UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS – FMTAM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ALTERAÇÕES COLPOCITOLÓGICAS EM PACIENTES PORTADORAS DO VÍRUS HIV ATENDIDAS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS MARIANNA FACCHINETTI BROCK MANAUS 2005 ii MARIANNA FACCHINETTI BROCK ALTERAÇÕES COLPOCITOLÓGICAS, EM PACIENTES PORTADORES DO VÍRUS HIV ATENDIDAS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas, em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, área de concentração Doenças Tropicais e Infecciosas para obtenção do título de mestre. Orientador: Profº Luiz Carlos de Lima Ferreira Co-orientadora : Profª Maria das Graças Vale Barbosa MANAUS 2005 iii FICHA CATALOGRAFICA BROCK, Marianna Facchinetti Alterações citológicas em pacientes portadoras do vírus HIV atendidas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas /Marianna Facchinetti Brock. Manaus, Universidade do Estado do Amazonas – Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, 2005. xii, 45 p., il. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Amazonas – Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, 2005. 1.Câncer de colo uterino 2. Alterações citológicas 3. HIV 4. Neoplasia iv AGRADECIMENTOS 1- A Deus, criador de tudo e de todos, pela saúde e pela coragem que me foi necessária para atingir o meu objetivo. 2- Ao Professor Dr. Luiz Ferreira, meu orientador, pela ajuda inestimável, paciência, dedicação e pelo grandioso aprendizado. Não só o meu agradecimento, como toda a minha admiração. 3- Ao meu marido Jorge pelo grande incentivo, amizade, confiança, compreensão e companheirismo não só nessa jornada, mas em todos os dias. Meu cúmplice e meu “norte” nos momentos mais difíceis, meu anjo da guarda. 4- A minha mãe, grande responsável pela minha caminhada, exemplo de amor incondicional, força e perseverança. agradeço pelo apoio constante em todos os momentos, por vibrar comigo a cada conquista e segurar minha mão nos momentos que precisei. 5- Ao meu filho Mario, razão da minha vida que com seu sorriso e carinho me dá força para seguir em frente. 6- Ao meu pai, minha fonte de inspiração, meu ídolo, influencia direta e decisiva na minha formação e caminhada profissional. 7- A Dra Ione Rodrigues Brum, agradeço não só pela pela valiosa ajuda, mas também pela paciência e amizade. 8- A Dra. Maria das Graças Vale Barbosa pela preocupação e cuidado não só comigo, mas com todos os alunos do curso. 9- A D. Conceição Tufic, Gilmara pelo carinho, amizade, boa vontade e por estarem sempre prontas a ajudar. 10- A Telma, Fátima, Wiuzimar e todos os funcionários do Ambulatório de DST que tanto se empenharam para que esse trabalho desse certo. 11- As Sandras e a Glória do ambulatório de anatomia patológica, responsáveis pela preparação de todas as lâminas coradas pelo Papanicoalou desse trabalho. v 12- Aos meus amigos de mestrado, pelos ótimos momentos que tivemos juntos e pela amizade de cada um. 13- Às pacientes ‘soropositivas´ do Ambulatório de DST da fundação de medicina tropical do amazonas, não só por terem consentido a utilização de seus dados, tornando esse trabalho possível, mas pela lição de vida. 14- A todos aqueles que mesmo não mencionados, devido a minha insensatez inadvertida e minha falha de memória, contribuíram direta ou indiretamente na construção desse sonho ou torceram para que ele desse certo. vi DEDICATORIA Dedico esse trabalho ao meu filho, minha mãe e meu marido razões da minha vida e a todas as pacientes HIV positivo. Que elas possam de alguma maneira se beneficiar desse estudo. vii RESUMO A infecção pelo vírus HIV em mulheres está associada com uma maior incidência de infecções do trato genital inferior, assim como as neoplasias intraepiteliais cervicais e câncer de colo uterino. Dessa forma, é fundamental o conhecimento da prevalência das alterações da flora vaginal e alterações citológicas nesta população para que medidas preventivas possam ser adotadas. O objetivo do presente estudo foi avaliar as alterações colpocitologicas em pacientes HIV positivo atendidas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas através da técnica de Papanicolaou e citologia a fresco. No período de 7 meses, 101 pacientes HIV positivo foram examinadas e foi realizada citologia corada pela técnica de Papanicolaou e citologia a fresco nas pacientes que apresentavam secreção vaginal . A idade das mulheres variou entre 16 a 65 anos. A maioria das pacientes tinham entre 25 e 35 anos (44,6%), tinham escolaridade de nível fundamental (52%), eram brancas (53,5%), casadas/união estavel ( 58,4%), naturais de Manaus (51,5%) e com renda familiar menor ou igual a um salário mínimo (54,5%). Na citologia a fresco encontrou-se 41 lâminas compatíveis com infecçao por Cândida, 28 com Vaginose, 15 por Trichomonas, em 20 pacientes não foi encontrado nenhum patógeno e em 23 pacientes observou-se mais de um patógeno por lâmina . A citologia corada pela técnica de Papanicolaou evidenciou 37,6 % de bacilos supracitoplasmáticos/Gardnerella; 31,7% de Lactobacillus; 16,8% de flora inaparente; 4,0% de Candida; 2,0 % de Trichomonas e 7,9 % de outros bacilos. Em relação as alterações epitelias encontrou-se que 12 citologias (12,1%) foram normais, 71 evidenciaram inflamação (71,8%), 11 foram de lesões de baixo grau (NIC I/HPV) (11,1%), 2 diagnosticaram lesões de alto grau (NIC II/NIC III e carcinoma microinvasor) (2%), 3 casos de ASC-US foram relatados e 2 citologias foram insatisfatórias. As pacientes HIV positivas tiveram 5,6 vezes mais risco de apresentar alterações citológicas do que as mulheres HIV negativo, se compararmos com dados nacionais do Programa Nacional de Combate de Cancer de colo uterino, especialmente as mulheres com níveis de linfócito TCD4 mais baixo e carga viral mais alta. Esses resultados confirmam o maior risco para alterações colpocitológicas, e a importância da realização do exame citológico como teste de rastreamento do câncer de colo uterino nas mulheres HIV positivo. viii ABSTRACT The HIV infeccion in women is associated with a higer incidence of vaginal discharge, intraepithelial lesions and cervical cancer. Based on these information, it becomes important to know these alterations to develop strategies to provide screening programs. The aim of this work was to estimate the frequency of abnormal colpocitology in a group of HIV infected Women at Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. 101 pacients aged between 1665 years were examined. Great part of the examined patients is between 25 and 35 years old (44,6%), has low educational level ( 52%), is white (53,5%), married ( 58,4%), lives in Manaus (51,5%) and has a family income equal to or lower than the minimum salary established by the Brazilian government (approximately US$ 120,00). Vaginal wet smears with 10% potassium hydroxide and with normal saline showed that 41 patients had candidiasis, 28 bacterial vaginosis , 15 Trichomoniasis and no pathogen was noticed in 20 patients (normal cytology), 23 patients had more than one pathogenous in wet smears. Pap smears showed 37,6 % of bacterial vaginosis infection, 31,7% of lactobacillus, 16,8% of unapparent Flora, 4,0% from Candida, 2,0 % from Trichomonas and 7,9 % from other bacillus. A total of 12 smears (12,1%) were normal, 71 smears showed inflammation (71,8%), 11 revealed low grade squamous intraepitelial lesions and or infection by Humana papillomavirus (NIC I/HPV) (11,1%), 2 smears diagnosed high grade squamous intraepithelial lesions (NIC II/NIC III e microinvasive carcinoma) (2%) , 3 smears showed atypical squamous cells of indeterminate significance (ASCUS) and 2 cytology were not satisfactory. HIV infected women showed an increased rate of bacterial vaginosis infection and 5,6 fold more chances to have abnormal Pap smears than uninfected women , specially those with low levels of CD4 and high levels of viral load. These results confirm the validity and importance of cervical screening by cytology. ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1.1 Histórico 1.2 Epidemiologia 1.2.1 AIDS no Brasil 1.2.2 AIDS no Amazonas 1.2.3 AIDS em Mulheres 1.3 Ciclo Viral 1.4 Transmissão 1.5 Corrimento Vaginal na Paciente HIV Positivo 1.5.1 Vaginose Bacteriana 1.5.2 Candidose Vaginal 1.5.3 Tricomoníase 1.5.4 Papiloma Virus Humano 1.6 Câncer de Colo Uterino 1.7 Citologia Cérvico Vaginal 1 1 2 2 2 3 4 5 6 7 8 8 8 10 12 2. OBJETIVO 2.1 Geral 2.2 Específicos \ 3. METODOLOGIA 3.1 Modelo de Estudo 3.2 Universo de Estudo 3.2.1 População de Estudo 3.2.2 Participantes 3.3 Procedimentos 3.4 Metodologia Estatística 15 15 15 4. RESULTADOS 4.1 Padrões Epidemiológicos 4.2 Antecedentes Ginecológicos / Obstétricos 4.3 Dados Clínicos 4.4 Resultados Citologicos 4.5 Fatores de risco ou proteção 4.6 Resultados após agrupamento dos dados citológicos 4.7 Dados epidemiologicos após grupamento 4.8 Fatores de risco ou proteção após grupamento 19 19 21 27 29 30 33 34 36 5. DISCUSSÃO 38 6. CONCLUSÃO 44 7. BIBLIOGRAFIA 45 8. ANEXOS 51 16 16 16 16 16 17 18 x LISTA DE TABELAS TABELA 1. TABELA 2. TABELA 3. TABELA 4. TABELA 5. TABELA 6. TABELA 7. TABELA 8. TABELA 9. TABELA 10. TABELA 11. TABELA 12. TABELA 13. TABELA 14. Distribuição segundo a Idade das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM Distribuição segundo a Idade da primeira mestruaçao das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus AM Distribuição segundo a Idade da primeira relação sexual das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. Distribuição segundo o número de parceiros sexuais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo o número de gestações das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo o número de partos normais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus-AM Distribuição segundo o número de partos cesáreos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo o número de abortos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo os dados clínicos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM Distribuição segundo o uso de antiretrovirais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo o CD4 das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM Distribuição segundo a carga viral das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo as alterações colpocitologicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM 20 20 21 22 22 23 24 24 25 27 27 28 28 30 xi TABELA 15. TABELA 16. TABELA 17. TABELA 18. TABELA 19. TABELA 20. TABELA 21. TABELA 22. TABELA 23. Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo a menarca, sexarca e número de gestações e parceiros das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo o resultado do CD4 e Carga Viral das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo a variável filhos do mesmo pai das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo a menarca, sexsarca e número de gestações e parceiros das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM Distribuição segundo o uso de antiretrovirais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da Citologia, Manaus – AM 31 31 32 33 33 34 35 36 37 xii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. FIGURA 2. FIGURA 3. FIGURA 4. FIGURA 5. FIGURA 6. FIGURA 7. Distribuição segundo a Naturalidade das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Distribuição segundo a forma de contágio do vírus HIV das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. Distribuição das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas que tiveram filhos com o mesmo parceiro,Manaus-AM Distribuição das pacientes HIV gestantes atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM Distribuição segundo os resultados das lâminas a fresco das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus AM. Distribuição das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas segundo o resultado da Flora Microbiana da citologia, Manaus-AM Distribuição segundo a conclusão da citologia das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM 19 23 26 26 29 30 34 xiii LISTA DE ABREVIATURAS AIDS HIV DST RNA DNA HPV NIC ASC-US ASG-US FMTAM - Síndrome da Imunodeficiência adquirida Vírus da imunodeficiência humana Doenças sexualmente transmissíveis Acido ribonucléico Acido desoxirribonucléico Papiloma Vírus Humano Neoplasia intraepitelial cervical Atipias escamosas de significado indeterminado Atipias glandulares de significado indeterminado Fundacao de medicina tropical do amazonas 1 1. INTRODUÇÃO A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana) é uma doença infecto contagiosa causada pelo vírus HIV, um retrovírus com genoma RNA da família Lentiviridae pertencente ao grupo dos retrovírus citopáticos e não oncogênicos que necessitam, para multiplicar-se, de uma enzima denominada transcriptase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral para uma cópia do DNA que pode se integrar ao genoma do hospedeiro (DUARTE, 1997). O vírus HIV é um vírus envelopado, de formato icosaédrico com oito genes codificadores de proteínas reguladoras e estruturais (LEWI et al, 1997). Até o momento já foram descritos dois tipos de HIV: o HIV-1, descoberto em 1983 e o HIV-2, descoberto em 1986 (HEARD, 2000; FIALHO et al, 2002). 