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REDUÇÃO DE GASTOS HOSPITALARES: O CUSTO
FINANCEIRO DA SOLUÇÃO FISIOLÓGICA ESTÉRIL NA
ANTI-SEPSIA DE FERIMENTOS EM PRONTO SOCORRO
REDUCTION OF HOSPITAL COSTS: THE FINANCIAL COST OF THE USE OF
STERILE SALINE IN ASEPSIS OF WOUNDS IN EMERGENCY ROOM
Marcio Henrique Gross Dginkel
Médico Clínico no Hospital Regional do Litoral. Discente do curso MBA em Administração Hospitalar
(ICEET). [email protected]
Nelson Pereira Castanheira
Mestre em Administração de Empresas, com ênfase em Administração de Recursos Humanos. Doutor em
Engenharia de Produção, com ênfase em Qualidade. [email protected]
RESUMO
O presente estudo é prospectivo e quantitativo, mostrando redução de gastos hospitalares focado na
eficiência de procedimentos a partir de técnicas implantáveis no serviço de atendimento emergencial em um
hospital público paranaense. Estimou-se qual seria o impacto financeiro ao implantar um protocolo de
antissepsia de ferimentos de pacientes admitidos no pronto socorro, substituindo-se solução salina estéril
por água potável. Neste hospital atualmente é unânime a técnica de antissepsia onde se utiliza
exclusivamente solução fisiológica estéril como solvente associado a detergente catiônico para a abordagem
inicial de ferimentos. A quantidade total desta solução utilizada neste hospital no período 1º de janeiro a 31
de dezembro de 2012 foi superior a 63.000 litros, para todas as finalidades e somadas as diversas
apresentações. Ao pronto socorro foram destinados cerca de 24.000 litros no mesmo período. Não havia
dados sobre o uso de solução fisiológica estéril neste hospital exclusivamente para antissepsia de ferimentos
de pacientes admitidos no setor de emergências. Este estudo estimou, por amostragem, o consumo anual
de solução fisiológica estéril na sala de suturas do pronto socorro deste hospital no ano de 2013. Estudos
recentes que compararam o índice de infecção dos ferimentos tratados com água potável e solução
fisiológica estéril verificaram que, surpreendentemente, não houve diferença estatística relevante na eficácia
de um ou outro solvente. Embora haja uma grande diferença de custos entre os processos e ambos
produzirem resultados equivalentes, não é prática usual a antissepsia com água potável neste hospital e a
implantação de um protocolo usando esta pode reduzir em muito os custos hospitalares na abordagem inicial
de ferimentos.
Palavras-chave: Custos hospitalares. Tratamento de ferimentos. Água potável. Solução fisiológica estéril.
REDUÇÃO DE GASTOS HOSPITALARES: O CUSTO FINANCEIRO DA SOLUÇÃO
FISIOLÓGICA ESTÉRIL NA ANTI-SEPSIA DE FERIMENTOS EM PRONTO SOCORRO
ABSTRACT
This study is quantitative and concerns the reduction of hospital costs, focused on the efficiency of
procedures from implantable techniques in the service of emergency care at a public hospital in Paraná,
Brazil. It estimates what would be the financial impact of implementing protocol antisepsis of wounds in
patients admitted to the emergency room, if replacing the sterile saline solution for tap water. In this hospital,
it is currently unanimous antisepsis technique, which uses only sterile saline solution as solvent associated
with cationic detergent for the initial approach to treat wounds. The total amount of this solution used in this
hospital in the period January 1st to December 31st, 2012 was greater than 63,000 liters, for all purposes and
added various presentations. To the emergency room were designed around 24,000 liters in the same period.
