O GÊNERO CANÇÃO E A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA EM LÍNGUA INGLESA Isaias Francisco de Carvalho1 Caline Fonseca de Andrade2 Ana Márcia Góes Eustáquio3 RESUMO: O artigo aborda o potencial do gênero canção no desenvolvimento da competência comunicativa em língua inglesa em seu aspecto de ludicidade e de sua presença em livros didáticos de língua inglesa utilizados na rede pública estadual de ensino, em 2013, na região de Ilhéus e Itabuna, no sul da Bahia. A base teórica é o conceito de lúdico para análise da canção na interface da linguagem verbal com a musical no ensino de língua inglesa, no campo da Linguística Aplicada. Palavras-chave: Música. Ludicidade. Inglês. Livro didático. SONGS AND COMMUNICATIVE COMPETENCE IN THE ENGLISH LANGUAGE ABSTRACT: The article discusses the potential of the genre song in the development of communicative competence in English in its aspect of playfulness and its presence in English language textbooks used in public schools, in 2013, in the cities of Ilheus and Itabuna in southern Bahia, Brazil. The theoretical basis is the concept of “fun” for the analysis of songs at the interface of verbal language with musical language in the teaching of English, within the field of Applied Linguistics. KEYWORDS: Music. Fun. English teaching. Textbooks. 1 INTRODUÇÃO Quem não gosta de música? Pergunta um tanto corriqueira inicial e uma das molas propulsoras para o desenvolvimento desta pesquisa-reflexão em torno do gênero canção em sua interface com o ensino de língua inglesa. De fato, a música está presente no dia a dia das pessoas e, em sua vasta diversidade de estilos, envolve todos os grupos, independente de raça, cor, sexo, idade, escolaridade ou condição social. Nosso interesse pela arte musical e o conhecimento de que música perpassa não apenas melodias, mas se apresenta como uma prática cultural humana e uma importante 1 Professor de Língua Inglesa e de Literaturas Anglófonas na Universidade Estadual de Santa Cruz –UESC. Doutor em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia–UFBA. Endereço profissional: Departamento de Letras e Artes, Universidade Estadual de Santa Cruz, Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, km 16, Bairro Salobrinho, CEP 45662-900. Ilhéus-Bahia. E-mail: [email protected] 2 Pós-graduada em Ensino de Língua Inglesa pela Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM. Licenciada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Endereço profissional: idem. E-mail: [email protected] 3 Cantora do gênero Canto Popular – Ordem dos Músicos do Brasil. Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC. Endereço profissional: idem. E-mail: [email protected] ferramenta de denúncia social, também foram fatores importantes para a delimitação dessa temática. Pesquisamos como é trabalhado o gênero canção, no âmbito escolar, como ferramenta de construção de competência comunicativa em língua inglesa, por meio da análise de alguns livros didáticos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental utilizados em duas escolas da rede pública, uma em Ilhéus e a outra, em Itabuna, no Sul da Bahia. Buscamos compreender como tal procedimento leva o discente à elaboração e à formação de conhecimento e aprendizagem. Os livros didáticos que compõem o corpus para análise são da coleção Keep in mind, de autoria de Elizabeth Young e Maria Lúcia Zaorob. Por meio da ludicidade inerente a esse tipo de atividade aplicada ao ensino de língua inglesa, partimos do pressuposto de que o gênero canção possibilita o trabalho efetivo com as quatro habilidades tão importantes na aprendizagem de qualquer língua estrangeira: listening, speaking, writing e reading. Canções, num mundo cada vez mais informatizado, podem ser acessadas com facilidade. Seu uso criterioso pode se revelar uma eficiente ferramenta de ensino, desmistificando o conceito de que aprendizagem só pode ser construída por meio de métodos tradicionais de transmissão de conhecimento e ampliando as possibilidades de construção da aprendizagem através do lazer e do ócio criativo. Destacamos diversas possibilidades de trabalho do gênero canção, em âmbito regional, como ferramenta na construção de competência comunicativa em LE. Entretanto, constatamos a ausência específica desse gênero no corpus analisado, a