1.1 HISTÓRICO Os primeiros casos de AIDS foram descritos em homossexuais masculinos nos Estados Unidos em 1981. Posteriormente, surgiram descrições da síndrome em hemofílicos, hemotransfundidos, usuários de drogas, crianças nascidas de mães infectadas e parceiros sexuais de indivíduos infectados (LEWI et al, 1997; FIALHO et al, 2002). A primeira indicação que a AIDS fosse ocasionada por um retrovírus ocorreu em 1983, quando foi isolado por Luc Montagner em Paris, um vírus com atividade de transcriptase reversa de um paciente com linfoadenopatia persistente e AIDS. Esse mesmo agente foi isolado posteriormente em indivíduos assintomáticos caracterizando o estado de portador (MELO et al, 2003). Inicialmente, o vírus foi denominado, por Luc Montagner, de LAV (Lymphadenopathy-associated vírus). Alguns meses depois, nos Estados Unidos, Robert Gallo e colaboradores descreveram o mesmo vírus e o chamaram de HTLV-III (Human T cell leukemia/ Iymphotropic vírus type III). Posteriormente, o comitê de taxonomia de viroses se reuniu e 2 batizou esse vírus de vírus da imunodeficiência humana tipo 1(HIV-1). Em 1986, na África, foi isolado um retrovírus diferente do HIV-1 em dois pacientes com AIDS o qual foi denominado vírus da imunodeficiência humana tipo 2 (HIV-2) (MELO et al, 2003). 1.2 EPIDEMIOLOGIA A Organização mundial da saúde (OMS) estimava em 2001, que cerca de 36,1 milhões de pessoas estivessem contaminadas com o vírus (SOUZA et al, 2001). Em 2004, aproximadamente três milhões de pessoas morreram devido HIV/AIDS e cerca de cinco milhões contraíram o vírus HIV (UNAIDS, 2003). No momento a AIDS representa a principal causa de morte em adultos entre 20 e 50 anos em 15 países e, provavelmente, na próxima década será o maior determinante de mortalidade dessa faixa etária em todo o mundo (COHN e CLARK, 2003). 1.2.1 AIDS NO BRASIL Segundo o ministério da saúde, a AIDS foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1980 em sete pacientes homo/bissexuais de alto nível sócio econômico e cultural (FIALHO et al., 2002; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Até a primeira metade da década de 80, a epidemia ficou restrita às maiores metrópoles, ou seja, Rio, São Paulo e região Sul (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Aproximadamente em 1987, a doença passou a se caracterizar pela transmissão sanguínea, principalmente nos usuários de drogas injetáveis ocorrendo uma pauperização e interiorização da epidemia. A partir de 1992 até os dias atuais, houve um grande aumento de infectados por exposição heterossexual e a proporção entre homens mulheres chegou a 2:1 (GRINSZTEJN e VELOSO, 2003; MELO et al, 2003; UNAIDS, 2003). O Brasil é o segundo em números de notificações das Américas (RIBEIRO et al., 1999). Do início dos anos 80 até dezembro de 2004, já foram diagnosticados no Brasil 362.364 casos de AIDS. No ano de 2004 foram diagnosticados 13.933 novos casos da doença, com taxa de incidência de 18,4 /100000hab. As regiões Sudeste e Sul concentram 84,8% dos casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). 1.2.2 AIDS NO AMAZONAS 3 No estado do Amazonas, o primeiro caso relatado ocorreu em abril de 1986, em Manaus, em uma paciente do sexo feminino. A epidemia ficou restrita a Manaus até 1990, quando começaram a surgir os primeiros casos no interior do estado (FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS, 2003; SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS, 2004). O município de Manaquiri foi o primeiro do interior a notificar um caso de AIDS, seguido de Parintins, Tefé, Manacapuru, Lábrea e Beruri (1992); Coari, Manicoré, Benmjamin Constant e São Gabriel da Cachoeira (1993); Tabatinga e Itacoatiara (1994); Presidente Figueiredo, Eirunepé e Autazes (1995); Carauari, Apui e Tocantins (1996); São Sebastião de Uatumã e Santo Antonio do Iça (1997); Iranduba, São Paulo de Olivença e Barreirinha (1998); Jutaí, Novo Airão, Maués e Atalaia do Norte (1999); Humaitá (2000); Boca do Acre e Castanho (2001) (FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS, 2003). Dentre os municípios brasileiros, Manaus ocupava até dezembro de 2003, o 29º lugar no ranking de notificações (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO AIDS, 2003; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Em 2004 subiu para 19º lugar segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2004. Atualmente, a maior concentração de casos do estado do Amazonas continua na cidade de Manaus, com 248 casos notificados em 2004 e um total de 2577 casos desde o início da epidemia em 1980 o que representa 0,7% do total de casos do país (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO AIDS, 2003; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS,2004). Em 2003, o total de pessoas infectadas era de 1570 o que correspondia a 0,5% do país. (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 2004). 1.2.3 AIDS EM MULHERES Nos Estados Unidos, o grupo de pacientes que cresce mais rapidamente é o das mulheres que a cada ano representam 26% de todos os novos casos de AIDS e 32% dos casos de infecções pelo vírus HIV. Em 2001, dos cinco milhões de novos casos de infecção pelo vírus HIV, aproximadamente 50% eram de pacientes do sexo feminino (COHN e CLARK, 2003; HIV/AIDS, 2004). Atualmente, essa doença é a 5ª causa principal de morte em mulheres, e a 1ª causa de óbito em mulheres em idade fértil em várias capitais americanas (HIV/AIDS, 2004). Estima-se atualmente que a cada dia aproximadamente 3000 mulheres são infectadas pelo vírus HIV em todo mundo. A maior parte delas (85%) são mulheres jovens em idade reprodutiva (DUARTE, 1997; MELO, 2003). 4 O primeiro caso de AIDS relatado em mulheres no Brasil foi em 1983. Desde 1983 até 2004, foram notificados 111.314 casos, representando 30,7% do total de casos do país. Em 2004, foram notificados 5567 novos casos de AIDS em mulheres, desses, aproximadamente 496 são no Amazonas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Em 2003, as mulheres representavam 28,8% de todos os infectados (GRINSZTEJN E VELOSO, 2003). A transmissão sexual foi responsável por 86,9% dos casos de contaminação pelo vírus HIV. Mulheres com menor escolaridade foram as mais acometidas (54,5%) e foi observado que os casos em mulheres diminuem quando aumenta a escolaridade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Em 1985, a proporção de casos de AIDS entre homens e mulheres era de 18,5 homens contaminados para cada mulher (GADELHA et al., 1982; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). No final de 2004, a razão homem/mulher foi de 1,5 homens infectados para cada mulher, evidenciando o grande crescimento da infecção no sexo feminino (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Com relação a faixa etária, tem-se um adoecimento maior nos pacientes com idade entre de 20 a 49 anos. Observa-se ainda crescente incidência da AIDS em relação à faixa etária de 13 a 19 anos no sexo feminino. Esse fato pode ser explicado pelo início precoce da atividade sexual que normalmente ocorre com homens de maior experiência sexual e mais expostos aos riscos de contaminação por DST e pela AIDS (GIRALDO e SIMÕES, 1994; RIBEIRO et al., 1999; SHAH e BRADBEER, 2000; MELO et al., 2003). Apesar da grande ameaça para a saúde das mulheres e da possibilidade de transmissão perinatal do vírus, o impacto da infecção pelo HIV na população feminina talvez seja o aspecto menos estudado na epidemia (SHAH e BRADBEER, 2000; BARROS, et al., 2003). 1.3 CICLO VIRAL A infecção pelo HIV tem início com a entrada do vírus na célula, através da ligação da proteína de superfície gp120 com o receptor da célula (molécula de CD4). Após a entrada do HIV no organismo humano ocorre o reconhecimento pelo sistema imunológico iniciando uma resposta humoral (DUARTE, 1997). O vírus infectará apenas células que exibam esse marcador de superfície (o GP 120 e a molécula de CD4) nas membranas ou seja, linfócitos T helper (CD3, CD4, CD8) que exibem grandes concentrações de moléculas de CD4. A molécula de CD4 5 não é o único receptor do HIV, as moléculas CXCR4 e CCR5 também são receptores do vírus. Outras células infectadas são as monocítico-macrofágicas, incluindo a microglia do sistema nervoso central, células dendríticas foliculares dos linfonodos e as de Langerhans da pele e mucosas (FAHEY e FLEMMING, 1997; LEWI et al., 1997). O vírus do HIV já foi isolado no sangue, sêmem, secreções vaginais, saliva, lágrima e no leite materno (GIRALDO e SIMÕES, 1994). A entrada ocorre através da fusão do vírus com a membrana celular, sendo essa reação mediada pela gp 41 (SABINO e ALQUEZAR, 1999). Após entrar na célula, via molécula de CD4+, o vírus perde seu envelope glicoproteico, expõe sua fita de RNA e permite a ação da enzima transcriptase reversa e, dessa forma, o RNA viral é convertido a DNA dentro do citoplasma celular nas primeiras 6 horas de infecção. Esta dupla fita de DNA formado penetra no núcleo da célula e é integrado ao genoma do hospedeiro pela enzima integrase, originando o pró- vírus que permanecerá na célula enquanto ela estiver viva (FIALHO et al., 2002; MELO et al., 2003). O pró - vírus pode permanecer quiescente por tempo variável, de meses até mesmo anos. Por um mecanismo não esclarecido, ocorrerá a ativação do pró-vírus, com conseqüente replicação viral e liberação de novas partículas virais na circulação aptas a infectar novas células. Após completada a replicação viral, a célula hospedeira é destruída provavelmente por um mecanismo de Apoptose (SABINO e ALQUEZAR, 1999). A replicação viral acomete e destrói novos linfócitos, comprometendo a defesa imunológica do paciente infectado (DUARTE, 1997; MELO, 2004). O HIV também pode determinar outras disfunções no sistema imunológico, induzindo a produção de auto anticorpos contra proteínas celulares normais (MELO, 2004). 1.4 TRANSMISSÃO O vírus HIV pode ser transmitido via sexual, por exposição ao sangue e tecidos contaminados (através de seringas contaminadas, transfusão sanguínea e transplante de órgãos) e transmissão mãe – filho (durante a gestação, parto ou amamentação) (GIRALDO e SIMÕES, 1994; RIBEIRO et al., 1999). Atualmente via sexual é a forma mais comum da transmissão do HIV. O risco de transmissão do vírus é cerca de 20 vezes maior do homem para mulher, provavelmente pela maior concentração do HIV no sêmen do que nas secreções vaginais (GIRALDO e SIMÕES, 1994; RIBEIRO et al., 1999; SHAH e BRADBEER, 2000; BARROS et al., 2003). A presença de úlceras genitais no momento da relação, uso de contraceptivos hormonais orais e história de doenças sexualmente 6 transmissíveis, como herpes genital, gonorréia e infecção por Chlamídia, são fatores que contribuem para o aumento do risco de infecção pelo vírus HIV (GIRALDO e SIMÕES, 1994; RIBEIRO et al., 1999; SHAH e BRADBEER, 2000). A exposição ao sangue, hemoderivados e o período perinatal são situações de risco de infecção que, vêm apresentando significativa redução devido as ações e políticas de saúde instituídas no país (COHN e CLARK, 2003; MIRANDA et al., 2003). 