a semântica do tempo presente

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A SEMÂNTICA DO TEMPO PRESENTE
Caroline Soares da Silva (UFF)
[email protected]
INTRODUÇÃO
A proposta deste estudo é investigar a função do tempo presente (modo
indicativo) e seu sentido, a partir da seleção e organização de manchetes de jornais e
revistas on-line que informam sobre fatos passados recentes e que, aparentemente, não
correspondem ao presente histórico. O presente do indicativo é normalmente utilizado
para abordar assuntos no momento em que falamos, para fazer previsões sobre o futuro,
indicar ações habituais, ou ainda para atribuir mais vivacidade e dinâmica aos fatos
passados. A Internet com as suas novas ferramentas e tecnologia provocou diversas
transformações no modo de abordar a notícia. Houve uma mudança na rotina
jornalística da produção de informação, já que os acontecimentos são flagrados e
divulgados quase que instantaneamente. O resultado é um produto jornalístico que
busca empregar uma linguagem em tempo real.
Tomando como base a conceituação dos tempos verbais em algumas
gramáticas normativas e a visão tradicional acerca do conceito de tempo e aspecto
verbal, pretende-se definir e compreender este uso do verbo e sua relevância e
contribuição para os estudos da linguagem. Os manuais de gramática tradicional apenas
apresentam algumas situações em que o presente ocorre, mas não discutem as suas
funções discursivas.
A perspectiva deste trabalho é de base funcionalista norte-americana, e, como
tal, busca-se explicação para o fenômeno em estudo na teoria da polissemia, nos
princípios da inferência sugerida, da subjetificação e da intersubjetificação como
mecanismos propostos por Traugott e Dasher (2005) para explicar as transformações de
sentido relacionadas a uma convenção do próprio discurso.
O funcionalismo entende que todo elemento lingüístico exerce uma função
dentro do discurso, que depende de sua relação com outros elementos, e sua variação
está relacionada à intenção dos integrantes na interação. Assim o sistema gramatical de
uma língua deve atender diretamente às necessidades comunicativas do discurso.
A investigação será feita por meio da análise de manchetes on-line dos jornais
O Extra, Jornal do Brasil e O Globo e das revistas Carta Capital e Veja. A partir da
coleta de dados e observação do uso do tempo presente para noticiar fatos passados
recentes, pesquisaremos o universo em que aparecem, os argumentos que são recrutados
pelo verbo: sujeito e complementos, a linguagem midiática adotada e o perfil dos seus
leitores. A pesquisa bibliográfica das gramáticas normativas e descritivas e dos
princípios do funcionalimo norte-americano será a fundamentação para a descrição e
explicação do fenômeno. Os primeiros resultados obtidos nos mostram que estas
manchetes são compostas por sujeitos não individualizados, alguns abstratos, e
manchetes em que o sujeito não é identificado, o que nos faz pensar em duas categorias
para análise. As editorias em que mais notamos o uso deste tempo presente são as que
noticiam fatos cotidianos da cidade, do país e do mundo, e as que menos o utilizam são
as editorias de ciência e política. Como estes acontecimentos ocorreram há poucos
minutos, o uso do tempo presente parece criar uma atmosfera de realidade instantânea.
1. O tempo presente e suas definições
O Dicionário de Lingüística e Gramática (Câmara Junior, 2009: 248) informa
que o presente é forma verbal que situa o processo no momento em que se fala. “Opõese ao pretérito e ao futuro, mas a oposição entre presente e futuro pode sofrer
neutralização, estendendo-se o presente para fatos futuros: „o que há primordialmente é
uma dicotomia entre presente e passado‟ (...) Também se emprega o presente para narrar
fatos do passado como um recurso de estilística, que torna mais viva a narrativa
(presente narrativo ou histórico); (...) O uso geral e fundamental do presente em
português é para: a) exprimir um fato permanente (ex.: a cidade de Londres fica na GrãBretanha); b) um fato em que se dá de maneira habitual (ex.: levanto-me cedo), mas
com uma indicação de presente em relação ao momento em que se fala, e com uma
oposição com o pretérito imperfeito, que indica um fato permanente ou habitual no
passado.”