despeito de sua relevância e eficácia enquanto instrumento metodológico complementar, ferramenta lúdica para se debater temas contextualizados na contemporaneidade e como um meio para aplicabilidade da gramática da língua inglesa em termos textuais e musicais. Também buscamos desmistificar o livro didático como vilão em sala de aula e apresentá-lo como suporte pedagógico utilizado tanto pelo professor quanto pelos alunos, o que pode ser maximizado pela oferta paralela do gênero canção em suas várias aplicações. Este relato de pesquisa se apoia, entre outras fontes, na Lei 11.769/2008, que institui a obrigatoriedade da música como componente curricular nas escolas de ensino infantil, fundamental e médio nos sistemas educacionais públicos e particulares. O suporte teórico também é oferecido por Denilda Moura, em Os desafios da língua (2008), que descreve a música como um elemento motivador e propulsor na busca por formas renovadas de aprender LE; por Adriana Hazt e Ivete Pauluk (2011), em suas considerações sobre o gênero musical incorporado de forma contextualizada à prática pedagógica; por abordagens como “[...] as competências não são saberes em si, mas a mobilização, integração e orquestração de saberes." (PERRENOUD, 2000, p.15); e por Elisabeth Prescher, Ernesto Pasqualin e Eduardo Amos (2010), acerca do papel do livro didático (LD). 2 A LUDICIDADE E O GÊNERO CANÇÃO Muitas vezes o professor se frustra por não conseguir atrair atenção de seus alunos para o conteúdo ministrado em sala de aula. Isso pode ser o resultado de aulas sem planejamento, sem uma função pragmática ou até verdadeiramente aulas feitas apenas para cumprir os dias letivos que são exigidos do professor, entre outras condicionantes da desmotivação docente e discente. Atualmente, pela facilidade de acesso e pelas diferentes interfaces disponíveis, as fontes de saber oferecidas pelas novas tecnologias são mais atrativas do que o livro. Portanto, encontramos alunos impacientes, sem atenção às aulas, energizados pelo muitos outros atrativos que os rodeiam, como o celular, o tablet, o laptop e todos os outros aparelhos de entretenimento e comunicação. O que fazer para que as aulas não sejam enfadonhas, nem para o professor nem para o aluno? Como evidenciar a importância do livro didático na construção do conhecimento e utilizá-lo de forma prazerosa? Buscamos essas respostas no âmbito da ludicidade, sobre a qual Domenico De Masi (2000) aponta que o indivíduo, mestre na arte viver, estabelece uma pequena distinção entre seu trabalho e seu tempo livre, sua mente e seu corpo, sua educação e sua recreação, seu amor e sua religião, distinguindo com muita dificuldade essas questões e almejando sempre a excelência em tudo que faz. Tal indivíduo deixa a cargo do outro a decisão sobre se está trabalhando ou se divertindo, pois para esse indivíduo que sabe viver, trabalho e diversão caminham juntos. Dessa maneira, discorremos sobretudo acerca dessa ludicidade com caráter de instrumento pedagógico, o que implica romper com um padrão, com um modelo já instituído, já internalizado pela escola tradicional, onde a educação foi – e ainda é, em grande medida – centrada na transmissão de conteúdos. Por seu turno, o lúdico se caracteriza por ser espontâneo, funcional e satisfatório, fazendo parte das atividades essenciais da dinâmica humana. Desconstruir essa resistência que não comporta um modelo lúdico é apostar no novo, na dinâmica e no inesperado. Uma aula lúdica possibilita, a quem a vivencia, momentos de encontro consigo e com o outro, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento e acaba por desenvolver habilidades sociais essenciais, como o autocontrole, o respeito sem distinção de etnia, gênero, classe social, idade ou estrutura física, etc. Josiane Fernandes, quanto à integração do lúdico ao ensino de LE, nos remete à fusão da seriedade das atividades cognitivas inerentes à escolaridade tradicional com o prazer e a satisfação dos discentes: O lúdico tem função educativa ao propiciar a aprendizagem e é um elemento útil no processo ensino/aprendizagem de Língua estrangeira (LE). O lúdico na sala de aula é uma necessidade, pois leva o aluno a esforçar-se na busca dos conhecimentos, sem perder o prazer de aprender. (FERNANDES, 2006, p.177). Exemplos de atividades lúdicas