JOSÉ MARIA GONÇALVES FERNANDES ÍNDICE DE PERFORMANCE MIOCÁRDICA EM PACIENTES COM ALTERAÇÃO DO RELAXAMENTO DO VENTRÍCULO ESQUERDO E FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Orientador: Prof. Dr. Valdir Ambrósio Moisés Co-Orientador: Dr. Ivan Romero Rivera São Paulo 2009 Fernandes, José Maria Gonçalves Índice de performance miocárdica em pacientes com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo e fração de ejeção normal. / José Maria Gonçalves Fernandes ─ São Paulo, 2009. xviii, 76f. Tese (Mestrado) Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Cardiologia. Título em inglês: Doppler-derived myocardial performance index in patients with impaired left ventricular relaxation and normal ejection fraction. 1. Ecocardiografia Doppler. 2. Função ventricular esquerda. 3. Fração de ejeção. 4. Função diastólica. 5. Hipertensão. 6. Índice de performance miocárdica UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO DISCIPLINA DE CARDIOLOGIA Chefe do Departamento de Medicina: Prof. Dr. Angelo Amato Vincenzo de Paola Chefe da Disciplina de Cardiologia: Prof. Dr. Antonio Carlos de Camargo Carvalho Coordenador do Programa de Pós-Graduação: Prof. Dr. Valdir Ambrósio Moisés iii Dedico esta Tese À minha querida mãe, Ruth Fernandes Gonçalves, que, graças a Deus, sempre presente, ensinou-me a importância do estudo e da família na transformação e no caráter do ser humano. Ao meu querido pai, Manoel Gonçalves Filho, que sempre valorizou a família e o trabalho, acreditando e investindo nos meus projetos. Aos meus filhos, Júlio, Enzo e Gaston, pelo prazer de existirem e de fazerem a minha vida mais feliz. Aos meus irmãos, Marlon, Maxwell, Mara, Sara e Márcia, pela a alegria de tê-los ao meu lado, junto com os meus sobrinhos e cunhados. Aos meus tios Drs. Judá Fernandes de Lima e José Fernandes de Lima, in memoriam, inspiradores de minha escolha profissional e exemplos de profissionalismo, humildade e dedicação à família. iv Agradecimentos Especiais Ao Prof. Dr. Waldir Ambrósio Moisés, pela sua generosidade, dedicação e seriedade, e que, com o seu modo enxuto, preciso e elegante, ao estilo “velho Graça”, tive o privilégio de tê-lo como Orientador. Aos Drs. Maria Alayde Mendonça da Silva e Ivan Romero Rivera, pela amizade, apreço e confiança em mim depositados, fundamentais na idealização e cumprimento do programa de Pós-Graduação, bem como no avanço da pesquisa científica médica em nosso Estado. v Agradecimentos Ao Prof. Dr. Antonio Carlos de Camargo Carvalho, pelo incentivo à pesquisa e por acreditar e efetivar o programa de Pós-Graduação em Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo em nosso Estado, em parceria com a UNCISAL. À Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL, pelo empenho à realização do Programa de Pós-Graduação. À Dra. Fabiana Cecília Yulita, pelo apoio, compreensão e o amor dado aos nossos filhos. Ao Dr. Benício de Oliveira Romão, grande companheiro, amigo e irmão, pela paciência e valiosas discussões que colaboraram na elaboração deste trabalho. À Dra. Miriam Lira Castro Vasconcelos, in memoriam, pelo privilégio de ter dividido comigo esses momentos de aprendizagem, projetos, incertezas e conquistas. Às funcionárias da UniCar, Marlene, Silvania, Claudene e Lourdinha, pela dedicação prestada aos pacientes. Aos pacientes, pela compreensão, tolerância e participação neste estudo. A todos os meus professores, desde o princípio, que contribuíram para a minha formação. vi Sumário Lista de figuras ................................................................................................. x Lista de tabelas ................................................................................................ xi Lista de abreviaturas ....................................................................................... xii Resumo ............................................................................................................. xiii Summary ........................................................................................................... xvi 1. Introdução ..................................................................................................... 01 1.1 Disfunção diastólica .................................................................................. 03 1.2 Métodos Doppler ecocardiográficos para avaliação da função diastólica 04 1.3 Curvas de Fluxo de Veias Pulmonares .................................................... 07 1.4 Mapeamento de fluxo em cores ao modo M............................................ 07 1.5 Manobra de Valsalva ............................................................................... 08 1.6 Doppler tissular ........................................................................................ 09 1.7 Índice de Performance Miocárdica .......................................................... 10 2. Objetivos ....................................................................................................... 17 3. Casuística e Métodos ................................................................................... 19 3.1 Pacientes e Controles .............................................................................. 20 3.2 Estudo Ecocardiográfico .......................................................................... 21 3.3 Função diastólica do ventrículo esquerdo ............................................... 22 3.4 Índice de Performance Miocárdica do ventrículo esquerdo ..................... 23 3.5 Método Estatístico ................................................................................... 24 4. Resultados .................................................................................................... 27 4.1 Dados Antropométricos e Clínicos ........................................................... 28 4.2 Ecocardiografia Doppler ............................................................................ 28 4.3 Função Sistólica e Diastólica ..................................................................... 28 4.4 Índice de Performance Miocárdica............................................................ 29 4.5 Análise Inter e Intra-observador ............................................................... 30 4.6 Tabelas e Figuras .................................................................................... 30 5. Discussão ...................................................................................................... 43 5.1 Limitações do estudo ............................................................................... 50 6. Conclusões .................................................................................................... 52 7. Referências ……...........…………………………………………………………. 54 8. Apêndices ...................................................................................................... 68 9. Anexos ………….…………………………....………………………………….... 73 viii Figuras e Tabelas ________________________________________________________________ Lista de figuras Figura 1 Desenho esquemático do cálculo do IPM, seus componentes e das medidas do TRIV e do TCIV 26 Figura 2 Exemplos de medidas do índice de performance miocárdica no grupo com disfunção diastólica (A) e no grupo-controle (B) 26 Figura 3 Distribuição dos pacientes, segundo as velocidades das ondas E e A em m/s 37 Figura 4 Distribuição dos pacientes, segundo o tempo de desaceleração onda E (TDE) em ms e relação E/A 37 Figura 5 Distribuição dos pacientes, segundo as velocidades das ondas Sm e Em em cm/s 38 Figura 6 Distribuição dos pacientes, segundo a relação Em/Am 38 Figura 7 Distribuição dos pacientes, segundo o índice de performance miocárdica (IPM) e o tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV) em ms 39 Figura 8 Distribuição dos pacientes, segundo os tempos de contração isovolumétrica (TCIV) e ejeção (TE) em ms 39 Figura 9 Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e o diâmetro do átrio esquerdo (AE) em mm no grupo II 40 Figura 10 Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a relação E/A no grupo II 40 Figura 11 Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo no grupo II 41 Figura 12 Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a velocidade máxima inicial da curva de fluxo mitral (E) em m/s no grupo II 41 Figura 13 Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a velocidade máxima ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm) no grupo II 42 Figura 14 Curvas ROC do IPM (A) e do TRIV (B) para identificar pacientes com alteração do relaxamento do VE 42 x Lista de Tabelas Tabela 1 Características clínicas dos pacientes com disfunção diastólica 30 Tabela 2 Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos dados clínicos em ambos os grupos 31 Tabela 3 Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos dados ecocardiográficos em ambos os grupos 32 Tabela 4 Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos componentes do fluxo mitral e Doppler tecidual 33 Tabela 5 Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos do IPM e seus componentes 34 Tabela 6 Análise Univariada e Multivariada entre IPM e as variáveis clínicas e ecocardiográficas, no grupo com disfunção diastólica 35 Tabela 7 Correlação e concordância entre os parâmetros de fluxo mitral o IPM e seus componentes entre dois observadores diferentes e entre o mesmo observador 36 xi Lista de Abreviaturas AE Átrio Esquerdo AO Aorta CFM Curva de velocidade de Fluxo Mitral DD Disfunção Diastólica DDVE Diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo DSVE Diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo DT Doppler Tecidual E, A e E/A Velocidades máximas das curvas de velocidade de fluxo mitral inicial e atrial (final) e sua razão Em/Am Relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais ERP Espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo FC Freqüência Cardíaca FE Fração de Ejeção HAS Hipertensão Arterial Sistêmica HVE Hipertrofia de Ventrículo Esquerdo IAM Infarto Agudo do Miocárdio IC Insuficiência Cardíaca ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva IM Índice de Massa IPM Índice de Performance Miocárdica PAD Pressão Arterial Diastólica PAS Pressão Arterial Sistólica PP Espessura da parede posterior SC Superfície Corpórea Sm, Em, Am Velocidades máximas ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm), diástole inicial (Em), e tardia (Am) TCIV Tempo de Contração Isovolumétrico TDE Tempo de Desaceleração da onda E TE Tempo de Ejeção TRIV Tempo de Relaxamento Isovolumétrico xii Resumo ___________________________________________________________________ Fernandes JMG. Índice de Performance Miocárdica em Pacientes com Alteração do Relaxamento do Ventrículo Esquerdo e Fração de Ejeção Normal [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2009. 76p. Introdução: o Índice de Performance Miocárdica (IPM) ou índice de Tei tem sido utilizado na avaliação da função de ventrículo esquerdo em diversas doenças. A sua utilidade nos pacientes com disfunção diastólica isolada tem sido questionada e ainda não está definitivamente estabelecida. Objetivo: avaliar a utilidade do IPM em pacientes com hipertensão arterial sistêmica com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo e fração de ejeção normal. Métodos: Foram consecutivamente selecionados 30 indivíduos saudáveis (14 homens, 40 ± 12 anos) com ecocardiograma normal (grupo I) e 30 pacientes (13 homens, 68 ± 9,6 anos) hipertensos com critérios para disfunção diastólica (grupo II) definidos como: relação E/A < 1,0 e pelo menos outros dois dos seguintes critérios: tempo de desaceleração da onda E (TDE) > 220 ms; velocidade longitudinal miocárdica de enchimento rápido septal (Em) < 8 cm/s e a relação entre Em e a velocidade longitudinal de contração atrial (Am) no anel mitral septal (Em/Am) < 1. Resultados: os grupos não apresentaram diferenças significantes em relação ao sexo (masc./fem.: 14/16 vs. 13/17 ;p:1,0), superfície corpórea (1,75 ± 0,18 m² vs. 1,68 ± 0,17 m² ;p:0,17) e fração de ejeção (65 ± 5,2 vs. 66,6 ± 6,2 %; p:0,61). No grupo II foram significantemente maiores em relação ao grupo I: freqüência cardíaca (66 ± 9,2 vs 72 ± 8,4 bpm; p:0,0083), pressões arteriais sistólica (112 ± 15 vs 154 ± 20 mmHg; p<0,0001) e diastólica (67 ± 8,8 vs 82 ± 12 mmHg; p<0,0001), diâmetro do átrio esquerdo (30 ± 2,9 vs. 34,4 ± 3,73 mm; p<0,0001), diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo (45,6 ± 2,7 vs 47,4 ± 2,4 mm; p:0,0082), e o índice de massa de VE (80 ± 12 vs 137 ± 23 g/m²; p<0,0001). Os grupos diferiram ainda significantemente em relação às velocidades das ondas E, A, na relação E/A, TDE nas velocidades das ondas Sm, Em, Am e razão Em/Am. O IPM foi maior no grupo de hipertensos em relação ao grupo-controle: 0,45 ± 0,13 vs. 0,37 ± 0,07 (p<0,0029) à custa do aumento do tempo de relaxamento isovolumétrico (103 ± 22 ms vs 82 ± 18 ms; p:0,0001) sem variações significativas no tempo de contração isovolumétrica e no tempo de ejeção. Os melhores preditores do IPM no grupo hipertenso foram a xiv ERP, diâmetro do átrio esquerdo, onda E, relação E/A e as ondas Sm e Em enquanto que na análise multivariada apenas a ERP e as ondas E e Sm foram preditores independentes do IPM. Utilizando curvas ROC para separar os pacientes com disfunção diastólica dos do grupo-controle, a área sob a curva (ASC) do IPM foi de 0,70 ± 0,07 (IC: 0,56 - 0,83); com um valor de corte ≥ 0,40, os pacientes com disfunção diastólica foram identificados com sensibilidade de 63% (IC95%: 44% 80%) e especificidade de 70% (IC95%: 51% - 85%). Por sua vez, o TRIV produziu ASC de 0,76 ± 0,06 (IC: 0,64 a 0,88) e com um valor de corte de 94 ms, os pacientes com disfunção diastólica foram identificados com sensibilidade de 67% e especificidade de 80%. Conclusão: o índice de performance miocárdica foi significantemente elevado nos pacientes hipertensos com disfunção diastólica e fração de ejeção normal, porém não foi superior ao TRIV no diagnóstico de alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo. Descritores: 1. Ecocardiografia Doppler; 2. Função ventricular esquerda; 3. Fração de ejeção; 4. Função diastólica; 5. Hipertensão; 6. Índice de performance miocárdica xv Summary ___________________________________________________________________ Fernandes JMG. Doppler-Derived Myocardial Performance Index in Patients with Impaired Left Ventricular Relaxation and Normal Ejection Fraction [thesis]. “São Paulo: Universidade Federal de São Paulo”; 2009. 