Entre o frágil e o inquebrável

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ID: 34123962
18-02-2011 | Finanças Pessoais
Tiragem: 20179
Pág: 19
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 7,93 x 32,16 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
OPINIÃO
Entre o frágil
e o inquebrável
RUI CASTRO PACHECO
Direcção de investimentos do banco Best
O
s tempos mais recentes têm vindo a acender
o debate sobre a possibilidade de existência
de uma união monetária sem profundas ligações ou uniões fiscais e orçamentais. As
dificuldades dos países periféricos em cumprir as regras
orçamentais e níveis de endividamento têm levado a
acesas discussões sobre a possibilidade de alguns países
terem que abandonar o Euro.
Segundo dados do livro “Checking Out: Exits from
Currency Unions” de 2007 de Andrew K. Rose, desde a
segunda grande guerra já assistimos à quebra de 69
uniões monetárias. Por outro lado, no mesmo período,
permanecem indivisíveis 61 uniões. Embora o número
de dissoluções seja elevado, existem muitas que nos terão passado despercebidas e que pela sua “particularidade” seria de se esperar tal desfecho... como é o caso da
união monetária do Iraque com o Reino Unido que durou oficialmente até 1967 e na prática até 1972. Desde o
tempo do império Otomano que uma das divisas mais
utilizadas na região do Iraque era a rupia indiana e após a
conquista de Bagdade pelos britânicos na Primeira
Guerra Mundial, a moeda oficial passou mesmo a ser a
rupia indiana e posteriormente o dinar iraquiano convertível de 1 para 1 com a libra esterlina. A libra irlandesa
tem a sua origem em 997 ligada à moeda francesa passando em cerca de 1180 a estar ligada à libra esterlina,
sendo que a sua conversão foi variando ao longo do tempo, estabilizando em 1701 numa conversão de 13 para 12.
Em 1826 a libra irlandesa foi mesmo substituída pela libra esterlina, voltando à circulação em 1928 com uma
taxa de conversão de 1 para 1. Com a adesão da Irlanda ao
Sistema Monetário Europeu em 1979, esta ligação foi definitivamente quebrada até à sua conversão no euro.
Dado a Irlanda ter a sua própria moeda física, a dissolução da sua unidade para com a libra esterlina foi relativamente fácil. Vale a pena olhar para o caso da separação da
Checoslováquia em 1993, caso em que existia apenas
uma moeda única em circulação e por isso mais próximo
de um hipotético cenário actual da Zona Euro. Aquando
da decisão política de separar o país em duas repúblicas,
foi tomada a decisão de manter a coroa checoslovaca
como moeda comum, moeda esta que tinha tido a sua
origem logo após o desmembramento do Império Austro-húngaro. De uma forma geral, a parte Checa era mais
competitiva, mais desenvolvida e tinha baixo desemprego, o que atraiu fluxos de capitais por oposição à Eslováquia…queperdeu60%dassuasreservasdemoedaexterna em 30 dias. Assim, a 2 de Fevereiro (um mês após a separação) os dois governos decidiram avançar para moedas distintas realizando as suas diferenças e divergências
económicas, sendo a referência inicial uma conversão de
1 para 1 da antiga moeda para as novas coroas checa e eslovaca. A 8 de Fevereiro, apenas seis dias depois da tomada de decisão, as duas novas moedas estavam criadas e a
iniciar a circulação, tendo a nova coroa eslovaca desvalorizado cerca de 20% em poucos dias. A história da dissolução da Checoslováquia é um exemplo de como é difícil
gerir uma união monetária com desequilíbrios quando
deixa de existir vontade política. Mostra ainda como um
governo e funcionários públicos empenhados conseguem, apenas no espaço de uma semana, criar e por a circular uma nova moeda… apontando ainda pistas para os
impactospotenciaisem“ambososlados”.■
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