incluem dinâmicas de interação grupal ou de sensibilização, trabalhos de recorte e colagem, jogos dramáticos, exercícios de relaxamento e respiração, teatro, debates, pintura, jogos de perguntas e respostas, jogo da forca e, naturalmente, a música, entre outros. De fato, o jogo faz parte da gênese do pensamento humano, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimento, criação e transformação do mundo, conforme Joan Huizinga (2000). Para esse pensador, a civilização visualiza e experimenta o lúdico e a brincadeira (homo ludens) como uma ideia central, numa esfera completamente primária da vida, tão relevante quanto o raciocínio (homo sapiens) e a produção de material utilitarista (homo faber). Nenhuma dessas classificações é superior à outra. Porém, o lúdico, por apresentar elementos de caráter ficcional (fantasia criativa, imaginação), embora não seja levado a sério por alguns, é algo extremamente importante e de direito na vida humana. Atividades como filosofia, guerra, arte, leis e linguagem são vistas como resultado de um jogo, a título de brincadeira. A escrita alfabética, numa hipótese lúdica e poética, surgiu porque alguém resolveu brincar com sons, significados e símbolos. A filosofia fica com o jogo de conceitos. As guerras derivam a partir de regras que lembram jogos. Uma vez que o lúdico (componente do jogo) desempenha um papel fundamental no aprendizado, possibilitando o exercício da criatividade, defendemos a proposta de trabalhar a ludicidade focada na música, já que é inerente ao humano. De fato, a canção é um gênero textual que apresenta características sociocomunicativas. É uma forma de texto com melodia que pode ser utilizado como insumo na preparação de atividades voltadas à aprendizagem do indivíduo, sugerindo inúmeros caminhos que podem ser trabalhados: gramática, compreensão auditiva, discussão de aspectos relevantes tratados como tema, vídeos, pano de fundo para outras atividades, prática de pronúncia, entonação e tonicidade das palavras, quebra da rotina, repetição, vocabulário, ensino de cultura, despertar para o conhecimento de fundo do indivíduo, diversão, desenvolvimento da competência leitora etc., conforme entende Nielsen Pereira (2006). Com isso a possibilidade de utilização da música abre grandes possibilidades de trabalho em sala de aula, de maneira diversa, além de criativa, podendo abranger vários segmentos do aprendizado. Denilda Moura (2008) considera a música um elemento motivador e propulsor da busca por uma maneira mais eficaz de aprender LE, bem como ativador de aspectos relativos à afetividade com o aluno, desenvolvendo-o na aquisição das denominadas quatro grandes habilidades linguísticas (the Big Four): expressão oral (fala), expressão escrita (escrita), compreensão (audição) e compreensão escrita (leitura), servindo também como instrumento para divertir, denunciar, contar histórias, fazer rir, dançar ou até mesmo fazer chorar, pois leva o indivíduo a ter prazer em aprender de uma forma leve e descontraída. As canções também podem ser uma forma de expressão cultural, em que valores estéticos, ideológicos, morais, religiosos e linguísticos são veiculados, conforme afirma Diógenes Lima (2010). Essa expressão produz zonas de inserção cultural na sala de aula, pois, quando devidamente escolhidas, implicando veiculação cultural, as canções constituem-se legítimo material de ensino. No que se refere a LE, por ter uma amplitude global, para o autor, a música se torna transcultural, trazendo elementos de outra cultura a serem compartilhados com a língua e cultura materna. Em outra perspectiva ampliadora da relevância desse gênero lúdico: [...] uma canção é mais do que palavras no papel. Ela carrega uma mensagem. Investigadores dizem que a música treina o cérebro a pensar mais. Quando aprendemos com música, aprendemos com os dois lados do cérebro. (LAKE, 2003 apud FERNANDES, 2006, p.179). Assim, enquanto o hemisfério esquerdo trabalha com a linguagem e sua instrumentalidade, o direito processa a música em seu caráter lúdico. Diferentemente de outras expressões humanas, a música tem o potencial de ser retida por mais tempo, o que favorece sua utilização no ensino de Línguas para o desenvolvimento de competências, sobretudo a comunicativa. No entanto, aliado ao gênero canção e à ludicidade, o docente