76p. Background: The Myocardial Performance Index (MPI), or Tei-Index, has been used in the evaluation of left ventricular (LV) function in several diseases. In patients with isolated diastolic dysfunction (DD) the diagnostic utility of this index remains unclear. Objective: The purpose of this study was to determine the diagnostic utility of MPI in patients with systemic hypertension, impaired LV relaxation and normal ejection fraction (EF). Methods: The study included 30 consecutive healthy adults (group I) with normal echocardiogram (14 male, 40 ± 12 years) and thirty patients (13 male, 68 ± 9.6 years) with hypertension and criteria for DD (group II) defined as E/A ratio < 1.0 and at least two of the following criteria: deceleration time of E (DTE) >220 ms; peak septal Em wave velocity (Em) < 8 cm/s and relation between Em wave velocity and late (Am) mitral annulus diastolic velocity (Em/Am) <1, and normal ejection fraction. Results: The control group and the patients with DD, did not differ with respect to the gender, body surface area (1.75 ± 0.18 m² vs 1.68 ± 0.17 m²; p=0.17) and EF (65 ± 5.2 vs 66 ± 6.2%; p:0.61). Compared to group I, group II had significantly higher: heart rate (66 ± 9.2 vs 72 ± 8.4 bpm; p:0.0083), systolic blood pressure (112 ± 15 vs 154 ± 20 mmHg; p<0.0001); diastolic blood pressure 67 ± 8.8 vs. 82 ± 12 (p < 0.0001), left atrial diameter (30 ± 2.9 vs 34.4 ± 3.73 mm; p<0.0001), LV diastolic diameter (45.6 ± 2.7 vs 47.4 ± 2.4 mm; p:0.0082) and LV mass index (80 ± 12 vs 137 ± 23 g/m²; p<0.0001). There were also significant differences between the groups in early (E) and late (A) diastolic velocity, E/A ratio, DTE, Sm, Em, Am, and Em/Am ratio. The MPI was significantly higher in patients with hypertension than in control group (0.45 ± 0.13 vs 0.37 ± 0.07 p:0.0029) caused by the prolongation of isovolumetric relaxation time (IRT): 103 ± 22 ms vs 82 ± 18 ms; p:0.0001, without a significant change of isovolumetric contraction time and ejection time. By univariate analysis the best predictors to MPI in the group II were the relative wall thickness (RWT), left atrial diameter, E, E/A ratio, Sm and Em while by multivariate analysis xvii only the RWT, E and Sm were independent predictors of the MPI in this group. The area under ROC curve and the best cutoff value of MPI to detect impaired LV relaxation were 0.70 ± 0.07 (IC: 0.56 – 0.83) and 0.40, respectively; impaired LV relaxation was identified with sensitivity of 63% (IC95%: 44% - 80%) and specificity of 70% (IC95%: 51% - 85%). For the IRT, the area under the curve was 0.76 ± 0.06 (IC: 0.64 a 0.88) and with a cutoff value of 94 ms, impaired LV relaxation was identified with sensitivity of 67% and specificity of 80%. Conclusions: MPI was increase in patients with hypertension, diastolic dysfunction, and normal ejection fraction but was not superior to IRT to detect impaired LV relaxation. Key words: 1. Doppler echocardiography 2. Left ventricular function; 3: Ejection fraction; 4. Diastolic function; 5. Hypertension; 6. Myocardial performance index. xviii 1. Introdução ___________________________________________________________________ Introdução 2 A insuficiência cardíaca (IC) é um grave problema de saúde pública no Brasil e em todo o mundo. Estudos epidemiológicos realizados nos EUA revelam que aproximadamente 5 milhões de indivíduos têm esse problema e cerca de 550.000 novos casos são diagnosticados anualmente, sendo o motivo para a realização de 12 a 15 milhões de consultas médicas anuais.1 No Brasil, segundo dados obtidos do Sistema Único de Saúde, do Ministério da Saúde, a insuficiência cardíaca é responsável por cerca de um terço das internações por doenças cardíacas. No ano de 2000 foram realizadas perto de 398 mil internações por insuficiência cardíaca, com ocorrência de 26 mil óbitos, sendo a principal causa de internação entre os pacientes com mais de 60 anos.2 A insuficiência cardíaca é primariamente uma condição do idoso,3 cerca de 6% a 10% dessa população têm essa enfermidade. Aproximadamente 80% dos pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca têm mais de 65 anos de idade,4 sendo a razão por pelo menos 20% de todas as admissões hospitalares em indivíduos acima dessa faixa etária. Múltiplos estudos clínicos realizados durante os últimos 15 anos têm inequivocamente mostrado uma substancial redução na mortalidade para pacientes com insuficiência cardíaca sistólica; entretanto, grandes levantamentos epidemiológicos tais como o de Framingham, não têm documentado mudanças significativas nas taxas globais de mortalidade, o que se deve em parte a não inclusão nesses estudos de vários subgrupos incluindo aqueles com insuficiência cardíaca com função sistólica preservada.5 A insuficiência cardíaca sintomática Introdução 3 continua a conferir um prognóstico pior do que a maioria das neoplasias malignas com uma mortalidade anual de aproximadamente 45 por cento.6, 7 1.1 Disfunção Diastólica Estudos epidemiológicos têm mostrado que a prevalência de insuficiência cardíaca com função sistólica preservada varia de 40 a 71 por cento, com uma média de 54 por cento.8,9 Redfield et al,10 avaliando a prevalência de disfunção sistólica e diastólica em 2042 participantes de uma comunidade de Minnesota – EUA, mostraram que a disfunção diastólica (DD) isolada era tão habitual quanto a disfunção sistólica, e que tanto a freqüência de insuficiência cardíaca como a mortalidade elevava-se acentuadamente com o aumento da gravidade da disfunção diastólica. Mais recentemente Owan et al,11 estudando a prevalência e o desfecho de indivíduos com insuficiência cardíaca e fração de ejeção preservada, observaram que 29% dos pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca diastólica morreram dentro de um ano após a alta hospitalar, e que 65% pereceram dentro de cinco anos. Esses pesquisadores também relataram que a sobrevida dos pacientes com fração de ejeção reduzida vem melhorando significativamente com o passar do tempo, enquanto pouco avanço tem ocorrido naqueles com insuficiência cardíaca e fração de ejeção preservada. Fatores genéticos, estruturais, metabólicos e hemodinâmicos podem influenciar a função diastólica tanto no repouso como em condições de aumento de demanda ou isquemia.12 A disfunção diastólica do ventrículo esquerdo caracterizase por anormalidade do relaxamento, enchimento ou distensibilidade, independentemente se a fração de ejeção é normal ou anormal e se o paciente é sintomático ou assintomático.13 A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) presente em Introdução 4 75% dos pacientes com insuficiência cardíaca é a principal enfermidade responsável pela hipertrofia e deterioração na função do ventrículo esquerdo. A disfunção diastólica ocorre precocemente no curso da hipertensão e precede a hipertrofia ventricular esquerda.14,15 A apresentação clínica da disfunção diastólica em pacientes hipertensos varia desde achados, em exames não-invasivos em indivíduos assintomáticos, até quadro de ICC, apesar de a função sistólica estar preservada.16,17 A prevalência de anormalidade de enchimento ventricular esquerdo em adultos hipertensos assintomáticos e sem hipertrofia pode superar os 33% chegando a atingir 80% nos hipertensos não-medicados com sinais de hipertrofia ao ECG, a grande maioria apresentando padrão de anormalidade do relaxamento. 18,19 1.2 Métodos Doppler Ecocardiográficos para avaliação da Função Diastólica O método mais amplamente utilizado para avaliar o enchimento ventricular é a análise da curva de velocidade de fluxo diastólico mitral obtida pelo Doppler pulsátil.20 Com a amostra de volume posicionada na via de entrada do VE, logo abaixo da valva mitral, próximo às bordas das cúspides e relativamente paralela ao fluxo mitral, obtém-se, nos indivíduos em ritmo sinusal, uma curva caracterizada por dois picos, as ondas E e A que representam, respectivamente, a fase de enchimento rápido (E) e a fase de contração atrial (A), refletindo diretamente a diferença de pressão entre o átrio esquerdo e o VE. Em indivíduos normais, a curva de fluxo mitral varia de acordo com as condições de pré e pós-carga, idade e FC. Para os indivíduos de meia idade, a velocidade da onda E é maior que a velocidade da onda A, com uma relação E/A em torno de 1,4:1 e um tempo de desaceleração de cerca de 200 ± 40 ms.21, 22 Introdução 5 Habitualmente, uma anormalidade no relaxamento é a primeira alteração na disfunção diastólica.21 Essa anormalidade distingue-se pelo menor gradiente de pressão entre o átrio esquerdo (AE) e o VE na fase inicial da diástole, que aumenta na fase tardia com a contração do átrio esquerdo, Neste estado, a amplitude da onda E está diminuída. Por causa do esvaziamento incompleto do átrio na fase inicial da diástole, pode haver aumento da pré-carga atrial com conseqüente aumento do gradiente de pressão ao final da diástole, usualmente responsável por um aumento na velocidade da onda A, com conseqüente diminuição da relação E/A (< 1,0) que, associadas com o aumento do tempo de desaceleração da onda E (TDE), representam o primeiro nível de disfunção diastólica (grau I), ou seja, padrão anormal de relaxamento. Em uma fase mais avançada pode haver redução na complacência do VE com aumento da pressão diastólica, e o enchimento do VE torna-se dependente do gradiente de pressão entre o AE e o VE, que pode ser mantido pelo aumento da pressão no átrio esquerdo. O aumento da pressão média do AE torna a curva de velocidade do fluxo diastólico mitral ao Doppler pulsátil com aparência normal e se caracteriza pelo enchimento precoce rápido, com aumento da velocidade da onda E e uma menor proeminência do fluxo de contração atrial (velocidade da onda A), caracterizando o estágio II da disfunção diastólica ou padrão pseudonormal.19 Nos estágios finais da disfunção diastólica, a complacência está muito prejudicada produzindo elevações importantes nas pressões de enchimento para qualquer aumento de volume ventricular. O fluxo mitral inicial é muito acelerado (onda E ampla) com rápido equilíbrio das pressões de AE e VE, o que encurta o tempo de desaceleração da onda E. As pressões e a complacência estão tão alteradas que há pouca contribuição da contração atrial para o enchimento ventricular (onda A Introdução 6 reduzida); essas alterações caracterizam os graus III e IV, ou padrão restritivo. Um paciente pode progredir ou regredir entre os graus I, II e III, contudo, nos estágios avançados da doença, o padrão restritivo pode persistir e ser irreversível apesar de manipulações nas pressões de enchimento (grau IV). 