Segundo Mattoso Câmara (2006: 97), “esse estudo semântico referente ao
verbo português é sumamente complexo. É talvez onde melhor se evidencie a
incapacidade dos métodos da gramática tradicional para fazer justiça a uma
interpretação adequada do sistema gramatical português”. Mattoso explica que a
complexidade para a interpretação do morfema flexional decorre, em primeiro lugar, da
cumulação das noções de tempo verbal e de modo: “Aquele se refere ao momento da
ocorrência do processo, visto do momento da comunicação. Este a um julgamento
implícito do falante a respeito da natureza, subjetiva ou não, da comunicação que faz”.
De acordo com a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (2008), as
categorias gramaticais de pessoa e tempo – por tomarem o enunciador e o momento da
enunciação como referência – se dizem categorias dêiticas (acessíveis e identificadas no
discurso e a partir do contexto compartilhado pelos interlocutores). “A representação do
tempo como categoria da linguagem verbal é parte dessa atividade discursiva, que tem
no momento da enunciação (ME) seu ponto de referência principal”. O momento da
enunciação é o marco temporal do falante, e os fatos e ideias podem ser descritos em
época simultânea, anterior ou posterior a este momento.
A Gramática define a época anterior como Passado, a posterior como Futuro, e
tudo o que o falante não precisa, não quer ou não pode situar em uma dessas épocas é
representado pelo Tempo Presente. Há três variáveis das relações de tempo: a) o
momento da enunciação (ME), isto é, a ocasião em que se dá o ato de fala ou escrita, b)
o ponto de referência (PR), isto é, cada uma das etapas (Presente, Passado, Futuro) nas
quais se divide a linha do tempo e que possibilita os deslocamentos mentais do
enunciador e c) o intervalo de tempo (IT), ou seja, o segmento da linha do tempo
representado como anterior, contemporâneo ou posterior ao PR. É neste intervalo de
tempo que situamos os fatos expressos pelos verbos. O Presente do Indicativo é
definido como aquele que representa o fato não concluído, situando-o num intervalo de
tempo do qual faz parte o próprio momento da enunciação. Todos os exemplos
apresentados indicam o Presente como o tempo que expressa fatos de existência
limitada, situações e propriedades permanentes ou empregado com o mesmo valor do
Futuro do Presente.
Celso Cunha e Lindley Cintra (2001: 448-450), na Nova Gramática do
Português Contemporâneo, definem que o Presente do Indicativo é empregado: 1) para
enunciar um fato atual, que ocorre no momento em que se fala (Presente Momentâneo),
2) para indicar ações e estados permanentes ou assim considerados (Presente Durativo),
3) para expressar uma ação habitual ou uma faculdade do sujeito (Presente Habitual ou
Freqüentativo), 4) para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (Presente Histórico
ou Narrativo) e 5) para marcar um fato futuro, mas próximo.
Neste caso, o tempo que mais se aproxima do analisado nas manchetes é o
Presente Histórico, contudo ele é empregado quando nos imaginamos no passado,
visualizando os fatos que descrevemos ou narramos. Seu valor expressivo é marcado
pelo uso acidental em contextos organizados com formas normais do pretérito para
transmitir fatos e acontecimentos históricos. Então, o uso do Presente em manchetes de
jornais e revistas, relatando fatos ocorridos no passado próximo, corresponde ao uso do
Presente Histórico preconizado nas gramáticas? Ou este tipo de emprego do Presente
apresenta uma mudança lingüística motivada pelo discurso jornalístico interativo?
