalização,
iniciada em 1994 e associada com a forte sobrevalorização do Real frente ao Dólar, determinou
saldos comerciais negativos, que começam a ser revertidos apenas após a maxidesvalorização
cambial de 1999. O impacto da política externa da década de 90 sobre a balança comercial das
economias estaduais industrializadas maduras do Sul-Sudeste é bem diferenciado, em função
principalmente da capacidade exportadora dessas economias.
Por um lado, o impacto regional sobre as importações é generalizado e quase linear, próximo
da média brasileira, com um crescimento médio de 230% do total importado no período 1989/97.
Como já identificado no caso brasileiro pela literatura, a maior parte dessa piora no desempenho
externo dos estados esteve associada ao boom de importações de bens de consumo final. De fato,
as pautas de importações dos estados analisados se assemelham muito em sua composição, com
exceção da de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que aparecem como grandes importadores de
produtos metalúrgicos, que são bens intermediários complementares consumidos pelos respectivos
complexos metal-mecânico desses estados. Nas demais categorias de bens, os maiores níveis de
importação se concentram, em ordem decrescente, nos bens de consumo final, na química, nos
bens de capital e produtos primários (exceto trigo). Deve-se observar que, ao longo de toda a
década, as participações relativas dos Estados selecionados nas importações totais brasileiras
mantiveram-se praticamente inalteradas.
27
Denominado Sistema Alice.
Capítulo 2 - As transformações em curso
107
BDMG
40 anos
GRÁFICO 11
US$
US$
US$
US$
US$
FLUXOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL POR ESTADO DA FEDERAÇÃO
Por outro lado, o impacto regional da política externa sobre as exportações é bem diferenciado.
Dentre os estados líderes, São Paulo continua, de longe, dominando as exportações em termos de
volume (35% do total), mas apresentando um desempenho exportador decrescente. Isso porque o
câmbio sobrevalorizado afetou fortemente suas exportações, que apresenta uma pauta mais
diversificada e sofisticada no comércio mundial, mais substitutiva, típica do comércio intra-indústria,
e menos complementar, típica do comércio tradicional interindústria.
O viés exportador de Minas lhe assegurou, ao longo dos anos 90, a manutenção da posição
de segundo principal Estado exportador. A significativa parcela primário-exportadora de sua pauta
explica, paradoxalmente, porque a economia mineira resistiu melhor ao impacto negativo da nova
política externa, pelo menos durante a maior parte da década. Esta parcela primário-exportadora,
café e minério de ferro, possui uma natureza típica do comércio inter-indústria, com grande
complementaridade com as economias industrializadas centrais. Reflete, nesse sentido, vantagens
comparativas consolidadas e “naturais”, mesmo sob o câmbio sobrevalorizado. Sua vulnerabilidade
decorre mais das variações de preços internacionais de commodities do que da política cambial
108
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
doméstica. No entanto, a parcela da pauta baseada no comércio intra-indústria é muito concentrada
em poucos produtos do complexo metal-mecânico, veículos automotores e produtos siderúrgicos, e
ficou crescentemente vulnerável com a sobrevalorização, resultando em uma tendência decrescente
do saldo comercial, que não foi revertido mesmo após a desvalorização do Real, em 1999, e chegou
a um nível alarmante em 2001. O resultado foi uma queda da participação nas exportações nacionais
de 13% para 10%, próximo à participação da economia mineira no PIB do país. Neste ano coincidiu
o decréscimo nas exportações de material de transporte (queda de 40%) e de café (queda de 20%).
Da mesma forma que Minas, os estados do Rio Grande do Sul e Paraná (este, notadamente
a partir da segunda metade dos anos 90) também apresentaram uma inserção ativa no comércio
internacional relativamente às suas contribuições para o PIB nacional ao longo dos anos 90. A
diferença é que essas duas economias estaduais tiveram um melhor desempenho exportador,
possibilitando a manutenção ou crescimento do saldo comercial, ou seja, apresentaram mais
resistência em relação aos impactos negativos da política comercial.
A economia gaúcha vem mantendo a participação de 10% nas exportações brasileiras, com
uma pauta exportadora relativamente diversificada, uma parcela baseada em produtos
complementares típicos do comércio interindústria, complexo agroindustrial e vestuário/calçados,
e a outra em produtos substitutos, próprio do comércio intra-indústria, química (produtos
petroquímicos) e mecânica (máquinas e equipamentos agrícolas).
A economia paranaense, por sua vez, apresentou um rápido crescimento de sua participação
nas exportações brasileiras, saltando de 5,8%, em 1989, para 9,1% em 2001. O carro chefe das
exportações é o complexo agroindustrial, especialmente a cadeia soja/aves, seguida de madeira/
mobiliário. A maior vantagem da pauta exportadora paranaense em relação à mineira encontra-se
no complexo agroindustrial, com produtos mais elaborados e mais dinâmicos no mercado
internacional de commodities. Note-se também que o Paraná vem se tornando rapidamente um
grande exportador de material de transporte, resultado da instalação da indústria automobilística
(RENAULT, AUDI/CHRYSLER) na segunda metade dos 90, refletindo a consolidação desse setor na
indústria estadual. Da mesma forma, esse setor vem ganhando espaço nas exportações do Rio
Grande do Sul (GM). Reflexo dessa mudança no cenário nacional da indústria automobilística é o
rápido declínio da participação das exportações mineiras nas exportações brasileiras de material
de transporte a partir de 1997, concomitante ao acentuado crescimento das exportações do Paraná,
a partir de 1999, e, em menor medida, do Rio Grande do Sul.
No caso do Rio de Janeiro, a instalação da PEUGEOT/CITROEN ainda não se reverteu em
exportações significativas, não contribuindo ainda para a pequena participação da economia estadual
nas exportações nacionais, em torno de 4%. Em contraste com a grande diversificação da pauta de
exportações paulistas, as exportações fluminenses concentram-se em poucos setores, na indústria
metalúrgica (em produtos siderúrgicos) e química (petroquímicos), ao mesmo tempo que não possui
uma base exportadora agroindustrial. Isso explica porque o Estado possui um saldo comercial
estruturalmente negativo ao longo de todo esse período, se constituindo na única economia regional
do núcleo duro da indústria nacional com uma baixa inserção competitiva no mercado internacional.
Em suma, em que pesem as oscilações nas balanças comerciais dos estados analisados ao
longo da década, apenas o Estado do Paraná apresentou uma clara tendência de melhora no
período. Em todos os outros estados, observou-se uma tendência declinante nos saldos comerciais,
pelo menos antes da desvalorização cambial em 1999. Pode-se identificar três padrões de
comportamento distinto da balança comercial entre os estados a partir de 1997. O primeiro
compreende as economias do Rio de Janeiro e São Paulo, quando há uma leve melhora nas balanças
comerciais, graças principalmente à contenção das importações, sem contudo retornar aos níveis
do início da década. O segundo padrão compreende as economias do Sul - Paraná e Rio Grande do
Sul - a partir de 1999, quando ambas economias demonstram uma reação mais acentuada frente a
Capítulo 2 - As transformações em curso
109
BDMG
40 anos
desvalorização do real, praticamente retornando, seus saldos comerciais aos níveis do início da década.
Finalmente, o terceiro padrão compreende apenas a economia mineira. Diferentemente das demais
economias analisadas, Minas esboça uma transitória melhora em sua balança comercial, entre 1997
e 1999, para em seguida atingir o mais baixo superávit comercial da década. Note-se que Minas
também apresentou, no início da década, o maior saldo comercial dentre as economias analisadas.
Entretanto, já em 1992, o Rio Grande do Sul assume a liderança na geração de saldos positivos.
2.4.2.2. Estrutura da pauta de exportações de Minas Gerais
A pauta exportadora de Minas Gerais reflete as vantagens comparativas detidas pelo Estado
em recursos naturais, estando concentrada em produtos básicos, sobretudo commodities minerais e
agrícolas (a exemplo do café em grão e do minério de ferro). A importância de commodities na pauta
de exportação de Minas, o recuo gradativo dos seus preços internacionais ao longo da década, a
pouca ênfase atribuída à política de comércio exterior no país, bem como a inexistência de
programas de desenvolvimento tecnológico voltados para produtos potencialmente exportáveis
pelo Estado, são fatores que explicam o decepcionante desempenho das exportações mineiras
frente à média nacional, como discutido anteriormente.
Diferentemente do ocorrido com as exportações brasileiras, cujo crescimento nos anos 90
está relacionado, principalmente, ao maior dinamismo das exportações de produtos manufaturados
(taxa de 91,8%), registra-se, no caso mineiro, uma taxa de crescimento bem mais modesta para esse
grupo de produtos (de apenas 33,9%, na mesma base de comparação). Assim, Minas Gerais termina
a década de 90 sem apresentar grandes alterações na composição de sua pauta de exportação: no ano
2000, os produtos básicos ainda respondiam por 42,8% do valor total exportado (22,8% no caso de
Brasil), os semimanufaturados por 24,5% (15,4% no caso de Brasil), e os produtos manufaturados
por pouco mais de um terço da pauta mineira, 32,7% (contra 59,8% no caso brasileiro).
A performance mineira contrasta com a de estados como São Paulo, maior exportador
nacional, e Rio Grande do Sul, que ocupa a terceira posição no ranking nacional, após Minas
Gerais. No caso de São Paulo, por exemplo, os produtos manufaturados, de maior valor agregado,
respondem por 89% da pauta de exportação e apresentaram crescimento de 82% na década. O
Rio Grande do Sul também tem conseguido avançar em termos de agregação de valor à sua pauta
de exportação: atualmente, os manufaturados respondem pela maior parcela das vendas externas
desse estado, 61,6%; os básicos representam 27,1% e os semimanufaturados respondem por 11,3%.
Além disso, a dinâmica de crescimento das exportações do Rio Grande do Sul tem se sustentado
no acelerado ritmo de crescimento das exportações de produtos de maior valor agregado - os
manufaturados, cuja taxa de crescimento positiva foi da ordem de 103,6% na década (para os
produtos básicos a taxa foi de 20,5% e para semimanufaturados foi de 52,2%).
Entretanto, é importante ressaltar que essa forma de agregação dos produtos exportados
(básicos, semi-manufaturados, manufaturados) esconde importantes mudanças estruturais nas
pautas exportadoras dos Estados, notadamente na de bens industrializados. Nesse caso, como
demonstrado na seção 2.4.2.3, Minas Gerais se coloca numa posição favorável quando se considera
a maior diversificação de sua pauta de bens industrializados relativamente ao Rio Grande do Sul
(excessivamente concentrada em calçados e agronegócios) e sua inserção em setores superavitários
do comércio exterior brasileiro (siderurgia) e em setores bastante competitivos no mercado mundial
(material de transporte, por exemplo).
Em termos de grupos de produtos, as exportações mineiras se concentram em commodities
minerais e agrícolas (a exemplo do minério de ferro e café em grão) e produtos metalúrgicos,
especialmente os siderúrgicos (TAB. 31). No que se refere às exportações de produtos manufaturados,
o destaque principal se refere ao grupo veículos-material de transporte e autopeças em geral.
110
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
DISTRIBUIÇÃO E EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES POR TIPO DE PRODUTO - BRASIL E ESTADOS
SELECIONADOS - 1985 E 1991-2000
ÍNDICE DO VALOR EXPORTADO (1990=100)
Item
Básicos
Semiman.
Manufat.
97,6
99,8
101,0
107,1
126,4
125,4
136,1
165,5
148,4
135,3
143,6
54,0
105,0
101,1
106,6
135,0
179,1
162,8
166,0
159,0
156,3
166,4
61,2
115,3
101,3
77,7
93,2
78,4
78,6
100,7
73,5
86,5
78,9
BDMG
40 anos
TABELA 30
PARTICIPAÇÃO (%) (1)
Total(2)
Básicos
Semiman.
Manufat.
81,9
100,0
142,6
136,4
146,5
150,0
154,8
169,9
171,2
159,3
191,8
81,6
100,7
113,9
122,7
138,6
148,0
152,0
168,7
162,8
152,8
175,4
33,3
27,6
24,7
24,3
25,4
23,6
24,9
27,3
25,4
24,7
22,8
10,8
17,0
14,4
14,1
15,8
19,7
17,4
16,0
15,9
16,6
15,4
54,8
54,3
68,5
60,8
57,8
55,4
55,7
55,1
57,5
57,0
59,8
83,6
105,0
127,7
135,8
199,2
277,1
265,8
215,7
238,6
257,7
218,2
76,6
95,9
118,4
122,7
131,0
141,4
147,9
162,5
167,2
156,3
182,2
75,1
98,6
116,8
118,1
129,7
140,3
145,3
157,7
159,6
152,9
171,9
9,5
13,6
10,1
7,6
8,4
6,5
6,3
7,4
5,4
6,6
5,3
5,1
4,9
5,0
5,3
7,1
9,1
8,4
6,3
6,9
7,7
5,8
85,4
81,5
84,9
87,1
84,6
84,4
85,3
86,3
87,8
85,7
88,8
82,6
111,2
94,8
107,5
147,1
146,2
144,4
192,2
210,0
175,8
173,9
42,4
103,3
84,6
83,9
87,9
112,7
113,7
116,0
111,8
103,2
125,3
64,3
100,9
131,5
129,9
128,8
119,9
116,6
154,3
162,0
129,5
133,9
64,6
105,3
105,0
108,8
123,8
127,4
125,9
157,1
165,0
138,7
145,9
45,9
37,9
32,4
35,5
42,7
41,2
41,2
43,9
45,7
45,5
42,8
18,7
27,9
22,9
22,0
20,2
25,2
25,7
21,0
19,3
21,2
24,4
35,4
34,2
44,6
42,5
37,1
33,5
33,0
35,0
35,0
33,3
32,7
73,8
79,9
118,5
129,8
118,1
117,0
140,3
168,9
137,3
115,7
120,5
76,7
87,5
106,1
117,2
151,3
186,6
169,8
172,7
173,0
158,1
152,2
79,2
109,3
136,3
173,6
165,1
166,5
180,9
193,8
179,7
162,8
203,7
77,5
95,7
126,1
150,4
146,1
150,5
164,5
195,3
163,5
145,2
167,9
35,4
31,1
35,0
32,1
30,1
28,9
31,7
32,2
31,3
29,7
26,7
11,8
10,9
10,0
9,3
12,3
14,8
12,3
10,5
12,6
13,0
10,8
51,7
57,8
54,7
58,3
57,2
55,9
55,6
50,2
55,6
56,7
61,3
Brasil
1985
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
São Paulo
1985
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Minas Gerais
1985
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Rio Grande do Sul
1985
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
FONTE: MDIC/SECEX. Elaboração:CEVFJP.
(1)
Refere-se à participação de cada grupo no total das exportações. (2)Incl. Op. Especiais.
Capítulo 2 - As transformações em curso
111
BDMG
40 anos
TABELA 31
PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS EXPORTADOS POR MINAS GERAIS - 1992-2000 (%)
GRUPOS DE PRODUTOS
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Minérios (26)
25,81
24,25
21,27
22,01
22,95
19,07
24,04
22,90
24,88
Aço/Ferro/Ferro Fundido (72)
35,41
33,16
27,03
27,92
26,95
18,40
16,93
17,88
20,63
5,01
9,07
18,11
16,53
15,52
22,97
19,40
20,49
14,85
Café (09) (1)
Veículos automóveis/Tratores/ciclos (87)
14,21
11,62
10,84
7,93
6,43
13,28
14,56
12,62
9,69
Papel e Celulose (47+49)
2,60
1,82
2,14
3,90
3,41
3,82
3,40
4,29
5,51
Químicos(28+29+32+34+...+37)
2,37
2,47
2,17
3,14
3,83
3,37
2,55
3,14
3,36
Pérolas/Pedras e Metais preciosos (71)
0,39
0,95
2,33
2,45
3,83
2,86
2,63
2,95
3,21
Máquinas e Equipamentos Mecânicos (84)
2,95
4,08
3,80
3,49
3,14
2,73
2,79
2,77
2,94
Semimanufaturados Ferro e Aço (73)
2,49
3,25
2,19
2,16
3,13
2,15
1,85
1,93
2,06
Material Elétrico/Instrumentos de Comunicação (85)
1,12
1,28
1,23
1,54
1,44
1,55
1,39
1,75
1,89
Produtos Cerâmicos/Obras Pedra-Gesso-Vidro
(68+69+70)
0,83
1,14
1,08
1,19
1,42
1,50
1,49
1,47
1,31
Alimentares (16+17+...+21+23)
0,73
0,64
1,01
1,13
1,12
1,57
0,99
1,38
1,26
Outros Metais Comuns e suas Obras
(74+75+77+78+80+...83)
0,14
0,31
0,19
0,27
0,22
0,36
0,55
0,91
1,20
Alumínio/Zinco e suas Obras (76+79)
2,80
1,69
1,42
1,53
1,30
0,69
0,40
0,81
0,93
Plásticos e Borrachas (39+40)
0,25
0,56
0,75
0,67
0,65
0,98
0,79
0,48
0,90
Couros e Peles(41+42+43)
0,27
0,32
0,33
0,67
0,80
0,73
0,60
0,56
0,69
Têxteis (50+51+...+60)
0,61
0,58
0,55
0,58
0,69
0,46
0,42
0,47
0,59
Cimento e Outros Produtos Minerais (25+27)
0,41
0,34
0,29
0,31
0,30
0,26
0,24
0,43
0,55
Carnes (02)
0,28
0,27
0,16
0,12
0,16
0,12
0,12
0,27
0,50
Confecções (61+62+63)
0,13
0,09
0,06
0,07
0,09
0,07
0,06
0,09
0,30
Móveis e Madeira (44+...+46+94)
0,08
0,10
0,23
0,19
0,10
0,29
0,23
0,18
0,22
Calçados (64)
0,13
0,16
0,17
0,11
0,07
0,05
0,04
0,05
0,08
Perfumaria e Toucador (33)
0,00
0,00
0,00
0,02
0,02
0,03
0,04
0,06
0,08
Laticínios (05)
0,04
0,26
0,01
0,01
0,01
0,04
0,04
0,03
0,07
Farmacêuticos (30)
0,02
0,07
0,03
0,02
0,03
0,03
0,05
0,06
0,06
Frutas (08)
0,06
0,09
0,04
0,02
0,04
0,04
0,04
0,04
0,03
Fumo (23)
0,00
0,05
0,04
0,01
0,28
1,11
2,37
0,06
0,01
Bebida (22)
0,01
0,00
0,02
0,00
0,03
0,04
0,01
0,00
0,00
0,85
1,38
2,54
2,01
2,06
1,42
1,97
1,93
2,18
Demais
Total
100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
FONTE: CEI/FJP apartir de dados dos MDIC.
Os números entre parêntesis se referem ao código dos capítulos da Nomeclatura Comum do Mercosul-Sistema
Harmonizado (NBM-SH).
Note-se, entretanto, a tendência de crescimento registrada para um conjunto de produtos
industrializados ao longo dos últimos anos, confirmando a crescente diversificação da pauta
exportadora mineira em direção a bens de maior valor agregado.
112
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
A pauta de exportações brasileira, experimentou uma significativa diversificação ao longo
das quatro últimas décadas, especialmente se comparada com outros países da América Latina,
com a única exceção do México que também fez importantes progressos em direção à diversificação
para produtos mais elaborados. No entanto, em torno de 60% da pauta brasileira ainda concentrase em produtos baseados em recursos naturais, agronegócio, minerais metálicos e commodities
industriais, como produtos metalúrgicos, celulose e papel (TAB. 32). Os produtos do agronegócio,
in natura ou de processamento primário, continuam como o principal sustentáculo da pauta
exportadora, não apenas em termos de sua participação no valor exportado, entre 27% e 30%,
como também na geração líquida de divisas externas. O grupo dos setores industriais com maior
conteúdo tecnológico possui em torno de 35% da pauta, sendo setores pertencentes aos complexos
metal-mecânico e químico. O setor de material de transportes lidera as exportações desse grupo,
com uma participação na pauta em torno de 15%, sendo que os 20% restantes estão distribuídos
entre os setores químico, material elétrico e comunicações e mecânica.
BDMG
40 anos
2.4.2.3. Estrutura setorial do comércio exterior de bens industrializados
TABELA 32
PAUTA DE EXPORTAÇÕES DE BENS INDUSTRIALIZADOS: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS
CONCORRENTES,1990 (%)
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
PR
RS
Outras
Brasil
Extrativa Mineral
30,04
0,06
0,50
0,01
0,30
16,85
9,14
Agronegócio
6,64
26,66
3,82
65,05
44,17
29,68
27,71
Produtos de Minerais Não-Metálicos
0,40
0,88
1,77
1,53
0,03
0,87
0,79
Metalúrgia
38,85
10,28
46,33
1,77
3,50
18,59
17,18
Bens de Capital
0,67
7,77
1,36
2,87
3,18
0,39
3,60
Mat. Elétrico e de Comunicações
1,20
9,30
3,37
0,87
1,58
3,13
4,79
Material de Transporte
13,66
20,04
5,74
3,14
1,84
2,77
10,66
Madeira e Mobiliário
0,02
0,98
0,10
3,79
0,77
2,94
1,48
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
Borracha
3,49
0,02
4,08
2,17
1,24
2,50
5,22
0,04
2,48
0,22
4,74
0,01
3,94
0,93
Química
3,20
7,70
16,56
5,28
8,41
9,08
7,77
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
0,12
0,52
1,57
0,09
0,02
0,38
0,39
Produtos de Matérias Plásticas
0,04
0,46
0,50
0,14
0,12
0,39
0,33
Textil
0,55
3,62
1,98
6,20
1,06
5,30
3,43
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
0,44
2,36
1,79
3,21
31,08
1,88
5,12
Bebidas
0,00
0,29
0,54
0,06
0,12
0,07
0,16
Diversas
Total
0,64
2,85
10,32
0,74
1,12
2,92
2,58
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Continua...
Capítulo 2 - As transformações em curso
113
BDMG
40 anos
TABELA 32
(Continuação)
PAUTA DE EXPORTAÇÕES DE BENS INDUSTRIALIZADOS: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS
CONCORRENTES, 1997 (%)
MG
Extrativa Mineral
19,58
0,05
0,73
0,01
0,17
12,24
6,15
Agronegócio
26,79
22,04
4,99
69,80
40,75
30,42
31,06
Produtos de Minerais Não-Metálicos
Metalúrgia
Bens de Capital
Mat. Elétrico e de Comunicações
SP
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
RJ
PR
RS
SETOR
Outras
Brasil
1,50
1,31
2,07
0,82
0,20
1,65
1,28
23,93
7,66
34,81
0,78
3,10
19,35
12,86
1,00
8,73
2,54
4,27
6,07
0,90
4,56
1,55
8,92
1,81
1,09
2,51
3,98
4,82
15,19
26,31
2,46
6,39
4,76
4,32
13,49
Madeira e Mobiliário
0,27
0,74
0,09
7,00
2,41
6,14
2,94
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
3,82
3,86
0,41
3,07
1,64
5,38
3,83
Borracha
0,20
2,88
2,84
0,05
1,00
0,13
1,26
Química
3,84
6,50
21,09
2,29
7,71
6,78
6,45
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
Produtos de Matérias Plásticas
0,11
0,23
1,28
0,85
4,27
0,69
0,09
0,08
0,14
0,21
0,59
0,34
0,78
0,47
Textil
0,48
2,27
2,26
1,41
0,67
3,50
2,10
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
0,81
2,11
0,54
2,03
26,76
1,61
4,65
Material de Transporte
Bebidas
0,04
0,34
0,38
0,07
0,35
0,20
0,24
Diversas
0,67
4,15
18,02
0,75
1,57
2,47
3,04
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Total
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
TABELA 32 (Continuação)
PAUTA DE EXPORTAÇÕES DE BENS INDUSTRIALIZADOS: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS
CONCORRENTES, 2001 (%)
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
Extrativa Mineral
27,06
0,01
30,10
0,01
0,20
10,00
7,08
Agronegócio
Produtos de Minerais Não-Metálicos
19,89
1,43
19,88
1,16
1,20
2,37
53,33
0,61
39,02
0,21
30,42
1,64
27,41
1,23
Metalúrgia
RJ
PR
RS
Outras
Brasil
9,55
24,90
5,39
16,30
0,84
2,85
13,30
Bens de Capital
0,97
6,31
2,11
2,57
4,88
0,93
3,47
Mat. Elétrico e de Comunicações
1,87
11,82
1,30
0,99
2,29
6,72
6,80
Material de Transporte
9,62
30,11
3,19
21,94
6,58
6,82
16,56
Madeira e Mobiliário
0,26
0,59
0,07
10,09
3,66
5,93
3,34
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
5,16
3,53
0,55
2,60
1,70
5,23
3,80
Borracha
0,13
2,43
1,81
0,05
1,19
0,04
1,09
Química
3,58
7,17
21,36
2,14
7,64
7,90
7,19
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
0,11
1,61
2,34
0,17
0,11
0,27
0,79
Produtos de Matérias Plásticas
0,32
0,93
0,60
0,17
0,24
0,34
0,53
Textil
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
1,07
1,36
1,57
2,23
1,38
0,32
0,95
1,67
0,72
26,35
3,58
2,36
1,96
4,68
Bebidas
0,00
0,17
0,26
0,10
0,11
1,25
0,47
Diversas
Total
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
114
SP
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
2,27
5,06
14,75
1,77
2,25
3,28
4,03
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
BDMG
40 anos
Para efeito de uma estimativa básica do nível de sustentabilidade externa setorial, foi
calculado o coeficiente (s), valor das exportações sobre o valor das importações de cada setor, de
tal forma que quanto maior for s maior a capacidade de um determinado setor financiar suas
necessidades de importação. Se s for maior do que 1 pode-se dizer que as importações setoriais
são auto-sustentadas por suas exportações. Caso contrário, se s for menor do que 1, as importações
setoriais são vulneráveis e vão depender dos saldos líquidos dos setores superavitários.
Como está evidenciado na TAB. 33, poucos setores da pauta exportadora brasileira são
auto-sustentados e apresentam superávit significativo para financiar as importações dos setores
deficitários. Os resultados do coeficiente s para os anos 1992, 1997 e 2001 indicam que apenas o
grupo seleto de setores baseados em recursos naturais28 e commodities industriais, que respondem
por grande parte daqueles 65% da pauta exportadora brasileira, é que permanecem superavitários
ao longo de todo o período, mesmo que apresentem oscilações em função das grandes mudanças
vividas pela economia brasileira, no nível de preços, do produto e das políticas macroeconômicas.
Em contraste, os setores de maior conteúdo tecnológico da metal-mecânica e química são, de
forma quase generalizada, estruturalmente deficitários. A única exceção é o setor de material de
transportes, que oscila de um coeficiente superavitário, em 1992, para deficitário, em 1997, e
novamente superavitário, em 2001, dando fortes evidências de sua sensibilidade cambial.
TABELA 33
SUSTENTABILIDADE EXTERNA*: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 1992
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
Extrativa Mineral
2,98
0,00
0,01
Agronegócio
1,82
5,63
0,29
Produtos de Minerais Não-Metálicos
1,71
2,65
Metalúrgica
8,26
3,51
Bens de Capital
0,28
Mat. Elétrico e de Comunicações
Material de Transporte
Madeira e Mobiliário
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
Borracha
PR
RS
Outras
Brasil
0,00
0,02
1,69
0,68
8,33
7,11
6,05
4,85
1,75
3,02
2,10
4,15
2,77
5,92
1,75
3,62
13,03
6,34
1,06
0,15
0,77
1,99
0,12
0,74
0,21
1,14
0,12
0,19
0,32
0,64
0,66
3,83
3,77
0,80
0,90
1,28
0,67
2,31
0,83
8,09
0,50
46,43
14,00
44,11
16,91
10,98
0,22
3,13
2,05
0,47
3,35
6,20
1,19
6,03
0,71
12,58
0,28
5,10
1,89
Química
0,42
0,48
0,48
0,23
0,78
1,30
0,62
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
0,10
0,33
0,58
0,09
0,03
0,40
0,31
Produtos de Matérias Plásticas
1,21
1,28
1,01
0,65
0,94
1,10
1,18
Têxtil
0,68
2,37
1,36
3,69
3,36
3,83
2,67
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
0,97
4,11
0,64
5,88
83,07
3,76
9,79
Bebidas
0,03
0,58
0,70
0,23
0,84
0,21
0,46
Diversas
0,22
1,21
1,33
0,28
0,71
0,95
0,96
Total
2,30
1,52
0,69
1,58
2,67
2,31
1,74
Continua...
28
Excluindo as importações de petróleo e gás natural da extrativa mineral, seu coeficiente de sustentabilidade externa fica dentre
os mais altos deste grupo superavitário.
Capítulo 2 - As transformações em curso
115
BDMG
40 anos
TABELA 33
(Continuação)
SUSTENTABILIDADE EXTERNA*: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 1997
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
PR
RS
Outras
Brasil
Extrativa Mineral
3,05
0,01
0,02
0,00
0,03
2,12
0,77
Agronegócio
3,76
2,01
0,16
9,57
5,10
4,30
3,33
Produtos de Minerais Não-Metálicos
1,57
1,16
1,04
1,41
0,81
1,91
1,42
Metalúrgica
Bens de Capital
2,41
0,12
1,17
0,40
1,56
0,09
0,68
0,48
1,15
0,83
5,54
0,09
2,25
0,32
Mat. Elétrico e de Comunicações
0,10
0,37
0,02
0,08
0,19
0,28
0,25
Material de Transporte
1,20
1,35
0,04
0,57
0,46
0,38
0,86
Madeira e Mobiliário
0,64
1,13
0,04
18,49
6,88
16,03
5,54
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
5,92
0,90
0,03
3,39
1,70
5,11
1,51
Borracha
0,89
0,94
0,77
0,13
0,73
0,47
0,86
Química
0,45
0,24
0,42
0,20
0,47
0,56
0,35
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
0,03
0,24
0,27
0,03
0,05
0,19
0,18
Produtos de Matérias Plásticas
0,65
0,37
0,31
0,12
0,36
0,36
0,36
Têxtil
0,17
0,42
0,62
0,98
0,75
0,82
0,56
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
0,76
1,29
0,11
2,13
30,50
1,67
3,50
Bebidas
Diversas
0,06
0,17
0,31
0,68
0,12
0,98
0,12
0,21
0,61
0,48
0,32
0,70
0,27
0,62
Total
1,20
0,66
0,27
1,39
1,34
1,24
0,89
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
* Sustentabilidade Externa = Exportações / Importações
TABELA 33
(Continuação)
SUSTENTABILIDADE EXTERNA*: MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 2001
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
Extrativa Mineral
3,75
0,00
Agronegócio
4,42
3,61
Produtos de Minerais Não-Metálicos
1,68
Metalúrgica
2,25
Bens de Capital
Mat. Elétrico e de Comunicações
Material de Transporte
Madeira e Mobiliário
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
PR
RS
1,34
0,00
0,10
11,76
1,74
2,11
1,07
1,09
0,13
0,45
0,09
0,77
0,50
2,04
Brasil
0,04
2,08
0,99
6,96
7,99
5,38
1,63
0,96
2,87
2,05
0,73
1,11
3,91
1,93
0,15
0,23
0,94
0,14
0,35
0,02
0,08
0,07
2,39
0,17
0,78
0,50
0,82
0,34
1,34
0,93
1,80
0,08
49,44
19,51
32,14
12,15
13,71
1,40
0,17
2,02
2,32
4,58
2,36
Borracha
0,31
0,96
0,67
0,23
0,98
0,18
0,86
Química
0,28
0,28
0,48
0,17
0,43
0,61
0,37
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
0,02
0,30
0,16
0,05
0,04
0,09
0,17
Produtos de Matérias Plásticas
0,76
0,50
0,51
0,25
0,46
0,48
0,49
Têxtil
0,47
0,69
0,98
1,54
1,35
1,79
1,08
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
1,87
2,60
0,14
3,11
53,34
4,87
6,47
Bebidas
0,01
0,25
0,14
0,22
0,27
3,18
0,80
Diversas
0,55
1,03
1,14
0,58
0,80
1,19
0,98
Total
1,11
0,84
0,40
1,43
1,46
1,54
1,05
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
* Sustentabilidade Externa = Exportações / Importações
116
Outras
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Essa estrutura do comércio externo brasileiro tem mostrado grande rigidez a mudanças
desde a segunda metade dos anos 80, quando ocorre o processo de maturação dos vultosos
investimentos do II PND (Castro e Pires de Souza, 1984), que realizou a última mudança
estrutural na indústria de transformação brasileira e, portanto, alterou pela última vez os
fatores estruturais de nossa competitividade externa. É evidente que essa rigidez da pauta
reflete as próprias dificuldades de nossa industrialização tardia, particularmente no que diz
respeito aos obstáculos tecnológicos à progressão para uma etapa superior da substituição de
exportações, vale dizer, para os produtos mais elaborados da metal-mecânica e da química.
A pauta e o desempenho exportador dos estados vão refletir, de um lado, as
características da industrialização de cada economia estadual. Mas refletem também, de outro
lado, as dificuldades estruturais do conjunto da indústria brasileira, cujo hiato de capacitação
tecnológica em relação à melhor prática internacional afeta de forma generalizada, mesmo
que diferenciada, as indústrias locais via trocas inter-regionais, haja visto o elevado nível de
integração produtiva interestadual sob a dominância da indústria paulista, especialmente de
seu complexo metal-mecânico. Aparentemente, a grande vantagem comparativa da economia
mineira no setor externo em relação a maior parte das economias estaduais é o fato de sua
pauta de exportação congregar o que se pode denominar de “núcleo duro” das exportações
brasileiras. Sua pauta exportadora contém, por um lado, os produtos principais do grupo
seleto de setores que são simultaneamente superavitários na balança comercial (s > 1) e
respondem por mais de 60% do total das exportações do país (extrativa mineral, agronegócio,
metalurgia, celulose e papel). Possui, por outro lado, o setor da metal-mecânica mais
competitivo no mercado externo, qual seja, o de material de transporte (TAB. 32) Em todos
esses setores o Estado mineiro possui significativa participação nas exportações setoriais do
país (TAB. 34) mesmo que ocorram oscilações dessa participação nos anos 90 em função de
variações dos preços de commodities do mix de produtos de especialização estadual. Como
esperado, a sustentabilidade externa da economia estadual se mantém ao longo deste período
recente mesmo que decrescente, em função principalmente do desempenho ruim do setor de
material de transporte, que apresenta uma sustentabilidade em declínio a partir do Plano Real
e dos acordos automotivos com a Argentina.
No entanto, essa aparente vantagem na composição setorial da pauta exportadora
encobre desvantagens relacionadas especificamente ao mix de produtos da especialização
exportadora mineira. O primeiro refere-se à gradual perda de participação das exportações na
extrativa mineral, fragilizadas pela consolidação do complexo mineral de Carajás. A busca de
um gradual redirecionamento das exportações para minerais não-ferrosos mais dinâmicos
existentes no Estado não parece suficiente para reverter esta tendência declinante, como
poderá ser melhor elucidada no Capítulo 3 deste volume do Diagnóstico. O segundo aspecto
refere-se ao problema das exportações de café, o sustentáculo do agronegócio de Minas no
comércio externo. Existem problemas de monta na cadeia cafeeira estadual, desde a qualidade
do produto, na esfera da produção, até restrições na esfera da comercialização do produto no
mercado mundial. Dada a relativa pulverização dos agentes da cadeia, o enfrentamento desses
problemas exige uma ação específica do setor público, como sugerido por Lemos et al (2001).
Por fim, os setores da metal-mecânica são competitivos mas falta diversificação da pauta intracomplexo, excessivamente dependente de poucos produtos, como automóveis e produtos básicos
de aço plano. Mesmo havendo obstáculos evidentes da industrialização mineira nos produtos
dos setores de material elétrico, eletrônicos e de comunicações, seria possível melhorar o mix
exportador da metal-mecânica dentro da própria cadeia automotiva e metalúrgica.
Capítulo 2 - As transformações em curso
117
BDMG
40 anos
TABELA 34
PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) NAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS DE BENS INDUSTRIALIZADOS:
MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 1990
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
PR
RS
Extrativa Mineral
48,12
0,25
0,25
0,01
0,36
Outras
Brasil
51,01
100,00
Agronegócio
3,51
34,78
0,64
13,96
17,47
29,65
100,00
Produtos de Minerais Não-Metálicos
7,33
40,12
10,35
11,46
0,44
30,31
100,00
33,11
2,72
21,62
78,09
12,48
1,76
0,61
4,75
2,23
9,68
29,95
3,01
100,00
100,00
3,68
70,25
3,26
1,08
3,63
18,10
100,00
18,76
67,91
2,49
1,75
1,89
7,19
100,00
0,23
23,82
0,31
15,18
5,65
54,80
100,00
100,00
Metalúrgica
Bens de Capital
Mat. Elétrico e de Comunicações
Material de Transporte
Madeira e Mobiliário
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
12,99
37,46
1,46
7,88
6,89
33,33
Borracha
0,33
84,23
12,46
0,24
2,57
0,17
100,00
Química
6,04
35,83
9,87
4,05
11,86
32,36
100,00
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
4,55
48,00
18,64
1,31
0,66
26,84
100,00
Produtos de Matérias Plásticas
1,96
51,00
7,13
2,63
3,95
33,32
100,00
Têxtil
2,36
38,09
2,67
10,74
3,39
42,75
100,00
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
1,27
16,64
1,62
3,72
66,55
10,19
100,00
Bebidas
Diversas
0,26
3,62
62,64
40,05
15,14
18,55
2,24
1,72
8,18
4,75
11,55
31,31
100,00
100,00
14,64
36,15
4,63
5,95
10,96
27,67
100,00
Total
TABELA 34
(Continuação)
PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) NAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS DE BENS INDUSTRIALIZADOS:
MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 1997
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
RJ
Extrativa Mineral
Agronegócio
43,39
0,28
0,39
0,01
11,76
24,23
0,53
20,58
Produtos de Minerais Não-Metálicos
15,99
34,86
5,29
5,88
Metalúrgica
25,37
20,33
8,86
2,98
4,37
65,35
63,13
1,82
1,23
15,35
66,58
1,27
8,60
Bens de Capital
Mat. Elétrico e de Comunicações
Material de Transporte
Madeira e Mobiliário
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
RS
Outras
Brasil
0,33
55,59
100,00
15,53
27,37
100,00
1,82
36,16
100,00
0,55
2,85
42,04
100,00
8,58
2,06
15,74
6,17
5,54
23,04
100,00
100,00
0,60
4,34
4,18
8,95
100,00
0,10
21,85
9,69
58,49
100,00
100,00
13,60
34,40
0,35
7,34
5,06
39,24
Borracha
2,14
77,86
7,35
0,37
9,36
2,91
100,00
Química
8,12
34,42
10,70
3,26
14,13
29,37
100,00
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
1,95
55,99
17,98
1,01
2,06
21,02
100,00
Produtos de Matérias Plásticas
6,61
61,72
4,81
1,64
5,20
20,03
100,00
Têxtil
3,11
36,93
3,52
6,14
3,77
46,53
100,00
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
2,37
15,50
0,38
3,99
68,08
9,68
100,00
Bebidas
2,43
48,57
5,23
2,88
17,50
23,40
100,00
Diversas
Total
3,01
13,64
46,57
34,14
19,37
3,27
2,24
9,16
6,08
11,83
22,72
27,95
100,00
100,00
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
118
PR
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Continua...
(Continuação)
BDMG
40 anos
TABELA 34
PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) NAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS DE BENS INDUSTRIALIZADOS:
MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES, 2001
UNIDADE DA FEDERAÇÃO
SETOR
MG
SP
Extrativa Mineral
39,68
0,06
Agronegócio
RJ
PR
RS
17,54
0,01
0,31
Outras
Brasil
42,41
100,00
7,54
25,68
0,18
17,77
15,51
33,32
100,00
Produtos de Minerais Não-Metálicos
12,12
33,50
7,96
4,56
1,85
40,02
100,00
Metalúrgica
Bens de Capital
27,08
2,90
20,00
64,44
7,04
2,51
0,80
6,78
3,25
15,34
41,82
8,03
100,00
100,00
Mat. Elétrico e de Comunicações
2,86
61,63
0,79
1,32
3,68
29,71
100,00
Material de Transporte
6,03
64,39
0,79
12,10
4,33
12,36
100,00
Madeira e Mobiliário
0,80
6,26
0,09
27,58
11,96
53,32
100,00
100,00
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica
14,08
32,91
0,60
6,24
4,87
41,29
Borracha
1,21
78,58
6,83
0,44
11,82
1,11
100,00
Química
5,17
35,30
12,26
2,72
11,57
32,98
100,00
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
1,46
72,58
12,28
2,01
1,53
10,14
100,00
Produtos de Matérias Plásticas
6,33
62,28
4,63
2,95
4,87
18,94
100,00
Têxtil
5,67
28,38
2,91
4,40
3,97
54,67
100,00
Vestuário, Calçados e Art. de Tecidos
3,01
16,92
0,28
3,26
61,38
15,15
100,00
Bebidas
Diversas
0,09
5,86
13,18
44,48
2,31
15,10
1,90
4,01
2,52
6,09
80,01
24,46
100,00
100,00
10,39
35,42
4,13
9,13
10,90
30,03
100,00
Total
FONTE: SECEX - Aliceweb. Elaboração Própria.