1.5 CORRIMENTO VAGINAL NA PACIENTE HIV POSITIVO O corrimento vaginal é uma afecção do trato genital inferior, descrita desde a época de Hipócrates e Soranus, que pode facilitar a aquisição e transmissão do vírus HIV (BARROS et al., 2003). Nas mulheres, muitas vezes as manifestações clínicas iniciais do HIV localizam-se no trato genital inferior, devendo-se ressaltar a ocorrência de candidíase vulvovaginal crônica resistente a terapia convencional, doença inflamatória pélvica, úlcera genital, além da displasia cervical. Esta última especialmente importante devido ao seu potencial de malignização (SHAH e BRADBEER, 2000; BARROS et al., 2003; MELO et al.2004, SECRETARIA DO ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS, 2004). As doenças sexualmente transmissíveis (DST) têm importância fundamental após o surgimento da AIDS pois aumentam a transmissão sexual do HIV e estão associados a sintomas mais precoces e mais severos em pacientes HIV soropositivos (MIRANDA et al., 2003). O conteúdo vaginal é composto de vários fluidos: tubários, endometrial, muco cervical, células descamadas, transudatos das paredes vaginais, glândulas de Skene e Bartholin. A flora normal das mulheres na fase reprodutiva, com níveis normais de estrógenos é dominada por Lactobacillus. Os estafilococos e difteróides são relativamente comuns, mas em concentrações mil vezes menores. Os Lactobacillus são produtores de ácido lático, que tem efeito protetor contra bactérias patogênicas, também sintetizam numerosos produtos que inibem outras bactérias como o peróxido de hidrogênio, lactacina e acidolina. O corrimento vaginal é causado por substituição parcial da flora normal por microorganismos menos acidófilos (COHN e CLARK, 2003). Entre as mulheres infectadas pelo HIV em acompanhamento no Instituto de Pesquisas Evandro Chagas, Fiocruz, no Rio de Janeiro, 61% apresentavam algum sintoma relacionado ao trato genital no momento da primeira avaliação ginecológica (MELO et al., 2003; SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS, 2004). A Candidose vaginal recorrente é a manifestação inicial mais comum da infecção pelo HIV, ocorrendo em 24 a 71% dos casos relatados na 7 literatura. Infecção pelo vírus Herpes tipo 2, Vaginose Bacteriana, Tricomoníase e cervicite por Chlamídia são freqüentes nestas pacientes, sendo encontrada soroprevalência aumentada para o HIV em mulheres internadas com diagnóstico de doença inflamatória pélvica (GRINSZTEJN, 2003). A elevada freqüência dessas infecções, associada com suas repercussões, torna fundamental a utilização de um método de diagnóstico laboratorial eficiente, rápido e barato como por exemplo a citologia oncótica tríplice (BARROS et al., 2003). As técnicas de citologia a fresco, exame direto e bacterioscopia também são eficazes por apresentarem resultados imediatos e serem de execução simples. Os corrimentos vaginais mais freqüentes são: a vaginose bacteriana, a candidíase, a Tricomoníase, as cérvico colpites bacterianas e as cérvico colpites inespecíficas (BARROS et al., 2003). 1.5.1 VAGINOSE BACTERIANA A vaginose bacteriana resulta da modificação da microbiota vaginal principalmente por agentes anaeróbios, Gardnerella vaginalis, Bacterióides, Mobiluncus, Mycoplasma hominis, Ureaplasma e Prevotellas. Essa modificação ocorre por uma depleção dos lactobacillus spp da flora vaginal normal e por um aumento de 100 a 1000 vezes de bactérias vaginais anaeróbias,responsáveis pela produção de aminas que causam um odor desagradável semelhante ao de peixe e aumento do pH vaginal (MARRAZO, J.M. 2002, SCHMID et al 2000). O quadro clínico varia desde assintomático a presença de corrimento abundante acinzentado, bolhoso, com odor amínico desagradável, ardência ao coito, disúria, piora do odor após o ato sexual e menstruação e pH alcalino (>4,5). (SCHMID et al 2000) A vaginose bacteriana é responsável por doença inflamatória pélvica, maior índice de infeções pós cirúrgicas e um aumento de risco para aquisição do vírus HIV (MARRAZO, J.M. 2002). O diagnóstico laboratorial realizado pela bacterioscopia pelo gram apresenta uma sensibilidade de 90%, identificando células em alvo (clue cells) que são células epiteliais recobertas por bacilos aderidos à superfície da célula. Estas células também podem ser evidenciadas pela coloração de Papanicolaou e pela citologia a fresco (BARROS et al., 2003). Vários estudos tem demonstrado a associação entre a vaginose e o HIV. Alguns mostrando uma maior incidência e persistência da vaginose em pacientes HIV positivas e outros sugerindo que a vaginose é um fator de risco para 8 a síndrome da imunodeficiência adquirida (JAMOESON et al, 2001). Segundo Schmid et al, o pH vaginal baixo inibe a ativação do linfócito TCD4 e consequentemente a diminuição das células alvo do HIV na vagina. Um pH vaginal elevado, que ocorre nos casos de infecção por vaginose, torna a vagina mais propensa a sobrevivência do vírus HIV e sua aderência. A vaginose também aumenta os níveis intravaginais de interleucina 10 que aumenta a suceptibilidade dos macrófagos ao HIV. Além disso, proteínas termoestáveis produzidas pela Gardnerella aumentam a produção do HIV pelas células infectadas mais de 77 vezes (SCHMID, 2000). 1.5.2 CANDIDOSE VAGINAL A Candidíase ou Cândidose vaginal é uma infecção fúngica que em 85 a 90% dos casos está associada a Cândida albicans. Pode estar presente no trato vaginal de algumas mulheres assintomáticas e pode ser de transmissão sexual, embora não exclusivamente.(HORTA, 2000) As espécies mais freqüentes de Cândida são: C. albicans (57%), C. glabrata (21%), C. tropicalis (6%). O sintoma mais freqüente é o prurido vulvar , podendo ocorrer disúria, dispareunia, ardor e queimação vulvar. O exame físico evidencia edema e eritema da vulva e mucosa vaginal, corrimento vaginal aderente, esbranquiçado, semelhante a nata de leite, podendo haver escoriações pelo ato de coçar (COHN e CLARK, 2003). Pacientes HIV positivo são muito mais susceptíveis a infecção por Cândida do que a população geral (HESTER e KENNEDY, 2003). Essas pacientes podem apresentar um quadro clínico muito mais severo de vulvovaginite do que a população geral (COHN e CLARK, 2003). 1.5.3 TRICOMONÍASE A tricomoníase é uma infecção de transmissão sexual causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário flagelado freqüentemente encontrado em mulheres portadoras de outras DST. Clinicamente cursa com lesões ectocervicais maculo eritematosas, secreção vaginal purulenta e espumosa, eritema vulvar e vaginal, pH vaginal superior a 4,5 e odor amínico presente. O diagnóstico laboratorial é obtido pela visualização do parasita flagelado móvel na citologia a fresco (BARROS et al., 2003). A infecção por Thichomonas vaginalis está sendo apontada como um importante cofator na transmissão do HIV (HESTER e KENNEDY, 2003). 1.5.4 PAPILOMA VÍRUS HUMANO 9 A infecção por Papiloma vírus Humano (HPV) desde 1992 foi reconhecida pela OMS como principal causa de câncer da cérvice uterina. A neoplasia do colo uterino é a segunda causa de morte em mulheres em idade fértil, relacionada ao câncer no Brasil. Destas, pelo menos 90% contêm HPV DNA tipos 16 e 18 (CARVALHO, 2000; GOMES et al., 2003). O Papiloma vírus Humano é um vírus DNA, da família Papovaviridae. Apresenta forma icosaédrica não envelopada contendo 72 capsomeros, genoma circular e necessita para seu ciclo de vida estar incorporado a células epiteliais permissíveis, as metaplásicas e as basais, em organismo hospedeiro favorável (RIBALDA, 2000). Atualmente são conhecidos mais de 80 tipos, dos quais cerca de 40 infectam o trato anogenital, que são categorizados em função de sua associação com o câncer cervical em baixo e alto risco ou, ainda, em oncogênicos e não oncogênicos (RUSSOMANO, 2004). Atenção especial deve ser dada aos HPV de alto risco oncogênico, os HPV 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, e 56.(PALO, 1993). Das Doenças sexualmente transmissíveis (DST) notificadas durante o ano de 1997, 23,4% foram provocadas pelo papiloma vírus humano (HPV). Sua incidência vem aumentando nos últimos anos, associada a AIDS (CARVALHO et al., 2000). A infecção por HPV é prevalente em pacientes jovens e é transmitida preferencialmente por via sexual, sendo necessária a presença de microtraumas ou soluções de continuidade nos epitélios pavimentosos íntegros ou, ainda a presença de células permissíveis a sua entrada (RIBALTA, 2000; FIALHO et al., 2002; MELO, 2004). Transmissão oral, digital, perinatal, auto-inoculação e contaminação por fomites tem sido relatados. Nem todos os indivíduos são sintomáticos e somente uma minoria desenvolvem neoplasias associáveis ao HPV (FIALHO, 2002; MELO et al., 2003). O estado imunológico parece ser um fator decisivo para a ocorrência, progressão e recorrência da lesão. A infecção pelo vírus HPV é significativamente mais comum entre mulheres soropositivas (73,2%) do que nas soronegativas (23,7%) (RIBALTA, 2000; COHN e CLARK, 2003; MELO et al., 2003). As mulheres infectadas pelo HIV têm alto risco de desenvolvimento de lesões precursoras do câncer de colo, assim como, neoplasia do trato genital associada ao HPV (GRINSZTEJN e VELOSO, 2003). No estudo feito por Melo e cols (2003), foi encontrada uma alta prevalência de neoplasias intraepiteliais cervicais (21,7%) nas pacientes HIV positivo. Dessas pacientes, 81,7% encontrou-se algum genótipo HPV (MELO et al., 2004). Heard e cols no ano de 2000 estudando 307 pacientes infectadas pelo vírus HIV, observaram que 52% estavam infectadas pelo vírus HPV e destas, em 55,6% foi detectado HPV de alto risco (HEARD, 2000). O HIV causa alteração da imunidade 10 celular, representando importante fator de risco para infecção do HPV, além de modificar a história natural da infecção pré-existente (CARVALHO et al., 2000). Acredita-se que a imunossupressão associada ao HIV acelere ou modifique o curso clínico habitualmente indolente da doença cervical causada pelo HPV, aumentando não só a incidência das lesões precursoras do câncer, como a própria incidência de neoplasia, principalmente se a imunodeficiência for acentuada (HEARD, 2000; LAPIN et al., 2000). Informações atualmente disponíveis através das técnicas de biologia molecular, sugerem que partes do genoma do HIV podem estimular a expressão do HPV, admitindo que o gene regulador Tat, presente no RNA do HIV, interage com o gene E2 do papilomavírus humano, para intensificar a replicação deste independentemente da queda da imunidade (HEARD, 2000). Outros estudos mostraram que existe uma diminuição das células de Langherans vaginais em portadoras do HIV, e isto pode comprometer a imunidade celular contra o HPV. Outros estudos, ainda, mostram que mulheres infectadas pelo HIV e HPV têm significativamente menos citocinas no sangue periférico, importantes fatores mediadores da resposta imune local (RUSSOMANO, 2000). 1.6 CÂNCER DE COLO UTERINO Existem vários estudos que demonstram a maior incidência e agressividade de leões precursoras do câncer (neoplasia intrapitelial cervical) e da própria neoplasia cervical em mulheres infectadas pelo vírus HIV do que a população geral (FORDYCE et al., 2000; HEARD, 2000; CALORE et al., 2001; PAUTIER et al., 2003; HAWES et al, 2003). Estima-se que a incidência de câncer cervical em mulheres soropositivas para o HIV é de 900:100.000, em comparação com 10:100.000 mulheres HIV negativas, e a prevalência de neoplasia intra-epitelial cervical em mulheres HIV positivas gira em torno de 31 a 63%. Esse risco ainda é maior se houver associação com o vírus HPV, em especial as cepas já sabidamente oncogênicas (sorotipos16, 18, 31, 33, 3, 39, 45, 51, 52, 56, 59) (HEARD, 2000; INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2003; PAUTIER et al., 2003; MELO, 2004). A neoplasia cervical é tão prevalente nas pacientes HIV positivas que em 1993 o CDC (Centers for Desease Control and Prevention) designou o câncer invasivo de colo uterino como doença definidora de AIDS (PAUTIER et al., 2003). Quanto maior a gravidade da imunossupressão, maior a possibilidade de agravamento das lesões cervicais (MELO, 2004). O prognóstico da neoplasia cervical também é pior nesse grupo de pacientes (PAUTIER et al., 2003; MELO, 2004). No caso de câncer de colo uterino invasivo, verificou-se que as mulheres soropositivas apresentavam-se em estágio mais avançado da doença, tinham maior taxa de 11 recorrência após tratamento e um intervalo mais curto entre a recidiva e a morte. O mesmo não ocorre com o câncer de mama e outras neoplasias malignas na mulher (MELO, 2004). No Brasil, estima-se que o câncer do colo do útero seja o terceiro mais comum na população feminina, sendo superado pelo câncer de pele não melanoma e pelo de mama.Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer é estimado para o ano de 2005 cerca de 21 mil casos novos de câncer de colo uterino. No Amazonas o câncer de colo é o primeiro e mais freqüente tipo de câncer na mulher (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2005). Este tipo de câncer representa 10% de todos os tumores malignos em mulheres. De acordo com dados absolutos sobre a incidência e mortalidade por câncer do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de colo do útero foi responsável pela morte de 3.953 mulheres no Brasil em 2000 (Instituto Nacional do Câncer, 2003). Para 2005, as Estimativas sobre Incidência de Câncer de uma maneira geral prevêem 467.440 novos casos sendo 20.690 de colo uterino (Instituto Nacional do Câncer, 2005). Em Manaus, segundo dados da Fundação Centro de Controle em Oncologia, foram registrados 2194 casos de 1997 a 2001 e existem em média 400 casos novos por ano de neoplasia cervical (RELATÓRIO DE REGISTRO HOSPITALAR DA FUNDAÇÃO CENTRO DE CONTROLE EM ONCOLOGIA, 2004). A espectativa para 2005 relacionada ao câncer de colo uterino é de 530 casos novos no Amazonas sendo 470 casos em Manaus. (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2005). Os principais fatores de risco para o câncer de colo uterino são baixo nível sócio econômico, alta paridade, início precoce das relações sexuais, tabagismo, promiscuidade, infecção pelo vírus HPV, infecção pelo herpes vírus e infecção pelo vírus HIV. O vírus do papiloma humano (HPV) está presente em 99% dos casos de câncer do colo do útero (Instituto Nacional do Câncer, 2003). As principais lesões precursoras do câncer de colo uterino são as neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC), que são classificadas em NIC I, NIC II e NIC III (antigamente denominadas displasia leve, moderada, acentuada). Essas lesões estão intimamente relacionadas com a infecção pelo vírus HPV, conforme citado anteriormente (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2003; GRINSZTEJN e VELOSO, 2003; HAWES, 2003; PAUTIER, 2003). As alterações atípicas escamosas intra epiteliais são divididas em lesões de baixo grau (antigamente denominadas NIC I) onde predominam o vírus HPV tipos 6 e 11 e lesões de alto grau (correspondentes a NIC II e NIC III) onde predominam o vírus HPV tipos 16 e 18 (HORTA, 2000). 12 Na citologia Bethesda e Consenso Nacional utiliza-se Lesões de baixo grau para NIC I/HPV e Lesões de alto grau para NIC II e III. No entanto na histologia a nomenclatura NIC I II e III ainda está vigente. A coilocitose, a disceratose e a discariose são parâmetros citológicos clássicos para o diagnóstico de infecção por HPV (HORTA, 2000). Pacientes soropositivas com HPV tem o risco 13 vezes maior de desenvolver neoplasia intra-epitelial cervical (NIC) (MELO et al., 2003). O câncer de colo é prevenível, através da identificação das lesões precursoras, e pode ser curado quando detectado precocemente. Existem diversos métodos que podem ser utilizados na detecção precoce desse tipo de câncer, mas o exame citopatológico, ainda hoje é o mais empregado em mulheres assintomáticas (CALORE et al., 2001; INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2003). 1.7 CITOLOGIA CÉRVICO VAGINAL A citologia cérvico vaginal é o método mais difundido mundialmente para rastreamento das neoplasia intraepitelial cervical e câncer de colo uterino (LAPIN et al., 2000). É utilizado não só na pesquisa diagnóstica de prevenção e tratamento do câncer de colo uterino, como também no diagnóstico de infecções genitais. Ellerbrock et al.em 2000, encontraram uma sensibilidade e especificidade da citologia nas mulheres HIV positivas de 81 e 87% respectivamente, para lesões intra epiteliais escamosas e cervicais (THOMAS et al., 1994). As infecções genitais comumente diagnosticadas por essa técnica são: Tricomoníase, candidíase, vaginose bacteriana, cervicopatias e alterações sugestivas de infecção pelo vírus HPV (BARROS et al., 2003). A citologia morfológica encontrada em células vaginais foi introduzida na prática médica em 1847 por Pouchet que descreveu as alterações durante as fases do ciclo hormonal feminino. A partir de 1930, com Papanicolaou, surgiram novos estudos descrevendo o aspecto citológico normal em esfregaços vaginais e as aberrações celulares encontradas em diversas condições patológicas, principalmente as neoplásicas (HORTA, 2000). O exame citológico consiste na colheita de células exfoliadas do terço posterior da vagina, da ectocérvice (com a espátula de Ayre) e endocervicais (com escovacytobrush) do colo uterino. A função de uma perfeita colheita é de alcançar a junção escamo-colunar (JEC) para obter material da zona de transformação. A zona de transformação ou junção escamo colunar é o ponto de encontro entre o epitélio 13 ectocervical e endocervical (glandular), considerado ponto vulnerável para a instalação de infecções por patógenos e neoplasias (BARROS et al., 2003). Na citologia podemos identificar vários agentes infecciosos e parasitários (bactérias, parasitas, fungos e vírus) (HORTA, 2000). Bactérias tipo cocos são comumente encontradas em meninas e mulheres idosas, durante o menacme é mais comum encontrarmos Lactobacillus vaginalis (bacilo de Döderlein). Os bacilos podem também representar enterobactérias patogênicas, Gardnerella vaginalis ou mobiluncus. Os cocos podem estar agrupados como cachos de uva (estafilococos) ou em cadeias retilíneas (estreptococos). Diplococos intracitoplasmáticos encotrados em leucócitos e piócitos de esfregaços purulentos definem o diagnóstico de suspeição para gonococos. Estruturas cocóides, intracitoplasmáticas e intravacuolares podem ser observadas em células escamosas imaturas e células metaplasicas constituindo um diagnóstico de suspeição para Chlamydia trachomatis (HORTA, 2000). A infecção fúngica mais encontrada é a Cândida sp, porém outros cogumelos como Torulopsis Glabrata, Aspergillus, Leptotrix e Actinomicetos podem também se identificados pela coloração de Papanicolaou. A Candida apresenta esporos pequenos e hifas septadas com brotamentos a 90º (HORTA, 2000). Na coloração de Papanicolaou, o protozoário Trichomonas Vaginalis apresenta estrutura basofílica ovóide com pequeno nucléolo citoplasmático onde podemos perceber a saída de flagelo único. O vírus Herpes hominis (HSV) tipo I ou tipo II apresenta citologia com células epiteliais volumosas (citomegalia), multinucleação com amoldamento, cromatina vítrea (clara), espessamento de membrana nuclear, inclusão central intracelular eosinofílica (HORTA, 2000). As atipias escamosas de significado indeterminado correspondem a alterações celulares mais marcantes que as encontradas em processos benignos, porém, qualitativa e quantitativamente insuficientes para definir um diagnóstico de neoplasia. É um diagnóstico de exclusão (HORTA, 2000). A colpocitologia é o método mais rápido e econômico para detectar lesões que possam comprometer o trato genital inferior feminino (KEMP e MARTINS, 2000) e, por ser uma técnica de baixo custo, indolor, além de ser bem aceita, a citopatologia é considerada ideal na nossa população (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2003). Enquanto o tratamento das neoplasias cervicais estiver limitado a técnicas excisionais, o diagnóstico precoce se impõe, principalmente em pacientes HIV positivas onde a progressão da doença é muito rápida, como única forma de prevenir a progressão das lesões. O câncer invasivo nessas pacientes tem um comportamento 14 mais agressivo, responde mal às terapias preconizadas e, em caso de recorrência tem um pior prognóstico (SOUZA et al., 2001). Um aspecto de suma importância é o fato de que se a probabilidade de portadoras de HIV é maior do que as não portadoras em desenvolver lesões cervicais, é possível que uma parcela considerável de mulheres portadoras de NIC sejam também portadoras do HIV sem terem conhecimento desse fato (RUSSOMANO et al., 2004). O conhecimento de sua condição de portadora do vírus HIV, possibilitaria à mulher submeter-se precocemente ao tratamento anti-retroviral e a tratamentos profiláticos (RUSSOMANO et al., 2004). Tendo em vista que as mulheres portadoras do vírus HIV tem maior risco de serem portadoras do vírus HPV, desenvolverem neoplasia intraepitelial cervical e câncer de colo uterino, que é uma patologia prevenivel, é fundamental que essas pacientes sejam exaustivamente acompanhadas com breves intervalos para que se possa realizar a profilaxia ou a detecção precoce das neoplasias de colo uterino, proporcionando a essas pacientes uma maior sobrevida com uma melhor qualidade de vida (GRINSZTEJN e VELOSO, 2003; INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2003; MELO et al., 2003). Considerando que não existe na literatura informações que descrevam as alterações citológicas e prevalência de neoplasias intraepiteliais cervicais no grupo de pacientes HIV positivo no estado do Amazonas. Esse trabalho se propôs a contribuir na elaboração do conhecimento científico a respeito das alterações citológicas nas mulheres acometidas pelo vírus HIV/AIDS, caracterizando um grupo de maior risco para o desenvolvimento de neoplasias..cervicais. 15 2. OBJETIVOS 2.1 GERAL Avaliar a prevalência das alterações colpocitológicas em pacientes HIV positivo, atendidas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM). 2.2 ESPECÍFICOS • Descrever os achados colpocitológicos encontrados nas pacientes portadoras do vírus HIV; • Avaliar a freqüência das alterações colpocitológicas pré neoplásicas e neoplásicas em pacientes HIV+; • Descrever os principais agentes etiológicos das infecções do trato genital inferior nas pacientes HIV positivo; • Correlacionar os achados citológicos com os níveis de linfócitos T CD4 e carga viral das pacientes; • Identificar fatores prevalentes sociodemográficos nas pacientes com lesões precursoras do câncer de colo uterino. 