21,22 Os padrões de enchimento ventricular, derivados das curvas de velocidade de fluxo mitral, não devem ser interpretados como uma medida de todas as complexidades envolvidas na função diastólica. Embora elas sejam preditivas das pressões de enchimento e do prognóstico em um subgrupo de pacientes, existem muitos fatores que podem limitar a sua utilidade na avaliação geral da função diastólica. Em verdade, as pressões de enchimento avaliadas pela curva de velocidade de fluxo mitral têm acurácia realmente comprovada somente nos pacientes com disfunção sistólica e em ritmo sinusal.23 Em pacientes com função sistólica normal as curvas de velocidade de fluxo diastólico mitral, quando analisadas isoladamente, costumam apresentar valores amplamente dispersos no mesmo paciente em questão de dias ou mesmo horas, sem boa correlação com as pressões de enchimento ventricular. Isso provavelmente se deve a uma variedade de fatores inter-relacionados, destacando-se a complacência atrial e ventricular, a inércia valvar mitral e a pré-carga atrial. Para superar essas limitações, as curvas de velocidade de fluxo diastólico mitral têm sido utilizadas em conjunto com outros parâmetros ou índices também obtidos pela Doppler ecocardiografia como as curvas de velocidade de fluxo de veias pulmonares, a velocidade de propagação do fluxo diastólico mitral ao mapeamento de fluxo em cores pelo modo M, respostas do fluxo mitral às alterações de pré-carga (manobra de Valsalva), Doppler Tissular (DT) e o índice de Performance Miocárdica ou índice de Tei.22,24 Introdução 7 1.3 Curvas de Fluxo de Veias Pulmonares Desde os anos setenta as curvas de velocidade de fluxo de veias pulmonares têm sido reconhecidas por estarem intimamente relacionadas com as pressões capilar pulmonar e de átrio esquerdo.25 Sua análise pela ecocardiografia Doppler, associada com dados da curva de velocidade de fluxo diastólico mitral, foi o primeiro parâmetro a prover informações adicionais para diferenciar o padrão pseudonormal do fluxo normal ou estimar as pressões de enchimento, especialmente em pacientes com função sistólica comprometida.26,27 Assim como as curvas de velocidade de fluxo diastólico mitral, as de veias pulmonares apresentam uma distribuição parabólica durante a progressão de um estágio normal para outro mais grave, de disfunção diastólica, o que torna as informações obtidas muitas vezes contraditórias. Outra limitação é que as curvas de velocidade de fluxo das veias pulmonares ao ecocardiograma transtorácico são freqüentemente inadequadas para análise, particularmente em pacientes com insuficiência cardíaca com aumento da área cardíaca, exigindo uma maior distância entre o transdutor e as veias pulmonares.28 1.4 Mapeamento de fluxo em cores ao modo M Enquanto o Doppler pulsátil convencional fornece a distribuição temporal das velocidades do fluxo sanguíneo em um local específico, o mapeamento de fluxo em cores ao modo M provê a distribuição espacial dessas velocidades ao longo de uma linha vertical em função do tempo. Esse método está baseado na análise do intervalo de propagação do fluxo em cores entre o pico da velocidade ao nível das cúspides da valva mitral até o pico da velocidade da região apical do VE. Uma primeira onda propaga-se do AE ao VE e corresponde ao enchimento inicial e uma Introdução 8 segunda onda segue a contração atrial. A magnitude dessas velocidades é maior abaixo das cúspides da valva mitral, e diminui em direção à região apical do VE. Em situações normais, o fluxo propaga-se rapidamente em direção ao VE. O mapeamento de fluxo em cores ao modo M é relativamente independente da précarga,29 relacionado inversamente ao relaxamento do VE e diretamente à função sistólica.30,31,32 Em pacientes hipertensos com anormalidade do relaxamento, a velocidade de propagação está reduzida.28 Esse método não apresenta padrão de pseudonormalização e, portanto, pode ser usado em todos os níveis de função sistólica. Sua principal limitação é a falta de consenso na sua utilização.22 1.5 Manobra de Valsalva O padrão pseudonormal de enchimento é difícil de ser distinguido do padrão normal da curva de velocidade de fluxo mitral. Alterações nas curvas de velocidade de fluxo mitral obtidas pela redução na pré-carga podem ser úteis em distinguir esses dois padrões de enchimento do ventrículo esquerdo. Pesquisas prévias têm definido os efeitos da redução da pré-carga na curva de velocidade de fluxo mitral. Em normais, uma redução da pré-carga com manobra de Valsalva ou nitroglicerina, resulta em uma diminuição nas velocidades das ondas E e A, além de prolongar o tempo de desaceleração. Essa resposta hipovolêmica produz pouca mudança na relação E/A. Em contraste, doenças cardíacas com padrão pseudonormal demonstram um declínio semelhante na velocidade da onda E com pouca ou nenhuma alteração na velocidade da onda A. Isto resulta em uma diminuição na relação E/A, com a revelação de um padrão anormal de relaxamento. Pacientes com marcada redução na complacência e padrão restritivo de enchimento podem ou não alterar o padrão de curva de velocidade de fluxo mitral em resposta à redução na Introdução 9 pré-carga, dependendo do grau de restrição. Assim, a redução na pré-carga, utilizando a manobra de Valsalva, é parte essencial na avaliação do grau de disfunção diastólica em pacientes suspeitos de padrão de enchimento pseudonormal e na identificação do padrão restritivo reversível ou não-reversível.33 1.6 Doppler Tissular O Doppler tissular (DT) é um método relativamente recente que permite a quantificação da velocidade miocárdica intramural. As estruturas cardíacas movemse a uma velocidade média de 0,06 a 0,24 m/s, que é 10 vezes menor do que a velocidade do fluxo sanguíneo. O DT utiliza sinais ao Doppler de baixas velocidades e elevadas amplitudes ao contrário da análise do Doppler convencional que utiliza altas velocidades e baixas amplitudes. A abordagem mais utilizada é a análise da velocidade do anel mitral, lateral ou septal, no sentido longitudinal, que parece representar o relaxamento e a contração longitudinal global do VE,34,35 mas que parece ser causado também pelos movimentos de translação e rotação das estruturas cardíacas. Esse método tem-se mostrado útil na avaliação da performance sistólica e diastólica do VE e sofre menos influência dos gradientes de pressão, muitas vezes responsáveis pelos efeitos contraditórios na análise das curvas de fluxo mitral.36,37 Oki et al,38 estudando a aplicação clínica do DT em pacientes com anormalidade no relaxamento do VE, e comparando com as curvas de velocidade de fluxo mitral e medidas invasivas de função ventricular, observaram que a constante de relaxamento (τ), obtida pelo estudo hemodinâmico, correlacionava-se bem com parâmetros calculados a partir das curvas de velocidade de fluxo mitral, exceto naqueles pacientes com pressões finais de VE elevadas que tinham padrão Introdução 10 pseudonormal. Em contraste, a τ correlacionou-se bem com as velocidades ao DT (Em septal) em todos os indivíduos, independentemente de suas pressões de enchimento, sugerindo que o DT era capaz de fornecer uma avaliação do relaxamento do VE relativamente independente da pré-carga. Farias et al.39 comparando as curvas de velocidade de fluxo mitral com o DT, na avaliação da função diastólica, observaram que as velocidades diastólicas miocárdicas medidas pelo DT estavam significativamente reduzidas nos pacientes com disfunção diastólica e que, ao contrário das curvas de velocidade de fluxo mitral, mostravam um declínio progressivo em direção às formas mais graves de disfunção diastólica, sem apresentarem reversão durante os estágios caracterizados pelo aumento da pré-carga compensatória. Da mesma forma Munagala et al40 mostraram uma queda progressiva nas velocidades miocárdicas diastólicas iniciais (Em) com o aumento da faixa etária, refletindo a dependência do relaxamento do ventrículo esquerdo com a idade. 1.7 Índice de Performance Miocárdica Estudos das alterações no desempenho cardíaco em humanos têm focado amplamente as medidas de fluxo, pressão e volume cavitário, enquanto que as alterações nos intervalos sistólicos e diastólicos têm recebido pouca atenção. O uso potencial dos intervalos do ciclo cardíaco como medida de desempenho ventricular foi reconhecido já no século XIX; porém, foi em meados do século passado que se deu início ao uso diagnóstico desses intervalos. Nos anos sessenta, Weissler et al41 utilizando simultaneamente eletrocardiograma, fonocardiograma e o traçado do pulso carotídeo, introduziram o termo intervalos de tempo sistólico, que compreendia as medidas da sístole eletromecânica, do período de pré-ejeção e do tempo de Introdução 11 ejeção do VE. Esses índices foram os primeiros métodos quantitativos não-invasivos de análise de função cardíaca e deram início ao uso da expressão cardiologia não invasiva. Eles tinham a vantagem de ser relativamente pouco influenciado por mudanças na FC e os seus aumentos denotavam uma deterioração da função sistólica; no entanto, com o tempo foi provado que eles apresentavam significante variabilidade em várias formas de disfunção sistólica e assim progressivamente passaram a cair em desuso. Em 1982, Mancini et al42 associaram o ecocardiograma modo M da valva mitral ao traçado do pulso arterial carotídeo e ao ECG, e propuseram um novo método quantitativo de análise da função cardíaca, chamandoo de índice isovolumétrico. Esse índice, utilizado em princípio em cães, e depois em indivíduos com doença cardíaca, acrescentava uma medida de função diastólica aos índices sistólicos, sendo calculado como a somatória do intervalo sistólico eletromecânico inicial com os tempos de contração e relaxamento isovolumétrico, dividido pelo tempo de ejeção ventricular (TE), aferidos simultaneamente. Segundo esses autores, o índice isovolumétrico era um indicador sensível de disfunção de VE e do diagnóstico de doença coronariana em pacientes com função sistólica preservada; contudo, houve pouco progresso na utilização clínica desse índice, provavelmente em virtude da dificuldade logística de se obter esses intervalos. Mais recentemente, Chuwa Tei et al,24 baseando-se na expressão de Mancini, porém empregando os traçados das curvas de Doppler pulsátil de vias de entrada e de saída ventricular, transportaram esse índice para a prática clínica como instrumento na avaliação da performance global ventricular. Esse índice conhecido como índice de performance miocárdica (IPM) ou simplesmente índice de Tei, em analogia à fórmula de Mancini, combina os intervalos de tempo sistólico e diastólico, e é igual à soma dos tempos de contração e relaxamento isovolumétricos, dividido Introdução 12 pelo tempo de ejeção, e segundo esses pesquisadores, poderia refletir melhor o desempenho do VE do que os parâmetros de função sistólica e diastólica analisados isoladamente. O IPM tem-se mostrado de fácil obtenção; é reprodutível; não depende da geometria ventricular; é pouco afetado pela freqüência cardíaca, pressão arterial, idade ou sexo;43-45 pode ser utilizado tanto em adultos como em crianças na avaliação da função dos ventrículos esquerdo e direito; e parece ter poder preditivo incremental para determinar o prognóstico em várias doenças cardíacas, incluindo miocardiopatia dilatada,46 infarto agudo do miocárdio,47,48 insuficiência cardíaca congestiva,49 rejeição cardíaca,50 hipertensão arterial sistêmica,51 e hipertensão arterial pulmonar primária.52 Bruch et al45 investigaram a utilidade clínica do IPM em identificar pacientes com ICC de grau leve a moderado, comparando com medidas invasivas da pressão diastólica de VE e fração de ejeção. O IPM foi medido em todos os pacientes, foi reprodutível (variabilidade interobservador de ± 4%) e significativamente maior nos pacientes com insuficiência cardíaca do que nos controles (0,60 ± 0,18 vs. 0,39 ± 0,10) devido, principalmente, ao prolongamento do tempo de contração isovolumétrica (TCIV) e à redução do TE. Esses autores demonstraram que tanto no grupo com ICC como no grupo-controle, o IPM correlacionou-se significativamente, embora fracamente, com as pressões de enchimento de ventrículo esquerdo, e nenhuma correlação foi observada entre o IPM e as pressões arteriais sistólica e diastólica, e a FC de repouso. Yeo e et al52 evidenciaram que pacientes com hipertensão arterial pulmonar, apresentavam IPM de ventrículo direito elevado (0,84 ± 0,2), enquanto que pacientes sem doença cardíaca apresentavam índice médio de 0,28±0,04. Nesse estudo, cinqüenta e três pacientes foram acompanhados por um período médio de 2,9 anos, quatro pacientes foram submetidos a transplante Introdução 13 pulmonar e trinta morreram, sendo evidenciado que o IPM era um preditor independente para desfechos adversos: mortes cardíacas ou transplante pulmonar. Poulsen et al53 compararam o IPM nas primeiras horas da fase aguda do IAM com variáveis convencionais da ecocardiografia Doppler e os correlacionaram com o desfecho de ICC. Eles observaram valores de IPM significativamente maiores