Mário Perini (2009, p. 253), em sua Gramática descritiva do português,
discute a abordagem insuficiente da nomenclatura tradicional quanto ao tempo, aspecto
e modo, que não distingue o lado formal do lado semântico do fenômeno. Um dos
exemplos de discrepância entre forma e significado mencionado pelo autor diz respeito
ao tempo presente, que nem sempre está relacionado a um fato que ocorre no momento
presente. Perini faz uma análise dessas categorias diferenciando o tempo verbal
(categoria morfológica) do tempo semântico (categoria de significação). Para ele, “o
presente do indicativo é a forma verbal mais versátil do ponto de vista da referência
temporal” (2009, p. 254). Ainda na mesma página, há uma observação interessante
sobre o tempo semântico que não corresponde ao tempo cronológico. Este tempo seria
uma categoria dêitica, já que a referência ao tempo de uma frase está subordinada à
situação de enunciação. A relação com o tempo cronológico aqui é extralingüística. O
exemplo dado foi a sentença Chegarei de avião que remete a um tempo posterior ao da
frase enunciada. No caso do tempo presente nas manchetes, o valor semântico seria
anterior ao momento da divulgação do fato.
Aparentemente, em nenhuma das noções de tempo exemplificada pelas
gramáticas normativas, encontrou-se a forma do Presente empregada nas manchetes dos
jornais e revistas on-line.
2. O Funcionalimo Linguístico
Diferente das correntes linguísticas formais como o estruturalismo e o
gerativismo, o funcionalismo parte de uma análise baseada no discurso e vai buscar
explicar as regularidades da língua a partir das condições discursivas envolvidas no uso
interativo da comunicação.
Neste contexto, a fala desempenha um papel importante, já que a interferência
do falante e do ouvinte na criação individual das frases afeta a estrutura formal da
língua. A língua não é mais considerada um conhecimento autônomo, independente,
mas está diretamente relacionada ao comportamento social do falante, por isso os
fenômenos externos rejeitados pelas abordagens formais serão incorporados à análise
funcionalista, assim como a semântica e a pragmática.
Os primeiros estudos nesta área foram elaborados pelos membros da Escola de
Praga, formada no Círculo Lingüístico de Praga. Os trabalhos de Nikolj Trubetzkoy e
Roman Jakobson estabelecem as bases dos fundamentos teóricos do funcionalismo, o
desenvolvimento da fonologia e o conceito de marcação na morfologia são seus
destaques.
A visão funcional é ampliada para o estudo da sentença, o modo de
organização das palavras em uma frase associado ao tipo de informação vinculada,
conhecida ou nova, é o foco desses lingüistas. A estrutura sintática é motivada pelo
contexto discursivo, pelo grau de importância dos elementos dispostos na frase, pela
intenção comunicativa do falante. A língua não pode estar desvinculada de sua função
comunicativa, por isso discurso e gramática estão relacionadas à sintaxe.
A separação que Saussure faz entre língua e fala é contestada pelos teóricos
funcionalistas, para eles o uso individual, a fala, se impõe ao sistema que se adapta às
necessidades do usuário.
A iconicidade como uma questão ligada à forma e função da língua ganha
destaque nos estudos norte-americanos. A relação entre conceito e representação
lingüística questiona a arbitrariedade do signo postulada pelo estruturalismo. A
iconicidade é estudada a partir de três subprincípios: quantidade da informação, grau de
integração entre os elementos da expressão e seu conteúdo e ordenação linear da
seqüência dos acontecimentos.
Há estudos de gramática constituída em contextos específicos discursivos,
como a concepção de gramática emergente de Paul Hopper. Nesta perspectiva, as regras
gramaticais são modificadas pelo uso, logo a teoria funcionalista volta seu olhar para a
fala como ponto de partida.
