A SEMÂNTICA DO TEMPO PRESENTE Caroline Soares da Silva (UFF) [email protected] INTRODUÇÃO A proposta deste estudo é investigar a função do tempo presente (modo indicativo) e seu sentido, a partir da seleção e organização de manchetes de jornais e revistas on-line que informam sobre fatos passados recentes e que, aparentemente, não correspondem ao presente histórico. O presente do indicativo é normalmente utilizado para abordar assuntos no momento em que falamos, para fazer previsões sobre o futuro, indicar ações habituais, ou ainda para atribuir mais vivacidade e dinâmica aos fatos passados. A Internet com as suas novas ferramentas e tecnologia provocou diversas transformações no modo de abordar a notícia. Houve uma mudança na rotina jornalística da produção de informação, já que os acontecimentos são flagrados e divulgados quase que instantaneamente. O resultado é um produto jornalístico que busca empregar uma linguagem em tempo real. Tomando como base a conceituação dos tempos verbais em algumas gramáticas normativas e a visão tradicional acerca do conceito de tempo e aspecto verbal, pretende-se definir e compreender este uso do verbo e sua relevância e contribuição para os estudos da linguagem. Os manuais de gramática tradicional apenas apresentam algumas situações em que o presente ocorre, mas não discutem as suas funções discursivas. A perspectiva deste trabalho é de base funcionalista norte-americana, e, como tal, busca-se explicação para o fenômeno em estudo na teoria da polissemia, nos princípios da inferência sugerida, da subjetificação e da intersubjetificação como mecanismos propostos por Traugott e Dasher (2005) para explicar as transformações de sentido relacionadas a uma convenção do próprio discurso. O funcionalismo entende que todo elemento lingüístico exerce uma função dentro do discurso, que depende de sua relação com outros elementos, e sua variação está relacionada à intenção dos integrantes na interação. Assim o sistema gramatical de uma língua deve atender diretamente às necessidades comunicativas do discurso. A investigação será feita por meio da análise de manchetes on-line dos jornais O Extra, Jornal do Brasil e O Globo e das revistas Carta Capital e Veja. A partir da coleta de dados e observação do uso do tempo presente para noticiar fatos passados recentes, pesquisaremos o universo em que aparecem, os argumentos que são recrutados pelo verbo: sujeito e complementos, a linguagem midiática adotada e o perfil dos seus leitores. A pesquisa bibliográfica das gramáticas normativas e descritivas e dos princípios do funcionalimo norte-americano será a fundamentação para a descrição e explicação do fenômeno. Os primeiros resultados obtidos nos mostram que estas manchetes são compostas por sujeitos não individualizados, alguns abstratos, e manchetes em que o sujeito não é identificado, o que nos faz pensar em duas categorias para análise. As editorias em que mais notamos o uso deste tempo presente são as que noticiam fatos cotidianos da cidade, do país e do mundo, e as que menos o utilizam são as editorias de ciência e política. Como estes acontecimentos ocorreram há poucos minutos, o uso do tempo presente parece criar uma atmosfera de realidade instantânea. 1. O tempo presente e suas definições O Dicionário de Lingüística e Gramática (Câmara Junior, 2009: 248) informa que o presente é forma verbal que situa o processo no momento em que se fala. “Opõese ao pretérito e ao futuro, mas a oposição entre presente e futuro pode sofrer neutralização, estendendo-se o presente para fatos futuros: „o que há primordialmente é uma dicotomia entre presente e passado‟ (...) Também se emprega o presente para narrar fatos do passado como um recurso de estilística, que torna mais viva a narrativa (presente narrativo ou histórico); (...) O uso geral e fundamental do presente em português é para: a) exprimir um fato permanente (ex.: a cidade de Londres fica na GrãBretanha); b) um fato em que se dá de maneira habitual (ex.: levanto-me cedo), mas com uma indicação de presente em relação ao momento em que se fala, e com uma oposição com o pretérito imperfeito, que indica um fato permanente ou habitual no passado.” Segundo Mattoso Câmara (2006: 97), “esse estudo semântico referente ao verbo português é sumamente complexo. É talvez onde melhor se evidencie a incapacidade dos métodos da gramática tradicional