É exatamente na cadeia automotiva em que ocorrem os maiores avanços de participação
do Paraná e Rio Grande do Sul nas exportações brasileiras durante os anos 90 (TAB. 32), o que
contribuiu para elevar o grau, já significativo, de sustentabilidade dessas duas economias sulinas
após a desvalorização do Real em 1999 (TAB. 33). Como já salientado na seção anterior, o
adensamento do complexo metal-mecânico paranaense parece explicar a melhoria de sua
sustentabilidade setorial e o aumento de sua participação setorial nas exportações nacionais. Mesmo
assim, a maior fragilidade externa da economia paranaense parece residir na excessiva concentração
setorial de suas exportações, sendo que o agronegócio responde, em média, por mais de 60% do
valor total exportado, muito embora as cadeias agroindustriais sejam competitivas em um espectro
diversificado de produtos. No caso da pauta exportadora gaúcha, existe uma maior diversificação
setorial relativamente à paranaense, mas inferior à observada nas exportações mineiras, já que
mais de 65% da pauta está concentrada no agronegócio e em calçados/vestuário. Um aspecto de
diferenciação competitiva notável na pauta são as exportações de bens de capital (máquinas e
equipamentos agrícolas), que representam 15% das exportações setoriais brasileiras.
Mesmo no caso das exportações de São Paulo, ocorre o fenômeno similar de excessiva
concentração da pauta em poucos produtos, principalmente no agronegócio e material de transporte,
que representam quase 50% das exportações paulistas (TAB. 32). A maior diversificação da pauta
em produtos da metal-mecânica e química não implica uma sustentabilidade setorial diferente da
brasileira, haja visto o peso majoritário das exportações paulistas no valor setorial exportado do
país (TAB. 33 e 34). Ou seja, sendo a indústria paulista o núcleo estruturante da indústria nacional
e seu pólo difusor de tecnologia, sua fortaleza perante as indústrias regionais não implica em
desconsiderar suas fragilidades estruturais no plano de sua competitividade internacional.
Capítulo 2 - As transformações em curso
119
BDMG
40 anos
2.4.2.4. Grau de competitividade das exportações de Minas Gerais
Estudo recente de Haddad e Perobelli (1997) descreveu o padrão de comércio internacional
dos Estados brasileiros, com ênfase nas vantagens comparativas reveladas no período 1997 a
1999. A identificação dos produtos, para os quais cada um dos Estados apresenta vantagem
comparativa, foi realizada da seguinte forma:
a) calculou-se o Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR) para cada produto de cada Estado;
o IVCR estima a participação das exportações de um determinado produto de um Estado em
relação às exportações nacionais do mesmo produto, e compara este quociente com a
participação das exportações totais do Estado em relação às exportações totais do país:
IVCR ij =
(X ij / X ic )
(X . j / X . c )
onde:
Xij é o valor das exportações do produto i do Estado j;
Xic é o valor das exportações do produto i do país c;
X . j é o valor total das exportações do Estado j;
X . c é o valor total das exportações do país c.
Se IVCRij > 1, o Estado j possui vantagem comparativa revelada no produto i; vale dizer, o
Estado j possui uma posição mais vantajosa nacionalmente na produção e na exportação do produto
i do que no conjunto de sua participação relativa nas exportações totais do país.
b) calculou-se a taxa de cobertura de um produto i do Estado j (TCij), definida pela razão
entre as exportações (Xij) e as importações internacionais do mesmo produto (Mij) pelo
Estado, ou seja,
TC ij =
X ij
M ij
se TCij > 1, a balança comercial do produto i para o Estado j é positiva ou superavitária;
vale dizer, o produto exportado possui vantagem comparativa no exterior29 .
c) são classificados, como pontos fortes no comércio internacional de uma economia
estadual, aqueles produtos para os quais IVCR e TC são maiores que 1 simultaneamente.
Haddad e Peborelli (1997) utilizaram a base de dados da Secretaria de Comércio Exterior
do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (SECEX/MICT) para os anos de 1997, 1998 e
1999, para a identificação dos pontos fortes de cada Estado como origem dos fluxos em direção a
cada bloco de comércio como destino (Mercosul, Nafta, Resto da Alca, União Européia e Resto
do Mundo). Os resultados para Minas Gerais estão apresentados na TAB. 35. O que chama à
atenção nessa tabela, é a predominância de pontos fortes em produtos de exportações com vantagem
comparativa revelada em fatores básicos (recursos naturais renováveis, recursos naturais nãorenováveis, fatores climáticos, excedentes de mão-de-obra não qualificada ou semi-qualificada).
Muitos desses produtos apresentam tão somente um primeiro nível de processamento ou
beneficiamento, e a sua seleção pode refletir as características do comércio no período, e não
necessariamente tendências estáveis. Finalmente, é preciso destacar que a própria metodologia
pode ser imprecisa quando um setor é importante na pauta de exportações (sinalizando um ponto
forte), mas também na pauta de importações (ver o caso de veículos automotivos para transporte).
Essa estrutura das exportações de Minas contrasta com a estrutura de suas importações, onde
predominam produtos industrializados de maior conteúdo tecnológico. Além do mais, as
importações de Minas apresentam elevado grau de inelasticidade.
29
120
Note-se que esse índice foi utlizado na seção anterior para definir o grau de sustentabilidade da pauta exportadora de bens
industrializados.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TABELA 35
IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS FORTES NO COMÉRCIO EXTERIOR: MINAS GERAIS, 1997-1999
MERCOSUL
NAFTA
RESTO DA ALCA
UNIÃO EUROPÉIA
RESTO DO MUNDO
Fumo
Minérios, escórias e cinzas
Produtos de cerâmica
Ferro e aço
Obras de ferro e aço
Alumínio e suas obras
Zinco e suas obras
Obras de metais comuns
Móveis e mobílias
Minérios, escórias e cinzas
Produtos químicos inorgânicos
Pasta de madeira
Plantas vivas etc.
Obras de pedra
Pedras e metais preciosos
Ferro e aço
Obras de ferro e aço
Zinco e suas obras
Outros metais comuns
Café, chá, mate e especiarias
Produtos químicos inorgânicos
Ferro e aço
Obras de ferro e aço
Locomotivas, trilhos etc.
Café, chá, mate e especiarias
Instrumentos de óptica, de
precisão, cirúrgicos, etc.
Minérios, escórias e cinzas
Produtos químicos inorgânicos
Pólvoras e explosivos
Algodão
Obras de pedra
Ferro e aço
Níquel e suas obras
Outros metais comuns
Locomotivas, trilhos etc.
Minérios, escórias e cinzas
Produtos químicos inorgânicos
Animais vivos
Obras de pedra
Produtos de cerâmica
Pedras e metais preciosos
Ferro e aço
Obras de ferro e aço
Locomotivas, trilhos etc.
Café, chá, mate e especiarias
FONTE: Haddad, E., Perobelli, F.S., In: Todaro, M. Economic delevopment. 6 ed. New York: Longman, 1997.
Capítulo 2 - As transformações em curso
BDMG
40 anos
121
BDMG
40 anos
2.4.2.5. Termos de troca
Conforme ressaltado, nos anos 60, por Raul Prebisch, os termos de troca no comércio
mundial tendem a ser desfavoráveis a economias periféricas, uma vez que os preços dos produtos
e commodities que esses países exportam tendem a crescer menos que os preços dos produtos que
importam das economias centrais. Tal se aplica, também, ao caso de regiões específicas, como
Minas Gerais, cuja pauta de exportação é predominantemente composta de commodities minerais e
agrícolas. A TAB. 36 mostra a evolução dos índices de preço médio das exportações e das
importações brasileiras e mineiras e a relação entre eles. Pode-se observar, em ambos os casos,
mas principalmente em Minas Gerais, a grande deterioração dos termos de troca ao longo dos
anos 90.
TABELA 36
EVOLUÇÃO DOS ÍNDICES DE PREÇOS DAS EXPORTAÇÕES E DAS IMPORTAÇÕES
BRASIL E MINAS GERAIS - 1992-2000 (BASE 1992 = 100)
ESPECIFICAÇÃO
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Brasil
Exportação (US$/Ton)
100,0
95,7
98,7
99,7
100,1
103,7
89,4
82,7
85,8
Importação (US$/Ton)
100,0
104,1
127,2
171,7
139,6
197,5
179,9
160,2
161,8
1,0
0,9
0,8
0,6
0,7
0,5
0,5
0,5
0,5
Export./Import.
Minas Gerais
Exportação (US$/Ton)
100,0
93,2
97,6
98,2
95,4
114,4
95,9
87,4
78,8
Importação (US$/Ton)
100,0
167,4
299,6
363,4
332,2
337,0
310,4
198,8
118,3
1,0
0,6
0,3
0,3
0,3
0,3
0,3
0,4
0,7
Export./Import.
FONTE: MDIC/SECEX. Elaboração:CEVFJP.
2.4.2.6. Principais parceiros comerciais de Minas Gerais
A participação dos principais blocos/regiões e países importadores dos produtos de Minas
Gerais, assim como a participação do Estado nas exportações brasileiras por países são mostradas
na TAB. 37. Como se pode observar, mais de três quartos das exportações mineiras destinaramse, na década dos 90, a três blocos/regiões: União Européia, Ásia (exceto Oriente Médio) e NAFTA.
Em 2000, esses três blocos absorveram, respectivamente, 37,5%, 21,6% e 21,5% das exportações
mineiras. Em contraste, o Mercosul e os demais países da ALADI absorveram, nesse ano, apenas
7,6% e 5,6% das exportações do Estado.
122
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 37
EXPORTAÇÕES DE MINAS GERAIS SEGUNDO PRINCIPAIS DESTINOS - 1992-2000 (%)
PAÍS /BLOCO
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
11,7
12,8
14,9
18,3
19,3
16,0
16,0
18,2
18,0
9,2
6,8
5,4
8,0
6,9
5,5
8,9
9,7
10,2
10,6
33,1
10,8
10,4
10,6
11,8
11,9
10,5
8,5
8,5
9,5
25,8
Alemanha
9,2
7,3
8,7
8,4
8,1
9,5
11,5
11,1
9,0
23,9
Argentina
9,5
9,9
8,2
6,9
7,5
9,5
7,8
6,5
6,6
7,1
China
2,4
5,6
2,8
2,0
1,8
1,7
2,1
3,7
3,5
21,8
País
Estados Unidos
Itália
Japão
MG/BR (%)
2000
Países Baixos
4,0
4,1
4,6
4,2
3,5
3,3
3,9
3,5
3,5
8,5
França
2,6
2,5
3,0
2,6
2,8
2,9
3,7
3,7
3,2
12,2
Coréia do Sul
3,2
3,1
2,8
3,0
3,3
2,2
2,0
2,0
2,1
24,8
México
1,3
1,0
0,9
1,0
1,3
1,4
1,9
1,7
1,9
7,4
Reino Unido
1,8
1,5
1,8
1,4
2,4
1,4
1,5
1,3
1,6
7,4
Canadá
Venezuela
0,8
1,5
1,3
1,0
1,6
0,8
1,5
1,4
2,1
1,3
1,9
2,1
1,6
1,2
1,3
1,0
1,5
1,4
18,0
12,2
Espanha
1,0
1,1
1,2
1,4
1,4
1,4
1,5
1,6
1,3
8,4
Chile
1,7
1,4
1,1
1,1
1,4
1,0
0,8
0,7
1,1
5,8
Portugal
0,2
0,2
0,5
0,5
0,4
0,5
0,9
0,9
0,7
12,5
Colômbia
0,7
0,9
0,7
0,6
0,5
0,5
0,5
0,4
0,7
8,5
Uruguai
1,1
1,5
0,8
0,8
0,9
0,8
1,0
0,4
0,6
5,7
Paraguai
0,3
0,6
0,6
0,7
0,7
1,2
1,8
0,4
0,5
3,8
Bolívia
0,4
0,4
0,3
0,4
0,3
0,3
0,3
0,2
0,2
4,1
Outros
29,1
28,0
26,0
25,1
23,6
23,0
21,8
22,7
22,6
11,8
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
12,2
30,2
26,5
33,2
30,1
30,7
34,7
40,1
40,6
37,5
32,3
33,2
13,9
25,6
15,2
25,7
17,4
25,3
20,8
21,1
22,8
16,6
19,4
19,7
19,6
21,6
21,3
10,9
12,0
9,6
8,3
9,1
11,4
10,6
7,3
7,6
6,4
2,6
3,7
5,6
2,3
5,2
4,8
1,7
7,5
5,2
2,6
7,3
5,2
2,6
4,2
5,8
2,4
5,1
5,0
2,1
6,0
4,4
2,4
4,5
5,6
2,8
3,3
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
Total Geral
Bloco/Região
União Européia
Ásia(exc.Or. Médio)
NAFTA (1)
Mercosul
(2)
Demais ALADI
Oriente Médio
Outros
Total
(3)
21,5
FONTE: CEI/FJP a partir de dados do MDIC.
(1)
Estados Unidos, México e Canadá; inclui Porto Rico
(2)
Argentina, Uruguai e Paraguai
(3)
Associação Latinoamericana de livre comércio; exclui Mercosul.
Capítulo 2 - As transformações em curso
123
BDMG
40 anos
Estados Unidos (18%), Itália (10,6%), Japão (9,5%), Alemanha (9%) e Argentina (6,6%)
são os principais parceiros comerciais do Estado, absorvendo, conjuntamente, mais da metade
das vendas externas. Alguns aspectos chamam atenção na evolução recente destes principais
mercados compradores de Minas Gerais. Em primeiro lugar, observa-se a crescente importância
relativa da Itália, sobretudo a partir dos anos finais da década. Isso parece estar associado,
principalmente, ao rápido crescimento do comércio intra-firma da FIAT (subsidiária e matriz
italiana). Em segundo lugar, as vendas externas para o Japão sofreram uma abrupta queda,
em 1998, quando passou de segundo maior mercado de produtos mineiros para o quarto
lugar. Apesar de uma certa recuperação das vendas para o Japão (o país, em 2000, passou a
ser o terceiro maior mercado comprador de Minas Gerais), estas ainda não recuperaram os
valores do início da década. Em terceiro lugar, a Argentina, que chegou a ser o terceiro maior
importador em diversos anos, perde importância a partir de 1998, caindo para a quinta posição.
Vale ressaltar ainda que, em 2000, Minas Gerais detinha uma participação relativamente
elevada no total das exportações brasileiras para a Itália (33,1%), Japão (25,8%), Coréia do
Sul (24,8%), Alemanha (23,9%) e China (21,8%).
2.4.2.7. Pauta exportadora por produtos e origem da demanda externa
O destino das exportações mineiras por grupos de produtos é mostrado na TAB. 6. Em
que pese a significativa importância dos EUA, a relativa diversificação da pauta de produtos
exportados entre diversos países constitui uma vantagem, pois torna as exportações mineiras
menos vulneráveis aos ciclos econômicos de países isolados. Além disso, pode-se identificar
uma certa diferenciação entre a pauta exportadora para os países das Américas e da União
Européia e Ásia. A TAB. 38 mostra não apenas que as Américas absorvem uma maior variedade
de produtos mineiros, mas também de maior valor agregado. A União Européia, com exceção
da Itália (em razão do grande peso do comércio intra-firma da FIAT) e a Ásia concentram suas
importações de Minas Gerais em produtos primários e de menor grau de elaboração. De fato, os
Estados Unidos têm participação importante nas exportações de café, produtos alimentares,
químicos, confecções, móveis, papel e celulose, equipamentos mecânicos e material elétrico e
metalurgia; a Itália, nas exportações de café, couros e peles, veículos e material de transporte,
equipamentos mecânicos e material elétrico; a Alemanha, nas exportações de café e minérios; o
Japão, nas exportações de café, minérios, químicos e, principalmente, papel e celulose; e a
China, nas exportações de minérios. No caso dos países latino-americanos, destaca-se a Argentina
como grande importadora de têxteis, confecções, calçados, móveis, veículos e material de
transporte, equipamentos mecânicos e material elétrico.
124
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TABELA 38
DESTINO DAS EXPORTAÇÕES DE MINAS GERAIS, SEGUNDO PRINCIPAIS GRUPOS DE PRODUTOS* 2000 (%)
Grupos de Produtos/País
EUA
Itália Alemanha Japão
Café
13,4
12,8
21,4
10,5
0,1
0,3
0,0
0,0
1,9
0,0
0,0
1,0
0,0
38,6
100,0
Produtos Alimentares
Minérios
12,0
4,3
3,1
4,3
0,3
18,7
0,4
11,9
12,9
1,8
1,6
0,0
0,0
11,7
0,0
0,0
8,2
3,8
0,3
0,1
1,5
0,0
1,2
4,0
0,3
3,1
58,2
36,3
100,0
100,0
Químicos
21,7
8,0
2,2
10,7
4,4
0,4
0,3
0,5
7,2
0,4
1,4
0,2
0,1
42,5
100,0
Couros e Peles
0,9
49,1
0,3
1,2
1,0
0,9
5,6
0,0
0,1
5,6
0,1
0,7
1,5
33,0
100,0
Têxteis
2,0
5,5
0,0
0,0
3,5
9,4
0,0
2,8
43,1
2,8
4,0
0,0
0,0
26,9
100,0
29,7
0,0
0,0
0,0
0,0
0,9
0,0
0,0
52,9
6,7
3,9
0,0
0,0
5,9
100,0
Confecções
Calçados
México Chile China Índia Argentina Uruguai Paraguai Coréia Sul Taiwan Outros
Total
0,6
0,0
0,1
0,5
0,0
1,1
0,0
0,0
78,8
3,9
3,9
0,0
0,0
11,1
100,0
Móveis
15,7
1,0
0,0
0,0
0,3
0,3
0,0
0,1
52,4
3,5
1,3
0,0
0,0
25,4
100,0
Papel e Celulose
17,0
2,5
2,2
42,3
1,0
0,0
0,1
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
2,3
32,6
100,0
1,1
53,3
2,3
0,0
3,3
2,7
0,0
0,0
15,1
1,3
0,2
0,0
0,0
20,7
100,0
Qequip. Mecânicos e Mat. Elétrico
35,1
13,0
1,3
0,6
4,8
2,2
2,0
0,6
14,5
1,0
1,3
0,2
0,3
23,1
100,0
Metalúrgicos
32,3
2,3
1,8
6,5
2,0
2,0
1,3
0,3
6,4
0,8
0,6
3,4
6,0
34,3
100,0
Veículos e Mat. de Transportes
125
BDMG
40 anos
Capítulo 2 - As transformações em curso
FONTE: CEI/FJP, a partir de dados do MDIC.
* Em 2000, estes 13 grupos de produtos e 13 países responderam, respectivamente, por 86,4% e 66,1% do valor total das exportações de Minas Gerais.
BDMG
40 anos
As conclusões anteriores parecem ser confirmadas por um estudo recente de Domingues e
Haddad (2002), no qual é avaliada a importância relativa da demanda externa na produção dos
setores produtivos de Minas Gerais para o ano de 1996. A demanda externa foi decomposta por:
Argentina, Resto do Mercosul, Nafta, Alca, União Européia, Japão e Resto do Mundo. As exportações
foram classificadas de acordo com 31 setores industriais e agropecuários. De modo geral, o estudo
mostra que as exportações mineiras são concentradas tanto regionalmente quanto setorialmente.
Ou seja, 52% das exportações mineiras têm como destino a União Européia e Nafta e três produtos
representam 67% do total exportado (extrativa mineral, siderurgia e indústria de café).
O estudo também mostra uma concentração setorial/regional importante:
• produtos siderúrgicos – destino: Nafta (11% do total exportado) e Resto do Mundo (8%)
• produtos da indústria da indústria extrativa mineral – destino: Resto do Mundo (8%)
• produtos da indústria de café – destino: União Européia (9,5%)
TABELA 39
DECOMPOSIÇÃO MÚLTIPLA DA PRODUÇÃO SETORIAL DE ACORDO
COM A ORIGEM DA DEMANDA FINAL: MINAS GERAIS,1996 (%)
Outros
Argentina Mercosul
1,234
Total
Agropecuária
0,631
0,282
1,949 0,480
4,998
Extrativa Mineral
2,869
0,199
6,744 0,671
24,069
Minerais Não Metálicos
0,746
0,210
1,720 0,493
3,571
0,451
1,269
Siderurgia
2,938
0,561
12,403 2,420
3,872
3,185
9,136 34,515
Metalurgia dos Não Ferrosos
2,355
1,201
21,564 1,139
9,266
4,292
7,545 47,361
Outros Metalúrgicos
1,256
0,379
2,788 0,803
2,428
0,819
2,040 10,513
Máquinas e Tratores
1,908
0,516
8,852 1,986
3,880
2,008
3,323 22,473
Material Elétrico
Material Eletrônico
2,205
0,498
1,401
0,174
5,903 2,026
1,271 0,736
4,457
1,489
0,321
0,149
1,791 18,104
0,840 5,157
Automóveis, caminhões e ônibus
1,508
0,449
0,640 0,704
2,591
0,011
0,281
Outros veículos, peças e acessórios
3,330
0,728
2,234 4,427
1,794
0,249
1,695 14,456
Madeira e Mobiliário
1,378
0,344
2,213 0,444
2,691
0,354
1,527
Papel e gráfica
0,816
0,283
4,254 0,711
7,886
9,528
1,873 25,351
Borracha
1,718
0,592
2,181 1,085
1,530
0,201
1,246
Químicos não petroquímicos
1,197
0,440
5,877 1,029
4,784
5,555
2,638 21,521
Ref. Petróleo e Ind. Petroquímica
1,175
0,514
1,950 0,765
2,289
0,547
2,088
Químicos diversos
1,419
0,826
2,398 0,887
4,051
0,814
2,536 12,932
Farmacêutico e Perfumaria
0,206
0,123
0,479 0,176
0,831
0,184
0,832
Material Plástico
2,985 12,567
9,357 21,951 65,859
8,460
6,184
8,951
8,554
9,327
2,831
33,396
3,756
1,016 4,759
1,140
0,146
1,222 45,435
Textil
Vestuário e acessórios
3,704
0,152
1,236
0,053
1,939 2,154
0,276 0,104
2,664
0,286
0,387
0,078
1,729 13,812
0,274 1,224
Calçados e artigos de couro e peles
0,331
0,243
6,446 0,430
12,955
0,132
3,741 24,278
Indústria do café
2,875
0,138
9,718 0,241
45,058
8,125
8,086 74,240
Prod. Benef. De origem vegetal
1,221
1,088
0,488 0,132
3,203
0,306
1,797
8,234
Carnes
0,088
0,036
0,581 0,054
0,974
0,173
0,626
2,532
Leite e Laticínios
2,403
3,075
0,062 1,640
0,850
1,667
0,151
9,849
Indústria do Açucar
0,204
0,326
0,972 0,254
1,181
0,476
3,779
7,191
Óleos Vegetais
0,280
0,206
0,883 0,190
2,741
0,503
1,729
6,531
Bebidas e outros alimentos
0,645
0,263
1,146 0,300
6,734
0,591
4,564 14,242
Indústrias Diversas
0,593
0,210
1,794 0,413
1,353
0,685
1,353
FONTE: Domingues e Haddad (2002), p.12
126
Nafta Outros União Japão Outros
Alca Européia
Mundo
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
6,402
BDMG
40 anos
Através da decomposição múltipla da produção setorial de acordo com a origem da demanda
externa para Minas Gerais, os autores chegaram aos resultados apresentados na TAB. 39. Os
dados mostram a influência relativa da demanda externa (por grupo de países) na produção mineira.
Tal como apontado anteriormente, esses dados confirmam a concentração das exportações, por
produto e mercado externo. Nas palavras de Domingues e Haddad (2002, p. 10),
Num grupo de 5 setores as exportações mostram-se relativamente mais importantes como
estímulo à produção setorial mineira: extrativa mineral, siderurgia, metalurgia dos não
ferrosos, material plástico e indústria do café. Nestes setores, existe também uma concentração
em mercados externos específicos. Na produção da indústria extrativa mineral, da União
Européia e Resto do Mundo; na siderurgia, do Nafta e Resto do Mundo; na metalurgia
dos não-ferrosos, do Nafta; em material plástico, da Argentina; na indústria do café, da
União Européia.
Capítulo 2 - As transformações em curso
127
BDMG
40 anos
2.5. Considerações finais
Em 2000, Minas Gerais alcançou um PIB de R$ 100,8 bilhões, equivalente à 10,01% do
PIB brasileiro. Com esse valor, a economia mineira estaria situada na 45ª posição em uma lista dos
países de maior PIB, no ano de 2000, após o Chile e à frente do Peru. Em termos populacionais,
Minas Gerais seria o 52º país e no âmbito do PIB per capita, o Estado ocuparia a 71ª posição.
No período de 1985-2000, Minas Gerais assegurou a posição de terceiro maior PIB do País.
E sua evolução assemelha-se à trajetória traçada pelo PIB brasileiro. A taxa média de crescimento,
dos anos 90, foi inferior à da segunda metade da década de 80, mas nos dois qüinqüênios da
década, o ritmo de crescimento foi muito desigual, apresentando taxas mais baixas de crescimento
entre 1990-1994, com destaque para os anos de 1990 e 1992, quando o PIB mineiro não cresceu.
Em contrapartida, no segundo qüinqüênio observa-se uma aceleração do crescimento relacionado
a uma expansão do investimento no Estado, aproveitando as oportunidades criadas pelo recém
implementado Plano Real.
Analisando-se o comportamento dos preços, nos anos 90, o deflator implícito do PIB mineiro
cresceu à frente da média nacional. Assim, Minas ganha participação no PIB brasileiro não só pelo
maior crescimento do seu produto, mas também pelo crescimento de seu deflator implícito,
significando que os preços dos produtos mineiros cresceram à frente da média geral dos preços da
economia brasileira.
Esse comportamento não é observado quando se analisa o PIB per capita. Minas Gerais cai
da 8ª para 10ª posição no ranking nacional ao longo dos anos 90. Sendo ultrapassado pelo Espírito
Santo e pelo Mato Grosso do Sul. Entretanto, vale destacar que a evolução do PIB per capita é
influenciada pelo crescimento populacional, do que Minas apresentou a segunda maior taxa do
País, após São Paulo.
A análise dos grandes setores que compõem o PIB indica, que na década de 90, os serviços
consolidam-se como o setor de maior peso (cerca de 50% do PIB estadual), enquanto a indústria e a
agropecuária vêm reduzidas suas participações para, respectivamente, 40% e 9% do PIB em 1999.
Entretanto, é importante frisar que, a despeito da queda de sua participação no PIB do
Estado, a agropecuária foi o setor que mais cresceu na década de 90. De fato, essa retração da
participação do PIB agropecuário no total deve-se a menor expansão de seus preços em relação à
média da economia.
Os dados indicam ainda uma desconcentração industrial nos anos 90 da região Sudeste do
Brasil em favor das regiões Nordeste e Centro-Oeste. O grande perdedor nesse processo foi São
Paulo, sendo que Minas Gerais consegue manter-se como o 3º maior PIB industrial do País. No
entanto, no segmento industrial mais dinâmico, a indústria de transformação, Minas Gerais que,
em 1985, despontava como a 2ª economia, passa a ocupar a 4ª posição em 1999, sendo ultrapassada
pelo Rio Grande do Sul (em 1994) e pelo Rio de Janeiro (em 1999). Na década de 90, apenas os
setores de Material de transporte e Produtos alimentares apresentaram crescimento de volume de
produção acima da média da indústria de transformação
A produção de automóveis, em Minas Gerais, teve grande impulso, dobrando a produção
entre 1990 e 2000. O pico foi atingido em 1997, quando foram produzidos meio milhão de veículos,
o que equivale ao triplo da quantidade produzida em 1985. Esse dado ilustra que, apesar das
128
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
profundas transformações ocorridas no setor automobilístico no Brasil na década de 90, com
intensa reestruturação, modernização e introdução de novos pólos de produção no restante do
País, Minas logrou inserir-se com vantagens nesse processo.
A produção de autopeças teve seu crescimento nos anos 90 impulsionado pelo programa
de “mineirização” adotado pela FIAT AUTOMÓVEIS, que atraiu para o Estado parcela importante
dos seus fornecedores nacionais, e a partir de meados da década, várias empresas mundiais,
subsidiárias de grupos multinacionais, que hoje são maioria entre seus fornecedores de sistemas
integrados. Cabe ainda destaque a implantação das novas plantas da MERCEDES BENZ e da IVECO,
que também têm atraído dezenas de novos fornecedores.
Comparado ao desempenho da indústria automobilística, os demais ramos industriais mineiros
tiveram evolução bem mais modesta. A produção ferro-gusa e aço bruto praticamente estagnou
durante os anos 90, voltando a crescer apenas em 2000. A indústria siderúrgica sofreu forte impacto
do processo de reestruturação mundial do setor (para maiores detalhes ver Volume V deste estudo).
Os países desenvolvidos passaram a concentrar a produção dos artigos siderúrgicos mais nobres,
descartando para os países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, as plantas de elevado consumo
de combustível e grau de poluição.
Apesar de sua importância na pauta de exportações mineiras, o peso da indústria extrativa
mineral no PIB estadual é pequeno e caiu de 2,8% para 1,6% entre 1989 e 2000. O seu crescimento,
nos anos 90, foi bem inferior à média nacional, puxada pela expansão da indústria de extração de
petróleo no Rio de Janeiro (que cresceu em média 13,1% ao ano entre 1995-1999).
No tocante aos fluxos de comércio interestaduais, as transformações experimentadas na
economia mineira no período de 1980-1995 foram tênues. Apesar de se reconhecer a maior
diversificação e integração produtiva da economia mineira ao longo das duas últimas décadas, os
complexos metal-mecânico e agroindustrial continuam como os únicos capazes de gerar maiores
efeitos de propagação sobre a economia mineira. De fato, os dados apontam três características
importantes nas relações entre as diversas unidades da Federação: 1º) os fluxos inter-regionais
entre São Paulo e o resto do País são essencialmente unilaterais, sendo a economia paulista o
grande surpridor de insumos para o restante do Brasil; 2º) Minas Gerais, assim como São Paulo,
não se apresenta como grande importador de insumos, mas atende sua demanda intermediária
localmente ou através de importações da indústria paulista; 3º) São Paulo e Minas Gerais apresentam
fortes relações de compra e venda nos setores de maiores níveis de especialização, denotando a
existência de complementariedade horizontal entre seus parques metal-mecânicos.
O viés exportador de Minas Gerais lhe assegurou na década de 90, a manutenção da posição
de segundo principal Estado exportador. Paradoxalmente, a parcela primário-exportadora (café e
minério de ferro) tem garantido, através de vantagens comparativas consolidadas ou naturais, um
bom desempenho. Sua vulnerabilidade está associada mais às variações dos preços internacionais
das commodities, do que às idiossincrasias da política cambial doméstica.
Já a pauta baseada no comércio intra-industrial é concentrada em poucos produtos do
complexo metal-mecânico (veículos e produtos siderúrgicos) e encontra-se crescentemente
vulnerável com a sobrevalorização do câmbio, resultando numa tendência de saldo comercial
negativo.
Quanto às importações, ao longo dos anos 90, as participações relativas dos estados
selecionados no total importado mantêm-se praticamente inalterado. A pauta das importações
mineiras é composta por produtos industrializados de alto conteúdo tecnológico e com elevado
grau de ineslasticidade. Contrasta fortemente com o perfil das exportações.
Capítulo 2 - As transformações em curso
129
BDMG
40 anos
A grande vantagem comparativa de Minas Gerais no setor externo em relação aos demais
estados brasileiros é que sua pauta de exportação congrega o que se pode denominar de “núcleo
duro” das exportações brasileiras, contendo produtos que pertencem ao seleto grupo dos produtos
que são, simultaneamente, superavitários na balança comercial e cuja participação no total exportado
no país, supera os 60%, a saber: extrativa mineral, agronegócio, metalurgia, celulose e papel.
Ainda assim, é importante lembrar que essa “vantagem” se insere dentro de um quadro geral de
decrescente grau de sustentabilidade externa do País.
Por outro lado, o mix de produtos da pauta de exportações mineiras apresenta também
desvatagens. A primeira refere-se à consolidação do complexo mineral de Carajás, que deve assumir,
em futuro próximo, a liderança das exportações de minerais metálicos do País. Outro produto que
suscita preocupação é o café, sustentáculo do agronegócio mineiro. Existem inúmeros problemas
na cadeia cafeeira do Estado – desde a qualidade do produto até restrições na esfera da
comercialização no mercado mundial, que devem exigir ação específica do setor público.
Finalmente, os setores metal-mecânicos competitivos são pouco diversificados, sendo
excessivamente dependentes de automóveis e produtos de aço planos. Nesse caso, ainda que
existam dificuldades evidentes na industrialização mineira na indústria de material elétrico e
eletrônico e de comunicações, é possível melhorar o mix exportador da metal-mecânica dentro da
própria cadeia.
Finalizando, os principais blocos/ regiões importadoras de produtos oriundos de Minas
Gerais são a União Européia, a Ásia e o NAFTA, que em 2000 absorveram respectivamente,
37,5%, 21,6% e 21,5% das exportações mineiras. Os principais parceiros comerciais do Estado,
por sua vez, são os Estados Unidos (18%), a Itália (10,6%), o Japão (9,5%), a Alemanha (9%) e
Argentina (6,6%), absorvendo em seu conjunto mais da metade das vendas externas.
Analisando-se os produtos de exportação mineiros e seus destinos percebe-se ainda uma
última característica. Na indústria extrativa mineral e cafeeira, o principal consumidor é a União
Européia. Na siderurgia e na metalurgia dos não-ferrosos, o NAFTA. E na indústria de material
plástico, a Argentina.
A análise das séries de investimentos anunciados verifica que Minas foi um dos Estados
que mais se beneficiou do miniboom de investimentos ocorrido nos anos seguintes ao Plano Real.
No entanto, esses indicativos favoráveis revertem-se a partir de 1998. Nesses anos, além da
instabilidade e incerteza na economia nacional e internacional, devido às crises internacionais –
da Ásia e da Rússia, ataques especulativos contra a moeda brasileira – instala-se um clima de
desconfiança entre o empresariado e o governo, devido à polêmica com os acionistas estrangeiros
da CEMIG e da DAIMLER CHRYSLER (MERCEDES BENZ). Assim, Minas passa a perder posição relativa
para outros estados caindo do 2º lugar, em 1996, para o 5º, em 2000, segundo os anúncios de
investimentos divulados pelo BNDES (TAB. 28). Desse modo, Minas termina a década com
precária inserção nos fluxos de investimentos nacionais, não obtendo sucesso na melhoria da
atratividade de investimento, o que suscita preocupação e exige a atenção dos formuladores de
política econômica do Estado, com vistas à reversão desse quadro.
Em termos do investimento público, a situação é ainda mais grave. Nos anos 90 assistiu-se
à brutal redução do papel do Estado como propulsor e líder dos investimentos produtivos. De
fato, a precária posição financeira de Minas Gerais impõe limites rígidos a tentativas de continuidade
às políticas indutoras do aprofundamento da industrialização mineira, nos moldes anteriormente
organizados.
Por outro lado, os claros indicativos de que o Estado enfrenta, desde o final da década, uma
baixa cíclica de investimentos, representa uma grande oportunidade de se redesenhar os caminhos
130
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Capítulo 2 - As transformações em curso
BDMG
40 anos
de Minas, pois essa é a ocasião ideal para se implementar um processo de mudança. Some-se a
isso, o fato deste estudo apresentar, de modo sistemático, não só uma investigação das principais
fragilidades e dificuldades estruturais, nas grandes cadeias produtivas, mas também detalhadas no
âmbito dos diversos segmentos econômicos. Bem como, apontar circunstâncias vantajosas e
alternativas de superação de gargalos, oportunidades de negócio e nichos de mercado. Instrumentos
valiosos para a orientação e formulação de um novo nexo de atuação do Estado na esfera econômica,
com vistas a aprimorar e requalificar a interação entre o setor privado e público, criando um
ambiente favorável à decisão empresarial, principal “mola propulsora” de um novo ciclo de expansão
da economia mineira.
131
BDMG
40 anos
2.6. Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES.
Anuário Estatístico da Indústria Automobilística. Disponível em: http://www.anfavea.com.br
AZZONI, Carlos R.; KADOTA, Décio K.; HADDAD, Eduardo A.. Macroeconomia de
Minas Gerais: uma estimativa dos componentes da demanda final. Cadernos BDMG, Belo
Horizonte, n. 4, p. 46-67, jan. 2002.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS. Economia Mineira 1989:
diagnóstico e perspectivas, v. 1, Belo Horizonte, 1989.
CHIARI, Juliana Rodrigues de Paula; DUARTE FILHO, Francisco Carvalho. Características
Estruturais da Economia Mineira: uma análise inter-regional de insumo produto. Cadernos
BDMG, Belo Horizonte, n. 4, p. 8-43, jan. 2002.
CINTRA, A.O.; ANDRADE, L.A.G.. Planejamento: reflexões sobre uma experiência
estadual. In: CINTRA, A.O.; HADDAD, Paulo R. (Orgs.) Dilemas do planejamento urbano e
regional no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL. Anuário Mineral Brasileiro.
Brasília, DNPM, diversos anos.
DINIZ, Clélio C.; SANTOS, Fabiana B. T.. Sudeste: Heterogeneidade Estrutural e
Perspectivas. In: AFFONSO, Rui; SILVA, P. (Org.) Federalismo no Brasil: desigualdades
regionais e desenvolvimento. São Paulo: Fundap/Unesp, 1995, Cap. 6, p. 195-223.
FERNANDES, Cândido Luiz L.. A Inserção de Minas na Economia Nacional: uma análise de
insumo-produto inter-regional. 1997. 200f. Dissertação (Doutorado em Economia) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Anuário Estatístico de Minas Gerais – 2000-2001, Belo
Horizonte, Fundação João Pinheiro, 2002.
GALVÃO, Olímpio J. A. Comércio interestadual por vias internas e integração regional no
Brasil. In: Encontro Nacional de Economia, 31, 1993, Belo Horizonte. Anais... Niterói:
ANPEC, 1993, p. 257-280.
GUIMARÃES NETO, Leonardo. Nordeste: da articulação comercial à integração econômica.
1986. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
HADDAD, Eduardo; HEWINGS, G.J.D.; LEON, F.L.L. Building-up influence: post-war
industrialization in the state of Minas Gerais, Brazil. In: SEMINÁRIO SOBRE A
ECONOMIA MINEIRA, 2002, Diamantina. Anais... Belo Horizonte: Faculdade de Ciências
Econômicas/Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, 2002.
HADDAD, Eduardo A. A estrutura econômica de Minas Gerais: uma análise de insumoproduto. Nova Economia, Belo Horizonte, Número especial – VIII Prêmio Minas de Economia,
p. 11-58, 1995.
132
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
HADDAD, E.; PEROBELLI, F. S. In: TODARO, M Economic Developement. 6th edition,
Longman, New York, 1997.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas Regionais do
Brasil – 1985-1999 – informações por unidade da Federação. Rio de Janeiro, IBGE, 2001
(CD-ROM).
INSTITUTO BRASILEIRO DE SIDERURGIA. Estatísticas da Siderurgia. Rio de Janeiro,
IBS, diversos números. Disponível em: http://www.ibs.org.br
JAYME Jr., Frederico Gonzaga et al.. Minas Gerais: perfil e dinâmica da economia e sociedade.
1993. 156f. Relatório de Pesquisa – Escola Sindical 7 de Outubro/Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional, Belo Horizonte.
LEMOS, Mauro Borges et al. O Arranjo Produtivo da Rede Fiat de Fornecedores. 2000. 64f.
Relatório Final da Pesquisa “Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e Novas Políticas de
Desenvolvimento Industrial e Tecnológico” – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro.
LOCATELLI, Ronaldo L.; CHIARI, Juliana R.P. As Relações Setoriais e a Industrialização
Mineira da Década de 70: uma avaliação. In: SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA
MINEIRA, 1992, Diamantina. Anais... Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas/
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, 1992.
RODRIGUES, Denise A. Os investimentos no Brasil nos anos 90: cenários setorial e
regional. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 7, n. 13, junho de 2000. Disponível em:
http://www.bndes.gov.br
RODRIGUES, Denise A. Uma análise dos anúncios de investimento em 2000: aspectos
setoriais e regionais. Estudos Especiais BNDES, Rio de Janeiro, julho de 2001. Disponível
em: http://www.bndes.gov.br
SILVA, Carlos Eduardo Lobo. Como as Economias de São Paulo e de Minas Gerais se comparam à
do Resto do Brasil: uma análise de suas estruturas produtivas. 2001. 108f. Dissertação
(Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz/
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO. http://www.snic.com.br
VASCONCELOS, José Romeu de. Matriz do Fluxo de Comércio Interestadual de Bens e
Serviços no Brasil – 1999. Texto para Discussão/IPEA, n. 817, Brasília: IPEA, ago. 2001.