no grupo com IAM em relação aos indivíduos sadios (0,54 ± 0,14 vs. 0,40 ± 0,04 p<0,0001), devido ao prolongamento do TCIV e redução do TE, enquanto que o tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV) não apresentou diferenças significativas entre os dois grupos. O IPM esteve aumentado em todos os pacientes que desenvolveram ICC incluindo cinco pacientes com fração de ejeção acima de 0,50. Em uma análise de regressão multivariada escalonada, esse índice foi o preditor mais forte e independente do surgimento de ICC na primeira semana após IAM. Nesse estudo, a fração de ejeção média dos indivíduos com IAM era significativamente menor em relação ao grupo-controle (0,46 ± 0,11 vs. 0,62 ± 0,07 p<0,0001). Os efeitos da pré-carga no IPM foram analisados por Moller et al,54 utilizando a manobra de Valsalva, a elevação dos membros inferiores e a administração de nitrato em indivíduos com IAM prévios. Esses autores relataram que esse índice era influenciado pela pré-carga em indivíduos normais e em menor extensão em pacientes com infartos prévios; porém, a magnitude dessas alterações era mínima e não alterava o valor prognóstico desse índice. Analogamente Lind et al,55 estudando o IPM em indivíduos sexagenários, demonstraram que esse índice não era influenciado por marcadores de pré-carga como o tamanho do átrio esquerdo e o diâmetro do VE. Em um modelo experimental utilizando suínos, Lacorte et al56 correlacionaram o IPM com medidas invasivas de função ventricular, encontrando Introdução 14 uma relação linear significativa entre esse índice e uma constante de distensibilidade ventricular, e relações inversas com o débito cardíaco e a fração de ejeção. Em nosso meio Cury et al57 estudando a relação do IPM com parâmetros clássicos da ecocardiografia Doppler de função ventricular em ratas Wistar, submetidas à cirurgia para indução de IAM, e divididas em grupos de acordo com o tamanho do infarto, observaram um incremento progressivo do IPM em relação direta ao tamanho do infarto e inversa com a fração de ejeção. Nesse estudo, a relação E/A, único índice de função diastólica estudado, apresentou uma significativa correlação, ainda que não-linear, com o IPM, embora o padrão de disfunção diastólica tipo I (padrão anormal de relaxamento) não tenha sido observado em nenhum dos grupos. Apesar dos resultados preliminares satisfatórios, o IPM tem mostrado algumas limitações à análise da função ventricular. Hole et al,58 estudando sucessivamente 71 pacientes com IAM às condições basais, aos três meses e aos dois anos, observaram que o IPM não era um marcador sensível nem específico de disfunção sistólica ou diastólica, tanto nas condições basais como no seguimento de dois anos, o que levou esses pesquisadores a questionarem o valor clínico do IPM como substituto dos tradicionais marcadores de função cardíaca. Cheung et al,59 estudando suínos Yorkshire e utilizando a ecocardiografia Doppler simultaneamente, com medidas de pressão e volume intraventricular, demonstraram a insensibilidade do IPM às variações da contratilidade miocárdica induzidas pela dobutamina. Ademais, nesse estudo, o IPM foi significativamente afetado pela redução da précarga e aumento da pós-carga. Nesse mesmo raciocínio, porém em humanos, Ling et al60 com ecocardiografia sob estresse com dobutamina, avaliaram a capacidade diagnóstica do IPM em pacientes com doença arterial coronária e observaram Introdução 15 poucas mudanças nesse índice à elevação do estresse nos pacientes nãoisquêmicos (0,53 ± 0,13 no repouso vs. 0,52 ± 0,16 no pico do estresse). Lacorte et al56 observaram ausência de correlação entre os valores reais do IPM e uma medida invasiva, carga-independente, de avaliação de contratilidade ventricular. Do mesmo modo, Lind et al,55 utilizando o índice de resistência periférica total e a relação volume sistólico pela pressão de pulso, variáveis que refletiam propriedades de pós-carga, concluíram que eles eram um forte determinante no resultado final do IPM. Mais recentemente, Lavine,61 com auxílio de marca-passo atrial e de infusão de solução salina, estudou o efeito da FC e da pré-carga no IPM em cães com déficit contrátil de VE induzido por isquemia, e observou um declínio do IPM com sobrecargas volumétricas, embora nenhuma alteração ocorresse aos animais com função ventricular normal. A despeito de o IPM em vários estudos refletir a gravidade da disfunção sistólica, com relação inversa com a fração de ejeção, a relação com a disfunção diastólica, principalmente em indivíduos com fração de ejeção normal, tem sido pouco estudada e com resultados contraditórios. Dagdelen et al,62 investigando a importância do IPM na avaliação da função ventricular em pacientes com DAC crítica, sem infarto prévio e com fração de ejeção normal, observaram no grupo com estenose grave (lesões >70%) valores de IPM significativamente elevados em relação aos indivíduos com DAC leve (0,53 ± 0,07 vs. 0,45 ± 0,08 p<0,001), à custa do prolongamento isolado do TRIV. Nesse estudo, porém, não ficou clara a influência da disfunção diastólica no resultado do IPM, já que esses pesquisadores não classificaram os padrões de disfunção diastólica existentes nos grupos. Nearchou et al,63 estudando o IPM como um método de avaliação da disfunção diastólica de VE em 105 pacientes na fase aguda do IAM, observaram que esse Introdução 16 índice foi capaz de detectar com facilidade a disfunção diastólica nas suas formas leves ao contrário das formas mais graves, nas quais não foi considerado um bom método, possivelmente como resultado de sua “pseudonormalização” no subgrupo de pacientes com padrão restritivo. Nesse estudo, apesar do IPM ter sido um bom método diagnóstico nas formas leves de disfunção diastólica, esse subgrupo apresentava fração de ejeção média de 48 ± 2,1%. Recentemente, em dois estudos pilotos, observamos uma limitação desse índice em pacientes portadores de HAS e disfunção diastólica isolada de VE,64 além de uma menor acurácia em relação ao Doppler tissular;65 no entanto, em ambos os trabalhos os intervalos isovolumétricos e suas relações com a disfunção diastólica e influências no resultado do IPM não foram aferidas. Considerando a ambivalência do IPM em relação à disfunção diastólica nos dados da literatura apresentados e a elevada prevalência de hipertensos com alteração do relaxamento de VE e fração de ejeção normal nos laboratórios de ecocardiografia argüimos a relevância clínica desse índice na análise rotineira da disfunção diastólica de ventrículo esquerdo em indivíduos hipertensos com função sistólica preservada. 2. Objetivos ______________________________________________________________ Objetivos • 18 Avaliar o comportamento do IPM e dos seus componentes nos pacientes hipertensos com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo e fração de ejeção normal. • Analisar a relação do IPM com ecocardiográficas. as variáveis clínicas e Doppler 3. Casuística e Métodos ______________________________________________________________ Casuística e Métodos 20 3.1 Pacientes e Controles Planejou-se um estudo prospectivo e transversal que incluiu 60 indivíduos consecutivos que realizaram ecocardiograma com Doppler. Entre os 60 indivíduos, 30 eram saudáveis (grupo I – controle) e 30 tinham hipertensão arterial sistêmica (grupo II). Foram considerados critérios de exclusão: idade menor que 18 anos, recusa em participar do estudo, existência de arritmias, bloqueio de ramo esquerdo, disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, disfunções valvares de graus moderado ou importante, uso de marca-passo, doenças miocárdicas, condições de saúde grave ou sintomas durante o estudo, ou janela acústica ruim. Seis pacientes foram excluídos por janela acústica ruim Para serem incluídos no estudo os indivíduos do grupo I além de saudáveis deveriam apresentar estudos ecocardiográficos normais. No grupo II, os indivíduos deveriam ter hipertensão arterial sistêmica, estar em classe funcional I ou II (New York Heart Association), e em uso ou não de medicamentos anti-hipertensivos. Além disso, deveriam ter função sistólica preservada e disfunção diastólica caracterizada ao ecocardiograma Doppler por relação E/A < 1,0 e pelo menos outros dois dos seguintes critérios:20,28,66-71 tempo de desaceleração da onda E (TDE) >220 ms, velocidade miocárdica longitudinal diastólica inicial em borda septal (Em) < 8 cm/s e relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais no anel mitral septal (Em/Am) < 1. Todos os participantes assinaram o "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido", conforme determina a resolução número 196, de 13 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. O Comitê de Ética em Pesquisa da Casuística e Métodos 21 Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas aprovou o protocolo de pesquisa número 474 em reunião plenária ocorrida em 23 de novembro de 2005. 3.2 Estudo Ecocardiográfico Os indivíduos da pesquisa foram examinados por um único observador em equipamento GE modelo RT 6800 Sigma (Medical Systems, Milwaukee, Wisconsin USA) com um transdutor de 2,5 MHz. Foram realizadas medidas uni e bidimensionais das estruturas cardíacas de acordo com as recomendações da "American Society of Echocardiography,72,73 bem como as aferições pelo Doppler espectral dos fluxos intracardíacos. Para a aquisição das imagens nos planos paraesternal e apical os pacientes, foram posicionados em decúbito lateral esquerdo e durante o exame os indivíduos foram monitorizados por uma derivação eletrocardiográfica. As imagens foram digitalizadas e arquivadas para análise posterior. Foram obtidas as seguintes medidas ecocardiográficas: diâmetros da raiz da aorta (AO) na diástole, do átrio esquerdo (AE) em sístole, diâmetro diastólico de VE (DDVE), diâmetro sistólico de VE (DSVE), espessuras do septo (Septo) e da parede posterior do VE (PP), na diástole. Para o cálculo da massa foi empregada a fórmula recomendada pela “American Society of Echocardiography” “e “European Association of Echocardiography”, corrigida por Devereux et al e apropriada para pacientes hipertensos. 74,75 Massa do VE= 0,8. {1,04[(DDVE + Septo + PP)³ - (DDVE)³]} + 0.6 g Os resultados, expressos em grama (g), foram indexados à superfície corporal, obtendo-se, assim, o índice de massa do ventrículo esquerdo (IM) (g/m²). Como critério para hipertrofia de ventrículo esquerdo (HVE) foram utilizados os valores recomendados pela “American Society of Echocardiography” e “European Casuística e Métodos 22 Association of Echocardiography,” 75 ou seja, Índice de massa ≥96 g/m² para o sexo feminino e ≥ 116 g/m² para o sexo masculino. A espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo (ERP) foi obtida pela seguinte fórmula: ERP = 2 x PP/DDVE. Seu valor considerado normal foi ≤ 0,45.76 Os volumes diastólicos e sistólicos do VE foram calculados, utilizando-se as medidas dos diâmetros e calculados de acordo com a fórmula de Teichholz et al:77 volume = 7D³/(2,4 + D), onde D é igual ao diâmetro diastólico ou sistólico do VE. Desse modo, a fração de ejeção foi calculada com a seguinte fórmula: FE= (Volume diastólico VE – Volume sistólico VE)/Volume diastólico VE 3.3 Função diastólica do ventrículo esquerdo As curvas de fluxo mitral foram obtidas no corte apical de quatro câmaras com a amostra de volume situada entre as bordas das cúspides da valva mitral durante a diástole. Subseqüentemente a velocidade do fluxo de via de saída do VE foi obtida em corte cinco câmaras com a mostra de volume posicionada imediatamente abaixo das cúspides da valva aórtica. Foram obtidas as velocidades máximas iniciais (E), atriais (A), razão E/A, tempo de desaceleração da onda E (TDE) e velocidade máxima de fluxo de via de saída de VE. O Doppler tecidual foi obtido no corte apical quatro-câmaras, na região septal do anel mitral. Essa região em contraste com outras regiões (lateral, anterior ou inferior) move-se em uma direção mais paralela ao transdutor sendo menos influenciada pelo movimento de translação do coração.67 Para obter os melhores registros das velocidades miocárdicas foi utilizado o Doppler pulsátil com redução dos filtros de alta passagem ao redor de 50Hz. O ganho foi amplificado para aumentar os sinais de baixa velocidade e de alta amplitude das paredes do Casuística e Métodos 23 miocárdio; o limite de Nyquist variou em torno de - 20 a 35 cm/s. Foram analisadas as velocidades miocárdicas longitudinais máximas durante a sístole (Sm), a diástole inicial (Em), a tardia (Am) e a razão Em/Am. As medidas ao Doppler foram calculadas de uma média de 5 batimentos consecutivos em velocidades de varredura de 100 mm/s e depois arquivados como imagens digitalizadas. 