pode planejar suas aulas objetivando a efetiva competência do aluno em busca da competência comunicativa, que é o conjunto de diferentes habilidades (gramatical, sociolinguística, discursiva e estratégica), segundo Canale e Swain (1980), abordado por Reinhold Peterwagner (2005). Na competência comunicativa, o conhecimento vai muito além do entendimento lexical e gramatical, possibilitando ao falante fazer uso da língua conforme a situação e o local onde se encontra, variando sua fala ou discurso de acordo com a necessidade, fazendo-se compreender através dos diversos níveis de língua. Vejamos a seguinte afirmação: [...] as competências não são saberes em si, mas a mobilização, integração e orquestração de saberes. Nesse sentido, competência é, por exemplo, o saber fazer, saber conhecer, saber conviver. Quando o aluno começa a fazer algo produtivo com aquilo que aprendeu, está desenvolvendo uma competência. (PERRENOUD, 2000, p. 16). O conhecimento se torna mais efetivo quando existe uma função pragmática em qualquer atividade desenvolvida. O “por quê?” e o “para quê?” constantemente permeiam os pensamentos dos alunos. Quando não relacionam os saberes na sua prática diária às competências acabam ficando prejudicadas. Assim, é necessário desenvolver esses saberes, obtendo resultados produtivos associados à convivência do aluno. Identificamos a possibilidade de utilização do gênero canção como método de desenvolvimento e aprendizagem do discente. Entretanto, verificamos que muito pouco ou quase nada é utilizado nos livros didáticos que compuseram o corpus da pesquisa. Assim, a viabilidade desta proposta é exatamente sugerir o uso de música pelo professor para estabelecer uma maneira mais dinâmica e mais lúdica para captar a atenção do aluno e envolvê-lo, já que o gênero tem muito aceitação por parte do público escolar, que vai desde o infantil ao adulto. 3 A (DES)CONSTRUÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO Sobre o papel do livro didático (LD) e sua utilização como parte importante de um conjunto de elementos da comunidade de aprendizagem, nos respaldamos em Elisabeth Prescher, Ernesto Pasqualin e Eduardo Amos. Para esses estudiosos: [...] por meio de diversos textos, diálogos questionamentos e sugestões, o professor, apoiado pelo livro didático e por outros materiais, leva o aluno a perceber a heterogeneidade no uso da linguagem, enfatizando as diferenças entre as características da língua estrangeira e as da língua materna; cria oportunidades para que ele reconheça a diversidade cultural e aprenda a conviver com ela. (PRESCHER; PASQUALIN; AMOS, 2010, p.84). Os autores evidenciam a importância da utilização do LD, bem como do uso de recursos diversos na compreensão e aquisição da linguagem. Quando indicam a utilização de “outros materiais”, logo pensamos nas tecnologias contemporâneas e nos recursos lúdicos, em especial a canção. Caso o material didático seja integrado a esses outros elementos, a visualização do texto e as diversas atividades propostas no livro dispõem ao aluno oportunidades para desenvolver habilidades de leitura e escrita, bem como a construção de vocabulário e de diversos caminhos de direcionamento da aprendizagem. Por conseguinte, a ação do professor deve transpor o ensino formal da língua materna e aprimorar nos discentes habilidades fundamentais para a sua completa formação, como o potencial de expor seus pensamentos, criar debate sobre um assunto específico, assimilar e interpretar textos de diversos gêneros, com variados suportes, arquitetar-se argumentativamente acerca de um assunto, trabalhar em equipe cooperativamente, ser coautor de sua trajetória de aprendizagem, lidar com a heterogeneidade, reconhecer e respeitar outras realidades e culturas e fazer reflexão sobre questões da realidade da vida, buscando soluções para adversidades concretas. Nessa perspectiva, concordamos que desenvolver a criticidade e estimular discussões em uma segunda língua é um passo fundamental para que o aluno seja autor do próprio conhecimento. Dessa forma, o discente desenvolve a autonomia para concordar, discordar, expor suas próprias ideias e ter, enfim, maturidade para discorrer sobre diversas temáticas que percorrem o campo da interculturalidade, o que pode levar ao respeito ao outro, bem como ao reconhecimento