Capítulo 2 - As transformações em curso
133
BDMG
40 anos
ANEXO I
ESTIMATIVA DAS IMPORTAÇÕES POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO
1) Decompor as importações segundo categorias de uso: bens de capital, bens de consumo
final, bens e insumos intermediários;
2) Contabilizar o valor efetivo da importação de bens de capital para cada UF, linearmente;
3) No caso de bens de consumo final, fazer um rateio por UF da importação nacional de
bens de consumo final proporcional ao PIB de cada UF;
4) No caso de bens de consumo intermediários, fazer um rateio por UF da importação
nacional de bens de consumo intermediário de forma proporcional ao Valor Bruto da
Produção de cada setor de bens de consumo intermediário por UF, em nível de
desagregação de dois dígitos;
5) No caso de petróleo e gás natural, usar o mesmo procedimento dos bens de consumo
final;
6) No caso dos serviços, usar o mesmo procedimento dos bens de capital;
7) No caso do trigo o procedimento é o mesmo dos bens de consumo intermediário. No
entanto, o rateio deve ser proporcional ao Valor Bruto da Produção da indústria de
moagem, à quatro dígitos.
134
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 3
AS CONDIÇÕES DE VIDA
Fundação João Pinheiro
Fernando Martins Prates
(Coordenador)
Edite Novais da Mata Machado
Eduardo Cerqueira Batitucci
Maria Bernadette Araújo
(Pesquisadores da Fundação João Pinheiro)
SUMÁRIO
3.1. ASPECTOS DEMOGRÁFICOS ................................................................................................................................. 140
3.2. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) ............................................................................... 146
3.3. CONDIÇÕES DE RENDA DAS FAMÍLIAS E PESSOAS ............................................................................... 148
3.4. CONDIÇÕES HABITACIONAIS .............................................................................................................................. 156
3.5. DÉFICIT HABITACIONAL ....................................................................................................................................... 160
3.6. CONDIÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE ............................................................................................................... 163
3.7. CONDIÇÕES EDUCACIONAIS ............................................................................................................................... 170
3.8. CRIMINALIDADE VIOLENTA .............................................................................................................................. 177
3.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... 179
BDMG
40 anos
3. As condições de vida
Neste capítulo são analisados diversos indicadores relacionados à evolução demográfica e
às condições de vida da população de Minas Gerais, comparando-os, sempre que possível, com os
indicadores de outros estados e do Brasil. Embora contenha informações sobre as décadas
anteriores, o texto centra-se, em grande parte, na evolução ocorrida na década de 90.
Nessa década, verificou-se uma melhoria geral nos indicadores sociais aqui analisados,
dando continuidade ao avanço observado nas décadas anteriores. Mesmo assim, a situação mostrase ainda precária, principalmente quando comparada à de outros países e de outras unidades da
federação. Assim, são ainda preocupantes os indicadores de pobreza, analfabetismo funcional,
nível e desigualdade de renda per capita, acesso a condições adequadas de saneamento
(principalmente esgotamento sanitário). Do mesmo modo, são crescentemente preocupantes as
estatísticas de criminalidade violenta e de déficit habitacional.
Não há, neste capítulo, uma análise das políticas e dos gastos sociais. Os resultados
apresentados, no entanto, indicam a necessidade de seu aprofundamento e, tendo em vista também
a transição demográfica recente no Brasil e no Estado, de seu redirecionamento. A retomada do
crescimento econômico a taxas superiores às verificadas nas últimas duas décadas e a redução na
desigualdade de renda é fundamental, não só para a geração de novos postos de trabalho em maior
ritmo, reduzindo as elevadas taxas de desemprego atuais, como para a contenção das demandas
crescentes de políticas e gastos sociais compensatórios e para a elevação das receitas públicas e,
portanto, da capacidade de financiamento e investimento governamental. Além disso, um contexto
de maior crescimento econômico, sem dúvida, tende a ser mais propício à implementação de
políticas redistributivas.
Capítulo 3 - As condições de vida
139
BDMG
40 anos
3.1. Aspectos demográficos
Minas Gerais chega ao século XXI com uma população de aproximadamente 18 milhões de
habitantes, dispersa em 586.648,7 km², que representa 10,5% do total brasileiro. Apesar de sua
participação, que era 11,2%, em 1980, ter decrescido ligeiramente ao longo das últimas décadas,
Minas é o segundo Estado em população no País, após São Paulo, que, em 2000, tinha perto de 37
milhões de habitantes, ou 21,8% do total nacional.
A população mineira encontra-se distribuída em 853 municípios, o maior número entre
todos os estados brasileiros, muitos deles emancipados durante a década de 1990: foram 33, em
1992, e 97 em 1997. A rede municipal mineira se caracteriza por um grande número de municípios
com pequena população, 57,5%, em 1980, e 60,3%, em 2000, tinham menos de 10 mil habitantes
-, e um pequeno número deles com população acima de 100 mil habitantes - apenas 23, em 2000,
ou 2,7%. Enquanto nos primeiros vivem apenas 15,3% dos habitantes do Estado, nos segundos
concentram-se 39,3% deles. Essa concentração vem se acentuando ao longo das últimas décadas,
pois, em 1980, esses percentuais eram 16,4% e 28,3%, respectivamente. Deve-se ressaltar, ainda,
a importância da Região Metropolitana de Belo Horizonte dentro desse contexto: em 2000, 24,4%
da população mineira residiam nos seus 34 municípios componentes.
Os principais indicadores demográficos do Estado se encontram sintetizados na TAB.1.
Pode-se verificar o seu acelerado processo de urbanização, em grande parte devido às migrações
internas, com transferência de população das áreas rurais. Enquanto em 1970, metade da população
de Minas Gerais residia nas áreas urbanas, em 2000, já eram 82%, ou 14,7 milhões de pessoas.
Esse fenômeno ocorreu de forma generalizada no país, cujo grau de urbanização elevou-se de
55,9% a 81,2% no mesmo período, presenciando-se a explosão dos grandes centros urbanos e o
conseqüente agravamento dos problemas sociais. Entretanto, ainda existe potencial para o
crescimento da urbanização no Estado, embora em ritmo mais lento, uma vez que algumas Unidades
da Federação alcançavam, em 2000, patamar acima dos 90%, como é o caso do Rio de Janeiro
(96%) e São Paulo (93,4%).
Ao longo das últimas décadas observa-se um crescimento relativamente constante da
população do estado, em média de 1,5% ao ano, nos períodos de 1970 a 1980 e de 1980 a 1991,
e de 1,4% ao ano, entre 1991 e 2000, inferior ao crescimento médio do Brasil. Para o país as taxas
médias anuais são decrescentes: 2,3%, na década de 1970, 1,9% na década de 80 e 1,6% nos anos
90. Em comparação com as demais Unidades da Federação, Minas Gerais cresce em ritmo mais
elevado do que os estados mais importantes da União (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná
e Bahia), exceto São Paulo, que apresentou taxa de 1,8% na última década.
140
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
TABELA 1
SÍNTESE DOS PRINCIPAIS INDICADORES DEMOGRÁFICOS MINAS GERAIS - 1970/1980/1991/2000
INDICADORES
MINAS GERAIS
ÁREA (kmª) ................................................................. 586.648,7
1970
POPULAÇÃO
Total ............................................................................ 11.487.415
Urbana ........................................................................ 6.060.300
Rural ........................................................................... 5.427.115
NÚMERO DE MUNICÍPIOS ........................................
722
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (hab/kmª) ....................
19,6
GRAU DE URBANIZAÇÃO (%) ...................................
52,8
ESTRUTURA ETÁRIA (%)
Até 15 anos .................................................................
43,3
De 15 a 60 anos .........................................................
51,9
Mais de 60 anos .........................................................
4,8
TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO (% ao ano)
Total ............................................................................
Urbana ........................................................................
Rural ...........................................................................
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL ............................
ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER ..........................
TAXA DE FECUNDIDADE TOTAL ...............................
MIGRAÇÃO
Saldo líquido migratório .............................................
Taxa Líquida migratória (%) .......................................
FONTE:
1980
1991
2000
13.378.553
8.982.134
4.396.419
722
22,8
67,1
15.743.152
11.786.893
3.956.259
723
26,8
74,9
17.891.494
14.671.828
3.219.666
853
30,5
82,0
38,1
55,8
6,1
33,9
58,6
7,6
28,4
62,5
9,1
1960/1970
1970/1980
1980/1991
1991/2000
1,6
4,5
-0,9
1,5
4,0
-2,1
1,5
2,5
-1,0
1,4
2,5
-2,3
1970
1980
1991
107,1
54,9
6,3
75,7
63,5
4,3
35,0
66,9
2,5
26,3
70,1
2,2
1960/1970
1970/1980
1981/1991
1993/1998
-1.577.170
-13,8
-1.426.142
-10,7
-887.179
-5,6
16.393
0,1
1999
Dados básicos: IBGE. Censo Demográfico, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000; Pesquisa Nacional
por Amostra de
Domicílios, 1993, 1998; Síntese dos Indicadores Sociais 2000 – FJP/CEI, Anuário Estatístico de Minas Gerais 1994,
2000; Migrações Internas em Minas Gerais na década 1980/1990 – BRITO, F. Brasil final de século: a transição para
um novo padrão migratório?
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Quando analisadas em relação à situação de domicílio, as taxas revelam diferenças marcantes
entre as áreas urbanas e rurais do Estado. A população urbana apresenta elevado crescimento. No
entanto, sua taxa anual de crescimento, de 4,5%, nos anos 60, e 4% nos setenta, cai
substancialmente, a partir de 80, estabilizando-se em 2,5% nas últimas, décadas. Para as áreas
rurais, o histórico processo de evasão rural se traduz nas taxas negativas de crescimento de sua
população, que podem também refletir alterações na situação do domicílio, com áreas rurais,
principalmente no entorno dos grandes centros urbanos, passando a serem consideradas como
urbanas ao longo do período. Nesse contexto, deve-se destacar o arrefecimento das perdas
populacionais rurais estaduais entre os anos de 1980 e 1991 (-1%), que voltam a se intensificar entre
1991 e 2000 (-2,3%). Essa tendência, de forma menos acentuada, também se verifica nas áreas
rurais do Brasil como um todo (-0,7% e -1,3% respectivamente). Contrariando esse padrão
encontra-se o Estado de São Paulo que, na década de 90, apresentou aumento da sua população
rural (0,8%).
Capítulo 3 - As condições de vida
141
BDMG
40 anos
O ritmo de crescimento da população é resultado do comportamento dos três componentes
da dinâmica demográfica: a fecundidade, a mortalidade e a migração. Até o início da década de
1970, o Brasil apresentava elevados indicadores de fecundidade e mortalidade, que experimentaram,
desde então, queda acentuada, com profundas alterações nos seu padrão demográfico. A taxa de
fecundidade total que, em 1970, era de 6,3 filhos por mulher em Minas Gerais, e de 6,4 no Brasil, cai
para 2,2 filhos, em 2000, tanto no Estado quanto no País, chegando praticamente ao nível de reposição
(2,1 filhos por mulher). Em Minas Gerais a TAB.1 mostra que a maior queda ocorreu durante as
décadas de 1970 e 1980, tendo alcançado nível já bastante reduzido no início da década de 1990.
No GRAF. 1 é apresentada a evolução das taxa de fecundidade para o Brasil e Unidades da Federação,
nos anos de 1992 e 1999, ficando clara a posição de Minas Gerais em patamar inferior ao dos
estados do Norte e Nordeste, e em posição similar à dos estados do Sudeste e Sul.
GRÁFICO 1
TAXAS DE FECUNDIDADE TOTAL - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: Dados básicos: IBGE. Síntese dos Indicadores Sociais 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Quanto aos indicadores de mortalidade, o Brasil já vinha apresentando desde meados do
século passado queda gradual das taxas de mortalidade, e elevação da esperança de vida ao nascer,
processo que se acentua a partir da década de 1970, e que se verifica, de modo geral, em todas as
Unidades da Federação. Para Minas Gerais, em relação à taxa de mortalidade infantil, nota-se
queda acentuada nos anos setenta e oitenta, que se atenua nos anos noventa, apresentando, em
1999, 26,3 mortes por mil crianças nascidas vivas (TAB.1). No Brasil, a mortalidade infantil passa
de 79,9, em 1980, para 45,3 , em 1991, e 29,6 em 2000. Apesar dessa melhora significativa, tanto
142
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
o Brasil quanto Minas Gerais se encontram ainda em pior situação relativamente a vários países
da América Latina, como a Argentina (18,3) e o Chile (9,6), segundo dados da Organização das
Nações Unidas – ONU. Em relação às demais unidades da Federação, o GRAF. 2 mostra que
Minas Gerais, apesar de se situar em posição privilegiada em comparação com os estados do
Norte e do Nordeste, detêm as mais altas taxas de mortalidade infantil entre os estados do Sudeste
e do Sul do País.
GRÁFICO 2
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (POR MIL NASCIDOS VIVOS) BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese dos Indicadores Sociais 2000
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
A esperança de vida ao nascer experimentou processo contínuo de elevação ao longo das
últimas décadas, em Minas Gerais e no país, sendo os indicadores mineiros melhores do que os
brasileiros (63,5 anos e 61,9 anos, em 1980, e 70,1 e 68,4, em 1999, respectivamente). Destacamse, também, em relação às Unidades da Federação: em 1999, segundo o IBGE, a expectativa de
vida em Minas Gerais só era inferior à do Rio Grande do Sul e à de Santa Catarina, superando o
Estado de São Paulo durante a última década (GRAF. 3).
A análise da evolução migratória no Estado, outro componente da dinâmica demográfica,
revela profundas alterações no seu padrão histórico de comportamento, assistindo-se à reversão
da tendência de grandes perdas populacionais. Minas Gerais era, até poucas décadas atrás, o
Estado que apresentava os maiores saldos migratórios negativos no país, expulsando população
que, em sua grande maioria, saía em busca de maiores oportunidades de emprego. No final da
década de 1990, esse quadro chega, se não a se reverter, pelo menos a se equilibrar.
Capítulo 3 - As condições de vida
143
BDMG
40 anos
GRÁFICO 3
ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER (EM ANOS) - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese dos Indicadores Sociais 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Nas décadas de 1960 e 1970, Minas Gerais apresentava um saldo migratório negativo de
cerca de 1,5 milhão de pessoas, que equivalia a uma taxa líquida migratória negativa superior a
10% da sua população, com os emigrantes se dirigindo, preferencialmente, para São Paulo, Rio
de Janeiro e para as áreas de fronteira agrícola. Esses números diminuem substancialmente no
período de 1981 a 1991, mas ainda se mantêm bastante elevados: saldo negativo de 887 mil
migrantes, e taxa migratória de –5,6%. Foi uma época de forte recessão da economia do País, o
que reduziu a capacidade de atração migratória dos grandes centros industriais, com destaque
para São Paulo, o que determinou a redução do fluxo emigratório de Minas para esse Estado,
ganhando força o fenômeno da migração de retorno. A continuidade das dificuldades vivenciadas
pela economia brasileira condicionou o comportamento das migrações no final do século XX,
acentuando a tendência de queda dos saldos migratórios negativos. Estima-se, com base na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, que, no período entre os
anos de 1993 e 1998, Minas Gerais passou a receber população: cerca de 16 mil migrantes
(TAB.1).
A conjunção dos componentes demográficos, além de ditar o ritmo de crescimento, molda
o perfil e a evolução da estrutura etária da população. O Brasil, até poucos anos atrás, tinha
uma população eminentemente jovem, com grande parcela de sua população na faixa até os 15
anos de idade, função das elevadas taxas de mortalidade e fecundidade. Com o rápido declínio
desses indicadores ao longo das últimas décadas, principalmente pela queda da fecundidade, o
país passou a experimentar um processo gradual de envelhecimento, em ritmo muito mais
acelerado e em tempo muito menor do que o ocorrido nos países mais desenvolvidos. Em
Minas Gerais, o envelhecimento da população pode ser constatado através da comparação das
pirâmides etárias para os anos de 1970 e 2000 (GRAF. 4), observando-se a substancial diminuição
do percentual da população nas idades mais jovens e seu crescimento nas faixas acima dos 20
anos de idade, principalmente na faixa acima de 70 anos.
144
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PIRÂMIDES ETÁRIAS DA POPULAÇÃO TOTAL - MINAS GERAIS - 1970 E 2000
BDMG
40 anos
GRÁFICO 4
FONTE: Dados básicos: IBGE. Censo Demográfico 1970, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Note-se que a queda acentuada da participação da população abaixo de 15 anos de idade
significa uma quase estabilidade da população jovem, que foi acrescida de apenas 112 mil pessoas
no período de 30 anos (são 5.075.513 de pessoas com idade inferior a 15 anos, em 2000). Em
contrapartida, a população de mais de 60 anos passa de 549.418, em 1970, para 1.624.981, em
2000, significando acréscimo de mais de 1 milhão de pessoas, e a população na faixa de idade
produtiva compreende, em 2000, 11.191.000 pessoas, 5,2 milhões a mais que em 1970).
O novo padrão de distribuição etária trouxe, e continuará a trazer durante as próximas décadas,
conseqüências para o planejamento de ações nas áreas social e econômica, com alguns setores sendo
mais pressionados do que outros. No caso do setor de ensino fundamental, o menor número de
crianças e jovens propicia condições para que seja atingida a universalidade da cobertura do sistema
educacional e possibilita o direcionamento de recursos visando a melhoria da qualidade do ensino.
O número cada vez maior de idosos, por sua vez, requer a reestruturação da sociedade com vistas a
propiciar melhores condições de vida para essa parcela da população. É necessária a adaptação dos
centros urbanos visando oferecer infra-estrutura de bens e serviços especializados (lazer, assistência
social, saúde, entre outros), bem como a definição de políticas que defendam os interesses dos
idosos. Outra conseqüência é que o aumento do número de aposentados e pensionistas contribuiu
para o agravamento do sistema de previdência social, que tende a se sobrecarregar ainda mais.
Finalmente, o maior peso da população nas faixas etárias produtivas pressiona, cada vez mais, o
mercado de trabalho, cabendo ao dinamismo da economia, tanto no segmento formal quanto no
informal, o papel de procurar gerar ou manter postos de trabalho para absorver essa grande massa de
mão-de-obra.
Capítulo 3 - As condições de vida
145
BDMG
40 anos
3.2. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
O IDH é um índice sintético que engloba quatro indicadores referentes a três dimensões,
quais sejam, o PIB per capita (indicador da dimensão “Renda”, medido pela paridade do poder de
compra), a esperança de vida ao nascer (indicador da dimensão “Longevidade”), a taxa de
alfabetização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino (indicadores da
dimensão “Educação”)1 .
GRÁFICO 5
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1970, 1980, 1991, 1997 E 1999
FONTES: FJP/IPEA/PNUD/IBGE. Desenvolvimento Humano e Condições de Vida: indicadores brasileiros, 1998; IBGE. Contas
Regionais 1985-1999; INEP/MEC; IBGE. PNAD de 1999; IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
1
146
O IDH foi criado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e utilizado, desde 1990, em seus relatórios
anuais, para efeito de comparação do grau de desenvolvimento humano dos países. Desde sua criação, o IDH passou por modificações
em sua fórmula de cálculo, incluindo a substituição de indicadores (por exemplo, até 1994 utilizava-se, ao invés da taxa combinada de
matrícula, o indicador número médio de anos de estudo) e de outros parâmetros. Nesse sentido, cabe destacar aqui a última alteração,
introduzida no Relatório de Desenvolvimento Humano, de 1999, e relacionada ao indicador da dimensão Renda. Mais especificamente,
o indicador dessa dimensão é, na verdade, o PIB per capita ajustado, ou seja, ao valor do PIB per capita é aplicado um redutor, de forma
a levar em consideração o fato de que acréscimos na renda se traduzem em melhores condições de vida, mas não de forma linear. O
IDH aqui apresentado para os estados brasileiros foi (re)calculado de acordo com a metodologia mais recente, isto é, incorpora a nova
metodologia de ajustamento do PIB per capita.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
O GRAF. 5 mostra a evolução do IDH nas últimas três décadas para o Brasil e seus estados.
De início, verifica-se que, ao longo dos períodos analisados, ocorreram significativas melhoras em
Minas Gerais: entre 1970 e 1999, o IDH do Estado salta de 0,522 para 0,781, ou seja, de uma
situação próxima ao limite do baixo desenvolvimento humano, Minas chega perto de alcançar a
condição de alto desenvolvimento humano. O maior avanço ocorreu na década de 70, o que se
atribui principalmente ao elevado crescimento do PIB per capita nesse período. Na década dos
oitenta, com a estagnação do PIB per capita, todo o crescimento do IDH deveu-se exclusivamente
às melhoras nas dimensões longevidade e educação. Entre 1991 e 1999, o PIB per capita volta a
crescer e a maior parte da expansão do IDH nesse período decorre das dimensões Educação e
Renda. Note-se ainda que o IDH de Minas Gerais cresce mais nos oito anos do período 19911999 do que ao longo dos onze anos do período 1980-1991.
Outras conclusões relevantes surgem quando se compara a evolução do IDH de Minas
Gerais com a dos demais estados do Brasil. Há uma melhora relativa de Minas Gerais, que, partindo
da 11ª posição, em 1970, atinge a 8ª colocação, em 1997, e a 9ª em 1999, reduzindo-se, além disso,
sua distância em relação aos estados de maior desenvolvimento humano. Mas, por outro lado,
cabe observar que, em 1999, Minas ainda se encontrava na pior situação dentre os estados das
regiões Sul e Sudeste e atrás também do Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, embora à frente de
todos os demais estados. Deve-se enfatizar, no entanto, que a distância de Minas Gerais em relação
a vários desses estados veio se reduzindo.
Ao longo de todo o período analisado, os valores do IDH de Minas Gerais mostram-se
muito semelhantes aos do Brasil. O PIB per capita de Minas Gerais é inferior ao do País, mas a
situação do estado é melhor nas dimensões longevidade e educação. Nesse sentido, cabe verificar
a posição relativa do Brasil frente aos países do mundo e, em particular, da América Latina.
Tomando-se apenas os 35 países que tinham mais de 30 milhões de habitantes em 2000, o Brasil
ocupava, nesse ano, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2002 do PNUD, a 16a.
posição pelo IDH, a 15a posição pelo PIB per capita e apenas a 20a e a 21a posições pelos índices de
educação e de esperança de vida. Mais ou menos o mesmo se observa em relação aos países da
América Latina: entre 18 países, o Brasil ocupa a décima colocação pelo IDH, a sexta pelo PIB per
capita e apenas a 12a e a 15a posições pelos índices de educação e de esperança de vida. De fato,
entre todos os países do mundo, o Brasil destaca-se com uma grande diferença entre sua posição
pelo IDH e pelo PIB per capita (o Brasil ocupava, em 2000, 13 posições abaixo pelo ranking do
IDH, onde classificou-se apenas na 73a posição, entre 173 países).
Capítulo 3 - As condições de vida
147
BDMG
40 anos
3.3. Condições de renda das famílias e pessoas
Nas análises sobre as condições de renda das pessoas e das famílias tem sido utilizada
preponderantemente como conceito de renda, a renda familiar per capita, por dois motivos
principais. Em primeiro lugar, por considerar a família como unidade solidária de consumo e
rendimento e, em segundo lugar, pelo fato de levar em consideração as diferenças de tamanho
das famílias, ao contrário, por exemplo, do conceito de renda familiar2 .
A TAB. 2 apresenta algumas características das famílias e suas tendências no período
1992-99, para o Brasil, Minas Gerais e Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Destacam-se três tendências que se consolidam na década de 90: a redução do tamanho médio
das famílias, principalmente devido à queda da fecundidade; o crescimento do número de famílias
cujas pessoas de referência são mulheres; e o crescimento do número de famílias unipessoais.
2
148
Apesar dessas vantagens, a utilização da renda familiar per capita apresenta como desvantagem o fato de não considerar economias
de escala com o aumento do número de membros das famílias.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TABELA 2
FAMÍLIAS RESIDENTES EM DOMICÍLIOS PARTICULAES PERMANENTES: VARIÁVEIS SELECIONADAS BRASIL, MINAS GERAIS
E REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - 1992 E 1999
BRASIL
CARACTERÍSTICAS
MINAS GERAIS
REGIÃO METROPOLITANA
DE BELO HORIZONTE
DISCRIMINAÇÃO
1992
Número de famílias
1999
1992
1999
1992
1999
38,634,437
46,306,278
4,156,763
4,954,399
919,864
1,160,105
78,1
21,9
74,0
26,0
76,5
23,5
73,5
26,5
72,0
28,0
68,7
31,3
Sexo da pessoa de referência (%)
Homens
Mulheres
Tamanho (no, médio de pessoas),
por classe de renda familiar
per capita em salários mínimos
Média
Até 1/4
De 1/4 a 1/2
Mais de 5
3,7
5,2
4,4
2,7
3,4
5,0
4,1
2,7
3,8
5,3
4,5
2,8
3,5
5,0
4,1
2,7
3,8
5,4
4,7
2,9
3,5
4,9
4,2
2,7
Tamanho (no, médio de filhos),
por classe de renda familiar
per capita em salários mínimos
Média
Até 1/4
De 1/4 a 1/2
Mais de 5
1,7
3,2
2,4
0,9
1,6
3,1
2,1
0,9
1,7
3,3
2,4
1,0
1,6
3,1
2,2
0,9
1,7
3,5
2,8
1,1
1,6
3,0
2,3
1,0
Unipessoal
2 ou mais pessoas
Casal sem filhos
Casal com filhos
Mulheres sem cônjuge com filhos
Outros tipos
7,3
0,3
12,9
59,4
15,1
5,2
8,6
0,3
13,6
55
170,1
5,5
7,2
0,2
11,3
59,3
16,4
5,6
9,1
0,3
11,9
54,4
18,4
5,9
6,8
0,3
9,7
58,0
19,1
6,2
9,2
0,5
10,2
53,1
20,8
6,2
Até 19 anos
20 a 39 anos
40 a 60 anos
60 anos e mais
1,6
28,9
27,7
42,1
1,3
25,4
30,4
42,9
2,1
27,7
27,8
42,4
1,2
23,0
32,9
42,9
0,4
38,0
25,3
36,3
1,7
29,5
35,0
33,8
Percentual de famílias
por classes de
renda familiar per capita
em salários mínimos
Até 1/2
Mais de 1/2 até 1
Mais de 1 a 2
Mais de 2 a 3
Mais de 3 a 5
Mais de 5
25,9
24,3
23,9
8,4
6,3
5,4
20,1
23,4
23,1
10,2
8,2
9,4
29,0
27,2
24,0
6,7
5,0
4,5
20,0
26,9
24,5
9,2
7,0
7,4
18,6
26,2
25,6
9,0
7,0
8,7
12,6
23,9
25,9
10,7
8,7
11,9
Renda média familiar
per capita
(em salários mínimos)
40% mais pobres (A)
10% mais ricos (B)
Relação (B) / (A)
0,4
7,7
20,8
0,5
11,1
22,1
0,4
6,8
19,5
0,5
9,4
18,7
0,5
9,7
19,7
0,6
14,3
22,1
Tipo
Unidade unipessoal por grupos
de idade da pessoa de referência
149
BDMG
40 anos
Capítulo 3 - As condições de vida
FONTE: IBGE. Síntese de indicadores Sociais 2000.
Elaboração João Pinheiro
BDMG
40 anos
Assim, tanto em Minas Gerais como na RMBH, o número médio de pessoas por família
passa de 3,8 para 3,5 entre 1992 e 1999. Apesar da redução no tamanho das famílias ter sido
maior entre aquelas de mais baixo nível de renda, o tamanho destas é ainda significativamente
maior que as de mais alta renda. De fato, em 1999, enquanto o número médio de pessoas das
famílias mineiras com renda familiar per capita de até ¼ de salário mínimo e de ¼ a ½ salário
mínimo era, respectivamente, de 5 e 4,1 pessoas, nas famílias com renda familiar per capita
acima de 5 salários mínimos viviam, em média, apenas 2,7 pessoas. Pode-se constatar, pela
TAB. 2, que a mesma tendência se verifica em termos de número médio de filhos por família,
destacando-se que esse número variava, em 1999, de 2,9 filhos nas famílias com até ¼ de
salário mínimo de renda familiar per capita a 0,9 filhos naquelas com mais de 5 salários mínimos.
Assim também, confirma-se o crescimento, no período de 1992 a 1999, da proporção de
famílias chefiadas por mulheres, que passa de 23,5% para 26,5%, no caso de Minas Gerais e de
28% para 31,3% no caso da RMBH. O tipo predominante de família, ratificando a permanência
do modelo histórico de arranjo doméstico, é ainda o de casal com filhos, embora sua participação
tenha caído de 59,3% para 54,4%. Ao mesmo tempo, cresce a participação das famílias
unipessoais (de 7,2% para 9,1%, sendo quase metade delas constituídas por mulheres) e das
famílias constituídas por mulheres sem cônjuge com filhos (de 16,4% para 18,4%).
Chama atenção, no caso das famílias unipessoais, além de sua maior participação no total
das famílias e da preponderância de famílias constituídas por pessoas de 60 anos e mais (43%
em Minas Gerais e 34% na RMBH), o crescente peso daquelas representadas por pessoas de 40
a 60 anos e o peso decrescente daquelas representadas por pessoas na faixa de 20 a 40 anos. Já
no caso das famílias constituídas por mulheres sem cônjuge com filhos, chama atenção a maior
representatividade das famílias de renda per capita mais elevada, com a queda na participação
das famílias de menor renda per capita, que, no entanto, são preponderantes (em 1999, metade
das famílias de mulheres sem cônjuge com filhos apresentavam renda familiar per capita abaixo
de um salário mínimo).
Feitas essas considerações, cabe analisar especificamente as condições de renda das
famílias e pessoas, a partir de sua distribuição segundo a renda familiar per capita.
Os dados da TAB. 2 mostram que houve, entre 1992 e 1999, uma queda significativa do
percentual de famílias pobres, mas, nesse último ano, 20% das famílias mineiras recebiam menos
de meio salário mínimo de renda familiar per capita e 47% menos de um salário mínimo, o que
configura, sem dúvida, um quadro grave de pobreza3 . Por outro lado, apenas 14,4% das famílias
tinham renda familiar per capita superior a três salários mínimos e 7,4%, superior a 5 salários
mínimos. A situação na RMBH também melhorou ao longo da década e, em 1999, era
substancialmente melhor que a do estado: 12,6% e 36,5 das famílias tinham renda familiar per
capita inferior, respectivamente, a meio e a um salário mínimo, enquanto 20,6% e 11,9% das
famílias tinham, respectivamente, renda familiar per capita superior a 3 e a 5 salário mínimos.
3
150
Na realidade, a melhoria das condições de renda, entre 1992 e 1999, foi menor do que a mostrada na TAB. 2, pois o IBGE, ao
converter os valores de renda de 1992 para 1999 pelo INPC, deixou de considerar, na passagem do Plano Real, o que representaria
um acréscimo de aproximadamente 22% nos valores de renda, de 1992, a preços de 1999 (equivalente à diferença entre a inflação
de julho/94 medida em reais e em cruzeiros reais).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Tomando como linha de pobreza o valor de meio salário mínimo de renda familiar per
capita, o GRAF. 6 compara a situação de pobreza das famílias de Minas Gerais com a dos
demais estados brasileiros. Apesar da melhora relativamente grande ocorrida na década4 , Minas
destaca-se, em 1999, com a maior proporção de famílias pobres entre todos os estados das
Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ultrapassando o Espírito Santo e o Mato Grosso. A
significativa distância que separa Minas Gerais dos estados do Nordeste permanece, mas cabe
notar que, se fosse adotada uma linha de pobreza regionalizada, considerando a paridade do
poder de compra, essa distância seria, sem dúvida, menor. O GRAF. 7 mostra que a situação é
similar quando se compara a pobreza nas regiões metropolitanas: a RMBH só apresenta melhores
condições que as metrópoles nordestinas, apesar de se destacar com uma das maiores quedas
na proporção de famílias pobres entre 1992 e 1999.
GRÁFICO 6
PROPORÇÃO DE FAMÍLIAS POBRES (LINHA DE POBREZA DE MEIO SALÁRIO MÍNIMO DE RENDA FAMILIAR
PER CAPITA) BRASIL E ESTADOS DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
4
Ver nota anterior.
Capítulo 3 - As condições de vida
151
BDMG
40 anos
GRÁFICO 7
PROPORÇÃO DE FAMÍLIAS POBRES (LINHA DE POBREZA DE MEIO SALÁRIO MÍNIMO DE RENDA FAMILIAR
PER CAPITA) - REGIÕES METROPOLITANAS - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Os GRAF. 8 e 9 retratam também a evolução da pobreza nos estados e regiões
metropolitanas, mas sob uma ótica distinta, ou seja, das pessoas com renda familiar per capita de
até meio salário mínimo. Tanto em termos de evolução quanto de posição relativa, o quadro de
pobreza que se apresenta é similar ao observado no caso da pobreza das famílias, com a diferença
de que, dado o maior tamanho das famílias mais pobres, conforme observado anteriormente, as
proporções de pobres são maiores5 . Assim, em 1999, a proporção de pessoas pobres em Minas
Gerais atingia 25,2% de sua população, enquanto a proporção de famílias pobres era de 20%. Em
termos absolutos, esses percentuais representam um contingente de 4,36 milhões de pessoas pobres
e de 990,9 mil famílias pobres vivendo em Minas Gerais nesse ano, sendo que a RMBH concentrava
aproximadamente 15% desse contingente.
5
152
Segundo os dados de FJP/ IPEA/PNUD/IBGE, Atlas do Desenvolvimento no Brasil, 1998, houve, em Minas Gerais, um
crescimento na proporção de pobres, entre os Censos Demográficos de 1980 e 1991, de 41,5% para 49,6%. Como este último número
é bem superior aos apontados aqui para 1992 e 1999, duas explicações devem ser consideradas conjuntamente: a) a linha de pobreza
adotada no Atlas – meio salário mínimo de setembro de 1991 – é superior à de meio salário mínimo, de outubro de 1999, (data da
PNAD de 1999) em aproximadamente 20%; b) os resultados obtidos pelos Censos Demográficos e pelas PNADs diferem, por
diferenças na condução dessas pesquisas. Por outro lado, a queda na proporção de pobres, entre 1992 e 1999, também não foi tão
significativa se considerarmos que o IBGE deixou de contabilizar 22% de inflação, em julho/94, conforme nota 3.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PROPORÇÃO DE POBRES (PESSOAS COM RENDA FAMILIAR PER CAPITA DE ATÉ MEIO SALÁRIO MÍNIMO)
BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
BDMG
40 anos
GRÁFICO 8
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
GRÁFICO 9
PROPORÇÃO DE POBRES (PESSOAS COM RENDA FAMILIAR PER CAPITA DE ATÉ MEIO SALÁRIO MÍNIMO)
REGIÕES METROPOLITANAS - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Capítulo 3 - As condições de vida
153
BDMG
40 anos
Finalmente, considera-se a desigualdade de renda familiar per capita entre as famílias,
através da relação entre a renda familiar per capita média dos 10% mais ricos e dos 40% mais
pobres (TAB. 2 e GRAF. 10 e 11). Por esse indicador, a desigualdade de renda entre as famílias
cresceu, no Brasil, e em diversos estados brasileiros, mas em Minas Gerais houve um ligeiro
decréscimo6 . Mesmo assim, Minas apresentava, em 1999, uma das maiores desigualdades de renda
entre os estados das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, embora inferior à dos estados do Nordeste
e à média brasileira: a renda familiar per capita média dos 10% mais ricos era 18,7 vezes superior à
dos 40% mais pobres. O gráfico destaca também o valor da renda familiar per capita média dos
40% mais pobres, que elevou-se em todos os estados brasileiros. Em Minas Gerais, ela passa de
R$ 47,60, em 1992, para R$ 68,35 em 19997 , igualando à média brasileira, mas situando-se abaixo
da de todos os demais estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
GRÁFICO 10
DESIGUALDADE DE RENDA ENTRE AS FAMÍLIAS E RENDA FAMILIAR PER CAPITA (RFPC) DOS 40% MAIS
POBRES - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
6
7
154
Cabe ressaltar, que, de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (FJP/IPEA/PNUD/IBGE, 1998), a
desigualdade de renda familiar per capita em Minas Gerais, medida pelo índice L de Theil, manteve-se em 0,63, em 1970 e 1980,
e elevou-se para 0,70 em 1991, valor este superior ao de todos os estados das Regiões Sul e Sudeste. Assim, segundo o Atlas, nos
anos 80, a renda per capita cai em Minas Gerais, enquanto a desigualdade eleva-se e, como conseqüência, eleva-se também a
proporção de pobres.
O que equivale a um crescimento de 44% no período. Entretanto, conforme observado em nota anterior, ao atualizar o valor de
1992 para 1999, o IBGE deixou de considerar uma inflação de aproximadamente 22% em julho de 1994. Considerando-se esse
valor, na verdade o crescimento da renda familiar per capita média dos 40% mais pobres foi de apenas 18% no período ou de 2,4%
ao ano.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
DESIGUALDADE DE RENDA ENTRE AS FAMÍLIAS E RENDA FAMILIAR PER CAPITA (RFPC) DOS 40% MAIS
POBRES - REGIÕES METROPOLITANAS - 1992 E 1999
BDMG
40 anos
GRÁFICO 11
FONTE: IBGE.Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Já na RMBH, ao contrário do Estado, a desigualdade de renda entre as famílias cresceu no
período 1992-99. Nesse último ano, a renda familiar per capita média dos 10% mais ricos era 22
vezes superior à dos 40% mais pobres. A desigualdade na RMBH superava a de todas as regiões
metropolitanas, com exceção das do Nordeste e de Belém. A renda familiar per capita dos 40%
mais pobres cresceu no período em todas as metrópoles, mas ,em 1999, a RMBH encontrava-se,
nesse aspecto, em posição inferior a todas as demais regiões metropolitanas do Sul e Sudeste.
Capítulo 3 - As condições de vida
155
BDMG
40 anos
3.4. Condições habitacionais
Os indicadores de condições habitacionais aqui analisados referem-se ao universo dos
domicílios particulares permanentes urbanos. Entre 1992 e 1999, o número total de domicílios
em Minas Gerais passou de 3,9 milhões para 4,6 milhões, fazendo com que o número médio de
pessoas por domicílio caísse de 4,1 para 3,8. No mesmo período, o número de domicílios particulares
permanentes urbanos passou de 3 milhões para 3,6 milhões, correspondentes, portanto, a pouco
mais de três quartos do total de domicílios do Estado.
Em termos de abastecimento de água, a situação desses domicílios urbanos, que já era boa
no início da década de 90, melhorou no decorrer dessa. De fato, considerando-se adequado o
abastecimento de água através de rede geral com canalização interna, o percentual de domicílios
nessa situação cresce de 87%, em 1992, para 94,3% em 19998 . Conforme o GRAF. 12, esse
percentual coloca Minas Gerais entre os melhores estados nesse aspecto, ligeiramente atrás apenas
de São Paulo e Paraná e, praticamente, no mesmo nível de Espírito Santo e Sergipe.
GRÁFICO 12
PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS URBANOS COM ABASTECIMENTO ADEQUADO DE ÁGUA (REDE GERAL COM
CANALIZAÇÃO INTERNA) BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Já no tocante às condições de esgotamento sanitário, embora também tenha ocorrido
significativa melhora ao longo da década, a situação ainda deixa a desejar. Assim, considerando-se
8
156
Pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, o percentual de pessoas que viviam, em Minas Gerais, em domicílios com
condições adequadas de abastecimento de água, tal como aqui definidas, elevou-se de 22,8%, em 1970, para 40,5%, em 1980, e
para 68,3% em 1991.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
adequado o esgotamento através de rede coletora ou fossa séptica, 14,4% dos domicílios se
encontravam, em 1999, em condições inadequadas nesse aspecto, percentual que atingia 26,2%
em 19929 . O GRAF. 13 mostra, contudo, que Minas Gerais encontra-se bem situada relativamente
aos demais estados, posicionando-se em quarto lugar. Cabe ressaltar que condições adequadas de
esgotamento sanitário, tal como aqui definido, não assegura a adequabilidade da destinação dos
dejetos, ou seja, o domicílio pode estar ligado à rede coletora mas não estar ligado a redes de
tratamento de dejetos.
GRÁFICO 13
PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS URBANOS COM ESGOTAMENTO SANITÁRIO ADEQUADO
(REDE COLETORA OU FOSSA SÉPTICA) BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Quanto à destinação do lixo, considera-se em condições adequadas o domicílio cujo lixo é
coletado diretamente. Em 1999, se encontravam, nessa situação, 84,6% dos domicílios urbanos
mineiros, o que significa uma grande melhora em relação a 1992, quando apenas 70,1% deles
apresentavam-se em condições adequadas. Note-se, pelo GRAF. 14, que, ao contrário do observado
em relação às condições de abastecimento de água e de esgotamento sanitário de seus domicílios,
em relação à coleta do lixo, Minas Gerais se posiciona em situação pior à de todos os estados das
Regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, à exceção do Espírito Santo, e mesmo de estados do Nordeste
e Norte.
9
Pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, o percentual de pessoas que viviam, em Minas Gerais, em domicílios com
condições adequadas de esgoto, tal como aqui definidas, caiu de 17,9%, em 1970, para 14,8%, em 1980, subindo para 30%
em 1991.
Capítulo 3 - As condições de vida
157
BDMG
40 anos
GRÁFICO 14
PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS URBANOS COM COLETA DE LIXO ADEQUADA (COLETA DIRETA)
BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Finalmente, cabe verificar a situação dos domicílios quando se consideram simultaneamente
as condições de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e de coleta de lixo. Em 1992,
apenas 64,6% dos domicílios urbanos do Estado possuíam condições adequadas nesses três
aspectos, percentual que sobe para 82,4%, em 1999, situando Minas Gerais como o terceiro
melhor colocado entre todos os estados brasileiros, após São Paulo e Distrito Federal (GRAF. 15).
