8º Simposio de Ensino de Graduação ESTUDO RETROSPECTIVO NA ATENÇÃO UROGINECOLÓGICA DO TREINO DEFECATÓRIO DE CRIANÇA COM MIELOMENINGOCELE Autor(es) SILYARA FORTI LEITE Orientador(es) CARLOS ALBERTO FORNASARI 1. Introdução A fisioterapia em Ginecologia e Obstetrícia é uma das mais recentes áreas de atuação do fisioterapeuta, que tem como objetivo tratar e prevenir as disfunções, garantindo assim saúde e uma melhora da qualidade de vida. No entanto a fisioterapia aplicada á ginecologia, é útil no processo de recuperar e manter um bom funcionamento do períneo, prevenir o aparecimento de possíveis alterações ginecológicas, aliviarem dores, e proporcionar um controle muscular eficiente nos indivíduos com disfunções. Através de uma avaliação minuciosa, o fisioterapeuta identifica o problema e traça um programa de tratamento, baseado nos recursos como alongamento, conscientização postural, fortalecimentos musculares do assoalho pélvico e abdominal, eletroterapia, biofeedbak, massoterapia e cinesioterapia, para o bem estar global do individuo. O estudo se baseia através da analise de um prontuário de uma paciente, com diagnostico de Mielomeningocele que é uma malformação congênita do SNC. Esta patologia é definida como um fechamento incompleto da parte inferior do tubo neural levando a falha de fusão dos arcos vertebrais posteriores, ocorrendo à protrusão de meninges e medula, que podem ocorrer em qualquer nível da coluna, sendo a maioria dos casos lombossacrais (TARJATO et al., 2006). As causas são diversas, sendo atribuída à interação entre vários fatores genéticos e ambientais, deficiências nutricionais, como por exemplo, o déficit do acido fólico (AGUIAR et al., 2003). Já os sintomas da mielomeningocele dependem da sua localização e o grau de extrusão da medula espinhal (LONG e CINTAS 2001), apresentando alterações neurológicas, ortopédicas e ou urológicas (SHEPHERD, 1995). Para que o mecanismo de defecação esteja normal, é necessário que a contração muscular do períneo, e a sensibilidade anoretal estejam íntegras (OLIVEIRA, 2006). Apesar das variedades de procedimentos terapêuticos, a melhor técnica encontrada para uma criança, relatada no prontuário da mesma, obtendo resultados significativos, foi à técnica Stretching, extra-cavitaria, com o objetivo de melhorar a sensibilidade e percepção retal e fortalecer. Havendo então resultados satisfatórios, pois quando o músculo é alongado muito rapidamente, as fibras aferestes primárias estimulam os motoneurônios alfa na medula espinhal, facilitando a contração das fibras extrafusais, aumentando assim a tensão no músculo alongado (KISNER e COLBY 1998). 2. Objetivos O objetivo do trabalho é fazer um estudo retrospectivo de uma paciente com diagnóstico clínico de mielomeningocele lombar baixa, com ausência do mecanismo de defecação, para que esta possa conseguir melhora da sensibilidade ano-retal, percepção retal e contração anal, para que esta tenha uma continência fecal adequada, tendo assim uma vida social normal. 3. Desenvolvimento Trata-se de um estudo retrospectivo, com descrição dos procedimentos adotados no período 05/10/2009 a 18/12/2009, registrados no prontuário. Foi analisado o prontuário de uma paciente, do sexo feminino, 10 anos, com diagnóstico clínico de mielomeningocele lombar baixa e diagnostico funcional de ausência do mecanismo de defecação, a qual realiza tratamento na clínica de fisioterapia da UNIMEP, no setor de uroginecologia, desde 23/01/2007. Primeiramente o terapeuta, lava bem as mãos, antes de iniciar a sessão, realiza então inspeção visual e palpação extra-anal, em seguida veste as luvas para procedimento não cirúrgico (modelo: Supermax Premium Quality, látex de borracha natural-superfície lisa-ambidestra-não estéril). Então a paciente é posicionada na maca em decúbito lateral esquerdo, com região perineal despida. O terapeuta com a mão esquerda afasta o glúteo