para fazer justiça a uma interpretação adequada do sistema gramatical português”. Mattoso explica que a complexidade para a interpretação do morfema flexional decorre, em primeiro lugar, da cumulação das noções de tempo verbal e de modo: “Aquele se refere ao momento da ocorrência do processo, visto do momento da comunicação. Este a um julgamento implícito do falante a respeito da natureza, subjetiva ou não, da comunicação que faz”. De acordo com a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (2008), as categorias gramaticais de pessoa e tempo – por tomarem o enunciador e o momento da enunciação como referência – se dizem categorias dêiticas (acessíveis e identificadas no discurso e a partir do contexto compartilhado pelos interlocutores). “A representação do tempo como categoria da linguagem verbal é parte dessa atividade discursiva, que tem no momento da enunciação (ME) seu ponto de referência principal”. O momento da enunciação é o marco temporal do falante, e os fatos e ideias podem ser descritos em época simultânea, anterior ou posterior a este momento. A Gramática define a época anterior como Passado, a posterior como Futuro, e tudo o que o falante não precisa, não quer ou não pode situar em uma dessas épocas é representado pelo Tempo Presente. Há três variáveis das relações de tempo: a) o momento da enunciação (ME), isto é, a ocasião em que se dá o ato de fala ou escrita, b) o ponto de referência (PR), isto é, cada uma das etapas (Presente, Passado, Futuro) nas quais se divide a linha do tempo e que possibilita os deslocamentos mentais do enunciador e c) o intervalo de tempo (IT), ou seja, o segmento da linha do tempo representado como anterior, contemporâneo ou posterior ao PR. É neste intervalo de tempo que situamos os fatos expressos pelos verbos. O Presente do Indicativo é definido como aquele que representa o fato não concluído, situando-o num intervalo de tempo do qual faz parte o próprio momento da enunciação. Todos os exemplos apresentados indicam o Presente como o tempo que expressa fatos de existência limitada, situações e propriedades permanentes ou empregado com o mesmo valor do Futuro do Presente. Celso Cunha e Lindley Cintra (2001: 448-450), na Nova Gramática do Português Contemporâneo, definem que o Presente do Indicativo é empregado: 1) para enunciar um fato atual, que ocorre no momento em que se fala (Presente Momentâneo), 2) para indicar ações e estados permanentes ou assim considerados (Presente Durativo), 3) para expressar uma ação habitual ou uma faculdade do sujeito (Presente Habitual ou Freqüentativo), 4) para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (Presente Histórico ou Narrativo) e 5) para marcar um fato futuro, mas próximo. Neste caso, o tempo que mais se aproxima do analisado nas manchetes é o Presente Histórico, contudo ele é empregado quando nos imaginamos no passado, visualizando os fatos que descrevemos ou narramos. Seu valor expressivo é marcado pelo uso acidental em contextos organizados com formas normais do pretérito para transmitir fatos e acontecimentos históricos. Então, o uso do Presente em manchetes de jornais e revistas, relatando fatos ocorridos no passado próximo, corresponde ao uso do Presente Histórico preconizado nas gramáticas? Ou este tipo de emprego do Presente apresenta uma mudança lingüística motivada pelo discurso jornalístico interativo? Mário Perini (2009, p. 253), em sua Gramática descritiva do português, discute a abordagem insuficiente da nomenclatura tradicional quanto ao tempo, aspecto e modo, que não distingue o lado formal do lado semântico do fenômeno. Um dos exemplos de discrepância entre forma e significado mencionado pelo autor diz respeito ao tempo presente, que nem sempre está relacionado a um fato que ocorre no momento presente. Perini faz uma análise dessas categorias diferenciando o tempo verbal (categoria morfológica) do tempo semântico (categoria de significação). Para ele, “o presente do indicativo é a forma verbal mais versátil do ponto de vista da referência temporal” (2009, p. 254). Ainda na mesma página, há uma observação interessante sobre o tempo semântico que não corresponde ao tempo cronológico. Este tempo seria uma categoria dêitica, já que a referência ao tempo de uma frase está subordinada à situação de enunciação. A relação com o tempo cronológico aqui é extralingüística. O exemplo dado foi a