3. A natureza da polissemia
Para Traugott & Dasher (2005, p. 11-17), a mudança semântica só pode ser
estudada por meio de uma teoria da polissemia, ponto de partida para os processos de
inferência sugerida. A inferência sugerida se utiliza de recursos da língua, da cultura
que são empregados para negociar novos sentidos. A teoria adotada por eles considera
que famílias de significados relacionados podem ser identificadas. Os sentidos mais
antigos podem coexistir com os novos, como ocorre com o sentido do presente
analisados nas manchetes, recrutado com valor de passado recente para descrever uma
situação concluída, e que convive com os outros sentidos mais prototípicos do verbo.
Os autores explicam que há três níveis de sentido que são relevantes para um
lexema: 1) o sentido codificado, referencial, consensual, prototípico relacionados a uma
convenção da linguagem, 2) o sentido de elocução-tipo referente à cristalização de
inferências sugeridas generalizadas e 3) sentido de elocução-token são inferências
sugeridas ligadas ao conhecimento de mundo. Todo o usuário internaliza o sistema ou
gramática e interfere na forma da linguagem com suas estratégias de produção.
Na relação entre falante/escritor e destinatário/leitor, este último tem
participação ativa, já que constrói inferências e as explora como o seu interlocutor em
um processo circular e contínuo de comunicação.
4. Princípio da Inferência sugerida
A proposta de Traugott e Dasher (2005: 34-40) da Teoria da Inferência
Sugerida para a Mudança Semântica (TISMS) apresenta casos de mudança semântica
regulares que podem ser convencionalizados e reanalisados como polissemias no
contexto pragmático. Em outras palavras, uma dada situação comunicativa motivaria
novos significados relacionados ao significado anterior. A forma da gramática é
influenciada pelo processo comunicativo e pelas relações entre o falante e o ouvinte nas
negociações de referenciação e significado.
Esse princípio considera a pragmática como a motivadora da mudança
semântica pela polissemia. Isso quer dizer que as transformações ocorrem a partir de
uma inferência sugerida em um enunciado específico, situado em um contexto
específico, que ao final do processo se generaliza. Segundo os autores:
historicamente, existe um caminho que vai dos significados
codificados, passando pelos significados dos enunciados (inferências
sugeridas) e pelos significados pragmaticamente polissêmicos
(inferências sugeridas genéricas) até chegar a novos significados
codificados semanticamente polissêmicos.” (TRAUGOTT &
DASHER, 2005, p. 35)
Este novo significado construído na interação estaria sujeito a pressões dos
falantes e ouvintes, em razão das negociações de referenciação e significado geral. As
alterações de sentido consideram o tipo de situação comunicativa, os participantes e
seus papéis sociais, os tipos de crença, modalidades.
A pressão estabelecida nestes contextos discursivos leva a uma
convencionalização de determinadas formas, à seleção da informatividade do que deve
ser noticiado e a uma maneira de organizar as informações que revela uma visão mais
subjetiva de uma comunidade lingüística. Os significados são então negociados entre os
interlocutores nas práticas comunicativas.
5. Subjetificação e Intersubjetificação
Tomando como base Traugott e Dasher (2005. p. 89-99), a definição de
subjetificação e intersubjetificação está relacionada à convencionalização de expressões
e construções em determinados contextos de uso, criadas pelo falante e seu ponto de
vista na relação com o ouvinte. O enunciado torna-se mais expressivo, subjetivo, já que
as mudanças no discurso representam a atitude pessoal do falante/escritor, que ao
elaborar o texto está atento ao seu destinatário, ao tipo de público e de que forma ele
codifica os sentidos. Nas palavras dos autores, “subjetificação como um fator de
mudança passou a ser de especial interesse no contexto de discussão da
gramaticalização. Contudo, é típico das mudanças semânticas em geral e não está
limitada à gramaticalização. Isto também é verdade para a intersubjetificação” (idem:
89-90). No caso das nossas manchetes, a modificação do valor semântico do tempo
presente indica uma perspectiva do escritor na configuração da mensagem, uma forma
de organização do discurso em tempo real que considera o perfil do seu destinatário e
do gênero argumentativo on-line como elementos constitutivos de interação instantânea.