16 3. METODOLOGIA 3.1 MODELO DE ESTUDO Trata-se de um estudo descritivo transversal com a avaliação dos achados citológicos: Alterações epiteliais precursoras do câncer de colo uterino, identificação dos germes mais freqüentes nas pacientes com corrimento vaginal e prováveis fatores de risco sociodemográficos associados, em mulheres portadoras do vírus HIV residentes em Manaus, atendidas na Fundação de Medicina Tropical de Manaus FMT/IMT-AM. 3.2 UNIVERSO DE ESTUDO 3.2.1 População de Estudo A população de estudo foi de pacientes do sexo feminino, portadores do vírus HIV, atendidas no FMTAM. i. Participantes No período de 06 meses (julho a janeiro), foram encaminhadas todas as pacientes HIV positivo do FMTAM para o ambulatório de ginecologia para que fosse realizado exame colpocitológico para pesquisa de alterações citológicas. Critérios de inclusão: Foram incluídas no estudo pacientes HIV positivo, com diagnóstico confirmado, através de duplo teste com enzimaimunoensaio (ELISA) para a detecção de anticorpos do HIV 1 e HIV 2 em plasma ou soro humano, o GENSCREEN PLUS HIV AG-Ab e o GENSCREEN HIV 1/2 version 2 que foi retestado em duplicata caso reativo. Se reativa a amostra, seguiu-se a imunofluorescência indireta e o teste de Western 17 Blot para confirmação diagnóstica, conforme protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde. As participantes do estudo tinham idade entre 15 e 65 anos, foram atendidas no FMTAM, e concordaram em participar da pesquisa, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Critérios de exclusão: a) Pacientes que não eram portadoras do vírus HIV; b) Mulheres que não tinham colo uterino (histerectomizadas); c) Pacientes que já tinham sabidamente carcinoma de colo. 3.3 PROCEDIMENTOS Inicialmente as pacientes ao serem atendidas no ambulatório de ginecologia do FMTAM eram informadas da finalidade do estudo, demais procedimentos e exames aos quais seriam submetidas para a realização da pesquisa. Em concordando, na primeira consulta foi preenchida um ficha baseada em dados contidos no prontuário tais como: nome completo, idade, estado civil, escolaridade, ocupação, religião, cor, endereço, numero de telefone, renda familiar, naturalidade, nacionalidade, estado civil, história familiar, história patológica pregressa, níveis de linfócito T CD4, carga viral, idade de início da atividade sexual, número de parceiros sexuais e história de seus parceiros, antecedentes de doença sexualmente transmissível, práticas sexuais, uso de preservativos, métodos contraceptivos, idade no primeiro parto, história das gestações e partos anteriores, cirurgias, curetagens uterinas e transfusões sangüíneas, tabagismo, uso de drogas injetáveis ou não, tipo de droga e freqüência de uso, uso de “piercings” ou presença de tatuagens, com abordagem do tempo de uso e condições em que foram realizados os procedimentos, data e fatores associados ao diagnóstico da infecção pelo HIV e outros possíveis fatores de risco de contaminação pelo vírus HIV (anexo I). As informações que não estavam contidas no prontuário foram questionadas à paciente no momento da primeira consulta. A carga viral foi aferida pela técnica NASBA (nucleic acid sequence based amplification - amplificação baseada na seqüência do ácido nucleico). Os níveis de CD4 foram aferidos por citometria de fluxo segundo as normas do ministério da saúde, portaria do MS 488/98 . Nessa consulta foi realizado exame ginecológico completo segundo protocolo estabelecido, com inspeção da genitália, introdução de espéculo vaginal descartável não lubrificado e coleta de material para citologia oncótica tríplice. O material da ectocérvice (junção escamo colunar), e vagina foi colhido com o auxílio da espátula de 18 Ayre e o material da endocérvice, com a escova (cytobrush). As laminas após a coleta foram coradas na forma convencional (coloração de Papanicolaou) e avaliado por um único examinador na FMTAM na Sub-gerência de Anatomia-patológica da Fundação de Medicina Tropical de Manaus (FMTM). Foi utilizada a nomenclatura brasileira para laudos citopatológicos cervicais 2002. Nas pacientes com secreção vaginal abundante, foi realizado o exame a fresco do material colhido (teste do KOH e citologia a fresco), identificado o agente etiológico da infecção e prescrito um tratamento adequado. Após o tratamento, foi marcada uma nova consulta para a realização da citologia oncótica. As pacientes foram esclarecidas quanto à sua participação no estudo e o seu consentimento obtido por termo de consentimento livre e esclarecido (anexo II), assinado por ela e/ou seu responsável legal. Neste consentimento as pacientes foram esclarecidas quanto aos riscos e benefícios que envolvem sua participação na pesquisa, assim como a possibilidade de publicação científica dos dados coletados. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas sob o número 840-2004-FMTAM. 3.4 METODOLOGIA ESTATÍSTICA Os dados foram apresentados através de tabelas e gráficos onde se calculou as freqüências absolutas simples e relativas para os dados qualitativos e médias, mediana e desvio-padrão (DP) para os dados quantitativos. Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas utilizou-se a o Teste Qui-quadrado e coeficiente de Pearson. Na análise de comparação das médias, utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA) quando os dados encontravam-se normalmente distribuídos e o teste de Kruskal-Wallis quando rejeitada a hipótese de normalidade. O software utilizado na análise foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows desenvolvido e distribuído pelo CDC e o nível de significância utilizado nos testes foi de 5%. 19 4. RESULTADOS 4.1 PADRÕES EPIDEMIOLÓGICOS Neste estudo foram incluídas 101 mulheres, a maioria (51%) era Natural de Manaus, 29,7% de outras cidades do Amazonas e 18,8 % de outro estado. (Figura 1) Amazonas 30% Manaus 51% Outros 19% Figura 1. Distribuição segundo a Naturalidade das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. A idade variou entre 16 e 64 anos com idade média de 33,2 anos, e mediana de 32 anos. Houve um predomínio da faixa etária dos 25 aos 35 anos (44,6%). (Tabela 1). 20 Tabela 1. Distribuição segundo a Idade das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Idade (anos) 16 |--25 6 5,7 5 4,6 9 8,8 25 |--35 35 |--45 45 |--55 ,9 55 |--- | 64 ,0 Total Média: 33,2; 01 00,0 DP: 9,9; Mediana: 32 O grau de escolaridade predominante foi de nível fundamental (52%) seguida pelo esino médio (39%), não alfabetizadas (5,0%) e ensino superior (4,0%). A maioria das pacientes estudadas eram casadas (31,7%) ou com união estável (26,7%). A religião predominante foi a católica (55,4%), depois a evangélica (33,7%) e nenhuma (10,9%). Não houveram pacientes da religião espírita. A população estudada era composta de 53,5 % de mulheres da raça branca, 43,6% de pardas e 3,0% de negras. (Tabela 2) Tabela 2. Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Variáveis Escolaridade Não alfabetizada Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Estado civil Solteira Casada ,0 2 2,0 9 9,0 ,0 5 4,8 2 1,7 7 6,7 0 ,9 União estável Divorciada Viúva 21 ,9 Religião Católica Evangélica Nenhuma 6 5,4 4 3,7 1 0,9 4 3,5 4 3,6 Raça Branca Parda Negra ,0 Renda familiar (SM) <1 1 2a5 >5 1 0,9 4 3,6 7 6,6 ,9 4.2 ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS / OBSTÉTRICOS Quanto aos antecedentes ginecológicos, a idade da menarca variou de 9 a 17 anos, com média de 13,1 anos (Tabela 3). Tabela 3. Distribuição segundo a Idade da primeira mestruaçao das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Idade da primeira menstruação 9 |--- 13 13 |--- 16 16 |---| 17 7,6 5 4,5 ,9 Total Média: 13,1; 8 DP: 1,7; 01 00,0 Mediana: 13 A sexarca ocorreu com idade média de 15,7 anos , variando dos 7 aos 24 anos. A faixa etária predominante foi dos 13 aos 16 anos com 45,5% das pacientes e a de 16 a 19 22 anos (36,6%). Apenas 10,9 % das mulheres tiveram a primeira relação com 19 anos ou mais e 7% dos 7 aos 13 anos. (Tabela 4). Tabela 4. Distribuição segundo a Idade da primeira relação sexual das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. Idade da primeira relação sexual 7 |--- 10 ,0 10 |--- 13 ,0 13 |--- 16 16 |--- 19 19 |---| 24 Total Média: 15,7; DP: 2,7; 6 5,5 7 6,6 1 0,9 01 00,0 Mediana: 15 O número de parceiros variou de 1 a 100, tendo como média 9,7 e mediana de 5 parceiros por paciente. Devido a grande variação entre os extremos, é mais fidedigno utilizarmos a mediana do número de parceiros ao invés da média. Das mulheres estudadas 27,7% tiveram de 4 a 6 parceiros, 26,7 % tiveram 6 a 11, 23,8% tiveram de 2 a 4, 15,8% tiveram de 11 a 100 parceiros e apenas 6%, tiveram 1 parceiro (tabela 5) Tabela 5. Distribuição segundo o número de parceiros sexuais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Número de Parceiros Sexuais Número de parceiros sexuais 1 2 |---- 4 4 |---- 6 6 |---- 11 11 |---| 100 ,0 4 3,8 8 7,7 7 6,7 23 6 Total Média: 9,7; DP: 14,9; 5,8 01 00,0 Mediana: 5 A forma de contaminação pelo vírus HIV foi predominantemente a via sexual (86,1%), sendo que 58,4% das mulheres adquiriu o vírus do marido e parceiro fixo (união estável) e 27,7% adquiriram o vírus através de relação com múltiplos parceiros. Outras formas de contaminação foram transfusão sanguínea (4,95%), drogas injetáveis (1,98%) e 7,9 % desconheciam a maneira pela qual se infectaram. (Figura 2) Multiplos Parceiros 27,7% Drogas 1,98% Transfusão 4,95% Marido 58,4% Ignorada 7,9% Figura 2. Distribuição segundo a forma de contágio do vírus HIV das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. O número de gestações variou de 0 a 28, com média de 4,2 e mediana de 3 gestações por pacientes. A maioria das mulheres (39,6%) teve de 2 a 4 gestações , 21,8% tiveram de 6 a 10 gestações, 15,8% tiveram de 4 a 6 gestações. Apenas 5,9% das pacientes estudadas não tiveram nenhuma gestação (Tabela 6). Tabela 6. Distribuição segundo o número de gestações das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. NÚMERO DE GESTAÇÕES 0 1 ,9 24 2 |--- 4 4 |--- 6 6 |---| 10 4 3,9 0 9,6 6 5,8 2 1,8 10 |---| 28 TOTAL Média: 4,2; DP: 3,7; ,0 01 00,0 Mediana: 3 O número de partos normais variou de 0 a 13, com média de 3,4 por paciente. Das mulheres avaliadas, 27,7% tiveram de 2 a 4 partos vaginais, 19% tiveram um parto eutócico, 13,9% tiveram de 6 a 11 partos normais. Tabela 7. Distribuição segundo o número de partos normais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus-AM. Número de partos normais 0 1 2 |--- 4 9 8,7 0 9,8 8 7,7 4 |--- 6 6 |--- 11 11 |---| 13 Total Média: 3,4; DP: 2,6; ,9 4 3,9 ,0 01 00,0 Mediana: 3 Neste estudo pudemos observar que 53% das pacientes não haviam se submetido ao parto cesareano, 32% tinham uma cesareana, 6,9% duas cirurgias, 5,9% apenas um parto cesáreo. Houve predomínio do parto eutocico (média 3 por paciente) em relação ao operatório (média 1,5 por paciente). Tabela 8. Distribuição segundo o número de partos cesáreos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Número de partos 25 cesáreos Nenhum Um 4 3,5 3 2,7 Dois ,9 Três ,9 Quatro ,0 Total 01 Média: 1,5; DP: 0,8; 00,0 Mediana: 1 Neste estudo o número de abortos praticados variou de 0 a 19, com média 2,1 e mediana de 1. Pudemos observar que 67,3 % das pacientes nunca abortaram, 17,8 % tiveram 1 aborto, 12,9% de 2 a 4 abortos e apenas 2 pacientes (2,0%) tiveram 4 ou mais abortos. (tabela 09). Tabela 9. Distribuição segundo o número de abortos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Número de abortos 0 1 2 |---- 4 4 |---| 19 Total Média: 2,1; DP: 3,1; 8 7,3 8 7,8 3 2,9 ,0 01 00,0 Mediana: 1 Quanto a distribuição em relação a ter tido todos os filhos com o mesmo parceiro ou não, os dados foram muito semelhantes; 50,5 tiveram filhos de parceiros diferentes e 49,5% com o mesmo parceiro (Figura 3). 26 sim 49% não 51% Figura 3. Distribuição das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas que tiveram filhos com o mesmo parceiro,Manaus-AM. Das pacientes avaliadas, 10,9% estavam gestantes no momento da pesquisa. (Figura 4) Sim 11% Não 89% Figura 4. Distribuição das pacientes HIV gestantes atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. 