1 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE - FACS CURSO DE ENFERMAGEM Adriana Cássia Barboza Emanuel Severino de Miranda Joice das Virgens Evangelista Lucas de Oliveira Bezerra Luyara Gomes Peres ASPECTOS FISIOLÓGICOS, EMOCIONAIS E A RELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM DIABETES MELLITUS TIPO 2: Revisão Bibliográfica Governador Valadares 2008 2 ADRIANA CÁSSIA BARBOZA EMANUEL SEVERINO DE MIRANDA JOICE DAS VIRGENS EVANGELISTA LUCAS DE OLIVEIRA BEZERRA LUYARA GOMES PERES ASPECTOS FISIOLÓGICOS, EMOCIONAIS E A RELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM DIABETES MELLITUS TIPO 2: Revisão Bibliográfica Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Enfermagem pela Faculdade das Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora: Profª. Ms. Enfa. Yara Maria Diniz Figueiredo. Governador Valadares 2008 3 ADRIANA CÁSSIA BARBOZA EMANUEL SEVERINO DE MIRANDA JOICE DAS VIRGENS EVANGELISTA LUCAS DE OLIVEIRA BEZERRA LUYARA GOMES PERES ASPECTOS FISIOLÓGICOS, EMOCIONAIS E A RELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM DIABETES MELLITUS TIPO 2: Revisão Bibliográfica Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Enfermagem pela Faculdade das Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora: Profª. Ms. Enfa. Yara Maria Diniz Figueiredo. Governador Valadares, ___ de _______________ de ___ Banca Examinadora: Profª.Yara Maria Diniz Figueiredo – Orientadora Universidade Vale do Rio Doce Profª.Erick Silva Ramalho – 1º Examinadora Universidade Vale do Rio Doce Profª. Dalila Leão de Oliveira – 2º Examinadora Universidade Vale do Rio Doce 4 AGRADECIMENTOS Agradecemos, primeiramente a Deus, pela constante presença em nossas vidas, nos dando forças para superar as dificuldades durante essa jornada. Sem Ele não estaríamos realizando este sonho. Aos nossos pais, nossa fortaleza, obrigado pelo carinho e dedicação e por acreditarem neste sonho. Amamos vocês. Aos nossos namorados e namoradas obrigado por estarem ao nosso lado. Vocês foram fundamentais para esta vitória. Ao Kaio, você veio para abrilhantar nossas vidas. Aos nossos irmãos, pela paciência, por terem se abdicado de muitas coisas para que pudéssemos chegar ate aqui. Aos mestres, nossa gratidão pelo ensino, fazendo crescer em nós o amor pela profissão. Agradecemos à nossa orientadora Profª. Yara Maria Diniz Figueiredo, Profª. Raquel Dias Botelho e a nossa amiga Vânia pelo apoio e inspiração no amadurecimento dos nossos conhecimentos e conceitos, que nos levaram a execução e conclusão deste trabalho. Aos nossos colegas, temos certeza que os momentos que passamos juntos foram inesquecíveis e jamais se apagarão de nossas memórias. Enfim a todos que fizeram parte desta caminhada, obrigado. 5 A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes! Florence Nightingale 6 RESUMO O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica abordada desde a era cristã, no século XV a.C, e tem como característica a hiperglicemia oriunda da anormalidade do metabolismo de carboidrato, proteína e gordura, estando também relacionada à interação entre fatores hereditários e ambientais que levam à falta de secreção da insulina, aumento da glicose no sangue e ao comprometimento de vários órgãos, destacando-se os rins, a retina, e os sistemas nervoso e circulatório. Considerando que o Diabetes tipo 2 é o mais comum entre os demais tipos, e que na maioria dos casos pode gerar inúmeras complicações irreversíveis e afetar a saúde do ser humano, optou-se pela realização desta pesquisa. Trata-se de uma revisão bibliográfica com finalidade de analisar o que tem descrito na produção científica publicada no banco de dados da BIREME, acerca dos aspectos fisiológicas, emocionais, e a qualidade de vida do portador de Diabetes Mellitus tipo 2. Constatou-se nessa pesquisa a existência de maior registro de artigos sobre alterações fisiológicas, e que as áreas que mais se destacaram em números de publicações foram á medicina, enfermagem e nutrição. Evidenciou-se que a educação do diabético é parte fundamental do seu tratamento, o que possibilita a compreensão da relevância do autocuidado. Conclui-se que muitos profissionais têm se preocupado com a busca do bem estar do diabético, tendo como destaque a enfermagem, uma vez que estes profissionais estão sempre em contato com esta realidade, buscando, por meio do processo de comunicação, uma abordagem interdisciplinar que permita a esses pacientes reduzirem o desconforto dessa doença, quando controlada adequadamente. Palavras Chaves: Diabetes Mellitus tipo 2. Aspectos Fisiológicos. Emocionais. Qualidade de Vida. 7 ABSTRACT The diabetes mellitus (DM) is a chronic disease addressed since the Christian era, in the fifteenth century BC, and has the characteristic Hyperglycemia come to the abnormal metabolism of carbohydrate, protein and fat and is also related to the interaction between hereditary and environmental factors that lead to a lack of secretion of insulin, glucose in the blood increased and the involvement of various organs, especially kidneys, the retina, and the nervous and circulatory systems. Whereas type 2 diabetes is most common among other types, and that in most cases can generate numerous complications and irreversible affect the health of human beings, it was decided to conduct this search. This is a literature review to examine the purpose of which is described in the scientific literature published in the database of BIREME, about the physiological aspects, emotional, and quality of life of the bearer of type 2 diabetes. Notes in this study that there are more records of articles about physiological changes, and that the areas that most stood out in the numbers of publications were medicine, nursing and nutrition. It was proven that education is an essential part of the patient of his treatment, which enables understanding the relevance of self. It appears that many professionals have been concerned with the welfare of the pursuit diabetic, with the focus on nursing, as these professionals are always in contact with this reality, seeking, through the process of communication, an interdisciplinary approach that allows these patients to reduce the discomfort of the disease, when properly controlled. Key words: Type 2 Diabetes Mellitus. Physiological Aspects. Emotional. Quality Of Life. 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Revisão da literatura na BIREME, em relação aos artigos referentes ao Diabetes Mellitus tipo 2 por ano de publicação..........................................................35 Gráfico 2 - Revisão da literatura na BIREME, em relação aos descritores selecionados para a pesquisa no período de 1997 a 2007........................................37 Gráfico 3 - Revisão da literatura na BIREME, no período de 1997 a 2007 em relação às áreas de pesquisa relacionada ao Diabetes Mellitus tipo 2...................................39 9 LISTA DE SIGLAS a.C - Antes de Cristo apud - Citado por ATPase - Adenosina trifosfato BBO - Banco de Dados BDENF - Banco de Dados BIREME - Banco de Dados ºC - Grau Celsios DM - Diabetes Mellitus DM2 - Diabetes Mellitus do tipo 2 HDL - Lipoproteína de alta densidade IDDM - Diabetes Mellitus insulinodependente IMC - Índice de Massa Corporal LDL - Lipoproteína de baixa densidade K - Símbolo Químico do Potássio g/dia - Grama por dia Kg/m² - Kilo grama por metro ao quadrado g/Kg/dia - Grama, quilo por dia mg/dl - Miligrama por decilitro NIDDM - Diabetes Mellitus não-insulinodependente OMS - Organização Mundial de Saúde SUS - Sistema Único de Saúde SHHNC - Síndrome Hiperglicêmica Hiperosmolar não-cetótica TTG - Teste Padronizado de Tolerância a Glicose XXI - 21 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 13 2.1 DIABETES MELLITUS ................................................................................... 13 2.2 DIABETES MELLITUS TIPO 2 ....................................................................... 15 2.2.1 Fisiopatologia ........................................................................................... 19 2.2.2 Diagnóstico ................................................................................................ 20 2.2.3 Tratamento ................................................................................................. 21 2.2.3.1 Não Farmacológico .................................................................................. 22 2.2.3.1.1 Plano Alimentar ..................................................................................... 22 2.2.3.1.2 Atividade Física ..................................................................................... 24 2.2.3.1.3 Monitorização dos Níveis de Glicose Sanguínea .................................. 