3.4 Índice de Performance Miocárdica do Ventrículo Esquerdo Para a obtenção do IPM e dos seus componentes individuais foram mensurados os intervalos de tempo das curvas de velocidade de fluxo utilizando o Doppler pulsátil. A amostra de volume foi posicionada, em dois momentos distintos, nas bordas das cúspides da valva mitral para o registro da curva de velocidade do fluxo diastólico e logo abaixo ao plano valvar aórtico, para o registro da curva de velocidade na via de saída do VE (Figura 1); num primeiro momento foi medido o intervalo “a”, que corresponde ao intervalo de tempo entre o final do fluxo diastólico mitral e seu reinício no ciclo cardíaco seguinte, e é igual à soma do tempo de contração isovolumétrica, tempo de ejeção ventricular e tempo de relaxamento isovolumétrico. Na curva de fluxo da via de saída do ventrículo esquerdo foi medido o intervalo “b”, correspondente ao TE. A soma do TCIV e do TRIV (numerador do IPM) foi obtida subtraindo do intervalo “a” o intervalo “b”. O IPM foi calculado como (a - b)/b. (Figuras 1 e 2). Com o registro simultâneo do traçado eletrocardiográfico (ECG) foram determinados, de forma indireta, os valores isolados do TCIV e do TRIV. O TRIV foi medido subtraindo o intervalo “d” (tempo entre o pico da onda R do ECG e o final do fluxo na via de saída do VE) do intervalo “c” (tempo entre o pico da onda R do ECG Casuística e Métodos 24 e o início do fluxo diastólico mitral). O TCIV foi calculado subtraindo o TRIV do Intervalo “a - b” 3.5 Método Estatístico As variáveis contínuas foram expressas com os respectivos valores mínimos, máximos, média, desvios-padrão e medianas. As variáveis categóricas foram descritas em percentagem, sendo comparadas por meio do teste exato de Fisher. Para avaliar a distribuição das variáveis foram utilizados os seguintes testes de normalidade: Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilks. A comparação entre média nos dois grupos foi calculada pelo teste t de Student, quando a suposição de normalidade dos dados foi rejeitada; utilizou-se o teste não-paramétrico de MannWithney. Para avaliar a relação entre o IPM e as variáveis clínicas e ecocardiográficas contínuas que apresentaram distribuição normal, foi empregado o método de correlação (coeficiente de correlação de Pearson). Subseqüentemente, as variáveis relacionadas significantemente foram analisadas pelo método de regressão linear múltipla escalonada. Foram construídas curvas ROC (receiver operating characteristic curves) para testar a capacidade discriminatória do IPM e do TRIV em detectar os pacientes hipertensos com alteração do relaxamento. Para testar a relação, o grau de concordância e as variabilidades intra e interobservador foram utilizados o coeficiente de correlação de Pearson e o método de análise descrito por Bland e Altman. Foram testados o IPM, o TE e as velocidades máximas das ondas E, A e razão E/A, em 10 pacientes selecionados aleatoriamente, previamente ao início da pesquisa. Para testar a variabilidade interobservador as medidas foram realizadas por um segundo observador que Casuística e Métodos 25 desconhecia os resultados do primeiro examinador. A variabilidade intraobservador foi estimada repetindo as medidas em duas ocasiões (1º e 10º dia) nas mesmas condições basais. Todos os testes foram analisados admitindo-se nível de significância de 5% (p-valor ≤ 0,05). Casuística e Métodos Figura 1 - Desenho esquemático do cálculo do IPM, seus componentes e das medidas do TRIV e do TCIV Figura 2 - Exemplos de medidas do índice de performance miocárdica no grupo com disfunção diastólica (A) e no grupo-controle (B) 26 4. Resultados ______________________________________________________________ Resultados 28 4.1 Dados Antropométricos e Clínicos O grupo I foi constituído por trinta indivíduos (14 homens) sem doença cardíaca ou sistêmica conhecida, com média de idade de 40 ± 12 anos. O grupo II foi composto por trinta pacientes (13 homens) com média de idade 68 ± 9,6 anos. As características clínicas do grupo II estão listadas na Tabela 1. A idade no grupo I foi significantemente inferior à do grupo II; os dois grupos não apresentaram diferenças significantes em relação ao sexo, peso, superfície corpórea, enquanto que a altura, freqüência cardíaca, pressões arteriais sistólica e diastólica foram significantemente maiores no grupo II. As médias, os desviospadrão, as medianas, os valores mínimos e máximos e significância estatística de ambos os grupos estão na Tabela 2. 4.2 Ecocardiografia Doppler 4.2.1 Dados Anatômicos Os dois grupos não apresentaram diferenças significantes em relação ao DSVE. O DDVE, as espessuras de septo e da parede posterior de VE, a ERP, massa, IM e os diâmetros da aorta e do átrio esquerdo foram significantemente maiores no grupo II. Os valores da média, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos e teste de significância de ambos os grupos estão na Tabela 3. 4.3 Função sistólica e diastólica Os dois grupos não apresentaram diferenças significantes em relação à fração de encurtamento e fração de ejeção; porém, diferiram significantemente em relação às velocidades das ondas E, A, Sm, Em e Am, ao TDE e às relações E/A e Em/Am. Os valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos e Resultados 29 teste de significância de ambos os grupos estão na Tabela 4 e ilustrados nas figuras de 3 a 6. 4.4 Índice de performance miocárdica O IPM foi obtido em todos os indivíduos incluídos no estudo e foi significantemente maior nos pacientes hipertensos em relação ao grupo-controle à custa de aumento significante do TRIV. O TCIV e o TE não diferiram entre os grupos (Tabela 5; Figuras 7 e 8). Com análise univariada, o IPM no grupo-controle correlacionou-se negativamente apenas com a onda Sm (r:-0,59; p:0,007), enquanto que nos portadores de disfunção diastólica esse índice teve correlação positiva com a ERP, e negativa com o diâmetro do AE, onda E, relação E/A e ondas Sm e Em. Nenhuma relação com a idade, superfície corpórea, FC, pressão arterial sistólica e diastólica, DDVE, DSVE, massa, índice de massa, fração de ejeção, TDE e relação Em/Am foi observada. Após uma análise de regressão multivariada escalonada a ERP e as ondas E e Sm ainda foram preditores independentes do IPM (Tabela 6, Figuras 09 a 13). Nas curvas ROC, a área sob a curva do IPM foi de 0,70 ± 0,07 (IC: 0,56 0,83) e com valor de corte > 0,40 os pacientes hipertensos com disfunção diastólica foram identificados com sensibilidade de 63% (IC95%: 44% - 80%) e especificidade de 70% (IC95%: 51% - 85%), o que significou taxas de falso-negativos e positivos de 37% e 30% respectivamente, e razão de probabilidade de 2,11. A área sob a curva do TRIV foi de 0,76 ± 0,06 (IC95%: 0,64 a 0,88) e com valor de corte >94 ms os pacientes do grupo II foram identificados com sensibilidade de 67% (IC95%: 47% - Resultados 30 83%) e especificidade de 80% (IC95%: 61% - 92%) e razão de probabilidade de 3,3 (Figura 14). 4.5 Análise Inter e Intra-observador Utilizando o teste de correlação de Pearson, houve correlação elevada e significante, com valores de r variando de 0,956 a 0,997 entre as variáveis analisadas. A aplicação do teste de Bland e Altman a essas variáveis resultou em diferenças não-significantes e num elevado grau de concordância tanto para as medidas dos dois observadores como para as medidas do mesmo observador, conforme demonstrado na tabela 7. 4.6 Tabelas e Figuras Tabela 1 - Características clínicas dos pacientes com disfunção diastólica HAS Tabagismo Insuficiência Aórtica Leve Hipertrofia de ventrículo esquerdo Insuficiência Coronariana Diabetes Mellitus Medicamentos Inibidor de ECA ou BRA Diuréticos B-bloqueador Bloq. de canal de cálcio Grupo II 30 4 03 29 03 07 % 100% 13% 10% 97% 10% 23% 21 15 9 6 70% 50% 30% 20% Resultados 31 Tabela 2 - Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos dados clínicos em ambos os grupos Idade (anos) Grupo N Média DP Controles Pacientes 30 30 40 67,8 12 9,63 Sexo (masc/fem) Controles Pacientes Mediana Mínimo Máximo 40,5 67,50 18,00 51,00 66,00 89,00 14/16 13/17 p <0.0001* 1,0 Altura (cm) Controles Pacientes 30 30 163,6 156,9 8,57 7,79 163 157 148 143 186,00 174,00 0,0053* Peso (kg) Controles Pacientes 30 30 69,7 68,4 12,71 13,02 70,5 68,50 42,00 48,00 98,00 101,00 0,6896* SC (m²) Controles Pacientes 30 30 1,75 1,68 0,18 0,17 1,72 1,69 1,39 1,36 2,14 1,98 0,1721* FC (bpm) Controles Pacientes 30 30 66 72 9,2 8,4 64,5 70,50 52,00 62,00 84,00 90,00 0,0083** PAS (mmHg) Controles Pacientes 30 30 112 154 15 20 109,50 153,00 85,00 107,00 142,00 195,00 <0.0001* PAD (mmHg) Controles Pacientes 30 30 67 82 8,8 12 66,50 81,00 52,00 63,00 81,00 114,00 <0.0001* *: nível descritivo de probabilidade do teste t de Student **: nível descritivo de probabilidade do teste não-paramétrico de Mann-Withney SC: superfície corpórea; FC: freqüência cardíaca; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica. Resultados 32 Tabela 3 - Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos dados ecocardiográficos em ambos os grupos Grupo n Média DP Mediana AO (mm) Controles Pacientes 30 30 31,07 33,53 3,00 3,53 31,00 33,00 27,00 27,00 39,00 43,00 0,0051* AE (mm) Controles Pacientes 30 30 30 34,4 2,9 3,73 30,00 34,00 22,00 29,00 35,00 43,00 <0,0001** DDVE (mm) Controles Pacientes 30 30 45,6 47,4 2,7 2,4 46,00 47,00 41,00 43,00 52,00 51,00 0,0082* DSVE (mm) Controles Pacientes 30 30 29,27 29,87 2,59 2,83 29,50 30,00 24,00 22,00 35,00 35,00 0,3944* Septo (mm) Controles Pacientes 30 30 9,17 12,77 0,95 1,72 9,00 12,00 7,00 10,00 11,00 16,00 <0,0001** PP (mm) Controles Pacientes 30 30 9,10 12,30 0,92 1,24 9,00 12,00 7,00 10,00 11,00 15,00 <0,0001** ERP (cm) Controles Pacientes 30 30 0,40 0,52 0,03 0,05 0,40 0,052 0,32 0,43 0,44 0,61 <0.0001* Massa (g) Controles Pacientes 30 30 139,9 230,6 29,9 45,9 137,1 229,5 91,46 152,67 206,5 331,8 <0.0001* IM (g/m²) Controles Pacientes 30 30 80 137 12 23 79,44 131,89 58,23 108,31 100,0 200,7 <0.0001** Mínimo Máximo p *: nível descritivo de probabilidade do teste t de Student **: nível descritivo de probabilidade do teste não-paramétrico de Mann-Withney AO: diâmetro aórtico; AE: diâmetro do átrio esquerdo; DDVE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; PP: parede posterior; ERP: espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo; IM: índice de massa Resultados 33 Tabela 4 - Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos dos componentes do fluxo mitral e Doppler tecidual Grupo n Média DP Mediana Mínimo DD (%) Controles Pacientes 30 30 35,88 37,04 3,94 5,00 35,49 36,09 FE (%) Controles Pacientes 30 30 65,34 66,58 5,21 6,18 E (m/s) Controles Pacientes 30 30 0,77 0,65 A (m/s) Controles Pacientes 30 30 E/A Controles Pacientes 30 30 TDE (ms) Controles Pacientes 30 166,39 16,22 30 252,45 39,17 Sm (cm/s) Controles Pacientes 30 30 7,49 6,33 Em (cm/s) Controles Pacientes 30 30 Am (cm/s) Controles Pacientes Em/Am Controles Pacientes Máximo p* 30,00 29,79 42,00 51,11 0,3461 64,95 65,58 56,98 56,88 72,84 82,47 0,6099** 0,13 0,15 0,76 0,66 0,50 0,36 1,02 0,99 0,0017 0,49 0,85 0,09 0,15 0,46 0,82 0,35 0,58 0,68 1,24 <0.0001 1,62 0,76 0,34 0,10 1,62 0,77 1,06 0,59 2,36 0,90 <0.0001 164,60 255,00 132,60 188,20 204,60 336,60 <0.0001 1,17 1,23 7,46 6,31 5,22 4,44 9,90 9,24 0,0004 9,98 5,01 1,63 1,23 9,86 5,12 6,64 2,66 13,20 7,35 <0.0001 30 30 8,77 10,03 1,19 1,14 8,70 9,78 6,48 7,70 11,60 12,75 <0,0001 30 30 1,16 0,51 0,25 0,13 1,13 0,53 0,76 0,24 1,75 0,72 <0,0001 *: nível descritivo de probabilidade do teste t de Student **: nível descritivo de probabilidade do teste não-paramétrico de Mann-Withney DD: fração de encurtamento; FE: fração de ejeção; E, A e E/A: máximas velocidades da curva de fluxo mitral inicial e atrial e sua razão;TDE: tempo de desaceleração da onda E; Sm, Em, Am: velocidades máximas ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm), diástole inicial (Em), e tardia (Am); Em/Am: relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais. Resultados 34 Tabela 5 - Valores das médias, desvios-padrão, medianas, mínimos e máximos do IPM e seus componentes Máximo p* 341,20 370,60 503,20 516,00 0,0887 311,80 309,60 262,80 246,80 364,20 354,71 0,4808 30 458,57 43,31 30 473,13 29,58 462,80 469,30 338,60 415,40 560,80 527,20 0,1340 Controles Pacientes 30 376,62 32,70 30 369,96 26,70 380,20 369,80 296,40 318,40 451,60 425,80 0,3991 TRIV (ms) Controles Pacientes 30 30 82 103 18 22 83,90 104,20 41,60 61,60 113,40 144,00 0,0001 TCIV (ms) Controles Pacientes 30 30 32,14 32,01 13,60 19,58 34,20 34,00 3,80 2,20 51,60 67,00 0,9575 IPM Controles Pacientes 30 30 0,37 0,45 0,07 0,13 0,38 0,45 0,20 0,25 0,51 0,72 0,0029 Média DP Mediana Mínimo Grupo n a (ms) Controles Pacientes 30 424,49 36,15 30 441,02 37,65 427,00 