27 4.3 DADOS CLÍNICOS Na tabela 10, observa-se os dados clínicos das mulheres estudadas, mostrando que a maioria das pacientes não fumam (85,1%), não bebem (83,25), não possuem tatuagens (92,1%) e negam o uso de drogas (90,1%). Tabela 10. Distribuição segundo os dados clínicos das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Vari áveis Tab agismo Sim 5 4,9 6 5,1 Sim 7 6,8 Não 4 3,2 Não Etili smo Tat uagem Sim ,9 Não 3 2,1 Sim 0 ,9 Não 1 0,1 Dro gas No grupo estudado, a grande maioria (68,3%) fazia uso de antiretrovirais. Um percentual de 38,6% das mulheres faziam uso de 3 drogas, 23,8% duas drogas e 5,9% uma só medicação. Apenas 31,7% das pacientes não faziam uso de qualquer medicação antiretroviral (Tabela11). Tabela 11. Distribuição segundo o uso de antiretrovirais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Antiretr ovirais Nenhu m 2 1,7 28 Um ,9 Dois 4 3,8 9 8,6 01 00,0 Três Total A média do CD4 das pacientes foi 354,9, a mediana foi de 313, variando de 4 a 886. O maior grupo (53%) encontrava-se na faixa de 200 a 500 cels /mm3. Tanto o grupo de pacientes com CD4 menor que 200 cels/mm3, quanto o grupo com CD4 maior que 500 foram compostos pro 23,5% das pacientes (Tabela 12). Tabela 12. Distribuição segundo o CD4 das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. CD4 < 200 0 3,5 |--- 500 5 3,0 ≥ 500 0 3,5 200 Tota Média: 354,9; l DP: 212,0; 01 00,0 Mediana: 313; Mín.: 4; Máx.: 886 A carga viral variou de < 1200 a 85.500 com mediana de 21.500 cópias. Para o propósito de analise estatística, as amostras da carga viral que foram menores que o limite mínimo foram arbitrariamente descritas como 200 cópias por ml. (Tabela 13) Tabela 13. Distribuição segundo a carga viral das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Carga viral <1 200 2 7,5 8 2,5 0 5,0 0 5,0 1200 |-- 21500 21500 |-- 85500 ≥ 85500 Total 0 00,0 Média: 84940,8; DP: 149939,6; Mediana: 21500; Mín.: 400; Máx.: 820000 29 4.4 RESULTADOS CITOLÓGICOS O exame ginecológico a fresco constatou a presença de hifas compatíveis com Candida em 41,4 % (n=41), Vaginose em 28,3% (n=28), Trichomonas em 15,2 (n=15) e nenhum patogeno em 20,2 % (n=20) dos casos. A citologia a fresco foi realizada em 81 pacientes e 23 pacientes apresentaram mais de um patógeno po lâmina (Figura 5) Nenhum Patógeno 20 Vaginose 28 Trichomonas 15 Hifas 41 Figura 5. Distribuição segundo os resultados das lâminas a fresco das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Na citologia pela coloração de Papanicolaou o achado da flora microbiana mais freqüente foi o de Bacilos Supracitoplasmáticos / Gardnerella (37,6%), seguido pelos Lactobacillus (31,7%), flora inaparente (16,8%), outros bacilos (7,9%), Cândida (4,0%) e Trichomonas (2,0%). (Figura 6) 30 2 Trichomonas 4 Cândida 8 Outros Bacilos 17 Flora Inaparente 32 Lactobacillus Bacilos Supracitoplasmáticos 38 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Número de Pacientes Figura 6. Distribuição das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas segundo o resultado da Flora Microbiana da citologia, Manaus – AM. O achado citológico mais freqüente foi de inflamação (71,8%) e o menos freqüente foi o de lesão de alto grau (2,0%) (tabela 14) Dos 101 exames realizados dois foram considerados insatisfatórios e por isso excluídos. Tabela 14. Distribuição segundo as alterações colpocitologicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus - AM. Citologia Inflamação NIC I HPV 1 1,8 1 1,1 NIC II/III – Lesão de Alto grau ,0 ASC - US Normal Total ,0 2 2,1 9 00,0 4.5 FATORES DE RISCO OU PROTEÇÃO Não foi possível aplicar a analise estatística do teste Qui-quadrado nas tabelas categóricas, devido aos diferentes achados no resultado da citologia, o que contribuiu para as restrições ao uso do teste. (Tabela 15, Tabela 16). 31 Tabela 15. Distribuição segundo as variáveis epidemiológicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Asc-us Inflamação NIC I HPV ( n = 3) ( n = 71 ) ( n = 11) Variáveis n % n % n % Tabagismo Sim 8 11,3 5 45,5 Não 3 100 63 88,7 6 54,5 Etilismo Sim - 10 14,1 4 36,4 Não 3 100 61 85,9 7 63,6 Tatuagem Sim 6 8,5 1 9,1 Não 3 100 65 91,5 10 90,9 Drogas Sim 4 5,6 2 18,2 Não 3 100 67 94,4 9 81,8 NIC II/III Normal ( n = 2) ( n = 12 ) n % n % p-valor * - 2 16,7 2 100 10 83,3 * 1 50,0 2 16,7 1 50,0 10 83,3 * - 1 8,3 2 100 11 91,7 * 1 5,0 3 25,0 1 50,0 9 75,0 * Não é possível aplicar a estatística de teste por existirem mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades. Tabela 16. Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Asc-us Inflamação NIC I HPV ( n = 3 ) ( n = 71 ) ( n = 11) Variáveis n % n % N % Escolaridade Não alfabetizada 3 4,2 2 20,0 Fundamental 1 33,3 37 52,1 8 80,0 Médio 1 33,3 30 42,3 Superior 1 33,3 1 1,4 Estado civil Solteira 1 33,3 18 25,4 4 36,4 Casada - 24 33,8 1 9,1 União estável 1 33,3 19 26,8 3 27,2 Divorciada 5 7,0 2 18,2 Viúva 1 33,3 5 7,0 1 9,1 Religião Católica 3 100 38 53,5 6 54,5 Evangélica - 24 33,8 4 36,4 Nenhuma 9 12,7 1 9,1 Cor Branca 2 66,7 37 52,1 4 36,4 Parda 1 33,3 32 45,1 6 54,5 Negra 2 2,8 1 9,1 Renda familiar (SM) NIC II/III Normal ( n = 2) ( n = 12 ) n % n % p-valor * - - 6 50,0 2 100 5 41,7 - 1 8,3 * - 2 16,7 1 50,0 5 41,6 - 3 25,0 1 50,0 2 16,7 - * 1 50,0 8 66,7 1 50,0 4 33,3 - * 2 100 8 66,7 - 4 33,3 - * 32 <1 1 2a5 >5 Idade Média (DP) 1 33,3 1 33,3 1 33,3 8 32 26 5 11,3 45,1 36,6 7,0 7 4 - - 63,6 36,4 2 - - 100 - 1 4 4 3 8,4 33,3 33,3 25,0 0,9780 33 (8,0) 33 (10,5) 33 (10,3) 38 (4,2) 33 (8,5) * Não é possível aplicar a estatística de teste por existirem mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades. Houve diferença estatisticamente significante da média de CD4 em relação aos diferentes achados no resultado da análise citologica. As pacientes com citologia normal, tinham níveis de linfócitos CD4 mais elevados (584,1) do que as pacientes que qpresentavam alterações citologicas . Já em relação a idade, menarca, sexarca, número de gestações e números de parceiros em relação ao resultado da citologia, não foi encontrada diferença estatísticamente significante (p>0,05) (Tabela17). Tabela 17. Distribuição segundo a menarca, sexarca e número de gestações e parceiros das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Asc-us Inflamação NIC I HPV NIC II/III Normal (n=3) ( n = 71 ) ( n = 11) ( n = 2) ( n = 12 ) Variáveis Méd. DP Méd. DP Méd. DP Méd. DP Méd DP p-valor Menarca 14,3 1,2 13,2 1,8 12,5 1,91 12 1,4 13,1 1,4 0,4250 Sexarca 16,7 1,5 16 2,3 13,5 3,1 16,5 2,1 15,6 3,6 0,0523 Número de 4,3 2,9 4,1 3,9 3,9 2,2 2,5 0,7 5,6 4,4 0,7481 gestações Número de 4,3 1,5 7,6 8,6 18,9 30,3 42,0 53,7 7,3 5,3 0,7227* parceiros CD4 125,0 114,5 343,8 208,2 258,9 157,9 359,5 46,0 584,1 186,6 0,0057 * O teste utilizado foi Kruskal-Wallis devido a não normalidade. Nos demais utilizou-se ANOVA. p-valor em negrito itálico indica diferença estatisticamente significante ao nível de 5% Não foram encontradas diferenças percentuais significantes relacionadas ao fato da paciente ter tido filhos de um único parceiro ou de vários parceiros. No entanto não foi possível aplicar a estatística de teste por existirem mais de 20% dos valores esperados 33 inferiores a 5 unidades fazendo com que algumas variáveis ficassem com zero casos. (Tabela 18 e 19) Tabela 18. Distribuição segundo o resultado do CD4 e Carga Viral das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Variáveis CD4 < 200 200 |--- 500 ≥ 500 Total Carga viral <1 200 1200 |--- 21500 21500 |--- 85500 ≥ 85500 Total Asc-us Inflamação NIC I HPV NIC II/III Normal n % n % n % n % n % p-valor * 1 50,0 1 50,0 2 2,4 14 35 12 61 23,0 5 57,3 4 19,7 1 73,5 10 50,0 40,0 10,0 12,0 2 2 100 2 25,0 6 75,0 2,4 8 9,6 * 1 50,0 1 50,0 2 2,6 16 12 14 15 57 28,1 21,1 24,6 26,2 73,1 1 2 3 3 9 11,1 22,2 33,3 33,3 11,5 - 4 50,0 - 4 50,0 1 50,0 1 50,0 2 2,6 8 10,3 * Não é possível aplicar a estatística de teste por existirem mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades. Tabela 19. Distribuição segundo a variável filhos do mesmo pai das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Asc-us Inflamação NIC I HPV NIC II/III Normal ( n = 69 ) ( n = 11) ( n = 2) ( n = 12 ) n % n n Sim 1 33,3 31 48,4 5 50 2 Não 2 66,7 33 51,6 5 50 64 71,9 10 11,2 2 ( n = 3) Filho do mesmo pai n Total 3 % 3,4 % % n % Total 100 5 50 44 - 5 50 45 2,2 10 11,2 89 - Não é possível aplicar a estatística de teste por existirem mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades. 4.6 RESULTADOS APÓS AGRUPAMENTO DOS DADOS CITOLÓGICOS Agrupou-se os resultados da citologia em normal e alterado e,dessa forma, obtevese 87,9 % das citologias alteradas e apenas 12,1 % das citologias consideradas normais. (Figura 7) 34 Normal, 12 Alterado, 87 Figura 7. Distribuição segundo a conclusão da citologia das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus – AM. 5.7 DADOS EPIDEMIOLOGICOS APÓS GRUPAMENTO Mesmo assim, não foi possível aplicar a estatística de teste por existir mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades na tabela relacionada a as variáveis socioeconômicas. (Tabela 20) Tabela 20. Distribuição segundo as variáveis socioeconômicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM. Variáveis Escolaridade Não alfabetizada Fundamental Médio Superior Estado civil Solteira Casada Resultado da Citologia Alterado Normal n % n % p-valor * 5 46 33 2 5,8 53,5 38,4 2,3 6 5 1 50,0 41,7 8,3 23 26 26,4 29,9 2 5 16,7 41,7 * 35 União estável Divorciada Viúva Religião Católica Evangélica Nenhuma Cor Branca Parda Negra Renda familiar (SM) ≤1 2a5 >5 Idade 23 8 7 26,4 9,3 8,0 3 2 - 11,5 16,7 - 48 29 10 55,2 33,3 11,5 8 4 - 66,7 33,3 - * * 45 39 3 51,7 44,8 3,4 8 4 66,7 33,3 49 32 6 56,3 36,8 6,9 5 4 3 41,6 33,3 12,1 0,1193 0,9232 33 (10,2) Média (DP) 33 (8,5) * Não é possível aplicar a estatística de teste por existir mais de 20% de valores esperados inferiores a cinco unidades. Ao analizarmos as variáveis etilismo, tabagismo, tatuagem e uso de drogas não encontramos diferenças significativas entre o grupo de pacientes com citologia alterada e normal. (Tabela21) Tabela 21. Distribuição segundo as variáveis epidemiológicas das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus - AM. Vari áveis Resultado da Citologia Alt Nor erado mal n % n % Tab agismo Sim Não 0,7846 13 14,9 2 16,7 74 85,1 10 83,3 Etili 0,7198 smo Sim Não Tat uagem pvalor 15 17,2 2 16,7 72 82,8 10 83,3 0,5956 36 Sim Não 7 8,0 1 8,3 80 92,0 11 91,7 Dro 0,1881 gas Sim Não 7 8,0 3 25,0 80 92,0 9 75,0 4.8 FATORES DE RISCO OU PROTEÇÃO APÓS GRUPAMENTO Ao avaliarmos a menarca, sexarca número de gestações, número de parceiros, CD4 e carga viral, foi encontrada diferença estatisticamente significante ao nível de 5% para a média de CD4 e para a carga viral em relação aos diferentes achados da citologia. Já em relação a idade, menarca, sexarca, número de gestações e números de parceiros em relação ao resultado da citologia não foi encontrada diferença estatísticamete significante (Tabela 22). Tabela 22. Distribuição segundo a menarca, sexsarca e número de gestações e parceiros das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da citologia, Manaus – AM. Variáveis Menarca Sexarca Número de gestações Número de gestações Número de parceiros CD4 Carga viral (x100) Resultado da Citologia Alterado Normal p-valor Média DP Méd. Média DP Méd. 13,1 1,2 13,0 13,1 1,4 13,0 0,9004 15,7 2,5 15,0 15,6 3,6 16,0 0,8763 4,0 3,6 3,0 5,6 4,4 4,5 0,7481 9,7 15,5 5,0 7,3 5,3 5,5 0,7096* 327,0 200,9 300,0 584,1 186,6 658,5 0,0009 957,3 157,8 335,0 33,8 59,5 14,5 0,0213* * O teste utilizado foi Mann-Whitney devido a não normalidade. Nos demais utilizou-se ANOVA. p-valor em negrito itálico indica diferença estatisticamente significante ao nível de 5% Nesse estudo não foram observadas diferenças significativas entre o resultado da citologia e o uso de antiretrovirais. (Tabela 23) 37 Tabela 23. Distribuição segundo o uso de antiretrovirais das pacientes HIV atendidas no ambulatório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em relação ao resultado da Citologia, Manaus - AM. Resultado da Citologia Antiretr ovirais Nenhu m >1 Total Alterado Normal Total n % n % 59 57,8 8 66,7 67 28 87 32,2 87,9 4 12 33,3 12,1 32 99 p-valor = 0,8031 38 5. DISCUSSÃO A proposição desse estudo foi descrever os achados citológicos das pacientes HIV positivas atendidas na FMTAM. Neste estudo, a média de idade das pacientes foi de 33,2 anos e a maioria tinha escolaridade de nível fundamental (52%), era casada ou com união estável (58,6%), branca (53,5%) e com renda familiar menor ou igual a um salário mínimo (54,5%). Machado et al em 2003 ao estudar alterações citológicas em mulheres HIV positivo também encontraram uma média de idade de 34 anos. Nunes et al em 2004 avaliando características clinico epidemiológicas de um grupo de mulheres com HIV/AIDS em Salvador, encontraram idade média de 32 anos, com nível de escolaridade entre analfabetismo e primeiro grau (nível fundamental) incompleto. Segundo dados do boletim epidemiológico 2004, a faixa etária com maior número de mulheres infectadas pelo vírus HIV no Brasil é a de 30 a 34 anos, com incidência de 34,3 por 100.000 habitantes. O nível de escolaridade da maioria das pacientes também foi nível fundamental e a raça mais acometida também foi a raça branca com 56,7 %. No presente trabalho, a transmissão via sexual do vírus ocorreu em 86,1% das mulheres. Destas, 58,4% adquiriram o vírus do marido. Somente 1,98 % da contaminação ocorreu em usuárias de drogas injetáveis, 4,95% por transfusões sanguíneas e 7,9 % não souberam informar como se contaminaram. Melo, V.H. et al 2003, encontraram resultados semalhantes em seu estudo sobre os