24 2.2.3.2 Farmacológico .......................................................................................... 24 2.2.4 Complicações ............................................................................................ 26 2.3 FATORES EMOCIONAIS DO DIABÉTICO .................................................... 29 2.4 QUALIDADE DE VIDA E DIABETES ............................................................. 31 3 MÉTODO........................................................................................................... 33 3.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 35 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 42 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 44 11 1 INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus (DM) é um assunto abordado desde a era cristã, no século XV a.C. No papiro de Ebers descoberto no Egito, foram descritos sintomas que parecem corresponder o diabetes (REIS, 2007). Oliveira (2007), afirma que foi Areteu da Capadócia quem, no século II da era cristã, deu a esta afecção o nome de diabetes, que em grego significa sifão, referindo-se ao seu sintoma mais chamativo que é a eliminação exagerada de água pelo rim. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2008), o médico Thomas Willis, de Oxford, em 1670, mencionou o sabor doce da urina, lhe dando o nome de Diabetes Mellitus. A palavra Mellitus é latina e quer dizer “mel ou adocicado”. Trata-se de uma doença crônica quem tem como característica a hiperglicemia oriunda da anormalidade do metabolismo de carboidrato, proteína e gordura. Está relacionada à interação entre fatores hereditários e ambientais que levam a falta de secreção da insulina, aumento da glicose no sangue e comprometimento de vários órgãos, destacando-se os rins, a retina, e os sistemas nervoso e circulatório (MAHAN et al. 2002). O autor ainda ressalta que o organismo do diabético não produz ou não responde a insulina, que é o principal hormônio regulador da quantidade de glicose absorvida pela maioria das células a partir do sangue. A sua deficiência ou a insensibilidade de seus receptores desempenham um papel importante em todas as formas do Diabetes Mellitus (MAHAN et al. 2002). Sobre este aspecto, Varella (2006), afirma que o Diabetes Mellitus (DM) não é uma doença única, mas um conjunto de doenças com uma característica em comum, o aumento da concentração de glicose no sangue provocado por duas diferentes situações. O diabetes tipo 1 e o 2. Sendo o do tipo 1 caracterizado por um déficit de insulina, devido à destruição das células beta do pâncreas por processos auto-imunes ou idiopáticos. Só cerca de 1 em 20 pessoas diabéticas tem diabetes tipo 1. Já no diabetes tipo 2 as células são resistentes à ação da insulina que com a redução do metabolismo, o indivíduo a partir dos quarenta anos aumentam de peso sobrecarregando as células beta do pâncreas que aumentam a produção de insulina 12 e, ao longo dos anos, a resistência à insulina acaba por levar as células beta à exaustão. Mahan et al. (2002) diz que além do Diabetes tipo 1 e 2 existe ainda o Diabetes gestacional que é definido como a tolerância diminuída aos carboidratos, de graus variados de intensidade, diagnosticado pela primeira vez durante a gestação, podendo ou não persistir após o parto. Ressalta-se que o Diabetes Mellitus tipo 2 é mais freqüente que a do tipo 1 e gestacional, atingindo cerca de 80 a 90 % dos casos de diabetes em geral. É uma doença que atinge todas as classes sociais configurando-se como problema individual e de saúde pública, de grande relevância, visto que a sua prevalência tem aumentado nos últimos anos, alcançando proporções epidêmicas, além de apresentar inúmeras complicações cardiovasculares representando a principal causa de morte em 52% dos casos. Acrescenta-se ainda a retinopatia diabética que acomete cerca de 40% e em 51% as amputações de membros inferiores (ASSUNÇÃO et al. 2001). Considerando que o Diabetes tipo 2 é o mais comum entre os demais tipos, e que a maioria dos casos pode gerar inúmeras complicações irreversíveis e afetar a saúde do ser humano, os acadêmicos de enfermagem optaram em realizar uma pesquisa cientifica, com finalidade de analisar o que existe descrito na produção científica publicada no banco de dados da BIREME, acerca dos aspectos fisiológicas, emocionais, e a qualidade de vida do portador de Diabetes Mellitus tipo 2 no período de 1997 a 2007. 13 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 DIABETES MELLITUS O Diabetes Mellitus (DM) é considerado um sério problema de saúde pública no Brasil e no mundo, em função, tanto do crescente número de pessoas atingidas quanto pela complexidade constituinte do processo de viver com essa doença. As prospecções apontam que cerca de 8% da população brasileira tem o diagnóstico de diabetes, sendo que destas, poucas têm acesso ao tratamento ideal para o controle do DM, o que implica em poucas possibilidades de intervenção das complicações dessa doença, especialmente as crônicas (FRANCIONE, 2007). Ainda segundo o autor, mesmo com essa perspectiva desfavorável, temos compreendido através de estudos que é possível um viver saudável mesmo tendo uma doença crônica. Ser saudável com DM não depende somente da realização correta do tratamento e do sucesso do mesmo, mas também da maneira como a pessoa convive com sua condição de saúde, de conhecer suas possibilidades e limites, do apoio/ suporte que recebe e do acesso a uma educação em saúde com base no diálogo, em que a pessoa possa se expressar e construir novas maneiras de lidar com sua doença. É preciso não somente identificar os recursos disponíveis, mas especialmente saber selecionar aqueles que possibilitam um maior bem-estar, que são mais próximos de seus hábitos e rotinas, pois a partir do momento que a pessoa aprende a conviver com tais fatores, poderá definir novas metas e construir caminhos para atingi-las. Moreira (2006) diz que doença crônica é aquela que “requer um constante acompanhamento médico e tratamento de controle. Ela pode ser minimizada ou persistir por toda vida do indivíduo, constantemente afetando-o na execução de suas rotinas diárias seja pela necessidade de hospitalização, realização de exames, acompanhamento médico ou mesmo permanência no domicílio”. Mclellan et al. (2007) ressalta que essa enfermidade representa um considerável encargo econômico para o indivíduo e para a sociedade, especialmente quando não é controlada, sendo a maior parte dos custos diretos de 14 seu tratamento relacionada às suas complicações, que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, e que, muitas vezes, poderiam ser reduzidas, retardadas ou evitadas. A progressiva ascensão das doenças crônicas, no Brasil, impõe a necessidade de uma revisão das práticas dos serviços de saúde pública, com a implantação de ações de saúde que incluam estratégias de redução de risco e controle dessas doenças. O Diabetes Mellitus é uma síndrome metabólica, de diversas etiologias, caracterizada pela falta de insulina, redução da secreção de insulina e resistência à ação da insulina, ou ambos, que leva a um aumento da concentração de glicose plasmática (REPORT, 2000). A classificação atual dessa enfermidade, incorpora o conceito de estágios clínicos do Diabetes Mellitus, desde a normalidade, passando para a tolerância à glicose diminuída e/ou glicemia de jejum alterada, até o Diabetes Mellitus propriamente dito. A nova classificação baseia-se na etiologia do Diabete Mellitus, eliminando os termos Diabetes Mellitus insulinodependente (IDDM) e nãoinsulinodependente (NIDDM) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O Diabetes Mellitus pode acarretar várias complicações como a nefropatia diabética, onde observa-se um espessamento da membrana basal capilar glomerular, discreto aumento da matriz mesangial e glomeruloesclerose. A nefropatia diabética é causa mais comum de insuficiência renal crônica terminal. Outra é a presença de retinopatia, comum no diabético, devido às alterações vasculares na retina. A presença de microaneurismas, hemorragias, exsudatos, oclusões de capilares e arteríolas, são encontrados logo após o diagnóstico do Diabetes Mellitus tipo 2, provavelmente devido ao atraso no diagnóstico. A glicose presente na corrente sangüínea é convertida em sorbitol pela ação da enzima aldose redutase, que penetra livre na célula e se acumula na bainha de Schwann do tecido nervoso, provocando alterações na condução do impulso nervoso, devido a neuropatia sensitivomotora e à polineuropatia autonômica, levando a um déficit da sensibilidade dolorosa, tátil e térmica, que propicia uma infecção e ulceração no pé (VILLAR et al. 1999). Ainda segundo o autor o excesso de açúcar no sangue provoca complicações macrovasculares, como hipertensão arterial e cardiopatias que são as principais causas de morbimortalidade. 