Evolução do Sistema Monetário Internacional

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4. Evolução do Sistema Monetário Internacional
4.1 Padrão Clássico (Padrão-Ouro)
No século XIX, até o ano de 1880, predominou o sistema conhecido
como Padrão-Ouro, onde a emissão de dinheiro era toda lastreada e conversível em
ouro. Os pagamentos internacionais eram feitos em ouro. Os ajustes no Balanço de
Pagamentos ocorriam de forma automática, conforme a descrição de David Hume
(inflação / deflação).
A abordagem monetária descrita por Hume funciona da seguinte forma:
quando há um déficit no Balanço de Pagamentos, haverá uma redução da oferta de
moeda na economia, que provocará uma redução nos preços de mercado, aumentando
assim a competitividade do país; conseqüentemente as exportações aumentam e as
importações diminuem, eliminando o déficit inicial. De forma inversa, quando há um
superávit no Balanço de Pagamentos, haverá um aumento da oferta de moeda na
economia, que provocará uma aumento nos preços de mercado, diminuindo, assim, a
competitividade do país; conseqüentemente as exportações diminuem
e as
importações aumentam, eliminando o superávit inicial.
4.2 Padrão Ouro- Libra Esterlina
No período entre 1880 e 1914, o sistema evolui para o padrão ouro- libra
esterlina
A inflação e deflação já não eram mais fenômenos simétricos: a
contração monetária nos países deficitários gerava mais recessão do que quedas de
preços. A assimetria resultava de dois aspectos não levados em conta por Hume:
1. os salários nominais resistem à queda,
2. a taxa de juros é inversamente proporcional à oferta de moeda, o que
faz com que a produção e o investimento sejam desestimulados em épocas de forte
contração monetária.
No
padrão-ouro-libra
esterlina
os
balanços
de
pagamentos
se
equilibravam menos pelo mecanismo clássico descrito por David Hume, que pelos
ajustamentos das taxas de juros.
Considere um mundo formado por dois países: a nação A, que possui um
superávit, e a nação B, com um déficit. A movimentação de ouro da nação com déficit
para a nação com superávit resulta em um aumento da oferta monetária na nação A e
uma diminuição na nação B. Existindo uma demanda constante por moeda, o aumento
da oferta monetária na nação A diminuiria suas taxas de juros internas. Ao mesmo
tempo, a saída de ouro e a menor oferta monetária da nação B aumentariam suaas
taxas de juros. Como reação às taxas de juros interna em queda e às taxas de juros em
alta no exterior, os investidores da nação A considerariam atrativo enviar ao exterior
fundos adicionais para investimento. Inversamente, os investidores da nação B não
apenas seriam desestimulados a enviar dinheiro ao exterior, como poderiam
considerar vantajoso liquidar os investimentos estrangeiros e aplicar os fundos em
ativos domésticos.
Esses investimentos migrariam de A para B, na forma de divisas
internacionais (ouro neste caso), diminuindo o déficit do país B e também o superávit
do país A.
4.3 Período de Taxas Flexíveis
A Inglaterra suspendeu a conversibilidade da libra em ouro logo no início
da 1ª Guerra (1914). No período que vai do fim da 1ª Grande Guerra (1919) até 1924,
o mundo experimentou um cenário de taxas flexíveis. Em abril de 1925, a Inglaterra
adotou um passo ousadamente imprudente, que acabaria por sepultar o próprio
padrão-ouro: restaurou a conversibilidade da libra em ouro à paridade de antes da
guerra, voltando a permitir as exportações de ouro. O equívoco fundamental foi
esquecer que os preços internos na Inglaterra haviam subido consideravelmente desde
l914 e que, conseqüentemente, o restabelecimento da paridade exigia um formidável
esforço deflacionário. Além do mais, a Inglaterra havia liquidado boa parte de seus
ativos externos para financiar as despesas de guerra. O resultado, para a Inglaterra, foi
um misto de depressão, deflação e desequilíbrios em conta corrente, decorrentes da
supervalorização real da taxa de câmbio, e nesse ponto, tornou-se evidente que
inflação e deflação não eram fenômenos simétricos, como na descrição de David
Hume
4.4
Sistema de Bretton Woods
Em julho de 1994, representeantes da Aliança das Nações Unidas, que
congregava os países em guerra contra o eixo fascista reuniram-se na pequena cidade
americana de Bretton Woods, para tentar criar regras e instituições formais de
ordenação de um sistema monetário internacional capaz de superar as limitações que
os sistemas conhecidos, o padrão-ouro e sistema de desvalorizações cambiais
competitivas, haviam imposto ao comércio internacional e às economias dos países e
possibilitar aos países participantes atingir níveis sustentáveis de prosperidade e
estabilidade macroeconômica.
Para tanto, os países participantes teriam que abrir mão de parte da
autonomia de suas políticas macroeconômicas internas, especialmente no tange à
política monetária. Essa disposição dos países era explicada pela lembrança recente
da grande depressão experimentada no final da década de 20. Acreditava-se que a
guerra tinha apenas interrompido a depressão e que seu final traria de volta seus
efeitos de forma ainda mais intensa.