There was no data on the use of sterile saline solution at this hospital exclusively for antisepsis of wounds in
patients admitted to the emergency room. This study estimated the annual consumption by sampling of
sterile saline at sutures room emergency room of the hospital in 2013. Recent studies on tap water and sterile
saline were compared for their efficacy, and surprisingly, there was no statistical difference in the rate of
infection of wounds treated with either solvent. Although there is a significant difference in costs between
the processes and both produce equivalent results, it is not usual practice antisepsis with water and the
institution of a protocol using it can greatly reduce hospital costs in the initial injury. Recent studies that
compared the efficacy rate of infection in wounds treated with tap water and sterile saline reported that,
surprisingly, there was no significant statistical difference in either solvent. Although there is a significant
cost difference between both processes and they produce equivalent results. It is not usual practice
antisepsis with water in this hospital and the implementation of a protocol using it can reduce hospital costs
in the initial management of injuries.
Keywords: Hospital costs. Wound treatment. Tap water. Sterile saline.
INTRODUÇÃO
A infecção em ferimentos pode ser causa de morte e morbidade, e a probabilidade
de sua incidência aumenta quando ocorrem ferimentos na pele ou mucosas e estas não são
tratadas apropriadamente. Neste caso, microrganismos (e.g. bactérias) invadem a solução
de continuidade e se proliferam no local podendo ficar ali restritas ou se disseminarem, a
menos que haja resposta do organismo.
Desde os pioneiros estudos de Samelweiss em 1861, descobriu-se que a simples ato
do médico lavar as mãos era essencial para a diminuição da mortalidade de pacientes
internadas por febre puerperal (um tipo de septicemia ou infecção generalizada) no
hospital no qual ele desenvolveu seu estudo (CANDIDO, 2001).
Cerca de um século depois foi evidenciada a existência de microrganismos e que os
estes poderiam ser causadores de doenças infecciosas, Pasteur evidenciou que algumas
práticas com pouca incorporação de custos ou incorporações tecnológicas, como a fervura
ou o aquecimento com súbito resfriamento eram suficientes para esterilizar uma
determinada amostra (CANDIDO, 2001), ou seja, excluir dela os microrganismos vivos.
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Posteriormente foi confirmado o estudo de Samelweiss e expandida para, não apenas lavar
as mãos, mas também as feridas e o uso de produtos de antissepsia cada vez mais
sofisticados.
Na história da medicina aos poucos foram sendo incorporados novos produtos ao
processo de antissepsia de ferimentos, substituindo-se os sabões por detergentes e
tinturas cada vez mais caras, que embora não se tornando proibitivo o uso, ao menos,
encareceu sobremaneira o processo (ANDRADE; SEWARD; MELO, 1992).
Há bastante tempo estas técnicas foram questionadas por estudos que
demonstraram que a alta incorporação de custos no uso destes produtos, não resultou em
eficácia superior ao da água potável associada a sabão na antissepsia de ferimentos e metaanálises, demonstraram a efetividade do uso combinado de água potável e sabão terem
desempenho semelhante na prevenção de infecção em ferimentos a serem tratados
cirurgicamente (RODEHEAVER, 1989).
Atualmente, parte-se do princípio que o uso exclusivo de produtos estéreis seja o
padrão-ouro inalcançável por outros procedimentos não assépticos. O senso comum
(influenciado por diversos interesses não abordados por este trabalho) estabeleceu que
dentro de ambientes hospitalares toda limpeza de ferimentos devesse ser procedida com
solução salina isotônica estéril (uma solução com 0,9 g cloreto de sódio em 100 ml de água,
também chamada soro fisiológico, solução salina isotônica, solução fisiológica ou
simplesmente SF 0,9%) associado a sabão catiônico iodado ou clorado (ROSSI, 2010) sendo
este processo aplicado no hospital em que se desenvolveu este estudo.