15 E neste sentido o Ministério da Saúde (2004) aponta uma estimativa realizada pela OMS: De acordo com Gross et al. (2002) a classificação etiológica proposta atualmente para o Diabetes Mellitus inclui 4 categorias: tipo 1, tipo 2, gestacional e outros tipos específicos de diabetes. A classificação do paciente é usualmente feita em bases clínicas, porém métodos laboratoriais podem ser úteis em alguns casos. Todavia, segundo Farias (1999) Diabetes Mellitus tipo 2 é mais freqüente que a do tipo 1 atingindo cerca de 80 a 90 % dos casos em geral, ocorrendo principalmente nos adultos. E a partir do exposto será dado ênfase ao Diabete Mellitus tipo 2. 2.2 DIABETES MELLITUS TIPO 2 Segundo Oliveira, (2006) o Diabetes Mellitus do tipo 2 (DM2) é uma doença metabólica complexa, multifatorial e de presença global, que afeta a qualidade e o estilo de vida dos acometidos, podendo levar a uma redução pronunciada na expectativa de vida dessa população. É uma alteração comum que afeta o metabolismo dos açúcares em nosso corpo. Indiretamente, o metabolismo das gorduras e proteínas também é afetado, pois estes nutrientes são fontes de glicose (açúcar), que é o combustível mais básico para o nosso corpo. A principal característica do diabetes é a hiperglicemia (nível alto de açúcar no sangue) (LEITE, 2006). O autor descreve que a glicose entra nas células do corpo com ajuda da insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas que age como se fosse um “porteiro”, sendo o mesmo um polipeptídico produzido no pâncreas, ao qual é atribuído propriedades regulatórias do metabolismo energético, principalmente ao que se refere à glicose. Sem a insulina, a glicose não pode atravessar a parede da célula, e a célula fica sem “combustível”. O único órgão que não precisa da insulina para receber a glicose é o cérebro. O diabetes tipo 2 acontece quando as células do organismo vão progressivamente tornando-se resistentes a este hormônio . No início da resistência insulínica, o pâncreas aumenta a produção de insulina para manter o 16 açúcar do sangue normal, mas, com o tempo, à medida que a resistência aumenta o pâncreas não consegue atender às solicitações, levando à hiperglicemia. A doença inicia-se a partir dos 40 anos de idade, sendo mais freqüente entre 50 e 60 anos, e desenvolve-se de forma gradual (GUYTON, 2002). Destacam-se como principais sinais e sintomas do diabetes os ‘’três Ps’’: poliúria, polidipsia e polifagia. A poliúria é a micção aumentada já a polidipsia é a sede excessiva que ocorre em conseqüência da grande perda de líquidos associada a diurese. O paciente também experimenta a polifagia (apetite aumentado) decorrente do estado catabólico induzido pela deficiência de insulina e pela clivagem de proteínas e lipídios. Os outros sintomas englobam a fadiga e a fraqueza, alterações súbitas da visão, formigamento ou dormência nas mãos ou pés, pele seca, lesões que curam de forma lenta e infecções recorrentes (BRUNNER & SUDDARTH, 2002) Acrescenta-se ainda como destaque os fatores de risco para o diabetes a hipertensão superior a 130 x 85 mmHg que está segundo Zanella et al. (1998), diretamente relacionada a um maior grau de resistência à insulina. Goulart et al. (2006) afirma que a hipertensão e o diabetes são doenças interrelacionadas que, se não tratadas, aumentam o risco de doença vascular arterosclerótica (enfartes do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e doença dos membros inferiores). Ressalta que a hipertensão agrava ainda a microangiopatia, principalmente a nefropatia diabética, para a qual é um fator de risco maior e que a hipertensão é duas vezes mais comum em diabéticos e aumenta com a idade. Descreve ainda que no momento do diagnóstico do diabetes, a hipertensão já existe em cerca de 40% dos doentes, o que sugere uma associação de mecanismos entre as duas: a obesidade e resistência à insulina levam à hipertensão e esta agrava a intolerância à glicose, e na maioria dos casos não se encontra uma causa para a hipertensão, sem causa removível identificável, em particular no diabetes tipo 2. Já Martins et al. (2004) referenciam que os níveis de pressão arterial desejáveis no diabético são substancialmente inferiores ao da população em geral, 130/85 mmHg segundo as recomendações internacionais e com um máximo aceitável de 140/90 mmHg. Estas recomendações sugerem que a pressão arterial deve ser avaliada pelo menos de 3-3 meses, quando estabilizada e de forma mais freqüente (uma ou duas vezes por semana) se estiver instável. Destaca-se que esse 17 controle deve ser realizado em conjunto com o autocontrole do diabetes já que valores elevados de glicemia têm impacto recíproco. Em 2002, Lerario et al. ressaltam que obesidade antes considerada sinal de fartura, saúde e padrão de beleza deixou de ser vista como uma condição desejável, diante das evidências de morbimortalidade elevada em indivíduos obesos. Segundo ADA (American Diabetes Association) (2000) a obesidade está associada a algumas das mais prevalentes doenças na sociedade moderna e é considerada o maior risco para o desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo 2. Os maiores riscos à saúde causados pela obesidade aumentam progressivamente e desproporcionalmente com o aumento de peso e acrecenta que o risco de mortalidade para pessoas fumantes e obesas agrava-se ainda mais (FRANCISCHI et al. 2000). Outra informação de risco ressaltada pelo mesmo autor relaciona-se ao Índice de Massa Corporal (IMC) que quando esta acima de 35 aumenta o risco do desenvolvimento da obesidade em 93 vezes em mulheres e 42 vezes em homens. E a mesma apresenta-se controlada quando o índice de massa corpórea (IMC) do indivíduo se reduz para menos de 25 Kg/m² de superfície corporal. Na obesidade a secreção de insulina está elevada, enquanto que a captação hepática e a eficácia periférica da insulina diminuem. O aumento da secreção de insulina está relacionada ao grau de obesidade, já a redução na depuração hepática e a resistência periférica ao hormônio estão relacionadas ao tipo de obesidade (obesidade visceral). Os ácidos graxos livres aumentados na circulação, pela elevada sensibilidade lipolítica da gordura abdominal e pelo menor efeito antilipolítico da insulina nesse tecido, inibem a depuração hepática de insulina, levando à hiperinsulinemia e à resistência periférica, além do direcionamento desses ácidos graxos para a síntese de triglicérides pelo fígado (BARBALHO, 2007). Segundo Zanella et al. (1998) o triglicérides superior a 150 mg/dl, HDLcolesterol (homem inferior a 40 mg/dl e mulher inferior a 50 mg/dl) também é um importante fator de risco para o Diabetes Mellitus tipo 2, pois estão relacionadas a fortes evidências de resistência à ação da insulina. Afirmam, ainda, que o sedentarismo é um fator de risco para a obesidade tão importante quanto o consumo de dieta inadequada, e possui uma relação direta e positiva com o aumento da incidência do Diabetes Mellitus tipo 2, 18 independentemente do Índice de Massa Corporal ou de história familiar de Diabetes Mellitus. Já Manson et al. (2000) registram que outro fator que esta diretamente ligado ao Diabetes é o tabagismo, uma vez que o cigarro aumenta a concentração da gordura a nível abdominal, reduz a sensibilidade insulínica e eleva demasiadamente a concentração glicêmica após um teste oral de tolerância à glicose e que o risco parece relacionar-se com a quantidade de cigarros e a duração do tabagismo. Oliveira (2007) relata que o fumo estimula a liberação de hormônios, capazes de causar a contração dos vasos sanguíneos, o que pode aumentar a pressão arterial, sobrecarregar a função do coração e agravar a insulino-resistência. Bezerra (2006) completa afirmando que devido essa diminuição do lúmen dos vasos sanguíneos, há uma progressão de lesões coronárias e cerebrais, retinopatia, nefropatia, e principalmente doenças cardiovasculares, que segundo o Ministério da Saúde representa a primeira causa de óbitos no Brasil. Outro fator discutido na literatura é a hereditariedade no diabetes que ainda é alvo de inúmeras pesquisas em todo o mundo e tem muitas questões a serem respondidas (TSCHIEDEL, 2003). O autor ainda ressalta que há ainda grandes desafios na identificação dos mecanismos genéticos relacionados ao Diabetes Mellitus (DM). É importante, também, observar que não há indicativos de relação de influência genética de diabéticos do tipo 1 sobre diabéticos do tipo 2 e vice-versa. Ou seja, são patologias geneticamente diferentes. Reis (2002) afirma que o Diabetes Mellitus do tipo 2 apresenta características mais clássicas de herança genética e em pesquisa realizada, as amostragens confirmam que quanto mais pessoas na família envolvidas com o histórico da doença maiores as chances de sua manifestação. O mais corriqueiro ao identificarse um novo caso é que a pessoa traga pais, avós, tias, tios e/ou primos diabéticos tipo 2. Trata-se de uma herança poligênica e multifatorial, isto é, originada por mais de um gene e associada a fatores ambientais. Logo, se uma pessoa com vários familiares diabéticos tipo 2 ficar obesa estará aumentando suas chances de desenvolver a doença. 