435,8 TE (ms) Controles Pacientes 30 310,41 20,95 30 305,84 28,11 c (ms) Controles Pacientes d (ms) *: nível descritivo de probabilidade do teste t de Student a: intervalo de tempo entre o final do fluxo diastólico mitral e seu reinício no ciclo seguinte; TE: tempo de ejeção; c: tempo entre o pico da onda R do ECG e o início do fluxo diastólico mitral; d: tempo entre o pico da onda R do ECG e o final do fluxo na via de saída do VE; TRIV: tempo de relaxamento isovolumétrico; TCVI: tempo de contração isovolumétrico; IPM: índice de performance miocárdica. Resultados 35 Tabela 6 - Análise Univariada e Multivariada entre IPM e as variáveis clínicas e ecocardiográficas, no grupo com disfunção diastólica Análise Univariada Idade (anos) Altura (cm) Peso (kg) SC (m²) FC (bpm) PAS (mmHg) PAD (mmHg) Ao (cm) AE (cm) DDVE (mm) DSVE (mm) DD (%) FE (%) ERP (cm) Massa (g) IM (g/m²) E (m/s) A (m/s) E/A TDE (ms) Sm (cm/s) Em (cm/s) Am (cm/s) Em/Am Análise Multivariada r p 0,082 -0,040 0,007 -0,014 -0,131 0,032 0,187 - 0,017 -0,381 -0,179 -0,111 0,029 0,020 0,498 0,291 0,340 -0,481 -0,370 -0,411 0,085 -0,406 -0,386 -0,202 -0,249 0,668 0,832 0,970 0,944 0,492 0,869 0,323 0,928 0,038 0,345 0,559 0,879 0,918 0,005 0,118 0,065 0,007 0,044 0,024 0,655 0,026 0,035 0,285 0,184 β p 0,396 0,0066 -0,380 0,0125 -0,322 0,022 r:correlação de Pearson; β: coeficiente de padronização. SC: superfície corpórea; FC: freqüência cardíaca; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; AO: diâmetro aórtico; AE: diâmetro do átrio esquerdo; DDVE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; DSVE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo; PP: espessura da parede posterior; DD: fração de encurtamento; FE: fração de ejeção; ERP: espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo; IM: índice de massa; E, A e E/A: máximas velocidades da curva de fluxo mitral inicial e atrial e sua razão; Sm, Em e Am: velocidades máximas ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm), diástole inicial (Em), e tardia (Am); Em/Am: relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais. Resultados 36 Tabela 7 - Correlação e concordância entre os parâmetros de fluxo mitral o IPM e seus componentes entre dois observadores diferentes e entre o mesmo observador Análise r p Diferença entre as médias (%) p Limite de concordância de 95% E (m/s) Inter Intra 0,997 0,997 0,0001 0,0001 0,15 ± 2,5 1,0 ± 2,3 0,5 0,11 -4,7 a 4,9 -3,5 a 5,5 A (m/s) Inter Intra 0,995 0,996 0,0001 0,0001 1,9 ± 4,1 1,5 ± 2,8 0,21 0,08 -6,1 a 9,9 -4,0 a 7,1 E/A Inter Intra 0,99 0,997 0,0001 0,0001 1,9 ± 4,8 0,49 ±3,5 0,14 0,72 -7,5 a 11 -6,4 a 7,4 TE (ms) Inter Intra 0,956 0,982 0,0001 0,0001 0,4 ± 3,9 0,3 ± 2,3 0,6 0,65 -7,4 a 8,2 -4,2 a 4,7 IPM Inter Intra 0,97 0,98 0,0001 0,0001 6,1 ± 16,7 5,8 ± 8,4 0,53 0,69* -26 a 39 -10 a 22 r:correlação de Pearson. Inter: interobservador; Intra: intra-observador; E, A e E/A: velocidades máximas das ondas E e A e relação E/A da curva de velocidade de fluxo mitral. a: intervalo de tempo entre o final do fluxo diastólico mitral e seu reinício no ciclo seguinte; TE: tempo de ejeção; IPM: índice de performance miocárdica; *: nível descritivo de probabilidade do teste de Mann-Withney 37 1.2 1.4 1.0 1.2 1.0 0.8 A (m/s) E (m/s) Resultados 0.6 0.4 0.6 0.4 0.2 0.0 0.8 0.2 Controle 0.0 Pacientes Controle Pacientes 350 2.4 300 2.1 250 1.8 200 1.5 E/A TDE (ms) Figura 3 – Distribuição dos pacientes segundo as velocidades das ondas E e A em m/s 150 0.9 100 0.6 50 0 1.2 0.3 Controle Pacientes 0.0 Controle Pacientes Figura 4 – Distribuição dos pacientes segundo o tempo de desaceleração onda E (TDE) em ms e relação E/A 10.3 9.6 8.9 8.2 7.5 6.8 6.1 5.4 4.7 4.0 38 Em (cm/s) Sm (cm/s) Resultados Controle Pacientes 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 Controle Pacientes Figura 5 – Distribuição dos pacientes segundo as velocidades das ondas Sm e Em em cm/s 1.8 Em/Am 1.5 1.2 0.9 0.6 0.3 0.0 Controle Pacientes Figura 6 – Distribuição dos pacientes segundo a relação Em/Am Resultados 39 0.7 160 0.6 140 120 TRIV (ms) IPM 0.5 0.4 0.3 0.2 80 60 40 0.1 0.0 100 20 Controle 0 Pacientes Controle Pacientes Figura 7 – Distribuição dos pacientes segundo o índice de performance miocárdica (IPM) e o tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV) em ms 80 380 70 360 340 50 TE (ms) TCIV (ms) 60 40 30 320 300 20 280 10 260 0 Controle Pacientes 240 Controle Figura 8 – Distribuição dos pacientes segundo os tempos de contração isovolumétrica (TCIV) e ejeção (TE) em ms Pacientes Resultados 40 IPM vs. AE IPM = 0,88782 - ,0128 * AE r = -0,3805 p=0,038 0,8 0,7 IPM 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 28 30 32 34 36 38 40 42 44 95% IC AE Figura 9 – Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e o diâmetro do átrio esquerdo (AE) em mm no grupo II IPM vs. E/A IPM = 0,85674 - ,5386 * E/A r = -0,4106 0,8 0,7 IPM 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 E/A 0,80 0,85 0,90 0,95 95% confidence Figura 10 – Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a relação E/A no grupo II Resultados 41 IPM vs. ERP IPM = -0,1660 + 1,1828 * ERP r = 0,49823 0,8 0,7 IPM 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,40 0,42 0,44 0,46 0,48 0,50 0,52 0,54 0,56 0,58 0,60 0,62 95% confidence ERP Figura 11 – Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo no grupo II IPM vs. E IPM= 0,70154 - ,3910 * E r = -0,4813 0,8 0,7 IPM 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 E 0,8 0,9 1,0 1,1 95% confidence Figura 12 – Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a velocidade máxima inicial da curva de fluxo mitral (E) em m/s no grupo II Resultados 42 IPM vs. Sm IPM = 0,70916 - ,0412 * Sm r = -0,4059 0,8 0,7 IPM 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 4 5 6 7 Sm 8 9 10 95% confidence Figura 13 – Correlação entre o índice de performance miocárdica (IPM) e a velocidade máxima ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm) no grupo II Figura 14 - Curvas ROC do IPM (A) e do TRIV (B) para identificar pacientes com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo 5. Discussão ______________________________________________________________ Discussão 44 Em pacientes hipertensos o relaxamento do ventrículo esquerdo está freqüentemente anormal independentemente da presença de hipertrofia, provavelmente como resposta inicial à sobrecarga cardíaca causada pela hipertensão.14,15 No entanto, a análise da função diastólica em indivíduos com função sistólica preservada, característica comum nesses pacientes, é complexa devido à influência de diversos fatores tais como idade, velocidade de relaxamento ventricular, complacência atrial e ventricular, inércia valvar mitral e a pré-carga atrial.21 Para atenuar a influência dessas condições neste estudo, foram restringidos os critérios diagnósticos de disfunção diastólica ao se associar as curvas de fluxo mitral ao Doppler tecidual, este reconhecidamente menos influenciado por aqueles fatores. Nos últimos anos, refinamentos na ecocardiografia têm contribuído substancialmente no diagnóstico da disfunção diastólica, tendo sido incorporados vários recursos e aperfeiçoadas antigas técnicas; entre elas, o índice de performance miocárdica validado como um marcador da análise da função global do coração.24 Esse índice mostrou em pacientes com miocardiopatia dilatada e isquêmica,78 uma boa correlação com as medidas invasivas dP/dt (+), dP/dt (-) e com a constante de relaxamento (τ), além de ter sido mais sensível do que a relação E/A e o tempo de desaceleração da onda E, na avaliação do relaxamento diastólico do ventrículo esquerdo, sugerindo o seu uso potencial como uma medida nãoinvasiva da contração e do relaxamento do VE, em pacientes com insuficiência cardíaca de diferentes etiologias.79 A importância do IPM na análise e no prognóstico de várias enfermidades cardíacas tem sido bem documentada na literatura.45-53 Na grande maioria desses Discussão 45 estudos, porém, o IPM foi utilizado em portadores de disfunção sistólica e diastólica combinadas, mas pouco se tem publicado em relação à sua utilidade na análise da disfunção diastólica em pacientes com fração de ejeção normal. 62,63 Este estudo demonstrou que o IPM foi significantemente maior em pacientes hipertensos com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo e função sistólica preservada quando comparado ao grupo de indivíduos saudáveis com ecocardiogramas normais. O aumento do IPM foi causado fundamentalmente pelo prolongamento isolado do componente de função diastólica desse índice, o TRIV, que apresentou no grupo de hipertensos valores de 103 ± 22 ms contra 82 ± 18 ms no grupo-controle. Os componentes de função sistólica desse índice, o TCIV e o TE, não apresentaram alterações estatisticamente significantes quando comparado ao grupo-controle. Usualmente uma anormalidade isolada no relaxamento do VE produz prolongamento do TRIV, geralmente ultrapassando os 100 ms, esse índice, porém, tem sua duração dependente tanto da velocidade de relaxamento do VE, como da diferença de pressões entre o átrio esquerdo e o VE, podendo ocasionalmente encurtar ou pseudonormalizar com elevações importantes nas pressões de enchimento de ventrículo esquerdo.80 A elevação da pressão do átrio esquerdo, comum em pacientes com HAS, tem sido apontada em estudos clínicos e experimentais como um dos responsáveis pela redução do TRIV.81,82 Aparentemente o IPM é mais resistente à pseudonormalização, já que nessas situações de elevação das pressões de enchimento de VE, o tempo de ejeção também se encurta; contudo, valores antagônicos do IPM já foram relatados em algumas situações clínicas como na estenose aórtica83 e no infarto agudo do miocárdio de ventrículo direito.84 Kang et al,85 em concordância a este estudo, utilizando o IPM na avaliação da função ventricular esquerda em pacientes hipertensos, observaram um aumento Discussão 46 desse índice à custa do prolongamento isolado do TRIV. Nesse estudo os pacientes não apresentaram diferenças significantes no TCI e TE quando comparado ao grupo-controle. Seguindo essa linha de pesquisa, Andersen et al,86 mostraram um aumento significante do IPM em portadores de HAS com disfunção diastólica e fração de ejeção normal (0,58 ± 0,12 vs 0,40 ± 0,06; p< 0,05); contudo o aumento do IPM ocorreu em decorrência do prolongamento dos intervalos isovolumétricos e da redução do tempo de ejeção divergindo deste estudo, no qual o TCIV e o TE não apresentaram alterações significantes em relação ao grupo-controle. É provável que naquele estudo o padrão pseudonormal presente em 43% dos pacientes com disfunção diastólica, significando maiores pressões de enchimento, tenha sido responsável pelas alterações desses intervalos. Estudos relacionando o IPM à hipertensão e à disfunção diastólica têm sido contraditórios. Yakabe et al,87 assim como Keser et al,88 estudando hipertensos com e sem HVE e função sistólica preservada, observaram aumento do IPM em ambos os grupos, porém, com maior proeminência naqueles com HVE. Vale ressaltar que nesses dois estudos a presença de disfunção diastólica não foi critério essencial de inclusão, e apesar de diferenças significantes entre os grupos, esses autores não realizaram estudos de correlação entre o IPM e a massa do VE, tampouco fizeram análise de acurácia para avaliar o poder preditivo discriminatório do IPM. Wachtell et al51 observaram durante 4,8 anos de seguimento clínico de 741 indivíduos hipertensos com HVE, associação significativa entre os valores elevados do IPM e as taxas de acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. No entanto, tratou-se de um estudo não-controlado em que os diferentes graus de disfunção diastólica arrolados não foram relacionados ao IPM. Discussão 47 Por outro lado, no estudo de Andersen et al,86 os pacientes hipertensos, sem disfunção diastólica, não apresentaram alterações significantes no IPM em relação ao grupo-controle. Da mesma forma, Nearchou et al,89 estudando 100 indivíduos com IAM divididos em dois grupos segundo a história ou não de HAS, observaram que entre os grupos o IPM apresentava diferenças clínicas inexpressivas sem significado clínico (0,65 ± 0,026 vs.0,68 ± 0,035) sugerindo esses autores que o IPM não era afetado pela hipertensão. Vale destacar que nesse estudo não foi definida a prevalência da disfunção diastólica nesses pacientes. Mais recentemente em um dos braços do Strong Heart Study, levantamento epidemiológico multicêntrico de base populacional com o objetivo de avaliar as doenças cardiovasculares em índios Americanos, Mishra et al.90 observaram, em 1862 participantes com alta prevalência de fatores de risco cardiovasculares mas sem doença cardíaca manifesta, e com