LOCAL DA PESQUISA
O Hospital Regional do Litoral (HRL) é uma Unidade Própria (possui autonomia
administrativa) da Secretaria Estadual de Saúde. É um hospital público com atendimento
exclusivo pelo Sistema Único de Saúde (SUS), localizado em Paranaguá (a principal cidade
do litoral do estado do Paraná); é a referência em saúde para toda a população do litoral
do Paraná, aproximadamente 350.000 pessoas, e referência para atendimento nas
especialidades cirúrgicas (cirurgia geral, traumatologia e ortopedia, cirurgia torácica,
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cirurgia vascular, neurocirurgia, urologia e outras), clínicas (cardiologia, neurologia,
infectologia, pneumologia, gastrenterologia e outras), ginecologia e obstetrícia e
pediatria. Possui em sua estrutura física um pronto socorro, clínica médica, clínica cirúrgica,
pediatria, centro cirúrgico, centro obstétrico, maternidade e quatro unidades de terapia
intensiva (Unidade Intermediária, UTI geral 1, UTI Geral 2 e UTI neonatal). A média mensal
de atendimentos em seu pronto socorro é de 3200 pacientes, sendo que cerca de 800 são
cirúrgicos ou ortopédicos, dos quais 300 são traumas, que correspondem ao universo
desta pesquisa (SIG, 2013).
Devido à grande proximidade da capital (cerca de 85 Km) sua demanda sofre
flutuações sazonais em virtude das férias e feriados, com demanda aumentada nestes
períodos.
METODOLOGIA
A farmácia do HRL foi a responsável por fornecer as informações sobre o consumo
de solução fisiológica (SF) no período compreendido entre de 01º de janeiro a 31 de
dezembro de 2012. Este valor consolidado foi de 62230 litros de solução salina isotônica
(GSUS, 2013). Este volume foi consumido nas diversas apresentações de frascos, que são
unidades de 125 ml, 250 ml, 500 ml e 1000 ml.
Quadro 1 - Consumo total de solução fisiológica no HRL, discriminado por embalagens e sua totalização
em litros.
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Apresentação
Unidades
Litros
Sistema fechado 125 ml
96569
9657
Sistema fechado 250 ml
48709
12177
Sistema fechado 500 ml
35584
17792
Sistema fechado 1000ml
22109
22109
Total
204951
62230
FONTE: Relatório da Unidade Organizacional (GSUS, 2013).
No mesmo período, de acordo com a estimativa dos dados da farmácia do HRL,
foram destinados ao pronto socorro cerca de 24.119 litros de SF durante o ano de 2012.
Entretanto não foram encontrados dados a respeito de quanto deste volume foi destinado
exclusivamente para a antissepsia de ferimentos e tampouco qual quantidade foi utilizada
para outras finalidades no mesmo setor.
Para determinação do gasto anual de solução salina estéril no pronto socorro do
HRL exclusivamente para antissepsia, foi necessária uma estimativa deste consumo no
hospital, e esta foi obtida realizando-se a coleta das embalagens de solução salina estéril
usadas exclusivamente para tratamento de feridas no pronto socorro em semanas prédefinidas.
Quadro 2 - Consumo anual (estimado) de solução fisiológica no pronto socorro do HRL, no ano 2012
Embalagem
Consumo (em embalagens)
Consumo (em litros)
SF 1000 ml
13035
13035
SF 500 ml
11992
5996
SF 250 ml
17519
4379
SF 125 ml
1360
709
43906
24119
Total
FONTE: Relatório da Unidade Organizacional (GSUS, 2013).
Foram definidas 4 semanas em meses distintos de 2013 para obtenção da amostra:
a primeira semana de maio, a segunda semana de junho, a terceira semana de julho e a
quarta semana de agosto, para que pudessem ser contempladas estatisticamente períodos
de flutuação sazonal de pessoas no litoral em feriados, fins-de-semana “prolongados" e
férias.
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A utilização da sala de suturas do pronto socorro foi sujeita ao preenchimento de
um relatório pela equipe responsável pelo atendimento ao paciente onde constava a data,
horário, prontuário do paciente, categoria de ferimento na pele (contuso, cortocontuso/cortante/perfurante ou queimadura), número de ferimentos, tipo de frasco de
solução utilizada para antissepsia e quantidade de frascos e equipe responsável, com
assinatura. Ressalta-se que foi orientado o descarte do frasco com sobras.
Os dados obtidos nas amostras tiveram tratamento estatístico por meio do
programa Epi Info™ 7.1.3.3 (CDC, 2013). Destes dados consolidados foi estabelecida uma
média semanal, que foi a base para o cálculo anual deste consumo estimado por meio da
multiplicação do número de semanas no ano (52,1428), finalidade deste estudo.