sentença Chegarei de avião que remete a um tempo posterior ao da frase enunciada. No caso do tempo presente nas manchetes, o valor semântico seria anterior ao momento da divulgação do fato. Aparentemente, em nenhuma das noções de tempo exemplificada pelas gramáticas normativas, encontrou-se a forma do Presente empregada nas manchetes dos jornais e revistas on-line. 2. O Funcionalimo Linguístico Diferente das correntes linguísticas formais como o estruturalismo e o gerativismo, o funcionalismo parte de uma análise baseada no discurso e vai buscar explicar as regularidades da língua a partir das condições discursivas envolvidas no uso interativo da comunicação. Neste contexto, a fala desempenha um papel importante, já que a interferência do falante e do ouvinte na criação individual das frases afeta a estrutura formal da língua. A língua não é mais considerada um conhecimento autônomo, independente, mas está diretamente relacionada ao comportamento social do falante, por isso os fenômenos externos rejeitados pelas abordagens formais serão incorporados à análise funcionalista, assim como a semântica e a pragmática. Os primeiros estudos nesta área foram elaborados pelos membros da Escola de Praga, formada no Círculo Lingüístico de Praga. Os trabalhos de Nikolj Trubetzkoy e Roman Jakobson estabelecem as bases dos fundamentos teóricos do funcionalismo, o desenvolvimento da fonologia e o conceito de marcação na morfologia são seus destaques. A visão funcional é ampliada para o estudo da sentença, o modo de organização das palavras em uma frase associado ao tipo de informação vinculada, conhecida ou nova, é o foco desses lingüistas. A estrutura sintática é motivada pelo contexto discursivo, pelo grau de importância dos elementos dispostos na frase, pela intenção comunicativa do falante. A língua não pode estar desvinculada de sua função comunicativa, por isso discurso e gramática estão relacionadas à sintaxe. A separação que Saussure faz entre língua e fala é contestada pelos teóricos funcionalistas, para eles o uso individual, a fala, se impõe ao sistema que se adapta às necessidades do usuário. A iconicidade como uma questão ligada à forma e função da língua ganha destaque nos estudos norte-americanos. A relação entre conceito e representação lingüística questiona a arbitrariedade do signo postulada pelo estruturalismo. A iconicidade é estudada a partir de três subprincípios: quantidade da informação, grau de integração entre os elementos da expressão e seu conteúdo e ordenação linear da seqüência dos acontecimentos. Há estudos de gramática constituída em contextos específicos discursivos, como a concepção de gramática emergente de Paul Hopper. Nesta perspectiva, as regras gramaticais são modificadas pelo uso, logo a teoria funcionalista volta seu olhar para a fala como ponto de partida. 3. A natureza da polissemia Para Traugott & Dasher (2005, p. 11-17), a mudança semântica só pode ser estudada por meio de uma teoria da polissemia, ponto de partida para os processos de inferência sugerida. A inferência sugerida se utiliza de recursos da língua, da cultura que são empregados para negociar novos sentidos. A teoria adotada por eles considera que famílias de significados relacionados podem ser identificadas. Os sentidos mais antigos podem coexistir com os novos, como ocorre com o sentido do presente analisados nas manchetes, recrutado com valor de passado recente para descrever uma situação concluída, e que convive com os outros sentidos mais prototípicos do verbo. Os autores explicam que há três níveis de sentido que são relevantes para um lexema: 1) o sentido codificado, referencial, consensual, prototípico relacionados a uma convenção da linguagem, 2) o sentido de elocução-tipo referente à cristalização de inferências sugeridas generalizadas e 3) sentido de elocução-token são inferências sugeridas ligadas ao conhecimento de mundo. Todo o usuário internaliza o sistema ou gramática e interfere na forma da linguagem com suas estratégias de produção. Na relação entre falante/escritor e destinatário/leitor, este último tem participação ativa, já que constrói inferências e as explora como o seu interlocutor em um processo circular e contínuo de comunicação. 