19 2.2.1 Fisiopatologia Os dois principais problemas ligados à insulina no diabetes do tipo 2 são a resistência à insulina e sua secreção comprometida. Essa resistência à insulina refere-se a sensibilidade diminuída dos tecidos a esse hormônio. Normalmente, a insulina liga-se a receptores especiais nas superfícies celulares e inicia-se uma serie de reações envolvidas no metabolismo da glicose. No Diabetes Mellitus do tipo 2, essas reações intracelulares estão diminuídas, tornando, assim, a insulina menos efetiva na estimulação da captação da glicose pelos tecidos. Os mecanismos exatos que levam a resistência a insulina e à secreção comprometida da mesma no diabetes do tipo 2, são desconhecidos, embora se acredite que os fatores genéticos contribuíram para o surgimento dessa resistência (BRUNNER & SUDDARTH, 2002). Para suplantar a resistência à insulina e para evitar o acúmulo de glicose no sangue, as quantidades aumentadas de insulina devem ser secretadas para manter o nível de glicose em um limite de normalidade ou em um nível discretamente elevado. Entretanto, quando as células beta não conseguem responder a demanda aumentada de insulina, o nível de glicose aumenta e o diabetes do tipo 2 se desenvolve (BRUNNER & SUDDARTH, 2002). O diabetes do tipo 2 descontrolado pode, no entanto, levar a outro problema agudo, chamado de síndrome hiperglicêmica hiperosmolar não cetótica (SHHNC) que é definida como um nível extremamente alto, ausência ou apenas pequenas quantidades de cetonas e desidratação profunda (MAHAN, 2002). O diabetes do tipo 2 ocorre mais amiúde em pessoas com mais de 30 nos de idade que são obesas. Como ele está associado a uma intolerância á glicose lenta (durante anos) e progressiva, o início do diabetes do tipo 2 pode permanecer oculto por muitos anos. Quando os sintomas são experimentados, eles são, com freqüência, brandos e podem incluir fadiga, irritabilidade, poliúria, polidipsia, lesões cutâneas que cicatrizam mal, infecções vaginais ou turvação visual (quando os níveis estão elevados) (BRUNNER & SUDDARTH, 2002). 20 2.2.2 Diagnóstico Segundo Camargo et al. (2002), o diagnóstico correto e precoce do Diabetes Mellitus e das alterações da tolerância à glicose é extremamente importante porque permite que sejam adotadas medidas terapêuticas que podem evitar o aparecimento de diabetes nos indivíduos com tolerância diminuída e retardar o aparecimento das complicações crônicas nos pacientes diagnosticados com diabetes. O Programa Nacional de Controle de Qualidade (2003) faz as seguintes recomendações para o diagnóstico do Diabetes Mellitus: clinicamente, os sintomas como poliúria, polidipsia e polifagia sempre estarão presentes no diabetes tipo 1, porém no tipo 2, aproximadamente metade dos pacientes são assintomáticos e oligossintomáticos, podendo apresentar sintomas inespecíficos, como tontura, dificuldade visual, astenia e ou cãimbras, vulvovaginites de repetição e ou disfunção erétil. Segundo o Consenso Brasileiro Sobre Diabetes, da Sociedade Brasileira de Diabetes (2003) os procedimentos diagnósticos empregados são a medida da glicose no soro ou plasma após jejum de 8 a 12 horas e o teste padronizado de tolerância à glicose (TTG) após administração de 75 gramas de glicose anidra (ou dose equivalente, como, por exemplo, 82,5 g de dextrosol) por via oral, com medidas de glicose no soro ou no plasma nos tempos, 0 e 120 minutos após a ingestão. A determinação da glicose é feita preferencialmente no plasma, sendo o sangue coletado em tubo com fluoreto de sódio. Isto não sendo possível, a glicose deverá ser determinada logo após a coleta ou o tubo deverá ser mantido a 4°C por, no máximo, duas horas. O International Expert Committee, com aprovação da Organização Mundial de Saúde, manteve como critério para o diagnóstico do diabetes um valor de glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dl, e de teste de tolerância a glicose (2 horas após sobrecarga de 75 g de glicose) maior ou igual a 200 mg/dl, recomendado em 1997, porém alterou os valores normais de glicemia de jejum, que deve ser inferior a 100 mg/dl. Os valores de glicemia de jejum entre o normal e o diabetes (100 e 125 mg/dl) são chamados de glicemia de jejum alterada e os valores de glicemia após 21 sobrecarga de 2 horas entre o normal e o diabetes (140 a 199 mg/dl) é chamado de intolerância à glicose (VARGAS, 2004). A investigação do diabetes deve ser feito em todos os pacientes que apresentam sintomas, como a poliúria, polidipsia, perda de peso, cansaço, desânimo, infecções de repetições, enurese noturna, sinais e sintomas de insuficiência vascular periférica, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, e disfunção erétil. Além dos pacientes que apresentam estes sintomas devem ser investigados todos pacientes com idade igual ou superior aos 45 anos, indivíduo obeso, com história familiar de diabetes, com hipertensão, macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal (VARGAS, 2004). A presença de glicose no sangue permite a glicação da hemoglobina, formada pela reação não enzimática da glicose com o grupo amino terminal da cadeia beta da hemoglobina A. Ocorre durante todo o período de vida da hemoglobina, aproximadamente de 120 dias. A determinação de hemoglobina glicada, ou hemoglobina glicosilada ou glicohemoglobina (A1c) é importante para avaliação do controle glicêmico, onde a quantidade de A1c é diretamente proporcional à média de glicose no sangue dos últimos 60 a 90 dias. A meta para o tratamento de acordo com a American Diabetes Association é de 7 %. Níveis acima de 7 % aumentam o risco de complicações crônicas (GRUPO INTERDISCIPLINAR DE PADRONIZAÇÃO DA HEMOGLOBINA GLICADA, 2004). Na determinação da Hemoglobina glicada, utiliza-se uma amostra de sangue total com anticoagulante (EDTA, heparina ou fluoreto), que pode ser armazenada por uma semana a 4 ºC e o hemolisado pode ser estocado por 4 a 7 dias a 4 ºC ou até 30 dias a - 70 ºC (OLIVEIRA, 2006). 2.2.3 Tratamento De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2003) o tratamento do Diabetes Mellitus divide-se em farmacológico e não farmacológico, no qual inclui as seguintes estratégias: educação; modificações do estilo de vida, que incluem suspensão do fumo, aumento da atividade física e reorganização dos hábitos alimentares e, se necessário, uso de medicamentos. O esquema terapêutico do 22 Diabetes Mellitus deve também levar em consideração a presença dos fatores de risco, como hipertensão, dislipidemias, obesidade. O tratamento adequado está associado à melhora significativa no controle metabólito e reduzem a mortalidade. Araújo (2000) ressalta que existem no momento diversas opções terapêuticas, que podem ser utilizadas isoladamente ou em associações: sensibilizadores da ação de insulina (metformina, tiazolidinedionas), anti- hiperglicemiantes (acarbosc), secretagogos (sulfoniluréias, repaglinida, nateglinida), drogas anti-obesidade e/ou insulina. O autor ainda afirma que é essencial conscientizar o diabético da sua participação no controle glicêmico, com determinação de glicemia capilar, como proceder em situações de hiper ou hipoglicemia, nas infecções e na gravidez. Isto melhora o controle do DM e diminui a freqüência de internações hospitalares. 