problemas ginecológicos mais freqüentes em mulheres soropositivas para o HIV, feito com 300 mulheres em Minas Gerais, das quais 90,6% das mulheres adquiriram o vírus via sexual, 3% em usuárias de drogas e 6,4% não souberam identificar a origem da infecção. Heard et al na França em 2000, encontraram proporções um pouco diferentes em seu estudo com 307 mulheres HIV positivas: 60% de contaminação por contato heterossexual, 29% pelo uso de drogas endovenosas, 5% por transfusão sanguínea e 6% por causa ignorada. Segundo dados do boletim epidemiológico 2004, a transmissão sexual ocorreu em 94,9% das mulheres, seguida da transmissão por drogas injetáveis (4,3%) e transfusão (0,5%). Em 1993 segundo os dados do Boletim Epidemiológico HIV/DST, 2004 do Ministério da Saúde, a transmissão heterossexual era responsável por 75% das contaminações, o uso de drogas 22,2 % e transfusão 2,6%. Os dados descritos pelo Ministério da Saúde demonstram claramente o crescimento da infecção pela via heterossexual e dessa forma, o crescimento de mulheres contaminadas ao longo dos anos. 39 A idade média da menarca foi de 13,1 anos e da sexarca 15,7 anos (45%). O número médio de parceiros variou de 1 a mais de 100 com a mediana de 5 parceiros por paciente. Nunes et al relata que 68,9% das mulheres tiveram um número de parceiros menor ou igual a 5. Rincon et al em 2003 avaliando lesões intraepiteliais em pacientes HIV positivas, observaram a idade média do primeiro coito aos 19 anos. Ao relacionar a idade de inicio da atividade sexual e a presença de alterações citológicas, não podemos fazer correlação estatística. No entanto, vale ressaltar a média bastante baixa da sexarca, desse estudo quando comparado com outros trabalhos, levando a uma tendência ao aumento do número de parceiros, aumentando o risco para adquirir DSTs/ HIV, HPV e neoplasia cervical . Leal e cols e Brito e cols em 2000, sugerem em seus estudos que o risco de neoplasia está aumentado em pacientes que tem a primeira relação sexual mais precocemente e um número de parceiros aumentado. Das pacientes estudadas, 94,1 % já estiveram grávidas ou estavam grávidas e dessas, 49,5% tinham filhos apenas de um parceiro, enquanto que 50,5 % tiveram filhos com parceiros diferentes . O aborto ocorreu em 33,2 % das mulheres. A média de gestações foi de 4,2 por paciente e a de aborto foi de 2,1. Nunes et al 2004 em seu estudo, observaram que 87% das mulheres já tinham engravidado e 54% referiam aborto. Rincon et al em 2003 obtiveram uma taxa de 3,4 partos por paciente. Durante a realização do estudo,10,8% estavam gestantes no momento da pesquisa. Bassicheto et al em 2004, estudando o perfil epidemiológico dos usuários de um Centro de Testagem e Aconselhamento para DST / HIV da rede Municipal de São Paulo, com sorologia positiva para HIV, encontrou proporção de 7% de gestantes infectadas. Nunes et al teve uma taxa de gestantes de 18,6%. No exame a fresco em 20,2% das pacientes não foi evidenciado nenhum patógeno, em 41,4% foi observado Hifas, 28,3% Vaginose e 15,2 % Trichomonas. Melo et al em 2003, observaram como alterações inflamatórias mais freqüentes em mulheres HIV positivo infecções como Vaginose Bacteriana, Tricomoníase, Candidíase vulvovaginal persistente. No entanto, nesse estudo não foi avaliado o percentual de cada infecção isoladamente. Barros et al em 2003, estudando os aspectos biológicos, socioeconômicos e culturais de mulheres com corrimento vaginal observou 25,8% de Vaginose Bacteriana, 16,6% de Cândida, 7,9 % de Tricomoníase e 2 % de normalidade. Esses resultados foram bastante semelhantes aos do nosso estudo. As alterações inflamatórias mais freqüentes encontradas pela técnica de Papanicolaou entre as mulheres do presente estudo foram decorrentes principalmente de infecções por bacilos supracitoplasmáticos (Mobiluncos e Gardnerella Vaginalis) em 37,6 % das pacientes, Lactobacillus em 31,7%, flora inaparente 16,8%, Outros bacilos 7,9%, Cândida 4% e Trichomonas 2,0%. Calore et al no seu estudo de avaliação da presença de 40 papilomavirus na colpocitologia de pacientes infectadas pelo vírus HIV observou 12,9% de Cândida, 14,3% de Gardnerella e Mobiluncus e 8,4% de Trichomonas Vaginalis, Jamieson et al 2001 em seu estudo sobre a análise longitudinal sobre vaginose bacteriana, assim como no presente estudo, observou uma maior incidência de vaginose bacteriana nas pacientes HIV positivo, concluindo que essa maior prevalência ocorre principalmente por infecção persistente de que por reinfecção. Schmid et al 2000, também relatam um aumento de vaginose bacteriana em mulheres soropositivas. Jamieson et al 2001, referem que o crescimento da flora anaeróbica associada a um aumento do pH vaginal inibiria o crescimento fúngico o que poderia justificar a baixa incidência de cândida no presente estudo. Essa associação entre o HIV e a vaginose tem importantes implicações a saúde da mulher HIV positiva. A vaginose bacteriana tem sido associada a várias alterações ginecológicas e obstétricas. Com o aumento do número de mulheres se contaminando pelo vírus HIV, a incidência de vaginose tende a aumentar e também os problemas relacionados a vaginose acima referidos. Dessa forma, torna-se de suma importância a investigação e o tratamento adequado da vaginose bacteriana para que as seqüelas decorrentes dessa infecção sejam minimizadas. Ao correlacionarmos os achados da citologia a fresco com a citologia corada pela técnica de Papanicolaou, encontramos valores discordantes relacionados a toda a flora vaginal. Filho A 2003, comparando a citologia a fresco com a citologia corada pela técnica de Papanicolaou em gestantes também mostrou discordância entre os dois métodos . Stingen et al 2004 encontrou sensibilidade baixa e especificidade alta do método de Papanicolaou para triagem de infecção por Cândida sp, Trichomonas vaginalis e Chlamydia trachomatis. Nos achados da citologia apenas 12% das pacientes apresentavam exames sem alterações. Do restante, 71,8% apresentaram alterações inflamatórias, 11,1% apresentaram achados compatíveis com NIC I/HPV (lesão de baixo grau), 3% Ascus e 2 pacientes tiveram lesão de alto grau (NIC II, Carcinoma microinvasor). Melo VH e cols 2003 encontraram 9,0% de exames normais, 69% de inflamação, 14% de NIC, semelhantemente a esse estudo. Burk RD, avaliando a incidência de lesões intraepiteliais associada a contagem de CD4 não encontrou diferenças significativas entre as citologias de mulheres HIV positivas com CD 4 maior que 500 cels/mm3 e nas que tiveram citologias negativas. Nesse estudo o autor sugere que o rastreamento de câncer cervical pode ser aplicado no grupo de pacientes HIV positivas com CD4 maior que 500 cels/mm3 e HIV negativas da mesma maneira desde que existam duas citologias prévias negativas. 41 Na maioria da literatura pesquisada foi encontrada incidência maior de Neoplasia intraepiteliais cervicais e um risco aumentado para lesões precursoras do câncer de colo uterino nas pacientes HIV positivo. Fialho et al 2002, estudando alterações citológicas em mulheres HIV positivas encontraram ,0% de exames normais,. 50,5 % de exames inflamatórios, 29,7 % de lesões de baixo grau, 8,3 % de lesões de alto grau e 3,9 % de lesões escamosas. Carlucci M et al 2001, encontraram resultados bastante diferentes com 66% das citologias normais, 8,6% inflamatório, 1,8% de ASC-US, 13,5 % de HPV, 8,0% de lesões de baixo grau ( 21,5 % de lesão de baixo grau), 6,2% lesão de alto grau e 1,8% carcinoma referindo um aumento da taxa de citologias alteradas no grupo HIV positivo. Auge et al 2000, tiveram resultados semelhantes aos nossos (15,2% de neoplasias intraepiteliais cervicais sendo 10,1 % lesão de baixo grau, e 5,1 de lesões de alto grau) e também achou na análise comparativa entre pacientes HIV positivas e negativas aumento significante da freqüência de neoplasias intraepiteliais cervicais nas pacientes infectadas pelo vírus HIV. Neto et al 2001, em seu trabalho sobre a avaliação dos métodos empregados no Programa Nacional de Combate ao Câncer do Colo Uterino (PNCC) do Ministério da Saúde, realizado em São Paulo, obtiveram 3,3% de lesões de baixo grau (ASCUS, AGUS e lesões intraepiteliasis). Nas lesões de alto grau foi encontrado um percentual de 0,7 e de câncer invasor 0,1 %. Segundo dados do Programa Viva Mulher, Programa Nacional de Combate ao Câncer do Colo Uterino do Ministério da Saúde, no Brasil, de Janeiro a Dezembro de 2001, foram examinadas 5.159.333 mulheres e foram encontradas 95,9 % de exames negativos e 2,7% de exames positivos. Em 59.366 (1,1 %) pacientes foram diagnosticadas ASC-US, 75830 casos de NIC I / HPV (1,46%) e 31105 casos de lesões de alto grau, correspondendo a 0,6 % das mulheres avaliadas. Nesse período no Amazonas foram avaliadas 74.297 mulheres, com 92,1 % de exames negativos e 2,5 % de exames positivos. Dessas, 436 tinham ASC-US (0,6%), 1173 (1,5%) tinham lesão de baixo grau (NICI /HPV), 474 tinham lesão de alto grau (0,63%). Comparados aos dados do presente estudo, esses dados mostram que as pacientes HIV positivo tiveram um risco bastante aumentado, 5 vezes para ASC-US, 7,3 vezes para lesões de baixo grau e 4,7 vezes para lesões de alto grau. Ellerbrock et al 2000, no estudo da incidência de lesões intraepiteliais cervicais em mulheres infectadas pelo HIV em Nova York encontraram uma incidência de NIC de 8,3% e uma probabilidade 4 a 5 vezes maior de ter neoplasia intraepitelial cervical nesse grupo. Auge et al em São Paulo obtiveram uma incidência 4 vezes maior no grupo HIV positivo que no grupo HIV negativo. Wrigh et al referem um risco 5 vezes maior para NIC nas pacientes 42 soropositivas. Palefsky em seu estudo também refere um risco aumentado para lesões intraepiteliais cervicais sem no entanto quantificar esse risco. . Não encontramos correlação estatística significante relacionada as alterações citológicas e variáveis socieconomicas. Rincon et al 2003, Thomas C. et al 1994 e Wrigth et al 2003 também não conseguiram estabelecer relação com variáveis socioeconômicas avaliando pacientes HIV positivas e negativas com e sem lesão cervical. Oliveira et al 2003 também não encontraram relação entre sexarca, número de parceiros, estado civil, escolaridade, menarca tabagismo, etilismo outras DST. No entanto, houve diferença estatísticamente significante entre a raça, a paridade e número de abortos. Ellerbrock et al 2000 apenas encontraram relevância nas variáveis drogas injetáveis, história pregressa de verrugas genitais e herpes genital. Nas demais variáveis socioeconômicas o valor de P foi maior que 0,05. Quando avaliamos a contagem de CD4 obtivemos uma mediana de 313 cels/mm3. Foi encontrada diferença estatisticamente significante da média de CD4 em relação aos diferentes achados no resultado da citologia principalmente relacionado a citologia normal onde a médiana do CD4 foi 658 cels/mm3 , bastante superior a mediana dos outros grupos. Machado et al 2003, estudando alterações citológicas em mulheres HIV positivas não encontraram diferenças entre a contagem média de linfócitos T CD4 e a citologia. O estudo de Levi et al 1997, avaliando a prevalência de neoplasias intraepiteliais cervicais e HPV,encontrou a mediana dos níveis de CD4 de 285 cels/mm3. Nesse estudo de Levi, as pacientes com citologia normal também tinham CD4 mais elevados que as dos grupos com alterações. Souza et al 2001,estudando o diagnóstico de HPV em lesões do colo do útero em mulheres HIV positivas, refere que 78,8 % das pacientes infectadas pelo HPV tinham valores de linfócito T CD4 menor que 499/mm3. Esses dados sugerem que quanto melhor a imunidade das pacientes menor as alterações citológicas, e dessa forma, menor a probabilidade de lesão cervical e menor o risco de neoplasia cervical. A mediana da carga viral foi de 21500 cópias/ml, variando de menor que o limite detectável (< 400 cópias/ml) a 820 000 cópias/ml . Esse dado só teve significancia estatística quando agrupamos as citologias em normais e alteradas. Pacientes com citologias alteradas tinham a mediana da carga viral de 335 000 cópias/ml e as com citologia normal tinham 1450 cópias/ml . Machado et al obteve no seu grupo de estudos uma média de 131.328 cópias/ml e também observaram que a carga viral foi menos preditiva que a contagem de CD4 para alterações citológicas. Neste estudo o uso de terapia antiretroviral não mostrou exercer influencia sobre os achados das mulheres HIV positivas. Nesse aspecto não há ainda consenso na literatura mundial. 