Paralelamente ao estabelecimento do consumo de suprimentos houve o
levantamento referencial teórico que fundamenta a utilização de água potável na
abordagem inicial de ferimentos. Para tal, foi realizado levantamento bibliográfico na
literatura por meio da busca online das produções científicas sobre o tratamento de
feridas, indexadas nas bases de dados da Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e em
outras fontes.
Foi igualmente verificado o custo para a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná de
cada tipo de embalagem de solução salina, segundo dados do setor de compras licitadas
pela SESA (Secretaria de Estado da Saúde do Paraná). A SESA efetua regularmente
repasses materiais às Unidades Próprias (incluindo-se o HRL) e estas enviam mensalmente
a SESA relatórios de consumo e pedidos de suprimentos.
Quadro 3 - valores unitários de cada embalagem de solução fisiológica adquirida pela SESA no ano de 2012
Apresentação
Preço unitário (R$)
Sistema fechado 125 ml
1,91
Sistema fechado 250 ml
1,64
Sistema fechado 500 ml
2,28
Sistema fechado 1000ml
3,03
FONTE: Relatório da Unidade Organizacional (GSUS, 2013).
Finalmente, de posse destes dados foi estimado o custo anual total, em Reais, do uso
da solução salina estéril para tratamento de feridas no hospital regional do litoral.
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A ANTI-SEPSIA DE FERIMENTOS
O tratamento de soluções de continuidade tem o seu melhor momento
imediatamente após o trauma que o produziu, visando principalmente reduzir o tempo em
que se expõe como porta de entrada a patógenos, além de tentar-se restabelecer a
fisiologia e anatomia do tecido ou órgão lesado (PROCHNOW et alli, 2008; ANDRADE et ali,
1992; ROSSI, 2010).
Segundo Cals e Bont (2012), a abordagem de ferimentos simples deve seguir uma
sequência lógica de anamnese, que envolve investigação do mecanismo que causou a lesão
e considerar a possibilidade de contaminação de superfícies, o momento em que ocorreu
o ferimento, bem como sobre posterior limpeza e desinfecção. Além disso, deve-se
explorar os fatores de risco que potencialmente comprometam a cicatrização de feridas
(tais como diabetes mellitus, uso de medicamentos imunossupressores, doença vascular
periférica, diátese hemorrágica, história de formação de quelóides ou hipertrofia
cicatricial). Deve-se perguntar a preferência do paciente para o método de fechamento da
ferida e estes incluem, suturas transcutânea ou intradérmica, adesivo ou cola
(cianoacrilato), ou esparadrapos. É importante informar ao paciente sobre o risco de
infecção, dor durante o procedimento, e cicatrizes; obter e registrar o consentimento
informado.
Ainda segundo Cals e Bont (2012), a seguir deve-se proceder ao exame físico
inspecionando cuidadosamente o tamanho, bordas e profundidade da ferida, com uma
ênfase particular sobre os danos para o tecido envolvente e subjacente, a vitalidade da
ferida e contaminação. Verificar função motora e sensorial distal à ferida bem como a
circulação (pulsos e enchimento capilar). Avaliar possíveis danos a tendão marcando
movimento e amplitude de movimento, especialmente para lacerações nas extremidades.
Dor aguda e localizada, quando uma ferida é palpada, é um indicador útil de um possível
corpo estranho.
Cals e Bont são bastante claros ao preconizar a limpeza das feridas, e abriram para
isso a possibilidade de se utilizar água potável:
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Irrigar profusamente e limpar a ferida com água da torneira ou uma solução salina
estéril (nenhuma é superior a outra em termos de risco de infecção). Debride
tecido possivelmente desvitalizado, desinfete, e garanta a hemostasia. Mantenha
cabelos fora da ferida. Use luvas limpas, não estéreis. A evidência mostra que o
uso de luvas não estéreis não resulta em maior risco de infecção do que usar luvas
esterilizadas. Não feche feridas com sinais de infecção ativa, mas considere o
fechamento secundário, depois de três a cinco dias (CALS e BONT, 2012).