2.2.3.1 Não Farmacológico 2.2.3.1.1 Plano alimentar Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (Consenso brasileiro sobre diabetes 2003), um bom controle glicêmico só é alcançado com uma alimentação adequada. O plano alimentar deve levar em consideração as necessidades nutricionais e aspectos médicos do indivíduo. Mudança nos hábitos alimentares favorece um controle metabólico, contribuindo para a normalização da glicemia e diminuindo os riscos das complicações crônicas da doença. De acordo com Araújo (2000) a alimentação do diabético deve ser individualizada de acordo com as necessidades calóricas diárias, atividade física e hábitos alimentares. O plano alimentar deve ser adequado para manutenção do peso ideal. Em 1999, Villar et al. demonstrou que 50% do valor calórico deve advir de complexos ricos em fibras. A sacarose pode ser consumida em quantidades moderadas, desde que não afete o controle metabólico e ou o peso do paciente, 25 % a 30 % do valor calórico deve ser constituído por lipídeos, com menos de 10 % de 23 gordura saturada. A ingestão de colesterol não pode ultrapassar 300 mg/dia, as proteínas devem ser ingestas por cerca de 0,8 a 1,0 g/Kg/dia. O sódio deve ser utilizado com moderação, e se o paciente for hipertenso e ou apresentar insuficiência cardíaca ou renal, não deve ultrapassar de 3 g/dia. 2.2.3.1.2 Atividade Física Pode se considerar que, 70 % da população brasileira têm comportamento sedentário. A falta de adesão ao exercício físico pode levar a um alto custo social, podendo desenvolver ou agravar diversas doenças, principalmente as doenças crônicas não transmissíveis, entre elas o Diabetes Mellitus (Secretaria de Saúde, 2004). Segundo Araújo (2000) o exercício físico melhora a sensibilidade à insulina, diminui a hiperinsulinemia, aumenta a captação muscular de glicose, melhora a hipertensão arterial, além da sensação de bem-estar físico e psíquico decorrente; podendo ainda contribuir para a perda de peso. Os relatos na literatura sugerem que a prática de exercício físico induz uma diminuição dos níveis de triglicérides de 11 a 16%, do colesterol de 3 a 10% e aumento do HDL-colesterol em 3%. Secretaria de Saúde (2004) afirma que antes da prática do exercício físico deve ser feita uma cuidadosa avaliação quanto à presença de complicações macro e microvasculares no Diabetes Mellitus, para definir os tipos de exercícios mais apropriados, se neuropatia, nefropatia e/ou retinopatia estiverem presentes. Ainda de acordo com o autor, o indivíduo com glicemia abaixo de 100 mg/dl, os exercícios físicos podem provocar hipoglicemia e, a depender do tipo e duração do exercício, recomenda-se um pequeno lanche rico em carboidrato antes de iniciálo. Já o diabético com níveis glicômicos maiores do que 250 mg/dl com cetose ou maiores do que 300 mg/dl, deve evitá-los. 24 2.2.3.1.3 Monitorização dos níveis de glicose sanguínea Segundo Freitas (2002) todas as pessoas com diabetes tipo 2 necessitam fazer monitorização dos seus níveis de glicose sanguínea, dado que o fator mais importante no tratamento do diabetes tipo 2 é atingir um bom controle da glicose. O autor ainda ressalta que doentes com diabetes tipo 2 aprendem a monitorizar os seus níveis de glicose em casa. A monitorização da glicose em casa usa apenas uma pequena amostra de sangue proveniente de uma picada no dedo com um picador digital, colocação desta gota de sangue numa fita ou elétrodo e esperar que o glicósimetro faça a leitura dos níveis de glicose. Isto pode ser tão rápido como 5 segundos. O médico irá orientar acerca de quantas vezes necessita de efetuar a pesquisa de glicemia capilar. E baseado nos resultados da glicemia capilar, o médico recomendará as alterações na sua dieta, plano de exercício e medicação com anti-diabéticos. 2.2.3.2 Farmacológico Os medicamentos hipoglicemiantes devem ser adotados, quando não for possível atingir os níveis glicêmicos desejáveis após a terapia dietética e do exercício físico (LERARIO, 2004). Os principais tipos de hipoglicemiantes orais são: sulfoniluréias, biguanidas, inibidores da alfa-glicosidase e tiazolodinedionas (LERARIO, 2004). As sulfoniluréias bloqueiam os canais de K, através da ligação com a ATPase nas células beta, a entrada de cálcio secundário à despolarização causa liberação de insulina. As sulfoniluréias estão divididas em primeira e segunda geração, esta classificação se dá em função de sua potência e período do surgimento. As primeiras a surgir foram as clorpropamida e a tolbutamida. A glibenclamida, glicazida, glipizida e glimepiridina são denominadas como de segunda geração, dentre estas a glibenclamida parece ter uma menor ação estimulante da secreção de insulina, pois apresenta um menor potencial indutor de hipoglicemia. A diminuição da quantidade de glicose no sangue abaixo do normal é o principal efeito adverso das 25 sulfoniluréias. Entre as sulfoniluréias a clorpropamida e glibenclamida são as que menos provoca a hipoglicemia. O paciente que apresenta insuficiência renal ou hepática grave, e durante a gravidez e a amamentação, deve evitar o uso das sulfoniluréias (VILLAR et al. 1999). As biguanidas aumentam a sensibilidade à insulina predominantemente no fígado. Entre as biguanidas, a mais utilizada é a metformina, tanto a fenformina como a butformina caiu em desuso, pois podem provocar uma predisposição mais freqüentemente à acidose láctica. A metformina é indicada como tratamento inicial em pacientes obesos, mas nada impede que pacientes não obesos façam uso da mesma. Quando a monoterapia com sulfoniluréias em pacientes não obesos tornase ineficaz, a combinação da metformina mais sulfoniluréia promove um controle glicêmico melhor do que o uso da sulfoniluréia isolada. O uso da metformina promove uma melhora no perfil lipídico, diminuindo o colesterol total e o LDL e ao mesmo tempo aumentando o colesterol HDL, este fármaco também pode reduzir ou não interferir nos níveis de triglicerídeos. Pacientes que fazem uso de metformina não apresentam hipoglicemia, a não ser que o mesmo faça associação com sulfoniluréia ou insulina, ou que consuma bebida alcoólica em excesso. Indivíduos que tem condições que impliquem risco aumentado para acidose láctica, doenças hepáticas crônicas, fase aguda de doença miocárdica isquêmica, alcoolismo e disfunção renal não devem fazer uso de metformina (VILLAR et al. 1999). Os inibidores da alfa–glicosidase retardam a absorção de carboidratos. A acarbose inibe a atividade das enzimas alfa glicosidases, na parede intestinal, sendo estas enzimas responsáveis pela metabolização dos amidos e sacarose. Se este fármaco for administrado logo após o início da ingestão alimentar, ele promove um retardo na digestão e na absorção dos açúcares pelo intestino delgado, atrasando a passagem da glicose para o sangue, devido a este fator esse fármaco possui uma eficácia ao diminuir a glicemia pós–prandial. A acarbose pode ser utilizada, não como fármaco de escolha, mas como alternativa aos demais fármacos como a metformina e sulfoniluréias. Este fármaco não provoca hipoglicemia, mas pode vir à tona caso seja associado a sulfoniluréia ou insulina, e neste caso a hipoglicemia não deve ser tratado com sacarose, mas sim com glicose, devido a hidrólise da sacarose ao nível de intestino delgado estar prejudicado pela ação inibitória do fármaco. Indivíduos que possui transtornos crônicos da digestão e absorção intestinal, úlcera 26 de cólon, obstrução intestinal parcial e doença inflamatória intestinal não devem fazer uso de acarbose (VILLAR et al. 1999). As tiazolidinedionas (glitazonas) aumentam a sensibilidade à insulina no músculo e no fígado, não levam a hipoglicemia, mas podem apresentar este efeito indesejável se associada a sulfoniluréia ou insulina, deve ser suspendido o uso deste fármaco em pacientes com alterações nas enzimas hepáticas (VILLAR et al. 1999). Algumas pessoas com diabetes do tipo 2 irão necessitar de terapia insulínica logo após o diagnóstico e muitos ao longo do tratamento. Quando houver indicação para insulinoterapia em situações de uso transitório de insulina (como nas intercorrências médicas), a humana deve ser sempre utilizada. O emprego da insulina pode estar associado a aumento de peso e presença de reações hipoglicêmicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). O Plano de Reorganização da Atenção Farmacêutica à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus padroniza para o tratamento do Diabetes os hipoglicemiantes orais, glibenclamida e metformina; além da insulina (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). 