O resultado é um envolvimento maior do leitor com os acontecimentos, que parecem
ocorrer no momento da leitura. Mas apesar de o verbo estar no presente do indicativo,
ele consegue interpretar que o fato apresentado é um passado recente, pois participa da
codificação da mensagem.
Neste contexto, entende-se subjetificação como um processo em que o
falante/escritor evidencia suas crenças e perspectivas no discurso a partir da criação de
novos significados, que decorrem das trocas interacionais. Complementando este
processo comunicativo está o ouvinte/destinatário, na intersubjetificação a atenção do
falante se volta para o seu interlocutor no desenvolvimento dos sentidos, participante
ativo das inferências sugeridas. Estas inferências se convencionalizam e codificam
novos sentidos.
Os autores (idem: 97) consideram que a subjetificação é o principal tipo de
mudança semântica e que a intersubjetificação está subordinada a ela, visto que esta não
pode ocorrer sem aquela.
6. Análise inicial dos dados
O corpus da pesquisa será composto pela seleção de manchetes dos jornais
online Jornal do Brasil (JB), O Globo e O Extra e das revistas Carta Capital e Veja.
Estes jornais e revistas que têm grande acesso e atingem um número cada vez maior de
leitores. O perfil do seu público-alvo é de pessoas que preferem se informar com mais
rapidez, onde estiverem, com apenas um toque na tela do computador ou do celular. A
grande inovação desse tipo de mídia no ciberespaço está na facilidade de acesso aos
conteúdos no momento em que ocorrem, bem como a possibilidade de o leitor interagir
por meio da busca e navegação nos sites, e de opinar com críticas e sugestões por email, além dos fóruns de discussão oferecidos exclusivamente pela internet.
Marcuschi (2003), em seu texto sobre Gêneros textuais: definição e
funcionalidade, apresenta os gêneros textuais como práticas sócio-históricas que
“contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia”. Esses
gêneros são eventos textuais maleáveis, dinâmicos e plásticos e surgem diante das
necessidades e atividades socioculturais e na relação com inovações tecnológicas. Ele
explica que na fase da cultura eletrônica, o computador pessoal e a internet possibilitam
uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação. Esses gêneros textuais
são muito mais caracterizados por suas funções comunicativas, cognitivas e
institucionais do que por suas particularidades linguísticas e estruturais. Analisar as
manchetes dos jornais e revistas on-line é buscar entender os seus usos e funções na
comunicação atual e os condicionantes sociais, pragmáticos e linguísticos envolvidos
em sua constituição.
Diante de toda essa tecnologia bastante atrativa ao leitor, foi necessário
pesquisar novas características da linguagem para esse novo meio. A abundância de
informações na rede e a concorrência entre os diversos sites jornalísticos também
exercem uma enorme pressão para que haja inovações na abordagem da notícia, a fim
de que o seu conteúdo lingüístico e audiovisual interesse e conquiste os seus usuários.
O uso do verbo no presente do indicativo para expressar fatos passados
recentes é um indício de um novo emprego semântico para este tempo? Os tempos
verbais têm a função de sinalizar a situação comunicativa e o momento em que ocorrem
os fatos. Contudo, os conceitos preconizados pelas gramáticas normativas nem sempre
contemplam todas as situações e casos que aparecem no discurso, produzidos no meio
social. Dividimos as manchetes em dois grupos, no primeiro grupo estão as manchetes
com um sujeito agentivo e o predicado com o verbo no presente e o paciente afetado
pela ação. O segundo grupo contempla as manchetes com o objeto afetado no início,
seguido do seu complemento. Faremos uma análise do sentido dos verbos de acordo
com a subclassificação semântica da Gramática de Usos do Português, de Maria Helena
Moura Neves.
GRUPO I
Neste grupo identificamos que os verbos são dinâmicos, ou seja, expressam
ações ou atividades que alguém faz ou que algo provoca. São acompanhados por um
participante agentivo ou causativo e outro participante afetado. As ações são télicas,
concluídas, apesar de serem informadas no presente e com controle por parte do sujeito.