Na sequência deve-se proceder ao fechamento da ferida conforme o método
escolhido, seja por sutura, cola ou fita adesiva (CALS e BONT, 2012). No HRL é aplicada a
técnica de sutura que no caso da pele são usados fios de Nylon® e nas mucosas se usam
fios absorvíveis (Catgut®) e ferimentos superficiais (p. ex. escoriações, abrasões) não são
suturadas.
Procedimentos de sutura citados num dos livros-textos mais adotados nos cursos de
medicina estadunidenses preconiza a eficácia da antissepsia de ferimentos utilizando-se
água potável como solvente. Em muitos serviços hospitalares norte-americanos já é
protocolo a utilização desta, conforme Simon e Hern afirmam no capítulo 56 sobre os
princípios de tratamentos de ferimentos do livro Rosen's emergency medicine: concepts
and clinical practice (MARX; HOCKBERGER; WALLS et alli, 2013)
A evidência sugere que uma solução salina ou água da torneira pode ser tão eficaz
quando usada com uma seringa de irrigação de alta pressão. Solventes contendo
detergente, tais como degermante de iodopovidona, pode ser excelente para a
preparação da pele, mas são tóxicos ao tecido e não deve ser permitido o contato
com feridas abertas. A (solução) salina é o fluido tradicional de escolha de
irrigação da ferida. A água da torneira tem produzido, no entanto,
consistentemente taxas equivalentes de infecção e de resultados cosméticos. A
irrigação com água de torneira permite um grande volume rapidamente e de
forma barata e é particularmente adequada para as lesões das extremidades
superiores. Embora muitas soluções para irrigação diferentes possam ser
benéficas, parece que a chave para a limpeza é a irrigação de alta pressão em vez
do tipo de solução utilizada. A irrigação com água potável pode, em breve,
rapidamente se tornar o método preferido de irrigação, pois é segura, efetiva,
fácil de preparar e menos dispendiosa (Tradução e grifo do autor).
Simon e Hern reforçam a importância da irrigação sob pressão ser fundamental para
bons resultados na antissepsia de ferimentos (MARX; HOCKBERGER; WALLS et alli, 2013).
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A qualidade da limpeza mecânica é um dos determinantes mais importantes do
prognóstico de feridas. A forma mais eficaz de limpeza da ferida é a irrigação de
alta pressão. A irrigação com pressões superiores a 7 libras por polegada
quadrada (psi) diminui significativamente o número de bactérias e a incidência da
infecção. Apesar de vários dispositivos comerciais estarem disponíveis, anexandose uma agulha de calibre 19 na seringa 35 ml se produz uma força de 7-8 psi. Altas
pressões (de 50 a 70 psi) poderão ser obtidas utilizando bombas comerciais para
produzir um jato de água. Estas pressões podem causar danos aos tecidos, mas o
efeito benéfico de eliminar bactérias e detritos da ferida supera este risco.
Simplesmente embeber a ferida em uma solução antisséptica não é benéfico.
Esfregando a ferida com uma esponja de poros grandes inflige trauma tecidual e
prejudica a capacidade de resistir à infecção (Traduzido pelos autores).
Pelos estudos mais recentes em que a água potável e a solução fisiológica foram
comparadas em suas eficácias, surpreendentemente, não houve diferença estatística
relevante no índice de infecção dos ferimentos tratados com um ou outro solvente.
(RODEHEAVER, 1989; TOWLER, J. 2001; GANNON, R. 2007; RIYAT e QUINTON 2007; CALS e
BONT, 2012; WEISS et alli, 2013).