direito, para que o ânus fique bem visível. É realizado então, Stretching passivo ao redor de todo o ânus, o qual trata-se de deprimir os músculos elevadores do ânus, para baixo e para trás, sendo que o dedo do terapeuta leva progressivamente esta musculatura para o estiramento máximo, mantêm a posição e depois solta levemente, e em seguida o Stretching ativo, com solicitação do comando verbal (GROSSE e SENGLER, 2001). Stretching passivo: 1 série de 3 repetições para cada região. Em seguida Streching ativo: sendo realizado imediatamente após o estimulo passivo, através do comando verbal: “Segura o coco barriga para cima, estimulo de contração, solta o coco barriga para baixo, estimulo de relaxamento”. A terapia foi realizada duas vezes por semana, com duração de 30 minutos cada, tendo também orientação domiciliar. Para analisar se houve uma evolução ou se manteve estável a condição muscular anal da paciente, deve-se realizar o teste de força muscular,realizando ao final de todas as sessões. Foi utilizada a Escala Medical Research Council (MRC) por ser a mais conceituada, segundo Silva et al. (2006), a qual propicia o comparativo a olho nu da musculatura; sendo utilizado em doenças neuromusculares e em outras doenças do sistema nervoso. Pontuação (de 0 a 5), conforme a descrição abaixo: 0 - paralisia total; 1 - contração visível ou palpável; 2 - movimento ativo, arco de movimento completo com a gravidade eliminada; 3 - movimento ativo, arco de movimento completo contra a gravidade; 4 - movimento ativo, arco de movimento completo contra uma moderada resistência; 5 - movimento ativo, arco de movimento completo contra resistência. 4. Resultado e Discussão O resultado obtido nesta intervenção avaliada, após vinte sessões atendimento fisioterapêutico, sendo duas vezes por semana, houve melhora na contração da musculatura perineal-anal, através do Método Stretching. Para avaliar os resultados foi utilizada a Escala Medical Research Council, por tanto encontrou-se o resultado, o qual inicialmente a força muscular era 0 (paralisia total) e após o tratamento se obteve o grau 1 (contração visível ou palpável). A reabilitação da paciente é de extrema importância, e segundo Patterson (1996), a Mielomeningocele acarreta riscos no desenvolvimento da criança. A abordagem fisioterapêutica, consiste em treinos para aumentar a capacidade contrátil e o controle voluntário do esfíncter anal externo e do elevador do ânus (FERNANDEZ, 2002). No caso da paciente com diagnóstico de Mielomeningocele lombar baixa, as manifestações mais decorrentes é a perda motora sensorial nos membros inferiores. Ainda Fernandez (2002) afirma que a Mielomeningocele apresenta transtornos de defecação mais grave, consistindo na incontinência fecal, devido ao déficit na inervação retal. No entanto os sintomas da mesma variam de incontinência limitada do intestino e bexiga, sendo que a incontinência urinária foi interrompida pela cirurgia de Cistostomia, a qual mãe solicitou, pois a paciente apresentava muitas infecções de urina. Portanto o enfoque foi à reabilitação da musculatura anal, sendo que seu déficit é a alteração do mecanismo de defecação. Os critérios diagnósticos da lesão de acordo com os componentes vesicouretral, no caso do tipo de neuroma motor inferior que a paciente apresenta, ocorrem lesões nos componentes periféricos, medulares e das vias de conexão medular-periférico, no qual ocorre controle voluntario anal, tono anal, bulbocavernoso, sensibilidade perineal (TARJATO, 2006). A musculatura perineal-anal tem como função o armazenamento e evacuações, que são controladas e coordenadas pelo sistema nervoso central, que é estruturalmente anormal em quase todas as crianças com Mielomeningocele (GOOL, 2001). Dependendo do nível e extensão da lesão pode causar arreflexia, apresentada pela paciente (GOOL, 2001). Para Moreira (1985), a continência é dada pelo esfíncter externo e