2.2.4 Complicações Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (2004) a retinopatia diabética é uma das desordens microvasculares mais comuns causada pelo Diabetes Mellitus. Vários estudos prospectivos já demonstraram a importância do controle glicêmico na prevenção desta complicação, o controle terapêutico intensivo retarda a sua progressão, o risco reduz-se em cinco ou mais vezes comparado ao tratamento convencional, no diabetes tipo 2, a redução é observada tanto com insulina, como com sulfoniluréia. Porém, ainda que pareça uma medida simples e óbvia, esse controle não só é difícil de ser atingido, como principalmente mantido. A Sociedade Brasileira de Diabetes (2008) ressalta que, a Retinopatia Diabética é caracterizada por alterações vasculares. São lesões que aparecem na 27 retina, podendo causar pequenos sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual. Exames de rotina (como o “fundo de olho”) podem detectar anormalidades em estágios primários, o que possibilita o tratamento ainda na fase inicial do problema. Hoje, a Retinopatia é considerada uma das mais freqüentes complicações crônicas do diabetes, junto com a Catarata. No caso do tipo 1, não há necessidade de começar os exames assim que a pessoa se descobre como diabético, pois não possui um histórico de glicemia alta. Sendo assim, o primeiro exame oftalmológico poderá ocorrer após cinco anos de tratamento. Concluído esse período, os exames serão realizados anualmente. Já no diabetes tipo 2, os exames serão realizados desde o momento do diagnóstico. Isso ocorre porque não é possível identificar por quanto tempo a pessoa permaneceu com altas taxas de glicemia (BOSCO, 2004). A Sociedade Brasileira de Diabetes (2008) mostra outra complicação do Diabetes Melittus, nefropatia Diabética, que constitui-se por alterações nos vasos dos rins, fazendo com que haja a perda de proteína na urina. É uma situação em que o órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva, até a paralisação total. Contudo, esse quadro é controlável e existem exames para detectar o problema ainda no inicio. A Nefropatia Diabética pode afetar o bom funcionamento dos rins, fazendo com que eles percam a capacidade de filtrar adequadamente essas substâncias. Uma das proteínas que circulam no sangue é a albumina, que possui alto valor biológico e fornece todos os aminoácidos essenciais para facilitar a recuperação do organismo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2004). Na fase inicial da Nefropatia Diabética, aparecem pequenas quantidades dessa proteína na urina (detectada através do exame de microalbuminúria). É comum que nesse estágio ocorra, também, o aumento da pressão arterial (hipertensão). Esta situação pode levar à insuficiência renal avançada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2004). O Pé diabético é outra complicação, para as pessoas com diabetes, o pé merece uma atenção especial. Como são vulneráveis a ferimentos, é preciso examiná-los todos os dias. Esse deve ser um hábito, principalmente para aqueles que sofrem de neuropatia. Essa vigilância é necessária porque, não raro, surge um 28 calo em nossos pés, mesmo sem sentirmos dor, quando usamos sapatos (LOPES, 2003). Assim, a inspeção será baseada na procura de úlceras, calos ou qualquer outro problema visível (LOPES, 2003). Outra complicação é o infarto do miocárdio que ocorre quando os grandes vasos são afetados, levando à obstrução/estenose (arteriosclerose) de órgãos vitais como o coração e o cérebro. O bom controle da glicose, somado à atividade física e medicamentos - que possam combater a pressão alta, o aumento do colesterol e suspender o tabagismo - são medidas imprescindíveis de segurança. A incidência deste problema é de 2 a 4 vezes maior nas pessoas com diabetes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). Essa é uma doença cardiovascular responsável pela principal causa de morte relacionada ao diabetes, não importando o tipo. Sem controle adequado, geralmente surge o estado de hiperglicemia, o que é um fator de risco para doenças do coração. Além disso, outros fatores predispõem a arteriosclerose, como a hipertensão arterial, alteração do metabolismo das gorduras (aumento do LDL, aumento dos triglicérides e redução do HDL), tabagismo, obesidade, falta de atividade física e presença de microalbuminúria (proteína na urina) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). As infecções também podem aparecer no paciente diabético, uma vez que a presença excessiva de glicose pode causar danos a muitas funções inerentes ao sangue, incluindo as tarefas do sistema imunológico. O que aumenta o risco da pessoa com diabetes contrair algum tipo de infecção. Isso ocorre porque os glóbulos brancos (responsáveis pelo combate ao vírus, bactérias, etc.) ficam menos eficazes com a hiperglicemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2008) o alto índice de açúcar no sangue é terreno ideal para alguns invasores (fungos, bacterias, etc.). O que acaba promovendo a fácil proliferação desses patogênicos. Assim, áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local de incisão pós cirurgia estão totalmente sujeitos a este risco. Ferimentos em geral podem se tornar verdadeiras portas de entrada. 29 2.3 FATORES EMOCIONAIS DO DIABÉTICO Segundo Graça et al. (2000), Diabetes Mellitus é uma doença psicossomática, ou seja, que sofre influência de fatores emocionais em sua etiologia. De acordo com Silva (1994) doença psicossomática é qualquer alteração somática (física) decorrente de sofrimentos psíquicos, diferentemente da somatopsíquica que é qualquer alteração psíquica decorrente de sofrimento físico, por exemplo, os efeitos psíquicos sofridos pelo indivíduo que possui uma enfermidade crônica ou uma debilidade física. Assim o Diabetes Mellitus pode ser considerado tanto uma doença psicossomática quanto somatopsíquica. O autor ainda afirma que a doença psicossomática surge em decorrência do modo como o indivíduo vivencia suas emoções. Quando essas não são expressas através de nossos músculos voluntários, elas descarregam-se em nossos músculos involuntários, como o estômago, intestino, coração e vasos sangüíneos, podendo desencadear a doença psicossomática. A incapacidade de comunicar com palavras os seus pensamentos faz com que essa pessoa “fale” com a “linguagem dos órgãos”, ou seja, o adoecer de determinado órgão é a forma inconsciente do indivíduo proclamar seu sofrimento, por não conseguir fazê-lo de outra forma (SILVA, 1994, p. 87). Em 1994, Debray ressalta que os pacientes diabéticos tem sentimentos de inferioridade devido aos cuidados constantes exigidos para controlar a doença. Em 1976, Ajuriaguerra registra que o controle do diabetes é tão intenso que o indivíduo diabético pode ser classificado como “escravo” de seu tratamento, uma vez que essa é uma doença irreversível que exige um tratamento médico severo e contínuo. Segundo Joode apud Marcelino (2005), confirma que o paciente diabético apresenta sentimento de inferioridade e inadequação em decorrência dos distúrbios no desenvolvimento físico como baixa estatura e desenvolvimento sexual retardado. É afirma que os diabéticos apresentam ansiedade a respeito da saúde, medo da morte e idéias de suicídio. Ajuriaguerra Desde 1976, aborda estas questões e considera que as tendências depressivas são freqüentes e que a maior parte dos jovens diabéticos apresenta ansiedade, angústia e inquietação consciente diante do futuro, e esta angústia pode gerar idéias de suicídio. 30 Graça confirma dizendo: O diabetes é uma doença crônica, potencialmente invalidante, que determina mudanças internas nas atividades diárias da pessoa. São vivenciados vários sentimentos, como regressão, perda da auto-estima, insegurança, ansiedade, negação da situação apresentada e depressão. De acordo com a estrutura psíquica da pessoa e seus recursos internos, ela lidará, melhor ou pior, com a nova situação de doença (Graça, 2000, p.213-232). Segundo Delamater (2001) a família do diabético também enfrenta a ansiedade da perda frente a enfermidade que é dramática e exige cuidados, e por isso o diabetes deve ser tratado no grupo familiar, com um membro apoiando outro, pois através do apoio emocional os familiares tornam-se significativos no monitoramento da doença e na implementação das intervenções. Diante de toda a relação expressa entre o emocional e o diabetes observa-se que além do apoio familiar esse paciente deve ter um acompanhamento psicológico, pois o mesmo proporcionará uma elaboração dos aspectos emocionais da doença e com isso minimizará os sofrimentos psíquicos. Para isso o psicólogo tem que observar, ouvir as palavras e os silêncios, vivenciar junto ao paciente os conflitos e problemas desta nova condição de ser diabético (MARCELINO et al. 2005). O trabalho do psicológico com o paciente diabético pode realizar-se individualmente ou em grupo. Ambos têm como objetivo a elaboração e aceitação da doença para obtenção de uma melhor qualidade de vida. O trabalho psicoterapêutico individual pode ser realizado tanto com o paciente diabético, quanto com os familiares, afim de que eles também aprendam acerca das características e repercussões da doença, para poderem ajudar na aceitação desse individuo diabético (MARCELINO et al. 2005). Neste sentido, segundo Péres (2008) o diagnóstico de diabetes freqüentemente envolve diversos sentimentos e reações emocionais que precisam ser compreendidos e trabalhados pela equipe de saúde. Os profissionais devem estar preparados para oferecer apoio e suporte a todos aqueles que necessitarem. Além disso, afirma ainda que os integrantes da equipe devem encorajar a expressão dos sentimentos, fornecendo espaço de escuta para que os pacientes se sintam acolhidos, confortáveis e seguros para entrarem em contato com emoções intensas e não raro desagradáveis, que são comumente evitadas pelo acentuado nível de sofrimento psicológico que acarretam. 