É interessante destacar aqui a situação desigual existente entre os domicílios mineiros, quando
estes são classificados pelo nível de renda domiciliar per capita. Assim, em 1999, somente 63% dos
domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo apresentavam condições adequadas
nos três aspectos aqui considerados, contra mais de 90% dos domicílios com renda per capita
acima de dois salários mínimos e 96% dos domicílios com renda per capita acima de 5 salários
mínimos (em 1992, apenas 40,9% dos domicílios com renda per capita até meio salário mínimo
apresentavam condições adequadas). De outra forma, em 1999, dos 636 mil domicílios urbanos
em condições inadequadas no Estado, 202 mil eram domicílios com renda per capita inferior a
meio salário mínimo, representando 31,8% dos domicílios em condições inadequadas, mas apenas
15,1% do total de domicílios de Minas Gerais.
158
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS URBANOS COM CONDIÇÕES ADEQUADAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA,
ESGOTAMENTO SANITÁRIO E COLETA DE LIXO - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999
BDMG
40 anos
GRÁFICO 15
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Capítulo 3 - As condições de vida
159
BDMG
40 anos
3.5. Déficit habitacional
O rápido processo de urbanização ocorrido, no país e em Minas Gerais, ao longo das últimas
décadas promoveu profundas transformações nas cidades e levou ao agravamento de diversos
problemas sociais, sendo um dos mais preocupantes a falta de moradias. O correto dimensionamento
do problema é essencial para o desenvolvimento de políticas públicas bem como para o
planejamento de investimentos do setor privado, visando a melhoria de condições de vida da
população.
O estudo Déficit Habitacional no Brasil 2000, realizado pela Fundação João Pinheiro em
parceria com a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, define como déficit habitacional a
necessidade de construção de novas moradias, estando ligado diretamente à deficiência do estoque
de domicílios. Compreende aqueles sem condição de habitabilidade devido à precariedade das
construções ou em virtude de terem sofrido desgaste da estrutura física, devendo ser repostos.
Inclui também a necessidade de incremento do estoque de moradias, e se relaciona ao problema
da coabitação familiar (mais de uma família residindo em um mesmo domicílio) e ao fato de
pessoas residirem em locais construídos com fins não residenciais. O conceito de déficit habitacional
compreende ainda as famílias de baixa renda (renda familiar até três salários mínimos) que
despendem mais de 30% da mesma com aluguel.
Para uma população de 17.891.494 habitantes, Minas Gerais tinha um estoque de 4.765.258
domicílios, em 2000, e um déficit habitacional estimado em 632.057 moradias, que correspondia a
13,3% do estoque de domicílios, grande parcela concentrada nas áreas urbanas (86,7% ou 548.011
moradias). Do total do déficit habitacional urbano, 27,8% se situavam na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, e analisado segundo faixas de renda mensal familiar, 87,7% correspondiam a
famílias com renda de até três salários mínimos.
O déficit habitacional brasileiro foi estimado em 6.656.526 de moradias e, desse total, Minas
Gerais contribuía com 9,5%. Quando comparado às demais unidades da Federação, o déficit mineiro
é o segundo maior em números absolutos, sendo menor apenas que São Paulo, que tem carência
estimada de 1.161.757 moradias. Com déficit pouco inferior ao mineiro estão os estados da
Bahia, Maranhão e Rio de Janeiro, o que pode ser visualizado no Mapa 1. Porém, se comparado
com o dos domicílios de cada Estado, o déficit mineiro é menos expressivo, se comparado com
os estados do Nordeste e Norte mais o Distrito Federal apresentando a pior situação relativa no
país (Mapa 2).
A maior parcela do déficit habitacional mineiro é devida ao problema da coabitação familiar
(58,9%), vindo a seguir o gasto excessivo com aluguel nas famílias com baixa renda (29,4%),
sendo pouco significativo o número de habitações precárias (11,7%). O peso desses componentes
no déficit brasileiro é um pouco diferenciado, havendo maior preocupação relativa com as habitações
precárias (25,8%) e menor com o gasto com aluguel (18,2%). A coabitação continua a ser a maior
preocupação, representando 56,1% do déficit total.
160
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
ESTIMATIVA DO DÉFICIT HABITACIONAL SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAÇÃO - BRASIL - 2000
BDMG
40 anos
MAPA 1
FONTE: Fundação João Pinheiro. Centro de Estatística e Informações. Déficit Habitacional no Brasil 2000. Belo Horizonte, 2001
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
MAPA 2
PARTICIPAÇÃO DA ESTIMATIVA DO DÉFICIT HABITACIONAL EM RELAÇÃO AO TOTAL DOS DOMICÍLIOS
PARTICULARES PERMANENTES SEGUNDO UNIDADES DA FEDERAÇÃO - BRASIL - 2000
FONTE: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estatística e Informações. Déficit Habitacional no Brasil 2000. Belo Horizonte, 2001.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Capítulo 3 - As condições de vida
161
BDMG
40 anos
Com base em números estimados, para 1991, pela Fundação João Pinheiro, é possível traçar
a evolução do déficit habitacional no período 1991 a 2000. Minas Gerais apresentou um crescimento
do déficit de 150.377 unidades domiciliares, o que significou um pequeno acréscimo em termos
relativos: de 12,7% para 13%. Houve, entretanto, comportamento diferenciado ao considerar-se
os segmentos urbanos e rurais da população: queda do déficit rural, reflexo do crescimento negativo
da sua população e aumento do déficit urbano. O déficit habitacional urbano mineiro que, em 1991,
era estimado em 350.110 moradias, ou 12,3%, passa para 536.68810 , ou 13,5%, em 2000; por sua
vez, o déficit rural cai de 120.247, ou 13,9%, para 84.046 domicílios, ou 10,5%.
Em relação ao País houve acréscimo no déficit de 1.165.148 moradias no período, o que
percentualmente equivale a uma ligeira queda: de 15,4% para 14,6% do total do estoque de
domicílios, havendo, também, aumento das carências urbanas e decréscimo nas áreas rurais. Ao
comparar-se a situação de algumas unidades da Federação, em relação ao percentual do déficit
urbano, nota-se que enquanto Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul têm pequena piora
relativa no período, São Paulo e Bahia mantêm os mesmos indicadores nos dois anos o Rio de
Janeiro apresenta melhor situação em 2000.
As necessidades do setor habitacional não se atêm, todavia, apenas à consideração da carência
de novas moradias, mas também pelo que definiu-se como inadequação das moradias. Pelo estudo
Déficit Habitacional no Brasil 2000 o conceito de moradias inadequadas reflete problemas na qualidade
de vida dos moradores não relacionados ao dimensionamento do estoque de domicílios, e sim a
especificidades internas desse estoque, à através da identificação daqueles que não proporcionem
condições adequadas de habitabilidade. São classificados como inadequados segundo diversos
critérios, se restringindo aos domicílios urbanos e não se considerando aqueles incluídos como
parcela do déficit habitacional.
O maior número de domicílios inadequados se refere à ausência de um ou mais serviços de
infra-estrutura básica (abastecimento de água, esgotamento sanitário, energia elétrica e coleta de
lixo). Estimou-se, para Minas Gerais, 683.810 domicílios nessas condições, em 2000, sendo a
falta de esgoto sanitário (rede pública ou fossa séptica) o maior problema declarado. Representam
17,3% dos domicílios do Estado, percentual bastante superior ao do Estado de São Paulo (6%),
mas inferior ao de outras importantes Unidades da Federação: Paraná, 34,6%, Rio Grande do Sul,
20,8%, Bahia, 45,3%, e Rio de Janeiro, 18,4%.
Estimou-se também como inadequados os domicílios urbanos com número excessivo de
moradores por dormitório, que em Minas Gerais somavam 185.240 domicílios; os domicílios que
não possuíam unidade sanitária interna e de uso exclusivo do domicílio, 129.199; o que se
denominou inadequação fundiária urbana (domicílios próprios cujos proprietários não tinham a
posse do terreno), 81.156; e os domicílios depreciados em função da idade da construção, 89.289.
Esses números, diferentemente do déficit habitacional, não podem ser somados uma vez que um
domicílio pode ser inadequado em mais de um critério.
10
162
Este total não inclui 11.323 domicílios correspondendo ao déficit por depreciação do estoque, que não pode ser calculado para 1991,
o que comprometeria a comparação entre os dois anos.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
3.6. Condições e serviços de saúde
Em Minas Gerais, tem sido observada uma melhora nos indicadores de saúde nas últimas
décadas. Também observado no País, esse avanço resulta de mudanças nas condições
socioeconômicas, especialmente da melhora em termos de saneamento (abastecimento de água e
esgoto). Persistem, no entanto, desigualdades inter-regionais decorrentes da manutenção de fatores
desfavoráveis relativos à infra-estrutura socioeconômica em várias regiões do Estado.
O acesso igualitário a ações e serviços de saúde constitui um dos princípios que norteiam a
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme instituiu o artigo 196 da Constituição
Federal de 1988. Em Minas Gerais, desde o início dos anos 90, foi iniciado o processo de
descentralização dos serviços de saúde, o que resultou na municipalização do atendimento à
saúde. Já em 1995, 92% dos municípios do Estado encontravam-se habilitados em alguma forma
de gestão do sistema local de saúde. As últimas informações dão conta de que, dentre os 853
municípios de Minas Gerais – 784 estão habilitados na condição de gestão plena da atenção
básica, recebendo diretamente do Ministério da Saúde os recursos correspondentes ao Piso de
Atenção Básica – PAB; 57 municípios encontram-se em gestão plena do sistema municipal,
responsabilizando-se pela totalidade dos recursos assistenciais provenientes do SUS Federal, há
ainda 12 municípios não habilitados.
A avaliação dos níveis de saúde da população em geral pode ser feita utilizando-se indicadores
de mortalidade, como a mortalidade proporcional por faixa etária. Esse indicador assinala a melhoria
alcançada no Estado, entre 1980 e o final da década de 90, período em que se observou: (a)
redução da mortalidade proporcional em menores de um ano (de 22,4% para 8,3%) e em crianças
de 1 a 4 anos (de 4,1% a 1,3%); (b) redução da mortalidade precoce, expressa pelo incremento
percentual de mortes ocorridas na faixa etária de 50 e mais (de 50,1% para 66,3%); e (c) crescimento
da mortalidade proporcional entre população de 20 a 49 anos (de 19,3% a 21,0%). A melhora nos
níveis de saúde, no entanto, ainda não permite posicionar Minas Gerais entre as regiões que
atingiram elevado nível de saúde11 . Os valores obtidos para o Estado estão próximos daqueles
encontrados para o País naquele ano, porém distantes dos índices americanos e ingleses dos anos
5012 .
Quando se analisa a mortalidade por grupos de causas no mesmo período, observa-se para
o Estado a diminuição da mortalidade principalmente por doenças infecciosas e parasitárias e por
afecções do período perinatal. As doenças do aparelho circulatório responderam, aproximadamente,
por um quarto das mortes entre os homens e um terço entre as mulheres, com pequeno aumento
no período. Neoplasmas e doenças do aparelho respiratório registraram aumentos substanciais da
mortalidade em ambos os sexos. Entre os homens, o grupo de causas externas, que correspondem
a mortes por acidentes, homicídios e suicídios, apresentou aumento expressivo (Fundação João
Pinheiro, dezembro de 1999). Em geral, as mudanças observadas na hierarquia dos grupos de
11
12
Populações que possuem nível de saúde elevado apresentam a percentagem de pessoas que morreram com 50 anos ou mais em
relação ao total de óbitos ocorridos em determinado espaço e tempo (razão da mortalidade proporcional) maior ou igual a 75%.
Classifica-se no segundo nível de saúde, populações com percentual de 50 a 74%. No terceiro nível, percentual entre 25 e 49%
e no quarto nível, abaixo de 25%.
Considerando-se o Indicador de Guedes (construído a partir da ponderação da mortalidade proporcional por faixa etária), em
1996, o resultado de Minas Gerais (+22,96) assemelha-se ao do Brasil (+21,7). Por volta de 1950, os valores observados para os
Estados Unidos e Inglaterra eram +29,2 e +36,4, respectivamente (Fundação João Pinheiro, dezembro de 1999).
Capítulo 3 - As condições de vida
163
BDMG
40 anos
causas de óbitos, em Minas Gerais, revelaram um aumento de importância das causas crônicodegenerativas em detrimento das doenças infecciosas e parasitárias. tendência observada para o
conjunto do País. Em 1999, as principais causas de mortalidade em todas as regiões brasileiras
correspondiam a doenças do aparelho circulatório, causas externas, neoplasias e doenças do aparelho
respiratório. A comparação da mortalidade proporcional por grupos de causas entre regiões do
País, e em especial nos estados da Região Sudeste, pode ser visualizada nos GRAF. 16 e 17. Minas
Gerais, relativamente aos outros estados da Região, apresentava as maiores proporções de mortes
por doenças do aparelho circulatório e respiratório. No caso das doenças infecciosas e parasitárias,
também a proporção de óbitos em Minas Gerais encontra-se superior à dos demais estados da
Região.
As informações sobre mortalidade permitem ainda uma avaliação de iniqüidades de acesso
a serviços de saúde, através de dois indicadores que se referem à porcentagem de óbitos por
causas mal definidas no total de óbitos registrados e à porcentagem de óbitos sem assistência
médica por causas mal definidas no total de óbitos registrados. Entre 1980 e 1998, a situação para
o conjunto do Estado melhorou, diminuindo o percentual de causas mal definidas de 19% a 14%.
Apesar disso, manteve-se uma alta incidência de informação deficiente em cinco regiões em 1996:
Jequitinhonha (41% de óbitos por causas mal definidas), Norte (33%), Mucuri (35%), Noroeste
(28%) e Vale do Rio Doce (27%). Percentuais semelhantes foram registrados para os óbitos sem
assistência médica por causas mal definidas nessas mesmas regiões (Fundação João Pinheiro,
dezembro de 1999). No Brasil, em 1999, a mortalidade proporcional por causas mal definidas
correspondia a 15%, variando de 30% no Nordeste a 7% no Sul.
GRÁFICO 16
MORTALIDADE POR GRUPOS DE CAUSAS - BRASIL E GRANDES REGIÕES - 1999
FONTE: DATASUS, Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
164
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MORTALIDADE POR GRUPOS DE CAUSA - REGIÃO SUDESTE E SEUS ESTADOS - 1999
BDMG
40 anos
GRÁFICO 17
FONTE: DATASUS, Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
O índice do Sudeste (10%) refletia uma situação relativamente melhor que a da média
brasileira. Minas Gerais, no entanto, apresentou um índice relativamente mais alto, com 16% dos
óbitos registrados sem definição de causa básica, o que reflete a manutenção das desigualdades no
acesso aos serviços de saúde entre municípios e regiões do Estado.
A descentralização da assistência à saúde, por si só, não tem sido capaz de minorar os
efeitos das desigualdades. O financiamento das ações e ser viços de saúde provém
predominantemente da esfera federal, responsável por cerca de 70% dos recursos mobilizados no
setor público. O Fundo Nacional de Saúde transfere recursos diretamente para os Fundos
Municipais nos municípios que se encontram em gestão plena, ou, remunera diretamente a
prestadores de serviços (contratados ou conveniados) que integram a rede assistencial do SUS,
nos demais municípios. Os mecanismos de alocação dos recursos federais tendem a privilegiar
municípios e regiões mais desenvolvidos, com maiores índices de capacidade instalada (médicos
e leitos por habitante), como assinalou estudo da Fundação João Pinheiro em 1997. Assim regiões
que concentram espacialmente a oferta de serviços de saúde são também as que apresentam os
maiores índices de gasto federal ambulatorial e hospitalar.13 Quanto à participação das outras
esferas de governo em Minas Gerais, há indicações de que os municípios ampliaram a sua
participação relativa, enquanto que o governo estadual apresentou tendência de decréscimo, entre
1995 e 1998, ano em que o percentual de gasto com saúde (fonte Tesouro) em relação à receita
13
Essa situação começa a se alterar com a instituição do Piso de Atenção Básica (PAB) que segundo estudo recente da Fundação
João Pinheiro, favoreceu regiões como o Norte de Minas e o Jequitinhonha, nas quais o per capita de atenção básica equivalia, em
1999, a R$ 18,35 e R$ 15,54, respectivamente. Também os municípios com população até 10.000 habitantes foram favorecidos,
apresentando um per capita básico de, em média, R$ 16,45 no ano de 1999. Essa nova modalidade de financiamento, baseada na
cobertura populacional, deve redundar, a médio prazo, na melhoria do atendimento básico universal.
Capítulo 3 - As condições de vida
165
BDMG
40 anos
disponível alcançou 5,49% (Fundação João Pinheiro, novembro de 1999). Este percentual encontravase aquém do mínimo estipulado pela recém aprovada Emenda Constitucional da Saúde.14
Cabe aqui um breve retrato dos serviços de saúde em Minas Gerais. Os serviços de saúde
são caracterizados como unidades prestadoras de atendimento à saúde individual e coletiva. No
contexto atual, os serviços de saúde se encontram organizados segundo níveis de atenção, com
crescente densidade tecnológica, e integrados em complexos sistemas cuja finalidade principal é a
promoção, recuperação e manutenção da saúde das pessoas, famílias e comunidades.
No cenário mundial, os sistemas de saúde correspondem, atualmente, a um importante
setor da economia. O gasto mundial com atenção à saúde foi de US$2.985 bilhões, em 1997, o
que correspondia a 8% do produto interno bruto (PIB) segundo o Informe sobre la Salud en el Mundo
(2000). A Organização Internacional do Trabalho, por seu lado, calcula que havia cerca de 35
milhões de trabalhadores de saúde, há dez anos, em todo o mundo, cifra que na atualidade deve
ser substancialmente maior: “essas cifras refletem até que ponto aquilo que foi uma relação básica
e privada – em que uma pessoa acometida por uma enfermidade era atendida por membros de sua
família ou por religiosos prestadores de assistência, ou as vezes pagava um curandeiro profissional
para tratá-la – se ampliou nos dois últimos séculos para formar uma complexa rede de atividades
que agora abarca um sistema de saúde” (Informe sobre la salud en el mundo, 2000, p.7).
No Brasil, a caracterização dos serviços de saúde é feita a partir das informações
provenientes do IBGE (Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária – AMS). De 1992 a 1999,
observou-se um aumento do número total de estabelecimentos de saúde no País, decorrente do
crescimento do setor público (estabelecimentos com e sem internação), enquanto os serviços
privados apresentaram uma redução. Entre as características do sistema brasileiro, destacam-se a
presença significativa do setor público no segmento dos estabelecimentos sem internação, enquanto
no segmento dos estabelecimentos com internação predominam serviços privados.
O aumento do número de estabelecimentos públicos, entre 1992 e 1999, incluindo a
categoria de estabelecimentos com internação, reflete a política de descentralização e
municipalização dos serviços de saúde, com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS)
após a Constituição de 1988. Assim dentre os serviços públicos em geral (com e sem internação),
aumentou a participação dos estabelecimentos municipais, que passaram de 18.662, em 1992,
para 30.404 em 1999. Considerando apenas os estabelecimentos públicos com internação, a
participação da esfera municipal para o conjunto do País, em 1999, foi de 70% (1.828 unidades).
A tendência de expansão dos serviços de saúde foi também observada em Minas Gerais.
Entre 1981 e 1999, cresceu o número de estabelecimentos de saúde, passando de 3032 a 7143
unidades (AMS-IBGE). Nesse mesmo período, os estabelecimentos públicos aumentaram de 2207
a 4290 e os privados de 825 a 2853 (GRAF. 18). A maioria são estabelecimentos sem internação:
em 1981 totalizavam 2320 e em 1999, 5171 (GRAF. 19). Além destes, em 1999 foram computados
1191 unidades de apoio diagnóstico e 781 hospitais. Ressalta-se que, no ano de 1992, a AMSIBGE passou a incluir, em seu cadastro unidades de complementação diagnóstica e terapêutica15
que totalizaram 1163 estabelecimentos em Minas Gerais, sendo que 96% pertencia à esfera
privada, situação que se manteve em 1999.
14
15
166
Aprovada no Senado Federal em agosto de 2000, a EC 29 definiu a vinculação de percentual das receitas disponíveis das três esferas
de governo às ações de saúde. Em Minas Gerais, o Plano Estadual de Saúde, relativo ao exercício de 2001, definiu uma aplicação de
recursos próprios correspondentes a 8,5% da receita disponível (impostos mais transferências constitucionais não vinculadas).
Essas unidades são caracterizadas como estabelecimentos de saúde onde são realizadas atividades que auxiliam a determinação do
diagnóstico e/ou complementam o tratamento e a reabilitação de doentes, incluindo bancos de sangue, laboratórios, clínicas radiológicas
e centros de controle de zoonoses.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE, POR ESFERA
ADMINISTRATIVA MINAS GERAIS - 1981, 1990, 1992 E 1999
BDMG
40 anos
GRÁFICO 18
FONTE: IBGE. Pesquisa de Assistência Médico-sanitária (AMS).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
GRÁFICO 19
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE, POR TIPO
MINAS GERAIS - 1981-1990, 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Pesquisa de Assistência Médico-sanitária (AMS).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Capítulo 3 - As condições de vida
167
BDMG
40 anos
Em Minas Gerais, à semelhança do que ocorreu no Brasil, verificou-se uma redução do
número de leitos hospitalares, entre 1981 e 1999, sejam aqueles pertencentes à esfera pública,
sejam os leitos privados (GRAF. 20).
GRÁFICO 20
LEITOS HOSPITALARES, SEGUNDO ESFERAS ADMINISTRATIVAS - MINAS GERAIS - 1981-1990, 1992 E 1999
FONTE: IBGE. Pesquisa de Assistência Médico-sanitária (AMS).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
O índice de leitos hospitalares por mil habitantes declinou de 3,81 a 2,89, entre 1992 e
1999. Nesse período, no entanto, observou-se uma recuperação da esfera pública que apresentou
um crescimento de 5,4% em seus leitos, enquanto que na esfera privada, a perda chegou a 28%
dos leitos. Observou-se que entre 1989 e 1999, o crescimento da participação da esfera pública se
deveu ao aumento de leitos públicos municipais, que em termos percentuais cresceram de 3,8 a
7,3% (GRAF. 21).
É significativo o percentual de leitos que integram a rede assistencial do Sistema Público
de Saúde (SUS). Em média, no Estado de Minas Gerais, 90% dos leitos mantinham,em 1999
algum vínculo com o SUS. Essa proporção variava segundo as regiões. Os menores percentuais
encontravam-se na Região Metropolitana de Belo Horizonte e no Triângulo/Alto Paranaíba, 83%
e 88% respectivamente. Já no Jequitinhonha e na Região Central Mineira, a totalidade dos leitos
vinculavam-se ao SUS.
168
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
DISTRIBUIÇÃO DOS LEITOS HOSPITALARES POR ESFERAS ADMINISTRATIVAS
MINAS GERAIS - 1981-1990, 1992 E 1999
BDMG
40 anos
GRÁFICO 21
FONTE: IBGE. Pesquisa de Assistência Médico-sanitária (AMS).
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Os equipamentos em uso disponíveis nos serviços de saúde de Minas Gerais em 1999,
segundo a AMS/IBGE, se caracterizam pelos tipos: “uso geral” (61%), equipamentos para
“manutenção da vida” (20%), equipamentos de “diagnóstico por imagem” (5%), e os restantes
(14%) são outros tipos de equipamentos. Em conjunto, os equipamentos encontravam-se
concentrados nas regiões de maior população, restando às regiões Campo das Vertentes, Central
Mineira, Jequitinhonha, Noroeste e Vale do Mucuri uma menor disponibilidade de equipamentos.
Nessas regiões, portanto a rede assistencial mostrava-se com baixa capacidade de incorporação
tecnológica.
No ano de 1999, os serviços de saúde em Minas Gerais empregavam cerca de 197.000
pessoas. Os recursos humanos com atuação especializada em saúde compunham-se de pessoal de
nível superior (38%), nível técnico/auxiliar (28%) e nível elementar (8%), além de 26% de pessoal
administrativo. O emprego em saúde encontra-se bastante concentrado nas quatro regiões mais
populosas, as quais juntas respondem por 75% do emprego em saúde.
As informações sobre a distribuição regional de serviços de saúde evidenciam que a
capacidade de prestação de serviços encontra-se desigualmente distribuída em Minas Gerais,
especialmente quando se focaliza o emprego no setor e a disponibilidade de equipamentos. As
regiões mais desfavorecidas do Estado são as que possuem sistemas de serviços de saúde com
baixa capacidade de absorção de emprego e de uso de tecnologia.
Capítulo 3 - As condições de vida
169
BDMG
40 anos
3.7. Condições educacionais
Durante a década de 90, ocorreu, em Minas Gerais, expressiva queda na taxa de
analfabetismo da população de 15 anos ou mais de idade, que passa de 16,2% em 1992 para
12,2% em 199916 . Essa taxa situa-se apenas ligeiramente abaixo da média brasileira e, como
mostra o GRAF. 22, é superior à de todos os estados das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, à
exceção de Goiás, embora bem inferior à dos estados do Nordeste. Mais especificamente, a taxa
de analfabetismo de Minas Gerais, em 1999, era o dobro da taxa do Rio Grande do Sul, melhor
Estado das regiões Sul e Sudeste nesse aspecto, e a metade da taxa de Sergipe, que detinha a
menor taxa entre os estados do Nordeste. Excluindo-se os estados da Região Norte, onde só são
pesquisadas as áreas urbanas, Minas classificou-se, nesse ano, apenas na décima posição entre os
demais vinte estados brasileiros.
GRÁFICO 22
TAXA DE ANALFABETISMO DAS PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE - BRASIL
E ESTADOS DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
16
170
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (FJP/IPEA/PNUD/IBGE, 1998), a taxa de analfabetismo em Minas
Gerais caiu de 34,3%, em 1970, para 24,7%, em 1980, e 17,5% em 1991.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
A posição intermediária de Minas Gerais no tocante ao analfabetismo se verifica também
quando se consideram as regiões metropolitanas brasileiras. Conforme o GRAF. 23, a taxa de
analfabetismo da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que caiu de 8,4%, em 1992, para
6,3%, em 1999, só é inferior à das metrópoles do Nordeste.
GRÁFICO 23
TAXA DE ANALFABETISMO DAS PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE
REGIÕES METROPOLITANAS - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Quando se desagregam as informações por situação do domicílio, dois fatos chamam
atenção. Em primeiro lugar, Minas Gerais se destacava, em 1999, com o terceiro maior diferencial
entre as taxas de analfabetismo urbano e rural (8,7% e 24,8%, respectivamente), só suplantado
pelo Rio de Janeiro e Sergipe (GRAF. 24). Assim, excluindo-se os estados da Região Norte,
Minas ocupava, entre os 20 estados restantes, a sétima posição quanto ao analfabetismo urbano
e apenas a 11ª posição quanto ao analfabetismo rural. Em segundo lugar, a queda na taxa de
analfabetismo, no período 1992-1999,foi proporcionalmente maior na área urbana do Estado
(cai de 12,3% para 8,7%) do que na rural (cai de 29,1% para 24,8%).
Capítulo 3 - As condições de vida
171
BDMG
40 anos
GRÁFICO 24
TAXA DE ANALFABETISMO DA POPULAÇÃO DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE, POR SITUAÇÃO
DE DOMICÍLIO BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Cabe destacar que, dado o crescimento populacional no período 1992-1999, a queda ocorrida
na taxa de analfabetismo de Minas Gerais significou uma redução de aproximadamente trezentos
mil analfabetos, o que, na verdade, é pouco frente ao contingente de 1,5 milhão de analfabetos
ainda existentes no Estado ao final da década.
Outro aspecto importante a ser destacado é que cada vez mais a taxa de analfabetismo
mostra-se insuficiente como indicador das condições educacionais das populações,
principalmente à medida em que o mercado de trabalho torna-se mais exigente em termos de
escolaridade. Para a UNESCO, por exemplo, o processo de alfabetização somente se consolida
com a conclusão da 4ª série. Nesse sentido, um indicador mais relevante para se medir a situação
e evolução das condições educacionais no Estado é a taxa de analfabetismo funcional, definida
aqui como o percentual da população de 15 anos ou mais com menos de quatro anos de estudo.
Pelo GRAF. 25, pode-se verificar que a taxa de analfabetismo funcional em Minas Gerais,
acompanhando a média brasileira, recuou de 37,9% em 1992 para 29,4% em 1999, o que é ainda
uma taxa muito elevada, representando um contingente de aproximadamente 3,6 milhões de
analfabetos funcionais17 . Essa taxa coloca Minas na mesma situação dos estados do Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul e Goiás e em pior situação que todos os demais estados das Regiões Sul e
Sudeste, embora bem melhor que a dos estados do Nordeste; Minas Gerais posiciona-se exatamente
a meio caminho entre o Rio Grande do Sul (menor taxa entre os estados do Sul/Sudeste) e Rio
Grande do Norte (menor taxa entre os estados do Nordeste).
17
172
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (FJP/IPEA/PNUD/IBGE, 1998), a taxa de analfabetismo funcional
da população de 25 anos ou mais de Minas Gerais caiu de 73,9%, em 1970 para 59,1%, em 1980, e 43,3% em 1991.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
TAXA DE ANALFABETISMO FUNCIONAL DAS PESSOAS DE 15 ANOS
OU MAIS DE IDADE - BRASIL E UNIDADE DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
BDMG
40 anos
GRÁFICO 25
FONTE: IBGE.Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
O GRAF. 26 mostra as taxas de analfabetismo funcional urbano e rural em 1999. Mais uma
vez Minas Gerais se destaca com o segundo maior diferencial entre essas taxas (após o Rio de
Janeiro). O analfabetismo funcional atinge mais da metade (53,6%) da população rural de 15 anos
ou mais do estado, percentual mais elevado que o de todos os demais estados das Regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, chegando mesmo a ser superior ao do Rio Grande do Norte. Por outro
lado, a posição de Minas em termos de analfabetismo funcional urbano é bem melhor, equiparandose ao Paraná, à frente de todos os estados do Nordeste e Centro-Oeste e não muito aquém da
situação dos melhores estados do Sul/Sudeste.
Capítulo 3 - As condições de vida
173
BDMG
40 anos
GRÁFICO 26
TAXA DE ANALFABETISMO FUNCIONAL DA POPULAÇÃO DE 15 ANOS OU MAIS DE IDADE,
POR SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Outro indicador importante na análise das condições educacionais da população mineira é
a taxa de escolarização ou de freqüência à escola das crianças (7 a 14 anos), adolescentes (15 a 19
anos) e jovens adultos (20 a 24 anos). Embora se possa questionar a qualidade do ensino, um dos
maiores trunfos do governo federal sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso é a grande melhoria
ocorrida nesse indicador. De fato, como demonstra o GRAF.27, em todos os estados brasileiros o
percentual de crianças fora da escola reduz-se enormemente entre 1992 e 1999. Em Minas Gerais,
esse percentual cai dois terços, passando de 12,7% para 3,9%18 .
18
174
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (FJP/IPEA/PNUD/IBGE, 1998), baseado em dados censitários, o
percentual de crianças de 7 a 14 anos que não frequentavam a escola em Minas Gerais caiu de 30%, em 1970, para 27,3%, em
1980, e 19,1% em 1991.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
PERCENTAGEM DAS CRIANÇAS DE 7 A 14 ANOS QUE NÃO FREQUENTAM A ESCOLA
BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
BDMG
40 anos
GRÁFICO 27
FONTE: IBGE, Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
Quanto à taxa de escolarização dos adolescentes e jovens adultos, sua evolução na década
foi também bastante positiva no Estado (TAB. 3). Assim, em 1999, freqüentavam a escola três
quartos dos adolescentes na faixa de 15 a 17 anos de idade, metade dos adolescentes na faixa de
18 e 19 anos e um quarto dos jovens adultos na faixa de 20 a 24 anos. Destaca-se ainda a queda
verificada na proporção dos adolescentes de 15 a 17 anos que só trabalhavam, que passa de 30%
para menos de 15% entre 1992 e 1999 (os que só estudavam passam de 35% para mais de 50% e
os que trabalhavam e estudavam, de aproximadamente 17% para 23%).
TABELA 3
TAXA DE ESCOLARIZAÇÃO DAS CRIANÇAS, ADOLESCENTES E
JOVENS ADULTOS - MINAS GERAIS - 1992 E 1999 (%)
Faixas de Idade
ANO
7 a 14 anos
15 a 17 anos
18 a 19 anos
20 a 24 anos
1992
87,3
52,4
31,9
1999
96,1
75,1
60,8
24,2
110,1
143,3
159,2
179,3
1999/1992
13,5
Capítulo 3 - As condições de vida
175
BDMG
40 anos
Outro indicador que aponta para a melhora educacional em Minas Gerais, na década de 90,
é a média de anos de estudo da população de 20 a 24 anos, que eleva-se de 6,2 para 7,2 anos.
Apesar dessa melhora, Minas posicionava-se, em 1999, em pior situação que a de todos os estados
da federação, exceto os da Região Nordeste (GRAF. 28), bem aquém da média de 8,7 anos de
estudo de São Paulo, melhor Estado brasileiro em termos desse indicador.
GRÁFICO 28
MÉDIA DE ANOS DE ESTUDO DA POPULAÇÃO DE 20 A 24 ANOS DE IDADE BRASIL E UNIDADES
DA FEDERAÇÃO - 1992 E 1999 (%)
FONTE: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000.
Elaboração: Fundação João Pinheiro.
176
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
3.8. Criminalidade violenta
Minas Gerais tem assistido a um aumento significativo de suas taxas de Crimes Violentos
no período 1986-2000, principalmente após 1996 (TAB. 4). A taxa de crimes violentos, que era
de 98 ocorrências para cada grupo de 100.000 habitantes, em 1986, chega a 357 no ano 2000, ou
seja, quase quadruplica nesse período. Apenas entre 1995 e 2000, houve um crescimento de
262% nessa taxa.
TABELA 4
EVOLUÇÃO DA TAXA DE CRIMES VIOLENTOS MINAS GERAIS E BELO HORIZONTE
1986-2000 (TAXA POR 100.000 HABITANTES)
1986
1987
1988
1989
1990
108,8
106,1
107,7
107,8
1991
1992
1993
116,9 119,4
132,4
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
144,9
136,3 149,7
192,6
231,7
286,0
357,8
MINAS GERAIS
Total
97,0
Homicídio
10,8
10,5
10,5
11,7
11,1
10,8
10,1
10,0
9,6
9,6
10,1
10,0
11,2
11,4
12,6
–
28,2
25,1
24,8
25,1
30,9
34,5
38,4
46,9
40,8
50,5
79,2
103,4
142,6
218,0
207,0
279,1
257,6
234,8
224,1
261,5 301,5
374,4 424,2
811,8 1137,7
8,1
9,3
9,2
10,9
10,7
–
111,8
96,3
84,8
78,7
Roubo a mão-armada
BELO HORIZONTE
Total
Homicídio
Roubo a mão-armada
FONTE:
347,9
409,6
9,6
9,6
10,6
102,8 120,0
136,7
180,0
11,4
568,6
641,6
12,4
12,9
17,6
19,8
25,0
160,0 197,7
291,5
341,3
465,4
782,1
11,3
Polícia Militar de Minas
Elaboração: Fundação João Pinheiro
Esse aumento dos crimes violentos concentrou-se, basicamente, nas regiões do Triângulo
Mineiro, Região Metropolitana de Belo Horizonte e no Vale do Rio Doce, que são as regiões mais
violentas do Estado. Cabe ressaltar também que as maiores taxas de crimes violentos no Estado
ocorrem nos maiores municípios. Enquanto os municípios com população de até 100.000 habitantes
apresentam taxas não superiores a 100 ocorrências por 100.000 habitantes durante a maior parte
do período, os municípios com mais de 100.000 habitantes apresentam taxas bem mais altas,
chegando, no caso de Belo Horizonte e Contagem, a um patamar de mais de 1.000 ocorrências
para cada grupo de 100.000 habitantes, no ano 2000.
Quando se analisam os dados de crimes contra a pessoa (homicídio, homicídio tentado e
estupro), observa-se uma tendência de estabilidade das taxas durante o período analisado, em
torno de 55 ocorrências para cada grupo de 100.000 habitantes. As taxas de homicídio apresentam
uma tendência de estabilidade, flutuando, durante o período analisado, entre 9 e 12 ocorrências
por 100.000 habitantes, conforme a TAB. 4. As regiões administrativas que apresentam as taxas
mais elevadas são a Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e Noroeste. Deve-se destacar, entretanto,
que no município de Belo Horizonte houve um crescimento expressivo da taxa de homicídios, a
partir de 1998, que chega, em 2000, a quase o dobro da verificada em 1997. O crime de estupro
é o único que apresentou tendência de queda dentre todos os crimes analisados.
O aumento da criminalidade violenta no Estado se deve, portanto, aos crimes contra o
patrimônio (roubo, roubo a mão armada, roubo de veículo e roubo de veículo a mão armada), que
Capítulo 3 - As condições de vida
177
BDMG
40 anos
apresentaram um aumento acentuado durante o período. Assim, a taxa de crimes contra o patrimônio,
que em 1986 era de 41 ocorrências por 100.000 habitantes, alcança, em 1998, o patamar de 174
ocorrências por 100.000 habitantes, representando um aumento superior a 300% no período.
Quanto ao crime de roubo, observou-se uma forte tendência de crescimento a partir do
início da década de 90, que se intensifica a partir de 1996. Entre 1996 e 1998, ocorreu um
crescimento superior a 50% na incidência de Roubos em todo o Estado de Minas Gerais, tendência
que permanece até o ano de 2000. O crime de Roubo mostra-se característico das regiões mais
industrializadas do Estado ou das regiões que vem mostrando crescimento econômico significativo
nos últimos anos (principalmente as regiões Central, Mata, Vale do Paranaíba, Vale do Rio Grande,
Vale do Rio Doce, Norte de Minas e Vale do Aço). A Região Central é responsável, sozinha, por
quase 50% de todas as ocorrências de Roubo observadas durante os anos pesquisados. As taxas
de roubo mais elevadas, seguindo a tendência para a somatória dos crimes violentos, são verificadas
nas maiores cidades.
Também o crime de roubo a mão armada apresenta forte tendência de crescimento
aumentando mais de 300%, entre os anos de 1996 e 2000, como pode-se constatar na TAB. 4.
Tal como observado para outros crimes, as taxas de roubo a mão armada são maiores nas cidades
com maior população e, com relação à sua distribuição espacial no estado, concentram-se,
principalmente, na RMBH, no Triângulo Mineiro e nas cidades mais importantes do Estado. Os
municípios de Belo Horizonte, Contagem, Uberlândia, Juiz de Fora, Governador Valadares, Uberaba
e Ipatinga respondem, juntos, por mais de 70% de todas as ocorrências no Estado.
178
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
3.9. Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Disponível em:
http://www.datasus.gov.br
BRITO, F. Brasil final de século: a transição para um novo padrão migratório? Belo Horizonte:
UFMG/CEDEPLAR, 2000. [Mimeo].
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Anuário estatístico de Minas Gerais 1994. Belo Horizonte:
FJP, 1995.
______. Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001. Belo Horizonte: FJP, 2002.
______. Déficit habitacional no Brasil. Belo Horizonte: FJP, 1995.
______. Déficit habitacional no Brasil 2000. Belo Horizonte: FJP, 2001.
______. Perfil de morbi-mortalidade do estado de Minas Gerais: evolução das condições de saúde
(1986 a 1996) e aspectos da organização espacial da atenção hospitalar no sistema único de
saúde (1997). Belo Horizonte: FJP, 1999.
______. Migrações internas em Minas Gerais na década 1980/1990. Belo Horizonte: FJP, 1999.
______;IPEA; PNUD; IBGE. Desenvolvimento humano e condições de vida: indicadores brasileiros.
Brasília: PNUD, 1998.
_______;IPEA; PNUD; IBGE. Atlas do desenvolvimento no Brasil. Brasília: PNUD, 1998. 1
CD-ROM.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Assistência
Médico-sanitária (AMS). Disponível em: http://www.datasus.gov.br
______. Contas Regionais do Brasil – 1985-1999 – informações por unidade da Federação.
Rio de Janeiro, IBGE, 2001. 1 CD-ROM.
______. Censos demográficos, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000.
______. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
______. Síntese dos indicadores sociais 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2001.
OMS - Organización Mundial de la Salud. Informe sobre la Salud en el Mundo 2000. Genebra:
OMS, 2000.
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Relatório do desenvolvimento
humano 2002. Lisboa, Mensagem-Serviço de Recursos Editoriais LDA., 2002. Disponível
em: http://www.undp.org.br.