43 Heard et al 2000 em seu estudo sobre a terapia antiretroviral na regressão das neoplasias intraepiteliais em mulheres HIV positivo encontrou regressão das NIC em 39,9% das mulheres. Relatam um impacto positivo da HAART (high activ antiretroviral therapy) na regressão das NIC. Minkoff et al 2001 no estudo da terapia antiretroviral nas alterações citológicas associadas com o HPV oncogênico nas mulheres HIV positivo referem que a HAART altera o curso das lesões HPV induzidas reduzindo a progressão e aumentando a regressão das lesões. Melo 2004, refere que o uso de terapia antiretroviral parece ser promissora na cura das NIC, pelo incremento da imunidade celular. No entanto, Palefsky 2003, refere que HAART nas NIC é controverso. Kahnna refere que estudos conflitantes com grupos pequenos de pacientes mostraram um pequeno efeito ou nenhum efeito da HAART nos casos de NIC e que os efeitos diretos da HAART sobre o CD4, cópia de RNA HIV e quantidade de HPV ainda é desconhecida. Stier 2000 em seu estudo sobre neoplasia cervical e a paciente HIV positiva refere que ainda não é claro o impacto da HAART nas neoplasias cervicais, refere que o resultado dos estudos parecem promissores mas ainda estão longe de serem conclusivos. 44 6. CONCLUSÕES 6.1. Na população de pacientes HIV positivos estudada encontramos na citologia oncótica alta prevalência de alterações inflamatórias (71,8%). 6.2. As alterações de baixo grau foram encontradas em 11,1% das pacientes, as alterações de significado indeterminado em 3,0 % e as alterações de alto grau em 2,0% das mulheres HIV positivas atendidas na FMTAM. 6.3. A vaginose Bacteriana foi à infecção mais encontrada nas mulheres HIV positivo, mostrando-se importante fator na gênese das infecções do trato genital inferior. 6.4. Pacientes com níveis de linfócito T CD4 mais alto (acima de 500 cels/mm3) e carga viral mais baixa, têm risco menor de ter alterações citológicas do que as pacientes com níveis de linfócitos T CD4 mais baixos e carga viral mais alta. 6.5. Não foram encontrados fatores sociodemograficos prevalentes que sejam estatisticamente significantes na população avaliada. 6.6. A via sexual foi o principal meio de transmissão do vírus HIV, tendo sido responsável pela contaminação de 86.1% das mulheres. 6.7 Estes resultados demonstram a necessidade de rastreamento freqüente das pacientes HIV positivo, tendo em vista que o risco de lesões foi 5,6 vezes maior que a população geral. 45 7. BIBLIOGRAFIA 7.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARANGO, H.G.– Bioestatística Teórica e Computacional, editora Guanabara Koogan, 2001. 2. 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Acesso em 8 de Maio de 2005 51 ANEXO I PROTOCOLO Projeto de pesquisa mulheres HIV positivo e AIDS atendidas na FMTM. Data: / / Prontuário: Nome: Nacionalidade: Naturalidade: Profissão: Tempo de exercício: Endereço: Cidade: UF: Telefone: CEP: Data de Nascimento: / / Idade: Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Indígena ( ) Asiática Escolaridade: ( ) Nenhuma ( )1º grau ( ) 2º grau ( ) Superior Estado civil: ( ) Casada ( ) Divorciada ( ) Solteira ( ) União estável Religião: ( ) católica ( ) evangélica ( ) espírita ( ) Renda familiar: ( ) < salário mínimo ( ) salário mínimo ( ) de 2 a 5 salários mínimos ( ) + de 5 salários mínimos ( )Outra ANTECEDENTES PESSOAIS Hipertensão: ( )S ( )N Qual ? DM: ( )S ( )N Tipo: Câncer: ( )S ( )N Tipo: Cirurgias Anteriores: Transfusão sangüínea: ( )S ( )N ( )S Tipo: Quando? Outros: MEDICAÇÕES ATUAIS Antiretrovirais: ( )S ( )N Quais: ANTECEDENTES MENSTRUAIS Menarca: DUM: / / HISTÓRIA SEXUAL Idade da 1ª relação sexual: Nº de parceiros: Durante o ano todo: Últimos 6 meses: Frequência de relações: Sexo oral: Sexo Anal: ( )S ( ) Nenhuma ( ) 1 relação/sem ( )2 relações/sem ( ) 3-5 relações/sem ( ) +5 relações/sem ( ) eventual ( )N ( )S ( ) c/ preservativos ( )N Outras práticas sexuais ( ) Tipo: Parceiro usuário de drogas: ( )S ( )N Qual ? ( ) s/ preservativos 52 Parceiro possui tatuagens: Piercings: ( )S ( )S ( )N ( )N Presidiário: ( )S ( )N COMO ADQUIRIU O VÍRUS? Sexo c/ marido: ( )S ( )N Relações c/ múltiplos parceiros: ( )S ( )N Uso de drogas: ( )S ( )N Transfusão sangüínea: ( )S ( )N Acidente profissional: ( )S ( )N Outros: HÁBITOS Tabagismo: Drogas: ( )S ( )S Injetável: ( )N ( )N ( )S Etilismo: Qual ? ( )N Cocaína ( ) Via nasal : ( )S ( )N Maconha ( ) Crack ( ) ( )S ( )N Heroína ( ) Cigarro: ( ) S Outras ( ) ( )N Tatuagens: ( )S ( )N Quando ? c/ material descartável ( ) S ( ) N Piercings: ( )S ( )N Quando ? c/ material descartável ( ) S ( ) N ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS Gestações: Partos: Abortos: Ab Esp Prov PN PC Nasc vivos Filhos vivos atuais: Ectópicas: C/ Curetagem c/ HIV ( ) S ( ) N Natimorto Óbitos na 1ª sem: Causa do óbito: c/HIV( )S ( ) N Óbitos após 1ª sem: C/ HIV ( ) S ( ) N Data da última gestação / (Mês /Ano) Filhos com o mesmo parceiro: com parceiros diferentes GESTAÇÃO ATUAL (em caso de gestantes) DUM / Uso do AZT: / DPP ( )S ( )N Início: / ( ) 1º Trimestre / ( ) 2º Trimestre ( ) 3º Trimestre EXAME FÍSICO DIRIGIDO VULVA: Exame especular VAGINA: COLO: SECREÇÃO VAGINAL: ( ) Branca ( ) Grumosa ( ) Esverdeada ( ) Com odor Lamina a fresco: Exames Carga viral CD4 CD8 Colpocitologia Oncótica: Data / / Resultado: Colposcopia: Data / / Resultado: Histopatológico: ( ) Amarelada 53 ANEXO II Investigador: Instituição: Telefone: Título: Estudo da prevalência de alterações colpocitológicas em pacientes portadoras do vírus HIV atendidas na Fundação de Medicina tropical do Amazonas Nº do Protocolo: Descrição e objetivo do estudo Este é um estudo epidemiológico, que está sendo realizado na FMTM/TMT-AM e no Hospital Dona Francisca Mendes, com o propósito de investigar a taxa de prevalência de alterações citológicas e dos fatores associados em pacientes portadoras do vírus HIV. A importância desse estudo está em detectar alterações o mais precocemente possível antes dessas lesões se transformarem em uma doença maligana (câncer de colo uterino ou anus). Para realização desse estudo é necessário responder a um questionário, realizar exame colpocitológico (preventivo/ Papanicolau).. Para a realização da colpocitologia (preventivo/ Papanicolau), é necessário que se introduza um espéculo (bico de pato) via vaginal e depois, com uma espátula e uma escovinha, será colhido o material do clo do útero para o exame. A colocação do espéculo pode causar algum desconforto e a colheita do material pode em algumas situações ocasionar um pequeno sangramento. Todos os procedimentos serão realizados em apenas uma ocasião. Riscos associados ao estudo Desconforto pela introdução do especulo. Sangramento pela colheita de citologia. Benefícios Participando deste estudo, não obterei (minha filha) qualquer beneficio adicional, além de estar fazendo profilaxia (prevenção) do câncer de colo uterino, mas estarei contribuindo para o conhecimento das lesões que causam câncer, da identificação dos prováveis fatores de risco e de quantas pessoas são afetadas por estes tipos de doença. Confidencialidade e avaliação dos registros Minha participação (da minha filha) neste estudo será confidencial e os registros ou resultados dos testes relacionados ao estudo serão mostrados apenas a representantes da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, bem como a autoridades normativas nacionais ou internacionais, com o objetivo de garantir informações de pesquisas clínicas ou para fins normativos. Minha identidade (da minha filha) permanecerá sempre em confidencialidade. O patrocinador me assegura que isto acontecerá, e de acordo com as normas/leis legais regulatórias de proteção nacionais e internacionais. Caso exista algum dano físico decorrente da participação no referido estudo , eu e a FMTAM nos propomos a ressarcir o dano ocasionado. 54 Direito à retirada do estudo Eu tenho o direito de fazer qualquer pergunta referente aos riscos potenciais ou conhecidos para mim/minha filha durante minha /dela) participação neste estudo. Eu serei notificado com referência a qualquer nova informação relacionada com o estudo, eu serei capaz de contatar a Dra Marianna Brock,, cujo número de telefone é 91361818.. Eu tenho o direito de retirar minha participação/ da minha filha neste estudo a qualquer momento. Participação voluntária A minha participação/ da minha filha neste estudo é voluntária. Se eu (ela) recusar a participação neste estudo, não haverá qualquer tipo de retaliação ou perda de benefícios a que eu/ minha filha tenha direito. Eu tenho direito de manter uma cópia assinada deste documento. Consentimento Pós-Informação E, por estar devidamente informado e esclarecido sobre o conteúdo deste termo, livremente, expresso meu consentimento para minha inclusão, como sujeito, nesta pesquisa. __________________________________ Paciente ou Representante Legal ________________ Data __________________________________ Pesquisador Responsável ________________ Data Impressão dactiloscópica (p/ analfabeto) 55 ANEXO III Nome: Idade: Data: DUM: G: P: A: LAUDO DE COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA I. Tipo da amostra: ( ) Citologia convencional ( ) Citologia em meio líquido II. Avaliação pré-analítica: Amostra rejeitada por: ( )Ausência ou erro de identificação da lâmina e/ou do frasco ( )Identificação da lâmina e/ou do frasco não coincidente com a do formulário ( )Lâmina danificada ou ausente ( )Causas alheias ao laboratório (especificar) ( )Outras causas (especificar) III. Adequabilidade da amostra: ( )Satisfatória ( )Insatisfatória para avaliação oncótica devido a: ( ) Material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) ( )Leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de: ( ) sangue ( ) piócitos ( ) artefatos de dessecamento ( ) contaminantes externos ( )- intensa superposição celular ( ) outros (especificar): ________________________________________ Epitélios representados na Amostra: ( ) Escamoso ( ) Glandular ( ) Metaplásico IV. Diagnóstico descritivo: ( )Dentro dos limites da normalidade, no material examinado ( )Alterações celulares benignas ( )Atipias celulares Alterações celulares benignas: ( ( ( ( ( ( )Inflamação )Reparação )Metaplasia escamosa imatura )Atrofia com inflamação )Radiação )Outras: (especificar) 56 Atipias celulares: ( )Células atípicas de significado indeterminado ( ) Escamosas ( ) Possivelmente não neoplásicas ( ) Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau ( ) Glandulares ( ) Possivelmente não neoplásicas ( ) Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau ( ) De origem indefinida ( ) Possivelmente não neoplásicas ( ) Não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau ( )Em células escamosas ( ) Lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e Neoplasia intra-epitelial cervical grau I) ( ) Lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo Neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III) ( ) Lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro-invasão ( ) Carcinoma epidermóide invasor ( )Em células glandulares ( ) Adenocarcinoma “in situ” ( ) Adenocarcinoma invasor: ( )Cervical ( )Endometrial ( )Sem outras especificações ( )Outras neoplasias malignas ( )Presença de células endometriais (na pós-menopausa ou acima de 40 anos, fora do período menstrual) V- Microbiologia: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( )Lactobacillus sp )Bacilos supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus) )Outros bacilos )Cocos )Candida sp )Trichomonas vaginalis )Sugestivo de Chlamydia sp )Actinomyces sp )Efeito citopático compatível com vírus do grupo Herpes )Outros: (especificar) CONCLUSÃO:___________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ____________________________________ Médico examinador