São verbos cujo objeto sofre mudança no seu estado e não são preposicionados,
portanto objetos diretos. Nas manchetes há verbos que implicam a criação, destruição,
alteração física do objeto e mudança interna no objeto.
MÍDIA: JORNAL DO BRASIL
1) Editoria País (PA)
Polícia prende suspeito de refinar cocaína em apartamento em São
Paulo. - 28/07/2011
SP: ladrão rouba capela e perde calça em janela na fuga. - 27/07/2011
Assaltantes explodem caixa eletrônico em Guarulhos. - 26/07/2011
2) Editoria Internacional
Combates deixam dezenas de mortos no Iêmen. – 28/07/2011
Rebeldes líbios tomam Al-Ghazaya, cidade perto da Tunísia. –
28/07/2011
MÍDIA: REVISTA CARTA CAPITAL
1) Editoria Internacional
Sérvia prende o último fugitivo. - 20/07/2011
2) Editoria Política
Escândalo derruba cúpula da polícia. – 18/07/2011
MÍDIA: JORNAL O EXTRA
1) Editoria Mundo
Arquiteto cria casa com peças de avião nos Estados Unidos.
02/08/2011
Polícia israelense prende suspeitos de participar de seita poligâmica.
02/08/2011
2) Editoria Notícias
Ciclone deixa 35 mil sem luz no Rio Grande do Sul. 02/08/2011
MÍDIA: O GLOBO
1) Editoria Cidades
No Maranhão, policiais civis agridem e prendem operário que
trabalhava em obra. 20/07/2011
Bandidos assaltam cemitério na Zona Leste de São Paulo. 20/07/2011
SP: Polícia recupera carga de cosméticos avaliada em R$ 450 mil.
20/07/2011
Bandidos armados com submetralhadora invadem mansão no
Morumbi, em SP. 20/07/2011
2) Editoria Ciência
Pesquisadores localizam submarino alemão afundado na costa de
Santa Catarina durante a Segunda Guerra Mundial. - 20/07/2011
Telescópio espacial Hubble encontra quarta lua de Plutão. –
20/07/2011
Paleontólogos descobrem fóssil de crocodilo pré-histórico no Texas. 26/07/2011
3) Editoria Mundo
Onda de calor mata 22 e avança para leste dos Estados Unidos.
20/07/2011
GRUPO II
Neste grupo estão os verbos dinâmicos que indicam processos, o que acontece.
O participante afetado aparece no início da oração. As ações são télicas, concluídas, mas
sem controle. Os sujeitos não são identificados, pois alguns objetos são afetados por
fenômenos acidentais ou a informação parece estar incompleta ou não foi investigada,
provavelmente pela falta de tempo de averiguar os fatos, característica da mídia
instantânea.
MÍDIA: JORNAL DO BRASIL (JB)
1) Editoria País
Parte de prédio em construção desaba em Minas Gerais. - 28/07/2011
Loja pega fogo em Porto Alegre e bombeiros esvaziam prédio. 28/07/2011
Idosa morre em colisão de ambulância com carreta na Rodovia dos
Tamoios. - 27/07/2011
2) Editoria Internacional
Caminhão cai sobre casa e deixa 3 feridos em Belo Horizonte. 27/07/2011
Cinco policiais morrem em acidente de avião na Colômbia. 27/07/2011
3) Editoria País (PA)
Idoso cai de passarela em frente à rodoviária de Porto Alegre. 25/08/2011
MÍDIA: JORNAL O EXTRA
1) Editoria Brasil
Operário morre ao cair de andaime em Angra dos Reis. – 02/08/2011
MÍDIA: O GLOBO
1) Editoria Rio
Prédios desabam em Barra Mansa, no Sul Fluminense. - 26/07/2011
MÍDIA: REVISTA VEJA
1) Editoria Brasil
Homem se afoga na Represa Billings. - 14/08/2011
Adolescente morre e 10 ficam feridos em parque no Rio. –
14/08/2011
CONCLUSÕES INICIAIS
A verificação das manchetes revela uma seleção feita pelo escritor/autor que
organiza as frases de modo que esteja expresso o conteúdo que ele deseja transmitir. As
informações estão distribuídas em uma ordem estabelecida a partir do que é mais
relevante na notícia, o que é mais atraente para o leitor. As escolhas dos aspectos
lingüísticos estão relacionadas ao fluxo da informação que determina a ordem linear dos
sintagmas na oração.
