Caso Selecionado Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta rev. 1 Cristian Higashi Antonio S. Sakamoto Junior Ronaldo Hirata Nos dias atuais, a falta de tempo é muito comum lera o processo de clareação11. Entretanto, essa maior no cotidiano da maioria das pessoas. Isso tem aumen- difusão do peróxido de hidrogênio para o interior do tado cada vez mais a requisição dos pacientes por pro- esmalte e dentina pode resultar em reações pulpares, cedimentos clareadores mais rápidos e eficazes. Para as quais podem gerar uma maior sensibilidade dentá- suprir essa necessidade, produtos à base de peróxido ria pós-operatória. Vários estudos têm demonstrado de hidrogênio (H2O2) em concentrações elevadas (30- a penetração de produtos dos agentes clareadores no 35%) e fontes luminosas com emissão de energia fo- interior da câmara pulpar, principalmente através de ram introduzidas no mercado a fim de reduzir o tempo trincas presentes no esmalte ou por interfaces dente/ de contato do gel com o dente e acelerar o processo de restauração1,7, além de possíveis alterações estruturais clareação dentária, porém estas inovações industriais na superfície do esmalte causadas por concentrações têm gerado muitas discussões e controvérsias no âm- elevadas de H2O2, que favorecem sua penetração nes- bito odontológico. te tecido2. Os possíveis danos pulpares causados por Quanto maior a concentração do gel clareador, agentes clareadores foram, inicialmente, estudados in maior a pressão osmótica sobre o dente e maior é a di- vivo por Cohen3, em 1979, mas foi em um outro traba- fusão do peróxido para dentro da estrutura, o que ace- lho12 que encontrou-se uma discreta resposta inflama- R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 75 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta tória pulpar nos grupos em que o calor foi associado ao Seguindo estas tendências, alguns aparelhos estão H2O2. Sabe-se que, quando a luz é aplicada sobre o gel sendo lançados com certas características, como a uti- clareador, uma parte dela é absorvida e sua energia é lização de luz ultravioleta (UV-A), com comprimento convertida em calor2. Este calor promove um aumento de onda entre 365-400nm (muito próximo da luz visí- da temperatura do dente5 e uma maior penetração do vel) e temperatura de 60000K, sendo esta mais fria do agente clareador na câmara pulpar13, o que pode acar- que a luz branca, também denominada luz do dia. Os retar em maiores danos a este tecido, sendo necessá- kits clareadores destes sistemas apresentam um gel à rios maiores cuidados quando fontes de luz forem uti- base de H2O2 com concentração de 25% e demais aces- lizadas para catalisar a reação. sórios especialmente desenvolvidos para proteção do O uso do calor para acelerar a dissociação do peró- paciente. Além disso, através de uma reação denomi- xido de hidrogênio parece coerente, pois toda reação nada Foto-Fenton, o ferro (Fe3+) foi incorporado à rea- química com calor ocorre mais rapidamente, porém ção clareadora e, juntamente com a luz UV, aumentou este aumento não é suficiente na estrutura dentá- a reatividade do agente clareador. Nesta reação, os ria, que possui um limite biológico suportável de até compostos do peróxido reagem com o ferro e produ- 5,50C14. Dessa forma, de acordo com alguns estudos zem radicais hidroxilas, que são os responsáveis pelas laboratoriais e estudos clínicos, o uso da luz não tem quebras dos pigmentos cromóforos e transformação proporcionado uma melhora significativa nos resulta- dos mesmos em estruturas moleculares menores, mais dos finais da clareação2,4,8,9,10,15, com exceção da luz ul- simples e hidrossolúveis. A ativação da luz ciclicamen- travioleta (UV), que parece ser a única fonte de luz que te renova o ferro, que continua a produzir radical hi- tem a capacidade de realizar fotólise, ou seja, quebrar droxila, melhorando significativamente os resultados as moléculas pigmentadas. Sendo assim, algumas ten- da clareação6,16. Sendo assim, a utilização de peróxido dências relacionadas à clareação dentária fotoassistida de hidrogênio de baixa concentração associado a fon- parecem ser evidentes: 1) uso de géis clareadores com tes luminosas de luz fria, que possuem a capacidade de concentrações de H2O2 menores de 30-35%; 2) utiliza- potencializar o efeito clareador, parece ser uma opção ção de fontes de luz fria, que atuem no processo clare- mais segura e eficaz para a realização da clareação den- ador sem emissão de calor. tária fotoassistida. 76 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 1, 2, 3 - Caso inicial com presença de diastemas pós-tratamento ortodôntico e leve escurecimento dos dentes. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 77 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta Figura 4, 5 - Observa-se a presença residual de resina composta utilizada na fixação dos braquetes. Figura 6 - 9 - Realização de profilaxia e remoção das resinas nas regiões vestibulares e polimento com borrachas siliconizadas. 78 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 10 - Leitura da cor com escala Vita Clássica previamente à clareação dentária. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 79 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta Figura 11 - Carta de consentimento com informações do tratamento com o sistema ZOOM! 2 para ser entregue ao paciente. Figura 13 - Passo 1: aplicação do protetor labial na comissura labial. Figura 12 - Protetor solar labial (lip balm fps 30 contra os raios UV-A). Figura 14 - Passo 2: colocação do retrator com protetor lingual. Figura 15 - Passo 3: aplicação de camada adicional de protetor labial nas regiões expostas dos lábios. Figura 16, 17 - Passo 4: colocação de gazes do kit clareador no lábio inferior e superior. Estas não devem ser substituídas por outras que permitem uma grande passagem da luz do aparelho. 80 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 18 - Passo 5: colocação do protetor facial em torno das bordas do retrator. Figura 19 - 22 - Passo 6: uma gaze é enrolada longitudinalmente e inserida no fundo de vestíbulo superior e inferior, sendo colocada abaixo da borda do retrator. Outra gaze é dobrada em forma de triângulo e inserida nos cantos, para proteção das bochechas. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 81 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta Figura 23 - Isolamento com gaze finalizado. Figura 24, 25, 26 - Passo 7: aplicação da barreira gengival Liquidam com espessura máxima de 2mm para haver a completa polimerização. Polimerizase com movimentos de varredura. Não substituir por outra barreira gengival, pois o Liquidam bloqueia a passagem da luz ultravioleta. 82 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 27 - Verificação da completa polimerização da barreira, devendo estar sólida e rígida. Figura 28 - Verificação com auxílio de um espelho, visualizando possível presença de áreas gengivais expostas. Figura 29, 30 - Repete-se o passo 7 no arco inferior. Figura 31, 32 - Aplicação de um líquido pré-tratamento à base de água e nitrato de potássio 5% para manter o pH alcalino durante todo o processo. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 83 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta Figura 33 - Encaixa-se a ponta de automistura na seringa do gel clareador. Figura 34 - Não é recomendado aplicar o gel diretamente sobre os dentes, deve-se dispensá-lo em um Dappen e utilizar o pincel incluso no kit para agitar o gel e aplicar sobre os dentes. 84 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Figura 35 - Observa-se a espessura homogênea de gel sobre a superfície vestibular dos dentes. Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 36 - Posiciona-se o guia de luz na linha de sorriso do paciente nas aletas do retrator. Figura 37 - Pressiona-se start, iniciando-se o ciclo de 15 minutos. Figura 38, 39 - ZOOM! 2 em funcionamento. Figura 40 - Uma luz acende a cada 25% do procedimento, emitindo 3 sinais quando for encerrar o ciclo, desligando-se automaticamente após três segundos. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 85 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta 86 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Figura 41 - 45 - Aspecto final após duas sessões de clareação com duas aplicações, totalizando 30 minutos em cada sessão. Observe que mesmo logo após a clareação o dente mantém um brilho de esmalte, não tendo o aspecto “leitoso”. R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 87 Recontorno cosmético – parte 1: clareação dentária fotoassistida com luz ultravioleta Figura 46 - Leitura de cor final com escala Vita Clássica. Figura 47 - Comparação com a escala no tom inicial. Observe que houve uma clareação do A3,5 para o B1, isto é, 11 tons com a escala Vita Clássica, ordenada de acordo com luminosidade. 88 R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 Cristian Higashi, Antonio S. SakamotoAutor Junior, caso Ronaldo selecionado Hirata Referências 1. BENETTI, A.R.; VALERA, M.C.; MANCINI, M.N.; MIRANDA, C.B.; BALDUCCI, I. In vitro penetration of bleaching agents into the pulp chamber. Int Endod J., v. 37, no. 2, p. 120-124, Feb. 2004. 2. BUCHALLA, W.; ATTIN, T. External bleaching therapy with activation by heat, light or laser – a systematic review. Dent Mater., v. 23, no. 5, p. 586-596, May 2007. 3. COHEN, S.C. Human pulpal response to bleaching procedures on vital teeth. J Endod., v. 5, no. 5, p. 134-138, May 1979. 4. DIETSCHI, D.; ROSSIER, S.; KREJCI, I. In vitro colorimetric evaluation of the efficacy of various bleaching methods and products. 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Ronaldo Hirata - Mestre em Materiais Dentários / PUC-RS. - Doutor em Dentística Restauradora / UERJ-RJ. - Coordenador do curso de especialização de Dentística Restauradora / CETAO-SP. - Coordenador do curso de Odontologia Estética Avançada / ILAPEO - PR. - Professor do curso de pós-graduação Lato Sensu em Odontologia Estética / SENAC-SP. Endereço para correspondência Ronaldo Hirata Rua Cândido Xavier, 80 - Batel CEP: 80.240 - 280 – Curitiba / PR E-mail: [email protected] R Dental Press Estét, Maringá, v. x, n. x, p. xxx-xxx, xxx./xxx./xxx. 0000 89