função sistólica preservada, ausência de associação significativa entre o IPM e hipertensão. Ademais o IPM foi um fraco marcador de disfunção diastólica além de não prognosticar os desfechos cardiovasculares Das variáveis incluídas no diagnóstico de disfunção diastólica do presente estudo, apenas a onda Em e a relação E/A tiveram correlações significantes com o IPM. Esses índices têm sido considerados como medidas padrão de avaliação nãoinvasiva do relaxamento do VE, particularmente a onda Em, que se tem mostrado menos sensível às alterações na pré-carga.67 No entanto, neste estudo, após uma análise de regressão multivariada, essas variáveis não foram preditoras independentes do IPM. Ao contrário, a onda Sm, reconhecidamente uma variável de função sistólica,36,91 ao lado da ERP e da onda E, foram as únicas variáveis que tiveram influência independente nesse índice. Essa característica do IPM em refletir melhor a função sistólica do que a diastólica parece não ser fortuita, já que esse Discussão 48 índice tem em sua composição dois parâmetros sistólicos, o TCIV e o TE, e apenas um diastólico, o TRIV. Em consonância a estudos prévios,24,86 o IPM não apresentou relação significante com a pressão arterial, massa do VE e IM; no entanto, ele guardou relação positiva com a ERP, associação já documentada por Ikeda et al92 ao estudarem a relação desse índice com a geometria de VE em pacientes hipertensos. A hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo implica num aumento da ERP e é caracterizado pela deposição intersticial de colágeno com aumento da rigidez ventricular e impacto negativo na performance do VE. 12, 93 A relação negativa entre o IPM e a onda E tem sido demonstrado por outros autores55,58 e parece representar uma possível dependência do IPM com a complacência e pressão do átrio esquerdo.21 A avaliação quantitativa da função sistólica do ventrículo esquerdo aferida pela onda Sm ao Doppler tecidual no presente estudo, foi significativamente menor nos pacientes hipertensos quando comparado ao grupo-controle, confirmando os achados de estudos prévios.94 Embora ainda não exista consenso em torno do valor normal de corte para as velocidades miocárdicas sístólicas, os valores menores de Sm no grupo hipertenso, sugere a presença de disfunção sistólica nesse grupo, mesmo considerando os valores normais da fração de ejeção.95 Neste estudo, em conformidade com outras publicações,24,66,78,87 não se observou relação entre o IPM e a idade em nenhum dos grupos. Igualmente, o valor médio do IPM no grupo-controle bem como o seu limite de corte, foram comparáveis aos dados da literatura.24,43,45,71 A existência de uma provável associação entre o IPM e a idade foi observada por Spencer et al96 que demonstraram um incremento significativo do IPM com o aumento da idade, porém, essa relação não foi forte e Discussão 49 com grande sobreposição de valores entre a segunda e sexta década de vida. Ao mesmo tempo, Munagala et al,40 avaliando o IPM em 1012 indivíduos saudáveis, observaram um ínfimo aumento do IPM em relação à faixa etária com significância estatística apenas limítrofe. Em pacientes hipertensos com ou sem hipertrofia de ventrículo esquerdo, Yakabe et al87 não observaram relação significativa entre esses parâmetros. Elevações do IPM em pacientes com fração de ejeção normal foram também relatadas em portadores de bloqueio de ramo esquerdo,97 amiloidose,98 em pacientes submetidos a tratamento com drogas cardiotóxicas,99 em pacientes com diabetes mellitus,100 estenose aórtica,101 hipotireoidismo102 e na acromegalia.103 Karvounis et al,100 estudando 24 pacientes idosos não hipertensos, com diabetes mellitus tipo II e FE normal, observaram aumentos significantes no TRIV, TDE e IPM em relação ao grupo-controle. Nesse estudo, apesar de a relação E/A ter sido marcadamente inferior no grupo diabético, a relação entre a disfunção diastólica e o IPM não foi adequadamente testada. Mugerwa et al,101 estudando portadores de estenose aórtica, afirmaram que o aumento observado do IPM estava relacionado principalmente à presença de disfunção diastólica, embora esses autores tenham desconsiderado a influência da disfunção sistólica nesse resultado, essa significantemente inferior em relação ao grupo-controle nesse estudo. Em nosso meio, Doin et al102 observaram um aumento significante do IPM em portadores de hipotireoidismo central não tratados e com função sistólica preservada à custa exclusivamente do TCIV. Nesse estudo, todavia, não houve diferença na função diastólica entre os portadores de hipotireoidismo e o grupo-controle. Bruch et al,103 comparando pacientes com acromegalia e fração de ejeção normal, observaram sensibilidade e especificidade para o IPM de 76% e 68%, respectivamente, para Discussão 50 diferenciar pacientes com e sem atividade clínica da doença. Nesse estudo, o valor preditivo discriminatório do IPM não teve diferença estatisticamente significante quando comparado ao Doppler convencional do fluxo mitral (relação E/A e TDE) e ao Doppler tecidual. Apesar de expressivos, esses resultados foram obtidos em uma amostra pequena. Do nosso conhecimento este é o primeiro trabalho que avaliou a relação do IPM com a alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo em hipertensos com fração de ejeção normal. Embora os valores médios do IPM tenham sido significativamente maiores no pacientes hipertensos, esse índice não foi superior ao TRIV em detectar alteração do relaxamento do VE como mostrado pelas análises das curvas ROC. A relativa baixa sensibilidade e especificidade e a fraca relação com os parâmetros diastólicos sugerem que o IPM possa não ter grande utilidade clínica em pacientes com disfunção diastólica isolada. É possível que a ausência de uma nítida disfunção sistólica tenha tido um papel determinante nesses resultados como já sugerido por Bruch et al79 que também identificaram uma considerável limitação do IPM em pacientes com doença arterial coronariana e fração de ejeção normal. De acordo com esses resultados esse índice, apesar de ter ser um método rápido e de fácil exeqüibilidade, foi de valor limitado na análise global dessa amostra. É possível que nos pacientes com formas mais avançadas de disfunção diastólica o método possa ter melhor aplicabilidade. 5.1 Limitações do estudo Algumas limitações devem ser levadas em conta ao interpretar esses resultados. Neste estudo, em concordância com os trabalhos prévios citados, os componentes do IPM não foram medidos no mesmo ciclo cardíaco; porém, Discussão 51 flutuações na FC foram atenuadas com a utilização da média de cinco batimentos consecutivos; os grupos não eram homogêneos em relação à idade e FC, todavia, considerando a independência do IPM em relação a mudanças nesses fatores, essa disparidade não deve ter influenciado o comportamento desse índice nas amostras estudadas. O IPM é calculado com base em dois parâmetros sistólicos e um diastólico, o TRIV. Os pacientes hipertensos eram selecionados propositadamente com disfunção diastólica e valores normais de fração de ejeção, podendo explicar parcialmente a superioridade do TRIV em relação ao IPM. Por outro lado o TRIV é uma medida relativamente não específica sujeito frequentemente a pseudonormalização devido à influência de inúmeros fatores como idade, taxa de relaxamento, hipertrofia,19,20,104 tempo de fechamento da válvula aórtica e pressão em átrio esquerdo.81 Os pacientes foram classificados com bases em dados clínicos e ecocardiográficos e a existência de doença isquêmica não pôde ser afastada, já que os pacientes não se submeteram a testes de estresse ou angiografia coronariana. Além do mais, medidas convencionais de análise da função sistólica como a fração de ejeção e a fração de encurtamento, utilizadas neste trabalho, têm algumas limitações em avaliar as propriedades contráteis do VE, podendo não refletir todos os aspectos da sístole ventricular.93-95 Finalmente este estudo não avaliou a influência das drogas anti-hipertensivas no IPM. É possível que elas não tenham tido maiores impactos, considerando que todas as medidas ecocardiográficas foram obtidas simultaneamente, com os pacientes hemodinamicamente estáveis e com os medicamentos iniciados há pelo menos três meses. 6. Conclusões ______________________________________________________________ Conclusões • 53 O índice de performance miocárdica foi significantemente elevado nos pacientes hipertensos com alteração do relaxamento do VE e fração de ejeção normal • As modificações ocorridas no índice de performance miocárdica foram em conseqüência do prolongamento isolado do tempo de relaxamento isovolumétrico. • O índice de performance miocárdica teve sensibilidade e especificidade apenas razoáveis para identificar disfunção diastólica. • O IPM não foi superior ao TRIV em identificar pacientes hipertensos com alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo • O IPM teve correlação positiva com a espessura relativa da parede do VE e negativa com o diâmetro do AE, relação E/A e ondas E, Sm e Em. Nenhuma correlação com a idade, superfície corpórea, FC, Pressão arterial, TDE, Massa, IM e fração de ejeção foi observada. 7. 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Apêndices ______________________________________________________________ Apêndices 69 Apêndice A – Medidas descritivas individuais de todas as variáveis mensuradas no grupo I Nome Idade Altura Peso SC FC anos cm kg m² bm mmHg mmHg mm mm PAS PAD Ao AE ddVE dsVE Septo MAS 32 176 72 1,88 65 BEM 29 163 59 CAMJ 30 168 72 MHR 47 148 ZSS 50 EGA 30 WRPS PP DD FE ERP Massa mm Mm mm mm % % cm g 107 71 34 30 46 30 9,0 9,0 35 64 0,39 137 1,63 68 95 57 29 23 43 26 8,0 8,0 40 70 0,37 105 1,82 59 114 78 32 35 48 31 9,0 9,0 35 65 0,38 147 48 1,39 82 90 56 27 30 42 25 9,0 9,0 40 72 0,43 118 156 59 1,58 66 131 75 27 27 46 32 9,0 8,0 30 58 0,35 127 158 68 1,70 60 106 74 27 29 46 31 8,0 8,0 33 61 0,35 117 21 176 98 2,14 84 129 75 31 31 50 29 11,0 11,0 42 73 0,44 207 FCY 43 160 63 1,66 60 128 74 31 30 46 28 8,0 39 70 0,35 117 JSC 58 164 75 1,82 61 110 63 29 29 45 29 10,0 10,0 36 65 0,44 153 ACS 31 165 88 1,95 62 123 81 30 30 52 34 10,0 10,0 35 63 0,38 194 MAPS 66 153 65 1,62 76 125 72 31 31 41 24 9,0 9,0 41 73 0,44 114 RMS 39 158 58 1,58 69 125 76 29 28 42 28 8,0 8,0 33 62 0,38 101 JGDN 29 169 91 2,01 58 89 52 39 35 46 29 10,0 10,0 37 67 0,43 158 VMSC 28 161 69 1,73 55 101 59 27 31 42 29 8,0 8,0 31 59 0,38 101 JSS 25 176 77 1,93 76 116 63 33 31 46 32 9,0 9,0 30 58 0,39 137 GFS 45 173 92 2,06 75 128 60 33 34 50 30 11,0 10,0 40 70 0,40 194 NCSS 50 152 72 1,69 76 138 80 33 31 46 27 10,0 10,0 41 72 0,43 158 IFO 52 161 58 1,61 56 142 76 30 32 47 30 9,0 9,0 36 66 0,38 142 BN 54 153 62 1,59 52 98 66 29 30 47 32 9,0 9,0 32 60 0,38 142 EAS 37 165 74 1,81 56 112 62 32 32 50 35 10,0 10,0 30 57 0,40 181 RTS 18 164 42 1,42 76 89 53 27 22 44 29 7,0 7,0 34 63 0,32 91 NMAL 40 153 55 1,51 59 109 72 32 27 41 25 8,0 8,0 39 70 0,39 97 JPGB 23 186 76 2,00 84 85 54 31 29 48 30 10,0 10,0 38 67 0,42 170 ASSF 44 169 71 1,81 66 107 59 34 29 44 30 9,0 9,0 32 60 0,41 127 JLR 41 163 65 1,70 60 109 60 33 30 44 27 9,0 9,0 39 69 0,41 127 ABF 51 163 60 1,64 57 115 67 36 32 46 30 10,0 10,0 35 64 0,43 158 ECV 47 162 79 1,84 57 125 76 34 32 45 27 10,0 10,0 40 71 0,44 153 CJRS 30 158 82 1,84 64 90 61 35 33 44 30 9,0 9,0 32 60 0,41 127 IAOF 43 164 71 1,77 73 105 57 29 31 46 27 9,0 9,0 41 72 0,39 137 IMBL 53 153 70 1,68 67 108 70 28 29 46 32 10,0 10,0 30 58 0,43 158 8,0 Idade em anos; Altura em cm; Peso em Kg; SC: superfície corpórea em m²; FC: freqüência cardíaca em bpm; PAS: pressão arterial sistólica em mmHg; PAD: pressão arterial diastólica em mmHg; AO: diâmetro aórtico em mm; AE: diâmetro do átrio esquerdo em mm; DDVE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo em mm; DSVE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo em mm; PP: espessura diastólica da parede posterior em mm; ERP: espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo; DD: fração de encurtamento; FE: fração de ejeção; Massa em g. Apêndices 70 Apêndice B – Medidas descritivas individuais de todas as variáveis mensuradas no grupo I (continuação) Nome IM g/m² E A DE E/A m/s m/s ms a (TE) ms ms c d TRIV TCIV IPM Sm Em Am Em/Am ms ms ms ms cm/s cm/s cm/s MAS 73,0 0,71 0,35 184 2,03 434 312 438 361 77 45 0,39 7,0 9,0 8,0 1,13 BEM 64,2 0,92 0,40 152 2,30 425 319 453 399 54 52 0,33 8,0 12,4 8,6 1,43 CAMJ 81,1 0,74 0,44 164 1,69 467 329 476 375 101 38 0,42 7,3 10,0 8,1 1,23 MHR 84,7 0,79 0,61 166 1,29 382 295 430 353 77 10 0,29 7,6 8,8 11,6 0,76 ZSS 80,4 0,72 0,68 205 1,06 436 320 480 396 84 32 0,36 6,0 7,8 8,8 0,89 EGA 69,2 0,85 0,43 158 1,99 399 306 440 387 54 39 0,30 7,7 9,8 8,5 1,15 WRPS 96,5 0,87 0,58 