O gênero manchete apresenta uma organização das ideias, estrutura sintática e
semântica próprias de um texto sintético, enxuto, que tem a função de impressionar o
leitor, prender a sua atenção, por isso o seu perfil é estudado na elaboração da notícia. A
relação com o destinatário da mensagem constitui a intersubjetificação.
Percebemos que nas manchetes do Grupo I, os sujeitos não são
individualizados nem especificados, alguns são abstratos como em “Combates deixam
dezenas de mortos no Iêmen” (Jornal do Brasil, 28/07/2011) e “Escândalo derruba
cúpula da polícia” (Revista Carta Capital, 18/07/2011). Há também manchetes que
noticiam fatos causados por fenômenos da natureza como em “Ciclone deixa 35 mil
sem luz no Rio Grande do Sul” (Jornal O Extra, 02/08/2011) e “Onda de calor mata 22
e avança para leste dos Estados Unidos” (Jornal O Globo, 20/07/2011).
Nas manchetes do Grupo II, em que não há a apresentação do sujeito e os
acontecimentos são causados por algum agente, como em “Caminhão cai sobre casa e
deixa 3 feridos em Belo Horizonte” - 27/07/2011 (Jornal do Brasil) e “Adolescente
morre e 10 ficam feridos em parque no Rio” (Revista Veja) – 14/08/2011, o leitor é
instigado a ler o corpo da notícia para saber como o fato ocorreu, já que os agentes
responsáveis pela ação não estão expostos.
A gramática tradicional com suas regras prescritivas de norma culta não é
suficiente para analisar os enunciados dos jornais e revistas. É necessário pesquisar nas
gramáticas descritivas e funcionais que lidam com as questões de descrição do
funcionamento da língua, em que os papéis temáticos são estudados sob diversos
componentes (sintático, semântico e pragmático), bem como a organização dos
enunciados e o contexto em que são produzidos. O estudo deste tempo semântico,
frequentemente utilizado no discurso jornalístico, contribui para a reflexão e
questionamento das abordagens prescritivas que restringem sua definição a aspectos
formais, muitas vezes baseados em exemplos artificiais. Partindo das gramáticas
descritivas e dos princípios funcionalistas atuais, pretende-se ampliar os conhecimentos
disponíveis sobre o tema, e trazer novas discussões a respeito do tempo semântico e sua
aplicação em contextos atuais de uso, a partir das necessidades comunicativas dos
interlocutores, o que interessa ao funcionalismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Publifolha, 2008.
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Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Editora Vozes, 2006.
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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In:
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Textuais e Ensino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
MARTELOTTA, M. (Org.). Manual de Lingüística. São Paulo: Contexto, 2010.
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PERINI, Mário A. Gramática Descritiva do Português. 4ª edição. Editora Ática. São
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JORNAL DO BRASIL. Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: julho-agosto de
2011.
JORNAL O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/>. Acesso em: julhoagosto de 2011.
JORNAL O EXTRA. Disponível em: <http://extra.globo.com/>. Acesso em:
02/08/2011.
REVISTA CARTA CAPITAL. Disponível: <http://www.cartacapital.com.br/>. Acesso
em: julho de 2011.
REVISTA VEJA. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/>. Acesso em: 14/08/2011.
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