Capítulo 3 - As condições de vida
179
BDMG
40 anos
180
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 4
O QUADRO INTERNACIONAL
E A EVOLUÇÃO RECENTE DA
ECONOMIA BRASILEIRA
Antônio Barros de Castro
(Professor Titular do Instituto de Economia Industrial da UFRJ)
SUMÁRIO
4.1. CENÁRIO INTERNACIONAL: AS GRANDES MUDANÇAS ..................................................................... 185
4.1.1. A nova revolução industrial: as tecnologias da informação .......................................................................... 185
4.1.2. Globalização como intensificação das trocas e dos fluxos financeiros internacionais ............................. 186
4.1.3. A nova empresa e a nova competição ............................................................................................................... 187
4.1.4. A consagração do mercado livre ........................................................................................................................ 188
4.1.5. Uma nova economia? ........................................................................................................................................... 192
4.2. O RETORNO DAS DIFICULDADES ...................................................................................................................... 193
4.2.1. Instabilidade ........................................................................................................................................................... 193
4.2.2. Economias emergentes: a enorme divergência das trajetórias ...................................................................... 194
4.2.3. A sorte das reformas: condicionantes ................................................................................................................ 196
4.2.4. Nova economia ou bolha? ................................................................................................................................... 199
4.3. BRASIL: O QUE HÁ DE ESPECÍFICO ................................................................................................................. 201
4.3.1. O parque industrial herdado ............................................................................................................................... 201
4.3.2. Salto do poder aquisitivo doméstico ................................................................................................................. 203
4.3.3. A reestruturação das empresas ........................................................................................................................... 206
4.3.4. O mercado doméstico renovado ........................................................................................................................ 206
4.3.5. O catch up produtivo e suas limitações .............................................................................................................. 208
4.3.6. A reestruturação do complexo agroindustrial ................................................................................................. 209
4.3.7. Contenção e instabilidade do crescimento ....................................................................................................... 211
4.3.8. Esboço de uma agenda de políticas ................................................................................................................... 215
4.4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... 219
BDMG
40 anos
4.1. Cenário internacional: as grandes mudanças
4.1.1. A nova revolução industrial: as tecnologias da informação
Enormes avanços tecnológicos foram obtidos nos últimos decênios em diversos terrenos.
Pela sua influência sobre a maneira de se produzir, sobre o relacionamento dos agentes
econômicos e, até mesmo, sobre o cotidiano dos homens, nada se compara, contudo, aos avanços
alcançados na capacidade de transmitir, processar e armazenar informações. De fato, o que
mais distingue o quadro econômico atual do vigente até, digamos, 1980, é a transformação
ocorrida nesses tipos de atividade, e suas imensas conseqüências. Daí a referência usual ao
ingresso numa terceira revolução industrial e ao surgimento de uma “economia da informação”
(ou “digital”).
Assim como no caso dos têxteis, nos últimos decênios do século XVIII, e do aço, na
segunda metade do século XIX, os avanços recentemente alcançados no tocante a informações
foram acompanhados de enorme barateamento e difusão do uso daquilo que poderia ser referido
como o objeto central da revolução - respectivamente, o tecido industrializado, o aço, e as
informações. É fácil perceber1 , além disso, que a última é também a mais transversal e ubíqua
das revoluções industriais: sob a sua influência as fábricas, os hospitais e os próprios lares, vêm
sendo convertidos em ambientes crescentemente semelhantes. Assinalamos, no que se segue,
algumas propriedades de uma economia crescentemente densa em informações.
A maior capacidade de colher informações, de processá-las e de simular situações, tende
a traduzir-se em maior capacidade de formular hipóteses, de explorar possibilidades, de corrigir
posições, e, enfim, de resolver problemas. Conseqüentemente, tende a haver mais criação, bem
como mais cópias de produtos e processos – o que se por um lado possibilita, por outro impõe
a agilização das decisões.
Na mesma linha de raciocínio, convém acrescentar que a base material da produção – e
os próprios produtos – tendem a apresentar mais alternativas, opções e versatilidade. Aumenta
também, exponencialmente, a importância das instruções ou programas (software) instalados
nos equipamentos (hardware). Isto amplia as possibilidades de automação – que se torna, por
sua vez, muito mais flexível – enquanto os produtos e processos têm ampliadas as suas
possibilidades de interação. No limite, tende-se a gerar equipamentos, insumos e produtos finais
“inteligentes”.
Como decorrência do anterior, multiplicam-se as possibilidades de adaptação dos produtos
às preferências dos demandantes (“customização” da produção). Intensifica-se, com isso, o
relacionamento das empresas com seus fornecedores e clientes. Se tudo isto agiliza e potencializa
a competição, cabe frisar que também multiplica as oportunidades de cooperação2 .
O que precede sugere o surgimento de uma economia que poderíamos denominar de
“decisão intensiva”. Nela encontram-se valorizados o gerenciamento, as escolhas por parte dos
consumidores, e a participação dos trabalhadores na produção. Estes últimos, aliás, passam por
vezes a serem referidos como “colaboradores”, denominação que não teria cabimento, seja na
velha fábrica trabalho-intensiva, seja no mundo da automação rígida.
1
2
Freeman, C.; Perez (1988).
No tocante à competição, Ver BEST, Michael (1990).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
185
BDMG
40 anos
Trata-se também de uma economia relações-intensiva, dada a maior interação das empresas
entre si, com os consumidores e, em certos ramos, com as universidades e os centros de pesquisa.
Especialmente no tocante aos setores tecnologicamente mais avançados, o inter-relacionamento
chega a ser de tal ordem, que praticamente desaparece o conceito tradicional de empresa, surgindo
em seu lugar a realidade das redes.3
Por outro lado, dadas a mutabilidade ambiental, a maior contestabilidade das posições e a
multiplicação dos caminhos alternativos, é altamente valorizada a formulação de estratégias.
Estamos, em suma, e como se tratou de sublinhar, diante de um novo tipo de economia, a
que poderíamos nos referir como “decisão intensiva e relação intensiva”.
Indiscutivelmente entra mais conhecimento na produção agora do que no passado. A
produção corrente continua, no entanto, fundamentalmente guiada por rotinas e o conhecimento
usado pelas empresas encontra-se, em grande medida, embutido em equipamentos e insumos. No
âmbito das empresas, contudo, o conhecimento permanece embutido nos equipamentos e insumos
– e a produção corrente continua fundamentalmente guiada por rotinas. É bem verdade que a
linguagem digital potencializa a capacidade de pesquisa e prototipagem de produtos e processos.
Mas a prevalência, como no passado, das rotinas e do conhecimento tácito, parece não recomendar
o emprego da denominação “economia do conhecimento”. O conhecimento, enquanto tal, continua
a ser a matéria prima bem como o produto das universidades – e é o bom relacionamento das
universidades com as empresas que permite, a certos países, ingressar e se manter em posição de
liderança.
4.1.2. Globalização como intensificação das trocas e dos fluxos
financeiros internacionais
O projeto de reconstrução de um sistema mundial de comércio altamente integrado, onde
os fluxos financeiros pudessem livremente deslocar-se, defendido pela delegação norte-americana
em Bretton Woods e resistido, à época pela Europa (e, a seguir, ainda mais acentuadamente, pelo
Japão), foi plenamente retomado nos anos 1980. O fim da rodada Uruguai (1993), e a criação da
Organização Mundial do Comércio praticamente oficializam a instauração de uma ordem
internacional muito mais aberta e integrada.
A combinação da abertura com o avanço prodigioso das comunicações criava condições
altamente favoráveis, não apenas ao comércio, como ao deslocamento (transplante) de unidades
produtivas (plantas) das empresas sediadas nos grandes centros para nações que passavam a ser
referidas como emergentes. Isto significava que a geração de valor na obtenção de diversos produtos
passava a ser levada a efeito em diversos países, permanecendo, no entanto as funções superiores,
do tipo planejamento, pesquisa e desenvolvimento, e outras, sediadas nos países centrais
(usualmente, no país sede da empresa).
Poucos países da periferia foram efetivamente integrados no novo sistema – todos, porém,
viram-se instados a ajustar-se aos requisitos da integração internacional, através de reformas que
visavam aproximar as instituições e práticas locais, das vigentes nos países de origem das grandes
empresas. Este processo, como bem se sabe, foi inegavelmente liderado por instituições financeiras
internacionais (onde o governo dos Estados Unidos tem peso decisivo), por empresas norteamericanas e pelo próprio governo daquele País.
3
186
Castels, Manuel (1996).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Com o processo de integração, usualmente referido como globalização, em pleno curso, o
comércio internacional passou a crescer, já nos anos 1980, mais de 1,5 vez mais rápido que a
produção mundial. Na década seguinte, o crescimento do comércio verificou-se, em média, ao
dobro (8% ao ano) da velocidade de avanço da produção mundial. Já os fluxos de capital cresciam
a um múltiplo da cifra para as transações comerciais.
Duas conseqüências do que acaba de ser dito serão aqui sublinhadas. Primeiramente, o
enorme alargamento dos mercados desencadeia uma verdadeira guerra por escalas mais amplas.
Como conseqüência disso, e para numerosos artigos, a produção mundial passa a ser dominada
(mais da metade do todo, digamos), mundialmente, por umas poucas empresas. Isto supõe a fusão/
aquisição de líderes locais por empresas mundiais – e, claro, o desaparecimento de numerosas
empresas. Tal tendência é, sobretudo, marcante, nos ramos de alta tecnologia 4 .
Cabe também destacar que, na corrida pela mundialização assim desatada, as empresa norteamericanas levam grande vantagem. E isto não apenas pela sua recente reciclagem organizacional
e tecnológica diante da ameaça japonesa, dos anos 1980, como porque a alta desenfreada do valor
de suas ações facilitou, enormemente, o exercício da liderança nos processos de fusão em nível
mundial.
Por último, mas não menos importante, cabe ressaltar que a dramática intensificação do
trânsito internacional de capitais – sejam as aplicações produtivas ou estritamente financeiras –
cria a impressão (quase um dogma no início dos anos 1990) de que a atração de capitais é a função
primordial dos governos nas nações emergentes. Mais que isso, difunde-se a convicção de que este
processo, desde que conduzido de acordo com as “regras do jogo”, não traz ameaças para os
países tomadores. O tema voltará a ser discutido mais adiante.
4.1.3. A nova empresa e a nova competição
É amplamente admitido, hoje, que as empresas refletem o seu tempo, havendo pouco em
comum entre a firma típica manchesteriana, a fordista e a contemporânea. Juntamente com a
evolução das empresas transformam-se também as armas típicas da competição5 .
Ford, usualmente referido como símbolo do capitalismo norte-americano, pode também ser
apontado como representante máximo de um padrão competitivo hoje superado. De fato, a pretensão
de afirmar-se através de um produto bom, barato, e sempre igual a si mesmo (o modelo T) atinge um
auge, mas também praticamente morre, com Henry Ford. O futuro adotaria, não apenas a
diversificação da GM (ou de Sloam), como armas da competição antes praticamente desconhecidas.
Com efeito, a empresa competitivamente atualizada ganha (e protege) mercado, através de
inovações incessantemente renovadas, design, marketing, customização, serviços pós-venda e
desenvolvimento de marcas. Numa palavra, a mera produção, uma vez equacionados os seus
problemas iniciais, tende a perder o gume, na disputa de mercados. Salvo na medida em que novas
maneiras de organizá-la – ou novas escalas – possam ser introduzidas.
Como conseqüência do anterior – e em resposta ao crescente acirramento da competição –
a produção de artigos tecnológica e mercadologicamente maduros tende a ser transferida a plantas
(filiais) situadas em economias emergentes. Isto não quer dizer (num mundo em que o princípio da
“melhoria permanente” tornou-se uma regra), que cessa inteiramente a evolução dos respectivos
4
5
Chandler, Alfred (2001).
Lazonick, William (1994).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
187
BDMG
40 anos
produtos. Mas significa que a função fabricação tende a agregar menos valor por unidade de
trabalho empregado do que as demais funções corporativas, podendo chegar a ser em certa medida,
segregada. Além disso, não é preciso sublinhar que a própria transferência de unidades fabris para
mercados emergentes acirra, ainda mais, a competição a que estão submetidos os mercados de
produtos maduros. Importantes conseqüências do que acaba de ser assinalado serão mais adiante
apresentadas.
4.1.4. A consagração do mercado livre
• O fracasso das alternativas
Até os anos 1970, o mundo comportava diversos sistemas socioeconômicos. A economia
norte-americana era a que mais se aproximava do livre-mercado; a Alemanha era a referência
principal em se tratando de social-democracia (ou economia social de mercado); o Japão, a
Coréia e Taiwan ilustravam os casos em que o Estado liderava o desenvolvimento (developmental
states)6 . E havia, claro, o mundo do socialismo real.
Dentre as grandes mudanças que redefiniram a economia mundial nos anos finais do
século XX, merece um especial destaque o fracasso mais ou menos evidente das alternativas ao
livre mercado.
É fundamental lembrar, a esse respeito, que, além de possuir uma economia de excepcional
dinamismo, a economia japonesa vinha alcançando – até o final dos anos 1980 – notáveis
vitórias na competição internacional. A rigor, empresas líderes japonesas estavam impondo
novos padrões de conduta e conquistando muitos dos mercados que – através de suas estratégias
de longo prazo – decidiam disputar. Assim foi, sobretudo, com os eletrônicos de consumo e
com os semicondutores. E a este respeito cabe frisar alguns pontos.
Primeiramente, os produtos (e setores) a que acabamos de nos referir não apenas integram
o cerne da nova revolução industrial, como através deles – e das empresas que passavam a
liderá-lo – iam se difundindo novos padrões de conduta empresarial. Por outro lado, é também
nesse tipo de setor que a Europa sofreu algumas das derrotas que praticamente a retiraram da
fronteira da nova revolução industrial. De fato, tanto na área dos eletrônicos de consumo, quanto
na área da computação, a liderança passou a ser disputada pelas economias norte-americana e
japonesa.7
Pode-se, em suma, afirmar que a economia japonesa chegou a dividir com os Estados
Unidos, a liderança no que toca à nova revolução industrial. Além disso, empresas (e produtos)
japonesas vinham colhendo surpreendentes vitórias mesmo em indústrias tradicionais como a
automobilística, símbolo, desde o início do século, da supremacia industrial norte-americana.
Finalmente, coroava o êxito alcançado por empresas nipônicas, a propagação, especialmente
nos Estados Unidos, de novas formas de organizar o trabalho, gerenciar a produção e relacionarse com os mercados, senão criadas, pelo menos desenvolvidas e aprimoradas no Japão. Elas
viriam, de fato, a definir o ambiente competitivo no limiar do século XXI. Na Europa, por
contraste, se constatava uma maior lentidão (ou resistência) na difusão dos novos métodos
gerenciais – e a isso iam sendo associadas as dificuldades inerentes a instituições tipicamente
européias.8
6
7
8
188
WADE, Robert. Governing the Economy, Princeton University Press (1990) e HALL, Peter e SOSKICE. Varieties of capitalism, Oxford
University Press (2001)
Chandler, Alfred. Op. Cit.
Coriat, B.; Dosi, G.; Pavitt, K.(2000).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Além de arrastar consigo outras economias – como já vinha fazendo com as economias do
leste asiático – a economia japonesa parecia dispor de formas de organização a serem transpostas
e adaptadas a outros ambientes socioeconômicos. Mas nada poderia simbolizar melhor a reviravolta
ocorrida no Japão, do que o seu peso relativo como nação exportadora de capitais. No período de
auge daquela economia – de 1986 a 1991 – as saídas de capital do Japão superavam em 28% as
exportações norte-americanas de capitais. Em 1997, porém, já haviam caído para meros 23% do
fluxo de saída dos EUA.
Visto contra este pano de fundo, a bolha de 1987 a 1990/1991 e, a partir deste último ano,
o mergulho da economia japonesa numa crise que se arrasta, sem perspectiva de solução, até o
presente, é uma mudança, a um só tempo, imprevista e fundamental. Com ela a economia japonesa
passava de liderança a problema – enquanto as suas características socioeconômicas passavam a
ser encaradas com ceticismo ou rejeição.
Krugman fez observações muito provocativas a propósito da crise japonesa. Além de graves
problemas financeiros que se arrastam indefinidamente, entre outras razões, pela incapacidade de
reconhecer os novos e depreciados valores (pós-bolha) dos ativos, foram lá tentados à exaustão,
remédios que se supunha consagrados para o reerguimento da demanda global. Entre eles,
destacadamente, a firme redução da taxa de juros, combinada com estímulos fiscais (reiterados e
massivos)9 . Os resultados, no entanto, revelaram-se pífios ou mesmo negativos, dando lugar a
uma situação de armadilha da liquidez (com juros praticamente nulos) e, por outro lado, a uma
imensa dívida pública.
Isso significa o ressurgimento de um tipo de situação em que a demanda global, após retrairse seriamente, não parece capaz de ser reavivada por políticas de manejo da demanda – problema
que se supunha superado. Tão ou mais importante, significa também que grandes distúrbios no
mercado de ativos podem gerar situações de notória e duradoura fragilidade – por melhor que
estejam as empresas do ponto de vista competitivo. No caso do Japão, a economia permanece à
borda de um possível colapso deflacionário. Desta forma, a mais impetuosa e bem sucedida das
economias capitalistas adquiriu uma vulnerabilidade que, mutatis mutandis, evoca a situação
enfrentada por certas economias emergentes.
A URSS e o sistema por ela comandado não era apenas o grande adversário, nos planos
político e militar, da então chamada aliança atlântica. Representava, sobretudo, e no mundo como
um todo, a referência alternativa – que, até os anos 60, muitos supunham capaz de suplantar o
capitalismo.
Contra esse plano de fundo o desmoronamento soviético alimentou a impressão de “fim da
história”, com a consagração de um dos termos de uma polarização que marcou décadas. Por
outro lado, a solução vitoriosa ficou claramente identificada com o livre mercado – e muito
particularmente com a economia norte-americana, contraponto, por excelência do socialismo.
Começa assim, a grande comemoração do livre mercado, bandeira assumidamente empunhada
pela elite e governo norte-americanos. O movimento só faz crescer até a virada do século, não
sendo de admirar-se que o candidato Bush tenha prometido governar os EUA “como uma
corporação”.
Além disso, como já foi apontado por diversos autores, o colapso da alternativa sistêmica
às economias de mercado reduziu fortemente o poder de barganha das nações atrasadas e
empenhadas em afirmar-se.
9
Krugman, Paul. (2000).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
189
BDMG
40 anos
Enterrada a alternativa socialista e desqualificada a liderança japonesa, os Estados Unidos
surgiam como potência incontestável e modelo a ser seguido10 . Quanto à social democracia, parecia
lentamente exaurir-se, num mundo caracterizado pelo acirramento da competição e a quase
impossibilidade de proteção de camadas sociais.
• Globalização como difusão de regras e instituições
É difícil exagerar a importância da interpretação – por muitos convertida em firme convicção
– de que o declínio e/ou colapso das alternativas significava a vitória do livre comércio. Em última
análise, os problemas que levaram à falência do socialismo, à estagnação da economia japonesa, bem
como à modéstia do desempenho da Europa social democrata – e, claro, aos chamados “fracassos
do desenvolvimento”11 - passam a ser entendidos como conseqüências de desvios e arbitrariedades
frente a liberdade do mercado. A essa idéia seriam ainda associadas duas outras.
Primeiramente, o livre comércio voltaria a ser concebido como uma espécie de estado
“natural” – num movimento que recupera a corrente central do pensamento econômico, e pretende
condenar todas as formas de intervenção política. A importância decisiva deste ponto é que
desaparece com ele a noção de diferentes sistemas socioeconômicos e, no limite, a própria idéia
de instituições relevantes e singulares.
O segundo ponto, igualmente decisivo, é a adoção de forma mais ou menos assumida da
noção de que a economia norte-americana, constituindo a mais evidente proxy do livre comércio,
deve ser tomada como referência – ou, no mínimo, fonte inspiradora. Caberia a ela, como à
Inglaterra, na segunda metade do século XIX, mostrar aos demais países, “a imagem de seu próprio
futuro”. A este propósito convém acrescentar que o desempenho crescentemente favorável da
economia norte-americana ao longo dos anos 1990 seguramente beneficiou a crença de que não
se tratava de um caso nacional. A superioridade norte-americana nada mais seria que o resultado
da plena vigência das regras do mercado.
A convicção anterior preparava o terreno para um intenso movimento reformista. A ausência
do Estado Produtor; a abertura comercial e financeira; a relativa independência do Banco Central; o
financiamento das empresas via Bolsa de Valores; a flexibilização do mercado de trabalho; e a importância
atribuída à regulação da concorrência, instituições características do moderno capitalismo norteamericano (e até certo ponto do padrão anglo-americano) deveriam ser replicados por toda a parte.
Tais características passavam a ser entendidas como a própria racionalidade – tudo o mais
sendo desvios. Implantá-las passará a ser equiparado a suprimir aberrações, ou, na arrogante
expressão que correria o mundo, “fazer o dever de casa”12 . Desaparece ou perde sentido, assim, a
noção de contexto histórico. Além disso, é impossível não perceber que esse tipo de mudança
aplaina o terreno (level the playing field) para a atuação das empresas internacionais. Nesse sentido,
o movimento era particularmente oportuno. Coincidia com uma fase em que empresas norteamericanas – sobretudo as integrantes da “velha economia” – intensificavam o transplante de
fábricas para os chamados BEM (Big Emerging Markets) 13 . Sem risco de exagero, pois, se pode
afirmar, que a globalização, enquanto difusão internacional de regras e instituições, tendia a levar
a hegemonia norte-americana à sua plenitude.
10
11
12
13
190
A supremacia absoluta trazia consigo problemas que não serão aqui considerados. O perspicaz, Giorgi Arbatov, a esse respeito
afirma: “Faremos a pior coisa possível para vocês – iremos privá-los do inimigo”.
Hirschman, Albert.(1995).
A expressão “consenso de Washington” será por muitos condenada, porque as recomendações ali contidas nada mais expressariam
que a própria racionalidade - não devendo, por conseguinte, ser tomada como posicionamento singular de determinadas instituições.
Garten, Jeffrey. (1996). O autor, Subsecretário de Comércio dos EUA, é apontado como “arquiteto” da política da administração
Clinton.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
A abertura mexicana data de 1985 (De la Madrid). O Brasil iniciou o processo, timidamente,
no final dos anos 1980, e acelerou as mudanças em 1990. A Índia começou sua abertura, apenas
comercial, em 1990. No caso da Argentina, o regime de políticas adotado em 1991 radicalizou
mudanças que, especialmente no caso da abertura comercial, já haviam sido experimentadas no
passado recente. Na Coréia, a guinada em direção às reformas pró-mercado tem como marco o
abandono do planejamento e o esvaziamento das políticas industriais, visando o ingresso na OCDE.
A aceleração das mudanças foi anunciada em 1993, ao ter início o governo Kim Young Sam 14 .
Nada se compara, no entanto, em profundidade e radicalismo, à experiência levada a efeito na
Rússia e em outras economias ex-socialistas, nos primeiros anos da década dos 1990 15 .
BDMG
40 anos
• Reformando o resto do mundo: os mercados emergentes
Em todos os casos atribui-se pouca importância às instituições locais. O objetivo não é
construir nações, como no pós-guerra, e sim implantar o primado do mercado - daí a denominação
mercados emergentes. Mais concretamente, e como já foi sugerido, trata-se de estabelecer ambientes
acolhedores, especialmente para o investimento estrangeiro. E nesse quadro, uma das mais importantes
funções das autoridades locais é encontrar a maneira de levar as reformas adiante – e, sobretudo, de
torná-las irreversíveis. Esta última função foi, aliás, explicitamente assumida, entre outros, por Leszek
Balcerowicz, na Polônia, Carlos Salinas, no México e Domingo Cavallo, na Argentina.
Numa visão mais conceitual, essas economias iriam reafirmar ou, eventualmente, descobrir
as vantagens comparativas ditadas pelas dotações de recursos. Presumivelmente, o afastamento
teria se dado durante a tentativa de industrialização por substituição de importações – mas também
através de práticas políticas populistas e, não raro, arroubos nacionalistas. Seria a hora, pois, do
retorno às vocações autênticas – na definição das quais poderiam, no entanto, somar-se critérios
contemporaneamente introduzidos, tais como economias de escala, externas, e de aprendizado.
De qualquer forma, como resultados de novos investimentos, deveriam elevar-se os preços relativos
dos fatores abundantes nos mercados recém abertos, o que, por sua vez, deveria traduzir-se em
melhorias na distribuição da renda.
Implicitamente, admitia-se que empresas procedentes dos países desenvolvidos assumiriam
a função de explorar as oportunidades reveladas pelas reformas. Nesse sentido, a elas caberia o
papel de protagonista nessas economias.
Na prática parece, hoje, claro, que as empresas que efetivamente trataram de tirar proveito
das novas oportunidades deram substância a um movimento cujas características podem ser
sumariadas como segue:
• As candidatas a integrar a nova onda de extroversão são, fundamentalmente, empresas
que já se defrontam com mercados em maior ou menor medida saturados16 .
• As empresas transferem para as economias reformadas, essencialmente, unidades
produtivas (fábricas). E dada a prioridade conferida a produtos já bastante trabalhados,
será mínimo o esforço local de adaptação de processos ou produtos17 . Em diversos casos
se trata de empresas que pretendem disputar espaços com as empresas líderes (usualmente
norte-americanas e japonesas) mas, não tendo fôlego financeiro e/ou recursos tecnológicos
para enfrentá-las nos mercados desenvolvidos, escolhem fazê-lo nos espaços emergentes.
14
15
16
17
Chang, Ha-Joon; South, Korea (1998). Como mostra Amsdem, Alice (1989), a liberalização dos anos 1980 foi mais aparência que
realidade.
Amsden, A.; Kochanowicz, J.; Taylor, L. (1994).
Garten, Jeffrey (1996).
Katz, Jorge (2000).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
191
BDMG
40 anos
• As peças, componentes, e talvez mesmo matérias primas, seriam adquiridos,
preferencialmente, naqueles mercados (e países) que se mostrassem mais aptos a produzilas. Resultaria disso uma nova divisão internacional do trabalho, mais fragmentada, e
caracterizada pela expansão das trocas entre empresas originárias do centro (entre si, ou
mesmo, individualmente, consigo mesma). Permitir que as cadeias produtivas fossem
desta forma fatiadas, chegou a ser considerado um importante argumento pró-abertura
comercial. Por outro lado, não havia, entre os advogados das reformas, qualquer
preocupação com o fato de que as demais funções corporativas, que não a fabricação,
tendiam a ser retidas nos países de origem das empresas. Voltaremos ao tema.
Resta acrescentar que aonde esse movimento veio efetivamente a tomar corpo, verificouse uma inédita sobreposição de várias grandes mudanças. Em suma, além da novidade (para os
países periféricos) da abertura, estavam também, conjuntamente, sendo introduzidas mudanças
associadas às tecnologias da informação, novas formas de organização do trabalho, e outras
características próprias à competição no mundo globalizado.
4.1.5. Uma nova economia?
A combinação das tecnologias da informação (cujas implicações foram anteriormente ressaltadas)
com a primazia dos ativos intangíveis, a flexibilidade do mercado de trabalho e as instituições do tipo
financiamento via mercado de capitais, dá margem ao surgimento da “Nova Economia”.
Em vários planos o funcionamento da nova economia seria, supostamente, muito diferente
do passado. Assim, o pleno emprego não geraria inflação – permitindo que a economia se mantivesse
permanentemente num estado de quase-boom. As quedas no mercado de ações, por sua vez,
seriam em princípio rapidamente revertidas (correção em V) porque a convicção de que os valores
logo voltariam a crescer teria um efeito self-fulfilling. Os desdobramentos do mercado financeiro
permitiriam diluir riscos como nunca – e, inclusive, alavancar, no nascedouro, as boas idéias,
através do mercado de capitais de risco e do exuberante negócio dos lançamentos iniciais (IPO) a
produtividade elevava-se incessantemente18 e o valor dos ativos podia indefinidamente se expandir,
embalado por resultados a serem alcançados no futuro. E quanto à disparada do valor das ações,
não apenas incentivava aos gastos (efeito riqueza), como impulsionava o movimento de fusões.
O anterior permitiu à sabedoria econômica convencional incorporar ingredientes
schumpeterianos, como bem o demonstram certos discursos de Allan Greenspan. A liberalização/
desregulamentação dos mercados, aliada ao culto do individualismo e da descentralização das
decisões, de sua parte, evocam argumentos de procedência hayekiana. A tudo isso se acrescente,
ainda, a preservação de aspectos da chamada síntese neoclássica: o nível de atividades é monitorado
e calibrado via política monetária e fiscal – essencialmente a última, desde os anos 1980 e, sobretudo,
na década subseqüente.
Já ao tempo em que tudo isso parecia funcionar admiravelmente, alguns suspeitavam de
que havia elementos verdadeiros (como a maior internacionalização, e a maior fluidez, bem como
a maior pressão competitiva) e ingredientes meramente idealizados (como o desaparecimento dos
ciclos) nesta retratação da nova economia. O futuro se encarregaria de mostrar, porém, que nela
havia, inclusive, elementos abertamente ideológicos – como a retratação das empresas como
entidades transparentes e regidas pela boa governança corporativa.
18
192
Até os primeiros anos da década, porém, e segundo o Nobel Robert Solow, as mudanças trazidas pelas novas tecnologias (e os
computadores, em particular) podiam ser vistas em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
4.2. O retorno das dificuldades
4.2.1. Instabilidade
Um estudo que compara a freqüência de crises, antes e depois de 1973, deixa claro que o
capitalismo tornou-se mais recentemente instável 19 . Numa retratação sintética da crescente
volatilidade sistêmica, afirma O’Connell que “ocorreram seis crises em cerca de vinte e cinco
anos, mas, quatro foram produzidas nos últimos dez anos, três nos últimos cinco e duas nos
últimos três”.20
No tocante aos anos 1990, pode-se dizer que houve uma primeira fase, em que a maior
instabilidade tornou-se evidente entre as nações desenvolvidas – com a ocorrência de fortes
turbulências no Japão (1990/1991), na Suécia e na Inglaterra (1991/1992). Posteriormente, e a
partir da crise do Tequila (1994/1995), são os mercados emergentes que passam a exibir crescente
instabilidade. A intensificação do movimento chegaria a produzir efeitos devastadores nos casos
da Indonésia e, mais recentemente, da Argentina.
Numa primeira fase, acreditou-se que as economias seriam mais ou menos vulneráveis na
dependência de seus “fundamentos” macroeconômicos 21 (especialmente déficit público e
capacidade de financiar possíveis déficits de transações correntes).
Com a intensificação das crises percebe-se a importância do contágio e surge a figura da
“bola da vez”. No caso do contágio, o mecanismo dominante é o comportamento de manada.
Em franca discordância com a sabedoria convencional que acompanhou o início da onda próreformas, se aceita, então, que uma economia pode ser atingida pelas dificuldades das outras –
e a partir desse fato, começa-se a gerar desequilíbrios que justificam e aprofundam a própria
crise. Já a “bola da vez” seria uma economia que se presume estar próxima a sucumbir – e isto
depende basicamente do surgimento de novas crises internacionais e muito pouco do que nela
mesmo esteja ocorrendo.
Convém acrescentar que excetuada a desastrada tentativa de reconversão das execonomias socialistas – as crises da Indonésia e da Argentina introduziram algo inédito em
matéria de crise. De fato, em ambos os casos não teria cabimento falar em depressão – o grau
mais elevado até então conhecido de crise econômica. Trata-se, ao que parece de casos de
implosão do próprio sistema econômico e social. E, nesse caso, a brutal queda do PIB (da
ordem de 15% no ano que sucede a crise) é apenas um aspecto da desintegração em curso.
A aceitação de que a economia mundial, restaurado o império do mercado, exibe maior
volatilidade, e de que pode acarretar desastres nacionais de proporções desconhecidas, tem as
mais sérias implicações. Considerá-lo requer, no entanto, que tenhamos em conta a diversidade
do ocorrido com as economias sujeitas a reformas.
19
20
21
Bordo, M.; Eichengreen, B. (2002).
O’Connell, Arturo (2001). A referência à maior instabilidade pós Bretton Woods provem de Bordo e Eichengreen, citado por
O’Connell.
Krugman, Paul (1992).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
193
BDMG
40 anos
4.2.2. Economias emergentes: a enorme divergência das trajetórias
A extremada diversidade de experiências no mundo dos chamados emergentes está
representado no GRÁF. 1 – uma versão modificada de um gráfico apresentado por Stiglitz visando
contrastar o desempenho da China e da Rússia.
Em sua versão original, o gráfico chama a atenção para o abissal contraste entre as
experiências chinesa e russa. A ele foram aqui acrescentados o Brasil e a Argentina, reforçandose com isso a idéia da discrepância de trajetórias22 . A diversidade dos desempenhos é de tal ordem,
que claramente compromete a noção de que pertencem todos a um mesmo bloco, dito dos
“emergentes”.
GRÁFICO 1
ÍNDICE DO PIB REAL (1992 = 100)
FONTES: IMF, International Financial Statistics e IBGE.
Apresentamos, no que se segue, uma tentativa de organização da referida diversidade, através
de uma classificação que reconhece a existência de quatro tipos.
1) Reforma e especialização: O desempenho deste grupo corresponde às expectativas
dos formuladores das teses pró-reformas. A melhor das ilustrações consiste no caso do
Chile pós 198523 . Ali se renovou, consideravelmente, a especialização – que continuou,
no entanto, baseada em recursos naturais, abundantes no país, e raros em outras partes.
Houve, inclusive, em pelo menos um caso (o salmão), a descoberta e o desenvolvimento
de novos usos, para o potencial existente nos recursos naturais de que o país é dotado.
Além disso, a confirmação/renovação das especialidades chilenas veio associada à
introdução de novos métodos de gerenciamento e ao surgimento de uma nova camada
de empresários propensos a inovar.
22
23
194
Stiglitz, Joseph (1999).
Convém lembrar que o êxito dessa experiência foi precedido da profunda crise que se seguiu ao colapso de 1982. Ffrench-Davis,
Ricardo (1999).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Já na experiência mexicana, na qual também prevaleceu a exploração de fatores amplamente
disponíveis – destacadamente, a mão-de-obra não qualificada – tem pouco sentido falar no
desenvolvimento de novas especialidades. Isso porque, enquanto a maquila (responsável por cerca
de 50% das exportações industriais do país) exige apenas um mínimo do empreendedorismo local,
a velha indústria do vale central, ressalvado o caso de certas plantas industriais pertencentes a
multinacionais, pouco se renovou.
2)Reforma e implosão: os mais claros exemplos se encontram no mundo ex-socialista.
Em tais casos, era notória a defasagem dos produtos – em economias que privilegiavam
as quantidades produzidas e, caracteristicamente, nenhum esforço faziam para adaptar
os produtos ao gosto dos consumidores. Em outras palavras, era imenso o caminho a
percorrer na reestruturação/atualização das empresas. E aqui entram dois problemas
adicionais.
Primeiramente destaca-se a ausência da figura do empresário e, em certa medida, do próprio
gerenciamento. Tratava-se de uma indústria operada por engenheiros e operários – precariamente
comandada, a grande distância, por técnicos e políticos da administração central. Além disso – e
esse é um fator que convém destacar para ulterior contraste com o caso do Brasil – as reformas
foram em regra acompanhadas de forte mudança de preços relativos, notável encarecimento de
certos serviços básicos (até então, muitas vezes gratuitas) e marcante declínio do poder aquisitivo
dos salários. Conjugam-se, então, três fatores perversos no tocante à reestruturação microeconômica:
grande distância a percorrer na atualização dos produtos; ausência de quadros treinados na tomada
de soluções empresariais/gerenciais e retração do poder aquisitivo dedicado a manufaturas.
Convém, ainda, assinalar que o desmoronamento, em simultâneo, de um tipo de estado,
uma ideologia e um sistema econômico, havia criado, no ex-mundo socialista, um quadro propício
a experiências radicais. Os mentores da experiência acreditavam, aliás, que a derrocada do regime
anterior oferecia-lhes uma “janela de oportunidades” para a terapia de choque por eles defendida.
Ao invés de uma transição, verificou-se, no entanto, em diversos casos, a implosão que dá
nome a esse tipo de experiência 24 .
3)Hibridação: São casos em que a reconversão detonada pelas reformas (e a abertura,
muito especialmente) preserva, em grande medida, a herança deixada pelo esforço anterior
de construção de uma indústria moderna. Deve, no entanto ficar claro que a hibridação
como “tipo” requer apenas, a predominância de empresas que reaproveitam seus recursos
– mantendo, em ampla medida, a sua identidade. Ou seja, admite-se que em outros tipos
(mesmo na reforma e especialização) também se verificam casos de preservação da
identidade pré-reforma. Ocorre, porém, que esta vem a ser a regra na hibridação.
Concretamente, o anterior significa que, sobrevinda a abertura e outras reformas, as empresas
passam a extrair (na linguagem penrosiana25 ) novos serviços dos recursos sob seu controle. E este
reaproveitamento é seguramente alavancado pela maior facilidade de acesso a importações –
inclusive de tecnologia. O Brasil e a Coréia devem ser considerados importantes representantes
desse grupo, indiscutivelmente muito heterogêneo. Já a Argentina chegou a dar sinais de que
talvez ingressasse nesta rota, mas finalmente regrediu, antes mesmo do atual colapso cambial e
financeiro26 .
24
25
26
Reinert, E. mostrou que em certos casos o experimento chegou a produzir – por absoluta ausência de alternativas – a retorno
forçado ao passado. O autor denominou este tipo de fenômeno de “primitivização”.
Penrose, Edith. (1959).
Além da concentração em montagem, verificou-se, na Argentina, o desenvolvimento (nova especialização) de recursos naturais
até então não aproveitados. Kosacoff, Bernardo (2000).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
195
BDMG
40 anos
O que estamos chamando de hibridação é um resultado bastante imprevisto. Não
corresponde, flagrantemente, ao que vinha sendo apontado pelos apóstolos da abertura como
resultado a ser esperado desse tipo de reforma. De fato, os proponentes da abertura esperavam
não apenas a eliminação de posições exageradamente protegidas como, na linha do Teorema
Stolper-Samuelson, o encarecimento dos fatores abundantes, agora, finalmente, aproveitados.
Ocorre, porém, que, contrariamente às expectativas e especialmente nos casos de hibridação, a
abertura veio a ser usada para levar adiante os avanços conseguidos, anteriormente, sob o
império dos preços “errados”. O fenômeno dominante foi, nestes casos, a reciclagem/atualização
dos produtos obtidos. As mudanças, em outras palavras, foram guiadas mais pelo potencial das
empresas que pelos preços relativos dos fatores.
Equipes severamente reduzidas e razoavelmente re-treinadas, passaram a produzir, nas
mesmas plantas (favorecidas pelo conhecimento ali anteriormente acumulado) versões
atualizadas das mesmas linhas de produtos27 . E a freqüência com que esse fenômeno se reproduz
terá, por conseqüência, a preservação, a grandes traços, da estrutura industrial herdada do passado.
Mas é também preciso sublinhar, que esses resultados tampouco correspondem à asfixia
da indústria prevista pelos críticos da abertura. Direta e indiretamente (veremos como)
numerosas empresas, combinando passado e presente, souberam tirar proveito das novas
circunstâncias. Cabe insistir, a esse propósito, que essa reação coletiva não foi prevista ou
comandada por políticas. Mas não se trata simplesmente de mais uma proeza da mão invisível.
No caso brasileiro, pelo menos e, como veremos mais adiante, um conjunto de circunstâncias
ajudou, decididamente, a indústria a reagir positivamente ao desafio frente ao qual havia sido
colocada.
4)Reformas adaptadas e novos setores: A experiência extremamente bem sucedida
da China e o crescente bom êxito da Índia se enquadram nesse conjunto. Como
característica geral, prevalecem importantes instituições anteriores, enquanto as
reformas introduzem o pró-mercado sob medida. Trata-se, a bem dizer, do oposto do
ocorrido nas experiências pós-socialistas - “big bang”.
Em ambos os casos, a modernização da herança industrial e agrícola tem convivido com
o surgimento de novos setores de grande dinamismo. Tanto os setores tradicionais, trabalhointensivos, são modernizados, como, sobretudo, novos setores redefinem progressivamente a
inserção da economia no mercado mundial. A melhor ilustração dessas novas atividades,
altamente internacionalizadas, é, possivelmente, o software hindu. Em 1999, a Índia já tinha 860
empresas exportadoras de software – alcançando com isto, impressionantes 20% das exportações
“mundiais”28 .
4.2.3. A sorte das reformas: condicionantes
Os elementos que definem o êxito ou fracasso das reformas podem ser agrupados em
quatro blocos de condicionantes. Na sumária referência a seguir, supõe-se que o objeto de
análise seja uma economia nacional. O esquema poderia, contudo, ser utilizado para o exame
do ocorrido com regiões ou mesmo setores singulares, submetidos a grandes reformas estruturais
– e, sobretudo, a um amplo processo de abertura comercial.
27
28
196
No caso do Brasil, evidências a esse respeito podem ser encontradas no Relatório FINEP/CNI intitulado “A Indústria e a Questão
Tecnológica” divulgado em 2002.
Nolan, Peter (2001).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
1) Herança: Por herança entenda-se o tecido de empresas herdado da fase pré-reforma e,
muito especialmente, a capacitação empresarial, gerencial, bem como dos operadores da
produção. A escala de produção em que operam as empresas é outro condicionante (inicial)
importante.
A herança é decisiva nos casos de “reforma e implosão”. Dado o ponto de partida, seria de
fato difícil imaginar a fácil reconversão para os padrões de competição imperantes no mundo
contemporâneo – não obstante o trunfo de uma população superqualificada em ciências exatas.