e valorização de sua própria cultura e identidade. Enfatizamos mais uma vez o uso do livro e a importância de motivar o discente ao desenvolvimento de muitas competências que vão além de apenas decodificar signos, mas provocar o aluno a interpretar e se posicionar frente a vários questionamentos. Partindo de análises feitas nos livros da coleção Keep in mind, de autoria de Elizabeth Young Chin e Maria Lúcia Zaorob, 6º ao 9º ano, percebemos que não existem músicas e/ou atividades relacionadas ao gênero canção ou mesmo poemas em língua inglesa. A falta do gênero canção não inviabiliza a utilização do livro em sala de aula, mas ressaltamos aqui e reforçamos a eficácia e o diferencial que a música pode proporcionar no ensino de língua estrangeira, bem como todos os elementos de ludicidade que a poesia ou letras de música podem oferecer. O livro didático não é construído pelo professor, mas o educador tem autonomia de escolher aquele que o acompanhará durante o ano letivo. A (des)construção do LD se dá, então, na medida em que o docente analisa os conteúdos propostos pelos livros, seleciona-os e repensa a melhor forma para transmiti-los em sala de aula. Diante dessa reflexão, o professor pode reforçar os cuidados na escolha dos livros, para não se deparar com atividades estéreis, enfadonhas e sem função pragmática para o aluno. Livros com mais recursos lúdicos e com a inclusão de canções tendem a gerar mais estímulo para os alunos. De fato, é necessária a desconstrução do ensino “gramaticalista” e a ênfase na ludicidade e na criatividade nas aulas, com o objetivo de levar o indivíduo a pensar, refletir e problematizar a realidade que o circunda. No caso da LE, é também pensar sobre outras realidades oriundas de lugares diversos, procurando, além de desenvolver a criticidade, desenvolver a proficiência no idioma estrangeiro. Já que os livros da coleção analisada não trazem a canção como proposta de ensino, nós sugerimos ao professor de língua inglesa o uso da internet como uma extensão do LD. O meio cibernético permite o acesso fácil e rápido a inúmeras informações, além de ser uma ferramenta atual que faz parte do cotidiano dos alunos. Na verdade, segundo Marc Prensky (2001), as teorizações do campo, ao enfatizarem a importância do uso didático de tecnologias cibernéticas, leva em conta também que os discentes jovens de línguas estrangeiras, atualmente, são nativos digitais, uma vez que se encontram imersos nessa dimensão tecnológica desde que nasceram. Esse universo dispõe de uma infinidade de músicas para download, vídeos e letras de músicas em inglês com suas traduções, como também em outras línguas. Alguns sites disponibilizam músicas, letras, vídeos, atividades e até karaokes para os alunos se exercitarem gratuitamente, bem como trazem propostas para os professores trabalharem os tópicos gramaticais a serem ensinados por meio de canções sugeridas. Como exemplo, citamos a página do Projeto Arado, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (http://www.letras.ufmg.br/arado/songs.html), que traz uma seleção de links interessantes para se aprender com música. Muitos outros sites e aplicativos online oferecem inúmeras possibilidades de utilização de canções em sala de aula. Podemos indicar, entre tantos outros nesse domínio tão dinâmico que é o universo digital/cibernético, o Youtube (www.youtube.com) e o Rdio (http://www.rdio.com/). Outro aspecto relevante e por vezes ignorado é a utilização de Literatura Estrangeira no ensino fundamental e médio. Pouco ou praticamente nada é mencionado ou sugerido em classe. Diante disso, também recomendamos a canção como uma ferramenta para instigar a curiosidade sobre a literatura, já que, assim como existem livros adaptados para filmes, existem também diversas músicas inspiradas em histórias da literatura. Um bom exemplo dessa adaptação é o da cantora Loreena McKennitt, como no caso da canção “The Lady of Shalott”, inspirada no poema homônimo de Lord Alfred Tennyson. Destacamos também o site Top 100 Arena (http://www.top100arena.com/news/1020/top-10-songs-based-on-booksthat-werent-written-for-the-movie), que montou um ranking com as 10 melhores músicas em inglês baseadas em livros, entre as quais: “White Rabbit”, de Jefferson Airplane, “Three Little Pigs”, de Green Jelly, e “Dracula”, de Iced Earth. Em suma, o professor deve ser estimulado a utilizar o livro didático, apesar das falhas, em sala de aula, mas, principalmente, a buscar recursos que o complemente e o auxilie de forma positiva em aulas dinâmicas e prazerosas, como pode ser o caso da internet. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da análise do gênero canção e dos conteúdos da coleção Keep in mind, utilizada no ano de 2013, nos espaços escolares pesquisados, e pelo viés da ludicidade e de pesquisas acerca do gênero canção como estratégia de ensino, sugerirmos a reavaliação dos métodos utilizados na sala de aula de língua inglesa. Nosso intuito é o de melhorar o aproveitamento da aquisição do conhecimento pelo discente, tornando essa prática mais envolvente, leve e eficaz. Para tanto, além do livro didático, sugerimos alguns dos inúmeros sites que disponibilizam canções para trabalhar a língua inglesa de forma inovadora, ao atrelar conteúdo à criatividade. Vale salientar um fato curioso e que deixamos como questionamento para um posterior levantamento. Seria por conta dos direitos autorais que os livros didáticos não trazem canções? E quando trazem, por que aparecem mais nos livros de português? E por que são transformados em poemas, retirando sua parte melódica e dinâmica que poderia também ser trabalhada? Sugerimos ainda, além de uma reflexão sobre os diversos temas aqui discutidos, uma postura renovada diante dos inúmeros obstáculos que encontramos e certamente encontraremos no cotidiano de nossas atividades educativas. Não podemos nos render a essas dificuldades quando nosso objetivo maior como multiplicadores do saber é motivar, incitar, plantar e difundir o conhecimento ou pelo menos a vontade de buscá-lo. O espaço cibernético está à disposição para uma oferta virtualmente infinita (e nas nuvens! – com referência ao recente fenômeno tecnológico do internet clowding) de recursos lúdicos em geral. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Ministério da Educação. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.7692008?OpenDocument>. Acesso em: 18 abr. 2013. CHIN, Elizabeth Young; ZAOROB, Maria Lúcia. Keep in mind. 6º ao 9º ano. 1.ed. São Paulo: Editora Scipione, 2011. DE MASI, Domenico. O ócio criativo. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2000. HAZT, Adriana Libera Parizotto; PAULUK, Ivete. A Função social e linguística da música na aprendizagem de Língua Inglesa. 2011. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr. gov.br/portals/pde/arquivos/757-4.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2013. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. Tradução de J. Guinsburg. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. (Coleção Estudos) LIMA, Diógenes Cândido. Aprendizagem de Língua Inglesa: histórias refletidas.Vitória da Conquista: UESB, 2010. MOURA, Denilda. Os desafios da língua: pesquisas em língua falada e escrita. Maceió: Edufal, 2008. PEREIRA, Nielsen de Lima e Silva. Música e texto: um estudo comparativo da aquisição de vocabulário em LE. Dissertação (Mestrado). 116f. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras. Porto Alegre: UFRS, 2006. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/ 10183/7117/000539390.pdf?...1>. Acesso em: 15 abr. 2013. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000. PETERWAGNER, Reinhold. What is the matter with communicative competence?: an analysis to encourage teachers of English to assess the very bases of their teaching. Viena: Lit. Verlag, 2005. PRENSKY, Marc. Nativos digitais, imigrantes digitais. On the Horizon. NCB University Press, v. 9, n. 5, 2001. Disponível em: <http://poetadasmoreninhas.pbworks. com/w/file/fetch/60222961/Prensky%20-%20Imigrantes%20e%20nativos%20digitais. pdf>. Acesso em: 29 maio 2013. PRESCHER, Elisabeth; PASQUALIN, Ernesto; AMOS, Eduardo. A aprendizagem de língua estrangeira no ensino médio e o papel do livro didático. In: POSSAS, Sandra (Org.). Inglês na sala de aula: ação e reflexão. 1. ed. SãoPaulo: Moderna, 2010. p. 79-88. (Coleção Richmond Reflections) VILAÇA, Josiane Fernandes. Música:Instrumento de motivação e estratégia de aprendizagem no ensino de língua inglesa. In GIMENEZ,Telma; LOPES,Vera Lúcia. Teaching English in context:contextualizando o ensino de inglês. Londrina: UEL, 2006. p. 175-186.