31 2.4 QUALIDADE DE VIDA E DIABETES O termo qualidade de vida, de acordo com estudo realizado, que teve por objetivo a sua definição, surgiu pela primeira vez na literatura médica na década de 30 (SEIDL, 2004). Zahar et al. (2001) registram que: A Organização Mundial de Saúde (OMS) define qualidade de vida como a percepção que um indivíduo tem de sua vida no contexto do sistema de valores e da cultura em que vive, com base em suas metas, expectativas e interesses. (ZAHAR et al. 2001). Para se falar em qualidade de vida, o indivíduo deverá ter uma percepção tanto de sua posição na vida, quanto no contexto da cultura e nos sistemas de valores nos quais está inserido, conhecendo seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, buscando alcançar sua independência física, emocional e social. Esse tema, de grande relevância atualmente, tem sido motivo de diversas discussões buscando identificar qual a caracterização das variáveis que determinam a qualidade de vida nos domínios físico, social e psicológico. Cianciarullo (2002) define a qualidade de vida como uma construção multidimensional, com significados diferenciados conforme as diversidades do contexto de vida e inclui cinco domínios principais: saúde física, estado psicológico, relacionamento social, características ambientais e padrão espiritual. Renna (2003) acrescenta que para a construção da qualidade de vida, devese buscar compreender os significados diferenciados de acordo com as diversidades da vida de cada um e, para isto, o domínio do estado psicológico do indivíduo estando em plena harmonia, uma vez que a mente faz parte do organismo é responsável pelas emoções (sentimentos), atitudes (pensamentos) e ações (comportamentos). Neste sentido, Garcia (2004) afirma que o diabetes é uma doença cujo curso depende em grande medida do controle realizado pelo paciente e o autocuidado no tocante à dieta, à prática de exercício físico e à adesão ao tratamento medicamentoso é imprescindível para a qualidade de vida do portador dessa enfermidade, portanto o sujeito é responsabilizado, em grande medida, pela evolução da doença. 32 Há evidências de que as mudanças de estilo de vida possam ocorrer com maior sucesso quanto mais precoce forem as intervenções, e não há controvérsias de que a adoção de uma alimentação saudável, rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e pobre em gorduras saturadas, associada à prática freqüente de atividades físicas, no mínimo trinta minutos ao dia e a adesão ao tratamento medicamentoso ofereça para portador de diabetes uma boa qualidade de vida (WILLETT, 1998). Nesse contexto, ressalta-se que a qualidade de vida é um estado que permite ao indivíduo continuar a viver confortavelmente segundo os seus padrões, de modo a manter o seu equilíbrio fisiológico, psicológico e social no cuidado de vida diário. Um estilo de vida saudável se encontra ligado a uma boa qualidade de vida (FONSECA et al. 1999). 33 3 MÉTODO Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica que buscou no banco de dados da biblioteca virtual BIREME informações referente ao tema Diabetes Mellitus tipo 2 nos ano de 1997 a 2007. Almeida (1992) define revisão bibliográfica como levantamento, seleção e fichamento de documentos, tendo por objetivos: acompanhar a evolução de um assunto, atualizar conhecimentos e conhecer as contribuições teóricas culturais e científicas que tenham sido publicadas sobre o tema. A revisão literária permite uma íntima relação com o tema de interesse, indagando, buscando informações através de um levantamento realizado em base de dados em português e estrangeiro, com o objetivo de detectar o que existe descrito, seja consensual ou polêmico na literatura. Foram inclusos na pesquisa 196 artigos referentes ao Diabetes Mellitus tipo 2, identificados na BIREME, de 1997 a 2007. A BIREME, que é um Centro Especializado da Organização Pan-Americana da Saúde, estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com Ministério de Saúde, Ministério da Educação, Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo, que oferece artigos científicos da base de dados do Medline, LILACS, Wholis, BBO, AdoLec, BDENF, dentre outras. Para esta etapa da pesquisa não foi utilizado nenhum critério para exclusão, sendo todos os artigos inseridos no banco de dados construído pelos graduandos do 8° período do curso de enfermagem da UNIVALE. Para iniciar a busca nas fontes de dados utilizou-se no campo de pesquisa a palavra Diabetes Mellitus tipo 2. O desenvolvimento teve exeqüibilidade após leitura exploratória dos resumos de 196 artigos científicos da BIREME, encontrados no ano de 1997 a 2007. Selecionou-se de acordo com o objetivo proposto. os artigos da língua portuguesa dos que se encontravam em outra língua. Destes, 88 encontravam-se em português, e foram utilizados para a realização da pesquisa, os 108 que estavam em outro idioma não se adequava ao objetivo proposto, foram excluídos. Aqueles artigos separados para o estudo que puderam ser lidos foram inseridos em planilhas do Microsoft Excel, por título, ano, autor, descritores e área, 34 possibilitando assim melhor compreensão, identificação e análise, sendo utilizados também para a construção do conteúdo bibliográfico. Alguns, porém, não puderam ser lidos visto que a biblioteca virtual não dispunha dos textos completos desses artigos, mas os mesmos foram inseridos no estudo uma vez que os resumos destes permitiam a compreensão do assunto. Para analise das informações encontradas na literatura realizou-se descrição das contribuições científicas de diversos autores e para discussão sobre a relevância desta pesquisa utilizou-se o demonstrativo de gráficos de acordo com os descritores, ano de publicação, área de interesse pelo assunto. 35 3.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO 14 13 12 12 12 10 10 QUANTIDADE DE ARTIGOS 9 8 7 7 6 6 5 4 4 2 0 0 1 ANO DE PUBLICAÇÃO ano 1997 ano 1998 ano 1999 ano 2000 ano 2001 ano 2003 ano 2004 ano 2005 ano 2006 ano 2007 ano 2002 Gráfico 1- Revisão da literatura na BIREME, em relação aos artigos referentes ao Diabetes Mellitus tipo 2 por ano de publicação Fonte: Dados retirados da pesquisa realizada na biblioteca virtual BIREME O gráfico 1 demonstra a pesquisa realizada na BIREME, no período de 1997 a 2007, como objetivo de verificar a quantidade de artigos encontrados em cada ano. Identificou-se que os anos de maiores destaques dentro do tema proposto foram os ano: 2002 com doze artigos, 2004 com nove artigos, 2005 com treze artigos, 2006 com dez artigos e 2007 com doze artigos. A partir dessa informação pode-se inferir que a crescente publicação sobre o assunto está relacionada ao inicio do século XXI, que foi marcado pela “explosão” da globalização, que trouxe a Internet como veículo de comunicação em massa e armazenagem de informações, levando diversas áreas a publicar matérias acerca do Diabetes Mellitus tipo 2 que contribuem para o aprimoramento dos conhecimentos sobre essa enfermidade bem como do tratamento eficiente, transformando a qualidade de vida e a saúde do diabético em uma realidade cada vez mais palpável. 36 Sabbatini (2000) destaca que a partir do ano 2000, século XXI, o governo brasileiro, no Dia Mundial do Diabetes, divulgou suas metas para o tratamento e controle da doença, aumentando assim a expectativa de vida. Afirma ainda que cinco milhões de brasileiros – quase 8% da população entre 30 e 69 anos - têm diabetes e a previsão é de que, em 2010, os diabéticos somarão 11 milhões. Deste modo foi na virada do século que o Ministério da Saúde anunciou a pretensão de reestruturar e ampliar o atendimento aos portadores da doença na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), para melhor diagnóstico e para que o paciente seja atendido mais próximo de sua casa. A medida, que inclui o Programa Saúde da Família, visa controlar o número de casos da doença e reduzir as taxas de mortalidade. 