4. Princípio da Inferência sugerida A proposta de Traugott e Dasher (2005: 34-40) da Teoria da Inferência Sugerida para a Mudança Semântica (TISMS) apresenta casos de mudança semântica regulares que podem ser convencionalizados e reanalisados como polissemias no contexto pragmático. Em outras palavras, uma dada situação comunicativa motivaria novos significados relacionados ao significado anterior. A forma da gramática é influenciada pelo processo comunicativo e pelas relações entre o falante e o ouvinte nas negociações de referenciação e significado. Esse princípio considera a pragmática como a motivadora da mudança semântica pela polissemia. Isso quer dizer que as transformações ocorrem a partir de uma inferência sugerida em um enunciado específico, situado em um contexto específico, que ao final do processo se generaliza. Segundo os autores: historicamente, existe um caminho que vai dos significados codificados, passando pelos significados dos enunciados (inferências sugeridas) e pelos significados pragmaticamente polissêmicos (inferências sugeridas genéricas) até chegar a novos significados codificados semanticamente polissêmicos.” (TRAUGOTT & DASHER, 2005, p. 35) Este novo significado construído na interação estaria sujeito a pressões dos falantes e ouvintes, em razão das negociações de referenciação e significado geral. As alterações de sentido consideram o tipo de situação comunicativa, os participantes e seus papéis sociais, os tipos de crença, modalidades. A pressão estabelecida nestes contextos discursivos leva a uma convencionalização de determinadas formas, à seleção da informatividade do que deve ser noticiado e a uma maneira de organizar as informações que revela uma visão mais subjetiva de uma comunidade lingüística. Os significados são então negociados entre os interlocutores nas práticas comunicativas. 5. Subjetificação e Intersubjetificação Tomando como base Traugott e Dasher (2005. p. 89-99), a definição de subjetificação e intersubjetificação está relacionada à convencionalização de expressões e construções em determinados contextos de uso, criadas pelo falante e seu ponto de vista na relação com o ouvinte. O enunciado torna-se mais expressivo, subjetivo, já que as mudanças no discurso representam a atitude pessoal do falante/escritor, que ao elaborar o texto está atento ao seu destinatário, ao tipo de público e de que forma ele codifica os sentidos. Nas palavras dos autores, “subjetificação como um fator de mudança passou a ser de especial interesse no contexto de discussão da gramaticalização. Contudo, é típico das mudanças semânticas em geral e não está limitada à gramaticalização. Isto também é verdade para a intersubjetificação” (idem: 89-90). No caso das nossas manchetes, a modificação do valor semântico do tempo presente indica uma perspectiva do escritor na configuração da mensagem, uma forma de organização do discurso em tempo real que considera o perfil do seu destinatário e do gênero argumentativo on-line como elementos constitutivos de interação instantânea. O resultado é um envolvimento maior do leitor com os acontecimentos, que parecem ocorrer no momento da leitura. Mas apesar de o verbo estar no presente do indicativo, ele consegue interpretar que o fato apresentado é um passado recente, pois participa da codificação da mensagem. Neste contexto, entende-se subjetificação como um processo em que o falante/escritor evidencia suas crenças e perspectivas no discurso a partir da criação de novos significados, que decorrem das trocas interacionais. Complementando este processo comunicativo está o ouvinte/destinatário, na intersubjetificação a atenção do falante se volta para o seu interlocutor no desenvolvimento dos sentidos, participante ativo das inferências sugeridas. Estas inferências se convencionalizam e codificam novos sentidos. Os autores (idem: 97) consideram que a subjetificação é o principal tipo de mudança semântica e que a intersubjetificação está subordinada a ela, visto que esta não pode ocorrer sem aquela. 