Mas a herança é também uma referência fundamental nos casos de hibridação. Nesses as
reformas (e a abertura, destacadamente) trazem grandes desafios – mas também oferecem, em
princípio, a possibilidade de rápida recuperação do atraso. Refiro-me, especialmente, ao caso onde
economias semi-industrializadas (ou mesmo industrializadas) já dominam as tecnologias
intermediárias e dispõem das capacitações correspondentes. Existe ali, de partida, um parque
industrial diversificado, muito capital físico, e empresas de bom tamanho – mas com escalas
possivelmente inferiores ao necessário para conquistar espaços no mercado internacional29 . Por
outro lado, muitos dos investimentos ali existentes não teriam sido feitos, se se soubesse, de
antemão, que a economia seria mais adiante exposta à competição internacional. Mesmo nesse
caso, contudo, a experiência adquirida conta – e longe estamos do mero acúmulo de desvios
denunciados pela ortodoxia das reformas.
2)Reestruturação: As decisões empresariais tomadas – enquanto a economia era fechada,
bem como as não decisões ou omissões – deverão ser reconsideradas com a abertura.
Parte daqui o processo de reestruturação.
As empresas se encontram numa situação em que, por um lado, são pressionadas pelas
importações crescentes, por outro, dada a própria abertura, têm acesso muito maior a insumos,
componentes e equipamentos, a preços altamente convidativos – especialmente equipamentos,
dadas as facilidades oferecidas pelos fornecedores (suppliers).
Dependendo da condição de partida, da evolução do mercado, do ânimo empresarial e das
estratégias eleitas, as reações das empresas vão variar enormemente.30
3)Restrições ao crescimento: Uma primeira questão decisiva na definição das chances
de crescer é o comportamento da demanda no dia seguinte das reformas. Ou seja, um
condicionante decisivo para que a reestruturação possa ser levada adiante, além da
capacitação e escala herdadas, é o comportamento da demanda doméstica. Para que a
indústria local suporte a pressão advinda da onda de importações é preciso que o mercado
local não se contraia. Discutindo essa questão, Amsden atribui o fracasso da reestruturação
nas economias ex-socialistas, em grande medida, à forte retração dos mercados domésticos
ocorridos após a liberalização31 . E reforça o seu argumento lembrando que a reestruturação
européia, do pós II Grande Guerra, contou com a expansão da demanda assegurada à
época pelo Plano Marshall. Esta é, segundo a autora, a grande lição daquela bem sucedida
experiência de reestruturação.
Uma outra questão fundamental consiste na consistência (ou não) do regime de políticas
macroeconômicas. Num regime inconsistente, melhorias num determinado objetivo (por exemplo,
o controle da inflação) direta ou indiretamente provocam a deterioração de outros indicadores
29
30
31
Amsden, Alice (2001).
Para uma sintética descrição de aspectos da reestruturação industrial, no caso brasileiro, vide Castro, Antonio B. (2001a). Algumas
das idéias aí apresentadas são retomadas em Castro, Antônio B. (2001b).
Amsden, Alice et al. (1994).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
197
BDMG
40 anos
(por exemplo, o Balanço de Pagamentos). Em suma, na busca de um objetivo, é fundamental
atentar para as conseqüências sobre outros planos - e possíveis dificuldades daí resultantes, ainda
que futuras. Uma questão delicada consiste no fato de que certos objetivos rendem muito mais
politicamente que outros – o que pode tornar (politicamente) atraente a inconsistência! Stiglitz
adverte, além disso, para um outro problema de consistência: era freqüente, no auge da onda das
reformas, medir o sucesso da privatização pelo mero volume de operações realizadas. Ou seja,
sem ter em conta a sua qualidade, e, sobretudo, os seus efeitos sobre a economia 32 .
O Brasil e a Argentina são verdadeiros “casos”, no estudo das inconsistências
macroeconômicas. O regime macro brasileiro, por exemplo, manteve-se duplamente inconsistente
– e, portanto, em rota de colisão – até fins de 1998, quando mudou a trajetória da política fiscal,
alterando-se, a seguir, completamente a política cambial. Já a Argentina, enclausurada no seu
regime de conversibilidade, assistiu à progressiva deterioração de sua competitividade e (com o
quadro fiscal também em deterioração) caminhou até a explosão final.
Duas ponderações devem, no entanto, ser acrescentadas a esse respeito. Primeiramente, é
importante deixar claro que a inconsistência não depende apenas das relações entre as políticas
domésticas. Se os EUA continuassem em vigorosa expansão, não apenas o desfecho no caso Argentino,
poderia ter sido adiado, como, na dependência do avanço da reestruturação e da produtividade
média na esfera dos tradeables, a própria inconsistência poderia ter sido, em alguma medida, superada.
Com mais razão algo semelhante poderia ser dito, caso o dólar sofresse substancial desvalorização.
Mas, como o mundo, mais uma vez, está demonstrando (com rápida acentuação em 2002),
depender crucialmente e sem defesas do ocorrido no exterior é um jogo no mínimo perigoso. Além
disso, não resta dúvida que com a acentuação da instabilidade sistêmica, e num quadro de liberdade
de movimentação (leia-se retirada) de recursos, corre-se crescentemente o risco de uma súbita
reavaliação da capacidade de pagar por parte das fontes financeiras internacionais. E isso nos leva
à questão da vulnerabilidade.
A vulnerabilidade externa tem se revelado, em última análise, a grande restrição ao
crescimento das economias em vias de reformar-se. No início dos anos 1990, as velhas dívidas
haviam sido renegociadas, e a tomada de recursos no exterior havia voltado a se tornar fácil. Mais
uma vez as economias centrais voltavam a aplicar vultosos recursos, nos agora ditos emergentes
– e, mais uma vez, popularizou-se a idéia de que dali por diante seria (sempre) assim. Bastaria para
tanto que os países fizessem as reformas e os demais “deveres de casa”.
Passada a primeira fase e avolumando-se o endividamento externo, no entanto, a confiança
nos devedores começa a sofrer os primeiros abalos – ressurgindo com isto a questão da
vulnerabilidade. A confiança na economia passa, então, a ser incessantemente reavaliada, usandose, para isso, indicadores como a relação dívida externa/exportações, a evolução da dívida interna
e, num outro plano, a consistência e a funcionalidade do regime de políticas macroeconômicas.
Se a crise mexicana de dezembro de 1994, e até mesmo a crise tailandesa de 1997, surgiram
para muitos como raios em céu azul, daí por diante as crises se sucedem praticamente sem
interrupção. Há, no entanto, uma importante diferença: a partir de 2001, os distúrbios e transtornos
passam a vir, também, da economia norte-americana. Vista, pois, em perspectiva, a crença num
mercado internacional de capitais amplamente capaz de prover empréstimos a custos razoáveis,
mostrou-se decididamente equivocada33 . E isso, se revelaria um grave erro, tanto para países
como o Brasil, que não tiveram êxito exportador, como para países como a Tailândia, a Indonésia,
ou até mesmo a Coréia, verdadeiras máquinas exportadoras.
32
33
198
Stiglitz (1999).
Jomo, K. S.(1998).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
A cada crise, as economias ditas emergentes devem, ostensivamente, refrear o nível de
atividades. Contrariamente ao ocorrido nos centros desenvolvidos, os governos locais são, pois,
obrigados a agir de forma pró-cíclica e não de forma compensatória. E na medida em que
empresas e famílias introjetem esse fato, passam a atuar elas mesmas de formas (também) prócíclica, usando, antecipadamente, os seus próprios freios.
4)Capacidade de resposta: As reformas, muitas vezes, contrariam visões amplamente
compartilhadas – e requerem que se atravesse quadros políticos altamente conflituosos.
Na antevisão das resistências é grande a tentação de criar irreversibilidades, recurso
por vezes referido como “queimar as” caravelas. Um equívoco tão grave quanto
freqüente, pelo menos na América Latina, consiste em aproveitar os anos de bonança,
no que toca ao ingresso de capitais procedentes do exterior, para introduzir mudanças
supostamente definitivas. Em contextos dessa natureza não faltarão vozes proclamando
que as novas condições permanecerão, desde que as reformas sejam plenamente levadas
a efeito. Mas a natureza cíclica do capitalismo, mais cedo ou mais tarde, acarretará o
fim da bonança e a reversão das condições anteriores. Os ciclos são inegavelmente
diferentes uns dos outros, como diversos estudiosos do fenômeno (Mitchell, Schumpeter
ou, contemporaneamente, Minsky) perceberam. Mas voltam. E dentre os fenômenos
mais pró-cíclicos sempre se destacaram fluxos de capital entre os países desenvolvidos
e a chamada periferia.
Em tais condições, sobrevinda a reversão, as economias que tornaram rígido o seu
funcionamento e/ou mais longe permitiram que as suas dívidas fossem muito elevadas,
encontram-se em situação difícil, talvez mesmo condenada ao colapso. Isso significa que como
diversos economistas advertiram no passado (e entre eles destacadamente, Prebisch), é necessário
preservar a capacidade de iniciativa, para agir de forma compensatória ou mesmo para alterar
os rumos da economia. A experiência recente de diversos países parece mostrar que o mais
freqüente dos equívocos consiste em abrir mão do mecanismo de desvalorização cambial como
pára-choque diante de adversidades. A capacidade de resposta face às dificuldades e/ou reversões
cíclicas é tema imensamente complexo que fica aqui apenas tocado. Seu devido enfretamento
requer que se tenha em conta, inclusive, o tema maior das possíveis tensões entre mercado e
democracia.
4.2.4. Nova economia ou bolha?
Multiplicam-se as críticas à arquitetura institucional das economias que passaram por amplas
reformas liberalizantes, ganhando inegável destaque ‘rebeldes internos’ como Stiglitz, Krugman,
Soros e Rodrik. A “exuberância irracional” denunciada por Greenspan, característica dos períodos
de euforia, e a necessidade de impor sacrifícios aos credores (Krueger) merecem também um lugar
de destaque, nos debates acerca de como deter ou mesmo evitar a sucessão exaustiva de crises,
característica dos últimos anos.
As críticas mais profundas parecem convergir para uma tese identificada com Polanyi: o
mercado inteiramente liberado tende a criar sérios problemas para si mesmo. Mais precisamente,
a liberdade irrestrita, especialmente no mercado de ativos, acarreta, possivelmente, exageros e
aberrações. Por outro lado (e até certo ponto, contraditoriamente), não é menos verdadeiro o fato
de que, no paradigma organizacional e tecnológico associado à economia da informação, torna-se
altamente conveniente que as empresas gozem de ampla liberdade, para que possam afirmar-se
(criando para tanto mecanismos de isolamento), face à acirrada concorrência a que estão submetidas.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
199
BDMG
40 anos
Até o presente, pelo menos, a desproporção entre críticas ao status quo e propostas de
reforma é, no entanto, flagrante. Isso concretamente significa que cada economia permanece
entregue a sua própria sorte, frente ao turbulento quadro atual. Mais que isto, e como assinala
Krugman, “pela primeira vez em duas gerações” não se sabe lidar com sérias falhas de
demanda. 34 . De qualquer forma parece já verdadeiramente estabelecido, que os anos 1990
não foram capazes de instalar uma ordem econômica estável e direcionada para o crescimento.
Admitido isso, não se deve, contudo, negar a importância das mudanças ocorridas desde
então. Em outras palavras, a nova economia é uma construção em boa medida ideológica,
mas isso não equivale a dizer que nada mais houve, no período recente, que um mero ciclo
expansivo e/ou uma grande bolha.
34
200
Krugman, Paul (1992).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
4.3. Brasil: o que há de específico
Na parte que segue trataremos de defender a hipótese de que a intensa reestruturação
verificada no Brasil, na esfera industrial, a partir do início dos anos 1990, resultou da
combinação de três elementos: uma herança diversificada e flexível no tocante ao tecido
industrial – aí incluídos os homens e mulheres encarregados de pilotá-lo; um mercado
doméstico súbita e inesperadamente ampliado (como se mostrará a seguir); a ampla adoção
de um tipo de resposta estratégica simples e eficaz, por parte das empresas.
Por outro lado, é importante também destacar a descontinuidade no plano das políticas
macroeconômicas. O primeiro período pode ser caracterizado pela valorização cambial e pelo
crescente desajuste tanto no plano das contas externas quanto no plano fiscal. A segunda
fase inaugura-se com a desvalorização de janeiro de 1999 e, nela, o regime de políticas macro
adquire consistência e também flexibilidade. Dado o acirramento da instabilidade internacional,
a economia recebe incessantes choques. Observa-se, no entanto que, nessa segunda fase,
além de exibir maior flexibilidade, o aparato de política econômica tem agora por pára-choques
a taxa de câmbio (e não mais a taxa de juros). À medida que se avança nesse segundo período,
contudo, o crescente acúmulo de dívidas externa e interna fragiliza a imagem da economia.
Ao lado da crescente vulnerabilidade, vai também ficando patente, paradoxalmente, a solidez
do tecido econômico. Essa assimetria entre robustez em nível da empresas e fragilidade,
sobretudo financeira, parece ser o traço mais peculiar da experiência a ser daqui por diante
tratada.
4.3.1. O parque industrial herdado
O Brasil chegou a 1980 dotado de um parque industrial amplo, diversificado e moderno.
Havia completado o processo de substituição de importações e vinha expandindo rapidamente
as exportações de manufaturas – de fato, começava a ser referido como um perigoso NIC
(Novo País Industrializado).35 .
As tecnologias de produção e de projetação eram amplamente dominadas – e nesse
sentido, como em outros, havia-se desenvolvido uma certa capacidade de resolver problemas.
Mas a capacitação adquirida era bastante desequilibrada, tendo o seu forte inegavelmente,
nas questões operacionais. Concretamente, o esforço feito pelas empresas limitava-se à cópia
e à adaptação. O País como um todo, no entanto, freqüentemente através de novas empresas,
avançava integrando novos setores ao seu aparelho produtivo. Nesse sentido se pode dizer
que o avanço tecnológico se fazia, sobretudo, mediante a implantação de novas atividades.
Mas, convém insistir, havia ampla capacitação de trabalhadores, técnicos e gerentes para
operar a capacidade existente – bem como disposição para enfrentar os ajustes e adaptações
requeridos para colocar em funcionamento as novas plantas. Nesse contexto, não é preciso
sublinhar, o crescimento era função da formação de capacidade produtiva adicional. E para
isso o País estava amplamente aparelhado – inclusive no que toca à geração e à administração
do financiamento de longo prazo.
35
Castro, Antonio Barros e Souza, Francisco Eduardo (1995).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
201
BDMG
40 anos
A estrutura industrial se caracterizava pela liderança por parte de grandes empresas
públicas, situadas em setores pesados e capital-intensivos. A partir dessas posições,
algumas delas tratavam de organizar as respectivas cadeias de supridores – sendo a
Petrobrás um caso especialmente bem sucedido nesse plano.
Em alguns setores por contraste, era forte ou mesmo francamente dominante a
presença de multinacionais. Estas, especialmente nos campos dos duráveis, também
buscavam, em alguma medida organizar seus supridores – no caso da automobilística,
com notório e decisivo apoio de programas públicos.
Mas o País havia também desenvolvido uma ampla e variada população de empresas
nacionais, compreendendo algumas grandes, um considerável número de médias empresas
(especialmente na Região Sul do País), bem como pequenos negócios pulverizados e
dispersos, sobretudo nos setores de indústria alimentar, confecções e calçados. Sem
desenvolver a comparação, assinalemos que as escalas de produção por planta eram aqui
muito superiores às da Argentina 36 , mas as empresas estavam longe de englobar grandes
grupos, como no caso da Coréia.
Na transição para os anos 1980, e ao longo dessa última década, a economia
brasileira sofreu sucessivos choques e reveses. Essas adversidades contribuíram para o
relativo fracasso de investidas anterior mente iniciadas em direção ao que então se
visualizava como a última fronteira: a indústria nuclear; a microeletrônica (com destaques
para computadores e impressoras); a indústria de telecomunicações, e a aeronáutica. Como
bem se sabe, nessa derradeira fronteira das técnicas só se mostrou efetiva e plenamente
exitosa a indústria aeronáutica 37 .
Muito mais importante que certas derrotas setoriais no esforço para completar o
emparelhamento (catch up) com os países mais avançados, contudo, veio a ser a progressiva
desatualização da indústria a longo da década dos 1980. É conveniente advertir no entanto
que, de início (nos primeiros anos da década de 1980), esse fenômeno era amplamente
compensado pela entrada em plena operação dos últimos projetos integrantes do II PND
(dotados em regra de tecnologia e escala atualizadas) 38 . A desatualização a que me refiro
é muito mais ampla e compreende, grande parte da indústria consolidada do País.
Nessa mesma fase (década dos 1980), as empresas públicas perdem progressivamente
a capacidade de iniciativa e de articulação de cadeias. As empresas estrangeiras, de sua
parte, ficam praticamente paralisadas - enquanto as nacionais, ressalvadas exceções,
tratam de sobreviver 39 .
Do colapso do Cruzado em diante, os distúrbios macroeconômicos foram num
crescendo, que culminou com a hiperinflação de 1989. Nessa fase, mais ainda do que na
primeira metade da década, cessa praticamente o acompanhamento, por parte das
empresas, do que se passa nos centros desenvolvidos. Os artigos aqui produzidos tornamse desatualizados, fenômeno que, aliás, se acentua em decorrência da aceleração nas
economias centrais. Além disso, as novas formas de organização e gerenciamento que
36
37
38
39
202
Katz, Jorge M. (1986).
Bernardes, Roberto (2000).
Os grandes projetos procedentes do II PND iam então definindo as novas vantagens comparativas do País. Ferraz, João C,
Kupfer, David e Haguenauer, Lia (1996).
Ruiz, Ricardo Machado (1994).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
rapidamente se difundem nos centros industriais tampouco se propagam no conturbado
ambiente brasileiro dos anos 80.
4.3.2. Salto do poder aquisitivo doméstico
A recuperação do atraso, especialmente no tocante, às formas de organização, teve
início nos primeiros anos da década de 1990 40 . Com a estabilização, contudo, a
reestruturação seria fortemente impulsionada por um fator até o presente não devidamente
posto em evidência. Trata-se da descontínua evolução do mercado doméstico, a partir do
momento em que à abertura se combina a estabilização (julho de 1994). Para deixar
claro do que estamos falando, e até mesmo para aquilatar a sua importância, parece-me,
contudo, oportuno um rápido contraste com a desastrada experiência do leste europeu.
Naqueles países, a liberação/desregulamentação foi acompanhada da alta geral dos
preços (usualmente coordenada pelo câmbio até então altamente defasado). O resultado
imediato foi a forte queda dos salários reais – e a conseqüente retração do poder de
compra disponível para a aquisição de manufaturas. Em certos casos, esse fenômeno foi
ainda agravado pela liberação dos preços de algumas necessidades básicas tais como
transpor te e calefação. Nessas condições, como já foi anterior mente sugerido, o
encolhimento do mercado doméstico surge como um problema a mais, a se somar ao
caráter e à apresentação obsoletas de numerosos produtos.
É como se a economia tivesse mudado de tamanho, para muito menor. De pouco
ou nada serve, nesse contexto, a ampla disponibilidade de mão-de-obra barata. Donde,
então, tirar o estímulo – e os recursos – para investir? A mão-de-obra barata servirá,
quando muito, para atender encomendas de empresas sediadas no exterior – na medida
em que estas decidam deslocar fontes tradicionais de suprimento. 41
Por contraste com esse tipo de situação, em que, convém sublinhar, as reformas
não levam ao reaproveitamento dos fatores tornados ociosos e nem tampouco à
reestruturação das empresas, retornemos ao caso brasileiro.
O GRAF. 2 permite ver que a combinação da abertura com a estabilização, ancorada,
esta última, num câmbio que sofreu inicialmente forte valorização, resultou num quadro,
muito peculiar no tocante à evolução dos preços relativos. Nele chama a atenção a
acentuada queda relativa dos preços dos bens comercializáveis, na fase inicial da
estabilização.
40
41
Castro, Antonio Barros (2001a).
Punzo, Lionello (1999).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
203
BDMG
40 anos
GRÁFICO 2
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS (IPCA JULHO DE 1994=100)
FONTE: Elaboração do autor
Não tendo os salários acompanhado os preços dos tradeables, daí resultou um enorme aumento
do poder aquisitivo dos salários medidos em bens comercializáveis. Isso está apontado na TAB. 1,
que toma como base (100) o mês de lançamento do Real, julho de 1994. Algumas observações
devem ser aqui acrescentadas.
TABELA 1
MASSA SALARIAL NOMINAL DEFLACIONADA PELO IPCA COMERCIALIZÁVEIS - BASE: JULHO DE 1994=100
ANO
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
1994
-
-
-
-
-
-
100,00
108,58
112,15
108,38
115,85
123,54
1995
116,82
121,61
126,00
128,83
132,56
134,42
134,77
138,13
138,90
140,26
146,32
155,99
1996
147,22
149,99
151,91
154,38
157,70
159,08
162,96
166,47
167,35
167,19
168,06
177,49
1997
162,26
161,96
160,53
164,63
169,43
168,29
171,31
174,26
174,78
176,94
178,21
188,33
1998
174,23
170,16
169,88
168,75
167,87
168,82
167,21
171,65
172,83
174,67
178,59
189,41
1999
168,09
162,62
159,94
158,30
159,15
162,45
158,46
158,36
160,24
159,16
162,80
174,35
2000
159,50
158,80
159,90
162,28
166,39
169,01
165,93
167,20
168,21
170,74
170,15
183,96
2001
166,58
165,65
165,67
166,02
164,67
167,05
166,91
164,74
163,52
163,26
161,28
170,37
FONTE: Elaboração do autor
Primeiramente, parte do brutal aumento assinalado (de 71% nos três anos que vão de julho
de 1994 e julho de 1997) provém da acentuada queda (relativa) dos preços agrícolas – trata-se da
âncora verde, adiante comentada. A outra parte, substancial, deriva da redução dos preços das
próprias manufaturas.
204
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
A segunda observação consiste em que, a partir de meados de 1997, os preços dos tradeables
passam a se mover aproximadamente em linha com os preços dos não comercializáveis. Se não
há quedas adicionais, há que se chamar atenção para o fato de que o movimento anterior não é
tampouco revertido – como tantas vezes se observa nos movimentos de preços relativos.
Finalmente, não caberia, obviamente, supor que o aumento do poder aquisitivo seria
integralmente utilizado na aquisição de tradeables. Parte da renda liberada pela aquisição de
tradeables aos novos preços será aplicada em não tradeables. Observe-se, no entanto, que podem
também ocorrer substituições de não tradeables por tradeables: uma boa ilustração consiste nos
bens que, danificados, não mais serão levados ao conserto - dando lugar a novas compras (tratase do chamado “efeito substituição”).
São necessários estudos e pesquisas para que se entenda e avalie melhor, porque e como
as empresas produtoras de tradeables puderam absorver grandes quedas (relativas) nos seus preços
de venda. Pode-se, no entanto, afirmar que há, em princípio, diversos mecanismos candidatos a
explicar o fenômeno. Merecem destaque: importações mais baratas de insumos e equipamentos42 ;
redução de ineficiências43 ; contração de margens44 , e ganhos de escala. Por outro lado, é bom
lembrar que a adaptação ao novo quadro pelas empresas não teria porque se dar ao ritmo a que
se processava a queda dos preços relativos. O ajuste é de fato complexo e individualizado sendo conveniente sublinhar que o declínio relativo dos preços dos comercializáveis cessa, e o
poder aquisitivo da massa de salários deixa de crescer, em 1997. Em parte, é a demanda, via
efeitos renda e efeitos substituição, que vai alocar nos diferentes mercados, o poder aquisitivo
ampliado. Em parte, além disso, é o maior ou menor empreendedorismo das empresas que se
encarregará de definir o resultado dos ajustes.
Quanto ao impacto direto das importações, um fato merece grande destaque. Em
decorrência do comportamento inicialmente muito favorável do mercado doméstico, a explosão
das importações – que tanto preocupava os críticos da abertura45 – não impediu o substancial
crescimento das vendas de manufaturas localmente produzidas e destinadas ao mercado
doméstico. Entende-se: o baixo coeficiente de importações na origem do processo permitiu que
um aumento proporcionalmente muito elevado das compras no exterior convivesse com um
aumento substancial (em termos absolutos) das vendas dos produtos domesticamente
produzidos. Mas, para que isto se verificasse, foi crucial que os produtores domésticos partissem
para uma estratégia de reafirmação e chegassem, efetivamente, a reduzir substancialmente seus
próprios preços relativos – tanto em relação ao passado quanto em relação aos não tradeables. E
é nesse contexto, que o PIB Industrial (conceito IBGE) cresceu extraordinários 9,6% no ano
que termina em junho de 199546 .
42
43
44
45
46
Em muitos casos, seguramente, as importações permitiam o acesso a bens não apenas mais baratos como efetivamente superiores.
Além disso, usualmente se tratava de produtos uma ou mais gerações mais avançados que os até então em uso na economia.
Redução da chamada Ineficiência X seguramente ampliada pela alta inflação. LIEBENSTEIN, Harvey (1980).
As margens na hiperinflação se encontravam infladas por um problema de segurança, ou seja, e na expressão de Frenkel, Roberto
(1979), para evitar “perdas de capital”. Observe-se que esta explicação põe em evidência um efeito redistributivo da estabilização,
sem sair da esfera dos procedimentos empresariais.
Incluo-me entre os que erraram a este respeito, temendo, no caso, que a atitude passiva do governo empurrasse as empresas em
direção a estratégias “mercantil-conservadoras”. Castro, Antonio Barros (1995).
Uma importante fonte de informações sobre o aumento do consumo pós-estabilização é o relatório CNI-CEPAL (1997).
Guilherme Dias chamou a atenção para o aumento do poder aquisitivo dos salários no período 1992 a 1997. Vide gráfico em
Baumann, Renato (2002). Coutinho, Luciano (1997) chama a atenção para o aumento do consumo de produtos industrializados
após 1994, atribuindo-o a estabilização. Apesar disto, conclui pela “especialização regressiva”, concebida como um análogo da
desindustrialização.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
205
BDMG
40 anos
4.3.3. A reestruturação das empresas
Simultaneamente à ampliação do mercado local, numerosos produtos até então amplamente
aceitos no País passam a ser considerados “inferiores”, o que alimenta um clima ou onda de lançamento
de novos produtos. Em muitos casos, o rejuvenescimento do portfólio de produtos requer a revisão de
processos, o que é enormemente facilitado pelo barateamento extremo dos equipamentos47 . Aqui vemos
a abertura agindo, poderosamente, tanto sobre as preferências e a estrutura de demanda quanto sobre
as possibilidades de reaproveitamento de recursos controlados pelas empresas.
A questão se colocava, então, da seguinte maneira para muitos empresários: era de tal
ordem a ampliação/renovação dos respectivos mercados, que muitos se viam diante de uma
mutação, de um outro ambiente. Por uma feliz coincidência, isso porém, ocorria num momento
em que mudanças recentemente difundidas nas economias centrais, de natureza organizacional e
tecnológica, favoreciam a aquisição, por parte das empresas, de maior flexibilidade operacional.
Estas podiam, a partir de uma boa “herança”, muito mais facilmente que no passado, reposicionarse frente ao mercado. Para isso, era, no entanto, necessário buscar, uma combinação própria de
ingredientes tais como: corte e re-treinamento de pessoal, remanejamento das instalações, e
aquisição de insumos melhores e mais baratos (via importações). Além disso, juntamente com o
avanço no lançamento de novos produtos as empresas estariam também aumentando a sua
eficiência (eliminando X inefficiency) e, possivelmente, aceitando operar com menores margens de
retorno. Em alguns casos estariam também alcançando melhores escalas de produção.
Os resultados obtidos por combinações singulares das possíveis mudanças que acabam de
ser assinaladas se mostrariam cruciais para que efetivamente se avançasse em direção ao objetivo
estratégico das empresas nessa etapa crucial: produzir artigos similares a preços competitivos. À
medida que dele se aproxime, a empresa se torna apta a suportar os novos e rebaixados preços
relativos das manufaturas – ao mesmo tempo em que deles tira proveito48 . Sem desenvolver o
tema, registre-se que esta evolução não é indolor – e que muitas empresas desapareceram, ou
tiveram o seu controle transferido, inclusive para o exterior.
4.3.4. O mercado doméstico renovado
Vimos anteriormente que nas economias pós-soviéticas, por contraste, o mercado local
contraiu-se fortemente como resultado da erosão dos salários pela inflação. Ora, para que haja
reações positivas por parte das empresas, é necessário que haja sustentação do mercado ou,
idealmente, que aumentem as vendas. Como lá se viu, quando a demanda como um todo regride,
não há porque a demissão de trabalhadores e o fechamento de empresas leve ao reaproveitamento
dos recursos: esse mecanismo talvez funcione para a parte, mas não para o todo. Como diz
Stiglitz, há aqui um grave erro sob a forma da “failure to distinguish between what is required in
the case of restructuring a single firm within a well functioning market economy, and restructuring
virtually an entire economy or at least the manufacturing sector of an economy”.49
O que estou sugerindo é que houve aqui, de forma não planejada (e nem sequer entendida),
o equivalente funcional de um Plano Marshall.
A forte expansão do mercado interno, verificada após a estabilização, foi reconhecida por
diferentes autores. Até o presente, no entanto, creio que as explicações eram bem diversas da aqui
sugerida. A mais difundida explicação atribui o fenômeno à própria estabilização monetária que,
47
48
49
206
Souza, Francisco Eduardo Pires (1996).
Castro, Antonio Barros (2001a).
Stiglitz, Joseph (1999).
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
ao eliminar o imposto inflacionário, teria dado um forte impulso à expansão do mercado doméstico.
A explicação não parece, contudo convincente pela razão a seguir apontada.
O imposto inflacionário consiste no total das perdas incorridas pelos indivíduos e empresas,
em decorrência da conveniência de manter ativos monetários (papel moeda e depósitos a vista)
num quadro em que a inflação dilui fortemente o valor da moeda. Evidentemente, a eliminação
da inflação abole esse tipo de “tributo” e, com isso, aumenta o poder aquisitivo dos detentores de
moeda. No presente texto, contudo, procurou-se chamar a atenção para o enorme aumento do
valor da massa de salários em termos de tradeables, imediatamente após a estabilização. Já a
eliminação do imposto inflacionário, só pode se acrescentar a esta constatação, jamais negá-la.
Em outras palavras, o desaparecimento do imposto inflacionário significa apenas que o
aumento do poder aquisitivo é ainda maior do que o sugerido nesse texto (via rebaixamento de
preços relativos). Quanto maior?
Entra aqui o fato de que a alta e crônica inflação brasileira era, em grade medida, inercial.
Simonsen caracterizou-a como anaeróbica, no sentido de que não se alimentava de moeda adicional
colocada pelos poderes públicos. Enfim, e sem maiores detalhes, a base monetária mais depósitos
a vista era de cerca de 4% do PIB. Nessas condições, mesmo que a alta incessante dos preços
levasse metade desse valor, estaríamos frente a 2% do PIB que deixariam de ser comidos pelos
poderes públicos, podendo voltar a ser gastos por particulares: muito pouco, comparado com a
ordem de grandeza da explosão das compras pós-Real.
Por outro lado, uma outra possível explicação pretende que a ampliação do crédito seria o
determinante maior da dilatação do mercado doméstico. A TAB. 2 mostra a evolução do crédito
total absorvido pela economia.
Há um considerável aumento, em 1994, e, daí por diante, um declínio em relação ao PIB. A
cifra, para 1999, já é inferior ao valor alcançado (sempre em termos proporcionais) em 1993. Em
suma, o crédito certamente contribuiu, e muito, pelo menos no primeiro momento. Trata-se, porém,
de uma contribuição, localizada (centrada em duráveis), e inclusive, distante de alguns dos ícones
do consumo no Real (como o frango e o iogurte). Além disso, e, sobretudo, apresenta uma ordem
de grandeza inferior ao fenômeno que se pretende explicar.
TABELA 2
CRÉDITO TOTAL / PIB VAL. IGP-DI
ANO
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
1991
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
24,08
1992
24,47
24,58
24,98
25,41
25,45
26,96
27,10
26,80
26,78
27,31
28,08
28,55
1993
28,22
28,40
27,83
27,61
27,84
27,94
28,12
28,06
27,91
28,77
29,06
28,90
1994
28,56
29,04
29,60
30,15
31,43
31,63
32,58
33,95
35,13
35,75
36,38
36,45
1995
36,76
36,87
36,39
36,37
36,55
36,25
34,96
35,00
35,71
35,68
35,62
34,81
1996
33,88
34,00
34,55
34,17
33,49
32,99
32,42
31,96
31,92
32,07
31,58
31,05
1997
30,81
30,82
30,86
31,05
31,36
31,70
32,12
32,50
32,75
32,85
32,74
28,72
1998
28,48
28,99
28,86
28,97
28,95
28,72
28,65
28,78
29,15
29,32
30,11
29,70
1999
29,86
29,26
28,19
27,99
28,16
27,89
27,87
27,91
28,04
28,14
28,10
27,21
2000
2001
27,08
27,81
27,02
28,39
27,24
28,77
27,65
28,97
28,30
29,21
28,00
26,00
27,72
26,24
27,31
26,81
26,90
27,20
27,06
27,06
27,57
27,09
28,00
26,78
2002
26,84
26,93
27,01
27,01
27,08
FONTE: Séries Temporais. Banco Central do Brasil
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
207
BDMG
40 anos
4.3.5. O ?=J?D KF produtivo e suas limitações50
O fato do catch up produtivo, até o presente retratado, centrar-se na aproximação dos padrões
de operação vigentes nos centros desenvolvidos tem importantes implicações. Se por um lado
significa que a sua realização equivale ao alcance da maioridade industrial (no sentido estrito da
palavra), por outro, revela novas vulnerabilidades.
Como já foi assinalado, a musculatura manufatureira deixou de ser um símbolo de pujança
industrial. Na realidade, a agregação de valor vem se deslocando para outras funções empresariais.
Mais que isso, tem se multiplicado, contemporaneamente, a chamada ‘terceirização da produção’
que, ainda quando não se mostre uma tendência generalizada, assinala e simboliza a perda de
relevância estratégica das funções propriamente fabris. Mesmo no Brasil, onde - pelo contrário - a
excelência fabril constitui a grande conquista recente, isso já vai se tornando evidente. Como
declarou um dirigente da Azaléia, a excelência de operações passa a ser obrigatória, uma qualificação
para permanecer no mercado, mas não uma fonte de vantagem competitiva51 .
Some-se ao anterior, o fato de que na dinâmica competitiva contemporânea, os produtos
têm vida cada vez mais curta e torna-se mais fácil imitar. As próprias fábricas tornam-se mais
deslocáveis (footloose), o que também contribui para o acirramento da competição.
Tendo por pano de fundo estas razões gerais para a erosão dos rendimentos de estratégias
com foco em produção, cabe acrescentar motivos específicos para a reversão, na experiência
brasileira, da curva de rendimento do catch up produtivo.
Primeiramente, caberia assinalar a própria convergência dos padrões de operação para um
patamar similar ao existente nos centros desenvolvidos - o que sugere uma substancial redução do
estoque de inovações não difundidas no país. Por outro lado, cessa a sobre-excitação da demanda
oriunda da abertura e do término da alta inflação, enquanto a contestabilidade dos mercados por
parte dos compradores torna-se rotina.
Em suma, independentemente das condições mais favoráveis ou mais adversas
conjunturalmente enfrentadas pelas empresas, seria de se esperar um declínio da capacidade de
gerar rendimentos por parte da especialização em operações aqui levadas a efeito.
Admitamos, no entanto, que as empresas, sentindo ou antecipando dificuldades (ou mesmo
visualizando oportunidades), busquem soluções para ir além das possibilidades oferecidas pelo
catch up produtivo – o que evidentemente pode ocorrer bem antes do ponto de máximo rendimento
da estratégia.
Imaginemos duas grandes vertentes. A primeira, pautada pela continuidade do foco em
operações, busca apenas alcançar uma sobrevida para o posicionamento já assumido. A segunda
propõe a migração para um posicionamento qualitativamente diferente.
No tocante à busca de sobrevida, três caminhos se entreabrem. O primeiro consiste em
pressionar o governo no sentido de obter mudanças de preços fundamentais como juros, câmbio
e tarifas. Aqui, também, entram demandas que concernem à redução do chamado ‘custo Brasil’.
O segundo, significando essencialmente “mais do mesmo”, se traduziria na intensificação
dos esforços para chegar a benchmarks de eficiência, avanços em digitalização e automação, e, num
outro plano, no endurecimento das negociações dentro da cadeia produtiva e com os trabalhadores.
50
51
208
Item baseado em Castro, A. B.; Proença, A. (2001).
Revista Exame, 24 de agosto de 1997.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Em última análise, trata-se de aprofundar a opção estratégica anteriormente feita. O que pode,
numa hipótese favorável, incluir a intensificação dos esforços de P&D visando acompanhar os
avanços que vão sendo registrados no exterior.
O terceiro consistiria em comprar empresas, procurando levar para as novas fábricas o
padrão de excelência operacional já alcançado na própria empresa. Essa linha tem, aliás, sido
encarada como especialmente relevante para o País, quando manifesta através de aquisições no
exterior.
GRÁFICO 3
RENDAS ASSOCIADAS AO CATCH-UP PRODUTIVO: TRAJETÓRIAS DE SOBREVIDA
FONTE: Elaboração do autor
Mesmo reconhecendo o maior arrojo e alcance dessa terceira alternativa, há que se reconhecer
que as três linhas têm em comum dois traços básicos. Não se pretende alterar a proposta de valor,
mas apenas ampliar as vendas e proteger as margens; e não se altera a prioridade conferida a
operações, permanecendo relativamente atrofiadas as funções corporativas situadas à esquerda e
à direita no GRAF. 3. Enquanto que nas etapas anteriores (I e II) se tratava de conquistar novos
espaços, agora (etapa III) trata-se de prolongar a vida útil do já alcançado.
A rigor, as três alternativas apontadas não enfrentam os problemas anteriormente detectados
– e não permitem efetivamente escapar da hipercompetição a que estão sujeitos os produtores
desprovidos de originalidade.
4.3.6. A reestruturação do complexo agroindustrial
O complexo agroindustrial abrange, entre outras, as atividades agropecuárias, que hoje,
no Brasil, correspondem a cerca de 40% do valor agregado total gerado pelo complexo
agroindustrial.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
209
BDMG
40 anos
No que se refere às transformações ocorridas na agropecuária, convém chamar a atenção,
inicialmente, para o fato de que ao terem início as grandes reformas, no final dos anos 1980, diversas
atividades integrantes do complexo agroindustrial já estavam sendo submetidas a profundas mudanças.
Refiro-me, em particular, à transição da agricultura dita tradicional, para práticas muito mais densas
em tecnologia e insumos de procedência industrial52 . Essa transformação deu partida num movimento
de elevação da produtividade da terra que marcaria, daí por diante, e até o presente, a evolução da
agropecuária brasileira. Conseqüência disso, a produção média por hectare de grãos (da ordem de 2,6
toneladas) é hoje mais que o dobro do obtido na primeira metade dos anos 1970, quando começa a
ganhar impulso a transformação aqui referida. Movimento semelhante, porém mais difícil de se
medir ou mesmo caracterizar, difundia-se, em simultâneo, na produção de carnes.
Pode-se afirmar que, de 1987 em diante, a agropecuária começou a ser também beneficiada
por um firme movimento de elevação dos seus termos de troca. Concretamente, os preços dos
insumos e máquinas adquiridos pelo setor reduzem-se sob a influência da crescente abertura, em
relação aos preços alcançados pelos produtos por ele produzidos. Esse movimento daria um forte
impulso no sentido da extensão e aprofundamento da modernização da agropecuária – e contra a
chamada agricultura tradicional. Ao mesmo tempo adquire vigor a tendência à elevação da
produtividade da terra53 .
A partir de 1994, contudo, a evolução da relação de trocas não mais beneficia a agricultura.
Surge inclusive um forte movimento de declínio relativo dos preços dos alimentos, que levará
muitos a apontar a existência de uma “âncora verde” na estabilização brasileira.
Não há dúvidas de que os preços dos alimentos baixaram acentuadamente em relação aos
demais preços da economia, logo após o lançamento do Real. Também é verdade que uma vez
observada a queda dos preços relativos dos alimentos, eles jamais voltaram aos patamares anteriores.
Parece, no entanto, válido afirmar que a contribuição da agricultura para a redução dos preços
finais dos alimentos foi mais modesta do que aparenta. Vejamos porque.
O sistema agroalimentar inclui, além da agropecuária, uma série de outras atividades entre
as quais cabe destacar o processamento industrial, a logística, e a comercialização. Isso significa
que os avanços ocorridos em todas estas atividades podem ter tido uma influência decisiva no
rebaixamento dos preços relativos dos produtos que chegam ao consumidor final54 . Neste caso,
ressalvado um breve período, em que os preços ao produtor realmente baixaram em termos relativos,
os avanços verificados em atividades “além porteiras” devem ser creditados por parte da redução
observada nos preços dos alimentos.
Por outro lado, não há que esquecer a importância do já assinalado barateamento dos insumos
e máquinas, a partir da abertura. Visto a questão por este ângulo, aliás, parte da redução de preços
recebidos pelo produtor agrícola apenas transmitia impulsos procedentes da abertura.