Ainda assim, embora a diferença de custos de um e outro processo seja relevante
em virtude principalmente de preços maior da solução salina estéril em bolsa ou frasco
fechado que da água potável fornecida nas torneiras do HRL, surpreendentemente não é
praticada a antissepsia com água. Atualmente é unânime a técnica de antissepsia onde se
utiliza exclusivamente solução fisiológica estéril como solvente e degermante catiônico
(e.g. Clorexidine® ou Povidine®) para a abordagem inicial de ferimentos, embora não
tenha sido assim determinado por nenhum protocolo científico explícito, e sim pelo senso
comum de que este deva ser o modo mais correto (grifo do autor).
Segundo a SANEPAR, o valor de cada metro cúbico de água fornecido a instituições
de Utilidade Pública no ano 2012, segundo o Decreto Estadual Nº 3.839 de 15 de fevereiro
de 2012 foi de R$ 4,47 (SANEPAR, 2013).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Embora houvessem dados do consumo anual de solução salina estéril pelo Hospital
Regional do Litoral (HRL) como um todo, não haviam dados relativos ao consumo de
solução salina estéril exclusivamente para a antissepsia de ferimentos no pronto socorro
do HRL. Portanto, seria impossível mensurar o impacto de uma nova técnica optando pela
substituição desta por água potável da torneira.
O desafio de se estimar este consumo anual foi enfrentado por meio do
levantamento do consumo calculado e da coleta sistemática das embalagens de Solução
Fisiológica Estéril, utilizada exclusivamente para a antissepsia de ferimentos no pronto
socorro do HRL e a posterior estabelecimento de uma média semanal.
Estes dados foram totalizados e de sua análise vemos que a média de consumo de
solução fisiológica utilizada apenas para antissepsia foi de 39,59 litros por semana. Estes
valores semanais médios tornaram possível projetar o consumo anual por meio da
constante 52,1428 (número de semanas no ano). As embalagens mais utilizadas na média
semanal foram nesta ordem: 500 ml, 125 ml, 250 ml e 1000 ml. Na demanda por volume as
embalagens mais utilizadas o foram, nesta ordem: 500 ml, 250 ml, 125 ml e 1000 ml.
ANÁLISE QUANTITATIVA
O tratamento analítico verificou relevância estatística dos dados por meio do
Coeficiente de Correlação de Pearson entre pacientes e ferimentos demonstrando forte
correlação positiva (R=0,96 e R2=0,92). Aproximadamente 1 em cada 4 pacientes possui
mais de um ferimento, e isto revelou-se constante. O Coeficiente de Correlação de Pearson
entre pacientes e volume foi R=0,90 (R2=0,81) e embora seja uma forte correlação positiva
entre estas variáveis, não foi a mais alta delas e sua explicação vem a seguir.
A mais forte correlação positiva neste estudo, verificado o Coeficiente de
Correlação de Pearson entre pacientes e frascos de 500 ml, teve valores de R=0,99 e
R2=0,98, demonstrando a grande tendência em se tratar aos ferimentos dos pacientes
utilizando-se principalmente do volume com esta embalagem, que foi a moda.
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Quadro 4 - Consolidação das amostragens na sala de sutura do pronto socorro do HRL e o volume total
utilizado em cada semana.
Período Pacientes Ferimentos Volume (litros)
Semana 1
73
94
36,125
Semana 2
81
98
50,625
Semana 3
64
78
34,375
Semana 4
69
86
37,250
FONTE: Relatórios diários da sala de suturas do pronto socorro do HRL.
Embora o estudo tenha revelado que o frasco de 500 ml de solução fisiológica tenha
sido a moda, alguns pacientes demandaram tratamento diferenciado. Este fato pode ser
explicado pelo dramático tratamento de pacientes queimados, que teve o maior pico de
incidência na segunda semana de junho (festas juninas), e cujo tratamento destes consiste
no uso de solução fisiológica fria ou gelada para lavar as queimaduras por irrigação simples
ou por meio de compressas e, desta forma, proporcionar analgesia ao paciente.
Este procedimento é extremamente eficaz em suprimir a dor, contudo, a analgesia
desaparece quase imediatamente à retirada das compressas ou interrupção da irrigação e
consome grandes quantidades. Além disto, embora podendo resultar em hipotermia, tem
a vantagem de não ser tóxica ao paciente. Logo, nestes casos devastadores para a pele,
deve ser mantida até que sejam administrados analgésicos potentes e estes produzam o
efeito esperado, por isto nestes casos sempre foram usadas embalagens de 1000 ml.