148 1,51 341 281 339 296 42 18 0,21 9,9 12,2 8,8 1,39 FCY 70,8 0,95 0,58 168 1,62 423 299 458 365 93 31 0,41 8,7 13,2 10,0 1,32 JSC 84,1 0,59 0,46 159 1,28 442 299 466 369 97 46 0,48 6,5 8,8 8,9 0,99 ACS 99,2 0,70 0,46 163 1,51 448 324 479 397 82 42 0,38 5,2 8,5 7,2 1,18 MAPS 69,9 0,68 0,61 193 1,12 472 324 480 367 113 35 0,46 7,0 9,3 10,8 0,86 RMS 63,6 0,64 0,46 165 1,41 427 316 460 391 69 43 0,35 6,9 8,1 9,9 0,82 JGDN 78,5 0,72 0,45 200 1,62 423 312 457 377 80 31 0,36 8,2 8,3 8,3 0,99 VMSC 58,2 0,94 0,40 162 2,36 427 330 482 391 91 6 0,29 8,3 12,8 7,3 1,75 JSS 71,0 0,70 0,42 157 1,65 389 283 418 352 66 40 0,38 7,7 9,9 9,3 1,07 GFS 94,1 0,60 0,35 160 1,70 384 300 413 332 81 4 0,28 8,6 10,8 10,2 1,06 NCSS 93,7 0,79 0,66 141 1,19 434 312 476 383 93 30 0,39 6,9 9,7 9,5 1,01 IFO 88,5 0,88 0,46 176 1,91 503 364 561 452 109 30 0,38 7,2 8,5 8,4 1,01 BN 89,2 0,50 0,42 184 1,20 450 320 494 410 85 46 0,41 5,6 6,6 7,5 0,89 EAS 100,0 0,64 0,37 166 1,73 406 285 443 368 75 46 0,42 7,1 11,6 8,4 1,39 RTS 64,5 0,96 0,49 149 1,97 397 272 411 331 79 46 0,46 8,7 12,4 8,9 1,39 NMAL 63,9 1,02 0,50 133 2,03 439 321 477 391 86 31 0,36 6,8 9,9 6,5 1,53 JPGB 84,8 0,65 0,46 165 1,40 369 263 403 319 84 22 0,40 7,8 11,6 7,3 1,58 ASSF 70,3 0,60 0,41 168 1,47 393 301 438 350 88 4 0,30 8,4 10,4 10,2 1,02 JLR 74,9 0,92 0,53 172 1,72 372 310 394 352 42 21 0,20 9,8 11,0 9,3 1,19 ABF 96,2 0,64 0,46 180 1,38 480 338 524 423 101 41 0,42 5,6 8,4 7,6 1,11 ECV 83,0 0,83 0,61 149 1,37 458 331 510 416 93 34 0,38 6,4 9,1 10,2 0,89 CJRS 69,4 0,86 0,50 166 1,71 424 319 472 385 87 19 0,33 9,1 10,8 9,4 1,15 IAOF 77,3 0,90 0,44 180 2,04 434 327 478 412 66 40 0,33 7,8 10,2 7,6 1,34 IMBL 94,4 0,78 0,60 161 1,29 458 303 507 396 111 44 0,51 6,9 9,6 7,9 1,22 IM: índice de massa em g/m²; E, A e E/A: máximas velocidades da curva de fluxo mitral inicial e atrial em m/s e sua razão; TDE: tempo de desaceleração da onda E; a: intervalo de tempo entre o final do fluxo diastólico mitral e seu reinício no ciclo seguinte em ms; TE: tempo de ejeção em; c: tempo entre o pico da onda R do ECG e o início do fluxo diastólico mitral em ms; d: tempo entre o pico da onda R do ECG e o final do fluxo na via de saída do VE em ms; TRIV: tempo de relaxamento isovolumétrico em ms; TCVI: tempo de contração isovolumétrico em ms; IPM: índice de performance miocárdica; Sm, Em, Am: velocidades máximas ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm), diástole inicial (Em), e tardia (Am) em ms; Em/Am relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais. Apêndices 71 Apêndice C – Medidas descritivas individuais de todas as variáveis mensuradas no grupo II Nome Idade Altura Peso sc FC PAS PAD Ao AE ddVE dsVE Septo PP m² bm mmHg mmHg mm mm DD FE ERP Massa anos cm kg mm Mm mm mm % JAS 68 170 71 1,82 71 128 72 37 36 50 30 12 12 40 70 0,48 233 AFB 69 160 70 1,73 63 169 76 30 39 46 26 12 12 43 75 0,52 204 YLP 71 150 67,5 1,63 67 156 88 30 34 43 28 12 12 35 64 0,56 184 VBO 73 157 61 1,61 63 149 89 33 31 48 33 11 11 31 59 0,46 193 CFM 62 163 76 1,82 62 153 78 32 37 45 30 12 12 33 62 0,53 198 MAVS 57 144 52 1,41 82 195 114 28 34 47 33 10 10 30 57 0,43 164 MLL 70 154 57 1,54 65 154 83 31 35 47 31 12 12 34 63 0,51 211 JAA 71 160 62 1,64 72 135 63 38 31 47 31 13 13 34 63 0,55 237 EAS 51 163 89 1,94 66 153 85 36 39 50 32 14 14 36 65 0,56 291 HTS 67 148 75 1,69 75 144 84 30 33 45 29 12 12 36 65 0,53 198 JVS 59 148 62 1,55 86 169 88 27 32 44 29 12 11 34 63 0,50 179 MLAS 59 160 79 1,82 76 165 97 36 36 51 34 12 12 33 62 0,47 241 JMD 84 144 49 1,38 76 176 69 32 34 49 32 12 12 35 64 0,49 226 ASM 89 144 52 1,41 71 162 84 33 30 45 22 14 13 51 82 0,58 235 JFS 70 163 85 1,91 90 151 85 33 35 46 27 14 14 41 72 0,61 256 JOA 62 167 55 1,61 69 170 72 43 39 51 31 14 13 39 69 0,51 284 DLS 64 154 66 1,64 62 136 77 32 32 47 30 11 11 36 66 0,47 187 JBP 67 155 101 1,98 76 173 75 37 37 47 28 16 14 40 71 0,60 293 LDA 77 143 48 1,36 88 150 79 31 31 45 31 10 10 31 59 0,44 153 ASN 56 165 58 1,63 64 169 104 37 32 49 31 16 15 37 66 0,61 328 MGF 83 155 78 1,77 64 115 69 38 41 49 26 14 12 47 78 0,49 253 EEM 61 156 62 1,61 69 107 73 35 43 50 30 11 11 40 70 0,44 207 MUS 71 157 68 1,69 70 147 79 34 32 47 30 12 12 36 66 0,51 211 JMM 60 174 74 1,88 79 151 82 39 30 51 35 12 12 31 59 0,47 241 LMC 78 154 49 1,45 64 188 88 34 30 44 27 13 12 39 69 0,55 202 CMLR 52 159 69 1,71 77 163 98 30 29 46 27 16 14 41 72 0,61 284 RF 83 161 82 1,86 75 143 65 33 34 50 35 13 13 30 57 0,52 261 EMA 62 161 81 1,85 67 177 93 31 41 51 29 16 14 43 74 0,55 332 MBS 63 156 72,5 1,73 64 134 80 33 35 47 29 11 11 38 69 0,47 187 JoAS 76 161 139 72 33 31 46 30 14 13 35 64 0,57 243 80 1,84 88 % cm g Idade em anos; Altura em cm; Peso em Kg; SC: superfície corpórea em m²; FC: freqüência cardíaca em bpm; PAS: pressão arterial sistólica em mmHg; PAD: pressão arterial diastólica em mmHg; AO: diâmetro aórtico em mm; AE: diâmetro do átrio esquerdo em mm; DDVE: diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo em mm; DSVE: diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo em mm; PP: espessura diastólica da parede posterior em mm; ERP: espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo; DD: fração de encurtamento; FE: fração de ejeção; Massa em g. Apêndices 72 Apêndice D – Medidas descritivas individuais de todas as variáveis mensuradas no grupo II (continuação) NOME IM g/m² E A m/s m/s TDE E/A ms a (TE) ms ms c d TRIV TCI IPM Sm Em Am Em/Am ms ms ms ms cm/s cm/s cm/s JAS 128,1 0,58 0,74 236 0,79 406 312 445 355 90 4 0,30 8,0 7,0 9,8 0,72 AFB 118,0 0,76 0,96 256 0,79 432 326 472 368 104 2 0,32 6,7 7,4 12,8 0,58 YLP 113,1 0,58 0,89 280 0,65 459 308 484 365 119 32 0,49 4,8 4,3 11,4 0,38 VBO 120,0 0,68 0,95 274 0,71 516 312 527 387 141 64 0,66 5,3 5,2 8,4 0,62 CFM 108,6 0,99 1,19 336 0,84 449 330 454 383 71 47 0,36 5,6 4,3 7,7 0,56 MAVS 115,9 0,50 0,74 226 0,68 400 272 449 355 94 34 0,47 5,8 4,5 10,5 0,43 MLL 136,9 0,65 0,79 212 0,82 474 313 508 385 123 38 0,52 5,7 3,2 11,4 0,28 JAA 144,3 0,36 0,61 262 0,59 424 247 468 335 134 44 0,72 6,1 5,6 9,3 0,61 EAS 149,6 0,74 0,83 240 0,89 439 291 465 351 114 34 0,51 5,3 6,7 9,8 0,69 HTS 117,2 0,66 0,87 201 0,76 414 301 481 382 99 14 0,37 6,2 5,5 11,0 0,50 JVS 115,4 0,72 0,93 272 0,77 415 321 470 382 89 5 0,29 6,6 6,1 8,9 0,69 MLAS 132,0 0,66 0,79 224 0,84 402 307 451 371 80 15 0,31 9,2 5,0 11,6 0,43 JMD 163,7 0,95 1,24 274 0,76 414 319 430 368 62 34 0,30 5,1 4,8 9,7 0,49 ASM 166,0 0,68 0,91 284 0,75 457 289 462 318 144 24 0,58 6,5 5,0 8,8 0,57 JFS 134,4 0,45 0,66 232 0,68 440 290 460 358 102 48 0,52 5,7 3,6 9,9 0,36 JOA 176,4 0,92 1,10 268 0,83 470 349 501 426 75 46 0,35 6,7 5,4 9,4 0,58 DLS 113,8 0,52 0,58 188 0,90 480 330 499 416 83 67 0,45 5,0 6,2 10,4 0,60 JBP 148,4 0,77 1,00 280 0,77 378 254 435 330 105 19 0,49 7,6 3,6 8,9 0,41 LDA 112,3 0,52 0,77 228 0,68 415 294 458 351 107 15 0,41 6,4 5,7 8,9 0,65 ASN 200,7 0,52 0,79 272 0,66 487 292 524 386 138 57 0,67 4,7 2,7 11,2 0,24 MGF 142,8 0,48 0,81 207 0,60 467 326 510 394 117 25 0,44 4,4 3,2 9,8 0,32 EEM 127,9 0,79 0,90 195 0,88 412 330 450 371 78 4 0,25 7,4 5,9 11,0 0,53 MUS 125,3 0,73 0,90 205 0,81 490 344 487 400 87 59 0,42 5,3 4,6 8,7 0,53 JMM 127,7 0,60 0,73 254 0,82 371 295 415 343 72 4 0,26 9,2 6,3 11,4 0,55 LMC 139,8 0,66 1,00 337 0,66 498 355 514 408 106 37 0,40 5,3 4,2 9,8 0,43 CMLR 165,9 0,66 0,78 221 0,85 410 252 444 333 RF 140,4 0,43 0,73 268 0,59 428 276 470 362 111 47 0,63 7,1 4,0 9,4 0,42 109 44 0,55 6,4 5,2 10,5 0,50 EMA 179,2 0,77 0,87 326 0,89 485 335 515 388 127 22 0,45 6,4 3,1 10,8 0,29 MBS 108,3 0,64 0,76 248 0,84 484 325 495 395 101 59 0,49 7,2 5,6 10,5 0,54 JoAS 131,8 0,45 0,69 268 0,65 415 284 450 333 116 15 0,46 7,9 6,2 9,3 0,67 IM: índice de massa em g/m²; E, A e E/A: máximas velocidades da curva de fluxo mitral inicial e atrial em m/s e sua razão; TDE: tempo de desaceleração da onda E; a: intervalo de tempo entre o final do fluxo diastólico mitral e seu reinício no ciclo seguinte em ms; TE: tempo de ejeção em; c: tempo entre o pico da onda R do ECG e o início do fluxo diastólico mitral em ms; d: tempo entre o pico da onda R do ECG e o final do fluxo na via de saída do VE em ms; TRIV: tempo de relaxamento isovolumétrico em ms; TCVI: tempo de contração isovolumétrico em ms; IPM: índice de performance miocárdica; Sm, Em, Am: velocidades máximas ao Doppler tecidual durante a sístole (Sm), diástole inicial (Em), e tardia (Am) em ms; Em/Am relação entre as máximas velocidades diastólicas teciduais iniciais e finais. 9. Anexos ______________________________________________________________ Anexos 74 ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Eu,.............................................................................................(nome do paciente ou do responsável legal), tendo sido convidado (a) a participar como voluntário (a) do estudo, “Índice de Performance Miocárdica na Alteração do relaxamento do ventrículo esquerdo do Ventrículo Esquerdo em Pacientes com Hipertensão Arterial e Função Sistólica Preservada”, que quer dizer: estudo utilizando uma nova medida feita pela ultra-sonografia do coração para avaliar a função do músculo do coração, recebi do Dr. José Maria Gonçalves Fernandes, CRM 3248-Al, médico responsável pela pesquisa, as informações que me fizeram entender, sem dificuldades e sem dúvidas, os seguintes aspectos: • Essa pesquisa é para conhecer a importância de uma nova medida realizada durante o ultra-som do coração, conhecido como ecocardiografia, que é feito como o ultra-som da barriga, usa um aparelho que somente encosta no peito e, assim, vê a imagem do coração em uma televisão. O exame não provoca nenhum desconforto, dura cerca de 30 minutos e só farei esse exame uma única vez. • Esse exame ajudará no diagnóstico da insuficiência cardíaca, doença que afeta o músculo do coração principalmente das pessoas que têm pressão alta. • Essa pesquisa é importante porque ajudará o médico a escolher o melhor tratamento, além do que o médico saberá muito mais sobre pressão alta e a insuficiência cardíaca • Esse exame será realizado no laboratório de ecocardiografia da clínica Unicar - Unidade Cardiológica de Alagoas . • Minha única participação nessa pesquisa será fazer esse ultra-som do coração, que não provoca nenhum incômodo à minha saúde física e mental. • Esse exame não tem nenhum risco físico, nem mental • Sei que, no caso de sofrer algum dano pela minha participação nessa pesquisa, tenho direito a indenização na forma da lei. Sei, também, que tenho direito a ressarcimento caso tenha alguma despesa extra por participar da pesquisa. Anexos 75 • O médico responsável pela pesquisa me garantiu que serei esclarecido antes, durante ou sempre que eu desejar, sobre essa pesquisa. • Sei que a qualquer momento eu poderei retirar meu consentimento para participação na pesquisa, ou me recusar a participar, sem nenhuma penalização ou prejuízo do meu tratamento. • Sei que todas as informações conseguidas por meio da minha participação na pesquisa, não permitirão a identificação da minha pessoa, mantendo segredo absoluto, exceto ao médico responsável pelo estudo e que a divulgação das informações somente será feita entre os profissionais estudiosos do assunto, mesmo assim, sem me identificar. • Qualquer problema e dúvida que eu tiver devo entrar em contato com o Dr. José Maria Gonçalves Fernandes nos seguintes endereços: Arapiraca na rua São Francisco nº 458, Centro; Maceió na rua Desp. Humberto Guimarães nº 46 aptos 302, Ponta Verde. Ou mediante os telefones 35221918 (trabalho); 3327-2053 (residência) e 9982-0595 (celular) Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado sobre a minha participação na mencionada pesquisa e estando consciente dos meus direitos, concordo em participar e para isso EU DOU O MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO OU OBRIGADO. Nome:............................................................................................................................. Endereço:....................................................................................................................... Assinatura:..............................................................................DATA:......../.........../........ Pesquisador: Assinatura: .................................................................................................................... OBS: Caso o paciente não seja alfabetizado uma testemunha devidamente autorizada, assinará pelo participante. Testemunha................................................................................................................... Assinatura.............................................................................Identidade........................ Anexos ANEXO B - Aprovação Comitê de Ética 76