6. Análise inicial dos dados O corpus da pesquisa será composto pela seleção de manchetes dos jornais online Jornal do Brasil (JB), O Globo e O Extra e das revistas Carta Capital e Veja. Estes jornais e revistas que têm grande acesso e atingem um número cada vez maior de leitores. O perfil do seu público-alvo é de pessoas que preferem se informar com mais rapidez, onde estiverem, com apenas um toque na tela do computador ou do celular. A grande inovação desse tipo de mídia no ciberespaço está na facilidade de acesso aos conteúdos no momento em que ocorrem, bem como a possibilidade de o leitor interagir por meio da busca e navegação nos sites, e de opinar com críticas e sugestões por email, além dos fóruns de discussão oferecidos exclusivamente pela internet. Marcuschi (2003), em seu texto sobre Gêneros textuais: definição e funcionalidade, apresenta os gêneros textuais como práticas sócio-históricas que “contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia”. Esses gêneros são eventos textuais maleáveis, dinâmicos e plásticos e surgem diante das necessidades e atividades socioculturais e na relação com inovações tecnológicas. Ele explica que na fase da cultura eletrônica, o computador pessoal e a internet possibilitam uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação. Esses gêneros textuais são muito mais caracterizados por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas particularidades linguísticas e estruturais. Analisar as manchetes dos jornais e revistas on-line é buscar entender os seus usos e funções na comunicação atual e os condicionantes sociais, pragmáticos e linguísticos envolvidos em sua constituição. Diante de toda essa tecnologia bastante atrativa ao leitor, foi necessário pesquisar novas características da linguagem para esse novo meio. A abundância de informações na rede e a concorrência entre os diversos sites jornalísticos também exercem uma enorme pressão para que haja inovações na abordagem da notícia, a fim de que o seu conteúdo lingüístico e audiovisual interesse e conquiste os seus usuários. O uso do verbo no presente do indicativo para expressar fatos passados recentes é um indício de um novo emprego semântico para este tempo? Os tempos verbais têm a função de sinalizar a situação comunicativa e o momento em que ocorrem os fatos. Contudo, os conceitos preconizados pelas gramáticas normativas nem sempre contemplam todas as situações e casos que aparecem no discurso, produzidos no meio social. Dividimos as manchetes em dois grupos, no primeiro grupo estão as manchetes com um sujeito agentivo e o predicado com o verbo no presente e o paciente afetado pela ação. O segundo grupo contempla as manchetes com o objeto afetado no início, seguido do seu complemento. Faremos uma análise do sentido dos verbos de acordo com a subclassificação semântica da Gramática de Usos do Português, de Maria Helena Moura Neves. GRUPO I Neste grupo identificamos que os verbos são dinâmicos, ou seja, expressam ações ou atividades que alguém faz ou que algo provoca. São acompanhados por um participante agentivo ou causativo e outro participante afetado. As ações são télicas, concluídas, apesar de serem informadas no presente e com controle por parte do sujeito. São verbos cujo objeto sofre mudança no seu estado e não são preposicionados, portanto objetos diretos. Nas manchetes há verbos que implicam a criação, destruição, alteração física do objeto e mudança interna no objeto. MÍDIA: JORNAL DO BRASIL 1) Editoria País (PA) Polícia prende suspeito de refinar cocaína em apartamento em São Paulo. - 28/07/2011 SP: ladrão rouba capela e perde calça em janela na fuga. - 27/07/2011 Assaltantes explodem caixa eletrônico em Guarulhos. - 26/07/2011 2) Editoria Internacional Combates deixam dezenas de mortos no Iêmen. – 28/07/2011 Rebeldes líbios tomam Al-Ghazaya, cidade perto da Tunísia. – 28/07/2011 MÍDIA: REVISTA CARTA CAPITAL 1) Editoria Internacional Sérvia prende o último fugitivo. - 20/07/2011 2) Editoria Política Escândalo derruba cúpula da polícia. – 18/07/2011 MÍDIA: JORNAL O EXTRA 1) Editoria Mundo Arquiteto cria casa com peças de avião nos Estados Unidos. 02/08/2011 Polícia israelense prende suspeitos de participar de seita poligâmica. 02/08/2011 2) Editoria Notícias Ciclone deixa 35 mil sem luz no Rio Grande do Sul. 02/08/2011 MÍDIA: O GLOBO 1) Editoria Cidades No Maranhão, policiais civis agridem e prendem operário que trabalhava em obra. 20/07/2011 Bandidos assaltam cemitério na Zona Leste de São Paulo. 20/07/2011 SP: Polícia recupera carga de cosméticos avaliada em R$ 450 mil. 20/07/2011 Bandidos armados com submetralhadora invadem mansão no Morumbi, em SP. 20/07/2011 2) Editoria Ciência Pesquisadores localizam submarino alemão afundado na costa de Santa Catarina durante a Segunda Guerra Mundial. - 20/07/2011 Telescópio espacial Hubble encontra quarta lua de Plutão. – 20/07/2011 Paleontólogos descobrem fóssil de crocodilo pré-histórico no Texas. 