Identicamente, pacientes com ferimentos com a presença maciça de corpos
estranhos (como terra, areia graxa e outros) requisitaram grandes volumes de solução
fisiológica para sua retirada e antissepsia, conforme são as orientações das boas práticas
tanto de enfermagem quanto de técnica cirúrgica, para garantir a sua retirada e assim
evitar infecção do ferimento suturado. Também nestes casos foi preferida a embalagem
de 1000 ml.
Pacientes com ferimentos potencialmente contaminados (ocorridos em ambientes
altamente contaminados), contaminados (ocorridos há mais de 6 horas) ou infeccionados
(com sinais de infecção ativa) demandaram grandes quantidades de solução fisiológica na
antissepsia. Por outro lado, pacientes com ferimentos simples, de dimensões e
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FISIOLÓGICA ESTÉRIL NA ANTI-SEPSIA DE FERIMENTOS EM PRONTO SOCORRO
profundidade reduzidas com baixo risco de infecção demandaram pouco volume e nestes
casos as embalagens preferidas foram as de 125 e 250 ml.
Quadro 5 - Consumo de solução fisiológica, verificado na sala de suturas do HRL em cada semana do
estudo, categorizado por tipo de embalagem (em ml) e consumo semanal médio.
Frasco 125
Frasco 250
Frasco 500 Frasco 1000
Semana
ml
ml
ml
ml
1
25
16
42
8
2
39
37
45
14
3
33
29
36
5
4
32
19
39
9
Média
32,25 frascos
40,5 frascos
9 frascos
25,25
frascos
FONTE: Relatórios diários deste estudo, obtidos na sala de suturas do pronto socorro do HRL.
Embora o valor unitário da embalagem de 125 ml ser 16% superior à da que contém
250 ml (rever Quadro 3), aquela possui metade do volume e foi muito mais utilizada na
antissepsia em todas as semanas do estudo, como visto no Quadro 5.
Com a consolidação da amostra, estabelecimento do consumo semanal médio de
cada categoria de embalagem e realizada a projeção simples, pôde-se estimar o gasto anual
com cada categoria e igualmente o gasto anual total com solução fisiológica
exclusivamente para antissepsia de ferimentos no pronto socorro do HRL.
O volume total consumido de solução fisiológica estéril exclusivamente para
antissepsia de ferimentos no HRL foi cerca de 2051 litros, e o preço médio por litro foi R$
8,66, o que resulta num valor muito acima do valor por litro na embalagem de 1000 ml (R$
3,03). Este fato ocorreu, devido a preferência pelo uso de embalagens individualizadas a
cada paciente, e estas embalagens menores são proporcionalmente mais caras, e caso
fossem usadas apenas os frascos de 1000 ml, o restante não utilizado deveria,
obrigatoriamente, ser descartado. Ainda assim, se cada paciente utilizasse apenas um litro,
o consumo estimado seria cerca de 3.741 litros e assim o custo anual seria cerca de 11.300
Reais.
Quadro 6 - Consumo semanal médio de solução fisiológica em frascos e anual em Reais para cada categoria.
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Apresentação
Consumo semanal médio (frascos)
Gasto anual
(R$)
3211,86
Frasco 125 ml
32,25
Frasco 250
25,25
2159,23
ml
Frasco 500 ml
40,5
10977,89
Frasco
9
1421,93
1000ml
FONTE: Cálculo com base no consumo médio neste estudo e preços fornecidos, fornecidos pelo GSUS (GSUS,
2013).
RECOMENDAÇÕES
Historicamente houve um contínuo incremento de gastos públicos e privados com
a saúde sem, contudo, resultarem inexoravelmente em redução proporcional em taxas de
morbidade ou mortalidade (MALIK, 2007; MALIK, 2000; PROCHNOW, 2008). Igualmente,
estes custos podem ser otimizados por novas práticas e tecnologias do processo,
conforme apontam recentes estudos (MACHADO, 2012).