37 60 57 50 40 NÚM EROS DE 30 ARTIGOS 20 16 7 10 5 0 1 DESCRITORES Aspectos Fisiológico Qualidade de Vida Fatores Emocionais Excluidos Gráfico 2- Revisão da literatura na BIREME, em relação aos descritores selecionados para a pesquisa no período de 1997 a 2007 Fonte: Dados retirados da pesquisa realizada na biblioteca virtual BIREME Entre os artigos selecionados para a pesquisa, foi realizada uma nova análise do material organizado a fim de categorizá-los por descritores. O gráfico 2 demonstra que, dos 88 artigos utilizados para o estudo, 57 artigos estavam relacionados aos aspectos fisiológicos no diabético, 16 à qualidade de vida no diabético, 7 às alterações emocionais do diabético e 5 artigos não se evidenciaram as variáveis selecionadas e foram direcionados para uma planilha de exclusão, porém não excluídos da pesquisa, considerando a relevância dos temas e, portanto, serão discutidos no contexto do trabalho. Pode-se observar, a partir da leitura dos resumos, que o descritor aspectos fisiológicos que possui maior número de pesquisas publicadas, discorre acerca da fisiopatologia do diabetes tipo 2, das complicações, sinais e sintomas e em sua maioria do tratamento que tem cada vez mais avançado desde o início do século XXI. Observou-se também que os autores têm se preocupado com a qualidade de vida desse portador de diabetes, uma vez que o modo de vida esta diretamente ligado a sensibilização do indivíduo que possibilita um melhor controle da doença. Ainda dentre os descritores aparece também em proporção significativa os artigos 38 sobre os aspectos emocionais. Renna (2003) acrescenta o domínio dos padrões espiritual e social na busca da qualidade de vida e percebe que entre eles existe uma estreita relação a partir da interação interpessoal e espiritual na busca da forma de equilíbrio: a paz, o amor, a segurança e a necessidade de sentir útil. Esses padrões podem resgatar segurança e uma melhoria na qualidade de vida, quando satisfeitos. Quando não atendidas promovem o desequilibro da mente e, conseqüentemente, favorecem o aparecimento das alterações do estado emocional. 39 60 53 50 40 NÚMEROS DE 30 ARTIGOS 20 12 7 10 5 3 3 2 0 1 ÁREAS Medicina Odontologia Enfermagem Psicologia Nutrição Educação Física Farmácia Gráfico 3- Revisão da literatura na BIREME, no período de 1997 a 2007 em relação às áreas de pesquisa relacionada ao Diabetes Mellitus tipo 2 Fonte: Dados retirados da pesquisa realizada na biblioteca virtual BIREME Pode se distinguir no gráfico 3, a partir da análise realizada, que a área de evidência dessa pesquisa foi a medicina e suas especializações, uma vez que possui um papel singular no acolhimento dos diabéticos, sendo os mesmos importantes no diagnóstico e na busca do tratamento adequado para cada tipo de paciente portador da doença em estudo. Ainda nesse gráfico, observa-se que a enfermagem tem posição de destaque em relação a outras áreas que apareceram durante a análise dessa pesquisa. A enfermagem tem um papel importante na busca ativa e no acolhimento do paciente diabético, é uma área que tem promovido atividades de educação em saúde, visando à promoção e prevenção de complicações que acomete o indivíduo com Diabetes Mellitus. Dentro das áreas de maior relevância ressalta-se ainda que a nutrição contribui dando ênfase na importância de uma dieta balanceada, rica em alimentos com baixo teor glicêmico e calórico e que é de fundamental importância a presença do nutricionista no acompanhamento do tratamento, ensinando ao paciente novos comportamentos e atitudes de estilo de vida. A restrição calórica e perda de peso moderada demonstram melhorar o controle do diabetes dando assistência e 40 orientação sobre a melhoria dos hábitos alimentares, respeitando suas preferências e condições econômicas. A terapia nutricional consiste em baixar a glicemia, alcançar ótimos níveis de lipídeos, fornecer calorias apropriadas, prevenir, retardar ou tratar complicações ligadas à nutrição, melhorar a saúde, individualizar a oferta de nutrientes e equilibrar a ingestão alimentar. O tratamento básico e o controle da doença do diabetes tipo 2 consiste, primordialmente, de uma dieta equilibrada. Outra área que demonstrou interesse sobre o tema foi a farmácia uma vez que a mesma realiza o acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes diabéticos tipo 2 quando não consegue controlar a doença com auxilio de dietas e exercícios físicos. Estes identificam e avaliam os problemas relacionados a medicamentos, onde se vê uma grande carência da presença do profissional farmacêutico orientando quanto ao uso adicional do medicamento, complicações, controle da doença, interações medicamentosas e alimentares, visando melhoras e maior sobrevida. A partir da pesquisa observamos também o interesse por parte da odontologia na escrita sobre o Diabetes Mellitus tipo 2, uma vez que os indivíduos portadores de diabetes têm uma maior perda de elementos dentários, quando comparados com indivíduos que não apresentam a doença. Neste sentido fica evidente a participação de odontólogos no acompanhamento do portador desta doença, proporcionando aos mesmos uma melhor expectativa de vida. A psicologia é outra área que teve grande importância dentro da pesquisa, preocupando-se também em dissertar a cerca do tema proposto, uma vez que o paciente diabético passa por transtornos emocionais, e ao receber o diagnóstico de uma doença crônica, e que, em alguns casos, ainda não há perspectiva de cura, o indivíduo passa por um turbilhão de emoções que necessitam serem entendidas e trabalhadas, e neste sentido é extremamente importante o acompanhamento psicológico e novos trabalhos sobre o tema proposto na busca da auto estima desse paciente. A educação física é outra área que tem se preocupado com a qualidade de vida do diabético publicando artigos a cerca da importância do exercício físico regular. Segundo Araújo (2000) o exercício traz efeitos positivos, por meio da redução da concentração de glicose no sangue, melhora da sensibilidade à ação da insulina 41 e fortalecimento do coração além de ajudar a reduzir os níveis de colesterol e triglicérides, diminui a inflamação das artérias, auxilia na perda de peso e mantêm os vasos sanguíneos abertos e flexíveis. Em comparação aos indivíduos sedentários, aqueles que se exercitam regularmente apresentam um risco 45% menor de desenvolver complicações. Pode-se perceber através deste gráfico que é necessário a participação de uma equipe multidisciplinar no acompanhamento do diabético, e que os profissionais, em especial, da área de saúde, possam esta atentos para a execução de ações concretas junto a estes pacientes, tendo em vista o afastamento dos fatores de risco que favorecem o aparecimento da doença, assim como adoção de medidas que possibilitem a minimização das complicações decorrentes desta enfermidade. 42 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A incidência do Diabetes Mellitus do tipo 2 é crescente em nosso meio, e resulta da interação entre predisposição genética e fatores de risco ambientais e comportamentais. Ainda que a base genética do Diabetes Mellitus do tipo 2 não tenha sido identificada, há uma forte tendência a considerar que os fatores de risco modificáveis, como a obesidade e o sedentarismo sejam os determinantes não genéticos dessa enfermidade. Esta revisão possibilitou identificar a relevância dessa pesquisa, no que diz respeito às alterações do diabético tipo 2 como: aspecto fisiológico, emocional, assim como a qualidade de vida e a manutenção de relações saudáveis entre o paciente diabético, a família e a sociedade. Diante da pesquisa, pode-se ainda verificar que os mesmo vivenciam mudanças biológicas associadas a fatores psicológicos e sociais. Neste sentido pode-se perceber que todos os cuidados que o paciente diabético deve ter em relação à doença deve estar relacionado à melhora de alguns hábitos necessários para mudanças essenciais no seu estilo de vida, que sem dúvida irão refletir beneficamente na qualidade de vida dessas pessoas. Os diversos artigos utilizados para a construção desse estudo científico são unânimes em mostrar a importância de um programa de exercício físico, seguido de um tratamento não farmacológico para auxiliar no controle do Diabetes Mellitus tipo 2, aliado a uma dieta adequada e a terapia medicamentosa, se necessário. Ao concluir este estudo pode-se perceber que as pesquisas relacionadas ao Diabetes abordam em sua maioria, aspectos de alterações fisiológicas sugerindo a necessidade de novas pesquisas que busquem conhecer a relação entre o diabético e os aspectos emocionais e sua interação com a qualidade de vida. Ainda, através da revisão, observou-se que muitos profissionais têm se preocupado com a busca do bem estar do diabético, tendo como destaque a enfermagem, uma vez que estes profissionais estão sempre em contato com esta realidade, buscando, por meio do processo de comunicação, uma abordagem interdisciplinar que permita a esses pacientes reduzirem o desconforto dessa doença, quando controlada adequadamente. 43 Diante do exposto pode-se constatar a evidência de que a educação do diabético é parte fundamental de seu tratamento. O reconhecimento deste fato se deve à compreensão de que o portador dessa doença deve cuidar de si durante todo tempo, porém os profissionais de saúde também devem estar envolvidos no seu tratamento contribuindo na divulgação, alertando a população que o Diabetes Mellitus 2 pode ser controlado e até evitado, desde que com alguma disciplina se evite os fatores que levam a contraí-lo. 44 REFERÊNCIAS ADA (American Diabetes Association). 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