Em suma, e retomando a uma questão já anteriormente referida, o barateamento dos insumos
agrícolas – é de fato um importante fator no aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores. Há, no
entanto, que acrescentar, aos ganhos procedentes do núcleo agropecuário, os ganhos obtidos no
resto da cadeia. E é esta composição de elementos que permitiu concluir que “o poder aquisitivo
dos salários da construção civil em relação a alimentos e vestuário teria crescido em mais de 60%”.55
52
53
54
55
210
Alves, Eliseu; Contini, Elísio (1992).
Ver Dias, Guilherme (2001) que os preços ao produtor realmente baixaram em termos relativos, para a caracterização do efeito
conjunto da melhoria da relação de trocas (até 1994) e do aumento da produtividade.
Farina, Elizabeth; Nunes, Rubens.
Dias, Guilherme (2001), p. 252.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Voltando à questão da abertura, lembremos que, no tocante a muitos produtos agropecuários,
o risco de uma avalanche de importações em decorrência da abertura comercial, dadas as vantagens
comparativas existentes nesse terreno, era praticamente inexistente. Ainda assim, em alguns casos,
severas regressões vieram a ocorrer, sendo o algodão o mais grave dentre elas.
Mais que uma redução da proteção do mercado doméstico, a grande ameaça enfrentada
pelo setor consistiu, no entanto, na desestatização do crédito – e, com ela, no desaparecimento
dos subsídios aí implícitos. As vantagens decorrentes do barateamento de insumos e máquinas,
aliadas ao firme avanço da produtividade da terra e do trabalho, no entanto, ao que tudo indica,
permitiu que a agropecuária se reafirmasse e se expandisse vigorosamente – ultrapassando em
média, e sustentadamente, o crescimento da indústria.
Amplos segmentos, da agricultura tradicional mergulharam, contudo, em crise e aí
permaneceram. Esse fato, aliado à estabilização da moeda e à ampliação do movimento de ocupação
da fronteira, colaborou no sentido do pronunciado rebaixamento do preço da terra (especialmente
nas áreas tradicionais). Num outro plano, e como uma das maiores mudanças ocorridas desde a
segunda metade dos anos 1980, haveria que destacar o drástico aumento do financiamento com
recursos próprios – que já teria atingido cerca de 60% na atualidade, contra 28% procedente de
bancos e 12% originário da indústria e tradings56 .
Finalmente, o avanço da agricultura moderna foi patentemente impulsionado pelos resultados
alcançados em pesquisa e desenvolvimento de novas soluções através, sobretudo, da EMBRAPA
(sendo, no entanto, conveniente destacar a contribuição de instituições público/privadas como a
Fundação Mato Grosso). A mais imediata conseqüência das novas soluções foi a possibilidade de
incorporação de terras situadas num amplo arco que se estende do oeste da Bahia ao Maranhão,
conformando o que alguns denominam cerrado setentrional.
A importância desse último movimento só pode ser devidamente apreciada, se tivermos
em conta dois fatos. Primeiramente, através dele desaparece a disjuntiva crescer por expansão da
fronteira X mediante modernização: a modernidade torna-se uma característica maior da própria
fronteira. Além disso, a pressão competitiva renovada e intensificada impõe o redesenho do mapa
de aptidões regionais – sendo difícil exagerar a importância desse fenômeno para diversas regiões.
Se por um lado, rapidamente se afirmam certas novas áreas, por outro algumas outras são
marginalizadas, tendo que ser quase que reinventadas do ponto de vista de suas aptidões e forma
de inserção nos mercados.
4.3.7. Contenção e Instabilidade do crescimento
Até aqui destacamos aspectos singulares e bem sucedidos da reestruturação ocorrida no
Brasil, nas atividades industriais e na agropecuária. As atenções estiveram voltadas, sobretudo,
para as transformações ocorridas na indústria, setor que havia liderado o crescimento de 1940 a
1980. Tratamos, agora, de focalizar não mais as mudanças, e sim a evolução do todo –
especialmente a indústria - ao longo do tempo. Para tanto, é necessário abandonar a abordagem
excessivamente “supply oriented” utilizada até o presente na caracterização do caso brasileiro. Como
se verá, a evolução do produto industrial no Brasil correlaciona-se, antes com as vicissitudes a
que está sendo, a cada momento, submetida à demanda final, do que com o aproveitamento do
potencial de oferta.
56
Conforme estatísticas do Banco do Brasil em Relatórios Técnicos, Metas e Políticas para o Agribusiness em ABAG (2002), p. 85.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
211
BDMG
40 anos
• Desempenho macroeconômico
O GRAF. 4 revela, antes de mais nada, que a indústria teve um comportamento
extraordinariamente instável. Por quatro vezes o impulso expansionista foi de tal ordem, que o
crescimento anualizado ultrapassou 7%. Por contraste com esta exuberante conduta, no entanto,
por três vezes as atividades industriais desabaram – retraindo-se em mais de 4% (anualizado) em
duas ocasiões, e quase a esse ritmo, em 1999.
Como se pode ver, o nível de atividades encontra-se mais uma vez em meados de 2002,
embicado para baixo. Vista a questão por esse prisma, é, pois tentador pensar que o pífio crescimento
médio do período, da ordem de 2% ao ano, oculta mais do que revela. Vivemos, em suma, uma era
em que, insistindo, a evolução é determinada pela dilatação/contração do mercado doméstico,
sem que se perceba qualquer autonomia na trajetória da indústria.
Por outro lado, é também importante assinalar que os repiques da atividade manufatureira
não devem ser entendidos como o resultado de políticas de expansão. E isso porque os juros
médios reais, mesmo após as reduções verificadas no período que se segue à desvalorização,
foram sempre mantidos em níveis elevadíssimos em comparações internacionais. Nesse sentido,
portanto, a economia tem sido permanentemente travada. Convém agregar, no entanto, que, do
lançamento do Real até 1998, a política fiscal foi sempre frouxa – em flagrante conflito com a
política de juros, e deixando clara a duvidosa consistência do regime de políticas macro.
Está implícito no que precede que o exterior jamais puxou para cima o nível de atividades,
e esta é uma característica marcante da economia durante o período das reformas. Em outras
palavras, a energia da retomada é inteiramente endógena – ao contrário do ocorrido em tantos
outros mercados emergentes. Mas o seu verdadeiro fôlego não chega sequer a ser testado. Nas
retrações, sim, prevalecem, em regra, os impulsos negativos oriundos de fora – e amplificados por
políticas governamentais pró-cíclicas.
GRÁFICO 4
INDÚSTRIA GERAL - VARIAÇÃO PERCENTUAL - SEM AJUSTE SAZONAL
FONTE: Elaboração do autor
212
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
• Restrições ao crescimento
BDMG
40 anos
O próximo ponto a ser focalizado é o baixo teto em que logo bate o crescimento no Brasil.
A política macroeconômica vigente, de julho de 1994 a janeiro de 1999, apresentava
inconsistências capazes de comprometer seriamente os resultados obtidos pela economia. Duas
interpretações, irreconciliáveis, posicionavam-se a esse respeito.
Um grupo apontava a precariedade do quadro fiscal como o problema central da economia.
O ajuste realizado na transição para a estabilidade teria sido insuficiente e de má qualidade. E a mais
grave conseqüência disso seria a obrigatoriedade de manutenção de elevadas taxas de juros, visando
sugar parte não desprezível da poupança privada, a ser consumida pelo gasto público corrente.
A relevância maior ou menor da insuficiência do ajuste fiscal dependeria, de qualquer
maneira, do grau de endividamento público - e a economia brasileira era, ao ter início o plano
Real, muito pouco endividada, seja interna, seja externamente. Em tais condições, as dívidas
poderiam, em princípio, aumentar significativamente. E no tocante à dívida pública interna, em
particular, dada a tradição amplamente estabelecida no Brasil de financiamento público com recursos
domésticos, a expansão do endividamento (até certo ponto, pelo menos) não parecia oferecer
problema algum. Sobretudo se a economia crescesse a um ritmo razoável – e, assim sendo, o
coeficiente dívida/PIB pudesse ser mantido distante de valores preocupantes. Voltaremos ao tema.
Um segundo grupo via na conjugação de abertura com a valorização cambial uma séria
ameaça. A primeira conseqüência disto seria, possivelmente, a destruição de setores e empresas,
plenamente capacitados a competir em condições menos adversas. Além disso, com as importações
amplamente estimuladas e as exportações perdendo competitividade, o País rapidamente
consumiria o saldo comercial com o qual financiava, de 1983/1984 até 1994, o déficit da balança
de serviços. Voltaria com isto a ingressar num (novo) ciclo de endividamento externo, correndo o
risco de repetir uma trajetória de amarga lembrança.
Esse último tema era, em suma, um divisor de águas. Voltar a ter substanciais déficits de
Transações Correntes era entendido, pelo primeiro grupo, como sinal de saúde – e de aprovação,
por parte da comunidade internacional, das mudanças em curso no país. Afinal, seria próprio e
natural de economias em fase de desenvolvimento absorver poupança externa através de déficits
de Transações Correntes.
Um grave problema dessa posição é que a poupança externa pode não estar se agregando, e
sim substituindo a poupança doméstica. E isso tende efetivamente a ocorrer, sempre e quando,
como era o caso no Brasil, o ingresso de capitais provoque a valorização da moeda local, enquanto
a abertura incita ao consumo, e, até mesmo, reduz a atratividade de investimentos. Experiências
realmente destrutivas levadas a efeito no Cone Sul poderiam ser apontadas a esse propósito. O
perigo consistiria, enfim, em que o País absorvesse poupança externa em volume muito superior
ao aumento dos investimentos. Neste caso o aumento da dívida externa estaria associado ao
aumento do consumo.
A rigor, antes que o plano completasse seis meses, a grande crise mexicana de dezembro de
1994 soou, pela primeira vez, o sinal de alarme. E as autoridades foram obrigadas a refrear
abruptamente a economia. O GRAF. 4 mostra a violência dessa primeira guinada.
A chamada crise do Tequila foi no entanto superada numa tal velocidade, que deu a muitos a
impressão de que, apesar do grave acidente, a economia estava mais robusta, e a estabilidade era
mais sólida do que supunham os críticos. Longe, porém, de passar à história como um fato excepcional
e isolado, a crise mexicana, hoje se sabe, apenas inaugurava uma grave sucessão de crises.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
213
BDMG
40 anos
Durante o regime de câmbio fixo (findo em janeiro de 1999) a cada crise, a ameaça de perda
de financiamento impunha que os juros fossem drasticamente elevados. Os juros haviam, pois,
sido transformados em pára-choques da economia – em detrimento do investimento, do consumo
de duráveis e provocando o aumento exponencial da dívida interna.
Como conseqüência da repetição das crises passamos a ter juros reais médios absurdamente
elevados, chegando à assustadora cifra de 26% (média real) em 1998. O contraponto disto na economia
real seria a confirmação do regime de montanha russa imposto ao nível de atividades como mostra
o GRAF. 4. Já o crescimento médio, não podia senão ser medíocre. Por outro lado, perdia sentido a
disputa acerca da restrição maior: o crescimento da dívida interna passava a ser, cada vez mais,
dependente das contas externas. E, no tocante a essas últimas, ia ficando claro que o problema maior
não era o comportamento das importações (a grande ameaça de acordo com a percepção dos críticos
do programa nos primeiros anos da abertura), e sim o medíocre desempenho das exportações.
O quadro fiscal, de sua parte, começa a ser, a partir de 1998, substancialmente melhorado,
como resultado da forte elevação da carga tributária. Consegue-se, em resumo, gerar um superávit
primário (que não tem em conta os juros) rapidamente crescente. Mas os juros reais médios, após
substancial retração, permanecem, comparativamente com outras experiências, em níveis
elevadíssimos e a dívida pública, como proporção do PIB, continuaria a crescer.
O anterior não significava apenas resultados decepcionantes para o desempenho da economia.
Ficava também claro que o ritmo de atividades econômicas do País passava a ser determinado pela
avaliação por parte dos credores, da capacidade do Brasil de honrar seus compromissos externos. E
isso, na prática, significava, que o imenso esforço de reciclagem levado a efeito pelas atividades
produtivas domésticas, em nada contribuía para que o País voltasse a crescer.
O País, agora, contava com um modelo de política macro (câmbio flutuante, metas
inflacionárias e superávits primários significativos) consistente e capaz de colher amplos elogios
da comunidade financeira internacional. O avanço, que poderia revelar-se decisivo do ponto de
vista do crescimento, parecia, no entanto, haver chegado tarde demais. Em outras palavras, o
baixo teto do crescimento, já não mais dependia das inconsistências domésticas. A crise de confiança
havia, aparentemente, se tornado crônica.
A bem dizer, a estas alturas, a economia parecia encontrar-se aprisionada numa conjugação
sumamente perversa de fenômenos: dívida considerável (mas não excessiva em termos internacionais);
juros elevados; e crescimento cronicamente baixo. Este tipo de conjugação, para não resultar em
elevação da relação dívida/PIB, tornando-se então possivelmente fatal, requer enorme esforço fiscal.
Mas, a esse pano de fundo local se somariam ainda duas adversidades. Primeiramente, o
comércio internacional (menos 0,7% de crescimento em 2001 e 0% em 2002, contra mais 8% a.a
de 1994 a 1998) passa a ter um desempenho dificilmente compatível com o novo imperativo de
ajustamento da balança de Transações Correntes. A isso se combina o aumento generalizado da
aversão ao risco nos países desenvolvidos. Essa mudança no caso de um país como o Brasil, por
muitos percebido como candidato à insolvência (bola da vez) não mais se limitava a encarecer o
financiamento externo voluntário. Reduz-se, de fato, a uma pequena fração o refinanciamento
(rolagem) da dívida externa. Surge, com isso, a possibilidade efetiva de uma crise de crédito de
conseqüências dificilmente previsíveis.
A crise argentina deve ser vista contra esse pano de fundo. Além de prejudicar bastante o
desempenho das contas externas brasileiras, reforçou fortemente a aversão ao risco. Mais que isso,
introduziu uma adversidade praticamente desconhecida: a redução das próprias linhas de crédito
de curto prazo ao comércio externo.
214
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
O extraordinário agravamento do quadro em que se encontra a economia brasileira, como
decorrência do fechamento das fontes externas de financiamento, coincide, porém, com o
surgimento de resultados inesperadamente positivos no tocante às transações correntes do País
com o exterior. A esse propósito há que se voltar a insistir numa tese que impregna todo este
trabalho. A reestruturação empresarial levada a efeito neste País foi um êxito. Enquanto, em
diversos outros países, a adaptação a um mundo em que a liquidez internacional subitamente
desapareceu e veio acompanhada de contrações absolutas e, não raro, brutais do PIB, nesta
economia a reversão do estado das contas externas (correntes) tem se dado com um nível de
renda apenas estagnado. É claro que a enorme desvalorização do câmbio tem aqui uma
importância crucial. Mas a sua eficácia está também baseada no fato de que a indústria e o
agronegócio produzem artigos de qualidade que, a bons preços, podem, com relativa facilidade,
ser colocados no exterior.
Mais que nunca, pois, fica claro que, paradoxalmente, o País está pronto para crescer e
pronto para quebrar. Nunca foram tão necessárias, a criatividade institucional e a competência
política.
4.3.8. Esboço de uma agenda de políticas
A economia brasileira é altamente complexa e se encontra numa situação marcadamente
peculiar. Isso elimina, de partida, a possibilidade de uma agenda simples e convencional de políticas.
No que segue trataremos de esboçar algumas linhas de uma agenda necessariamente muito mais
ampla e complexa. Visando este objetivo, convém iniciar apontando as três mais importantes
referências da agenda aqui alinhavada.
1º) Como resultado das mudanças levadas a efeito nos últimos dez anos, a economia brasileira
dispõe hoje de um grande bloco de empresas capacitadas a colocar no mercado produtos
atualizados, a preços que foram duplamente rebaixados em relação aos vigentes no
exterior: por substanciais aumentos de produtividade, e pela forte desvalorização da
moeda local (que, para efeito do que segue, não deverá sofrer substancial reversão nos
próximos anos). Estão presentes nesse grupo, tanto empresas do setor industrial, quanto
do agronegócio e empresas de serviços. Este estudo atribui especial relevância ao
subgrupo industrial, o que parece se justificar seja porque a sua sorte foi diretamente
posta em questão pela abertura da economia, seja porque este é o setor que vem puxando
as altas e baixas do nível global de atividades que caracterizam a evolução da economia
desde 1994.
2ª) Após um período de sério agravamento das condições macroeconômicas (desequilíbrios
fiscal e externo rapidamente crescentes), um novo e sólido regime de políticas
macroeconômicas foi adotado em 1999. As vantagens práticas derivadas deste fato
revelaram-se, porém, limitadas. Basicamente, porque o regime só foi atingido quando o
nefasto legado das políticas do período 1994-1998, já se encontrava instalado (dívidas
pública e externa elevadas, e o País percebido como candidato à quebra). Mas a mais
grave conseqüência disso é que – justamente quando o mundo ingressava num período
de excepcional turbulência, tornou-se inviável usar políticas de demanda para compensar
os efeitos de situações externas adversas. Muito pelo contrário: a cada renovação das
dificuldades (e para evitar os custos de uma ruptura institucional), era-se condenado a
fazer políticas contracionistas (pró-cíclicas), para impedir uma deterioração ainda maior
da confiança na economia.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
215
BDMG
40 anos
A gravidade do que acaba de ser dito não é um exagero. Por razões referidas no texto, não
há que esperar respostas automáticas (por parte do mercado), frente a situações adversas que
atingem a economia como um todo. A isso veio, então, acrescentar-se o fato de que nem sequer
políticas compensatórias poderiam ser empregadas. Em suma, a correção das (macro) adversidades
passava a depender, unicamente, da recuperação das expectativas. Acontece, porém, que ninguém
conhece a função expectativas! Isso torna a evolução do mercado doméstico, além de imprevisível,
obviamente não confiável. Mais adiante defenderemos a proposição de que, em face de uma
situação deste tipo, uma interessante alternativa parece ser a adoção de políticas voltadas para
aumentar a resistência da estrutura produtiva a adversidades – ou, digamos, políticas de elevação
da resiliência sistêmica.
3ª) Como efeito da racionalização/enxugamento das empresas, do fechamento de unidades
produtivas, e do recorrente refreamento da expansão do PIB (políticas de stop), a face
modernizada da economia ficou longe de absorver os trabalhadores disponíveis. Mais
que isso: extensas áreas permaneceram deprimidas, e numerosas empresas e quaseempresas mantiveram-se despreparadas para a competição nos novos termos – tendo
que buscar artifícios como a chamada informalidade para sobreviver. A exclusão
econômica e social daí resultante foi combatida por políticas sociais bastante ativas e
inovadoras, levadas a efeito na esfera central, em estados e municípios, que, contudo,
tiveram resultados parciais, logrando (apenas) conter ou atenuar os efeitos da exclusão.
Mais adiante será ressaltado que o esforço de inclusão por parte das políticas sociais
pode, no entanto, inesperadamente, contar com o auxílio de importantes fatores ou
mecanismos econômicos.
Não é preciso sublinhar que as políticas integrantes de uma eventual nova agenda deveriam
estar sintonizadas com este diagnóstico.
• Políticas de elevação da resiliência
Já se encontra inteiramente estabelecida a idéia de que a economia deve elevar firmemente
as suas exportações57 . As razões apontadas para isso reduzem-se, em regra, à necessidade de um
ajustamento às restrições de financiamento (crédito) a que a economia se encontra sujeita. O
argumento é forte e procedente. Mas não leva devidamente em consideração a peculiaridade do
contexto atual.
É preciso entender que o interesse em aumentar as exportações encontra-se redobrado na
conjuntura atual. Isso porque não é minimamente prudente para as empresas, esperar que o mercado
seja capaz de levá-las ao crescimento. Há que se tomar consciência de que o mercado (o doméstico,
sobretudo) não necessariamente “puxa” as empresas de acordo com as elasticidades setoriais, e a
um certo crescimento médio esperável. É tempo de levar a sério a fácil constatação de que não se
sabe fazer previsões, especialmente para a economia doméstica e que, relembrando, os gestores
das políticas macroeconômicas locais não podem compensar adversidades, somente agravá-las ainda quando visando salvar a economia.
Em sendo assim, o mercado externo passa a ser o ambiente com o qual a empresa pode
minimamente contar, para desenhar e perseguir situações futuras. Se sobrevierem grandes
dificuldades domésticas, elas estão parcialmente asseguradas pelo mercado externo – e ao lograr
crescer, estarão contribuindo para aumentar a resistência às crises da economia como um todo.
57
216
Deve também ser ampliada a substituição de importações. Quanto à substituição massiva de importações, concebida mediante
um enfoque setorial, é bem mais discutível, dados os investimentos necessários, a sobre-capacidade usualmente existente em
escala mundial e a premência da obtenção de resultados. O tema não poderá, contudo, ser aqui devidamente discutido.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Melhor dito, estarão contribuindo para aumentar a resiliência da economia. Por outro lado, uma
possível retomada do crescimento, rapidamente se traduziria em maiores importações, o que torna
a elevação da capacidade de exportar um trunfo fundamental do crescimento.
Dentro da mesma linha de adquirir resistência à crise (e capacidade de crescer), trata-se de
abandonar de vez a fase de ajuste à abertura, para ingressar numa nova fase. Como foi amplamente
argumentado, durante a adaptação à abertura as empresas copiaram produtos maduros.
Reconhecidamente, os mercados dos países desenvolvidos para esses produtos encontram-se
saturados. Neles impera o comprador, que dita as condições, diante de ofertantes intimidados
pela pressão dos competidores – e incapazes de recortar espaços próprios.
O anterior leva a recomendar uma inflexão das políticas, no sentido de atribuir grande
importância à inovação – ou, numa acepção mais limitada da proposta, a políticas de produtos.
Por quê? Porque os produtos com características diferenciadas dispõem de “mecanismos de
isolamento” que lhes permitem escapar da brutal pressão a que estão submetidos os produtos
indiferenciados. Deve ficar claro que não estamos falando, apenas, de agregação de mais valor.
Operações de up grade tendem a seguir as mesmas trajetórias já percorridas pelos produtos nos
mercados desenvolvidos – e dessa maneira dificilmente alcançam vantagens sustentáveis. Já a
diferenciação bem sucedida permite elevar lucros, financiar outras inovações – e pagar salários
condizentes com tarefas criativas58 .
Coerentemente com o anterior, políticas de inovação, na sua acepção mais ampla, que
inclui o desenvolvimento de novas armas da competição, são fundamentais. E, para isso, é necessário
apoiar a construção de um sistema nacional de inovações, aí incluída a ampla e variada infraestrutura requerida pelos esforços de inovação. Observe-se, no entanto, que não se almeja aqui,
meramente, a absorção de novidades e sim, muito concretamente, a (relativa) imunização das
empresas face à competição predatória que tende a imperar nos mercados de manufaturas59 . E,
para a economia em seu conjunto, trata-se de mais uma linha de esforços visando aumentar a sua
resiliência – e potencializar a sua impulsão.
O que acaba de ser dito aplica-se, primordialmente, a empresas de propriedade nacional.
Afinal, na medida em que as empresas estrangeiras disponham de produtos atualizados e custos
de produção amplamente competitivos - como é notoriamente o caso no Brasil - os problemas
para converter as fábricas locais em plataformas de exportação são, predominantemente, de
flexibilização institucional (burocracia alfandegária, etc.60 ), e resistência protecionista/corporativista
nos países desenvolvidos. Trata-se de temas passíveis de negociação, visando a obtenção de maiores
“quotas” de exportação para as filiais brasileiras. Naturalmente isto supõe a não repetição de
grandes movimentos de valorização do real, o que parece ser, especialmente no curto prazo, uma
hipótese bastante plausível.
• Nota sobre as políticas macroeconômicas
O futuro dirá se o (novo) regime de políticas macroeconômicas revelou sérias inconsistências.
Até o momento, não parece ser o caso.
A elevação do câmbio, atuando como primeira defesa da economia (mas provocando também
efeitos colaterais negativos), tem contribuído para a notável virada em curso no Balanço de
Transações Correntes. Nos mais recentes meses, em particular, incessantemente se noticia a
reformulação de estratégias empresariais, com realce para a maior importância concedida ao
58
59
60
Castro, Antonio Barros (2002).
LegGett, Karby; Wonacott, Peter (2002).
Confederação Nacional da Indústria, (2002).
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
217
BDMG
40 anos
mercado externo. O teor das informações não deixa dúvidas quanto ao fato de que não se trata de
mero deslocamento de vendas para o exterior. É redirecionamento estratégico, mesmo, o que,
aliás, sugere um maior aproveitamento das novas aptidões adquiridas na reestruturação.
Quanto às metas inflacionárias, têm sido revistas, o que prejudica, em princípio, a sua
função coordenadora das expectativas. Mas dada a intensidade da desvalorização ocorrida, os
resultados não chegam a ser muito preocupantes.
E quanto ao ajuste fiscal, dado o recente colapso da confiança na economia brasileira
(espelhado nos níveis alcançados pelo risco Brasil), talvez tenha que ser um pouco reforçado – o
que seria antes uma adaptação, que uma mudança.
Em suma, num contexto extremamente adverso, e submetido, portanto, a enorme stress, o
regime de políticas macro, longe de sucumbir, parece estar colaborando para que a situação possa
ser suportada, e o potencial de expansão da economia seja preservado.
• Observação sobre as políticas de inclusão social
A exclusão poderia ser muito maior, dada a combinação de darwinismo com estagnação a
que a abertura tendia a submeter a economia brasileira. Isso não ocorreu por três razões, de natureza
profundamente diversa que ficam aqui apenas mencionadas.
Primeiro, e como já anteriormente sugerido, porque esse foi um período marcado por avanços
no tocante às políticas sociais. Especialmente nos campos da educação, saúde, e no atendimento
às populações carentes. Pode-se afirmar, a esse propósito, que as diferentes tendências políticas situadas nos vários níveis de poder – competiam na apresentação de soluções (freqüentemente
semelhantes) aos estratos de mais baixa renda. Contribuiu certamente para isto a maior
descentralização da tomada de decisões e, sobretudo, da execução das políticas sociais.
Num outro plano, operou, também, como um mecanismo protetor de trabalhadores, bem
como de áreas ou regiões, o fato de que indústrias tradicionais, como confecções, calçados e
outras, após um período inicial crítico, lograram reestruturar-se e, genericamente, reafirmar-se61 .
Em alguns desses casos evoluiu-se mesmo para a formação de sistemas locais de produção, capazes
de reforçar as chances de sobrevivência e de afirmação de pequenas e médias empresas – bem
como de permitir a socialização dos custos de desenvolvimento de novas armas da competição
(como, por exemplo, o design).
Um terceiro fator, usualmente pouco notado – mas que já foi devidamente ressaltado no
texto, é o notável barateamento de manufaturas e alimentos, com especial destaque para certos
bens de consumo popular. Sua conseqüência foi a inclusão, como consumidores, mesmo daqueles
que permaneciam inteiramente à margem do sistema produtivo renovado com que passava a
contar o País.
61
218
Este é um importante contraste com o ocorrido nos países do Cone Sul. O fenômeno é parte integrante da explicação da alta taxa
de sobrevivência de empresas e preservação de setores, anteriormente referido como “hibridação”.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Referências Bibliográficas
BDMG
40 anos
4.4.
ABAG. Relatórios técnicos, metas e políticas para o agribusiness. Rio de Janeiro: ABAG, 2002. p. 85.
ALVES, E.; CONTINI, E. A modernização da agricultura brasileira. In: BRANDÃO, A.S.P.
Os principais problemas da agricultura brasileira: análise e sugestões. 2 ed. Rio de Janeiro, IPEA/
INPES, 1992. p. 49-98.
AMSDEM, Alice H. Asia’s Next Giant - South Korea and Late Industrialization. New York:
Oxford University Press, 1989.
________. The rise of the rest. New York: Oxford University Press. 2001.
________. KOCHANOWICZ, J.; TAYLOR, L., The market meets its match. Harvard University
Press, 1994.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Series Temporais.
BAUMANN, Renato. Brasil: uma década de transição. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
BERNARDES, Roberto. Embraer: elo entre estados e mercado. Hucitec, 2000.
BEST, Michael. The new competition. Cambridge: Harvard University Press, 1990.
BORDO, M.; EICHENGREEN, B. et al. Is the crisis problem more severe? Centre for Economic
Research, 2002.
CASTELS, Manuel. The rise of the network society. Oxford: Blackwel, 1996.
CASTRO, Antonio Barros. O Brasil e as tendências econômicas e políticas contemporâneas. Brasília:
Fundação Alexandre Gusmão, 1995.
________. A reestruturação da indústria brasileira nos anos 90: uma interpretação. Revista
de Economia Política, jul./set. 2001.
________. Novas Estratégias Industriais: Sobrevida ou Inflexão? In: VELLOSO, J. P. Como
vão o desenvolvimento e a democracia no Brasil? Rio de Janeiro: J. Olympio, 2001.
________. A rica fauna da política industrial e sua nova FRONTEIRA. Revista Brasileira de
Inovação, dez. 2002.
________.SOUZA, Francisco Eduardo. A economia brasileira em marcha forçada. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1995.
CHANDLER, Alfred. Inventing the electronic century. New York: The Free Press, 2001.
CHANG, Ha-Joon; SOUTH, Korea. The misunderstood crisis. In: JOMO, K. Tigers in trouble.
Hong Kong: Hong Kong University Press, 1998.
CNI. Os problemas da empresa exportadora brasileira. Brasília, 2002.
CNI-CEPAL. Investimentos na indústria brasileira 1995-1999: características e determinantes.
Brasília, 1997.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
219
BDMG
40 anos
CORIAT, B.; DOSI, G.; PAVITT, K. Dynacom Project. 2000. [Mimeo].
COUTINHO, Luciano. A especialização regressiva: um balanço do desempenho industrial
pós-estabilização. In: VELLOSO, J. P. R. Brasil: desafios de um país em transformação. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1997.
DIAS, Guilherme Leite da Silva; AMARAL, Cicely Moitinho. Desarrollo Productivo, Santiago,
n. 99, 2001, 33p.
FARINA, Elizabeth; NUNES, Rubens. Âncora verde e os ajustamentos microeconômicos
no sistema agroindustrial de alimentos no Brasil pós-Real. (Síntese do Relatório de Pesquisa
encomendada pela CEPAL/IPEA.)
FERRAZ, João C.; KUPFER, David; HAGUENAUER, Lia. Made in Brazil. Campus,
1996.
FFRENCH-DAVIS, Ricardo. Macroeconomia, comercio y finanzas. McGraw-Hill Interamericana,
1999.
FINEP/CNI. A indústria e a questão tecnológica. Brasília, 2002. 79p.
FREEMAN, C.; PEREZ, C. Structural crises of adjustment: business cycles and investiment
behavior. In: DOSI, G. et al. Technical change and economic theory. Londres: Pinter Publishers,
1988.
FRENKEL, Roberto. Decisiones de precio em alta inflación. Buenos Aires: CEDES, 1979.
GARTEN, Jeffrey. The big emerging markets. The Columbia Journal of World Business, 1996.
HALL, PETER; SOSKICE. Varieties of capitalism. Londres: Oxford University Press, 2001.
HIRSCHMAN, Albert. Industrialization and its manifold discontents: West, East, and South.
In: A propensity to self-subversion. Harvard University Press, 1995.
IMF, International Financial Statistics.
JOMO, K. S. Tigers in trouble. Hong Kong: Hong Kong University Press, 1998.
KATZ, Jorge M. Desarrollo y crisis de la capacidad tecnologica latinoamericana. Bueno Aires:
BIB/CEPAL/PNUD, 1986.
________. Reformas estruturales, productividad y conduta tecnológica en América Latina. Buenos
Aires: CEPAL / Fondo de Cultura Economica, 2000.
KOSACOFF, Bernardo. Corporate strategies under structural adjustment in Argentina. Londres:
Macmillan Press, 2000.
KRUGMAN, Paul. Currencies and crisis. Cambridge: The MIT Press, 1992.
________.. The Return of Depression Economics. New York: Norton, 2000.
LAZONICK, William. Social organization and technological leadership. In: BAUMOL,
William et al. Convergence on Productivity. Oxford: Oxford University Press, 1994.
LEGGETT, Karby; WONACOTT, Peter. Burying the competition. Far Eastern Economic
Review, v. 165, n. 41, out. 2002.
220
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
LIEBENSTEIN, Harvey. Inflation, income distribution and x-efficiency theory. London: Croon
Helm London, 1980.
NOLAN, Peter. China and the global economy. PALGRAVE, 2001.
O’CONNELL, Arturo. El regreso de la vulnerabilidad y las ideas tempranas de Prebish
sobre el “Ciclo Argentino”. Revista de la CEPAL, n. 75, p. 53-67, dez. 2001.
PENROSE, Edith. The theory of the growth of firms. 3.ed. Oxford: Oxford University Press,
1959.
REINERT, Erik. Raw materials in the history of economic policy: or, why list (the
protectionist) and Cobden (the Free Trader) both agreed on Free Trade in Corn. In: PARRY,
G. (Ed.). Freedom and trade. 1846-1996. London: Routledge.
REVISTA EXAME, Rio de Janeiro, n.18, 24 ago. 1997.
RUIZ, Ricardo Machado. Estratégia industrial e reestruturação industrial (1980-1982). 1994.
Dissertação (Mestrado em Economia) - Instituto de Economia / UNICAMP, Campinas.
SOUZA, Francisco Eduardo Pires. O investimento antes e depois do Plano Real. In: Velloso,
João Paulo dos Reis. O real crescimento e as reformas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1996.
STIGLITZ, Joseph E. Wither Reform? Ten years of transition. Keynote Address. World
Bank Annual Bank Conference on Development Economics, Washington: april, 28-30, 1999.
WADE, Robert. Governing the economy. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1990.
Capítulo 4 - O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira
221
BDMG
40 anos
222
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 5
MINAS GERAIS NO PAÍS E NO MUNDO
(D.PE/BDMG)
SUMÁRIO
5.1. O PONTO DE PARTIDA: DESEMPENHO RECENTE E POSIÇÃO
NO CENÁRIO NACIONAL ....................................................................................................................................... 228
5.2. UMA VISÃO DE FUTURO: MINAS GERAIS COMO UM DOS
CENTROS DINÂMICOS DA ECONOMIA NACIONAL ............................................................................... 235
5.2.1. As premissas nacionais e as respostas estratégicas de Minas ......................................................................... 235
5.2.2. Eixos de atuação ................................................................................................................................................... 237
BDMG
40 anos
Tomando como referência as conclusões dos capítulos anteriores, quando se analisou o
processo recente de desenvolvimento do Estado, sua situação atual em termos econômicos e de
qualidade de vida, assim como as principais tendências dos cenários nacional e internacional, o
BDMG, no presente capítulo, apresenta sua percepção sobre a posição competitiva de Minas e
analisa as linhas gerais de uma estratégia de desenvolvimento para o Estado. Adianta, assim,
algumas das principais indicações apontadas nos demais volumes que compõem este Estudo, no
intuito de melhor referenciar suas observações acerca do posicionamento estratégico de Minas
Gerais no País e no mundo, no presente e no futuro.
E, antecipando uma das conclusões que puderam ser extraídas dessas reflexões, o BDMG
sugere aos diversos agentes do desenvolvimento estadual uma visão de futuro para Minas Gerais,
um alvo para as políticas e atitudes: mobilizar todos os esforços, para inserir o Estado como um
dos centros dinâmicos do País.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
227
BDMG
40 anos
5.1. O ponto de partida: desempenho recente e
posição no cenário nacional
Conforme demonstraram os outros capítulos que compõem este volume1 , Minas Gerais
apresenta-se em posição de destaque no cenário nacional se analisada do ponto de vista dos
principais indicadores macroeconômicos.
Assim, ao longo dos últimos anos, a participação de Minas Gerais no PIB do Brasil mantevese em torno de 9,5%, superior ao percentual observado em 1970, assegurando-lhe a posição de
terceiro maior PIB do País. Nos anos 90, a evolução do PIB mineiro seguiu a trajetória do PIB
nacional, apresentando taxas de crescimento mais baixas na primeira metade da década e mais
elevadas no período de 1995-1999.
Em 2000, o PIB a preços de mercado de Minas Gerais, segundo estimativas preliminares,
atingiu R$ 108 milhões, equivalente a 10% do PIB brasileiro. Tal dimensão econômica confere a
Minas Gerais um porte aproximado à economia do Chile.
TABELA 1
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS NO PIB DO BRASIL 1970-1985-1999
Minas Gerais
1970
8,3
1985
9,6
1999
9,6
São Paulo
39,4
36,1
34,9
Rio de janeiro
16,1
12,7
11,7
Paraná
5,5
5,9
6,3
Rio Grande do Sul
8,7
7,9
7,7
100,0
100,0
100,0
Brasil
FONTE: 1970 - IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil .
1985 e 1999. IBGE. Contas Regionais do Brasil.
Elaboração: Fundação João Pinheiro
Com uma população de 17,5 milhões de habitantes, o PIB per capita em Minas Gerais alcançou
R$ 5.760,91, em 1999, correspondente a 95% do PIB per capita do País. Comparado com o produto
per capita de outros países, Minas Gerais se situaria na 71ª posição. Caso se considere a paridade do
poder de compra das diferentes moedas, o PIB per capita mineiro passaria para a 63ª posição,
colocando Minas Gerais como um “país” de renda média.
O setor serviços observou crescimento de importância relativa e se consolidou como o de
maior peso no Estado, respondendo por aproximadamente 50% do PIB total em 1999. A
1
228
Este volume é composto por outros quatro capítulos além deste último: o primeiro, elaborado por Fabiana Borges Teixeira dos
Santos, do CEDEPLAR/UFMG, é “A construção econômica recente”. O segundo, “As transformações em curso” é de autoria de
pesquisadores da Fundação João Pinheiro e do CEDEPLAR, tendo contado, também, com contribuições do Prof. Paulo R. Haddad.
O terceiro, elaborado por pesquisadores da Fundação João Pinheiro, trata dos vários indicadores de condições de vida em Minas
Gerais. E o quarto, “O quadro internacional e a evolução recente da economia brasileira”, é de autoria do Prof. Antônio Barros
de Castro. Neste capítulo final do volume, foram reunidos os pontos principais dos capítulos anteriores, com o objetivo principal
de discutir as perspectivas do Estado.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
participação da indústria se mantém em torno de 41%, enquanto que a agropecuária apresenta
perda de participação, alcançando 9,4% do PIB em 1999. É interessante observar que, a despeito
da queda da participação da agropecuária no produto interno mineiro, seu peso permanece maior
do que o calculado para o Brasil em seu conjunto. Em contrapartida, o peso do setor de serviços
do Estado, mesmo com o ganho de participação ressaltado, é inferior.
Em nível nacional, observou-se desconcentração industrial na década de 90, com perda da
participação da região Sudeste no agregado nacional em favor das demais regiões, especialmente
o Nordeste e o Centro-Oeste. Na verdade, esse fenômeno espelha a perda da participação relativa
de São Paulo em prol de outros estados. Minas Gerais consegue se beneficiar deste processo,
encerrando o período de 1985-1999 como o 3º PIB industrial do País. Entretanto, cumpre destacar
que essa posição vem sendo ameaçada pelo Rio Grande do Sul.
Essa situação está ligada, em grande parte, ao desempenho da indústria de transformação.
No período observado, Minas Gerais apresentou perda de participação relativa no agregado
nacional, passando da 2º posição, atrás de São Paulo, em 1985, para o 4º lugar em 1999, sendo
suplantado pelo Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo que, apesar de manter sua colocação
como a maior indústria de transformação do País, tem grande retração de participação, perdendo
quase 10 pontos percentuais, no período.
Os indicadores tradicionais de desempenho da economia mineira, durante a década de 90,
apontam ligeiros ganhos em relação ao verificado na economia nacional. Assim, a uma taxa de
crescimento médio anual do PIB per capita de 0,8% observada para o País durante o período,
corresponde uma taxa de 1,4% em Minas Gerais. A produtividade, medida pelo quociente PIB/
PEA, cresceu cerca de 12% no conjunto da economia nacional e, em Minas Gerais, cerca de
15,5% no mesmo período.
No comércio exterior, Minas Gerais vem se apresentando como segundo principal estado
exportador, com uma pauta concentrada em produtos básicos: cerca de 43% do valor total exportado
em 2000, notadamente com minério de ferro e café, seguindo-se os manufaturados com 33% do
total. Comparado com outras pautas exportadoras estaduais, a mineira apresenta a vantagem de
ser principalmente originária do complexo metal-mecânico, setores onde a vantagem competitiva
do Brasil é pouco contestada.
Apesar do quadro comparativo com a situação nacional sugerir uma posição favorável a
Minas Gerais, tal avaliação não se sustenta inteiramente quando considerados outros indicadores.
O aspecto mais evidente de uma condição de inferioridade é o PIB per capita mineiro, que é quase
10% inferior à média nacional. Outro aspecto é a produtividade da população economicamente
ativa do Estado, quase 12% inferior à da média do País. A disparidade se revela ainda mais grave
diante de uma comparação com as demais grandes economias estaduais. Assim, por exemplo:
• em termos do PIB per capita de 1999, o indicador mineiro representa tão-somente 81%
do paranaense, 70% do gaúcho, 66% do carioca e ínfimos 57% do paulista;
• mesmo com a melhora expressiva ocorrida ao longo do tempo em relação ao Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), em 1999, Minas Gerais ainda ocupava a 9ª posição
entre os estados brasileiros, atrás de todos os estados das regiões Sul e Sudeste, do Mato
Grosso e do Distrito Federal.