26/07/2011 3) Editoria Mundo Onda de calor mata 22 e avança para leste dos Estados Unidos. 20/07/2011 GRUPO II Neste grupo estão os verbos dinâmicos que indicam processos, o que acontece. O participante afetado aparece no início da oração. As ações são télicas, concluídas, mas sem controle. Os sujeitos não são identificados, pois alguns objetos são afetados por fenômenos acidentais ou a informação parece estar incompleta ou não foi investigada, provavelmente pela falta de tempo de averiguar os fatos, característica da mídia instantânea. MÍDIA: JORNAL DO BRASIL (JB) 1) Editoria País Parte de prédio em construção desaba em Minas Gerais. - 28/07/2011 Loja pega fogo em Porto Alegre e bombeiros esvaziam prédio. 28/07/2011 Idosa morre em colisão de ambulância com carreta na Rodovia dos Tamoios. - 27/07/2011 2) Editoria Internacional Caminhão cai sobre casa e deixa 3 feridos em Belo Horizonte. 27/07/2011 Cinco policiais morrem em acidente de avião na Colômbia. 27/07/2011 3) Editoria País (PA) Idoso cai de passarela em frente à rodoviária de Porto Alegre. 25/08/2011 MÍDIA: JORNAL O EXTRA 1) Editoria Brasil Operário morre ao cair de andaime em Angra dos Reis. – 02/08/2011 MÍDIA: O GLOBO 1) Editoria Rio Prédios desabam em Barra Mansa, no Sul Fluminense. - 26/07/2011 MÍDIA: REVISTA VEJA 1) Editoria Brasil Homem se afoga na Represa Billings. - 14/08/2011 Adolescente morre e 10 ficam feridos em parque no Rio. – 14/08/2011 CONCLUSÕES INICIAIS A verificação das manchetes revela uma seleção feita pelo escritor/autor que organiza as frases de modo que esteja expresso o conteúdo que ele deseja transmitir. As informações estão distribuídas em uma ordem estabelecida a partir do que é mais relevante na notícia, o que é mais atraente para o leitor. As escolhas dos aspectos lingüísticos estão relacionadas ao fluxo da informação que determina a ordem linear dos sintagmas na oração. O gênero manchete apresenta uma organização das ideias, estrutura sintática e semântica próprias de um texto sintético, enxuto, que tem a função de impressionar o leitor, prender a sua atenção, por isso o seu perfil é estudado na elaboração da notícia. A relação com o destinatário da mensagem constitui a intersubjetificação. Percebemos que nas manchetes do Grupo I, os sujeitos não são individualizados nem especificados, alguns são abstratos como em “Combates deixam dezenas de mortos no Iêmen” (Jornal do Brasil, 28/07/2011) e “Escândalo derruba cúpula da polícia” (Revista Carta Capital, 18/07/2011). Há também manchetes que noticiam fatos causados por fenômenos da natureza como em “Ciclone deixa 35 mil sem luz no Rio Grande do Sul” (Jornal O Extra, 02/08/2011) e “Onda de calor mata 22 e avança para leste dos Estados Unidos” (Jornal O Globo, 20/07/2011). Nas manchetes do Grupo II, em que não há a apresentação do sujeito e os acontecimentos são causados por algum agente, como em “Caminhão cai sobre casa e deixa 3 feridos em Belo Horizonte” - 27/07/2011 (Jornal do Brasil) e “Adolescente morre e 10 ficam feridos em parque no Rio” (Revista Veja) – 14/08/2011, o leitor é instigado a ler o corpo da notícia para saber como o fato ocorreu, já que os agentes responsáveis pela ação não estão expostos. A gramática tradicional com suas regras prescritivas de norma culta não é suficiente para analisar os enunciados dos jornais e revistas. É necessário pesquisar nas gramáticas descritivas e funcionais que lidam com as questões de descrição do funcionamento da língua, em que os papéis temáticos são estudados sob diversos componentes (sintático, semântico e pragmático), bem como a organização dos enunciados e o contexto em que são produzidos. O estudo deste tempo semântico, frequentemente utilizado no discurso jornalístico, contribui para a reflexão e questionamento das abordagens prescritivas que restringem sua definição a aspectos formais, muitas vezes baseados em exemplos artificiais. Partindo das gramáticas descritivas e dos princípios funcionalistas atuais, pretende-se ampliar os conhecimentos disponíveis sobre o tema, e trazer novas discussões a respeito do tempo semântico e sua aplicação em contextos atuais de uso, a partir das necessidades comunicativas dos interlocutores, o que interessa ao funcionalismo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 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