músculos elevadores e pubo-retal. Já esta paciente, apresenta uma função do esfíncter interno, pois houve regeneração dos gânglios pericordiais e o esfíncter externo está destruído sendo irreversível, ocorrendo também perda do reflexo anal. O mecanismo da continência anal depende da integridade da ação da musculatura esfincteriana anal, dos músculos do assoalho pélvico, sensibilidade, complacência retal, reflexo inibitório retro-anal, consistência das fezes e do tempo de trânsito intestinal. Antes de qualquer técnica e procedimento é muito importante a avaliação da paciente. Portanto a avaliação contém anamnese, inspeção visual, palpação extra-cavitária e testes específicos, sendo que no caso foi utilizado o teste de força muscular da Escala Medical Research Council MRC.Embora existam instrumentos mecânicos como dinamômetros que avaliam a musculatura intra-cavitária, os mesmos são de custos elevados e de difícil acesso. Existem várias técnicas fisioterapêuticas, capazes de traçar um mesmo objetivo, mas foi utilizada a técnica Stretching, adaptada através do Método do Balonet, e sendo descrita por Grosse e Sengler, (1998). Inicialmente o tratamento seria realizado com o Método do Balonet, que tem como objetivo melhorar a sensibilidade e percepção retal e fortalecer e ou incrementar as pressões exercidas sobre a margem anal, o qual consiste em fazer que a paciente expulse o balão inflado no reto utilizando o diafragma e a prensa abdominal (FERNADEZ, 2002). No entanto considerando que é uma criança, e o método é invasivo, a mesma não permitiu este procedimento, não havendo resposta por parte da paciente foi optado então por realizar o Stretching anal, extra-cavitário, visando os mesmos objetivos, porém adaptado e utilizando também a cinesioterapia com solicitação dos comandos verbais. Várias técnicas abordam o Stretching, uma delas é o RPG que tem um grande destaque por se tratar de um trabalho global adaptado a qualquer idade. O método Iso-Stretching se traduz como corretivo, educativo, preventivo, flexibilizante, tonificante e não traumatizante, o que relata Martins (2004). Além da técnica do RPG, outra técnica é o KABAT, que aborda a facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF), sendo o procedimento combinado inibição/alongamento, a qual o alongamento muscular foi desenvolvido originalmente como um componente da PNF Kisner e Colby (1998). Então, apesar da reabilitação da paciente, a orientação é muito importante, pois a criança com Mielomeningocele aprende a ir ao banheiro mais tarde que as crianças normais, Paley et al. (2000), ensina que uma boa maneira de colocar a criança no banheiro é deixá-la por quinze a vinte minutos, garantindo seus pés bem apoiados no chão e pedindo para fazer força, com isso a tendência é que a criança adquira o hábito sozinha. 5. Considerações Finais Este estudo permite concluir que um programa de intervenção fisioterapêutica bem adaptado, voltado à estimulação da propriocepção da musculatura anal, pode permitir o restabelecimento da contração da mesma. Referências Bibliográficas AGUIAR, M.J.B.; CAMPOS, A.S.; AGUIAR, R.A.L.P. Defeitos de fechamento do tubo neural e fatores associados em recém-nascidos vivos e natimortos. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 79, n. 2, p.129-134, 2003. BARACHO E. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia, Uroginecologia e Aspectos de: Mastologia. 4ed ver amp. RJ: Guanabara kooogan, 2007. BEZARRA M. R. L., SOARES A. F. F., SALOMÃO F., GOLDMAN S. M., AJZEN A. S., GIRÃO M. , D'IPPOLITO G., SZEJNFELD J. Identificação das Estruturas Músculo-Ligamentares do Assoalho Pélvico Feminino na Ressonância Magnética. Radiol Bras vol.34 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2001 CATUSSO, Renata Lobo. A Resiliência e a Imagem Corporal de Adolescentes e Adultos com Mielomeningocele. 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