• quanto à produtividade, em 1999, a paranaense apresentou-se 15% superior à mineira; a
gaúcha é 26% acima, enquanto a diferença em favor da carioca e da paulista passa a ser
superlativa: respectivamente, 53% e 71% acima da produtividade observada em Minas
Gerais.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
229
BDMG
40 anos
TABELA 2
PIB PER CAPITA DOS ESTADOS SELECIONADOS EM RELAÇÃO AO PIB PER CAPITA DO BRASIL 1970-1985-1999
1970
1985
55,5
87,6
91,0
São Paulo
171,0
160,7
159,2
Rio de janeiro
270,8
139,5
138,7
60,4
99,5
97,4
123,5
113,3
130,0
100,0
100,0
100,0
Minas Gerais
Paraná
Rio Grande do Sul
Brasil
1999
FONTE: 1970 - IBGE. e Fundação Getúlio Vargas.
1985 e 1999. IBGE. Contas Regionais do Brasil
Elaboração: Fundação João Pinheiro
As razões da disparidade entre Minas Gerais e os estados mais dinâmicos do País,
particularmente São Paulo, estão, naturalmente ligadas ao próprio processo de industrialização
nacional. Os esforços para entendê-las e tentar reduzi-las vêm de longa data. Uma primeira
iniciativa foi o Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, de 1947, que apontou
as deficiências de infra-estrutura como o mais sério entrave à decolagem industrial, à época. Com
base nesse diagnóstico, foram realizados maciços investimentos em energia e transportes, nos
anos 50.
Já nos anos 60, o Diagnóstico da Economia Mineira, elaborado pelo BDMG em 1967,
procurava levantar os principais problemas e potencialidades da economia mineira. Entretanto, o
Diagnóstico não percebeu que a especialização mineira na produção de bens intermediários, que
então se aprofundava, é que fornecia uma das bases propulsoras da economia estadual. Tanto é
assim que, na virada dos anos 70, o dinamismo da economia mineira já começava uma trajetória
crescente e superior à média nacional, tendência essa que se aprofundou ao longo da década e que
se manteve até o início dos anos 80.
De todo modo, o Diagnóstico se transformou em um marco de grande relevância do
processo de industrialização que se iniciou nos anos 70, pois, além de reunir um conjunto de
informações sobre vários aspectos da economia mineira, foi a partir dele que se cuidou de
estabelecer o aparato institucional de fomento que vigora até hoje e que se desencadeou uma
importante reforma fazendária, permitindo o equacionamento das graves condições das finanças
públicas então prevalecentes.
O surto industrializante da década de 1970 e a simultânea reversão da decadência histórica
da agricultura mineira são usualmente citados como exemplos das experiências estaduais de
desenvolvimento mais importantes do País, referência, inclusive, para outros estados. Realizados
sob uma conjuntura nacional e internacional bastante favorável, é bom frisar, o desempenho do
aparato de fomento e a recuperação da capacidade de investimento do Estado tiveram papel
fundamental nesse processo, devendo-se, ainda, creditá-lo a um conjunto de fatores:
• recursos naturais abundantes;
• posição geográfica do Estado;
• infra-estrutura econômica;
• base econômica na indústria cimenteira e metalúrgica;
230
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
• aparato institucional de apoio;
• reorganização das finanças estaduais; e
• ativa liderança política.
Já na década de 80, no contexto da intensa crise econômica brasileira, a economia mineira
perdeu fôlego, mas conseguiu crescer acima da média nacional, notadamente pelo direcionamento
de seu esforço produtivo ao mercado externo. O extraordinário crescimento médio de 11,6% ao
ano, verificado para o PIB mineiro na década de 70, se reduz para 2,4% na década seguinte. De
todo modo, Minas registrou uma leve perda na sua contribuição para o PIB brasileiro, decorrente
do maior dinamismo apresentado, á época, pela Região Sul do País.
Quando se realizou o retrospecto daquela década, em “Economia Mineira 1989:
Diagnóstico e Perspectivas”, a especialização na produção de bens intermediários deixa de ser
entendida pelo BDMG como peculiaridade perversa, e passa a propiciadora de condições para a
diversificação em direção a setores com maior elaboração industrial: material de transporte,
máquinas e equipamentos.
Entretanto, encerrada a década de 90, conforme os levantamentos realizados nos estudos
que compõem este volume, a geração de riqueza em Minas Gerais é ainda insatisfatória para
atender à população aqui residente, mesmo que a referência seja o Brasil. Conforme já ressaltado,
Minas Gerais ocupa tão-somente a 10ª posição em termos de PIB per capita. Trata-se, na verdade,
de uma economia periférica ao centro dinâmico sediado em São Paulo e cujo desempenho, nos
últimos anos, tem lhe retirado condições de competitividade frente aos demais estados da porção
centro-sul do País.
Nesse ponto cabe uma referência à trajetória da economia brasileira durante o final do
século XX, comparativamente às de outros países.
O período representou, para a economia brasileira de um modo geral, uma fase de profundos
ajustes determinados por novas tendências operantes em escala global e pela reestruturação
produtiva experimentada a partir de 1995, com a estabilidade possibilitada pelo Plano Real. A
nova revolução industrial gerada pelas tecnologias da informação, a intensificação do comércio
internacional e dos fluxos financeiros e, mesmo, a consagração político-ideológica do “livre
mercado”, redesenharam empresas e regras de concorrência, além de impor desafios inéditos às
economias emergentes. As trajetórias de reformas observadas nesses países não obedeceram a um
único padrão, como observa o estudo de Barros de Castro, que compõe o presente volume. Segundo
o autor, pode-se observar a ocorrência de quatro padrões de reformas nos países analisados:
• “reforma e especialização”, como é o caso do Chile, onde o país aprofundou as suas
vantagens comparativas baseadas em recursos naturais;
• “reforma e implosão”, verificada em muitos dos países do ex-bloco soviético onde, ao
invés de uma transição, assistiu-se ao desmoronamento das estruturas política e econômica;
• “reformas adaptadas e novos setores”, onde se inclui a China e, possivelmente, a Índia,
é caracterizado pelo êxito na modernização das instituições e setores tradicionais, associado
ao surgimento de novos setores;
• “hibridação”, que seria o caso brasileiro e onde, no plano empresarial, o reaproveitamento
de seus recursos internos dá a tônica da reconversão e preservação do parque produtivo.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
231
BDMG
40 anos
Na economia brasileira dos anos 90, de acordo com Barros de Castro, a “herança” (entendida
como o “tecido” de empresas e capacitação nele embutido), ao lado da escala industrial se
constituíram em elementos definidores de sucesso da reforma. O Plano Real, ao eliminar o imposto
inflacionário e reduzir o preço relativo de bens comercializáveis, determinou um salto do poder
aquisitivo doméstico e se constituiu no segundo elemento favorável para a reforma brasileira. A
intensidade de seus efeitos, em termos da renovação e crescimento do mercado doméstico permitiria,
inclusive, comparar sua equivalência funcional e não-planejada ao Plano Marshall.
Pôde-se constatar que os efeitos da “estabilização com reformas” têm sido desiguais no
espaço e indicam, claramente, o reforço da posição de São Paulo como o grande centro de serviços
do País, incluindo os financeiros, ao mesmo tempo em que beneficiam o Paraná e Minas Gerais
pela reconcentração de atividades econômicas.
Para a economia mineira, dada a especialização relativa do Estado no complexo metalmecânico e levando-se em conta o melhor desempenho mineiro comparativamente ao nacional,
fica sugerido que a reconversão do tecido empresarial possa ter se dado aqui com mais profundidade
que na média do País.
De todo modo, a nova organização do espaço econômico nacional decorre de duas
tendências principais. A primeira é de desconcentração, a partir de São Paulo, de indústrias
tradicionais e de indústrias dos gêneros de bens de consumo duráveis, em busca de localizações
que ofereçam menores custos de implantação dos projetos e de produção, atraídas, assim, por
benefícios estaduais oferecidos na “guerra fiscal”, na qual o exemplo mais citado é o de montadoras
de veículos. A segunda tendência é a de reconcentrar atividades intensivas em conhecimento nos
grandes centros ofertantes de serviços “inteligentes” para a indústria e que dispõem de melhor
infra-estrutura científico-tecnológica.
Tais tendências configurariam um “desenvolvimento poligonal”2 , sendo a Região Metropolitana
de Belo Horizonte (RMBH) um dos vértices norte do polígono. A tendência aponta, portanto, para
o agravamento das disparidades regionais na economia mineira, Grosso modo, porções do território
mineiro situados ao sul da RMBH, incluídas, portanto, no referido polígono, tendem a apresentar
maior dinamismo que aquelas situadas ao norte. Ademais, o significativo crescimento das atividades
agropecuárias a oeste do Estado, aí incluída a Região Noroeste, reforçam a situação relativamente
privilegiada das áreas do Triângulo e Alto Paranaíba e em menor medida do Centro-Oeste de Minas.
As condições de competitividade da “porção” mineira incluída naquele polígono é, de fato,
um dos pontos básicos de uma discussão sobre o futuro de Minas Gerais, mas a questão não pode
ser resumida a este ponto, na medida em que prevalece no Estado uma grande diversidade regional,
inclusive no interior das regiões.
Acrescentam-se os problemas e novas demandas no campo social, haja vista que crescimento
econômico, mesmo que fundamental, necessário e urgente, não é um fim em si mesmo, mas, sim,
um meio para se buscar o mais preciso indicador de desenvolvimento de uma região ou país, que
é aquele que expressa as condições de vida da população, em suas várias dimensões.
De todo modo, em relação especificamente ao desempenho econômico, em Minas, nos
últimos anos, alguns comentários sobre setores produtivos, que serão objeto de análise em volumes
específicos deste Estudo, podem ser antecipados, de modo a se ter uma dimensão dos desafios a
serem enfrentados.
2
232
Esta abordagem, apresentada inicialmente pelo Prof. Clélio Campolina Diniz para o caso brasileiro, é melhor detalhada no
capítulo 2 deste volume.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Em relação à indústria de transformação, por exemplo, pode ser observada perda de
participação relativa e posicionamento estratégico no cenário nacional, tanto em decorrência do
avanço observado em outros estados da federação e de fatores diversos que os tem favorecido,
como também por conseqüência da redução da capacidade de Minas Gerais de atrair investimentos,
da perda de dinamismo de alguns setores e do aproveitamento insuficiente de potencialidades
setoriais e regionais. Ao final do século XX, Minas posicionava-se como a 3ª ou 4ª economia
industrial do País, conforme a fonte de dados consultada, bem atrás dos parques industriais de
São Paulo e do Rio de Janeiro e em patamar semelhante ao gaúcho. Na verdade, desde o final da
década de 90, o Estado atravessa uma baixa cíclica de investimentos industriais.
Vários fatores vêm concorrendo para esta situação: o esgotamento, ou em alguns casos, a
deterioração da rede de transportes; a “guerra fiscal” entre estados pela atração de investimentos,
que vem marcando a trajetória da indústria brasileira nos últimos anos; o distanciamento, tanto do
governo estadual quanto do setor empresarial mineiro, das discussões sobre política industrial e
de financiamento que vêm sendo realizadas em nível nacional; além de dificuldades setoriais
específicas ligadas à política macroeconômica desfavorável ao setor produtivo.
Em termos setoriais, não obstante vários avanços experimentados por nossas empresas,
dois pontos sintetizam a situação dos dois mais importantes complexos industriais da economia
mineira, ao mesmo tempo em que indicam dois focos de uma política industrial que se pretende
para o Estado. São eles:
• A integração incompleta no complexo metal-mecânico, o mais relevante pilar da economia
mineira, no qual, apesar de um desempenho positivo e de um intenso processo de
modernização, ainda se sobressaem duas características: a fragilidade do setor de bens de
capital e o incipiente desenvolvimento dos setores de eletro-eletrônicos e de
telecomunicações. Há, assim, a necessidade de esforços visando transformar tais pontos
em oportunidades de investimentos.
• A agroindustrialização restrita, pois, a despeito da dimensão e da diversificação da base
agropecuária mineira, bem como dos bons indicadores de produtividade em várias culturas,
o processamento industrial dos produtos de origem vegetal e animal é limitado, ocupando,
o agronegócio mineiro, uma posição apenas intermediária no cenário nacional. O
subaproveitamento da base agropecuária mineira reclama, assim, a formatação de
programas de incentivo visando a criação de uma estrutura agroindustrial dinâmica e
internacionalmente competitiva.
Ressalte-se que, na última década, a agropecuária foi o setor de maior expansão no âmbito
da economia mineira. O PIB setorial alcançou o crescimento médio anual de 4,1% a.a., apesar da
redução de 12% na área cultivada, com avanços importantes de produtividade, não obstante a
manutenção da clássica dualidade regional, convivendo áreas e culturas modernas com atividades
atrasadas ou de subsistência. O desafiante objetivo de transformar Minas Gerais no principal espaço
do agronegócio do Brasil tem fundamento na diversidade e dimensão da produção. Por outro lado,
um ponto importante a ser considerado é o natural envelhecimento de instituições, a maior parte
delas estabelecidas há mais de três décadas. Tal situação determina a oportunidade da revisão do
papel do Estado, implicando no reforço da regulamentação, normatização e fiscalização sanitária.
Outro ponto importante nessa caracterização é o que se pode apresentar como um dos
mais fortes entraves ao processo de crescimento: a extrema precariedade da rede de transportes,
impactando negativamente nos custos de produção e de comercialização, na decisão locacional
de novas empresas e, mesmo, na qualidade de vida das pessoas. Aproximadamente 76% das rodovias
estaduais e federais de Minas Gerais estão em situação deficiente ou ruim.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
233
BDMG
40 anos
Quanto ao futuro, um grave alerta se inscreve: a brutal redução das intenções de investimento
anunciadas para Minas Gerais nos últimos anos. Ao final dos anos 90, os investimentos declinaram
sistematicamente atingindo, em 2000, menos de ? do valor anunciado para 1996. Outro indicador
da redução da importância relativa de Minas na atração de investimentos: durante a década de 70,
Minas Gerais atraiu 25% de todo o investimento direto estrangeiro destinado ao Brasil, ao passo
que no ano de 2000, o equivalente a 13% do total alocado por estrangeiros no País é que se
dirigiram para o Estado.
Em síntese, a economia mineira, que chegou ao final do século XX com desempenho acima
da média nacional, está, agora, emitindo sinais de perda de dinamismo. É algo que se não for
atacado com urgência e firmeza, certamente, comprometerá gravemente a competitividade do
Estado, numa época de acirramento da disputa nacional e internacional por melhores posições de
mercado.
Os vários estudos que compõem os demais volumes deste Minas Gerais do Século XXI
trazem um conjunto de informações, análises e conclusões, que permitem o conhecimento dos
sucessos e avanços conseguidos em várias áreas, as potencialidades e oportunidades para melhorias,
assim como mostram os principais gargalos e estrangulamentos que se impõem ao Estado neste
início de século, quando há várias incertezas em relação à própria trajetória da economia mundial.
Os estudos, por um lado, autorizam a esperança nos esforços a serem feitos para buscar o
equacionamento das sérias restrições ao desenvolvimento do Estado, mas não deixam de evidenciar
a dimensão dos problemas e conflitos a serem enfrentados.
234
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
5.2. Uma visão de futuro: Minas Gerais como
um dos centros dinâmicos da economia
nacional
O grande desafio que se impõe, a partir de agora, é mobilizar todos os esforços visando
retirar Minas Gerais da condição periférica em que se encontra e buscar inserí-la como um dos
centros dinâmicos do País.
Nos marcos do “velho desenvolvimento”, conforme mostrado anteriormente, pode-se
afirmar que Minas Gerais ainda se encontraria em situação relativamente favorável, embora haja
indícios de que alguns dos principais fatores de dinamismo vêm se deteriorando. Mas, em termos
do que vem se convencionado chamar de “novo desenvolvimento”3 , os indicadores demonstraram
a situação já desconfortável do Estado quando comparado a outras economias regionais.
É admissível sim, e desejável, o Brasil com vários centros, aumentando-lhe, inclusive, as
condições de competitividade na economia mundial, em um cenário em que a integração, seja
econômica, financeira ou tecnológica, se intensifica cada vez mais.
Apesar da perda relativa de dinamismo e de posicionamento estratégico em nível nacional,
pode-se contar com uma importante “herança”, entendida como o “tecido” de empresas e a
capacitação nela embutida, além de um conjunto de vantagens competitivas que Minas conseguiu
reunir e manter em várias áreas.
Atingir o alvo – Minas como um dos centros dinâmicos do País – traduz, na verdade,
o objetivo, em várias dimensões, de promover a melhoria da qualidade de vida dos mineiros, este
o verdadeiro indicador de desenvolvimento. Exige, entretanto, políticas e atitudes de apoio ao
crescimento econômico e ao aumento das condições de competitividade e ações efetivas e diretas
de inclusão social que busquem criar um círculo virtuoso de desenvolvimento.
Esse deve ser, portanto, o alvo das políticas estaduais, mesmo com a consciência de que
se trata de um objetivo de longo prazo, de futuro. Por isso, começar o quanto antes é fundamental.
E, tal como apontado por Barros de Castro para a dimensão nacional, também aqui “nunca
foram tão necessárias a criatividade institucional e a competência política”, que podem ser
traduzidas em maior intensidade em inteligência e em capacidade de formulação estratégicas.
5.2.1. As premissas nacionais e as respostas estratégicas de Minas
Uma política regional para os fins pretendidos deve considerar a atuação de seus diferentes
atores e as circunstâncias nas quais se inserem. Essas circunstâncias, naturalmente, ultrapassam
as fronteiras de Minas Gerais e, mesmo, do Brasil. Afinal, trata-se de uma economia estadual,
com espaços de atuação limitados e condicionados às trajetórias e políticas nacionais. De todo
modo, é possível identificar quatro principais premissas que podem alicerçar as políticas de
crescimento e de competitividade da economia mineira, em seus vários setores, e de melhoria das
3
Ver sobre essa discussão no capítulo 1 do volume IX deste Estudo.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
235
BDMG
40 anos
condições de vida. Relativamente a essas premissas, cabe aos formuladores da política regional
viabilizar respostas estratégicas, de modo a delas retirar o melhor proveito:
1ª) Ênfase exportadora e políticas de produtos. Há claras evidências de que as políticas
federais estarão fortemente voltadas para o aumento das exportações. Exportar, hoje,
se apresenta como uma oportunidade para toda empresa brasileira, não apenas as
grandes firmas, mas também para as de pequeno porte de todos os setores. Tais pontos
levaram o Prof. Barros de Castro a recomendar uma inflexão das políticas, no sentido
de atribuir grande importância à inovação, ou, numa acepção mais limitada da proposta,
às políticas de produtos. Isso porque os produtos com características diferenciadas
dispõem de “mecanismos de isolamento” que lhes permitem escapar da brutal pressão
a que estão submetidos os produtos indiferenciados. O autor ressalta que não se trata,
apenas, de agregação de mais valor. Operações de upgrade, por mais relevantes que
sejam, tendem a seguir as trajetórias já percorridas pelos produtos nos mercados
desenvolvidos e, dessa maneira, não são suficientes para alcançar vantagens
sustentáveis. Já a diferenciação bem sucedida permite elevar lucros, financiar outras
inovações e pagar salários condizentes com tarefas criativas.
Tais assertivas valem, naturalmente, para as empresas mineiras, seja na indústria e na
mineração, seja na agropecuária, reiterando que a economia mineira tem nas vendas externas uma
de suas mais importantes fontes de crescimento. Mas, mesmo configurando-se como a segunda
economia exportadora do País, esse comércio é feito por um número pequeno de empresas que
concentram a maior parte das vendas externas do Estado. A ênfase às exportações e a adoção de
políticas de produtos se revelam, assim, fundamentais para a economia mineira e, portanto, se
apresentam como passos estratégicos em uma política que tenha como alvo o posicionamento de
Minas como um dos centros dinâmicos da economia brasileira.
2ª) Substituição de Importações. Num ambiente de severa restrição da oferta de dólares
e conseqüente elevação do preço da moeda estrangeira, a substituição de componentes
e equipamentos importados apresenta-se como uma alternativa para evitar o aumento
do custo de produção de bens e serviços, o que, aliás, já vem ocorrendo em vários
setores da economia. No entanto, a substituição de importações de bens de consumo
– a chamada substituição fácil de importações - apresenta-se relativamente contida,
pelo menos no curto prazo, restando ao País avançar num movimento estrutural de
substituição de importações. De todo modo, esse é um processo realmente desafiador,
que não se faz apenas com política cambial, devendo ser construído a partir do
crescimento dos investimentos e, principalmente, da agregação da atividade tecnológica
e inovativa.
A política nacional, certamente, deverá conferir ênfase a tal questão, cabendo aos
formuladores de políticas regionais identificar oportunidades de negócios nessa direção. No caso
específico de Minas Gerais, os diversos estudos realizados sobre os setores produtivos subsidiam
a identificação de oportunidades nesse campo.
3ª) Fortalecimento de aglomerações produtivas locais. Não é recente a preocupação
dos formuladores de políticas públicas de desenvolvimento regional e local em encontrar
mecanismos e instrumentos eficazes para estimular o crescimento econômico, dinamizar
o crescimento da renda e do emprego dos municípios ou aglomerados de municípios.
Entre as alternativas para esse fim, está a formação de clusters, particularmente onde
haja arranjos produtivos com elevado grau de concentração de pequenos e médios
empreendimentos especializados. Assim, mesmo diante da realidade de cadeias
236
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
produtivas globais, que assume a preocupação central das políticas de âmbito nacional,
há espaços e necessidade premente de que as políticas regionais se ocupem do estímulo
aos arranjos locais, registrando-se que vários estados vêm caminhando nessa direção e
que mesmo as agências federais vêm articulando instrumentos adequados a esse
propósito. Essa estratégia tem se mostrado, em diversas partes do mundo, bem-sucedida
na conciliação de crescimento econômico e um melhor perfil distributivo da renda,
em que a sinergia existente entre diversos atores locais tem possibilitado o aparecimento
de alternativas de inovação, a partir do aproveitamento de condições locais e de
vantagens comparativas dinâmicas, decorrentes de sua capacitação.
Em Minas, foram identificadas 40 aglomerações produtivas4 espalhadas por diversas regiões
e com diferentes dimensões econômicas, estágios de cooperação, atualização tecnológica e
capacitação gerencial, atuando nos mais diversos setores de atividade. São, em sua maioria,
pequenos pólos espalhados pelo Estado, que, apesar de não se sobressaírem por sua expressão
econômica, possuem um papel primordial na geração de renda e emprego, na diversificação do
setor serviços, na elevação do grau de urbanização e de qualidade de vida da população local, com
rebatimentos na redução do grau de pobreza da região. Pode-se, assim, concluir que as aglomerações
locais constituem-se em um dos elementos importantes de uma política industrial para Minas Gerais.
Ressalte-se, entretanto, que o propósito não deve ser apenas o de fazer tais aglomerações funcionarem
como hedge para momentos de crises de dimensões globais, mas, principalmente, o de promover o
crescimento e, em certos casos, a inclusão econômica e social de várias localidades e regiões no
espaço dinâmico regional, mesmo que os efeitos sejam sentidos no nível local, devendo-as, ainda,
ressaltar sua contribuição para o aumento da competitividade do Estado.
4ª) O fortalecimento da rede de proteção e inclusão social. As disparidades sociais e
regionais presentes no Brasil, assim como os frágeis indicadores sociais, tornaram-se
tão evidentes, nos últimos anos, a ponto de terem a força de mobilizar diversos agentes
na busca soluções para os graves problemas. Ressalte-se, a propósito, a iniciativa de
diversos institutos de pesquisa e estudiosos em produzir indicadores inéditos que
revelaram a dimensão dos problemas de várias regiões e segmentos populacionais, ao
mesmo tempo que permitiram, também, a melhor compreensão dos diversos fenômenos
e, por conseqüência, o desenho de políticas mais apropriadas. De políticas meramente
assistencialistas e, em muitos casos, tipicamente populistas, o governo federal, vários
estados e municípios - com o concurso de organizações não-governamentais e empresas,
com preocupação e compromissos maiores junto a suas respectivas comunidades -,
passaram a tecer uma rede de proteção e inclusão social, combinando mecanismos
inovadores de fortalecimento da cidadania, de melhoria de renda e de acesso aos serviços
públicos. Tal tendência, por certo, é irreversível e, espera-se, crescente. Essa é, portanto,
uma premissa com a qual Minas deverá se alinhar integralmente, mobilizando seus
agentes em todos os níveis, aprimorando seus próprios instrumentos e multiplicando
aqui exemplos e programas disponíveis em nível nacional.
5.2.2. Eixos de atuação
Como forma de tornar efetivas as respostas estratégicas antes comentadas, cabe aos
formuladores das políticas regionais o desenho de um conjunto de políticas e ações, que poderiam
ser sintetizadas nos eixos de atuação a seguir delineados.
4
Ver volume VI deste Estudo.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
237
BDMG
40 anos
• Alinhamento às políticas federais. Uma política de desenvolvimento regional, para os
diversos setores, deve estar em sintonia com as políticas nacionais e dela capturar impulsos
dinamizadores da atividade econômica estadual, bem como obter recursos de programas
federais existentes e influenciar em políticas em gestação nas quais atividades e empresas
locais se enquadrem.
• Provisão da infra-estrutura e da supra-estrutura. O suprimento adequado de infraestrutura constitui-se em elemento decisivo de estímulo ao crescimento econômico e de
atração de novos investimentos, condição que, hoje, é bom frisar, coloca o Estado em clara
desvantagem frente a outras economias regionais. Se nas regiões mais frágeis as dificuldades
de infra-estrutura bloqueiam o crescimento e o acesso da população aos serviços públicos
e comerciais básicos, nas regiões mais dinâmicas, diminuem suas condições de
competitividade e limitam a força dos efeitos multiplicadores. Pode-se, assim, afirmar que
a recuperação da malha viária se apresenta como fator primordial para que se possa obter
sucesso na consecução de um novo ciclo de investimentos produtivos5 . Além desse grande
desafio, é preciso ressaltar que, no quadro atual, o diferencial está, cada vez mais, no que
pode ser entendido como a “supra-estrutura” necessária aos modernos empreendimentos,
apoiada na construção de um sistema de serviços eficientes, alinhado com a utilização da
tecnologia da informação e atenta às múltiplas possibilidades oferecidas por essa fronteira
tecnológica. O adequado funcionamento, no Estado, de um sistema estadual de inovação,
assim como sua política estadual de meio ambiente têm lugar de destaque nesse contexto.
• Sistema estadual de inovações: O adequado funcionamento, em Minas, de um sistema
estadual de inovação6 configura-se como uma prioridade no contexto de uma nova política
de desenvolvimento para Minas Gerais. É, na verdade, o grande diferencial que permitirá
a mudança de patamar da estrutura produtiva estadual. Ressalte-se que a existência da
sinergia entre pesquisa tecnológica e base empresarial é indispensável para a obtenção de
um casamento entre as possibilidades tecnológicas e as necessidades do mercado. É
importante, além disso, adaptar as políticas tecnológicas às características econômicas e
às potencialidades regionais. Em termos institucionais, cabe destacar a importância da
divisão de trabalho entre os organismos federais e estaduais, evitando a duplicação de
esforços e a concorrência entre as diversas fontes de recursos.
• Rede de informações estratégicas. No âmbito da provisão de externalidades indutoras
dos esforços de modernização produtiva e tecnológica do Estado, um destaque é a
atualização constante e aprimoramento dos bancos de dados existentes nas instituições
públicas e privadas do Estado, visando uma eficiente rede de informações que, de fato,
subsidie e alicerce a tomada de decisão de investimento. Disponibilidade de informações,
contudo, não é simplesmente a reunião de dados estatísticos diversos, que podem ser
facilmente encontrados em sites de internet ou em diversas publicações. A decisão de
investimento exige bem mais que isso e é nesse campo que o Governo Estadual pode
exercer uma de suas mais importantes ações de fomento. Em linhas gerais, uma rede de
informações estratégicas deve tornar disponível, por exemplo, para os empresários
mineiros, as informações relevantes sobre incentivos, benefícios e linhas de financiamento
federais, incluindo as formas de acesso do investidor mineiro a esses instrumentos. Deve,
além disso, incluir informações gerais e setoriais do Estado; sobre as principais instituições
e suas atribuições; questões legais e de meio ambiente; e a divulgação das oportunidades
de negócios no território mineiro.
5
6
238
Ver volume III deste Estudo, em especial o capítulo dedicado aos transportes e logística.
Ver capítulo específico sobre esse tema no volume VII deste Estudo: “Inovação Tecnológica e Desenvolvimento”.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
• Sistema de normatização, fiscalização e certificação. Essas são funções reconhecidas
como indispensáveis em um cenário concorrencial que se reproduz em escala mundial.
São, assim, vitais para o desenvolvimento e a melhoria das condições da competitividade
da agropecuária, por garantirem a qualidade do produto nos níveis exigidos pelas indústrias
processadoras e pelos consumidores. No exterior, os requisitos de certificação e de garantia
para a segurança alimentar, são ainda mais rigorosos. Não se exporta carne, leite ou
frutas sem que esses produtos sejam vistoriados, inspecionados e declarados isentos de
pragas ou doenças. Do mesmo modo, na indústria, as exigências são crescentes, valendo
como fator de redução de custos e de perdas e, portanto, como diferencial de
competitividade. Tendo em vista sua essencialidade para a melhoria da competitividade
do produto mineiro, o Governo Estadual não pode se decuidar de garantir às instituições
ligadas a tais temas condições de trabalho adequadas às suas importantes tarefas.
• Sistema institucional de fomento. Minas Gerais possui uma estrutura de fomento
sofisticada, especialmente em relação ao setor industrial, que conta com incentivos e
benefícios fiscais e financeiros e com a presença de instituições que prestam suporte aos
empresários e se ocupam da indução e promoção de investimentos. Todavia, é bastante
oportuna uma reestruturação de tal sistema, buscando sua modernização e, no caso do
setor agropecuário, praticamente a sua reconstrução. Devem ser intensificadas as funções
de promoção comercial e de divulgação de potencialidades de negócios, preparando o
sistema para desempenhar novas funções exigidas pela realidade atual. Entre essas novas
funções, está a de promover a internacionalização da empresa mineira, ponto
fundamental do processo de desenvolvimento mineiro, em vista das tendências nacionais
e internacional. Apresentam-se, além disso, como fundamentais, o restabelecimento da
coordenação institucional das diversas instituições que compõem os sistemas, sua
articulação estratégica com o sistema nacional, com o propósito de aproveitar
oportunidades e recursos, evitar duplicação de esforços e influenciar na concepção e
estruturação de instrumentos, atuando e defendendo os interesses da economia mineira.
Faz-se, ainda, necessária a maior interação do sistema estadual com diversos agentes, no
que se ressalta a exigência de mais intensa aproximação entre os órgãos estaduais de
fomento e o empresariado mineiro, especialmente do interior. Além disso, o sistema de
fomento deve estar preparado para disponibilizar as informações estratégicas para o
processo de decisão empresarial, em qualquer lugar do mundo, no que se refere tanto a
novos empreendimentos quanto aos intercâmbios comerciais e ampliação de mercados
das empresas mineiras.
• Políticas urbanas. A cidade é o elemento essencial à estruturação de uma região,
visto ser o local privilegiado de concentração e dispersão dos fluxos econômicos e de
infra-estrutura de prestação de serviços à atividade produtiva e à população. A cidade
assumiu uma importância de tal ordem que passou a ser objeto de análises e legislação
específica no plano federal. Os estudos realizados para Minas Gerais apontaram,
entretanto, a fragilidade de sua rede de cidades, quando comparada aos estados do
centro-sul do País, havendo poucas cidades que assumem o papel funcional
aglomerador de sua área de influência. Esse é, claramente, um outro fator negativo de
nossa economia, além de dificultar a implementação de várias políticas sociais de
abrangência regional. Ressalte-se que a abordagem urbana / regional não é, de forma
alguma, desconhecida nos trabalhos elaborados da Fundação João Pinheiro desde a
década de 70, havendo, assim, a oportunidade de “revisitar” as experiências daquela
época, tendo em vista a necessidade de que as políticas urbanas passem a efetivamente
se integrar ao planejamento estadual.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
239
BDMG
40 anos
• Região Metropolitana de Belo Horizonte como pólo urbano estruturante da
economia mineira. A valorização da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o
desenvolvimento de medidas que aprofundem a sofisticação e a diversificação do setor
de serviços produtivos modernos, de forma a ampliar os ganhos de economias externas
de urbanização para o conjunto das atividades econômicas do Estado, são aspectos
fundamentais para o processo de desenvolvimento do Estado. Um aspecto primordial é
a adoção de políticas destinadas à ciência e tecnologia, à ampliação da escala dos serviços
de apoio tecnológico e da chamada infra-estrutura de negócios, que possibilitem a
consolidação da capital como pólo urbano estruturante do espaço regional. Desse modo,
é crucial o papel do Governo Estadual no planejamento, na coordenação e, em alguns
casos, na execução de políticas em que se faça avançar a competitividade e a inserção da
RMBH na rede global das economias e que, ao mesmo tempo, promovam a inversão da
degradação e da exclusão social prevalecentes já que, por essa via se fará mais rápida e
consistentemente a inclusão de Minas Gerais na nova economia mundial.
• Investimento social. O investimento em políticas sociais – educação, saúde, combate à
pobreza, segurança pública, habitação e emprego – implica, no presente, no aumento da
qualidade de vida da população e, futuramente, na acumulação de capital social e
detonação do ciclo virtuoso do desenvolvimento sustentável. O desejável princípio da
subsidiariedade deslocou para esfera municipal muitas dessas políticas. O Estado segue,
contudo, com função precípua em algumas áreas e complementar aos municípios em
outras. A busca da garantia de acesso aos serviços essenciais torna a gestão local, em
grande medida mais eficiente. Entretanto, esse novo desenho não pode prescindir da
política estadual que estaria associada às atividades de planejamento, coordenação,
organização de infra-estrutura logística permitindo políticas sociais integradas. De todo
modo, os alvos são a eficácia e a eficiência dos recursos e esforços mobilizadores, sejam
eles federais, estaduais ou locais.
• Confiança. Para o investidor, tão importante quanto as condições das linhas de
financiamento ou dos incentivos existentes é a segurança de que as condições contratadas
serão preservadas. Afinal, seus cálculos financeiros e a própria decisão de investir tomaram
tais condições como parâmetros. E a percepção de que os contratos não são seguros
pode agir no sentido de inviabilizar negócios antes mesmo que esses venham a existir.
Desse modo, revela-se importante, nesse momento, reforçar a confiança do investidor
nas instituições mineiras e nos instrumentos de política industrial disponíveis no Estado.
O maior desafio de todos, contudo, é a tarefa, inadiável, de “relançar” a máquina pública
mineira. Praticamente paralisado por uma já crônica falta de recursos, o aparato do Estado apresenta,
ainda, uma série de disfunções que terão quer ser enfrentadas. Mas, desde já, se apresenta como
crucial a solução de dois problemas urgentes: a situação financeira, mais imediata, e a questão
previdenciária, que em médio prazo pode levar o Estado à inviabilidade total.
De fato, o peso da dimensão financeira coloca tal questão como o fator mais urgente da
necessidade de uma reforma do Estado. Entretanto, advoga-se aqui que, embora importante e
urgente, a crise fiscal não é o único elemento. Não basta ao Estado ajustar suas contas e permanecer
com os mesmos modos de organização e gestão. Nem tampouco seria suficiente promover reformas
institucionais com o propósito único de sanear as finanças públicas. O papel do Estado mudou
nas últimas duas décadas e sua forma de operar deve, portanto, ser repensada. Como será notado
em outro volume deste Estudo7 , visões que tentam contrapor o estado-empresário ao estado
7
240
Ver volume IX: “Transformando o Poder Público: a busca da eficácia”.
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
minimalista estão equivocadas, pois são insuficientes para analisar e propor saídas para os problemas
de hoje e para o “novo desenvolvimento”.
Ao se conceber o novo desenvolvimento, fica claro que a recuperação da máquina pública
é prioridade absoluta. Afinal, além do papel de indutor e coordenador de um processo de construção
do desenvolvimento, ao Governo Estadual se atribui papel essencial no esforço de reverter o risco
de estagnação e de perda de competitividade na economia mineira e, ao mesmo tempo, de dotar a
sociedade mineira de amplo acesso à educação e aos serviços de saúde e segurança, vale dizer, de
melhor qualidade de vida.
Por fim, uma última ressalva. Entre os estudiosos que valorizam o capital humano como
ingrediente fundamental do desenvolvimento, não há mais dúvida de que o nível de educação de
uma sociedade está diretamente relacionado com o nível de desenvolvimento econômico. A
correlação não sugere nem supõe uma causalidade. Comprovadamente, educação, por si só, não
gera crescimento econômico. Mas também está cada vez mais claro que a educação é premissa
irrecusável para o novo desenvolvimento. Os avanços alcançados na última década, em Minas e
no Brasil, devem ser comemorados e valorizados, inclusive porque, os mecanismos inéditos de
avaliação adotados permitiram a constatação de que há ainda muito a ser feito ou refeito. E esse
muito é bem mais difícil que todo o esforço realizado até aqui.
Sem desconhecer outros objetivos da educação e de escolarização, do ponto de vista do
exercício da cidadania, do mercado de trabalho, e conseqüentemente para a geração de emprego e
renda, a função da educação consiste em fornecer à sociedade e aos indivíduos habilidades que
lhes permitam absorver tecnologias e contribuir para o processo de aumento da eficiência do
setor produtivo e, assim, participar contributivamente da sociedade.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
241
BDMG
40 anos
MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
Patronos
Frederico Penido de Alvarenga - Secretário de Estado do Planejamento e Coordenação Geral - SEPLAN
José Augusto Trópia Reis - Secretário de Estado da Fazenda - SEF
Mauro Santos Ferreira - Secretário de Estado de Recursos Humanos de Administração - SERHA
Murilo Paulino Badaró - Presidente do Banco de Desenvolvimento S.A. - BDMG
Consultor Especial
João Camilo Penna
Consultores Orientadores
Antônio Barros de Castro
Caio Márcio Marini
Clélio Campolina Diniz
João Carlos Ferraz
Luis Aureliano Gama de Andrade
Paulo Roberto Haddad
Consultores Internos do BDMG
Camilo Cândido de Araújo Júnior
Fernando Lage de Melo
Francisco José de Oliveira
Iran Almeida Pordeus
Ismael Fernando Poli Villas Boas
José Lana Raposo
Júlio Onofre Mendes de Oliveira
Mário José Ferreira
Ofir de Vilhena Gazzi
Paulo Roberto Petrocchi Ribas Costa
Colaboradores como Relatores nos
Workshops e Seminário de Integração
Alexandre José Pinheiro Neto
Alfio Conti
Antônio Carvalho Neto
Antônio Barros de Castro
Caio Márcio Marini
Camilo Cândido de Araújo Júnior
Cândido Luís de Lima Fernandes
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira
Carlos Aníbal Nogueira Costa
Carlos Aurélio Pimenta
Carlos Fernando da S. Viana
Carlos Maurício Ferreira
Cézar Manoel de Medeiros
Clélio Campolina Diniz
Coronel Severo Augusto
Débora Vainer Barenboim
Deputado Rafael Guerra
Dilma Seli Pena Pereira
242
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
BDMG
40 anos
Evando Mirra de Paula e Silva
Fabiana Borges Teixeira Santos
Fábio Wanderley Reis
Fabrício Augusto de Oliveira
Fernando Kelles
Fernando Martins Prates
Francisco Gaetani
Gelmara Gonçalves de Paula Kraft
Gilberto Morais Pimenta
Gleison Pereira de Souza
Heloísa Helena Fernandes
Heloísa Regina Guimarães de Meneses
Iran Almeida Pordeus
Ivan Moura Campos
Jacques Schwartzman
João Camilo Penna
José Cláudio Linhares Pires
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
Juvenil Tibúrcio Félix
Luiz Afonso Vaz Oliveira
Márcio Damázio Trindade
Márcio Favilla Lucca de Paula
Maria de Fátima Chagas Dias Coelho
Maria Eliana Novaes
Maria Luisa Leal
Marieta C. A. Vitorino
Maurício Borges Lemos
Mauro Borges Lemos
Nelson Santos Siffert Filho
Nuno Monteiro Casassanta
Paulo de Tarso Resende
Paulo Roberto Haddad
Paulo Roberto Rocha Brant
Ralfo Edmundo da Silva de Matos
Renata Maria Paes de Vilhena
Roberto Messias Franco
Robson Napier Borchio
Rodrigo Ferreira Simões
Ronaldo Lamounier Locatelli
Saulo Marques Cerqueira
Teodoro Alves Lamounier
O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. – BDMG, agradece a todos aqueles que, de forma direta e indireta,
contribuíram para o enriquecimento da obra “Minas Gerais do Século XXI”, através de suas participações em Workshops e
no Seminário de Integração.
Agradece ainda, a todas as Instituições públicas e privadas, que auxiliaram na construção dos diversos volumes que
compõem este Estudo.
Capítulo 5 - Minas Gerais no país e no mundo
243
BDMG
40 anos
244
Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
Download