Havia duas propostas: a do reconhecido economista britânico John
Maynard Keynes e a do americano Harry Dexter White. Ambas as propostas
demonstravam o temor de que o fim da guerra trouxesse de volta a grande depressão.
As diferenças eram explicadas pelas diferentes visões de como funciona uma
economia de mercado e pelos interesses divergentes dos EUA e Inglaterra à época.
Keynes foi um dos críticos mais contundentes do padrão-ouro, em razão
dos efeitos colaterais negativos sobre o produto e emprego do país que adotasse esse
regime. Segundo Keynes, o crescimento econômico exige uma oferta de moeda
crescente proporcional ao volume adicional de produto gerado na economia. A
escassez de moeda, numa economia em crescimento pressiona a taxa de juros para
cima e os preços dos bens e serviços para baixo. Uma forma de combater a falta de
liquidez é, como vimos, a elevação da taxa de juros, para atrair divisas de outros
países. Porém essa saída é prejudicial aos demais países, pois aqueles que perderam
divisas serão obrigados a adotar política semelhante para protegerem suas economias.
O segundo problema do padrão-ouro apontado por Keynes ficou
conhecido como “ajuste assimétrico”. Esse fenômeno ocorre quando uma economia
de um determinado país cresce mais que a dos demais, provocando um déficit em suas
transações correntes, pois suas necessidades de importações também crescem mais
depressa que a dos seus parceiros comerciais. A partir daí, o país defronta-se com
dois caminhos alternativos: ou se endivida para cobrir seus déficits,o que não pode ser
feito por muito tempo; ou reduz sua demanda por importados, impondo restrições
tarifárias e não-tarifárias, ou promovendo a queda da renda nacional, por meio de
políticas recessivas.
A proposta de Keynes era justamente a de criar regras monetárias
internacionais que resolvessem os dois problemas mencionados. Já o temor dos EUA
estava centrado na adoção de medidas restritivas ao comércio exterior. Quando o
padrão-ouro foi abandonado por quase todos os países, no início da década de 30, o
sistema de câmbio livre que o sucedeu provocou um fenômeno que ficou conhecido
como “sistema de desvalorizações competitivas”, onde o país que sofria com a
recessão e desemprego desvalorizava sua moeda, a fim de impulsionar suas
exportações líquidas, transferindo o problema para seus parceiros. Como a eficácia
dessa política tendia a diminuir com o tempo, os países acabavam adotando medidas
mais radicais, como restrições não-tarifárias ao comércio, ou até mesmo através de
ações
militares, que visavam garantir os suprimentos de bens e serviços que
necessitavam do exterior.
Assim, tanto os EUA como a Inglaterra estavam preocupados com o
retorno aos cenários de antes da segunda guerra. A Inglaterra preocupava-se com o
retorno ao padrão-ouro e queriam implementar um modelo que possibilitasse alcançar
o manter o pleno emprego. Os EUA temiam a volta ao câmbio livre e buscavam um
modelo que permitisse a expansão do comércio internacional.
O modelo resultante dessa conferência foi uma variação do padrão-ourolibra esterlina com o dólar como moeda de referência. Cada país deveria manter uma
paridade cambial fixa em relação ao dólar com margens de flutuação de apenas 1%
para mais ou para menos ("gold points": custos de transporte e seguro). Nenhum país
era obrigado a converter sua moeda em ouro.
Foram criados o FMI e o BIRD (conhecido como Banco Mundial).
4.5
Evolução e Colapso do Sistema de Bretton Woods
O período que vai de 1945 até meados da década de 50 é a chamada fase
de escassez de dólares. No final da década de 40, os E.U.A registraram sucessivos
superávits no Balanço de Pagamentos, em parte reciclados para a Europa, pelo Plano
Marshall. A partir da década de 50, os E.U.A. começaram a exportar capitais além
dos seus saldos positivos em transações correntes. Nem assim o volume de reservas
demandado pelo Japão e pela Europa era suprido.
Da década de 60 em diante, os déficits do Balanço de Pagamentos dos
E.U.A. aumentaram substancialmente, expandindo a liquidez internacional, mas
também elevando o estoque de dólares dos bancos centrais dos países muito acima do
lastro-ouro dos E.U.A.. Os déficits do balanço de pagamentos norte-americano
continuavam a minar a confiança no dólar ("paradoxo de Triffin”). Os Estados Unidos
tentaram, sem sucesso, convencer a Alemanha e o Japão de que a solução seria a
revalorização do marco e do iene. A proposta norte-americana foi recusada, pois o
consenso internacional era de que os Estados Unidos estavam abusando do direito
comprar o resto do mundo emitindo sua própria moeda. Isto posto, em 15 de agosto de
1971, o presidente Nixon decretou o colapso do sistema de Bretton Woods, ao
eliminar a conversibilidade do dólar em ouro. A essa altura, os haveres do Banco
Centrais em dólares eram mais de quatro vezes as reservas de ouro dos Estados
Unidos. Repetia-se o quadro de 1931, que sepultou o padrão-ouro-libra esterlina.
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