Destas constatações se conclui que com a finalidade de se reduzirem a incidência
de infecção dos ferimentos tratados cirurgicamente com sutura, reproduzindo
historicamente outros aspectos relacionados à saúde, tamanhos cuidados foram
incorporados às práticas que se culminaram em distorções onde estas são eficazes e
efetivas, porém não houve otimização, ou seja, não tornou-as mais eficientes
(DONABEDIAN, 1994), encarecendo as práticas sem, de fato, garantir resultados melhores.
Esta realidade se reproduz no HRL não havendo, até o momento, estudos a respeito
da taxa de infecção dos ferimentos simples tratados por sutura simples no pronto socorro
do HRL, portanto, é desconhecido se a técnica atualmente aplicada a seus pacientes é a
mais eficiente que as já preconizadas em diversos países desenvolvidos e mais ricos,
utilizando-se de água potável na antissepsia de ferimentos.
Independente da adoção de novas técnicas, para se reduzir custos com o
tratamento de feridas no pronto socorro do HRL, inicialmente pode-se extinguir o uso do
frasco de 125 ml para este fim, pois fornece solução fisiológica a um preço 142% maior que
(comparativamente em preço por ml) o frasco de 250 ml. Com este mesmo fim, a
padronização do uso do frasco de 500 ml pode ser uma alternativa eficiente além do uso
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REDUÇÃO DE GASTOS HOSPITALARES: O CUSTO FINANCEIRO DA SOLUÇÃO
FISIOLÓGICA ESTÉRIL NA ANTI-SEPSIA DE FERIMENTOS EM PRONTO SOCORRO
de embalagens de 1000 ml sempre no tratamento de grandes queimados e ou debridação
de corpos estranhos.
Para a implantação de um novo protocolo de antissepsia, surge a necessidade de
garantia de que o uso de água potável fornecida nas torneiras do HRL não cause iatrogenia.
Logo, deverá ser submetida a exames para verificação de sua potabilidade, e embora estes
possam acarretar custos à instituição, seriam benéficos à mesma.
Caso os estudos sobre taxa de infecção com o método atual e estudos como a
técnica usando água potável (desenvolvidos em geral por meio de casos-controle)
reproduzam os resultados dos diversos autores citados (RODEHEAVER, 1989; TOWLER, J.
2001; GANNON, R. 2007; RIYAT e QUINTON 2007; CALS e BONT, 2012; WEISS et ali, 2013),
admite-se a possibilidade de implantação do novo protocolo quando este é mais eficiente
(DONABEDIAN, 1990). Vale salientar que 2 metros cúbicos de água (volume próximo aos
2051 litros usados durante o ano 2012) fornecidos pela companhia de saneamento e
abastecimento custariam à instituição R$ 8,94 (0,05 % do gasto com solução fisiológica para
o mesmo fim).
CONCLUSÃO
Este levantamento verificou um gasto de cerca de R$ 17.770,00 que foram
descartados com o intuito de resolver importantes morbidades de seus pacientes.
Recentes estudos em países desenvolvidos comprovam que a mesma técnica
utilizada atualmente no HRL é eficaz sem a contrapartida do oferecimento de uma
potencial redução em taxas de infecção dos ferimentos em relação à técnica, usando água
potável da torneira ao invés da dispendiosa (porém estéril e garantida) solução fisiológica.
Este estudo tem unicamente por finalidade estimar o gasto no pronto socorro do
HRL com solução fisiológica estéril no tratamento inicial de ferimentos, não preconizando
por si a adoção de outras técnicas ou estratégias de tratamento de ferimentos. Para tanto
são sugeridos outros estudos de taxa de infecção de ferimentos de pacientes tratados por
meio de antissepsia utilizando água potável do HRL, salientando-se que desta forma o
custo do solvente seria irrisório pela comparação.
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Marcio Henrique Gross Dginkel e Nelson Pereira Castanheira
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